Open-access Figurações do Preparo: da ética grega à formatividade contemporânea

Resumo:

O artigo analisa as políticas de preparo pelas quais são alteradas compreensões, percepções e disposições do sujeito mediante a ideia de elaboração de si. Aborda significados da ideia de preparo com matérias da revista Veja e de sentidos de preparação oriundos dos estudos foucaultianos da cultura helênica, cristã e neoliberal. A análise aponta uma continuidade cristã neoliberal na constituição da noção contemporânea de preparação que, alheia à estética envolvida na preparação de si mesmo entre os gregos, constitui-se por uma natureza eminentemente laboral que transforma a busca da vida plena em anseios por uma existência mercadologicamente viável.

Palavras-chave: Discursos Formativos; Políticas de Preparo; Neoliberalismo e Educação

Abstract:

The article analyzes preparation policies, which entail a change in the comprehension, perceptions and dispositions of subjects through the idea of “elaboration of the self”. It deals with different takes on the idea of preparation, based on articles published in the Brazilian magazine Veja, and on meanings of preparation coming from the Foucauldian studies on Hellenic, Christian and neoliberal cultures. The analysis points to a Christian-neoliberal continuity in the construction of the contemporary notion of preparation which, indifferent to the aesthetics involved in the preparation of the self even among the ancient Greeks, constitutes itself upon an eminently labor-based nature that transforms the search for a full life into desires for a viable existence in market terms.

Keywords: Formative Discourses; Preparation Policies; Neoliberalism and Education

Introdução

Nos anos que encerravam o século XVIII, Goethe (2006) concedeu um direito hoje impensável a Wilhelm Meister1: o de dar por encerrado seu caminho de formação. “Glória a ti, jovem! Os teus anos de aprendizado terminaram; a natureza te absolveu” (Goethe, 2006, p. 473). Enunciado, hoje, de aceitação impossível, já que estamos imersos em movimentos discursivos que imprimem à noção de formatividade o status fundamental de interminável. Isso se torna particularmente visível em noções como a de aprendizagem ao longo da vida que, colocadas em evidência após a 2ª Guerra Mundial2, fortaleceram-se sobremodo nas últimas décadas. Como nos lembra Stephen Ball (2013), os discursos atuais em favor da lifelong learning funcionam pela construção de uma individualização pelo gerenciamento da existência; pela redução da responsabilidade moral diante da ascensão utilitarista das racionalidades contemporâneas - ou pela construção de outro tipo de moralidade, como argumentamos aqui; pela afirmação das relações de troca como fundantes da existência adequada; e pela construção de uma discursividade que se desenha em muito a partir de critérios ligados à definição de classes sociais para produzir seus enunciados.

É notável, então, que pode haver algo de muito valioso no exercício de debruçar-se um pouco mais sobre o que constitui essa infinitude da formação contemporânea. Evitando certo movimento de naturalização de uma ideia apriorística de formação, trata-se aqui de procurar indícios acerca da maneira pela qual se constituiu, sobre essa ideia, certo dispositivo formativo “[…] que mistura o visível e o enunciável” (Deleuze, 2005, p. 47) de uma época que deu à formação e seus desdobramentos uma série de novos contornos.

A infinitude parece ser apenas um dos elementos que acompanha a ideia de formação. Numerosos autores já dedicaram um olhar atento aos complexos e multiplicados anseios formativos contemporâneos, e reflexões como as de Noguera-Ramirez (2011) e Popkewitz (2001) são particularmente elucidativas em relação a essa temática. Somando-se a essas vozes, os autores deste artigo propõem-se a uma análise que focaliza, especificamente, a construção de certos discursos caros à noção de formatividade partindo, sobretudo, da ideia de preparo - um elemento fulcral na constituição de diferentes discursos sobre a formação nos moldes dos regimes discursivos atuais. Sobre esse conceito incidem várias racionalidades, capazes de realizar transformações e tensionamentos em seu significado, muitas vezes em favor de formas específicas de governo das subjetividades. Parece possível, portanto, realizar um estudo das políticas de preparo, se por política formos capazes de compreender, com Deleuze (1998), os processos pelos quais as linhas de força que constituem as subjetividades de uma época - ou as resistências a elas - são colocadas em funcionamento.

Pode-se compreender as políticas de preparo, portanto, como construção de certas formas sociais pelas quais são modificadas as compreensões, percepções e disposições do sujeito face à ideia de elaboração de sua própria existência. Toma-se a ideia de preparo, nesse contexto, como uma espécie de aglutinador analítico que agrega discursos fazendo com que o sujeito se vergue sobre si mesmo (ou sobre aqueles que, de algum modo, conduz) em virtude de algum modo de adequação que lhe seja imperativo - razão pela qual são particularmente valiosas, nesse contexto, as discussões realizadas por Foucault acerca da noção de cuidado de si e suas derivações, como se verá. O interesse, aqui, é então, e mais especificamente, o de indiciar certas continuidades e descontinuidades discursivas que tornam possível a materialização de uma ideia de preparação contemporânea que, de natureza acima de tudo laboral e utilitarista, tem sido capaz de colonizar muitos de nossos investimentos educacionais. Um olhar sobre certos movimentos de produção de subjetividade fundamentais aos anseios educacionais produzidos no âmbito do que talvez possa ser chamado, contemporaneamente, de um dispositivo formativo.

Um dispositivo, em Foucault, se consolida na forma de redes de relações capazes de tornar correlatos elementos discursivos heterogêneos (Castro, 2009). Por meio dele, enunciados de naturezas distintas, incluindo conhecimentos científicos, elaborações arquitetônicas, preceitos morais e falas especializadas - para citar apenas alguns exemplos - se aproximam, materializando formas específicas e sempre multilineares de operacionalização de saberes. Não sem razão, Deleuze (1990) aproximará essa noção à imagem de um novelo, vendo nos relevos confusos delineados pelas relações de força inerentes ao dispositivo a formação de uma grande paisagem heterogênea, repleta de descontinuidades.

O dispositivo formativo é amplo, disperso, e se materializa em saberes que se espalham para bem além dos espaços formalmente voltados aos investimentos sobre a formatividade profissional humana. As verdades produzidas no âmbito da formação estão postas na boca de especialistas, em colunas de opinião ou nas timelines de redes sociais, e captá-las implica um esforço em seguir certa historicidade imbricada em sua produção. É, portanto, nessa malha de saberes, constituinte do dispositivo formativo, que pretendemos enveredar, com o intuito de se produzir uma análise sobre certas continuidades e deslocamentos fundamentais à construção de um modo de se compreender o preparo, um dos elementos fundantes desse dispositivo na contemporaneidade.

