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Mapeando a literatura de língua alemã traduzida no Brasil

A map of German-language literature translated in Brazil

Resumo

O presente artigo apresenta os resultados quantitativos de uma pesquisa bibliográfica sobre a tradução de literatura de língua alemã no Brasil de 1900 a 2020. Após uma breve contextualização das traduções do alemão no Brasil, descreve-se a configuração do projeto e apresentam-se os principais resultados referentes a vários parâmetros: evolução temporal, os objetos traduzidos (autores, obras, épocas) e os agentes da tradução (tradutores e editoras). No final sugerem-se pesquisas mais detidas sobre o material coletado e caminhos para o aperfeiçoamento dos dados.

Palavras-chave
tradução literária; literatura em língua alemã; história da tradução

Abstract

This paper presents the quantitative results of a bibliographical research on the translation of German language literature in Brazil from 1900 to 2020. After a brief contextualization of the translations from German in Brazil, the configuration of the project is described and the main results concerning several parameters are presented: temporal evolution, the translated objects (authors, works, epochs) and the agents of translation (translators and publishers). At the end, an outline for further research on the material and ways to improve the data is presented.

Keywords
literary translation; German-language literature; translation history

1. Traduções de literatura de língua alemã no Brasil

Para a “cristalização de culturas nacionais” (Even-Zohar, 1990Even-Zohar, I. (1990). The Position of Translated Literature within the Literary Polysystem. Poetics Today, 11(1), 45–51. https://doi.org/10.2307/1772668
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, p. 46), a tradução de literatura estrangeira exerce um papel central. Essa experiência é muito evidente na história da literatura de expressão alemã desde a adaptação da lírica trovadoresca francesa na Idade Média, passando pela tradução da Bíblia por Lutero e a assimilação de Shakespeare pelos românticos, para mencionar só os exemplos mais famosos. Para a Alemanha, essa interação das traduções com a formação da literatura “nacional” é relativamente bem documentada e explorada (Cölln, 2007Cölln, J. (2007). Die Rezeption der Antike in deutschen Übersetzungen des 18. und 19. Jahrhunderts. In H. Kittel, A. P. Frank, & N. Greiner (Eds.), Handbücher zur Sprach- und Kommunikationswissenschaft / Handbooks of Linguistics and Communication Science (HSK): 26/2. Übersetzung − Translation – Traduction (vol. 2, pp. 1752−1757). De Gruyter & De Gruyter Mouton.; Häntzschel, 2012Häntzschel, G. (2012). Der deutsche Homer vom 16. bis zum 19. Jahrhundert. In H. Kittel (Ed.), Handbücher zur Sprach- und Kommunikationswissenschaft / Handbooks of Linguistics and Communication Science (HSK): 26/3. Übersetzung - Translation - Traduction (vol. 3, pp. 2423–2427). De Gruyter & De Gruyter Mouton.; Kofler, 2007Kofler, P. (2007). Neuanfänge deutscher Übersetzungskultur in Klassik und Romantik. In H. Kittel, A. P. Frank, & N. Greiner (Eds.), Handbücher zur Sprach- und Kommunikationswissenschaft / Handbooks of Linguistics and Communication Science (HSK): 26/2. Übersetzung - Translation - Traduction (vol. 2, pp. 1738–1752). De Gruyter & De Gruyter Mouton.; Kristmansson, 2019Kristmannsson, G. (2019). Germanic tradition. In Y. Gambier & U. Stecconi (Eds.), A world atlas of translation (pp. 355–374). John Benjamins.)1 1 Vale lembrar que, durante boa parte desse processo da construção de uma “literatura nacional”, nem existia um Estado alemão. . A importância da tradução para a cultura francesa também tem sido objeto de extensas pesquisas, principalmente nos volumes da monumental edição Histoire des traductions en langue française; a quarta e última foi publicada em 2019 e é dedicada ao século XX (Banoun, 2019Banoun, B., Poulin, I., & Chevrel, Y. (Eds.). (2019). Histoire des traductions en langue française (vol. 4, séc. XX). Verdier.). Em Portugal, António A. Gonçalves Rodrigues (1992−1999)Rodrigues, A. A. G. (1992). A tradução em Portugal 1495-1834. Imprensa Nacional & Casa da Moeda. publicou uma história da tradução em Portugal e um site na internet apresenta dados bibliográficos sobre as traduções para o português europeu entre os anos 1930 a 20002 2 Cf. o site na bibliografia: Intercultural literature in Portugal 1930-2000. . Em vários países, portanto, a crítica literária dispõe de dados consolidados sobre a história da tradução, mas “a história da tradução no Brasil está apenas começando a ser escrita”, como constatam Heloisa Gonçalves Barbosa e Lia Wyler (2009, p. 341). Nos últimos anos, esse projeto em andamento já contou com uma série de contribuições consideráveis. Além da própria Lia Wyler (2003)Wyler, L. (2003). Línguas, poetas e bacharéis: Uma crônica da tradução no Brasil. Rocco., são particularmente os estudos de John Milton (Milton, 1996Milton, J. (1996). As traduções do Clube do Livro. TradTerm, (3), 57–65.; Milton & Silva-Reis, 2016Milton, J., & Silva-Reis, D. (2016). História da tradução no Brasil: percursos seculares. Translatio, (12), 2–42.) e os projetos do Grupo da Universidade Federal de Santa Catarina (PGET) com seu Dicionário de Tradutores Literários no Brasil (DITRA) e o Dicionário de literatura italiana traduzida que ampliaram os conhecimentos sobre o desenvolvimento da tradução literária3 3 Cf. os sites alistados na bibliografia. . Nos últimos anos, o Núcleo de Estudos em História da Tradução Literária da UnB (NEHTLIT) vem publicando uma série dedicada à história da tradução que já chegou ao seu 14º volume (Pereira, 2022Pereira, G. H., Costa, P. R., & Veríssimo, T. A. (Eds.). (2022). História da tradução no Brasil: Alteridades, recepção, transformação. Pontes.) e na mesma universidade foi desenvolvido um catálogo online para “Poesia traduzida no Brasil” (Aseff, 2018Aseff, M. G. (2018). Catálogo da poesia traduzida no Brasil. Edição da autora.). Todos esses esforços, no entanto, ainda não criaram uma situação que permita um mapeamento mais completo e detalhado das traduções no Brasil, como afirma Sabio Pinilla (2020, p. 21)Sabio Pinilla, J. A. (2020). A história da tradução do Brasil: questões de pesquisa. Tradução em Revista, 28(1), 13–31. https://doi.org/10.17771/PUCRio.TradRev.48156
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. Segundo o autor, “observamos um predomínio dos estudos monográficos sobre os estudos globais e uma escassez de trabalhos que aprofundem o estudo dos períodos da história e que analisem mais detalhadamente os dados fornecidos pelas visões panorâmicas”. Isto é especialmente verdadeiro para a tradução de literatura em idioma alemão, e a coleta de dados na qual este artigo se baseia visa ajudar a preencher esta lacuna.

