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ANÁLISE DA TRADUÇÃO DO POEMA O VELHO CARVOEIRO SOB A PERSPETIVA DA LINGUÍSTICA SISTÉMICO-FUNCIONAL

ANALYSIS OF THE TRANSLATION OF POEM THE OLD CHARCOAL SELLER FROM THE PERSPECTIVE OF SYSTEMIC FUNCTIONAL LINGUISTIC

Resumo

o presente artigo apresenta os resultados da análise da tradução do poema “O Velho Carvoeiro”, originalmente escrito em língua chinesa por Bai Juyi (772-846) e traduzido para a língua portuguesa por António Graça de Abreu. A nossa investigação foi realizada a partir da teoria da Linguística Sistémico-funcional de Halliday, mais precisamente, da perspetiva da metafunção ideacional e teve como principal objetivo identificar como os conceitos da linguística Sistémico-funcional podem, por um lado, servir de apoio aos tradutores durante o processo de escolha das estratégias da tradução e aumentar possibilidade de se evitarem erros que normalmente ocorrem nos processos tradutórios. O nosso estudo mostra que a análise da Metafunção ideacional, sendo uma chave importante da Linguística Sistémico-funcional, nos permite interpretar ou seja, descodificar a realização do poema original. Teoricamente, no processo tradutório, deve lutar-se pela equivalência metafuncional, especialmente pela equivalência da metafunção ideacional. Contudo, na prática, em alguns casos, a principal função do texto não consiste em compreender a experiência ou transmitir um significado “proposicional” (por exemplo nos poemas), pelo que a equivalência ideacional se torna menos importante. Nesse caso, a tradução precisa de ser analisada a múltiplos níveis para encontrar justificação para uma tradução que seja metafuncionalmente desigual, mas competente.

Palavras-Chave
Tradução chinês-português; Linguística Sistémicofuncional; Metafunção ideacional

Abstract

This paper presents the results of an analysis of a Portuguese translation by António Graça de Abreu of the Chinese poem “The Old Charcoal Seller” (Mài tàn wēng, 卖炭翁) written by Bai Juyi (772-846). Based on Halliday’s theory of Systemic Functional Linguistics (SFL), from the specific perspective of the ideational metafunction, the study has the principal aim of identifying how the concepts of SFL can, on the one hand, assist translators in choosing appropriate translation strategies and, on the other hand, increase the possibility of avoiding errors that usually occur in the translation process. The study demonstrates that the analysis of the ideational metafunction, as an important principle of SFL, allows us to interpret or, in other words, to decode the realization of the original poem. Theoretically, in the translation process, one should strive for metafunctional equivalence, especially for equivalence in the ideational meta-function. However, in practice, in some cases (for example in poems), the function of the text is not primarily to understand experience or to convey “propositional” meaning, so ideational equivalence becomes less important. In that case, the translation needs to be analysed at multiple levels to find justification for a translation that is metafunctionally non-equivalent but satisfactory.

Keywords
Chinese-portuguese translation; Systemic Functional Linguistic; Chinese poetry

Introdução

A presente investigação tem como objeto de estudo o poema “O Velho Carvoeiro”, escrito por Bai Juyi (772-846, Dinastia Tang) em língua chinesa. Bai Juyi viveu numa época de agitações e insegurança permanente, desordens políticas e intrigas na corte, revoltas e conluios entre chefes militares e de invasões de povos das regiões de fronteira. A maioria dos poemas de Bai Juyi abordam temáticas sociais, parecendo que o poeta utilizava a poesia de forma claramente intencional para fazer crítica e sátira social.

Fortemente inspirada nas canções populares, a poesia de Bai Juyi é mais direta e mais simples do que a dos poetas da sua geração. Diz-se que se desfazia de todos os poemas que os seus criados não entendiam. Em “O Velho Carvoeiro”, o poeta descreve as dificuldades de um velho que vende carvão para ganhar a vida e que, durante o exercício desse ofício, expõe de forma muito profunda a natureza corrupta da classe dominante, realçando o fenômeno gōng shì, em que “shì” se refere ao palácio imperial e “shì” significa compra. Os itens necessários para o palácio eram comprados originalmente por oficiais governamentais. Mais tarde, esse ato de compra viria a ficar conhecido por “gōng shì”, que na verdade significava uma pilhagem que era de conhecimento geral. Em meados da dinastia Tang, os eunucos1 1 Na China Antiga, na época do feudalismo, os eunucos era um grupo que para além das suas funções no gineceu do palácio, ocuparam sempre outros cargos, tais como gestores do mercado, comandantes militares, influenciadores políticos etc. Historicamente, existiram sempre conflitos entre os eunucos e o povo. Ao longo da sua vida, Bai Juyi esteve profundamente empenhado na luta contra os eunucos. monopolizaram o poder e passaram a encarregar-se das compras para o palácio. Não raras vezes eles visitavam os mercados a leste e oeste de Chang’an, comprando mercadorias a preços irrisórios e fixados à força. O poema ataca veementemente o saque que os governantes praticavam contra o povo, satiriza a corrupção que grassava naquela época e expressa uma profunda simpatia pelos trabalhadores da classe baixa, representando uma influência profunda para o modelo de sociedade da época. No poema, o autor faz uma descrição detalhada e vívida, levando-nos a olhar para a história como que se de um quadro se tratasse. O fim do texto ocorre abruptamente, de forma contundente, com características únicas na escolha dos detalhes e na representação da psicologia dos personagens. Bai Juyi demonstrou com a escrita deste comovente poema um grande entendimento do fenómeno “gōng shì”, revelando uma profunda empatia pelas pessoas.

A tradução que serve de base à nossa análise é feita por António Graça de Abreu e encontra-se na obra Poemas de Bai Juyi, editada pelo Instituto Cultural de Macau (ICM) em 1991, da autoria do mesmo autor. António Graça de Abreu foi professor de português em Pequim, tradutor e revisor nas Edições de Pequim em Línguas Estrangeiras. Viveu em Pequim e Xangai de 1977 a 1983. Traduziu para português a peça de teatro O Pavilhão do Ocidente (xī xiāng jì) e Poemas de Li Bai, ambos editados pelo ICM. Além do domínio linguístico do chinês, os seus conhecimentos das cultura e literatura chinesas também foram avaliados por professores chineses da área do ensino da língua portuguesa e da tradução.