Produzimos então, inicialmente, uma espécie de mapa discursivo contemporâneo da ideia de preparação do sujeito, a partir de um conjunto de matérias de um magazine de grande circulação no país: a revista Veja3. A seguir, provocamos certos tensionamentos em tais racionalidades, utilizando para isso de alguns escritos de Michel Foucault com reflexões fundamentais acerca do modo como a ideia de preparação pode ser produzida e modificada ao longo dos recortes históricos com os quais trabalha esse autor. Assim, do modo como estão aqui apresentados, os enunciados trazidos pela revista Veja servem a um duplo propósito: por um lado, permitem tecer, em uma espécie de diagrama, algumas das forças discursivas que, contemporaneamente, investem e dão sentidos à noção de preparo; por outro, servem de plataforma para a realização de uma análise capaz de tensionar tal discursividade, tendo em vista outros modos, historicamente situados, de constituição de saberes em torno da temática, sobre os quais o pensamento foucaultiano pode, em alguns momentos, se debruçar.

A Noção de Preparo em Veja: tempos formativos, crises multiplicadas

A noção de preparo é elaborada, pelas páginas da Veja, a partir de uma longa série de proposições das mais diversas naturezas que se debruçam e se conectam com temáticas proeminentes no campo educacional. Tais assertivas adensam uma discursividade que, já muito visível na década de 1990, mantém-se por meio de racionalidades ainda bastante atuais e comuns, como se verá, aos enunciados contemporâneos em favor da preparação do sujeito. Elas surgem, por exemplo, ligadas a diagnósticos globais, como em diversas matérias publicadas ao longo dos anos, tais como A Revolução que Liquidou os Empregos (1994, p. 88), que dá às mudanças empresariais um status de transformação revolucionária mundial; Os Filhos da Bolha (1995, p. 62), com indicações voltadas à educação das crianças, marcadas por preocupações com certa postura tida como excessivamente protetora dos pais; A Vida com Instruções (2008, p. 54), um tipo de cartilha voltada à constituição do bom comportamento frente às necessidades atuais, por meio de reflexões e aconselhamentos voltados a certa apologia do regramento claro na formação de futuros cidadãos.

Muito comum à série de reportagens estudada é a produção da continuidade formativa tão fundamental aos discursos contemporâneos. Mas é interessante perceber como essa ambiência contínua surge, frequentemente, associada à produção de outros modos de relação com os tempos da vida, a partir dos quais o sujeito se relaciona com as incitações ao próprio preparo e à preparação do outro. Haja vista o anseio moderno de produção de sequencializações e continuidades gerenciáveis nas existências individualizadas, inventam-se temporalidades na preparação dessas vidas a governar. Construções que trazem consigo ao menos três movimentos fundamentais - de constituição discursiva de uma urgência necessária, de uma eterna insuficiência e de um pacto contingente -, que exprimem regimes temporais específicos e fundamentais para que as verdades em torno da formação na atualidade se estabeleçam.

A primeira operação temporal reificada no interior da noção neoliberal de preparo está pautada no encolhimento do tempo aceitável entre um acontecimento formativo e outro, ao longo da existência. Lopez-Ruiz (2007), a partir de teorizações relacionadas à Teoria do Capital Humano, aponta para a instauração de uma corrida onde “[…] tudo ou quase tudo se torna objeto de investimento” (Lopez-Ruiz, 2007, p. 402) e na qual cada pessoa é capaz de incrementar quantitativamente suas habilidades por meio de “investimentos constantes” (Lopez-Ruiz, 2007, p. 410). Na base dessa sempre veloz empreitada está a qualificação inerentemente ligada ao próprio ato formativo.

A pressão pela preparação constante não é estranha aos repórteres da Veja. Por isso mesmo, a matéria que se debruça sobre a importância dos jogos eletrônicos na infância legitima o diagnóstico especializado capaz de afirmar, na voz de um psicólogo, que “[…] sem o contato com os jogos a criança vai estar em desvantagem social”, já que “[…] as crianças precisam dessas habilidades para sobreviver em um mundo cada vez mais tecnológico e baseado em computadores” (A brincadeira…, 1992, p. 94). É constantemente em favor de um preparo pautado na urgência social que se colocarão discussões como essa. Mais do que simplesmente concorrencial, a luta contínua e urgente em favor da preparação se dará contra um verdadeiro déficit pessoal, um despreparo diante daquilo que já está dado como necessário, nos moldes do que Rose (1998, p. 44) considera uma das bases contemporâneas do governo das almas: o “[…] desconforto gerado por um julgamento normativo sobre a distância entre aquilo que podemos nos tornar e do incitamento oferecido para superar essa discrepância”. Importante notar que esse incômodo individualizante produzido nas páginas do magazine será comumente chancelado por enunciados econômicos reificados, por exemplo, nas afirmações de um colunista da revista, pautada em uma educabilidade de terminologia contábil já bem conhecida: “Como regra geral, quanto mais se estuda mais o salário inicial é elevado […]. De fato, quanto maior o estoque de educação com o qual iniciamos a vida profissional, mais ganhamos” (A Mágica…, 2013, p. 20). Os discursos em favor do preparo surgidos nas páginas da revista em análise estão, o mais das vezes, ligados à construção de enunciados focados em mudanças tidas como necessárias, que tornam ainda mais constantes os clamores de urgência e de alterações radicais na existência dos sujeitos. Em leituras que frequentemente associam realidades globais instáveis a necessidades emergenciais de novos comportamentos, surgem elementos que fortalecem o sentido laboral das existências a preparar: alertas como o de que “[…] a economia que se constrói sobre as ruínas tem muitos lugares, mas eles estão reservados a quem possuir energia e disciplina para seguir as constantes mudanças de rumo” (O Que Está…, 1993, p. 90) convivem com indicações de jornadas que culminariam em um preparo mais pleno e eficaz. O antagonismo criado entre realidades economicamente indesejáveis e investimentos individualizados, de caráter mercadológico, torna inquestionável a necessidade constante de preparo, em termos laborais, e a figura de um mundo em constante transformação legitimará, por exemplo, a análise apta a afirmar que “[…] nos últimos quinze anos as empresas mudaram tão radicalmente que os especialistas em administração se referem a esse período como anos revolucionários” (A Revolução…, 1994, p. 88); permitirá ainda a produção de correlações com transformações pessoais, solicitadas em matérias que não deixam de pontuar um sempre visível contexto alarmante de existência profissional e as possíveis saídas individualizadas em meio a ele:

Para o cidadão, o mergulho (provocado pelas mudanças nas empresas) foi assustador. Se ele já não perdeu o emprego para um código de barras, está ameaçado por exigências desconhecidas. Querem que fale inglês fluente, pois o manual, o cliente ou o fornecedor são estrangeiros. Esperam - ou, melhor, exigem - que saiba lidar com computador, seja criativo, flexível, inquieto. Isso quando não perguntam ao candidato a uma vaga se ele, por acaso, teve a interessante experiência de viver alguns anos no exterior (Assombração…, 1998, p. 68).

Com imagens complexas como essas, capazes de imprimir uma série de desqualificações a uma espécie de amálgama problemático universalizante, são elaboradas incitações à correção; e deste século - que é o dos problemas insustentáveis, mas também o das possibilidades de melhorias antes impensáveis - derivam anseios de urgência e radicalidade no preparo dos seres humanos que nele habitam.