Em comparação com a imensa importância do francês nos séculos XVIII e XIX, o papel do alemão como língua de origem da tradução literária no Brasil é modesto. Ao mesmo tempo é um fato que Goethe, Kafka, Brecht e Thomas Mann ocupam posições centrais no cânone da literatura europeia. Não é, portanto, de se admirar que existisse uma demanda por esses e muitos outros autores que escreveram em alemão, especialmente porque o conhecimento do alemão é muito menos difundido entre as classes instruídas do Brasil do que o francês ou o inglês. Essa demanda foi atendida, paulatinamente, a partir dos anos 1930 quando o “comercio editorial começou a florescer e junto a ele as atividades tradutórias” (Barbosa & Wyler, 2009, p. 342). Analisando os números totais de traduções apresentados por Hallewell (2012, p. 920)Hallewell, L. (2012). O livro no Brasil: sua história. 3ª ed. (M. P. da Villalobos, L. L. de Oliveira, & G. G. de Souza, Trad.). [Books in Brazil. A history of the publishing trade]. Edusp., entre 1952 e 1992 o alemão geralmente ocupa o terceiro lugar depois do inglês e do francês, seguido de perto pelo italiano; a partir de 1971 o espanhol avança significativamente e compete com o alemão, que então ocupa o quarto lugar; o russo sempre segue a alguma distância e o japonês geralmente aparece entre os “outros idiomas”. Hallewell pesquisou a totalidade dos livros publicados e a parcela de textos literários no volume total variou entre 10 e 40%4 4 De acordo com Hallewell (2012, p. 923), em 1991, 12 % dos títulos e 8 % dos exemplares publicados no Brasil eram literatura; entre as publicações da Globo dos anos 1960 e 1970, as traduções literárias costumaram ocupar por volta de 40 % das traduções em total (Hallewell, 2012, p. 447). . Quando ele apresenta estatísticas das traduções, a literatura ficcional não é especificada separadamente, mas pode-se supor que a proporção das línguas de origem corresponde mais ou menos às porcentagens gerais da literatura traduzida5 5 O mesmo vale para a Europa, como constata Hale (2009, p. 218): “In terms of translation flow, 60 per cent of translations published in Europe are of works originally written in British or American English; a further 14 per cent are originally written in French and another 10 per cent in German.” .

Além desses números globais e algumas outras informações esparsas em Hallewell, não há um estudo geral sobre a tradução de literatura de expressão alemã no Brasil. Alguns poucos autores e obras foram objeto de pesquisas especializadas. Destarte existem trabalhos sobre Franz Kafka de Celeste Ribeiro de Sousa et al. (2005)Sousa, C. R. d., Brito, E. M. de, & Santos, M. C. R. (2005). A recepção da obra de Franz Kafka no Brasil. Pandaemonium Germanicum, 9(9), 227–253. https://doi.org/10.11606/1982-8837.pg.2005.73707
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, Eduardo Manoel de Brito (2005)Brito, E. M. de. (2005/2008). Quando a ficção se confunde com a realidade: As obras In der Strafkolonie / Na Colônia Penal e Der Process / O Processo de Kafka como filtros perceptivos da ditadura civil-militar brasileira [Tese de doutorado]. USP., Celso Donizete Cruz (2007, 2008)Cruz, C. D. (2007). Metamorfoses de Kafka: imagens do autor e da obra no paratexto de edições brasileiras de A Metamorfose. Anna Blume., e Denise Bottmann (2014)Bottmann, D. (2014). Kafka no Brasil: 1946−1979. Tradterm, 24, 213–238. https://doi.org/10.11606/issn.2317-9511.tradterm.2014.96564
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. João Azenha Jr. (2011)Azenha Junior, J. (2006). Goethe e a tradução: A construção da identidade na dinâmica da diferença. Literatura E Sociedade, 9, 44−59. https://doi.org/10.11606/issn.2237-1184.v0i9p44-59
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dedicou um ensaio à tradução de poesia. Num artigo de Tinka Reichmann (2008)Reichmann, T. (2008). Frases célebres do Fausto: um desafio para a tradução. Pandaemonium Germanicum, (12), 191–209. https://doi.org/10.11606/1982-8837.pg.2008.62280
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encontra-se um percurso das traduções do Fausto para o português e em Helmut Galle (2021)Galle, H. (2021). “E tudo fica melodia”: observações sobre a versificação do Fausto de Jenny Klabin Segall. Cadernos de Tradução, 41(3), 364–394. https://doi.org/10.5007/2175-7968.2021.e83252
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um estudo da tradução de Jenny Klabin Segall. À recepção de Bertolt Brecht no Brasil foi dedicada uma tese de doutorado (Ropero, 2014Ropero, A. (2014). Traduzindo a tradução de Brecht no Brasil: estudo do caso brasileiro da recepção à obra de Brecht [Tese de Doutorado]. USP.) que lista encenações e traduções até 2012. O trabalho do tradutor Herbert Caro foi prestigiado nos artigos de Michael Korfmann (2007)Kofler, P. (2007). Neuanfänge deutscher Übersetzungskultur in Klassik und Romantik. In H. Kittel, A. P. Frank, & N. Greiner (Eds.), Handbücher zur Sprach- und Kommunikationswissenschaft / Handbooks of Linguistics and Communication Science (HSK): 26/2. Übersetzung - Translation - Traduction (vol. 2, pp. 1738–1752). De Gruyter & De Gruyter Mouton., Sonja Arnold (2017)Arnold, S. (2017). German literature in Brazil: writing and translating between two worlds: The works of Herbert Caro and Ernst Feder as writing-between-worlds. Cadernos de Tradução, 37(1), 188–207. https://doi.org/10.5007/2175-7968.2017v37n1p188
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e Antonio Dimas (2006)Dimas, A. (2006). Uma amizade serena: Erico e Herbert Caro. Revista USP, (68), 282–289. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i68p282-289
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. Vários tradutores receberam verbetes no DITRA da UFSC redigidos por Werner Heidermann e Manuela Acássia Accácio. Ao longo dos últimos anos, Karin Volobuef (UNESP Araraquara) compilou uma lista bastante extensa de traduções em sua homepage acadêmica, que − dividida em prosa, drama e poesia − compreende cerca de 400 títulos; qualquer pessoa que tenha procurado uma tradução de um título em particular, normalmente consultou esta lista. No entanto, quase não contém títulos de literatura contemporânea e também inclui livros publicados em Portugal (cerca de 10%), o que é útil para o leitor brasileiro, mas distorce um pouco a imagem da literatura traduzida no Brasil. Os Cadernos de Tradução publicaram recentemente, sob o título Troca de olhares, um número especial dedicado às relações entre as culturas brasileira e germanofalantes com vários artigos que tocam assuntos da tradução de literatura em língua alemã para o português, entre eles Goethe, Yoko Tawada e Elfriede Jelinek; o volume é apresentado pelos organizadores Werner Heidermann & Maria Aparecida Barbosa (2021)Heidermann, W., & Barbosa, M. A. (2021). Apresentação: A literatura de expressão alemã no Brasil e a literatura brasileira em alemão em tradução. Cadernos de Tradução, 41(1), 12–17. https://doi.org/10.5007/2175-7968.2023.e92192
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. A mesma revista traz um artigo sobre a tradução da obra de Thomas Bernhard num volume especial sobre Tradutores de teatro (Neri et al., 2023Neri, A., Eberspächer, G. J., Simões, H., & Abdala Junior, L. C. (2023). Um projeto de tradução em trupe de obras dramatúrgicas de Thomas Bernhard. Cadernos de Tradução, 43(esp. 1), 146–170. https://doi.org/10.5007/2175-7968.2023.e92192
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). Para finalizar essa listagem não completa de estudos mais específicos menciona-se a análise de 22 traduções de Die Verwandlung (A metamorfose) de Franz Kafka num artigo recente de Helmut Galle (2023)Galle, H. (2023). Metamorfose à brasileira. Sobre 22 traduções da novela Die Verwandlung, de Franz Kafka. Matraga, 30(60), 583–604. https://doi.org/10.12957/matraga.2023.74501
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na revista Matraga.

