Open-access Um cão perdido na Lisboa medieval de Saramago

resumo

Com base na História do cerco de Lisboa (1989), de José Saramago, discuto aqui como o autor expressa compaixão pelo sofrimento de um cão perdido no bairro lisboeta de Alfama na voz do narrador e das atitudes e pensamentos da personagem principal do romance e a visão que mouros e cristãos tinham dos cães e uns dos outros na Idade Média.

palavras-chave: Romance português contemporâneo; José Saramago; Cães; Compaixão

abstract

Based on José Saramago’s History of the siege of Lisbon (1989), I discuss here how the author expresses compassion for the suffering of a stray dog in Alfama, a Lisbon neighborhood, through the narrator’s voice, the attitudes and thoughts of the novel’s main character, and how Moors and Christians viewed dogs and each other in the Middle Ages..

keywords: Contemporary Portuguese novel; José Saramago; Dogs; Compassion

“O cão, com mais de oito séculos de maus tratos no sangue e na herança genética, levantou de longe a cabeça para produzir um ganido lamentoso, uma voz exasperada e sem pudor, mas também sem esperança, pedir de comer, ganindo ou estendendo a mão, mais do que degradação sofrida de fora, é renúncia vinda de dentro.”

(Saramago, 2003, p.143-4)

Esta análise faz parte de um trabalho mais amplo, um projeto multidisciplinar que desenvolvo junto ao Instituto de Estudos Avançados da USP como pesquisador colaborador e que visa extrair da prosa de ficção de José Saramago a compaixão que o autor expressa pelo sofrimento que os homens infringem aos animais não humanos, tentando entender a causa dessas atitudes nos contextos filosófico, histórico, social e/ou religioso de cada obra. O objetivo principal é demonstrar o que deveria ser óbvio para qualquer mente minimamente livre-pensante: a compaixão (por homens ou animais) independe de qualquer tipo de religiosidade e, pelo contrário, a ausência de compaixão, a indiferença pelo sofrimento alheio a até mesmo a crueldade podem, paradoxalmente, estar relacionadas a algum tipo de crença religiosa. A ideia para essa pesquisa surgiu do encontro entre meu amor pelos animais e minha admiração pela escrita e pelo pensamento de Saramago, e teve como mote uma pergunta acintosa feita a ele por um dos muitos inconformados com seu ateísmo e exaustivamente citada na internet, mas cuja origem não fomos capazes de determinar:

Perguntaram a Saramago: - Como podem homens sem Deus serem bons? Ele respondeu (com uma pergunta perfeitamente especular): - Como podem homens com Deus serem tão maus?

A pergunta parece querer atrelar, de forma ingenuamente linear, a bondade ao teísmo e sugere que a presença daquela seja impossível na ausência deste. Sua resposta ironicamente inquisitiva denuncia a incoerência de certas atitudes de homens que se autodenominam piedosos em relação aos animais, sejam estes humanos ou não. Note-se que ateísmo não é sinônimo de falta de religiosidade ou espiritualidade, pois o budismo, que, não por acaso, se preocupa com o bem-estar de todos os animais a ponto de cultivar o vegetarianismo, é uma religião ateísta (Dalai Lama, 2018).

A compaixão

As bases biológicas das emoções e dos sentimentos vêm sendo desvendadas e estabelecidas na literatura científica graças aos avanços relativamente recentes das Neurociências (e.g., Ekman, 1992; Goleman, 1995; Damásio, 1996, 1999, 2004). António Damásio, conterrâneo de Saramago e neurocientista mundialmente respeitado por suas pesquisas de vanguarda relacionando cérebro e mente, consciência e emoções e sentimentos, classifica a compaixão entre as emoções sociais - ao lado de embaraço, vergonha, culpa, desprezo, ciúme, inveja, orgulho e admiração - aquelas desencadeadas em situações eminentemente sociais e que exercem papéis importantes na vida dos grupos (Damásio, 2011). Fisiologicamente, como no caso de qualquer outra emoção, a compaixão requer estímulos emocionais particulares (imagens, palavras, memórias); sendo desencadeada em uma região específica do cérebro (o córtex pré-frontal ventromediano), é constituída por um programa de ação corporal elaborado e percebida pelo indivíduo como um sentimento (Damásio, 2011). A maioria das emoções sociais originou-se recentemente na nossa evolução, e algumas podem ser exclusivamente humanas, o que é o caso da compaixão pelo sofrimento mental e social de outras pessoas, mas não o da compaixão pela dor física, presente em muitos animais, sobretudo nos primatas e grandes símios. Isso quer dizer que o homem não é o único animal a exibir esse e, com certeza, outros sentimentos.