Partimos de algumas concepções e conceitos básicos sobre a tradução e, em particular, tradução de poesia. De fato, todos os que se movimentam no mundo da tradução conhecem o antigo ditado italiano que afirma “ser o tradutor um traidor (Traduttore, Traditore)”. É verdade que muitas vezes quando comparamos o trabalho da tradução com o texto original, descobrimos incorreções e imprecisões. Nesse sentido, o conceito de tradução perfeita tem vindo a ser amplamente discutido e dado origem a várias teorias, sendo que a maioria insiste na sua impossibilidade porque consideram que toda tradução é parcial, limitada (mas nem por isso ilusória), podendo, porém, ser aperfeiçoada. (Buzzetti 58Buzzeti, C. “La Bibbia come texto letterario datradurre”. Meta 32, 1, (1987): 55-63.). É impossível, de um modo completo e absoluto, fazer uma leitura perfeita de um texto, ter uma compreensão perfeita do mesmo e realizar uma tradução perfeita, assim como não se atinge a perfeição absoluta em nenhuma atividade humana. (Britto 124Britto, Paulo Henriques. A Tradução Literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.)

Na linha de pensamento desses autores, defendemos que toda a tradução é parcial e acrescentamos que, dentre os vários gêneros de tradução, o da tradução de poesia é considerado como “bicho de sete cabeças”. Por um lado, a poesia é um gênero literário muito especial e uma forma de expressão artística e criativa da linguagem. O conteúdo do poema é a verdadeira expressão emocional do poeta durante o processo de criação, o qual incorpora a vontade do poeta em certos aspetos. Porém, cada leitor tem a sua forma de entender e interpretar as emoções expressadas nos versos, é extremamente difícil descodificar o verdadeiro significado da poesia. Por outro lado, “cada idioma possui os seus próprios hábitos gramaticais, muitas vezes restringem a expressão literária dos povos que o utilizam2 2 Tradução nossa: “每一种民族语言都有自己独特的语法习惯, 它对于该民族 的文学表现常常具有非常大的制约力。” ” (Tong Qingbing 162Tong Qingbing. Fundamentos da Teoria Literária (). Beijing: The People’s Literature Publishing House, 1995.), portanto os desafios não residem apenas em como lidar com a linguagem poética e o contexto histórico cultural do poema original, mas também estão na preservação da sua estrutura estética.

No contexto da tradução da poesia chinesa para a língua ocidental, o famoso tradutor chinês do final do século IX, Yan Fu (1854-1921), especificou três critérios de tradução: xìn, dá, yǎ, (信达雅) literalmente traduzidos como fidelidade, fluência (ou expressividade) e elegância (ou qualidade) (Luo Xinzhang 5). Fidelidade refere-se ao significado original do autor, fluência à escrita compreensível e elegância à estética da linguagem usada na tradução, a qual se perde muitas vezes no processo de tradução. Esses princípios foram discutidos no século XX e, a partir daí, os acadêmicos chineses desenvolveram muitas outras teorias explicativas.

Influenciado pela teoria de Yan Fu, o grande literato contemporâneo chinês Qian Zhongshu apresenta a teoria de huà jìng (literalmente traduzido como sublimação), que se refere ao ideal estético na tradução. Para Qian Zhongshu (1981)Qian, Zhongshu. A Tradução de Lin Shu (林纾的翻译). Beijing: The Commecial Press, 1981., o padrão mais elevado da tradução de um texto é definido pelos conceitos “huà”(transformar) e “jìng” é denotado em estado ideal. A transformação de um texto de uma língua para outra resulta numa adaptação aos diferentes hábitos linguísticos e na existência de vestígios interpretativos, sem que, porém, isso ponha em causa a preservação do estilo original – este processo é definido por huà jìng, ou “excelência”. A tradução de um texto implica um processo muito complexo até a chegada à língua de destino. O caminho sinuoso e turbulento da tradução implica sempre perdas e desvios. Deste modo, incorre-se sempre em omissões e adaptações, diferindo no sentido e na prosódia face ao conteúdo original. Se a tradução puder ser feita sem trair qualquer evidência de textos originais em virtude de divergências na linguagem e hábitos de fala e, ao mesmo tempo, preservar o sabor e o espírito do texto original, então alcançou-se o estágio huà jìng. (Qian Zhongshu 2)

Xu Yuanchong (1983)Xu Yuanchong. “Reflexões em torno da tradução dos poemas da dinastia Tang (谈唐诗的英译)”. Chinese Translators Journal, 12 [3], (1983): 18-22+8. propõe “três belezas” da tradução da poesia, ou seja, a tradução de uma poesia deve, tanto quanto possível, refletir a beleza do significado, do som e da forma do poema original. (Xu Yuanchong 18-22)

Independentemente das diferentes perspetivas teóricas, acreditamos que a teoria da Linguística Sistémico-funcional de Halliday (1985Halliday, M.A.K. An Introduction to Functional Grammar. London; Baltimore, Md., USA: Edward Arnold, 1985., 1994)Halliday, M.A.K. An Introduction to Functional Grammar. 2 ed. London e New York, Edward Arnold, 1994. pode ajudar a avaliar a qualidade da tradução de poesia a nível da linguagem, procurando a perfeição da tradução.

Partindo destes pressupostos e cientes de que não há uma tradução perfeita decidimos desenvolver uma pesquisa empírica incidindo esta na comparação entre o texto de partida (“O Velho do Carvoeiro”) e o texto de chegada (tradução de “O Velho do Carvoeiro” da autoria de António Graça de Abreu), sendo que toda esta análise é feita à luz da metafunção ideacional.

Contextualização teórica

A Linguística Sistémico-funcional (LSF) é uma abordagem funcionalista que começou a ser desenvolvida nos anos 1960 do século XX, tendo como seu principal impulsionador Halliday, e assumindo-se hoje como uma das principais tendências dentro das teorias textuais e discursivas nas quais se encontra um profundo envolvimento e impacto social e crítico. Desta teoria fazem parte a Gramáticas Sistêmica e a Gramática Funcional. A primeira refere-se à rede interligada que Halliday generaliza e desenvolve para várias áreas em inglês e em muitas outras línguas. Funcional refere-se às três metafunções que Halliday cria, que são, respectivamente, metafunção ideacional, metafunção interpessoal e metafunção textual.