A fim de obter uma visão mais precisa e abrangente das traduções da literatura de língua alemã no Brasil, foi iniciado em 2019 um projeto de Iniciação científica que, nos últimos anos, registrou quase 2.000 títulos. O presente artigo apresenta os resultados preliminares deste projeto na forma dos “grandes números”. Desta forma, pretende fornecer uma visão inicial das grandes tendências de 1900 a 2020, os agentes mais importantes (editoras e tradutores), os autores e obras traduzidas com mais frequência e as épocas literárias mais representadas. A intenção não é entrar em detalhes ou debates teóricos. É evidente que a história da tradução não pode se esgotar em análises quantitativas, e que é necessário aprofundar o conhecimento mediante “micro-histórias” (Torres, 2020Torres, M.‑H. C. (2020). Democratização de arquivos em bibliotecas digitais e hemerotecas: um caminho para Histórias ou Micro Histórias da tradução no Brasil. Cadernos Dde Tradução, 40(1), 208–224. https://doi.org/10.5007/2175-7968.2020v40n1p208
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). Por outro lado, as micro-histórias não podem prescindir do mapa geral para que sejam localizadas e avaliadas adequadamente. Para a historiografia da tradução no Brasil, Hallewell e Wyler forneceram apenas um quadro global que precisa ser preenchido com dados concretos para as diferentes línguas e culturas de partida. A História da tradução no Brasil continua um projeto futuro que exige muita pesquisa básica. O arquivo de dados bibliográficos de traduções de literatura de expressão alemã deve cobrir um dos campos que permaneceram em branco até o momento.

2. A configuração do projeto “Já foi traduzido?”

Como parte do projeto “Já foi traduzido”, dados bibliográficos sobre a tradução da literatura em língua alemã no Brasil foram coletados ao longo de dois anos. Em agosto de 2021, o número de registros havia crescido para quase 2000. O catálogo deve conter a grande maioria das traduções em livro (traduções autônomas) e ainda será completado por traduções em revistas, coletâneas e trabalhos acadêmicos. O projeto, evidentemente, não se esgota com a coleta de dados para este artigo. O objetivo é disponibilizar as informações bibliográficas para a comunidade científica e o público geral em uma plataforma eletrônica assim que for possível e continuar a complementar os dados que establecerão a base de diversas pesquisas.

A ferramenta utilizada para a coleta de dados é Citavi, um software gerenciador de referências desenvolvido na Suíça para o sistema operativo Windows. Semelhante a outros programas como BibTeX, EndNote, Mendeley, Reference Manager e Zotero, Citavi é usado principalmente por acadêmicos para buscar e gerenciar dados bibliográficos, textos completos e citações para publicações e projetos de pesquisa. O programa possui interface de usuário em alemão, inglês e outros idiomas, incluindo o português e pode ser integrado em processadores de texto como Word. Até 2021, o software era gratuito para projetos de até 100 títulos; uma licença da versão paga (sem limitação de entradas e armazenamento na cloud) foi disponibilizada pelo Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD). A atual versão 6.8 permite a busca ampla na internet e o registro automático de títulos mediante o número ISBN via busca em grandes bibliotecas internacionais.

O programa dispõe de 35 diferentes categorias de documentos: monografia, coletânea, artigo em revista, trabalho acadêmico etc. Oferece 20 campos predefinidos para a inserção de dados (autor, título, ano, tradutor, título traduzido, etc.) e mais 8 campos que podem ser definidos de acordo com as necessidades do usuário; arquivos PDF (e outros formatos) podem ser anexados diretamente. É possível exportar os dados a outros programas como EndNote e BibTeX ou em forma de arquivos RIS para Mendeley, ProCite, Reference Manager, Zotero e outros. Todos os dados podem ser representados em Excel para criar estatísticas e realizar cálculos.

Um primeiro passo no desenvolvimento do projeto foi a definição dos “objetos” que deveriam ser registrados. Antes de mais nada, havia a questão da “literatura”. Foram consideradas, primeiramente, as obras literárias stricto sensu: narrativa, drama e poesia lírica; além disso os gêneros autobiográficos e relatos de viagem6 6 Os relatos de viagens na Biblioteca Brasiliana alistadas em Rodrigues (2009, p. 14-17) não foram incluídos por se tratar de obras mais científicas do que literárias; essa decisão ainda pode ser revisada nas próximas fases do projeto. . Incluiu-se também a produção ensaística dos autores cuja obra principal entra na categoria “literatura” (Johann Wolfgang Goethe, Thomas Mann, Herta Müller, etc.). Textos de filósofos como Friedrich Nietzsche e Karl Marx ou de críticos literários como Georg Lukács e Erich Auerbach não foram incluídos; uma excepção são textos genuinamente literários como Infância em Berlim de Walter Benjamin7 7 Dada a grande importância do trabalho de Walter Benjamin, é possível que, em uma próxima etapa, sua obra completa seja incluída no catálogo. .

Para não filtrar os dados a partir de um juízo de valor, a coleta contemplou também livros que muitas vezes são considerados “triviais” ou “de entretenimento”, que raramente constam em histórias da literatura e currículos universitários. O critério era apenas que fossem publicados em forma de livro. Dessa maneira entraram na listagem os romances de Johannes Mario Simmel e Heinz Günther Konsalik, dois romancistas produtivos e muito traduzidos. O que não foi incluído foi a série de ficção científica Perry Rhodan, publicada semanalmente em cadernos e vendida em bancas de jornal. O motivo pragmático é que o grande número de títulos – na Alemanha já mais de 3.200 – teria inviabilizado a pesquisa8 8 Werner Heidermann (2007, p. 135) observa que, nos registros do Index Translationum da UNESCO, 436 dos 1.287 títulos literários traduzidos do alemão para o português do Brasil pertencem a essa série. . Já o motivo científico é que na produção, distribuição, recepção e tradução desse tipo de literatura há condições muito específicas9 9 Algumas dessas especificidades são: todos cadernos têm o mesmo tamanho; conteúdo, personagens, estilo obedecem a serialidade e são concebidos por um coletivo de autores (Lorenz, 2014). . Para a história da tradução é importante conhecer e analisar o fenômeno, mas não listar cada um dos títulos.

Literatura infanto-juvenil e livros ilustrados também foram considerados, sobretudo porque é muito difícil traçar limites claros. Os contos dos irmãos Grimm, por exemplo, contam com um público composto tanto por adultos quanto crianças. No caso da literatura contemporânea se fala sobre o fenômeno da literatura cross over para a qual o romance Tchick de Wolfgang Herrndorf seria o melhor exemplo.

A segunda tarefa era determinar quais obras pertenciam à literatura “em língua alemã”. Embora se fale muito de “literatura alemã”, os originais das obras pesquisadas foram produzidos por autores de muitas nacionalidades e culturas. Evidentemente, Franz Kafka, que nasceu no Império Habsburgo e muitas vezes é apontado como “autor tcheco” na bibliografia brasileira, faz parte do arquivo, uma vez que escreveu sua obra no alemão falado pela minoria em Praga. Rilke, também natural de Praga, escreveu, ao lado da sua obra em alemão, poemas em francês que não podiam ser excluídos por uma questão formal. Elias Canetti, filho de judeus sefarditas, nasceu na Bulgária, então parte do Império Otomano, e passou sua vida em Viena, Londres e Zurique, escrevendo e publicando em língua alemã. A japonesa Yoko Tawada escreve e publica em alemão e japonês, a norte-americana Anne Cotten em alemão e inglês. Atualmente, há centenas de autoras e autores que, independente do seu passaporte e da sua língua materna, participam do mesmo campo literário germanofalante como os alemães, austríacos, suíços e liechtensteinienses10 10 Souza (2021) dá uma pequena introdução à história do principado Liechtenstein e exemplos da sua literatura. . Nesse sentido, o corpus integra sobretudo literatura escrita em alemão e também certos textos em outras línguas, caso eles façam parte da obra dos autores contemplados aqui.