Nas palavras do próprio Damásio (2011, p.160):

As emoções sociais incorporam princípios morais e formam um alicerce natural para os sistemas éticos A vida diária apresenta toda sorte de problemas, e a menos que os indivíduos se comportem de modo compassivo em relação aos demais, as perspectivas de uma sociedade sadia tornam-se muito reduzidas.

Dessa forma, as bases biológicas da compaixão, profundamente enraizada em nossa psique e com origens em ancestrais distantes, quer dirigida a humanos, quer a animais, suportam cientificamente a adoção desse sentimento altamente construtivo no sistema ético de qualquer cultura, independentemente de suas crenças religiosas.

O melhor amigo do homem

Os cães são certamente os animais mais intimamente ligados ao homem, resultado da mais longa história de domesticação conhecida, iniciada há mais de 20.000 anos, em algum lugar do Oriente Médio, a partir de grupos de lobos-cinzentos (Canis lupus). Os primeiros registros de cães ajudando o homem na caça consistem em pinturas rupestres encontradas recentemente na Península Arábica, e já revelam o uso de coleiras (Guagnina et al., 2018). Propõe-se que lobos foram inicialmente atraídos para os acampamentos humanos pelo odor de carne, beneficiando-se de ossos e restos de alimento deixados pelos humanos (Ha; Campion, 2019). Os lobos complementavam nossas habilidades sensoriais, quer com seu olfato superdesenvolvido, quer com sua visão a distância apurada, alertando os homens primitivos de perigos e oportunidades de caça.

Os cães mantiveram características juvenis durante o processo de domesticação, um processo chamado pela Biologia de pedomorfose. Tais características, tanto comportamentais (abanar a cauda, engajar-se em brincadeiras, solicitar colo e carinho e lamber a cara das pessoas) como morfológicas (cabeça e encéfalo menores em relação ao tamanho corporal, focinho mais curto e largo, menor número de dentes e olhos mais arredondados), estão associadas a animais mais dóceis, assim selecionados para nos proteger e ajudar na caça (Ha; Campion, 2019). Pesquisadores russos que mantêm um programa de criação de raposas (Vulpes vulpes) em cativeiro na Sibéria desde 1959 conseguiram obter filhotes dóceis em apenas seis gerações, mantendo as mesmas características pedomórficas apresentadas pelos cães domésticos.1

A associação extremamente longa com o homem, a natureza social dos canídeos de modo geral e o fato de a domesticação não ter envolvido o uso dos cães como alimento,2 trazendo benefícios mútuos, levou a uma intimidade tão grande entre esses dois mamíferos que somos capazes de entender e nos comunicar com os cães de uma maneira muito particular, sem paralelo no mundo animal, integrando-os aos mais variados aspectos de nossa vida.

Por um lado, os cães tornaram-se especialmente sensíveis aos sinais humanos, sendo capazes de nos solicitar imperativamente um objeto fora de seu alcance (Ha; Campion, 2019), entender sinais e olhares que revelam a localização de uma fonte de alimento escondido, confiando mais no próprio dono do que em qualquer outra pessoa (Hare et al., 2002; Heberlein et al., 2016), e até mesmo compreendendo centenas de palavras, que são capazes de associar a objetos e situações.3 De fato, sons e odores humanos são percebidos facilmente por nossos amigos caninos, e pesquisas recentes revelaram que o encéfalo de homens e cães realmente processam vocalizações e emoções de modo mais similar do que acreditávamos (Ha; Campion, 2019).

Os homens também desenvolveram a habilidade de compreender os cães. Cachorros de diversas raças exibem mais expressões faciais relacionadas a emoções quando encaram um rosto humano do que quando estão diante de qualquer outro objeto, mesmo que seja alimento (Kaminski et al., 2017). O comportamento de elevar as pálpebras, tornando os olhos maiores em relação à cabeça (característica de filhotes de praticamente todos os mamíferos, incluindo os bebês), desperta nossa simpatia e compaixão, resultando em adoção mais rápida de animais nos abrigos (Waller et al., 2013) e todos os benefícios decorrentes da convivência conosco.