Segundo Matthiessen (2010)Matthiessen, C. “Systemic Functional Linguistics Developing.” Annual Review of Functional Linguistics, (2010): 8-63., a linguística sistémico-funcional está direcionada, desde o seu início, para o seu exterior. Por um lado, a LSF tem refletido sobre questões fora do seu próprio âmbito – questões tratadas tanto por outras áreas de estudo como, de forma mais geral, pela comunidade não acadêmica. Esse contexto tem resultado no desenvolvimento de diversos contributos da LSF para a linguística educacional e os estudos de tradução, bem como para várias outras áreas. (Matthiessen 21Matthiessen, C. “Systemic Functional Linguistics Developing.” Annual Review of Functional Linguistics, (2010): 8-63.)

No que diz respeito à área dos estudos de tradução, a abordagem da LSF na tradução foi sinalizada pelo próprio Halliday: em 1962, propõe um modelo para tradução assistida por computador, no qual situa a tradução com relação ao estrato léxico-gramatical; em 1964, define a tradução como uma seleção progressiva de categorias na língua de chegada, consideradas equivalentes a categorias da língua de partida, sendo que cada categoria possui uma série de equivalências potenciais numa escala de probabilidade; em 1985/1994, aponta duas possíveis aplicações da LSF à tradução: no treinamento de tradutores e na produção de software de tradução.

Catford (1965)Catford, J. A linguistic theory of translation: an essay in applied linguistics. London: Oxford Univ. 1965. com base nos estudos de Halliday procurou uma teoria linguística da tradução, aplicando a “Gramática de escala e categoria” (scale and category grammar) à tradução, e sob as perspetivas de “estratificação” (stratification) e “classificação” (rank).

House (1977)House, J. A Model for Translation Quality Assessment. Tübingen: Gunter Narr, 1977. foi um dos primeiros a aplicar a teoria da LSF de Halliday para avaliar a qualidade da tradução, construindo o modelo da avaliação de qualidade de tradução. A tarefa do modelo de House é encontrar as “inadequações” e os “erros” em 3 níveis: linguagem/texto; registo; gênero.

A partir dos anos 1980 e início dos anos 1990, vários estudiosos aplicaram a teoria da LSF aos estudos da tradução: Newmark (1987Newmark, P. “The use of systemic linguistics in translation analysis and criticism”. Language Topics: Essays in Honour of Michael Halliday, Editado por Steele, R. & Threadgold, T. Amsterdam & Philadelphia: John Benjamins, 1987: 293-303., 1991)Newmark, P. About translation. Clevedon: Multilingual Matters, 1991. defende que o conceito de coesão3 3 O conceito de coesão apareceu pela primeira vez em Hasan (1968) sendo, posteriormente, expandido por Halliday & Hasan (1975) e, ainda, revisto por Halliday (1985). , é o componente mais útil da análise do discurso ou linguística de texto aplicável à tradução e que o conceito de registo (campo, modo e teor do discurso) é inestimável tanto na análise de um texto como na crítica de uma tradução e na formação de tradutores; Hatim e Mason (1990)Hatim, B. & Mason, I. Discourse and the Translator. London: Longman, 1990 aplicam a LSF para discutir questões de tradução. Para além de examinarem como a tradução corresponde ao original em termos das dimensões do discurso, tais como posição do sujeito e coerência, aprofundam também as funções conceituais e interpessoais da tradução em relação ao original. Baker (1992)Baker, M. In Other Words: A Coursebook on Translation. London & New York: Routledge, 1992. considera que várias concepções significativas da linguística moderna fornecem orientações para lidar com questões complexas de tradução. Ao longo da sua obra-prima In Other Words: A Coursebook on Translation, Baker concentra-se no gênero, coesão e coerência, estrutura temática (theme e rheme) e estrutura de informação para estudar a textualidade, exemplificando aos leitores a importância da equivalência textual na tradução.

Em 1989, Hu Zhuanglin, Zhu Yongsheng e Zhang Delu surgem como coautores da primeira obra sobre linguística funcional sistémica publicada na China Introdução à Gramática Sistémico-Funcional4 4 Tradução nossa: “系统功能语言学概论”. , tendo esta desempenhado um papel fundamental na promoção do estudo da linguística funcional sistêmica na China.

Estavam criadas as condições que levaram a que nos últimos 20 anos se tivessem testemunhado os grandes progressos feitos na aplicação da LSF nos estudos de SFL, com um conjunto significativos de estudos desenvolvidos por acadêmicos chineses.

Entre esses estudiosos, Huang Guowen faz um estudo comparativamente exaustivo sobre esta temática. Quanto ao texto e à tradução, Huang Guowen (2002)Huang Guowen. “Introdução: Discurso Textual e Tradução (导读: 关于语篇与翻译)”. Foreign Languages and Their Teaching, 12 [7], (2002): 1-2. afirma que a tradução não pode ser estudada sem a ajuda da análise do discurso. Aqui, a análise do discurso deve incluir tanto a análise do texto original como a do texto de destino. A relação entre o texto e a tradução é interação (Huang Guowen 2Hu Zhuanglin & Zhu Yongsheng & Zhang Delu. Introdução à Gramática Sistémico-funcional (系统功能语言学概论). Changsha: Hunan Education Publishing House, 1989). Huang Guowen (2004)Huang Guowen. “A Functional Linguistics Approach to Translation Studies”. Chinese Translators Journal, 12 [5], (2004): 17-21. discute questões de tradução baseadas na LSF, fazendo uma breve introdução de seis passos presentes no processo da análise do discurso no âmbito da LSF, sendo eles: observação, interpretação, descrição, análise, explicação, e avaliação (Huang Guowen 19Huang Guowen. “Introdução: Discurso Textual e Tradução (导读: 关于语篇与翻译)”. Foreign Languages and Their Teaching, 12 [7], (2002): 1-2.). Foi também o primeiro a aplicar a teoria da linguística funcional sistêmica ao estudo da tradução da poesia antiga chinesa para a língua inglesa.

