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Relação entre fumonisinas na dieta de leitões na creche e a ocorrência do vício de sucção, desempenho e características de alguns órgãos

Relation to fumonisins in diets in post weaning piglets and suckling vice occurrence, performance and characteristics of some organs

Resumos

O experimento foi realizado com o objetivo de avaliar o efeito do vício de sucção em leitões alimentados com dieta com ou sem fumonisinas sobre o desempenho zootécnico e características de alguns órgãos. Foram utilizados 32 leitões, meio-irmãos paternos, distribuídos num fatorial 2 x 2 (animais com vício e sem vício de sucção, com ou sem adição de fumonisinas na dieta), com quatro repetições e dois animais por unidade experimental. Não houve interação (P>0,05) do vício de sucção com a adição de fumonisinas na dieta nas variáveis estudadas. O peso final dos leitões com vício de sucção foi 8% menor (P<0,05), se comparado ao grupo controle (25,2 x 27,5kg). A adição de fumonisinas na dieta reduziu (P<0,05) em 9% o peso final dos animais, se comparado aos do grupo controle (25,8 x 28,3kg). O vício de sucção não influenciou (P>0,05) o consumo de alimento. A adição de fumonisinas na dieta reduziu (P<0,05) o consumo de ração em 20%, dos 22 aos 28 dias de experimento. O ganho de peso total foi 14% inferior (P<0,05) nos leitões com vício de sucção (0,51 x 0,59kg). O ganho de peso dos animais alimentados com dieta com fumonisinas foi 15% inferior (P<0,05) ao ganho dos animais-controle. O vício de sucção piorou (P<0,05) em 11% a conversão alimentar (1,52 x 1,68) nos leitões com vício. A adição de fumonisinas na dieta piorou (P<0,05) a conversão alimentar em 13% para os leitões dos 15 aos 21 dias de experimento. O vício de sucção não alterou (P>0,05) o peso dos órgãos dos leitões. As fumonisinas aumentaram (P<0,05) o peso do fígado (820 x 693g) e reduziram o peso do coração (126 x 148g), estômago (291 x 384g), intestino (2.015 x 2.577g), pâncreas (55 x 74g) e pulmão (291 x 350g). O vício de sucção e as fumonisinas influenciam negativamente o desempenho dos animais, mas o vício não altera a massa dos órgãos.

comportamento; micotoxinas; nutrição; suínos; vícios


The experiment was carried out to evaluate the effect of the suckling vice and fumonisins on the performance and characteristics of some organs of post weaning piglets. Thirty-two littermates piglets where used into a factorial 2 x 2 (with and without suckling vice, with or without fumonisins in diet), with four replications and two animals for experimental unit. There was no interaction (P>0.05) between suckling vice and fumonisins for all analyzed variables. The final weight of piglets with suckling vice was 8% (P<0.05) lower than control group (25.2 x 27.5kg). Suckling vice did not influence (P>0.05) the feed intake. The addition of fumonisinas in the diet reduced (P<0.05) 20% the feed intake between 22 to 28 days of experiment. The weight gain of animals fed fumonisin diets was 14% lower (P<0.05) than control group. The suckling vice got worse (P<0.05) 11% feed conversion rate (1.52 x 1.68). Fumonisin diets got worse (P<0.05) 13% feed conversion rate from 15 to 21 days of experiment. The suckling vice did not modify (P>0.05) organ weights. Fumonisins increased (P<0.05) the liver weight (820 x 693g) and reduced weight of heart (126 x 148g), stomach (291 x 384g), intestine (2,015 x 2,577g), pancreas (55 x 74g), and lung (291 x 350g). The suckling vice and fumonisins influence negatively the animals performance, but the vice does not modify organ weights.

behavior; micotoxins; nutrition; pigs; vices


ARTIGOS CIENTÍFICOS

PRODUÇÃO ANIMAL

Relação entre fumonisinas na dieta de leitões na creche e a ocorrência do vício de sucção, desempenho e características de alguns órgãos

Relation to fumonisins in diets in post weaning piglets and suckling vice occurrence, performance and characteristics of some organs