Há, portanto, alguns elementos discursivos fundamentais que vergam certas imagens do ambiente externo sobre a produção das individualidades, pautados em mensagens que alinham panoramas adjetivados negativamente com necessidades reformadoras urgentes. Qualquer que seja a natureza dos ambientes sociais, importa que sobre eles se constituam discursos capazes de provocar a “[…] convicção de que tudo está em reforma, nada concluído, numa situação de crise das instituições” (Passetti, 1999, p. 60) e do próprio indivíduo, como se pode ver nas reportagens selecionadas. Associada à formatividade, essa característica atual dos alertas em favor do preparo gera uma relação entre o caráter de reconstrução social e uma gestão de si mesmo tida como extremamente necessária, a ponto de possibilitar o interessante diagnóstico do especialista: “Uma crise, uma crise profunda. Só isso salva nossa educação” (Você…, 2008, p. 74).

Se em um primeiro movimento é possível isolar alguns elementos discursivos que provocam certa contração nos tempos de gestão do preparo, talvez seja em um movimento contrário, mas a ela complementar, que se possa encontrar outro mote fundamental para as mensagens de preparação nos dias atuais. Junto com a urgência produzida pela necessidade incessante e imediata de preparo até aqui discutida opera, por outro lado, a constituição de uma expansão temporal máxima, formulada nos termos de uma eternidade formativa posta também como inquestionável; perenidade alimentada pela constituição de uma insuficiência fundamental que reverbera nas existências subjetivas, exigindo como contrapartida um incessante processo de preparação densamente focado na viabilidade mercadológica dos indivíduos.

A necessidade de preparo se torna infinita, em primeiro lugar, por meio da produção de exigências formativas múltiplas e complexas, que tornam inaceitável tudo o que não possui um dinamismo efervescente. Se a vida, antes de tudo laboral, “[…] resume-se atualmente a um aprendizado constante” (O Que Está…, 1993, p. 88), é porque sobre ela se pôde constituir não só um repertório inesgotável de saberes, mas, por meio dele, um ideal formativo necessariamente complexo, que obriga a uma preparação constante:

O funcionário que não fala inglês não sobe de posto [...] os ignorantes em informática não conseguem mais ser bons médicos, advogados, bibliotecários, secretárias ou vendedores de passagens aéreas. [...] As empresas querem empregados flexíveis. [...] Outra exigência atual é rotulada pelos consultores empresariais de ‘curiosidade’ (A Revolução…, 1994, p. 91).

Surge, então, nas bases do preparo interminável, uma moral constituída a partir de um curriculum vitae mínimo sempre suficientemente amplo e que aponte para capacidades que exijam uma preparação sem limites e de difícil contorno, como flexibilidade, curiosidade, conhecimento de mercado e cultura geral - que pode ser tomada, inclusive, como demanda dos próprios trabalhadores, visível na fala de um advogado entrevistado pela revista sob a ambiência de uma matéria defensora da revisão das leis trabalhistas realizada em 2017: “O que as empresas mais se dispõem a negociar, até para atender às reivindicações dos millenials (quem se tornou adulto nos anos 2000), é a flexibilidade na jornada de trabalho” (Agora…, 2017, p. 77). Produzida como exigência de mercado ou das novas gerações, essa moralidade flexível termina frequentemente por apontar para uma parametrização curricular de toda a existência que, no limite, converte cada momento da vida em uma etapa de preparo rumo a um ideal particularmente produtivo, justamente, por sua inalcançabilidade. Não será surpresa, então, que até mesmo a corriqueira impossibilidade dos pais hoje em dia, de estar com os filhos cotidianamente, será lida como uma oportunidade para o desenvolvimento das crianças, o que em parte “[…] é verdade, já que elas aprendem a tomar decisões e a resolver pequenos problemas sem a ajuda de adultos” (Solidão…, 1993, p. 57) - o que obviamente lhes será necessário na vida futura, qualificada em termos laborais. Sob os discursos do preparo contemporâneos, é constantemente em favor da viabilidade mercadológica que a atenção ao outro e aos aspectos da vida que se desenvolve terão lugar e investimento.

A moralidade laboral constituída nas políticas de preparo mais evidentes nos dias de hoje se alimenta de estratégias formativas ditas continuadas que constituem, entre a longa duração dos processos associados à escolarização básica ou superior e a brevidade dos acontecimentos cotidianos, um tempo suficientemente amplo para garantir a sensação de formação e suficientemente reduzido para evitar a sensação de completude. No mercado formativo, isso se materializa em uma infinidade de cursos que modularizam as possibilidades de aquisição e certificação, em formas cada vez mais personalizáveis de consumo. Às subjetividades, tais estratégias apresentam um repertório de possibilidades/necessidades diversas, que fazem do homem que se prepara um atento colecionador de sequências temporais socialmente legitimadas como momentos de formação.

A apresentação de sequências formativas multiplicadas aponta para a existência de um elemento inerente às racionalidades de eterno preparo que talvez seja o grande responsável por sua produtividade: a instauração de uma insegurança irresolvível no preparo individual, que promove a atenção direta e contínua sobre si mesmo e cuja operação fundamental é a desqualificação do preparo do indivíduo diante da realidade global. Se há sempre que se falar em novas necessidades do mundo contemporâneo, é porque a partir delas se pode afirmar, por exemplo, que as tais exigências globais “[…] estão cristalizadas no ambiente das empresas, e é melhor que os estudantes brasileiros se armem para a cobrança” (O Que Está…, 1993, p. 89). A realidade se torna, em princípio, reativa àqueles que não se colocam cotidianamente em formação - ainda que, mesmo aos que estão imersos na formatividade incessante, a igualmente infindável exigência de preparo se evidencie: “[…] em muitas empresas, demitem-se operários antigos, treinados para tarefas repetitivas em máquinas rudimentares, e contrata-se gente com nível de escolaridade maior para operar equipamentos mais novos e complexos” (A Revolução…, 1994, p. 88), dirá uma dessas reportagens-alerta, repleta de números comparativos de escolaridade e sua relação com o quantitativo de trabalhadores nas empresas.

Há, portanto, que se desqualificar o presente em honra de um porvir que, alcançado, será novamente desvalorizado, em um ciclo de atualização de obstáculos que incitam à continuidade, transformando a existência em um agregado de desafios laborais a enfrentar. A multiplicação de tais exigências se materializa, inclusive, como uma estratégia de muitas das reportagens da própria Veja, que não raramente constrói pequenas cartilhas orientadoras, a partir das quais são ensinados modos de ser e de agir para tornar-se, ou tornar o outro, mais mercadologicamente viável. Algo visível, exemplarmente, no caso da matéria Uma Bela Sinfonia Pueril (2015) que, a partir de uma discursividade de matriz neurocientífica, produz um quadro ilustrado de orientações, voltadas aos três primeiros anos da criança, que orienta os pais a partir da sequência: idade - áreas cerebrais ativadas - o que o bebê faz - o que os pais devem fazer. Assim, entre um e dois anos, para se aproveitar ao máximo o momento cerebral da criança, será o tempo de “incentivar o contato com outro idioma” (Uma Bela…, 2015, p. 82); e, entre os dois e três anos, tendo-se em vista que “[…] é nessa fase que o comportamento dos filhos é esculpido”, será necessário “impor limites na educação” (Uma Bela…, 2015, p. 83).