Apesar da contribuição de Huang Guowen para os estudos de tradução, há muitos outros estudiosos que expõem questões da tradução também com base na LSF. Yuan Wenbin (2004)Yuan Wenbin. “O Modelo de Análise Discursivo de Estudos de Tradução e as suas Implicações (翻译研究的语篇分析模式及其意义)”. Journal of Anhui University (Philosophy and Social Sciences), 6 [1], (2004): 101-108. concorda que a abordagem da LSF deu um grande contributo para apoiar estudos de tradução, e propõe ainda que a tradução textual pode ser melhorada se o sistema interno da mesma puder ser analisado tendo em conta os contextos político e cultural (Yuan Wenbin 107Yuan Wenbin. “O Modelo de Análise Discursivo de Estudos de Tradução e as suas Implicações (翻译研究的语篇分析模式及其意义)”. Journal of Anhui University (Philosophy and Social Sciences), 6 [1], (2004): 101-108.). Si Xianzhu (2005Si, Xianzhu. “Relexões em torno do Simbolismo Social da Tradução sob perspetiva da Linguística Sistémico-Funcional (从系统功能语言学的视角论翻译的社会符号性)”. Journal of Jiangxi University of Finance and Economics, 6 [2], (2005): 97-100+108., 2007)Si Xianzhu. Translation Studies from the Perspective of Systemic-functional Linguistics — Constructing a Translation Quality Assessment Model. Beijing: Foreign Language Teaching and Research Press, 2007. analisa a semiótica social da tradução à luz da LSF e estabelece um modelo da análise discursiva e outro da avaliação da qualidade para os estudos da tradução. Li Li e Yan Xiaolei (2006)Li, Li & Yan, Xiaolei. “A Markedness Theory of Halliday’s Textual Function Perspective”. Journal of Xingtai Polytechnic College, 23 [4], (2006): 55-57. comparam a tradução inglesa com a chinesa de quatro tipos de frases e concluem que a marcação de Theme nas frases declarativas e imperativas em inglês não é afetada na tradução e a versão chinesa pode alcançar equivalência em termos de Theme. No entanto, nas frases interrogativas e exclamativas em inglês, a marcação de Theme é alterada na tradução devido às diferenças de construção de frases entre o inglês e o chinês (Li Li and Yan Xiaolei 57Halliday, M.A.K. & Angus McIntosh & Peter Strevens. The Linguistic sciences and language teaching. London : Longmans, Green and C, 1964.). Gao Shengwen (2012)Gao Shengwen. “Register Analysis and the Study on the Translation of The Analects”. Journal of University of Science and Technology Beijing (Social Sciences Edition), 28 [3], (2012): 34-43. apresenta um estudo comparativo das traduções em inglês do clássico confucionista Analetos5 5 Analetos (The Analects of Confucius 认语) também é conhecido como a coletânea das palavras e feitos de Confúcio. Trata-se de um trabalho de compilação feita pelos discípulos de Confúcio, no período dos Estados beligerantes (475-221 a.C). da perspectiva de Registro (Register), e de forma inovadora propõe a “hipótese das duas faces de Registro”, fornecendo uma nova abordagem à análise de Registro e à avaliação da tradução.

Até agora, os estudos da tradução baseados na Linguística Sistêmico-funcional têm alcançado grande sucesso sobretudo no âmbito da análise da tradução entre chinês e inglês. No entanto, não existe um enquadramento completo da LSF nos estudos da tradução entre chinês e português. O estudo desta área ainda apresenta grandes lacunas.

Enquadramento teórico baseado na Metafunção ideacional

A Linguística Sistêmico-funcional (doravante referida como LSF) é uma teoria que descreve o funcionamento da língua a partir de três sistemas que materializam as três metafunções desempenhadas pela linguagem. Segundo Halliday (2001)Halliday, M.A.K. “Towards a theory of good translation”. Exploring Translation and Multilingual Text Production: Beyond Content, editado por Erich Steiner & Colin Yallop, Berlin and New York: Mouton de Gruyter, 2001, pp.13-18.:

Na ótica de um linguista, a teoria da tradução consiste no estudo de como as coisas acontecem: qual é a natureza do processo de tradução e qual é a relação entre os textos na tradução. Para o tradutor, a teoria de tradução é o estudo de como as deveriam ocorrer: o que é uma tradução boa e eficaz e o que pode contribuir para se atingir um produto de melhor qualidade ou mais eficaz6 6 Tradução nossa: ‘For a linguist, translation theory is the study of how things are: what is the nature of the translation process and the relation between texts in translation. For a translator, translation theory is the study of how things ought to be: what constitutes good or effective translation and what can help to achieve a better or more effective product.” .

(Halliday 14Halliday, M.A.K. & Angus McIntosh & Peter Strevens. The Linguistic sciences and language teaching. London : Longmans, Green and C, 1964.)

Esse autor explora a tradução no âmbito da linguística, centrando-se no contexto do uso da língua e na encarnação do valor da língua num dado contexto, que é uma visão funcional da língua que ele vê como socialmente significativa. Por conseguinte, a tradução deve refletir (reproduzir) o contexto do texto original tanto quanto possível, e encontrar uma equivalência ao texto original em vários aspectos da metafunção.

De acordo com Halliday, essas três metafunções são: metafunção ideacional, por palavras simples, tem o objetivo de entender o ambiente; metafunção interpessoal, função através da qual o falante expressa a sua opinião, julgamentos e atitudes; e por fim a metafunção textual, que se ocupa do uso da linguagem na organização do texto (oral ou escrito) (Halliday 29Halliday, M.A.K. An Introduction to Functional Grammar. London; Baltimore, Md., USA: Edward Arnold, 1985.).

Apesar de sabermos que as três metafunções co-ocorrem na realização de um qualquer texto, o presente trabalho apenas foca a metafunção ideacional, realizada pelo Sistema de Transitividade e que diz respeito às formas como representamos as nossas experiências e acções do mundo real ou psicológico por meio da língua.