Assim, durante milênios os cães simbolizaram fidelidade, lealdade, amor e proteção, mas uma assimetria de capacidades e sentimentos entre homens e cães tornou evidente um lado sombrio dessa parceria: a população atual de cães do planeta é estimada em cerca de um bilhão, grande parte vivendo como vira-latas em grandes centros urbanos dos países do terceiro mundo, vítimas de abandono, fome, doenças e maus-tratos (Ha; Campion, 2019). Maria Esther Maciel (2011, p.97), analisando diversos romances de John M. Coetzee que abordam o problema da relação homem-animais em seus diversos matizes, nos ensina que os cães:

Quando amados, recebem toda a gama de afetos, mas quando rejeitados e descartados, passam a representar a escória e, na condição de vira-latas, a ser associados aos humanos que também vivem à margem da vida social e política.

De modo geral, temos mais compaixão pelo sofrimento dos cães do que de qualquer outro animal. Por outro lado, a visão do cão como inferior pode levar os homens a ter dois tipos de comportamentos eticamente censuráveis: maus-tratos ou falta de compaixão pelo sofrimento dos animais e uso da palavra “cão” como vitupério. Em História do cerco de Lisboa, José Saramago tem a oportunidade de criticar ambos esses comportamentos, como veremos a seguir.

O cão no bestiário de Saramago

A presença de animais é quase uma constante na obra de Saramago, desde bois puxando carros pesados e touros sendo martirizados em arenas em Memorial do convento (Saramago, 1982) até um elefante realizando uma viagem insólita em A viagem do elefante (Saramago, 2008), passando por rolas e cordeiros sendo sacrificados em rituais religiosos em O evangelho segundo Jesus Cristo (Saramago, 1991), muitas vezes com a clara função de expressar a compaixão do autor pelo sofrimento de homens e animais e criticar as atitudes que o geram.

Contudo, como para a maioria das pessoas, os cães parecem ser os animais prediletos de Saramago, que expressa sem reservas sua identificação com eles (Aguilera, 2010, p.38):

Quando nos Cadernos de Lanzarote eu me pergunto onde acabam meus cães e onde começo eu, ou onde eu acabo e onde começam eles, no fundo tem, não sei, muito a ver com uma espécie de sentimento panteísta, de que não falamos.

Esse amor, nos conta o próprio escritor (Aguilera, 2010, p.71), aconteceu bem tarde em sua vida, pois o pequeno José teve na infância pelo menos duas experiências negativas com cães:

Eu não tinha nenhuma paixão por cães. Quando era pequeno, lá na aldeia, tive duas ou três experiências muito violentas. Até há poucos anos não conseguia escapar a um certo medo do cão. Foram experiências de susto autêntico que não quero nem lembrar.

As tais experiências traumáticas são descritas com detalhes (curiosos, por vezes divertidos) no texto Entra, encontraste a tua casa, disponível na página da Fundação José Saramago (Saramago 2012). Nesse mesmo texto, em que o lirismo saramaguiano atinge um de seus mais altos graus, pode-se ver como os cães entraram finalmente em sua vida, em Lanzarote, no ano de 1993, despertando sua compaixão, assim como a de Pilar (Saramago, 2012):

Passados muitos muitos anos, noutra terra, debaixo de outro céu, um cão apareceu à minha porta. Tinha fome e sede. Demos-lhe água e comida, e deixámo-lo. Voltou poucas horas depois e olhou para nós. Então dissemos-lhe: “Entra, encontraste a tua casa”. Não foi o único. Outros dois, cada um por seu lado, vieram perguntar se a casa também estava aberta para eles. Dissemos-lhes que sim. Chamam-se, por ordem, Pepe, Greta e Camões. São os nossos cães, e está tudo dito.

Saramago amava seus cães, confessando sua dor pela da morte de Pepe (“Eu não imaginava que se pudesse chorar por um cão como eu chorei”) (Aguilera, 2010, p.71), e era amado por eles na mesma medida, conforme nos conta Pilar Del Río, viúva do escritor (Del Río, 2012):

Quando o cão chamado Camões regressou a casa depois da morte de José Saramago, não conseguiu aceitar a ausência. Esteve inquieto durante o dia, mas quando chegou a noite e não viu o dono nem na cama nem no sofá que ocupava habitualmente, quando uma e mil vezes percorreu o espaço entre os dois quartos, quando percebeu que o dono já não estava nem ia estar, que isso é a morte, uivou, gritou, rasgou-se numa dor que arranha a alma só de descrevê-la.