Uma terceira operação temporal possibilitada pelas atuais políticas de preparo visíveis na revista Veja diz respeito à instauração de uma pactualidade necessária no tempo presente, que deriva de discursos que se produzem a partir da participação social. Nem de caráter eterno, tampouco puramente comprimido na urgência, esse apelo instaura uma temporalidade contingente às necessidades ditas coletivas, que por serem continuamente alardeadas com a já citada produção de um contexto de crise generalizada, jogam o sujeito em um jogo de atenção máxima e colaborativa, sob a ênfase da participatividade forjada na pressão do agora.

São profusos os discursos de totalidade nas convocatórias sociais dessa revista. A colaboração é, em primeiro lugar, convertida em instrumento maior de correção dos rumos da sociedade; afinal de contas, “[…] o país inteiro, não apenas suas elites, precisa do impulso educacional para que a sociedade toda possa desgarrar-se do pântano da pobreza” (A Máquina…, 1991a, p. 46). Por um lado, mantêm-se sujeitos governáveis com a questão da insegurança pelo risco do despreparo individual; por outro lado, a mesma insegurança parece funcionar na coletividade pela incitação à participação.

Daí deriva um segundo resultado dos discursos de participação, que parece ser a produção de uma natureza necessariamente sistêmica das ações propostas: já que “[…] a educação não é uma tarefa apenas do governo, tem de envolver as comunidades, os professores, os alunos e os pais, e só pode se solidificar se o país como um todo tomar consciência de que sem boas escolas todos sairão perdendo” (Caminhos…, 1991b, p. 31). O caráter estrutural que adquirem os esforços coletivos em torno da formação lança a noção de preparo em um contexto estatístico e matematicamente quantificável, dando à própria ideia de coletividade uma base individualizante, que se dá pela definição de um ideal a ser alcançado - a partir da produção de médias que procuram expressar numericamente as aquisições formativas fundamentais a todos -, seguido pela atenção individualizada a partir da qual cada um dos sujeitos de uma população pode mensurar a si mesmo. Contemporaneamente, estamos próximos de uma noção de coletivo peculiar, por apontar uma sociedade na qual “[…] o emergir da individualidade assinalou um progressivo enfraquecimento, a desintegração ou destruição dessa rede de vínculos sociais que amarrava com força a totalidade das atividades da vida” (Bauman, 2007, p. 31); mas que, por outro lado, pouco parece estar atento à potência da diferença que emerge da noção de comum (Biesta, 2013), uma vez que se pauta fundamentalmente em discursos universalizantes e com anseios de uma participação homogeneizada. Em um olhar que é primeiro de todos para cada um, o que parece se despotencializar é a atenção às forças advindas dos vínculos estabelecidos a partir dos desejos fundantes de um corpo político que ultrapassa os anseios individuais (Safatle, 2016); e a coletividade se torna, portanto, tão somente um agregado de sujeitos atentos ao seu próprio preparo que, de maneira individualizada, se constituem em meio aos grupos.

A valorização da individualização no meio coletivo funciona em duas camadas. Primeiramente, aquela dedicada ao sujeito em seus anseios isolados de preparação. Ela provoca frequentemente um desestímulo direto aos empreendimentos comuns e às formas como, a partir deles, se organizam os arranjos sociais (Bauman, 2001). O outro processo de isolamento é efetivado pelo tipo de operação discursiva, “central para governar as diferenças”, que converte especificidades em identidades (Bampi, 2007, p. 33). Como no caso da matéria que, ao fundar o grupo das “crianças superprotegidas”, pode argumentar que cada uma delas tende a ser “medrosa”, “manhosa”, “insegura” e “dependente”, podendo se tornar um adulto “egoísta”, “individualista”, “com dificuldade de relacionamento” e “de fazer escolhas” (Excesso…, 2010, p. 114). Pessoalizar o preparo, criar identidades sociais a preparar: juntos, esses dois níveis de organização individualizante tornam profícuos os sentimentos de colaboratividade, solidariedade e tolerância que operam no interior das políticas de preparo.

Isolamentos por individualização e por identificação possibilitam movimentos fundamentais às técnicas de governo que inserem a necessidade de preparo em processos ditos coletivos. Em primeiro lugar, tornam mais férteis as discussões de ordem estatística, produzindo séries de elementos e fabricando, com a identidade dos agrupamentos, suas regularidades (Traversini; Bello, 2009), capazes de estabilizar fluxos descontínuos “[…] jogando-os em um campo de objetividade” (Popkewitz; Linblad, 2001, p. 120). As produções estatísticas geram possibilidades de gerenciamento das existências a partir de estimativas e probabilidades que permitem a construção de planos contínuos entre campos discursivos distintos (Popkewitz; Linblad, 2001), como no caso da escola que, a partir da constatação de que “mais de 30% dos pais” dos alunos que “tiraram diploma numa profissão [...] foram exercer outra diferente” propôs a realização de ações pelo Serviço de Orientação Educacional, focadas nas crianças e baseadas na “[…] realidade que avança no mercado de trabalho” (O Que Está…, 1993, p. 87).

No interior das coletividades contemporâneas, os agrupamentos localizados de existências a preparar também são tomados pelo olhar sobre as modificações provocadas pela “dança do mercado”, o que justifica o subtítulo Escola da Vida de uma reportagem que fala do modo como as escolas têm observado as mudanças do mercado de trabalho na preparação de seus alunos (O Que Está…, 1993, p. 87). É, portanto, também em honra dessa existência-preparo que os muitos parceiros intervirão sobre a realidade formativa dos indivíduos. Por ela estarão juntos, tanto quanto os grandes sistemas educacionais, a família e os professores, compartilhando metodologias como os WebQuests, em um cuidado - no caso, associado à seleção de sites para as crianças e jovens - que “[…] pode ser adotado em casa, pelos pais” (Endereços…, 2002, p. 96). Todos juntos, sempre, em busca das finalidades de preparo sempre passíveis de apresentação por meio dos inúmeros gráficos e alertas que povoam os anseios universalistas e colaborativos de mudança mundial.

Perenidades, crises, complexificações. Muitos dos elementos capazes de circunscrever a noção de preparo indiciada nas páginas da Veja surgem de saberes reificados em discursos mercadológicos contemporâneos. Mas essa discursividade não está isolada e como tal possui uma historicidade que, embora descontínua, é mapeável e circunscreve sua condição de possibilidade, visibilidade e legibilidade. Foucault, notadamente nos estudos empreendidos em seus últimos cursos - debruçados sobre a complexa relação entre a produção de subjetividades e a questão da verdade -, produz uma série de reflexões que, talvez, possam lançar outras luzes à questão do preparo. Algumas delas são retomadas aqui em paralelo ou contraponto à figuração do preparo como posta na revista Veja. São, nesse sentido, ferramentas analíticas capazes de provocar certo tensionamento e de colocar em evidência algumas continuidades, a fim de que se possa notar de quais sentidos nos aproximamos e de quais nos distanciamos na construção do modo hegemônico de se conceber a preparação nos dias de hoje.