Paulo Alberto LovattoI,1 1 Autor para correspondência. ; Cheila Roberta LehnenI; Neimar CavaziniI; Kalyne BertolinI; Luciano HauschildI

IDepartamento de Zootecnia (DZ), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), 97105-900, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: lovatto@smail.ufsm.br

RESUMO

O experimento foi realizado com o objetivo de avaliar o efeito do vício de sucção em leitões alimentados com dieta com ou sem fumonisinas sobre o desempenho zootécnico e características de alguns órgãos. Foram utilizados 32 leitões, meio-irmãos paternos, distribuídos num fatorial 2 x 2 (animais com vício e sem vício de sucção, com ou sem adição de fumonisinas na dieta), com quatro repetições e dois animais por unidade experimental. Não houve interação (P>0,05) do vício de sucção com a adição de fumonisinas na dieta nas variáveis estudadas. O peso final dos leitões com vício de sucção foi 8% menor (P<0,05), se comparado ao grupo controle (25,2 x 27,5kg). A adição de fumonisinas na dieta reduziu (P<0,05) em 9% o peso final dos animais, se comparado aos do grupo controle (25,8 x 28,3kg). O vício de sucção não influenciou (P>0,05) o consumo de alimento. A adição de fumonisinas na dieta reduziu (P<0,05) o consumo de ração em 20%, dos 22 aos 28 dias de experimento. O ganho de peso total foi 14% inferior (P<0,05) nos leitões com vício de sucção (0,51 x 0,59kg). O ganho de peso dos animais alimentados com dieta com fumonisinas foi 15% inferior (P<0,05) ao ganho dos animais-controle. O vício de sucção piorou (P<0,05) em 11% a conversão alimentar (1,52 x 1,68) nos leitões com vício. A adição de fumonisinas na dieta piorou (P<0,05) a conversão alimentar em 13% para os leitões dos 15 aos 21 dias de experimento. O vício de sucção não alterou (P>0,05) o peso dos órgãos dos leitões. As fumonisinas aumentaram (P<0,05) o peso do fígado (820 x 693g) e reduziram o peso do coração (126 x 148g), estômago (291 x 384g), intestino (2.015 x 2.577g), pâncreas (55 x 74g) e pulmão (291 x 350g). O vício de sucção e as fumonisinas influenciam negativamente o desempenho dos animais, mas o vício não altera a massa dos órgãos.

Palavras-chave: comportamento, micotoxinas, nutrição, suínos, vícios.

ABSTRACT

The experiment was carried out to evaluate the effect of the suckling vice and fumonisins on the performance and characteristics of some organs of post weaning piglets. Thirty-two littermates piglets where used into a factorial 2 x 2 (with and without suckling vice, with or without fumonisins in diet), with four replications and two animals for experimental unit. There was no interaction (P>0.05) between suckling vice and fumonisins for all analyzed variables. The final weight of piglets with suckling vice was 8% (P<0.05) lower than control group (25.2 x 27.5kg). Suckling vice did not influence (P>0.05) the feed intake. The addition of fumonisinas in the diet reduced (P<0.05) 20% the feed intake between 22 to 28 days of experiment. The weight gain of animals fed fumonisin diets was 14% lower (P<0.05) than control group. The suckling vice got worse (P<0.05) 11% feed conversion rate (1.52 x 1.68). Fumonisin diets got worse (P<0.05) 13% feed conversion rate from 15 to 21 days of experiment. The suckling vice did not modify (P>0.05) organ weights. Fumonisins increased (P<0.05) the liver weight (820 x 693g) and reduced weight of heart (126 x 148g), stomach (291 x 384g), intestine (2,015 x 2,577g), pancreas (55 x 74g), and lung (291 x 350g). The suckling vice and fumonisins influence negatively the animals performance, but the vice does not modify organ weights.

Key words: behavior, micotoxins, nutrition, pigs, vices.

INTRODUÇÃO

A intensificação da produção aumentou a susceptibilidade dos animais a doenças multifatoriais, que têm como causas determinantes fatores de risco que representam uma característica do indivíduo ou do seu ambiente, que, quando presente aumenta a probabilidade de aparecimento e/ou agravamento de doenças (FÁVERO, 2003). Com a finalidade de aumentar a produtividade das porcas, a maioria das granjas tecnificadas desmama os leitões com idade média de 21 dias (ROBERT et al., 1999; GIROUX et al., 2000). Essa prática pode aumentar o índice de distúrbios comportamentais nos leitões.