No âmbito da LSF, o Sistema de Transitividade discrimina seis tipos de processos: Material, Mental, Relacional, Comportamental, Verbal e Existencial. Segundo Halliday, o Sistema de Transitividade é dado pela oração, é constituída por três componentes: processo, participantes e circunstância. O processo é realizado por grupos verbais; participantes são grupos nominais ou pronominais; as circunstâncias são os que indicam as informações aos processos em que os participantes estão envolvidos (Halliday 170Halliday, M.A.K. An Introduction to Functional Grammar. 2 ed. London e New York, Edward Arnold, 1994.). A figura 1 abaixo representa os tipos de processo como um espaço semiótico, com diferentes regiões a representarem diferentes tipos.

Figura 1
Sistema de Transitividade em inglês

Segundo Halliday, os conceitos de processo, participante e circunstância são categorias semânticas que explicam da forma mais geral como os fenómenos da nossa experiência do mundo são interpretados como estruturas linguísticas. (Halliday 178Halliday, M.A.K. “Towards a theory of good translation”. Exploring Translation and Multilingual Text Production: Beyond Content, editado por Erich Steiner & Colin Yallop, Berlin and New York: Mouton de Gruyter, 2001, pp.13-18.)

O presente trabalho propõe uma análise comparativa do texto original e do texto tradutório a partir da metafunção ideacional, que é realizada pelo Sistema de Transitividade. Para facilitar a compreensão da análise dos dados, sintetizamos na tabela seguinte a descrição do Sistema de Transitividade.

Tabela 1
Sistema de Transitividade

Concepção da investigação

Como foi dito, a presente análise centra-se na perspectiva da metafunção ideacional, portanto, para seguir essa linha, em primeiro lugar, escolhemos como objeto do estudo, o poema antigo chinês “O velho carvoeiro” e a sua versão em português. Segundo, foram sublinhados todos os processos do poema original e da sua versão tradutória, desde modo, construiu-se um corpus (ver anexo). Terceiro, partindo da comparação do Sistema de Transitividade no texto original e na tradução, observámos as “inadquações” e os “erros” da tradução, procurando apontar soluções. Ao longo do trabalho, procurámos responder às seguintes questões de pesquisa:

  1. Qual é o Sistema de Transitividade representado presente no texto de partida?

  2. Qual é o Sistema de Transitividade representado no texto de chegada?

  3. Os dois textos são equivalentes em termos da metafunção ideacional?

  4. Quais as estratégicas podemos adoptar para melhorar a tradução?

No presente trabalho foram seleccionados o poema “O velho Carvoeiro” e a sua versão tradutória, denominados aqui por texto de partida (TP) e texto de chegada (TC).

Quadro 1
Texto de Partida vs. Texto de Chegada

O TP tem 139 caracteres chineses (incluindo o título) e uma estrofe de 20 versos. Exceto o 1o verso e o 17o verso, cada verso é constituído por sete caracteres. A sua rima nem sempre recai no verso seguinte ou ímpar. Esta estrutura poética é conhecida como “Poema de sete caráteres (qī yán gǔ shī8 8 Um estilo da escrita da poesia na dinastia Tang. O seu verso é de sete pés, que não se fixam em rima. )”. O TC em português tem 163 palavras (incluindo o título) e uma estrofe de 23 versos, cuja rima é livre.

Discussão dos dados

A análise começa pelos dados dos ST do TP e do TC. Abaixo, a Figura 2 mostra a distribuição dos processos no TP, o qual contém 27 processos:

Figura 2
Tipos de processo representados no TP

Por sua vez, segundo a análise do Sistema de Transitividade no TC, constatam-se 23 processos, tal como mostra na Figura 3.

Figura 3
Variações do Sistema de Transitividade entre o TP e o TC

No que diz respeito aos três componentes do Sistema de Transitividade, comparando dois textos, observam-se as seguintes variações (Figura 4).

Figura 4
Variações do Sistema de Transitividade entre o TP e o TC

Como podemos observar nos dados apresentados nas Figuras 2, 3 e 4, tanto a quantidade dos elementos do Sistema de Transitividade como os tipos dos processos, sofrem variações significativas. Como as equivalências nem sempre existem em diferentes línguas, é necessário ter variações ao nível da linguagem. Porém, nem todas as variações são aceitáveis. Pelos exemplos retirados do corpus, discutem-se essas variações (elementos sublinhados), que são consideradas como “inadaquações” ou “erros” de tradução.

Exemplo 1:

TP: 心忧炭贱愿天寒 (xīn yōu tàn jiàn yuàn tiān hán9 9 Para facilitar a leitura a quem não perceba chinês, todos os caracteres em chinês estão também escritos em Pinyin, que é a norma de romanização do chinês adoptada pela República Popular da China desde 1958. )

Quadro 2
Elementos do Sistema de Transitividade do TP

TC: tem frio e deseja o frio, por causa do negócio.

Quadro 3
Elementos do Sistema de Transitividade do TC

Como os dados acima apresentam, no TP existem dois processos, e ambos são mentais. É necessário referir que em chinês se usa frequentemente a palavra “coração” (心 xīn) para representar o mundo interior do ser humano. No que diz respeito ao TC, quando se mudou do processo mental para o processo existencial, o sentido original perdeu-se. Uma sugestão da tradução seria: “Preocupado com o negócio mas mesmo assim ainda deseja o frio.”

Exemplo 2:

TP: 晓驾炭车辗冰辙 (xiǎo jià tàn chē niǎn bīng zhé)

Quadro 4
Elementos do Sistema de Transitividade do TP

TC: de madrugada, conduz a carroça, rasgando o gelo.

Quadro 5
Elementos do Sistema de Transitividade do TC

Tanto no TP como no TC apresentados aqui, os elementos da metafunção ideacioanl são iguais. Contudo, enquanto comparamos a Meta do segundo processo material, observa-se uma imprecisão. Pois para manter a mesma função do TP, é necessário seguir a mesma lógica no TC. Uma sugestão da tradução seria: “de madrugada, conduz a carroça, rasgando os sulcos gelados.”

Exemplo 3:

TP: 翩翩两骑来是谁? (piān piān liǎng qí lái shì shuí)

Quadro 6
Elementos do Sistema de Transitividade do TP

TC: Ah, quem são esses fogosos cavaleiros?