A Noção de Preparo na Estética da Existência Grega: a paraskheué e a intempestividade do acontecimento

Em um de seus últimos cursos no Collège de France, Foucault (2006) se debruça sobre as complexas relações, historicamente produzidas, entre sujeito e verdade. O historiador se inquietava, naquele momento, com o modo pelo qual os gregos, sobretudo a partir de Sócrates, elaboravam saberes sobre eles mesmos, gerando “técnicas específicas” utilizadas pelos homens para “compreenderem aquilo que são” (Foucault, 2007, p. 2). A analítica foucaultiana então, sobretudo em A Hermenêutica do Sujeito (Foucault, 2006), se detém fundamentalmente sobre a noção de cuidado de si (epiméleia heautoû), que “[…] não cessou de constituir um princípio fundamental para caracterizar a atitude filosófica ao longo de quase toda a cultura grega, helenística e romana” (Foucault, 2006, p. 12).

As relações entre sujeito e verdade tais como desenhadas por Foucault comparecem atreladas a movimentos históricos que ora aproximam e ora distanciam duas questões filosóficas importantes: a maneira pela qual se pode acessar a verdade e a espiritualidade, que compreende “[…] as transformações necessárias no ser mesmo do sujeito” (Foucault, 2006, p. 21) que permitirão esse acesso. O afastamento entre elas fundará, exemplarmente, o pensamento moderno, para o qual as condições de tal acesso, distanciadas de qualquer necessidade de modificações espirituais, estão embasadas na formalidade e objetividade das regras do conhecimento e em condições culturais e morais extrínsecas que “[…] não afetam a estrutura do sujeito enquanto tal” (Foucault, 2006, p. 23).

Bem distintos são os modelos gregos de acesso à verdade, para os quais a transformação de si mesmo é sempre um elemento fundamental, embora de maneiras distintas. No cerne do pensamento socrático e platônico, argumenta Foucault (2006), a ideia de um cuidado de si comparece diretamente conectada a uma circularidade que a liga ao “saber do governo como governo dos outros” (Foucault, 2006, p. 51). Nos dois séculos iniciais de nossa Era, algumas escolas helênicas, sobretudo a estoica, irão realizar importantes modificações na estrutura da epiméleia heatoû, fazendo, por um lado, que esse cuidado ultrapasse a ideia do simples conhecer-se, assumindo a forma de atividades e exercícios práticos; e, por outro, que a noção de cuidado de si escape do âmbito do interesse estrito pelo governo da polis, vindo a tomar, como principal foco, não a governança do espaço social, mas a própria relação consigo, em uma espécie de anseio de “autofinalização” (Foucault, 2006, p. 104). Cuidar de si mesmo, mediante a realização de inúmeros exercícios cotidianos - como a meditação, a escuta e a escrita, entre outros - passava a ser o mote, no estoicismo, de uma cultura de si que já ali se espalhava e se universalizava (Foucault, 2006).

A que tipo de relação com a verdade irá apontar, então, esse cuidado estruturante na relação consigo, na medida em que ele se desloca da atenção à cidade para a própria atenção a si mesmo? As análises foucaultianas irão observar que um dos principais anseios nos exercícios sobre si propostos pelos mestres estoicos aos seus discípulos é o de levar o sujeito a “querer livremente” (Foucault, 2006, p. 163), o que em textos como os de Sêneca aponta para um querer que não seja determinado pelos acontecimentos externos, tampouco pelas próprias (e enganosas) inclinações, mas sim constituído, pura e simplesmente, pela busca do “domínio e posse de si” característicos da sapientia (Foucault, 2006, p. 165). O “si mesmo” a ser constituído, aqui, se diferenciará, então, do modelo platônico, no qual o acesso à verdade se constituiria pela lembrança das reminiscências vistas pela alma em contato com as essências; mas será também estranho a um modelo cristão que, perdurando fortemente até o século XVI - mas, inegavelmente, com reverberações contemporâneas -, constituirá uma circularidade entre a Verdade (do Texto sagrado) e o conhecimento de si, alcançável somente mediante a renúncia a si mesmo (Foucault, 2014).

A transformação estoica do cuidado de si, via sua autofinalização, imprimirá um caráter estético à busca da verdade, doravante instalada na possibilidade de “[…] fazer da própria vida uma obra” (Foucault, 2006), alheia a regras apriorísticas, mas plena de um discurso verdadeiro que lhe afeta. O alcance da verdade estará, então, submetido antes de tudo à incorporação, por meio de exercícios sobre si mesmo, de mensagens selecionadas pelo sujeito em busca de seu aperfeiçoamento em um exercício espiritual subjetivo. Não uma “objetivação de si num discurso de verdade” (Foucault, 2006, p. 401), como na discursividade cristã que se avultará nos séculos seguintes, mas a “subjetivação do discurso (que se faz) verdadeiro” (Foucault, 2006, p. 400) na própria experiência do sujeito. Fundação de uma estética da existência que levará Foucault, anos mais tarde, a declarar sua certeza de que não se poderia “encontrar qualquer normalização […] na ética dos estoicos” (Dreyfus; Rabinow, 1995, p. 254), já que o acesso à verdade, no estoicismo, se daria sempre no interior da escolha pessoal acerca dos discursos a serem encarnados pelo sujeito, donde deriva o desinteresse dessa escola helênica em fornecer qualquer modelo universal de comportamento.

As reflexões foucaultianas no debate em torno da noção de paraskheué (preparo) entre os gregos e romanos se darão justamente no âmbito do estudo da ética estoica, uma estética de si: forma virtuosa, bem mais do que modelo a seguir. A preparação de si mesmo, elemento fundamental na ascese antiga, se dará principalmente pela capacidade de ajustar-se ao imprevisto acontecimental no momento em que ele se dá, “[…] não [porém] de maneira a superar os outros, nem de maneira a superar a nós mesmos” (Foucault, 2006, p. 388), mas como forma de tornar-se mais forte do que aquilo que pode vir a acontecer; força que deriva não da anulação do acontecimento, mas da sabedoria que consiste em lidar com suas intensidades. Esse fortalecimento dar-se-á apenas com exercícios capazes de incrustar no espírito os princípios razoáveis de comportamento dos quais se aproxima o sujeito, convertendo-os em convicções perenes e, mais do que isso, em matrizes de ação igualmente estáveis, capazes de fazer funcionar as respostas mais convenientes aos acontecimentos da vida. Na medida em que a paraskheué se constitui nessa relação entre mensagens e comportamento, será ela “[…] o elemento de transformação do logos em ethos” (Foucault, 2006, p. 394): lugar de encarnação no sujeito, das verdades que, por meio de suas próprias decisões, o constituem.