Nenhuma restrição foi introduzida com relação aos períodos – tanto da publicação dos originais quanto a das traduções. As origens dos textos de partida está compreendida no longo período de 1200 a 2020. Traduções brasileiras antes de 1930 são escassas e as informações bibliográficas incompletas. Não obstante, não se perde a esperança de que o arquivo será cada vez mais abrangente e que os dados serão aperfeiçoados. Também não haverá limite em relação a futuras publicações na continuação do projeto. Considera-se o catálogo como work-in-progress que deverá ser mantido, continuado e atualizado independente dos atuais protagonistas.

Inicialmente, os dados a serem levantados para cada obra foram definidos da seguinte maneira:

  1. tipo de publicação (livro monográfico, parte de antologia, artigo em revista ou jornal etc.)

  2. autor(a) (do original)

  3. título (da tradução)

  4. subtítulos e complementos do título (da tradução)

  5. editor(a) e colaboradores

  6. informações paratextuais (prefácio, pósfácio, notas etc.)

  7. ano da publicação

  8. lugar da publicação

  9. editora

  10. Título da série

  11. número da edição /reimpressão

  12. tradutor(a)

  13. título (do original)

  14. No. ISBN

No decorrer do projeto, ficou claro que mais informações poderiam se tornar relevantes e foram adicionados posteriormente:

  • 15. fonte(s) das informações bibliográficas

  • 16. referência a uma biblioteca / um arquivo com exemplar físico

  • 17. classificação do original por época (Idade Média, Pré-Moderno 1400-1750, Classicismo/Romantismo 1750-1850, Realismo 1850-1890, Modernismo 1890-1945, Pós-Guerra 1945-1989, Contemporâneo 1990-)

  • 18. ano da primeira publicação do original

  • 19. gênero (poesia, drama, narrativa, literatura infanto-juvenil, autobio­grafia, relato de viagens, ensaio)

  • 20. língua do texto de partida

  • 21. no. de páginas

  • 22. tamanho físico

  • 23. observações

Da mesma maneira, novos itens ainda podem ser definidos e incluídos, na medida em que isso se revele produtivo. É claro que não é possível coletar todos os dados para cada título, mas quando estiverem disponíveis, eles serão incluídos.

Como buscar as traduções brasileiras da literatura “alemã”? Uma plataforma como o Index Translationum possibilita a busca de traduções de um idioma em particular para outro. Mas o índice é muito incompleto (Heidermann, 2007Heidermann, W. (2007). Retten, was der Rettung hoffentlich gar nicht bedarf! Der Index Translationum der UNESCO. In G. Wotjak (Ed.), Quo vadis Translatologie? Ein halbes Jahrhundert universitäre Ausbildungvon Dolmetschern und Übersetzern in Leipzig. Rückschau, Zwischenbilanz und Perspektive aus der Außensicht (pp. 133–142). Frank & Timme.) e não está online há algum tempo. As principais bibliotecas brasileiras, sobretudo a Biblioteca Nacional, anotam na ficha da obra que se trata de uma tradução, mas os catálogos não oferecem buscas avançadas para esse aspecto. É necessário, portanto, buscar especificamente os autores e as obras. Estes são identificados por meio de listas de literatura canônica (Dornbusch, 2005Dornbusch, C. (2005). A literatura alemã nos trópicos. Anna Blume.; Segebrecht, 2006Segebrecht, W. (2006). Was sollen Germanisten lesen? Ein Vorschlag (3., neu bearbeitete und erweiterte Auflage). Schmidt.), histórias literárias (Carpeaux & Bolle, 2014Carpeaux, O. M. (2014). A história concisa da Literatura alemã. Faro Editorial.; Heise & Röhl, 1986Heise, E., & Roehl, R. (1986). História da Literatura alemã. Ática.) e afins. O trabalho preliminar de Karin Volobuef, as informações do Goethe-Institut sobre traduções de literatura contemporânea, o DITRA da UFSC e o blog de Denise Bottmann também foram uma grande ajuda. A obra de Zeyringer & Gollner (2019)Zeyringer, K., & Gollner, H. (2019). Áustria: uma história literária: Literatura, cultura e sociedade desde 1650. (R. Bohunovsky, Trad.). [Eine Literaturgeschichte. Österreich seit 1650]. Editora UFPR. sobre a história da literatura austríaca traz, na bibliografia, informações valiosas sobre traduções realizadas no Brasil, pesquisadas pela tradutora Ruth Bohunovsky.

Ao examinar o trabalho dos tradutores, foi possível verificar aspectos que haviam sido negligenciados até então: literatura infanto-juvenil, autores “triviais” e outros, negligenciados pela história literária. Uma pesquisa nos catálogos de algumas editoras já identificadas como relevantes para a tradução da literatura “alemã” produziu muito mais resultados. Outros sites comerciais como o “Estante virtual”, muitas vezes, indicaram a existência de uma tradução específica, embora os dados geralmente se revelaram pouco confiáveis e incompletos11 11 Denise Bottmann (2014, p. 234) alerta que as traduções de Kafka da Editora Nova Época costumam indicar os anos dos originais da Schocken Books que foram traduzidos. Da mesma maneira a primeira edição d’O tambor de Günter Grass na Nova Fronteira indica 1959, ano quando o original saiu na Alemanha. . Tecnicamente, sites que apresentam o no. ISBN facilitam a importação automática dos dados para Citavi. É preciso considerar que os dados são resultados parciais e provisórios que ainda precisam ser relativizados. Uma lista completa dos sites usados consta da bibliografia.

3. Resultados gerais da pesquisa

Quase todos os dados coletados resultam de pesquisa na internet e, por enquanto, não puderam ser conferidos com os exemplares físicos. Portanto, é necessário tratar todas as informações com certa cautela: a pesquisa catalográfica continua e integra novos títulos e dados quase todos os dias. Se compararmos os resultados da pesquisa do catálogo com os de uma investigação aprofundada nos exemplares físicos como a de Celso Donizete Cruz (2008)Cruz, C. D. (2007). Metamorfoses de Kafka: imagens do autor e da obra no paratexto de edições brasileiras de A Metamorfose. Anna Blume., torna-se claro que muitas correções e adições ainda serão necessárias. A ampliação do projeto aos livros físicos promete ajustes e detalhamentos de todo tipo. Ainda assim, o banco de dados já permite uma primeira avaliação dos “grandes números”, posto que a maior parte das traduções existentes foi recolhida e os ajustes necessários pertencerão, sobretudo, a reimpressões, reedições e lançamentos em editoras pequenas, que não alcançam boa divulgação. Com base no estado atual, apresentamos aqui um panorama ainda bastante geral da história da tradução de literatura em língua alemã no Brasil e algumas interpretações provisórias.