A partir de sua reconciliação com o mundo canino, Saramago passa a incluir cães em muitos de seus livros, de alguns dos quais muito se orgulha (Saramago, 2012):

Este homem que não se envergonha de confessar que tinha medo dos cães dedicou parte do seu trabalho de escritor a criar, a inventar, a modelar figuras de cão, como se, já que temia os outros, estivesse na sua mão corrigir os erros da natureza. Assim pôs no mundo da literatura o cão Constante de Levantado do chão, o cão do fio de lã azul da Jangada de pedra, o cão das lágrimas do Ensaio sobre a Cegueira. Esse sobre o qual eu disse que, se o que escrevi caísse no esquecimento, ao menos que de mim restasse a memória de ter dado vida a um cão em que palpitava o coração do melhor dos humanos...

É interessante notar que os dois primeiros cães citados pelo autor no trecho acima foram incluídos naqueles romances em 1980 e 1986, antes, portanto, de Pepe, Greta e Camões terem sido adotados.

Os cães ficcionais de Saramago que possuem nomes (curiosamente quase todos acabam sendo chamados de Constante), presentes em Levantado do chão (1980), A jangada de pedra (1988), Ensaio sobre a cegueira (1995), A caverna (2000), O homem duplicado (2002) e Ensaio sobre a lucidez (2004), tiveram seus papéis como personagens mais ou menos importantes discutidos por Ferraz (2012).

Em História do cerco de Lisboa, originalmente publicado em 1989, Saramago (2003) usa cães para revelar a visão que mouros e cristãos tinham desses animais (e uns dos outros) na Lisboa medieval, que envolve causas religiosas, e para expressar compaixão pelo sofrimento de um animal abandonado na Lisboa moderna.

Visão dos cães entre mouros e cristãos

Nas primeiras páginas do livro, o revisor critica o historiador por este sugerir a presença de “cães e ladrar de cães” na Lisboa medieval moura, “pois ele sabe que o cão, para os árabes, é impuro animal, como o é também o porco, sendo portanto demonstração de crassa ignorância supor que os mouros de Lisboa, tão zelosos, estariam vivendo paredes meias com a canzoada”, e afirma que “Chiqueiro à porta de casa e casota de mastim ou açafate de fraldiqueiro são invenções cristãs” (Saramago, 2003, p.22).

Mais adiante, Saramago lamenta essa visão negativa dos cães por parte dos mouros (“se realmente assim é, faz pena não poder contar mais com a graça de um cão a ladrar à lua ou coçando a orelha atormentada de carraças” (Saramago, 2003, p.22), duvida dela tanto teoricamente (“admitamos que o excluíssem das casas, dos afagos e da gamela, mas nunca do vasto Islão” (Saramago, 2003, p.62) como com base no relato do historiador (“se lembra da descrição que o historiador fez dos horrores da fominha dos sitiados ao cabo dos meses, não ficou vivo nem cão nem gato”; Saramago, 2003, p.62) e a critica, às vezes com ironia (“se somos tão capazes de levar a vida em paz com as impurezas que são nossas próprias, por que haveríamos de rejeitar violentamente as impuridades alheias” (Saramago, 2003, p.62), e às vezes com mais ironia, prevendo que, devido à fome imposta aos mouros pelo cerco dos portugueses, esses “impuríssimos animais ... começarão a alimentar com a sua suja carne o corpo enfraquecido das criaturas humanas de Alá” (Saramago, 2003, p.256-7).