O preparo não comparece aqui, portanto, vinculado a qualquer discurso moralizante em torno de verdades apriorísticas. Talvez seja por isso que o próprio Foucault, em sua análise sobre a obra de Sêneca, salienta que este pensador, ainda que compreenda a vida como um infindável caminho de preparação, não coloca de modo geral a questão fundamental ao cristianismo do “preparar-se para quê” (Foucault, 2006, p. 541). Questão provavelmente secundária no interior de uma discursividade estoica que instaura uma arte de viver alheia a códigos sociais universalistas. Deles afastado, o preparo assume a função de tornar o homem, tão somente, menos negativamente abalável pelo acontecimento vindouro. Mas vale lembrar aqui que não se trata de um exercício de produção de representações sobre o porvir, visto pelos próprios estoicos com desconfiança. Ao discutir a prática de exercícios de preparo diante dos males - a praemeditatio malorum -, Foucault argumenta que tais práticas, antes de se constituírem em atividades pautadas na construção representacional de situações futuras, são exercícios de atualização, de realização da própria possibilidade do mal por meio de experiências que o permitam avivar-se no sujeito, mas de modo bastante peculiar, por um curioso exercício de redução do mal a uma fatualidade efêmera. Por ele, a espada a ferir não será mais do que um instrumento a causar uma ferida breve, a dor não será mais do que algo suportável e, se não o for, se dará na brevidade inerente ao momento da morte. Portanto, uma “presentificação do porvir” (Foucault, 2006, p. 572), de fato, que não se dará pela imaginação, mas por sua negação, capaz de reduzir a realidade do mal ao mínimo possível.

A Noção Cristã de Preparo: o mal e a penitência na produção do bom existir

O preparo no âmbito de certas artes de viver do mundo greco-romano se dá, portanto, por meio de uma lógica de elaboração de si pautada unicamente no interesse em superar o acontecimento que justifica a preparação; por uma busca estética, relacionada a uma forma de belo viver eleita pelo próprio sujeito e acessada na encarnação/afetação de si mesmo pelas mensagens que a compõem; e pela presentificação do tempo do acontecimento, possibilitada pela atualização experiencial que simplifica as dificuldades possíveis.

Bem diferentes desta são as convocações ao preparo, contemporâneas àquelas dos estoicos, mas que encontram seu nascedouro nas práticas cristãs dos primeiros séculos. Em outro de seus cursos - intitulado Do Governo dos Vivos -, Foucault (2014) realizará uma genealogia minuciosa dos modos pelos quais a relação entre o sujeito e a verdade surgira em meio a uma série de debates fundantes do cristianismo e, dirá ele, do próprio modelo ocidental de pensamento. Nesse contexto, é particularmente interessante perceber como a ideia de preparação, desarticulada da relação subjetiva com uma verdade ética própria ao sujeito - como nos gregos - será organizada em torno de uma moralidade cristã que, desde Tertuliano, no século IV, muito deve à instituição sistemática da figura do mal (Foucault, 2014). É frente ao mal que se produzirá um medo fundamental, por meio do qual “[…] a inquietude nunca deve cessar no que concerne à relação que o sujeito deve ter consigo mesmo” (Foucault, 2014, p. 117); e contra ele que se insurgirá uma ginástica “física”, “corporal” e “espiritual” (Foucault, 2014, p. 121), fundamental ao preparo para o batismo nos primeiros séculos. Em movimentos como esse, o que se vislumbra é o deslocamento da noção de preparo, agora instaurada no interior de um jogo entre jornada e recompensa, que tem como fundo a atenção à batalha espiritual na qual então se converte a vida cristã.

No bojo da guerra espiritual fundante da moral cristã, de certo modo inaugurada pelos escritos de Tertuliano, instauram-se mecanismos intensos de preparação - voltados à preparação para o batismo ou à vida catecúmena que precede o reconhecimento do sujeito como cristão (Foucault, 2014). Multiplicam-se, então, as necessidades de “[…] provas constantes de verdade” (Foucault, 2014, p. 146) que funcionam como uma espécie de autenticação continuada da boa existência, possibilitada pelo advento da relação entre os mecanismos de resgate das faltas, pelo pecador, e sua salvação, que para Foucault (2014) viabiliza a própria igreja cristã. Muitas dessas provações serão, obviamente, materializadas em exercícios espirituais que, ao contrário daqueles de certas escolas helênicas, se fundam na garantia de uma conduta moralmente aceitável, ou de seu resgate, frente aos códigos sociais fundadores da cristandade. Práticas como preces, jejuns e esmolas se somarão no interior de um estatuto penitencial que, em seus desdobramentos, incluirá uma série de proibições, de obrigações e, principalmente, de “atos refletidos” (Foucault, 2014, p. 181) pelos quais o individuo manifesta sua própria verdade - e das quais confissões e súplicas públicas são os mais evidentes exemplos.

Dessa série de práticas viabilizadoras de um sistema moral cristão somos profundamente devedores. O cristianismo, argumenta Foucault, não é o sistema de crenças que introduz a questão da falta pela primeira vez na história ocidental - a cultura greco-romana, em verdade, já a conhecia. Mas é somente com o cristianismo que o erro - o distanciamento individual frente à verdade, portanto -, na ambiência da questão do mal, será problematizado no âmbito das recaídas ao longo da vida do fiel. O cristão é, assim, um sujeito amarrado de maneira contínua a um conjunto de práticas necessárias à comprovação de seu arrependimento enquanto penitente que jamais deixará de ser.

A unificação da mensagem de Verdade cristã está, portanto, associada desde seu advento à constituição de uma imagem universalizante e moralizante de mal e a um reconhecimento perene de uma insuficiência que implica em um movimento de aperfeiçoamento constante. Não sem razão, portanto, Foucault encontrará na cristandade, e não nas práticas greco-romanas, as bases das relações entre subjetividade e verdade no Ocidente (Foucault, 2014). Na medida em que a problematização da espiritualidade como transformação do sujeito em si se dissocia da questão do acesso à verdade, e no momento em que essa acessibilidade se integra a certas formas constituídas como universais e que terminam por conformar a boa existência, novas modalidades de intervenção sobre si mesmo podem emergir. A objetificação do sujeito, traçada no interior da moralidade cristã, bem como suas relações com a ideia de preparo, será de certa maneira reificada em muitos de seus elementos no âmbito de um processo historicamente bem mais recente, que parece encontrar seu ápice nos discursos neoliberais.

A Noção Neoliberal de Preparo: reverberações da cristandade e a materialização do Homo œconomicus

Com o advento de uma razão de Estado essencialmente mercadológica a partir do século passado, novos elementos discursivos portadores de um sentido moral peculiar fortalecem uma noção de preparo bastante distinta daquela que movia certas discursividades de escolas helênicas nos primeiros séculos da nossa Era e um tanto mais próxima do modelo cristão, que com elas conviveu por certo período. É uma modelagem moral de contornos específicos, devedora da ascensão do neoliberalismo norte-americano comentado por Foucault em O Nascimento da Biopolítica (Foucault, 2008).