Na evolução numérica das traduções de literatura de expressão alemã (gráfico 1)12 12 Todos os gráficos foram elaborados pelos autores deste artigo. , percebe-se um primeiro grande aumento de 1930 a 1960. Isso corresponde à tendência geral da produção de livros a partir da década dos 1930 documentada por Hallewell (2012, p. 846)Hallewell, L. (2012). O livro no Brasil: sua história. 3ª ed. (M. P. da Villalobos, L. L. de Oliveira, & G. G. de Souza, Trad.). [Books in Brazil. A history of the publishing trade]. Edusp.. Esse processo deveu-se a fatores contextuais como a urbanização, industrialização e a expansão da educação universitária (Barbosa & Wyler, 2009, p. 342; Rodrigues, 2009Rodrigues, C. C. (2009). Traduções da coleção Brasiliana: fontes primárias. Tradução em Revista, (5), 1–17. https://doi.org/10.17771/PUCRio.TradRev.12935
https://doi.org/10.17771/PUCRio.TradRev....
, p. 1; Wyler, 2003Wyler, L. (2003). Línguas, poetas e bacharéis: Uma crônica da tradução no Brasil. Rocco., p. 129). Depois de uma estagnação na década dos 1960, houve um novo pico nos anos 1970 e 1980, quando se duplicou a produção de traduções do alemão; a publicação de traduções voltou a ganhar força na década de 2000 a 2010. A partir de 1975 começou o processo de redemocratização, acompanhado pelo chamado “milagre econômico”, fatores que foram relacionados com o crescimento do mercado de livros (Maués, 2014Maués, F. (2014). Livros, editoras e oposição à ditadura. Estudos Avançados, 28(80), 91-104.; Reimão, 1996Reimão, S. (2018). Mercado editorial brasileiro. ECA & USP.). O forte aumento de livros traduzidos do alemão pode ser visto nesse contexto, particularmente quando se considera que a metade das 240 traduções entre 1974 e 1985 foi publicada pelas editoras Brasiliense, Civilização Brasileira e Paz e Terra, que Maués (2014, p. 92)Maués, F. (2014). Livros, editoras e oposição à ditadura. Estudos Avançados, 28(80), 91-104. alista entre as editoras estabelecidas que “retomaram uma atuação política mais acentuada”. Entre os autores publicados encontram-se nomes da oposição crítica do pós-guerra (Heinrich Böll, Günter Grass, Hans Magnus Enzensberger, Max Frisch, Friedrich Dürrenmatt, Heinar Kipphardt, Peter Weiss, Rainer Werner Fassbinder, Franz Xaver Kroetz, Peter Schneider), autores da esquerda entreguerras (Bertolt Brecht, Marieluise Fleißer, Ernst Toller, Heinrich Mann) e ainda os grandes protagonistas da literatura burguesa com orientação liberal (Thomas Mann, Stefan Zweig, Hermann Broch, Hermann Hesse, Joseph Roth, Robert Musil, Elias Canetti). Contudo, na mesma década, os romances de Heinz G. Konsalik e Johannes Mario Simmel lideram a lista com 25 e 21 títulos respectivamente. De acordo com Paz (2019, p. 8), Simmel apareceu em 1979 nas listas dos bestsellers brasileiros com dois romances no 3º e 4º lugar entre Mario Puzo e Graham Greene.

Gráfico 1
Número de traduções publicadas por décadas

No gráfico 2, são apresentados os autores da literatura em língua alemã que contam com o maior número de livros traduzidos de 190013 13 As traduções do alemão antes de 1900 devem ter sido muito escassas. Além do Werther de 1842, Hallewell (2012, p. 339) menciona que a seção “Literatura, história, novelas, romances illustrados, etc.” do catálogo da Casa Garraux de 1863 apresenta “473 títulos, dos quais 215 são traduções: uma do italiano, uma do espanhol (Dom Quixote), uma do alemão, nove do inglês - na maioria de sir Walter Scott, além de Piloto, de Fenimore Cooper - e os restantes em francês.” A Casa Laemmert contribuiu com as Aventuras Pasmosas do Celebérrimo Barão de Münchhausen (1891) provavelmente na tradução de Carlos Jansen Müller (Hallewell, 2012, p. 267). a 2021. Stefan Zweig, o autor que liderava durante décadas, está no segundo lugar com 123 livros, dos quais 33 foram publicados até 1942. O terceiro colocado é Goethe com 106 livros. A publicação de livros de Franz Kafka (153 livros) começa em 1949 e continua com grande intensidade até hoje. Já o quarto lugar é ocupado por Karl May: um dos autores mais populares da literatura juvenil alemã que conta no Brasil com 75 títulos traduzidos; Laurence Hallewell (2012, p. 579) registrou que publicar as obras completas de May (a partir de 1933) era um dos maiores projetos da Editora Globo em Porto Alegre, junto com a Comédia Humana de Balzac e a Coleção Nobel. Thomas Mann (61 livros) aparece no próximo lugar, no mesmo nível como os irmãos Grimm (60 livros), devido ao grande número de livros infantis que apresentam diferentes recortes e seleções dos contos de fadas. Nos próximos lugares estão Rilke (58 livros), Hesse (53 livros) e dois romancistas muito exitosos no pós-guerra: J. M. Simmel (50 livros) e H. G. Konsalik (33 livros). Como esses dois nomes, Michael Ende, autor de importantes livros infanto-juvenis (Momo, A história sem fim), aparece aqui entre os consagrados da “literatura alta” como um dos 20 mais traduzidos.

Gráfico 2
Vinte autores mais traduzidos

Quanto à representação das épocas literárias (gráfico 3), o período de 1890 a 1945 (denominado aqui como “Modernismo”) é, de longe, o mais traduzido com 718 títulos. O que pode surpreender é que o Pós-Guerra (1945−1989) está em segundo lugar com mais traduções do que o Classicismo/Romantismo (1750−1850). Traduções de obras publicadas a partir de 1990, são quase tão numerosas quanto traduções de obras do Realismo alemão (1850−1890)14 14 A periodização poderia ser discutida; pragmaticamente, a distribuição à maior quantidade aconteceu de acordo com a maior parte das obras traduzidas de um autor: Gerhart Hauptmann aparece em Modernismo, Peter Handke em Pós-Guerra. .

Quanto à variedade dos autores traduzidos e o número de obras traduzidas de cada autor observa-se que a média de obras traduzidas por autor no Classicismo é de 10 a 1, no Modernismo 12,5 a 1 e no Realismo 8 a 1, no Pós-Guerra 5 a 1 e no Contemporâneo 2,5 a 1. Isso pode ser interpretado como efeito da canonização nas épocas mais remotas historicamente. Na medida em que a distância temporal cresce, o filtro da história literária parece reduzir seu número: restam os “consagrados”, e desses poucos autores consagrados se traduz muitas obras. Também se observa que boa parte (56 %) das traduções do pós-guerra já saiu entre 1945 e 1990, ou seja: traduziram-se os livros no mesmo período em que foram publicados. A mesma coisa acontece, obviamente, com a literatura contemporânea.

Gráfico 3
Autores e obras e suas épocas literárias

Podemos também projetar as épocas das obras traduzidas (eixo vertical à direita) sobre os períodos da tradução / publicação no Brasil (eixo horizontal), visualizado no gráfico 4. Nesse caso os períodos da tradução foram definidos de acordo com algumas incisões na história do Brasil: de 1900 até o final da 2ª Guerra, de 1946 a 1963, de 1964 a 1984, de 1984 a 1999 e desde 2000. Se vê de baixo para cima as épocas da produção dos textos de partida. Se vê como a tradução da literatura de 1890 a 1945 (Modernismo) era uma constante durante o século XX, desdobrando-se ainda mais desde 2000. A época de 1750 a 1850 (Classicismo / Romantismo) cresceu particularmente a partir de 1985 e mantém-se em alto nível. A literatura do Pós-guerra teve sua conjuntura a partir de 1964 e começou a diminuir um pouco desde 2000. A proporção nas últimas duas décadas mostra que a Literatura Contemporânea, o Classicismo e o Pós-guerra estão em proporções relativamente iguais e o Modernismo é traduzido com frequência muito maior.