Quadro 7
Elementos do Sistema de Transitividade do TC

Neste verso do TC observa-se a anulação do processo material e a adição da interjeição (Ah), estas variações consideram-se aceitáveis, de facto a escolha de “Ah” introduz a coesão implícita, mostrando uma transição. Mas quando olhamos para o elemento participante do TC, encontra-se aqui um erro. No TP, a locução adjetiva 㓲㓲 piān piān significa elegante. Os dois cavaleiros na verdade são eunucos do palácio e estão muito bem vestidos. Quando comparados com o velho carvoeiro, eles são elegantes, mas o que eles fizeram ao povo é reprovável, daí observamos a ironia do poeta. Embora pela compreensão saibamos que o próprio poema critica esses dois eunucos, o tradutor tem que ser mesmo fiel ao escritor, traduzindo verdadeiramente o TP e deixando a interpretação aos leitores. Uma sugestão da tradução seria: “Ah, chegaram dois elegantes cavaleiros, quem são?”

Exemplo 4:

TP: 半匹红纱一丈绫, 系向牛头充炭直。 (bàn pǐ hóng xiāo yī zhàng líng, xì xiàng niú tóu chōng tàn zhí.)

Quadro 8
Elementos do Sistema de Transitividade do TP

TC: Um pedaço de tecido em gaze, umas tiras de seda florida, tudo atado nos cornos do boi, eis a paga do labor do carvoeiro.

Quadro 9
Elementos do Sistema de Transitividade do TC

No exemplo 4, tanto no TP como no TC, os elementos da metafunção ideacional são iguais. Mas se comparamos os participantes apresentados no TP e no TC, encontram-se umas inadequações e erros.

Uma das grandes diferenças entre a língua chinesa e a portuguesa é que existe um grupo de quantificadores na língua chinesa (cerca de 500 quantificadores, enquanto que relativamente ao uso, há concordância com as substâncias). Pelo contrário, a noção de quantidade em português é diferente do que acontece em chinês. A própria língua portuguesa não tem uma classificação lexical para “quantificador”, mas existem alguns itens lexicais que possuem acepção de quantificação. Por tanto ao traduzir um texto chinês para o português, o tradutor tem que pensar nessa dificuldade, e tentar traduzir de maneira adequada para a língua-alvo.

Observamos neste exemplo algumas inadequações da tradução dos quantificadores. “Meio rolo” (半匹bàn pǐ), “três metros (一丈 yí zhàng)” são considerados como elementos importantes. Na dinastia Tang, os rolos de tecido, apenas quando se encontravam em bom estado, podiam servir como dinheiro no mercado. Portanto “meio” e “três” já nos dizem que esses produtos para o velho carvoeiro não servem para nada, mostrando a opressão dos poderosos.

Pela mesma razão, consideramos no TC “tecido em gaze” e “seda florida” como erros. Na história chinesa, a cor e o tipo de tecido são características que servem para identificar as classes sociais. Pois “tecido em gaze” e “seda florida” na altura são produtos de luxo, os que foram dados pelos eunucos são apenas um pouco de “tecido em gaze vermelha” e “seda fininha”. Uma sugestão de tradução seria: Meio rolo de tecido em gaze vermelha e três metros de seda fininha, tudo atado nos cornos do boi, eis a paga do labor do carvoeiro.

Conclusão

Teoricamente, no processo tradutório, deve-se lutar pela equivalência metafuncional, especialmente pela equivalência da metafunção ideacional. Contudo, na prática, em alguns casos, a principal função do texto não é a de compreender a experiência ou transmitir um significado “proposicional” (por exemplo nos poemas), pelo que a equivalência ideacional se torna menos importante. Nesse caso, a tradução precisa de ser analisada a múltiplos níveis (desde níveis mais elevados como o contexto cultural e ideológico até ao nível léxico-gramatical), para encontrar justificação para uma tradução que seja metafuncionalmente desigual mas competente.

Tendo em conta a análise dos dados, é-nos possível responder às perguntas de pesquisa. De um modo geral, a tradução de António Graça de Abreu tem a mesma função do poema original apesar de representar poucas variações na perspetiva de Metafunção ideacional. Para melhorar a tradução, temos em conta que nem sempre existe a equivalência entre a língua de partida e a língua de chegada, deste modo, os elementos do Sistema de Transitividade entre o TP e TC não são sempre iguais, muitas vezes uma conversão da forma é necessária.

Para além disso, a análise da Metafunção ideacional, funcionando como uma chave importante da LSF, permite-nos interpretar, isto é, descodificar a realização do poema original. Por exemplo, ao descrever a personagem principal, encontra-se uma série de processos relacionais; verifica-se também que o processo dominante deste poema é o processo material, e a personagem “o carvoeiro” representa o ator na maioria desses processos, os quais relevam a realização do poema; e quanto ao processo verbal, quem ocupa a função do participante “Dizente” são sempre “os eunucos”, e os receptores desse processo são “o carvoeiro” e “o boi”, daí observamos as diferentes classes sociais: “o carvoeiro”, representa o povo, movimenta-se numa classe baixa, e entendemos o animal “boi” também um represente dessa classe. Os “eunucos” embora sejam “dizentes”, estão no meio porque, existe o “verbiagem” que é “por ordem imperial”. Resumindo, a co-ocorrência dos componentes ideacionais revela a intenção do poeta.

O presente trabalho de investigação é uma tentativa preliminar de estudar a tradução a partir da perspetiva da Linguística Sistêmico-funcional, pretendemdo-se motivar os estudiosos a desenvolver mais estudos sobre tradução tendo como objecto de estudo o par de línguas chinês-português.