No âmbito de seus estudos genealógicos acerca das formas neoliberais de governo sobre os outros, Foucault propõe a constituição de uma figura que, no âmbito do modelo neoliberal proposto por pensadores americanos, parece particularmente profícua na análise das novas formas de se conceber o preparo. Discutindo diretamente a ascensão do liberalismo em sua vertente estadunidense - que, mais do que um sistema econômico, é “[…] toda uma maneira de ser e pensar” (Foucault, 2008, p. 301) - o autor francês localiza a importante imagem do Homo œconomicus.

Foucault (2008, p. 303) compreende que o elemento central da vertente neoliberal norte-americana é a tentativa de “[…] reintroduzir o trabalho no campo da análise econômica”, após sua excessiva abstração pelo liberalismo clássico, já criticada por Marx. Nesse contexto, movimentos como a Teoria do Capital Humano (TCH), proposta por Theodore Schultz nos anos 1960 na Universidade de Chicago, teriam recolocado a questão trabalhista no cerne da conduta humana. De fato, ao incluir tudo aquilo que o homem acumula em si mesmo - a “riqueza humana”, dirá Schultz - no interior dos cálculos econômicos (Lopez-Ruiz, 2007), a TCH realizou um importante movimento na colocação do que viria a ser, para Foucault, uma das questões centrais do neoliberalismo: a de “[…] saber como quem trabalha utiliza os recursos que dispõe” (Foucault, 2008, p. 307).

Para Lopez-Ruiz, uma das principais características dos discursos econômicos do pós-guerra foi um desejo crescente em tornar passíveis de cálculo as mais variadas capacidades individuais adquiridas, o que já em parte havia sido feito no século XIX com a distinção entre capital vivo - o que há de habilidade humana no trabalho - e capital morto, realizada por Nicholson. O que as reflexões de Schultz promovem, no entanto, é a conversão desse olhar sobre o antagonismo humano/não humano em outro que considera, a partir do próprio homem, aquilo que lhe é particularidade, assumindo a divisão entre aptidões inatas e adquiridas e prestando especial gratidão a essas últimas. Ao atribuir valor inestimável às aquisições formativas possíveis, a teoria do capital humano abre espaço para se “[…] pensar o humano como uma forma de capital” (Lopez-Ruiz, 2008, p. 136).

Reposicionado no centro das análises, a figura do homem trabalhador, vislumbrado na teoria liberal clássica, sobretudo, como objeto de oferta e procura por sua força de trabalho, alça a condição de sujeito economicamente ativo, que passa a se curvar sobre si mesmo como nunca fizera, a partir de critérios eminentemente laborais. Nesse processo, a problematização em torno da questão do trabalho sofre um importante deslocamento, pois, do ponto de vista do sujeito, sua força de trabalho não será mais uma abstração, mas o agenciamento de suas aptidões com a renda delas derivada - relação entre máquina subjetiva a (auto)gerenciar, em suas capacidades e produtividade, e fluxos salariais a adquirir, dirá Foucault (2008, p. 308). Dessa forma, problematizações de duas naturezas - que se evidenciam complementares na discursividade neoliberal - tomam fôlego. Por um lado, uma série de questões acerca da conduta laboral apropriada tomará lugar, não mais apenas do lado do uso da força de trabalho por aqueles que o exploram, mas sobretudo a partir do olhar do próprio trabalhador que, surgindo enquanto novo Homo œconomicus, se torna uma “[…] espécie de empresa de si mesmo” (Foucault, 2008, p. 310), a gerenciar a si mesmo e aos resultados mercadológicos que derivam de sua própria atuação. Além disso, tendo em vista certo ciclo de funcionamento maquínico do trabalhador reificado pelas modalidades neoliberais de governo da conduta, surgirão exigências em termos de aquisições profissionais para a melhoria de si capazes de abrir caminho para inúmeras necessidades profissionais - normalmente colocadas em termos de capacitação para continuar a trabalhar, uma vez que dita máquina humana, como qualquer outra, “[…] tem sua duração de vida, sua duração de utilizabilidade, tem sua obsolescência, tem seu envelhecimento” (Foucault, 2008, p. 309). É como se o neoliberalismo reiterasse o jogo cristão entre jornada, atenção ao mal e aperfeiçoamento de si, dessa vez, claro, colocando-o no âmbito da produção mercadológica de si.

Vê-se, pois, que o Homo œconomicus como apresentado no neoliberalismo norte-americano não aponta para uma simples economização de todo comportamento; trata-se, sobretudo, de uma “grade de inteligibilidade” (Foucault, 2008, p. 345) com a qual o sujeito constitui a si mesmo. Os estudos foucaultianos irão indiciar como, com a emergência do neoliberalismo, é toda uma forma de compreender a figura do Estado e dos indivíduos, principalmente, que estará permeada por lógicas prioritariamente mercadológicas; não somente uma questão de ideais privatizantes, mas uma dispersão de racionalidades de mercado que, ao se espalharem, introduzem temáticas associadas à ampliação das condições de viabilidade econômica e da gestão do tempo útil nos interstícios do comportamento humano.

A figura neoliberal do Homo œconomicus parece fundar uma nova “interface do governo e do indivíduo” (Foucault, 2008, p. 346) pautada na generalização da “forma econômica de mercado” (Foucault, 2008, p. 333), dando ênfase a um dispositivo mercadológico capaz de se constituir como base dos olhares mais individualizados sobre as existências contemporâneas. E é aqui que a noção de preparo parece particularmente profícua a alguns investimentos emergentes de caráter capitalístico, na medida em que a realidade e a própria vida, com base em critérios mercadologicamente aceitáveis, devem ser então afastadas de sua aleatoriedade e intempestividade, no processo de preparação da própria existência diante do mundo, e potencializadas como sequências sistematizáveis de eventos (Lazzarato, 2014), ante as quais surge um homem (auto)programável e de uma vez por todas avesso ao inesperado.

Inquietações Finais

Talvez seja oportuno voltarmos à insuportabilidade contemporânea de algo como a narrativa do Wilhelm Meister de Goethe. Muito do que torna a finitude formativa de uma vez por todas impossível nos dias de hoje reside em sua incompatibilidade com um modo laboral de existência que, tendo algumas de suas racionalidades elaboradas no âmbito de uma ocidentalidade devedora das formas cristãs de relacionamento com a verdade, radicaliza-se no delineamento bem mais recente do neoliberalismo, capaz de secularizar certas mensagens e jornadas em favor da salvação por meio de uma espécie de distensão mercadológica de suas bases: o Homo œconomicus, afinal, ainda carrega muito do catecúmeno cristão dos primeiros séculos.