Gráfico 4
Distribuição das épocas traduzidas aos períodos da tradução

Os gráficos 5 e 6 apresentam dez dos autores mais traduzidos em relação às conjunturas dos períodos. Goethe e Kafka estão em ascensão quase perpétua. Na primeira metade do século XX, Remarque e Zweig tiveram seu auge; o primeiro desapareceu por completo e o segundo voltou a crescer de novo desde 2000. Rilke começou bem modesto e está aumentando cada vez mais desde a década dos 1980. Thomas Mann teve um primeiro pique nos anos 1960 e 1970 e subiu consideravelmente desde a virada do milênio. Nos anos 1960 e 1970 houve também um auge de Kafka e Hesse, assim como o romancista J.M. Simmel. Depois as traduções deste último começaram a diminuir e desapareceram quase por completo. O interesse por Brecht se reduziu bastante nas últimas duas décadas, após um auge durante a ditadura. Arthur Schnitzler, por contrário, está em lenta, mas contínua ascensão desde os anos 1960.

Gráfico 5
Conjunturas de autores 1
Gráfico 6
Conjunturas de autores 2

Um outro aspecto interessante são as obras que foram traduzidas várias vezes (ver gráfico 7). Aqui destacam-se claramente três livros: o Fausto e o Werther de Goethe e a Metamorfose de Kafka; há ainda um número grande de traduções dos contos de Grimm, mas esse número inclui muitas seleções e publicações de um único conto com ilustrações para o público infantil, além disso é difícil identificar os tradutores.

Gráfico 7
Obras mais traduzidas

A Metamorfose de Franz Kafka é inquestionavelmente o texto de língua alemã que possui mais versões para o português feitas por diferentes tradutores. A pesquisa atual conta 22 traduções independentes, das quais a de Brenno Silveira (1956) pela Civilização Brasileira seria a primeira. 16 dessas traduções saíram já no século XXI, nove nos últimos cinco anos15 15 Vale mencionar que em Portugal, de 1930 a 2000, foram publicados apenas duas traduções, uma das quais brasileira (cf. Intercultural literature); em espanhol, por outro lado, foram contados 24 traduções diferentes (Pichler, 2016). . No caso de Kafka, não é necessariamente a posição no cânone da literatura moderna, mas a popularidade e o impacto que este texto particular exerce sobre leitores mundialmente. Kafka está presente nesta lista de obras mais traduzidas ainda com três títulos: O Processo, a Carta ao pai e Na colônia penal. Sua obra foi vertida no Brasil, no mínimo, por 35 tradutores diferentes; a obra de Thomas Mann, muito mais volumosa e não menos importante, conta com 16 tradutores. Esses dados dão margem a muitas reflexões que não cabem no escopo e no espaço limitado desse artigo16 16 Uma excelente pesquisa recente sobre as primeiras décadas da tradução de Kafka encontra-se em Bottmann (2014). .

A contagem de traduções de Fausto, na realidade, não diferencia entre Fausto I e II ou uma edição das duas partes além do fragmento inicial, o chamado Fausto 0 (“Urfaust”). As publicações brasileiras do Fausto incluem também duas versões produzidas em Portugal no século XIX e traduções parciais (H. de Campos). Seja como for, o número de publicações e retraduções do Fausto e do Werther comprovam a posição central de Goethe no cânone da literatura “alemã” no Brasil.

Em complemento à sua posição no cânone, o Werther era uma leitura popular em nível internacional desde o início. O livro foi, provavelmente, o primeiro romance alemão publicado no Brasil. Hallewell (2012, p. 266)Hallewell, L. (2012). O livro no Brasil: sua história. 3ª ed. (M. P. da Villalobos, L. L. de Oliveira, & G. G. de Souza, Trad.). [Books in Brazil. A history of the publishing trade]. Edusp. supõe que Eduardo Laemmert17 17 Hallewell (2012, p. 266) também suspeita que Eduardo Laemmert “forneceu a Antônio Feliciano do Castilho uma tradução literal do Fausto [I] para o português” que serviu de base para sua versão de 1872, mas essa hipótese compete com a possibilidade de o poeta ter traduzido a partir do francês. , sócio da importante Casa Laemmert no Rio de Janeiro foi o tradutor da edição que os irmãos Laemmert fizeram em 1842: “As amorosas paixões do jovem Werther. Historia verdadeira publicada em allemão pelo celebre J. W. de Goethe e offerecida as almas sensiveis.” O número de novas traduções (14) e reedições indicam que o livro ainda constitui um valor econômico para as editoras. Vale mencionar que Goethe aparece com mais dois títulos na lista das obras que contam com várias traduções.

O título mais surpreendente nessa lista talvez seja a Verdadeira História de Hans Staden, o único livro da época pré-moderna, (re)traduzido do alemão do século XVI, provavelmente em muitos casos por intermediação de traduções para o alto alemão moderno.

O próximo gráfico (gráfico 8) mostra o ranking dos tradutores “mais produtivos”. Lya Luft assina pelo maior número de títulos traduzidos e reedições; seu repertório se estende de Thomas Mann e Robert Musil a Rainer Maria Rilke e Stefan Zweig, incluindo ainda J. M. Simmel e H. G. Konsalik. Esses dois romancistas populares fazem parte também do trabalho de Reinaldo Guarany (no terceiro lugar) que traduziu ainda muitos autores relevantes do Pós-Guerra como Heinrich Böll, Rolf Hochhuth, Thomas Bernhard, Jurek Becker e Peter Handke. Em segundo lugar está Marcelo Backes; o tradutor traduz sobretudo autores da literatura contemporânea, como Thomas Brussig, Juli Zeh, Ingo Schulze, Saša Stanišić e Christoph Ransmayr, mas igualmente clássicos como Lessing, Goethe, Heine e E.T.A. Hoffmann. Literatura contemporânea também é o principal campo de Claudia Abeling, tradutora de Herta Müller, Wolfgang Herrndorf e Bernhard Schlink, enquanto que as traduções de Sérgio Tellaroli, Cláudia Cavalcanti e Christine Röhrig apresentam um quadro mais diversificado; a última também participou da traduções de vários volumes do Teatro completo de Brecht. Herbert Caro, judeu alemão exilado no Rio Grande do Sul e conceituado tradutor de Thomas Mann, alcançou um domínio excepcional do português brasileiro, de acordo com a crítica brasileira. Todos os livros traduzidos por Caro pertencem ao cânone da literatura “consagrada” do modernismo: além de várias obras de Thomas Mann, são livros de Elias Canetti, Hermann Broch, Klaus Mann, Hermann Hesse, Franz Werfel e Max Frisch. De maneira semelhante, Modesto Carone, tradutor dedicado de Kafka na Companhia das Letras, é muito aclamado. Enquanto que Carone traduziu direto do alemão, Torrieri Guimarães usou o espanhol como língua de interposição (Bottmann, 2014Bottmann, D. (2014). Kafka no Brasil: 1946−1979. Tradterm, 24, 213–238. https://doi.org/10.11606/issn.2317-9511.tradterm.2014.96564
https://doi.org/10.11606/issn.2317-9511....
, p. 221). Ambos tradutores de Kafka foram reeditados tantas vezes que é difícil manter uma contagem aproximadamente correta.

Gráfico 8
Dez tradutores mais produtivos

Algo muito visível neste gráfico é que só Herbert Caro, Lya Luft, Torrieri Guimarães e Modesto Carone contam com muitas edições e reimpressões do mesmo livro, por terem traduzido autores consagrados e bestsellers a longo prazo. Reedições (ou até retraduções) de literatura do Pós-Guerra e do Contemporâneo são raras e muitos títulos desaparecem do mercado após a venda da primeira tiragem. Por isso, muitas vezes, o conhecimento da existência do livro nem chega a todos os interessados. Um fator vinculado a essa realidade é o cálculo econômico. Muitas editoras que publicam autores menos conhecidos no Brasil (mesmo quando se trate de sucessos mundiais como Patrick Süskind e Daniel Kehlmann ou Prêmios Nobel como Elfriede Jelinek) preveem que as vendas da primeira tiragem devem ser suficientes para garantir os custos e o lucro, incluindo os direitos autorais e o honorário do tradutor. No caso da literatura de língua alemã, o tradutor ainda pode se beneficiar de um programa de apoio financeiro do Goethe Institut, caso a editora se comprometa a publicar o livro num prazo estabelecido. Um resultado dessa economia é que são poucas as editoras que investem em uma política de longo prazo, mantendo os livros em estoque e providenciando reedições; aqui se destacam sobretudo a Companhia das Letras e a Editora 34, mas também algumas das maiores que se dedicam a publicação de traduções de literatura em alemão como a Globo e a Record.