Sobre a natureza impura dos cães, a página Iqara Islam (2019) manifesta duas opiniões opostas. Para a maioria dos eruditos islâmicos, os cães são impuros, opinião esta baseada nas palavras de Maomé: “Se um cachorro beber de um recipiente seu, purifique-o lavando-o sete vezes, sendo a primeira com areia”. Outro grupo de estudiosos, contudo, ensina que o cão é puro porque todos os seres vivos são puros. Ressalta-se, todavia, que, apesar da impureza dos cães, a Shari’ah islâmica ordena que os muçulmanos sejam gentis e piedosos com todos os animais. A mesma fonte informa que, no verso 5: 4 do Alcorão, Allah diz: “Consultar-te-ão sobre o que lhes foi permitido; dize-lhes: Foram-vos permitidas todas as coisas sadias, bem como tudo o que as aves de rapina, os cães por vós adestrados, conforme Deus ensinou, caçarem para vós”. Ora, esse verso parece indicar que os cães coexistiam intensamente com os muçulmanos, a ponto de serem adestrados para a caça, justificando a descrença de Saramago em uma total exclusão dos cães da vida dos mouros.

As palavras cão e perro usadas como vitupérios

Uma análise detalhada do conflito entre os pensamentos mouro e cristão em História do cerco de Lisboa pode ser encontrada no trabalho de Carla Carvalho Alves (2010). Aqui me atenho a analisar as passagens em que as palavras cão e perro são usadas com sentido ofensivo.

A inimizade secular (agora milenar) entre muçulmanos e cristãos atinge seu auge de tensão na Lisboa sitiada de 1147. No romance, todas as combinações de xingamento usando aquelas palavras parecem possíveis, de modo que (1) muçulmanos podem chamar os cristãos de perros (“os muçulmanos chamam perros aos guerreiros da cruz, e muita sorte que não lhes tenham chamado cerdos, pelo menos não consta.“ (Saramago, 2003, p.22), mas (2) também de cães (“... salvos também pela vontade de Alá ... pela graça de Quem nos emos libertado da ameaça pavorosa daqueles cães que estão saindo a barra, cruzados são e atravessados sejam,...” (Saramago, 2003, p.159-160), (3) um cristão pode chamar um muçulmano de cão (“os fidalgos portugueses que aí vêm ... ao mais cruel adversário não escolhem pior palavra para chamar-lhe, Cão, dizem, e parece não haver outra ofensa que tanto doa, salvo Filho de Cadela” (Saramago, 2003, p.62), (4) as ofensas podem ser concomitantes, o que geralmente leva às vias de fato (“Cão, diz o mouro, Cão és tu, responde o cristão, e ei-los que se batem com lança, espada e adaga...” [Saramago, 2003, p.62]) ou podem-se juntar contra um terceiro desafeto em comum (“[…] dos humanos, que tão mau uso fazem do nome de cão, a torto e a direito o atirando à cara de inimigos, de mouros os cristãos, de cristãos os mouros, de judeus todos juntos” (Saramago, 2003, p.62). O leitor há de ter reparado que aqui nenhum cristão chamou um muçulmano de perro. Para que não saia daqui frustrado, recomendo ler Os lusía- das (Camões, 2000):

Andam pela ribeira alva, arenosa,/Os belicosos Mouros acenando/Com a adarga e co a hástia perigosa,/Os fortes Portugueses incitando./Não sofre muito a gente generosa /Andar-lhe os Cães os dentes amostrando;... (Camões, 2000, Canto I, p.32)

Levantam nisto os Perros o alarido/Dos gritos; tocam a arma, ferve a gente, /As lanças e arcos tomam, tubas soam, /Instrumentos de guerra tudo atroam! (Camões, 2000, Canto III, p.79)

Saramago não compartilha desse apego à identidade nacional e dos conflitos de fé, reconhece a alteridade e trata o assunto com ironia e bom-humor, permanecendo fiel a seus princípios de razão, lucidez e bondade.

Sobre uma epifania não realizada (Saramago, 2003, p.17-8):

[…] mas Cristo não quis aparecer aos mouros, e foi pena, que em vez da crudelíssima batalha poderíamos, hoje, registar nestes anais a conversão maravilhosa dos cento e cinquenta mil bárbaros que afinal ali perderam a vida, um desperdício de almas de bradar aos céus.