O hábito de sugar o umbigo, a vulva, a orelha ou a cauda, também denominado de vício de sucção, é uma forma anormal de comportamento. O vício de sucção é um problema multifatorial, em parte como uma alteração psíquica, podendo ser manifestação de deficiência nutricional, de intranqüilidade ou de desconforto (SOBESTIANSKY et al., 1999). O desmame precoce, combinado com outros fatores de risco, pode desencadear o vício de sucção nos leitões (FRASER, 1991; SOBESTIANSKY et al., 1999). O vício de sucção se manifesta principalmente pelo estresse provocado pela separação precoce dos leitões da mãe, pela mistura de lotes, pela mudança de ambiente e pelo não-fornecimento de ração aos leitões na maternidade (SMITH & PENNY, 1986).

A matéria-prima básica na formulação de rações de suínos é o milho, substrato adequado para o desenvolvimento de fungos do gênero Fusarium, que produzem fumonisinas no período pré-colheita (SMITH et al., 2000). Em condições de temperatura e umidade elevadas, esses fungos podem se desenvolver no período de armazenamento (MILLS, 1989). As fumonisinas são metabólitos fúngicos secundários (POZZI et al., 2002) que inibem as enzimas esfingosina e esfinganina N-aciltransferase, responsáveis pela biossíntese de esfingolipídios (WANG et al., 1991). Os esfingolipídios são fundamentais na biossíntese da membrana plasmática e atuam como moduladores do crescimento celular (MERRILL JR et al., 1997). Os suínos são sensíveis à intoxicação por fumonisinas (DILKIN et al., 2004). As dietas contaminadas por fumonisinas provocam inapetência e depressão, induzindo toxidade cardiovascular, edema pulmonar e degeneração hepática (POZZI et al., 2002), e, em concentrações elevadas, podem provocar lesões pancreáticas, hepáticas e renais (SMITH et al., 2000).

Poucos trabalhos foram publicados sobre o vício de sucção em leitões na creche e nenhum deles aborda o problema do vício de sucção associado à contaminação da dieta por fumonisinas. O experimento teve como objetivo determinar a influência do vício de sucção e da alimentação com dietas contendo fumonisinas sobre o desempenho zootécnico e as características de alguns órgãos de leitões.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado no Setor de Suinocultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil, de setembro a outubro de 2005. Foram utilizados 32 leitões (16 fêmeas e 16 machos castrados) geneticamente homogêneos, oriundos de criação comercial e desmamados aos 21 dias de idade, com 6,5kg de peso médio. Para selecionar os animais com vício, 96 animais foram acompanhados por sete dias após o desmame. Foi realizada uma análise de normalidade dos dados de peso ao desmame, sendo que 45,8% dos animais apresentaram peso inferior a 6,3kg, pois o peso baixo ao desmame é um dos fatores predisponentes do vício de sucção (AMARAL et al., 2003). Os leitões permaneceram sete dias em período pré-experimental, alimentados com dieta basal, sendo então separados em baias e mantidos em observação. Neste período, 16 animais apresentaram vício de sucção, sendo identificados e separados para o experimento. Os locais de eleição para o vício foram as regiões umbilical e mamária. Os demais animais utilizados no delineamento foram selecionados para que apresentassem peso médio inicial similar ao do grupo com vício de sucção. Dessa forma, no período experimental de 28 dias, o peso médio inicial foi de 10,9kg aos 28 dias de idade.