  • 1
    Na China Antiga, na época do feudalismo, os eunucos era um grupo que para além das suas funções no gineceu do palácio, ocuparam sempre outros cargos, tais como gestores do mercado, comandantes militares, influenciadores políticos etc. Historicamente, existiram sempre conflitos entre os eunucos e o povo. Ao longo da sua vida, Bai Juyi esteve profundamente empenhado na luta contra os eunucos.
  • 2
    Tradução nossa: “每一种民族语言都有自己独特的语法习惯, 它对于该民族 的文学表现常常具有非常大的制约力。”
  • 3
    O conceito de coesão apareceu pela primeira vez em Hasan (1968) sendo, posteriormente, expandido por Halliday & Hasan (1975)Halliday, M.A.K. An Introduction to Functional Grammar. London; Baltimore, Md., USA: Edward Arnold, 1985. e, ainda, revisto por Halliday (1985)Halliday, M.A.K. An Introduction to Functional Grammar. London; Baltimore, Md., USA: Edward Arnold, 1985..
  • 4
    Tradução nossa: “系统功能语言学概论”.
  • 5
    Analetos (The Analects of Confucius 认语) também é conhecido como a coletânea das palavras e feitos de Confúcio. Trata-se de um trabalho de compilação feita pelos discípulos de Confúcio, no período dos Estados beligerantes (475-221 a.C).
  • 6
    Tradução nossa: ‘For a linguist, translation theory is the study of how things are: what is the nature of the translation process and the relation between texts in translation. For a translator, translation theory is the study of how things ought to be: what constitutes good or effective translation and what can help to achieve a better or more effective product.
  • 7
    Apresenta-se o poema chinês em caracteres simplificados, visto que esta norma de escrita é oficial no Interior da China e é adotada pela ONU nos seus documentos em chinês a partir de 2008.
  • 8
    Um estilo da escrita da poesia na dinastia Tang. O seu verso é de sete pés, que não se fixam em rima.
  • 9
    Para facilitar a leitura a quem não perceba chinês, todos os caracteres em chinês estão também escritos em Pinyin, que é a norma de romanização do chinês adoptada pela República Popular da China desde 1958.
  • 10
    pǐ (rolo) é um quantificador tradicional chinês que ainda hoje se utiliza na China. Na dinastia Tang, um rolo de seda tem cerca de 12 metros.
  • 11
    Uma unidade tradicional de comprimento na China, equivalente a 3,33 metros.
  • 12
    Pé é uma unidade de medida de comprimento, usada na China nos tempos antigos. Um pé é equivalente a 0.231 metros.

Referências

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Corpus

(1) TP: 卖炭翁, 伐薪烧炭南山中。(mài tàn wēng, fá xīn shão tàn nán shān zhōng)

Elementos do Sistema de Transitividade 卖炭翁mài tàn wēng, (vender carvão idoso) 伐 fá (serrar) 新xīn (madeira) 娆 shāo (queimar) 炭 tàn (carvão) 南山中 nán shǎn zhōng (sul montanha meio) Ator Processo material 1 Meta Processo material 2 Meta Circunstância

TC: No monte do Sul o velho carvoeiro serra a madeira, faz carvão.

Elementos do Sistema de Transitividade No monte do Sul o velho carvoeiro serra a madeira faz carvão Circunstância Ator Processo material 1 Meta Processo material 2 Meta

(2) TP: 满面圭灰烟火色, (mǎn miàn chén huī yān huǒ sè)

Elementos do Sistema de Transitividade 满面mǎn miàn (portador) (recessivo) 尘灰烟火色 chén huī yān huǒ sè (poeira fumo fogo cor) Portador Processo relacional intensivo atributivo 3 Atributo

TC: O rosto cor de fogo, coberto de fuligem,

Elementos do Sistema de Transitividade O rosto cor de fogo, coberto De fuligem Portador Processo material 3 Ator

(3) 两䰅苍苍十指黑。(liǎng bìn cāng cāng shí zhí hēi )

Elementos do Sistema de Transitividade 两髨 liǎng bìn (duas tâmporas) (recessivo) 苍苍 cāng cāng (branco) 十指shí zhǐ (dez dedos) (recessivo) 䵡hēi (negro) Portador Processo relacional intensivo atributivo 4 Atributo Portador Processo relacional intensivo atributivo 5 Atributo

TC: cinzentas as têmporas, negras as mãos.

Elementos do Sistema de Transitividade cinzentas (recessivo) as tâmporas negras (recessivo) as mãos Portador Processo relacionalintensivo atributivo 4 Atributo Portador Processo relacionalintensivo atributivo 5 Atributo

(4) 卖炭得钱何所营?身上衣裳口中食。(mài tàn dé qián hé suǒ yíng? shēn shàng yī shang kǒu zhōng shí.)

Elementos do Sistema de Transitividade 卖 mài (vender) 炭 tàn (carvão) 得 dé (ganhar) 钱 qián (dinheiro) 何所营 hé suǒ yíng (quê Partícula ganhar) 身上衣裳口中食shēn shàng yī shang kǒu zhōng shí (corpo sob roupa boca meio comida) Processo material 6 Meta Processo material 7 Meta Benificiário Benificiário

TC: Ganha tão pouco dinheiro, e para quê? Roupa para o corpo, comida para a boca,

Elementos do Sistema de Transitividade Ganha tão pouco dinheiro e para quê? Roupa para o corpo, comida para a boca. Processo material 6 Meta Benificiário

(5) 可怜身上衣正单, (kě lián shēn shàng yī zhèng dān)

Elementos do Sistema de Transitividade 可怜 kě lián (coitado interjetivo) 身上衣 shēn shàng yī (roupa no corpo) 正 zhèng (ser) 单 dān (andrajo)   Portador Processo relacional intensivo atributivo 8 Atributo

TC: Mas tão pobre, vestido de andrajos,

Elementos do Sistema de Transitividade Mas tão pobre, vestido de andrajos   Processo relacional intensivo atributivo 7 Atributo Circunstância

(6) 心忧炭贱愿天寒。(xīn yōu tàn jiàn yuàn tiān hán)

Elementos do Sistema de Transitividade 心 xīn (coração) 忧 yōu (preocupar) 炭贱 tàn jiàn (carvão barato) 愿yuàn (desejar) 天寒tiān hán (tempo frio) Experienciador Processo mental 9 Fenómeno Processo mental 10 Fenómeno

TC: tem frio e deseja o frio, por causa do negócio.

Elementos do Sistema de Transitividade tem frio e deseja o frio Por causa do negócio Processoexistencial 8 Existente Processo mental 9 fenómeno circunstância

(7) 夜来城外一尺雪, (yè lái chéng wài yī chǐ xuě)

Elementos do Sistema de Transitividade 夜 yè (noite) 来 lái (vir) 城外 chéng wài (cidade fora) 一尺雪 yī chǐ xuě (um Circunstância Processo Existencial 11 Circunstância Existente

TC: Esta noite um palmo de neve sobre a cidade,

Elementos do Sistema de Transitividade Esta noite (recessivo) um palmo de neve sobre a cidade Circunstância Processo Existencial 11 Existente Circunstância

(8) 晓驾炭车碾冰辙。(xiǎo jià tàn chē niǎn bīng zhé)

Elementos do Sistema de Transitividade 晓 xiǎo (madrugada) 驾 jià (conduzir) 炭车 tàn chē (carvão carroça) 辗 niǎn (rolar) 冰较tiān hán (gelo sulco) Circunstância Processo material 12 Meta Processo material 13 Meta

TC: de madrugada, conduz a carroça, rasgando o gelo.