Sobre as verdadeiras origens do povo português (Saramago, 2003, p.66):

[…] o tempo abre-se em dois ramos para não tocar nesta aldeia rupestre, está assim, a bem dizer, desde os godos, ou os romanos, ou os fenícios, depois é que vieram os mouros, os portugueses de raiz, os filhos e os netos deles, estes que somos […]

Sobre as pretensas diferenças entre os povos (Saramago, 2003, p.183):

Deu naquelas palavras clara mostra o arcebispo de Braga de saber que Deus e Alá é tudo o mesmo, e que remontando ao tempo em que nada e ninguém tinham nome, então não se encontrariam diferenças entre mouros e cristãos senão as que se podem encontrar entre homem e homem, cor, corpulência, fisionomia […]

Sobre a superioridade cultural dos árabes, pelo menos na arte do amor (Saramago, 2003, p.262-3):

Claro que os portugueses não são de todo brutos na matéria, afinal as possibilidades dependem de meios mais ou menos comuns a toda a gente, mas falta-lhes evidentemente requinte e imaginação, talento para o movimento subtil, jeito para a suspensão sábia, enfim civilização e cultura.

Sobre a maior coerência do discurso de um mouro que do arcebispo de Braga (Saramago, 2003, p.186):

Confrontando as duas falas, pesou ao revisor ver como um simples mouro a quem faltavam as luzes da verdadeira fé, se bem que com patente de governador, soube, em prudência e eloquência, librar mais alto seu voo que um arcebispo de Braga, apesar de versado em concílios, bulas e doutrinais.

O cão das Escadinhas de São Crispim

A história do revisor insubordinado transcorre basicamente dentro dos limites das antigas muralhas mouras, no bairro medieval de Alfama, que se esparrama por uma suave colina coroada pelo Castelo de São Jorge. Raimundo Silva mora na Rua dos Milagres de Santo Antonio, cujo acesso, desde a cidade dita cristã, logo abaixo, à margem do Tejo, se dá pelas Escadinhas de São Crispim, uma série de escadas e patamares com centenas de degraus que traçam um caminho estreito e tortuoso entre as edificações. Em uma de suas idas à casa editorial, enquanto descansa por um momento nas escadinhas, depara-se com um cão sem dono que se aproxima a ver se pode conseguir algum alimento com o estranho (Saramago, 2003, p.61):

O revisor não espera mais, desce precipitadamente as Escadinhas de S. Crispim e só para depois da curva […] Senta-se num degrau para recobrar-se do susto, enxota um cão que se aproximara de focinho estendido, a beber-lhe os ares […]

Analisa a figura do cão, teme que esteja raivoso, mas conclui que os aparentes sinais de raiva devem-se antes à fome (Saramago, 2003, p.61-2):

O cão aproximou-se outra vez, [...] sabe-se lá se não estará raivoso, ... um dos sinais do terrível mal é a cauda caída, e este rabo não demonstra grande vigor, mas será por causa do mau passadio, que bem se lhe vêem as costelas ao bicho, e é sinal também, mas esse decisivo, a sinistra baba escorrendo das fauces e colmilhos, ora o rafeiro em presença, se saliva, será por estímulo de um cheiro de comida em preparação aqui nas Escadinhas de S. Crispim.

Num pensamento que não se sabe se é do narrador ou da personagem, Saramago ironiza a presença de um cão vadio em uma Lisboa moderna (Saramago, 2003, p.62):

O cão [...] não está raivoso, se fosse no tempo dos mouros, talvez, mas agora, numa cidade como esta, moderna, higiénica, organizada, até mesmo esta amostra de cão vadio é de estranhar, provavelmente tem-no salvado da rede frequentar de preferência este caminho desviado e íngreme, que requer perna ágil e fôlego de rapaz, bondades que não confluem inevitavelmente nos apanhadores de cães.

O cão sente impulsos de seguir o homem, controla o medo, segue-o até certo ponto, mas “não se atreve a continuar, talvez o medo de agora se torne insuportável por lembrança dum susto antigo, gato escaldado de água fria tem medo, o cão também” (Saramago, 2003, p.63). Refugia-se na segurança de seu mundo conhecido, parecendo aguardar que outra pessoa apareça e lhe de atenção.

No segundo encontro com o cão, enquanto se encaram, Raimundo Silva se pergunta “com que personagem de ficções se parece neste momento”, e substituindo o cão por outros animais, imagina-se São Francisco com o lobo, São Marcos com o leão e até mesmo Santo Antonio pregando aos peixes, em um desfile de associações em que Saramago revela todo o seu conhecimento da simbologia das Escrituras e da tradição católica. Apesar de estar se fazendo tarde, Raimundo Silva não consegue abandonar o cão ao seu infortúnio, pois “o ganido passou a choro [...] e o que ele pede, roga, suplica e importuna, como se este simples homem fosse a própria pessoa de Deus, é uma bucha de pão, um osso” (Saramago, 2003, p.144). O vira-latas nem pode mais contar com sua fonte precária de sustento, visto que “agora usam uns contentores de lixo trabalhosos de abrir ou derrubar, daí ser a necessidade muita, meu Senhor”.