Os leitões foram alojados em 16 baias elevadas (1,50 x 1,37 x 0,80m) com piso parcialmente vazado, equipadas com comedouros semi-automáticos e bebedouros tipo concha. A temperatura da creche foi mantida dentro da zona de conforto térmico recomendada para a fase. O delineamento experimental foi um fatorial 2 x 2 (animais com vício e sem vício de sucção, com ou sem adição de fumonisinas na dieta). Cada tratamento teve quatro repetições com dois animais por unidade experimental. A dieta basal foi formulada para atender às recomendações nutricionais do NRC (1998) para suínos no intervalo de peso entre 10 a 18kg (Fase 1) e de 19 a 29kg (Fase 2). As fumonisinas foram produzidas pelo cultivo de cepa toxigênica de Fusarium moniliforme (MRC826) em grãos de milho, de acordo com o método proposto por ALBERTS et al. (1990). Após a inoculação, as amostras de milho foram incubadas em estufa por cinco semanas, a 25°C. O material de cultivo foi secado a 50°C e moído. As fumonisinas produzidas foram quantificadas e estocadas a -18°C. O material de cultivo foi adicionado na ração de acordo com a concentração desejada de fumonisinas na dieta (0 e 50mg kg-1). Os animais receberam alimentação à vontade e tiveram livre acesso à água. Os dados de ganho de peso foram obtidos por pesagens semanais individuais dos animais. O consumo diário de ração foi obtido pela pesagem da ração fornecida menos os resíduos presentes nos comedouros. Ao término do experimento, os animais foram abatidos e foram pesados o coração, os pulmões, o estômago, o fígado, o intestino e o pâncreas. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância, incluindo no modelo os efeitos do vício de sucção (V), fumonisinas (F) e V*F. As comparações de médias foram feitas pelo teste de Tukey com 5% de significância. As análises estatísticas foram realizadas através do programa MINITAB (MACKENZIE & GOLDMAN, 1999).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados da pesagem dos leitões nos diferentes tratamentos durante o período experimental são apresentados na tabela 1. Não houve interação (P>0,05) do vício de sucção com a presença de fumonisinas na dieta no peso dos animais. O vício de sucção e a adição de fumonisinas na dieta não influenciaram (P>0,05) o peso dos leitões nos primeiros sete dias de experimento. Do 14° dia até o término do experimento, os leitões com vício de sucção apresentaram pesos inferiores (P<0,05), com peso médio final 8% inferior (P<0,05), se comparado ao do grupo controle. O peso final dos leitões alimentados com a dieta com fumonisinas foi 9% inferior (P<0,05) quando comparado ao do grupo sem fumonisinas.

A manifestação do vício de sucção está relacionada à presença de fatores de risco aos leitões logo após o desmame. O peso de desmame igual ou inferior a 6,3kg é considerado um fator de risco que aumenta a possibilidade de ocorrência do vício de sucção em leitões (MORÉS & MORAES, 2001). Essa patologia causa, muitas vezes, desordens digestivas nos animais, deixando-os suscetíveis a Escherichia coli, que é um dos principais agentes etiológicos da diarréia (MADEC et al., 1998). Dos 16 leitões que manifestaram vício de sucção, 12 (75%) apresentaram diarréia nos primeiros sete dias de experimento. O baixo peso ao desmame, associado à ocorrência de diarréia nos leitões com vício de sucção, diminui o peso final dos animais na creche (AMARAL et al., 2003). No entanto, a possibilidade da diarréia ser desencadeada por determinados fatores de risco (peso ao desmame, densidade) é maior a partir do quinto dia pós-desmame (MADEC et al., 1998). A perda de peso a partir do 14° dia de experimento, em alguns animais com vício, observada neste estudo, pode estar relacionada à ocorrência de diarréia.

A alimentação de leitões com dieta com fumonisinas também aumenta a proliferação de Escherichia coli no intestino, ocasionando problemas de absorção de nutrientes e diarréia nos animais (OSWALD et al., 2003; BOUHET et al., 2004). Isso poderia ter agravado a perda de peso dos animais com vício de sucção; no entanto, não foi observada interação entre estes dois fatores. Outros autores também observaram que a alimentação de leitões com dieta com fumonisinas reduz o peso final na creche (OSWALD et al., 2003; DILKIN et al., 2004).

Os resultados de consumo de ração são apresentados na tabela 2. Não houve interação (P>0,05) do vício de sucção com a presença de fumonisinas na dieta para o consumo de ração. O vício de sucção não influenciou (P>0,05) o consumo de ração pelos animais. A adição de fumonisinas na dieta não alterou (P>0,05) o consumo até o 21° dia de experimento, mas dos 22 aos 28 dias, o consumo de ração dos animais alimentados com dieta com fumonisinas foi 20% inferior (P<0,05).