Elementos do Sistema de Transitividade de madrugada conduz a carroça, rasgando o gelo Circunstância Processo material 11 meta Processo material 12 Meta

(9) 牛困人饥日已高, (niú kùn rén jī rì yǐ gāo)

Elementos do Sistema de Transitividade 牛 niú (boi) Processo relacional intensivo atributivo 14 困kùn (cansado) 人 rén (pessoa) Processo relacional intensivo atributivo 15 饥 jī (fome) 日已高rì yǐ gāo (sol já Portador Recessivo Atributo Portador Recessivo Atributo Circunstância

TC: Ao meio-dia, o boi fatigado, o homem com fome,

Elementos do Sistema de Transitividade Ao meio-dia, O boi Processo relacional intensivo atributivo 13 fatigado, o homem Processo relacional intensivo atributivo 14 com fome Circunstância Portador Recessivo Atributo Portador Recessivo Circunstância

(13) 市南门外泥中歇。(shì nán mén wài ní zhōng xiē )

Elementos do Sistema de Transitividade 市南门外泥中 shì nán mén wài ní zhōng (mercado sul Porta fora lama meio) 歇 xiē (descansar) Circunstância Processo material 16

TC: na Porta Sul descansam ambos na lama gelada.

Elementos do Sistema de Transitividade na Porta Sul descansam ambos na lama gelada Circunstância Processo material 15 Ator Circunstância

(14) 翩翩两骑来是谁? (piān piān liǎng qí lái shì shuí)

Elementos do Sistema de Transitividade 䍾骟两骑 piān piān liǎng qí (elegantes dois cavaleiros) 来lái (vir) 是 shì (ser) 谁 shuí (quem) Ator Processo material 17 Processo relacional intensivo identificado 18 Identificador

TC: Ah, quem são esses fogosos cavaleiros?

Elementos do Sistema de Transitividade Ah, quem são fogosos cavaleiros Ator Identificador Processo relacional intensivo identificado 16 Identificador

(15) 黄衣使者白衫儿。 (huáng yī shǐ zhě bái shān ér)

Elementos do Sistema de Transitividade Processo relacional intensivoIdentificativo 19 黄衣使者白衫儿。 huáng yī shǐ zhě bái shān ér(amarelo roupa oficial branco roupa Parti.) Recessivo Identificador

TC: Um oficial vestido de amarelo, um rapaz de branco,

Elementos do Sistema de Transitividade Processo relacional intensivoIdentificativo 17 Um oficial vestido de amarelo, um rapaz de branco, Recessivo Identificador

(16) 手把文书口称敕, (shǒu bǎ wén shū kǒu chēng chì)

Elementos do Sistema de Transitividade 手 shǒu (mão) 把 bǎ (pegar) 文书 wén shū (letra livro) 口 kǒu (boca) 称 chēng (dizer) 敕 chì (ordem) Ator Processo material 20 Meta Dizente Processo verbal 21 Verbiagem

TC: na mão um documento “Por ordem imperial.”

Elementos do Sistema de Transitividade na mão um documento Processo verbal 18 “Por ordem imperial.”   recessivo Verbiagem

(17) 回车叱牛牛向北 (huí chē chì niú qiān xiàng běi)

Elementos do Sistema de Transitividade 回 huí (revirar) 车 chē (carroça) 叱 chì (gritar) 牛 niú (boi) 牥 qiān (levar) 向北 xiàng běi (para norte) Processo material 22 Meta Processo verbal 23 Receptor Processo material 24 Circunstância

TC: Puxam o boi, levam a carroça para norte.

Elementos do Sistema de Transitividade Puxam o boi, levam a carroça para norte. Processo material 19 Meta Processo material 20 Meta Circunstância

(18) 一车炭, 千余斤, 公使驱将惜不得。 (yī chē tàn, qiān yú jīn, gōng shǐ qū jiāng xī bú dé.)

Elementos do Sistema de Transitividade 一车炭, 千余斤, yī chē tàn, qiān yú jīn, (um carroça carvão, mil mais libra) 公使 gōng shǐ (palácio oficial) 驱将 qū jiāng (confiscar Partícula) 惜不得。 xī bú dé. (lamentar não Partícula) Meta Ator Processo material 25 Processo mental 26

TC: Uma carrada, trinta arrobas de carvão, confiscadas do Palácio. De nada servem protestos e lamentos.

Elementos do Sistema de Transitividade Uma carrada, trinta arrobas de carvão confiscadas do Palácio. De nada servem protestos e lamentos. Meta Processo material 21 Ator Ator Processo material 22 Meta

(19) 半匹红纱一丈绫, 系向牛头充炭直。 (bàn pǐ hóng xiāo yī zhàng líng, xì xiàng niú tóu chōng tàn zhí.)

Elementos do Sistema de Transitividade 半匹红绡一丈绫 bàn pǐ hóng xiāo yī zhàng líng (Meio Rolo vermelha tecido gaze Um Zhang sede fininha) 系xì (apertar) 向牛头充炭直 xiàng niú tóu chōng tàn zhí (No boi cabeça como carvão valor) Ator Processo material 27 Circunstância

TC: Um pedaço de tecido em gaze, umas tiras de seda florida, tudo atado nos cornos do boi, eis a paga do labor do carvoeiro.

Elementos do Sistema de Transitividade Um pedaço de tecido em gaze, umas tiras de seda florida, tudo atado nos cornos do boi, eis a paga do labor do carvoeiro. Ator Processo material 23 Circunstância

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    21 Mar 2022
  • Aceito
    11 Maio 2022
  • Publicado
    Ago 2022
Universidade Federal de Santa Catarina Campus da Universidade Federal de Santa Catarina/Centro de Comunicação e Expressão/Prédio B/Sala 301 - Florianópolis - SC - Brazil
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