Gráfico 9
Editoras mais ativas em tradução literária do alemão

O gráfico 9 mostra as publicações de literatura de língua alemã pelas editoras brasileiras. É notável que boa parte desses números representa cada vez um autor. Desse modo, dos 47 títulos da Guanabara, 41 são de Stefan Zweig; a Delta (uma espécie de subsidiária da Guanabara) tem 25 títulos dos quais apenas três não são de Stefan Zweig; 60 livros da Globo são de autoria de Karl May. Algumas editoras investiram nos romances de Simmel (Nova Fronteira: 25 títulos; Círculo de Livros: 23 títulos) e Konsalik (Record: 33 títulos) ou em Hesse (Record: 26 títulos), Thomas Mann (Nova Fronteira: 22 títulos) e Michael Ende (Martins Fontes: 13 títulos). A Kuarup, que não consta na tabela, tem 24 títulos de contos de fadas dos Grimm e de Hauff. Independentemente do nível literário dos autores, isso coloca em evidência o lado econômico das editoras: o critério principal parece ser o número de vendas do livro; certos autores garantem as vendas; autores pouco conhecidos são um risco econômico. Outro fato notável, porém, é que 75 % das traduções são publicadas por editoras com menos de 50 títulos de origem alemão. É possível que a literatura de língua alemã tenha um potencial de nicho para pequenas editoras que não podem adquirir direitos autorais de um bestseller mundial. Pesquisas mais detidas deveriam ainda revelar o perfil dessas editoras menores e suas conjunturas em épocas específicas. As traduções do alemão também devem ser vistas no quadro geral dos seus programas de literatura traduzida e de literatura brasileira. Mas isso exige pesquisas mais especializadas ou – melhor – interdisciplinares e comparativas.

4. Considerações Finais

Considerando-se a totalidade de dados alcançados, pode ser constatado que o catálogo provisório providencia um panorama relativamente extenso e elucidativo da tradução de literatura de expressão alemã no Brasil. Entretanto, os dados coletados, em muitos casos, não estão completos e, por isso, a pesquisa em acervos físicos se faz necessária para verificar informações ainda ausentes, como por exemplo as edições e reimpressões, o local de um exemplar físico ou, às vezes, até o nome do tradutor. Manter o catálogo atualizado significará revisitar constantemente os catálogos das editoras e os blogs dos tradutores. Para a pesquisa de traduções mais antigas, será necessário acessar arquivos que podem não ter sido catalogados completamente nos portais online. Além de completar os dados já inseridos, a pesquisa por novas e antigas traduções deve continuar incluindo também publicações avulsas em periódicos, jornais, revistas, trabalhos acadêmicos e sites da internet, uma tarefa mais complexa do que a busca por livros.

Com base nos dados existentes e em uma comparação com os cânones da história literária, também é possível identificar quais autores e obras foram negligenciados até o momento. Estes sem dúvida incluem nomes tão importantes como Jean Paul, Hugo von Hofmannsthal18 18 O banco de dados contém só um libreto (A mulher sem sombra) e um volume de cartas, além de poemas avulsos e o famoso texto do Lord Chandos. , Alfred Döblin19 19 O leitor brasileiro tem acesso apenas a duas versões de Berlin Alexanderplatz, o romance O tigre azul e um livro de ensaios críticos. e Elfriede Jelinek20 20 Apesar do Prêmio Nobel em 2004, durante quase duas décadas nenhuma peça da autora austríaca esteve disponível no Brasil. Existiam apenas dois romances traduzidos: A pianista (2011) e Desejo (2013). Só em 2023 a equipe de Ruth Bohunovsky publicou a primeira peça da autora: O que aconteceu após Nora deixar a casa de bonecas ou pilares das sociedades. . No entanto, no âmbito deste artigo, tal discussão não é viável.

Com a criação, ampliação e publicação do catálogo, o rol de investigações também se ampliará, podendo-se cruzar dados antes ausentes e reanalisar os dados já conhecidos para representar mais qualificadamente a realidade da produção translatória. Como já mencionado, será vantajoso para os germanistas e tradutores a transferência deste catálogo para uma página online que seja livre para acessos e contribuições, colaborando ainda mais para que as obras em alemão e a área de tradução de literatura “alemã” no geral sejam divulgadas e conhecidas pelo público.

Uma vez que o banco de dados esteja online, deve servir para pesquisas transversais e comparações entre a tradução de literatura em língua alemã e as outras literaturas europeias21 21 Cf. o site do Dicionário de literatura italiana traduzida. . A literatura traduzida poderia e deveria ser estudada como parte integral da literatura do Brasil produzida numa certa época. Além disso, as traduções brasileiras podem ser analisadas em paralelo a outros sistemas literários nacionais como por exemplo o português22 22 Cf. Intercultural literature in Portugal 1930-2000. . Em prol do acesso aos dados, pretende-se criar uma plataforma online que permita amplas pesquisas no material e ainda contemple a busca de exemplares físicos (em bibliotecas públicas e universitárias) de cada um dos livros. E como objetivo mais remoto, pode-se pensar em resgatar essa importante contribuição cultural, criando um acervo digital dos próprios textos das traduções realizadas no Brasil, tanto do alemão quanto dos outros idiomas estrangeiros.