O consumo de ração na creche, principalmente nos primeiros dias, é influenciado pela idade dos leitões e por estresses sociais, digestivos e metabólicos. Esses fatores contribuem também para ocorrência do vício de sucção nos animais que, associado à dificuldade de ingestão de água, reduz o consumo de ração, reduzindo o desenvolvimento nos leitões (AMARAL et al., 2003). No presente estudo, o consumo de ração não foi alterado em animais com vício de sucção, o que pode ser explicado, em parte, pelo número reduzido de leitões por baia.

Efeitos negativos de fumonisinas sobre o consumo de ração a partir dos 22 dias de creche são freqüentes (DILKIN et al., 2004). Mas esses efeitos podem se manifestar mais cedo, cerca de uma semana após da ingestão da toxina (D' MELLO et al., 1999), devido a lesões esofágicas e gástricas (CASTEEL et al., 1993). Os efeitos negativos de algumas micotoxinas sobre o consumo de ração podem estar relacionados ao mecanismo de desintoxicação dos animais. Quando a taxa de absorção excede a de eliminação da toxina no organismo, os animais reduzem a ingestão voluntária de alimento para minimizar o impacto negativo das micotoxinas (DILKIN et al., 2004). A ingestão volta ao normal com a eliminação da toxina do organismo.

Os resultados de ganho de peso são apresentados na tabela 2. Não houve interação (P>0,05) do vício de sucção com a presença de fumonisinas na dieta para o ganho de peso. O vício de sucção influenciou (P<0,05) o ganho de peso dos animais no período total de experimento. O ganho de peso médio de todo o período experimental foi 14% inferior (P<0,05) nos leitões com vício de sucção, contrastando com a ausência de efeito (P>0,05) quando o ganho de peso foi analisado por período. Não houve diferença (P>0,05) no ganho de peso dos animais alimentados com dieta com fumonisinas até o 14° dia de experimento; mas, dos 15 aos 28 dias, a dieta com fumonisinas reduziu (P<0,05) em 23% o ganho de peso. A dieta com fumonisinas diminuiu (P<0,05) em 15% o ganho de peso dos leitões no período total de experimento.

O ganho de peso de leitões com vício de sucção pode reduzir-se em até 18% nos primeiros 21 dias pós-desmame (AMARAL et al., 2003), fato que pode ser observado tanto na vítima como no sugador (MORÉS, 2000). A redução do ganho de peso em leitões com vício de sucção está relacionada ao desequilíbrio nutricional, àdificuldade de ingestão de água e, conseqüentemente, de alimento pelos leitões (MORÉS, 2000). No presente estudo, o consumo de ração não foi alterado. O baixo desempenho observado pode estar relacionado à ocorrência de diarréia nos leitões. Dos componentes do ganho de peso para leitões na creche, a proteína e os lipídios são os mais importantes do ponto de vista químico (DE LANGE et al., 2003). Os metabólitos das fumonisinas interferem na síntese desses componentes. As fumonisinas inibem a síntese de ceramida e a atividade enzimática da treonina fosfatase, modificando a síntese de DNA, alterando o metabolismo protéico (MOBIO et al., 1996). No metabolismo lipídico, as fumonisinas favorecem a peroxidação, com oxidação desnecessária de lipídios (MOBIO et al., 1996). A redução do ganho de peso dos leitões observada neste experimento, provavelmente, esteja relacionada à ação de metabólitos das fumonisinas na síntese protéica e lipídica dos animais.

Os resultados de conversão alimentar são apresentados na tabela 2. Não houve interação (P>0,05) do vício de sucção com a presença de fumonisinas sobre a conversão alimentar. O vício de sucção piorou em 10% (P<0,05) a conversão alimentar dos leitões durante os primeiros sete dias de experimento. A conversão alimentar geral dos animais com vício de sucção piorou 16% (P<0,05) em relação ao grupo controle. A adição de fumonisinas na dieta piorou em 13% (P<0,05) a conversão alimentar dos leitões dos 15 aos 21 dias. Dos 22 aos 28 dias, não houve influência (P>0,05) da dieta com fumonisinas na conversão alimentar. No período total de experimento, as dietas com fumonisinas pioraram em 17% (P<0,05) a conversão alimentar.