A compaixão fala mais alto, Raimundo Silva corre à casa em busca de algum socorro para o cão (Saramago, 2003, p.144):

Posto entre seguir adiante e o remorso de o ter feito, Raimundo Silva resolve voltar a casa para procurar algo que um cão faminto não se atreva a rejeitar, [...] preocupado que vinha com a hora tardia e a ideia de fazer boa figura quando pusesse diante do cão o produto do saque, que vai embrulhado em papel de jornal, um bocado de chouriço cozido, uma fatia de presunto gordo, três bocados de pão, pena não ter ali um osso robusto para a sossega, não há nada melhor, enquanto a digestão se vai fazendo, que um osso para excitar as glândulas salivares e fortalecer a dentadura de um cão.

Encontra o cão no mesmo lugar, sua compaixão aumenta, e ele compara a figura esquálida e faminta do animal à de Cristo moribundo na cruz (Saramago, 2003, p.145):

O cão não se movera, apenas deixara descair a cabeça, o beiço rente ao chão. As costelas salientes, como de cristo crucificado, tremem-lhe nos encaixes da espinha [...]

Talvez Saramago tenha formado aqui, como eu, a imagem do célebre Cristo crucificado do pintor gótico alemão Matthias Grünewald (1470-1528), painel central do vasto Retábulo de Isenheim, que “deveria servir de consolo aos pacientes do hospital” do mosteiro antonino homônimo, na Alsácia (Beckett, 1997, p.75-7). “Cristo está hediondo”, seu corpo cadavérico, imenso em comparação às demais figuras da cena, parece vergar a trave mal-desbastada da cruz, e as mãos crispadas e os pés retorcidos pela crueldade dos cravos transmitem ao observador uma agonia e um sofrimento que percorrem toda a superfície da pintura, perdendo-se no tenebroso fundo negro e indefinido.

Ainda com medo de uma possível agressão, o cão aproxima-se do jornal estendido, mas “duvida se deve olhá-lo a ele, para prevenir o provável pontapé, ou lançar-se sobre a comida cujo cheiro lhe está estorcegando as entranhas brutalmente, a saliva inunda-lhe os dentes” (Saramago, 2003, p.145). Um lamento dolorido pelo sofrimento de um inocente é lançado (pelo narrador?): “ó deus dos cães, por que fizeste para tantos de nós tão difícil a vida,...” (Saramago, 2003, p.145), para logo em seguida perceber que tendemos a atribuir a algo externo aquilo que só pode existir em nosso interior, incluindo aí nossas culpas e suas respectivas absolvições. Finalmente a fome supera a dúvida, e “o animal avança um pouco, o nariz freme de ansiedade, de repente a comida estava e deixou de estar, abocanhada em dois movimentos desapareceu, e a língua pálida e comprida lambe a gordura impregnada no papel. É um espectáculo miserável este que o destino oferece aos olhos de Raimundo Silva” (Saramago, 2003, p.145).

O homem lembra-se de seu compromisso com a doutora Mara Sara e maldiz em pensamento o tempo perdido com o cão (“diabos levem o cão, eu feito samaritano, o mais seguro é que não iria a casa buscar comida se fosse uma velha que estivesse a pedir nas Escadinhas de S. Crispim, bem, se fosse uma velhinha talvez sim, mas a apostar que não se fosse um velho” (Saramago, 2003, p.146), mas reflete sobre a inconstância e a relatividade da bondade, sua dependência das circunstâncias, do humor da pessoa e do objeto a que é dirigida e acaba se alegrando com sua própria ação para com o “pobre animalzito”.

A compaixão de Raimundo Silva pelo cão reaparece mais à frente no romance, imaginando-o agora como uma companhia amorosa para sua própria solidão (Saramago, 2003, p.165-6):

[...] que trouxesse consigo o cão das Escadinhas de S. Crispim, que bonito quadro seria um barquinho a remos atravessando o manso esteiro, [...] e um revisor remando, enquanto o cão, sentado à popa, vem bebendo os ares e, nos intervalos, mordendo tão discretamente quanto pode as pulgas que lhe desferem aguilhadas nas partes sensíveis.