  • 1
    Vale lembrar que, durante boa parte desse processo da construção de uma “literatura nacional”, nem existia um Estado alemão.
  • 2
    Cf. o site na bibliografia: Intercultural literature in Portugal 1930-2000.
  • 3
    Cf. os sites alistados na bibliografia.
  • 4
    De acordo com Hallewell (2012, p. 923)Hallewell, L. (2012). O livro no Brasil: sua história. 3ª ed. (M. P. da Villalobos, L. L. de Oliveira, & G. G. de Souza, Trad.). [Books in Brazil. A history of the publishing trade]. Edusp., em 1991, 12 % dos títulos e 8 % dos exemplares publicados no Brasil eram literatura; entre as publicações da Globo dos anos 1960 e 1970, as traduções literárias costumaram ocupar por volta de 40 % das traduções em total (Hallewell, 2012Hallewell, L. (2012). O livro no Brasil: sua história. 3ª ed. (M. P. da Villalobos, L. L. de Oliveira, & G. G. de Souza, Trad.). [Books in Brazil. A history of the publishing trade]. Edusp., p. 447).
  • 5
    O mesmo vale para a Europa, como constata Hale (2009, p. 218)Hale, T. (2009). Publishing strategies. In M. Baker & G. Saldanha (Eds.), Routledge encyclopedia of translation studies (2 ed., pp. 217–222). Routledge.: “In terms of translation flow, 60 per cent of translations published in Europe are of works originally written in British or American English; a further 14 per cent are originally written in French and another 10 per cent in German.”
  • 6
    Os relatos de viagens na Biblioteca Brasiliana alistadas em Rodrigues (2009, p. 14-17)Rodrigues, C. C. (2009). Traduções da coleção Brasiliana: fontes primárias. Tradução em Revista, (5), 1–17. https://doi.org/10.17771/PUCRio.TradRev.12935
    https://doi.org/10.17771/PUCRio.TradRev....
    não foram incluídos por se tratar de obras mais científicas do que literárias; essa decisão ainda pode ser revisada nas próximas fases do projeto.
  • 7
    Dada a grande importância do trabalho de Walter Benjamin, é possível que, em uma próxima etapa, sua obra completa seja incluída no catálogo.
  • 8
    Werner Heidermann (2007, p. 135)Heidermann, W. (2007). Retten, was der Rettung hoffentlich gar nicht bedarf! Der Index Translationum der UNESCO. In G. Wotjak (Ed.), Quo vadis Translatologie? Ein halbes Jahrhundert universitäre Ausbildungvon Dolmetschern und Übersetzern in Leipzig. Rückschau, Zwischenbilanz und Perspektive aus der Außensicht (pp. 133–142). Frank & Timme. observa que, nos registros do Index Translationum da UNESCO, 436 dos 1.287 títulos literários traduzidos do alemão para o português do Brasil pertencem a essa série.
  • 9
    Algumas dessas especificidades são: todos cadernos têm o mesmo tamanho; conteúdo, personagens, estilo obedecem a serialidade e são concebidos por um coletivo de autores (Lorenz, 2014Lorenz, B. (2014). Serialität der Romanhefte [Dissertation, Georg-August-Universität Göttingen].).
  • 10
    Souza (2021)Souza, C. C. E. de. (2021, 8 junho). Liechtenstein: história e literatura. Estadão. https://estadodaarte.estadao.com.br/historia-literatura-liechtenstein-ospelt/?fbclid=IwAR18He1GK3SP2hl-tDg8na_lved40uDhqOLYLjIyZFtPwro_bKypc0mIoD4
    https://estadodaarte.estadao.com.br/hist...
    dá uma pequena introdução à história do principado Liechtenstein e exemplos da sua literatura.
  • 11
    Denise Bottmann (2014, p. 234)Bottmann, D. (2014). Kafka no Brasil: 1946−1979. Tradterm, 24, 213–238. https://doi.org/10.11606/issn.2317-9511.tradterm.2014.96564
    https://doi.org/10.11606/issn.2317-9511....
    alerta que as traduções de Kafka da Editora Nova Época costumam indicar os anos dos originais da Schocken Books que foram traduzidos. Da mesma maneira a primeira edição d’O tambor de Günter Grass na Nova Fronteira indica 1959, ano quando o original saiu na Alemanha.
  • 12
    Todos os gráficos foram elaborados pelos autores deste artigo.
  • 13
    As traduções do alemão antes de 1900 devem ter sido muito escassas. Além do Werther de 1842, Hallewell (2012, p. 339)Hallewell, L. (2012). O livro no Brasil: sua história. 3ª ed. (M. P. da Villalobos, L. L. de Oliveira, & G. G. de Souza, Trad.). [Books in Brazil. A history of the publishing trade]. Edusp. menciona que a seção “Literatura, história, novelas, romances illustrados, etc.” do catálogo da Casa Garraux de 1863 apresenta “473 títulos, dos quais 215 são traduções: uma do italiano, uma do espanhol (Dom Quixote), uma do alemão, nove do inglês - na maioria de sir Walter Scott, além de Piloto, de Fenimore Cooper - e os restantes em francês.” A Casa Laemmert contribuiu com as Aventuras Pasmosas do Celebérrimo Barão de Münchhausen (1891) provavelmente na tradução de Carlos Jansen Müller (Hallewell, 2012Hallewell, L. (2012). O livro no Brasil: sua história. 3ª ed. (M. P. da Villalobos, L. L. de Oliveira, & G. G. de Souza, Trad.). [Books in Brazil. A history of the publishing trade]. Edusp., p. 267).
  • 14
    A periodização poderia ser discutida; pragmaticamente, a distribuição à maior quantidade aconteceu de acordo com a maior parte das obras traduzidas de um autor: Gerhart Hauptmann aparece em Modernismo, Peter Handke em Pós-Guerra.
  • 15
    Vale mencionar que em Portugal, de 1930 a 2000, foram publicados apenas duas traduções, uma das quais brasileira (cf. Intercultural literature); em espanhol, por outro lado, foram contados 24 traduções diferentes (Pichler, 2016Pichler, G. (2016). Franz Kafka in Spanien. Geisteswissenschaften in Sachsen.).
  • 16
    Uma excelente pesquisa recente sobre as primeiras décadas da tradução de Kafka encontra-se em Bottmann (2014)Bottmann, D. (2014). Kafka no Brasil: 1946−1979. Tradterm, 24, 213–238. https://doi.org/10.11606/issn.2317-9511.tradterm.2014.96564
    https://doi.org/10.11606/issn.2317-9511....
    .
  • 17
    Hallewell (2012, p. 266)Hallewell, L. (2012). O livro no Brasil: sua história. 3ª ed. (M. P. da Villalobos, L. L. de Oliveira, & G. G. de Souza, Trad.). [Books in Brazil. A history of the publishing trade]. Edusp. também suspeita que Eduardo Laemmert “forneceu a Antônio Feliciano do Castilho uma tradução literal do Fausto [I] para o português” que serviu de base para sua versão de 1872, mas essa hipótese compete com a possibilidade de o poeta ter traduzido a partir do francês.
  • 18
    O banco de dados contém só um libreto (A mulher sem sombra) e um volume de cartas, além de poemas avulsos e o famoso texto do Lord Chandos.
  • 19
    O leitor brasileiro tem acesso apenas a duas versões de Berlin Alexanderplatz, o romance O tigre azul e um livro de ensaios críticos.
  • 20
    Apesar do Prêmio Nobel em 2004, durante quase duas décadas nenhuma peça da autora austríaca esteve disponível no Brasil. Existiam apenas dois romances traduzidos: A pianista (2011) e Desejo (2013). Só em 2023 a equipe de Ruth Bohunovsky publicou a primeira peça da autora: O que aconteceu após Nora deixar a casa de bonecas ou pilares das sociedades.
  • 21
    Cf. o site do Dicionário de literatura italiana traduzida.
  • 22
    Cf. Intercultural literature in Portugal 1930-2000.
  • Conjunto de dados de pesquisa

    Não se aplica.
  • Financiamento

    A coleta de dados foi financiada pelo Programa Unificado de Bolsas, USP: 2019, Projeto 2989, “Já foi traduzido?” 2020, Projeto 1750, “Literatura de língua alemã em tradução para o português no Brasil”. O programa Citavi foi fornecido pelo Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD).
  • Consentimento de uso de imagem

    Não se aplica.
  • Aprovação de comitê de ética em pesquisa

    Não se aplica.
  • Publisher

    Cadernos de Tradução é uma publicação do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução, da Universidade Federal de Santa Catarina. A revista Cadernos de Tradução é hospedada pelo Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade.
  • Revisão de normas técnicas

    Alice S. Rezende – Ingrid Bignardi – João G. P. Silveira – Kamila Oliveira

Declaração de disponibilidade dos dados da pesquisa

Os dados desta pesquisa, que não estão expressos neste trabalho, poderão ser disponibilizados pelo(s) autor(es) mediante solicitação.

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Editado por

Editores de seção

Andréia Guerini – Willian Moura

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Jun 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    05 Jul 2023
  • Aceito
    24 Nov 2023
  • Revisado
    18 Fev 2024
  • Publicado
    Mar 2024
Universidade Federal de Santa Catarina Campus da Universidade Federal de Santa Catarina/Centro de Comunicação e Expressão/Prédio B/Sala 301 - Florianópolis - SC - Brazil
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