O baixo ganho de peso e a diarréia dos leitões com vício de sucção diminuíram a eficiência alimentar dos animais. Isso pode explicar a piora da conversão alimentar dos animais com vício verificada no período total do experimento. Os efeitos das fumonisinas no organismo do animal pioram significativamente a conversão alimentar, diminuem o consumo de ração, com recuperação clínica dos animais nos períodos de menor ingestão (DILKIN et al., 2004). Essa diminuição, pelo fato de ter sido no mesmo período da redução do ganho de peso, pode ter influenciado na conversão alimentar dos animais alimentados com dieta com fumonisinas.

Os resultados do peso dos órgãos são apresentados na tabela 3. Não houve interação (P>0,05) do vício de sucção com a presença de fumonisinas na dieta no peso dos órgãos. O vício de sucção não influenciou (P>0,05) o peso dos órgãos dos animais. A contaminação da dieta com fumonisinas alterou (P<0,05) os pesos de todos os órgãos estudados. O fígado foi 15% mais pesado nos animais alimentados com dieta com fumonisinas. Os demais órgãos avaliados tiveram pesos reduzidos (P<0,05) em leitões alimentados com fumonisinas. Houve diminuição de 15% no peso do coração, 17% dos pulmões, 24% do estômago, 22% do intestino e 26% do pâncreas.

Nos suínos alimentados com dietas com fumonisinas, os órgãos alvos são os pulmões, o fígado, o coração e o pâncreas (SMITH et al., 2000). O aumento da massa hepática é resultado do incremento da atividade enzimática, com aceleração da atividade da fosfatase alcalina, do sorbitol desidrogenase aspartato aminotrasferase e da gama glutamiyl traspeptidase (MERRILL JR et al., 1997; VOSS et al., 2001). Metabólitos de fumonisinas se acumulam no fígado e rins em ingestões prolongadas (VOSS et al., 2001). Os efeitos observados neste estudo provavelmente devam-se ao acúmulo da toxina nos órgãos. Em alguns estudos, a manifestação clínica dos efeitos de fumonisinas em suínos ocorre na segunda semana de consumo da dieta (D' MELLO et al., 1999), devido à ingestão de altas concentrações e da sensibilidade do animal às toxinas (DILKIN et al., 2004). No entanto, no presente trabalho, os sinais clínicos dos efeitos das fumonisinas foram registrados somente a partir da terceira semana.

As fumonisinas afetam negativamente o desempenho dos suínos. O estudo mostra que o vício pode ser mais um fator potencial que pode afetar o desempenho de leitões em creche.

CONCLUSÕES

O vício de sucção reduz o peso e o ganho de peso de leitões na creche, mas não afeta o consumo de ração. O vício de sucção piora a conversão alimentar dos leitões na creche. O vício de sucção não afeta o peso do coração, estômago, intestino, fígado, pâncreas e pulmão.

As fumonisinas reduzem o peso, o ganho de peso e o consumo de ração, o peso do coração, estômago, pulmão, intestino e pâncreas e aumentam o peso do fígado de leitões na creche.

As fumonisinas pioram a conversão alimentar dos leitões na creche.

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela concessão de bolsa ao mestrando do Programa de Pós-graduação em Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Luciano Hauschild. À Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da UFSM, pela concessão de bolsa de monitoria a Neimar Cavazini. À UFSM, pela concessão de bolsa do Fundo Institucional de Pesquisa (FIPE) a Cheila Roberta Lehnen. Ao Laboratório de Análises Micotoxicológicas (LAMIC/UFSM), pela produção das micotoxinas, pelas análises e pelo apoio para a realização do experimento.

Recebido para publicação 28.08.06

Aprovado em 13.12.06

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    Autor para correspondência.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Jun 2007
    • Data do Fascículo
      Ago 2007

    Histórico

    • Recebido
      28 Ago 2006
    • Aceito
      13 Dez 2006
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