Pouco antes de o encontro romântico entre Raimundo Silva e sua editora Maria Sara se concretizar, em duas páginas de puro lirismo, o narrador nos informa que o revisor não encontrou mais o cão nas duas ou três vezes que tomou aquele caminho, que pensou se o animal teria emigrado “para paragens mais abundantes de restos,” ou se teria finalmente sucumbido à inanição. Lamenta não ter repetido a caridade, mas se perdoa dizendo a si mesmo que “isto de cães, sabe-se como é, vivem com a ideia fixa de ter um dono, dar-lhes confiança e pão é tê-los à perna para sempre, ficam a olhar para nós com aquela ansiedade neurótica e não há outro remédio que pôr-lhes coleira, pagar a licença e metê-los em casa” (Saramago, 2003, p.257). Raimundo Silva concede a si mesmo aquele perdão citado anteriormente. E é esta a última vez que as Escadinhas de S. Crispim, “onde não passa ninguém”, são citadas.

Ao final do romance, nos braços de sua amada à entrada das escadinhas, Raimundo Silva conta a ela que houve ali há tempos (mente) um rafeiro, que desapareceu, que o animal não abandonava o local por nada, que o havia alimentado duas ou três vezes (mente novamente) e que os vizinhos também o faziam (mente pela terceira vez). Diz que ignora se o cão mudou para paragens melhores ou morreu de fome e declara seu remorso por não tê-lo alimentado mais vezes, já que a despesa de trazer-lhe alguns restos ou “comprar-lhe mesmo dessas comidas para cães que há agora” não o levaria à ruína. Raimundo continua repetindo suas culpas, consciente no entanto da falsidade de seu remorso, sente-se ridículo diante de Maria Sara por dedicar tantos cuidados a um cão vadio e espera dela apenas um comentário que o inocentasse, “por exemplo, Coitado do bicho, e foi isto mesmo que ela disse, Coitado do bicho, e logo depois, levantando-se, Vamos” (Saramago, 2003, p.277).

O romance se encerra com um diálogo breve entre os novos amantes, em que o revisor-agora-escritor Raimundo Silva define o destino de suas próprias personagens da história paralela do Cerco de Lisboa, arranjando-lhes, como em um passe de mágica, como companhia de viagem, um “cão escondido” jamais citado na história dentro da história, fundindo as duas ficções em uma só (Saramago, 2003, p.319):

Na minha ideia, Ouroana vai voltar para a Galiza, e Mogueime irá com ela, e antes de partirem acharão em Lisboa um cão escondido, que os acompanhará na viagem, Por que pensas que eles se devem ir embora, Não sei, pela lógica deveriam ficar, Deixa lá, ficamos nós. A cabeça de Maria Sara descansa no ombro de Raimundo, com a mão esquerda ele acaricia-lhe o cabelo e a face. Não adormeceram logo. Sob o alpendre da varanda respirava uma sombra.

Apesar de analistas sugerirem com propriedade, segundo suas próprias interpretações, que a sombra que respirava na varanda é uma metáfora para História, prefiro pensar que Saramago, na voz de seu narrador, como que dando uma última chance para a compaixão de Raimundo Silva manifestar-se, refere-se a uma sombra real de algo concreto, algo que pode servir de anteparo à luz do luar e projetar uma sombra no chão, algo que respira e faz sua sombra respirar, e que por isso não deve ser chamado de algo, e que chamo, para triunfo da compaixão, de o Cão das Escadinhas de São Crispim.

Referências

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Notas

  • 1
    Cf. National Geographic, Brasil, março de 2011, ano 11, n.132.
  • 2
    Ewersen et al. (2018) forneceram evidências de que cães podem ter sido usados como uma fonte alimentar conveniente no início do processo de domesticação. Atualmente o consumo de cães restringe-se a algumas culturas, sendo um tabu para a maioria dos povos.
  • 3
    Disponível em: <http://chaserthebordercollie.com>.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Maio 2020
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2020

Histórico

  • Recebido
    19 Dez 2019
  • Aceito
    04 Mar 2020
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