Nos lentos e descontínuos caminhos das relações entre subjetividade e verdade no Ocidente, algumas das aproximações e distanciamentos fundamentais à produção desse sujeito da boa existência mercadológica ficam visíveis. Alheia à estetização da existência presente em algumas manifestações da cultura helênica, a discursividade fundante do cristianismo soube tomar das práticas de si greco-romanas muito de sua estrutura, mas fazendo vergar sobre ela toda uma constituição moral cujas bases estavam calcadas na noção de mal e na relação reiterada do individuo pecador consigo mesmo em busca da salvação, diante do estatuto da penitência. Por esse modelo cristão se instauraram, portanto, elementos de uma universalização de modelos de conduta, de insuficiência e de continuidade que foram secularizados e radicalizados por um espectro de existência neoliberal aceitável que continuou fundada em certo trabalho espiritual realizado por meio de interiorizações sucessivas de mensagens mercadológicas que modificam as individualidades contemporâneas. É assim que sensações fundamentais ao funcionamento de uma individualidade mercadologicamente aceitável se constituem: elas passam por diferentes formas de sentir-se inadequado, sentir-se em defasagem, sentir-se incompleto, que terminam por transformar o sujeito em um cidadão em débito constante.

Em meio às continuidades e descontinuidades atuais do modelo neoliberal no Brasil, magazines como a Veja funcionam como um tipo de bíblia laica voltada à conversão de parte da população comumente estabelecida no alto da pirâmide socioeconômica e cultural. Assim como numerosos outros veículos de comunicação, a Veja produz uma discursividade em favor do preparo de si e do outro pautada na instauração de múltiplas crises. Os adjetivos que acompanham a noção de preparo como posto majoritariamente nos discursos oficiais e midiáticos, denotando urgência, perenidade e participatividade, funcionam em acordo com certos elementos comuns a um regime discursivo comumente visível nos campos da educação e da inserção profissional. Mais do que isso, emprestam à relação entre ambos um modelo no qual a forma laboral, alçada a uma condição moral, passa a conduzir as próprias existências a serem (auto)formadas.

Note-se que o tipo de ética neoliberal instaurado na contemporaneidade é elemento central ao modelo capitalista dos dias atuais, calcado na flexibilidade, pois permite que todos nós disponhamos “de uma subjetividade flexível, experimental e processual” e que “nossa força de criação em sua liberdade de experimentação” (Rolnik, 2014, p. 18) seja bem recebida e, mais do que isso, desejada e celebrada pelo mercado. Mas tal política de subjetivação permite, igualmente, que estejamos atentos, no momento mesmo em que nos vemos como sujeitos livres, a um conjunto de “identidades prêt-à-porter” (Rolnik, 1997): próteses identitárias glamourizadas, sedutoras e conformadoras de formas ideais de existir, mais aceitáveis aos modelos de sucesso que cotidianamente nos são apresentados. Tal é o caso do “empreendedor de si mesmo” (Delory-Momberguer, 2015), que se propõe a ser ator e autor de sua própria vida, responsável por suas ações e seu destino, cujo perfil se desenha no âmbito das tendências individualistas que se infiltraram em todos os estratos sociais e se tornaram imperativos na sociedade contemporânea.

É também, portanto, de um discurso com elementos extremamente moralizantes que se trata, capaz de tomar forma pela atenção moral sobre a própria conduta e fazendo emergir certos saberes que, contrastados com o anseio helênico da paraskheué, muito têm a nos dizer sobre os novos potenciais dessa interface entre o governo sobre si mesmo e sobre os outros, que as políticas de preparo desenvolvidas puderam trazer, sobretudo, com a ascensão do modelo neoliberal.

Os discursos que se voltam ao preparo neoliberal são, em primeiro lugar, aqueles que apontam para a reificação do trabalho. Como visto, não somente a partir de uma teoria liberal clássica focada na abstração da oferta e da procura pela mão-de-obra, mas sobretudo pela constituição de um sujeito trabalhador que se torna o elemento de maior investimento dos discursos econômicos, agora transformados em comportamento individual a verificar. A ascensão desse ethos mercadológico marcado pela figura foucaultiana do Homo œconomicus aponta para a atenção a um conhecimento de mundo que, também para os gregos, só se legitima quando o saber buscado encarna o próprio sujeito. Mas, se entre as escolas helênicas estudadas por Foucault o conhecer necessário à ascese está associado “[…] à modalidade do saber da natureza enquanto filosoficamente pertinente para a prática de si” (Foucault, 2006, p. 291), na preparação contemporânea o foco está na busca pelas necessidades universalizantes de mercado que passam a traduzir a boa existência por meio de critérios como efetividade e produtividade. Por um olhar voltado ao exterior, que retoma o sentido de preparo cristão voltado a uma Verdade que é agora a do Mercado, surgem tempos de profunda individualização - mesmo que a partir de supostas coletividades -, pelos quais a existência laboralmente aceitável se materializa em uma jornada individual, mas de atenção às moralidades neoliberais que devem referenciar o olhar do sujeito sobre si mesmo.

Finalmente, vale salientar que o intuito de se realizar certos choques entre formas de preparo postas em ação em períodos históricos distintos, operados nesta análise, procurou constituir um exercício de enunciação das lutas que, em torno de determinados saberes, produzem os discursos de verdade de uma época. Interesse, portanto, de desnaturalização pelo evidenciamento das rachaduras e ambiguidades que marcam a legitimação de qualquer elemento de conhecimento, tão bem diagnosticados por várias das empreitadas analíticas foucaultianas. Especificamente no âmbito da temática aqui em estudo, vale notar uma interessante relação analítica possível entre os últimos cursos de Foucault e aqueles que, proferidos em anos anteriores, se debruçaram sobre a produção de certos modelos modernos de governo dos homens. A aproximação entre os estudos foucaultianos sobre a questão do liberalismo - bem como das teorias que a ele se seguiram - e as reflexões sobre certas formas éticas nascidas bem antes da ascensão das razões de Estado podem ainda ser profícuas na construção de pistas acerca do modo como nos tornamos sujeitos na contemporaneidade. É essa relação entre as obras foucaultianas que nos leva a compreender que preparar-se hoje é, antes de tudo, viabilizar-se mercadologicamente. Talvez nós, educadores desse tempo, devamos de algum modo nos preocupar com isso.

  • 1
    Protagonista de Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister (Goethe, 2006).
  • 2
    De fato, como lembra Guimarães (2016), há documentos bem mais antigos que apontam para políticas com o propósito de perenizar a necessidade formal de aprendizagem. Os escritos de Condorcet, nesse contexto, datam da Revolução Francesa, e há textos oficiais redigidos ao final da 1ª Guerra Mundial que se debruçam sobre a importância da formação de adultos ao longo da vida. Mas, como reforça a própria autora, é de fato após a 2ª Guerra Mundial que, movida sobretudo por organizações internacionais, essa discursividade ganha nova abrangência.
  • 3
    A escolha da revista Veja não se deu arbitrariamente. Uma reportagem veiculada pela Associação Nacional de Editores de Revista, em 2009, por exemplo, menciona essa mídia como a terceira maior revista de informação do mundo, apontando estudos que projetam seu número total de leitores em cerca de 8 milhões (ANER, 2009). Assim, foram analisadas, para a pesquisa da qual resulta este artigo, edições completas desse periódico, publicadas entre os anos de 1990 e 2017, materializando pouco mais de uma centena de reportagens de maior relevância em relação à temática abordada; entre elas estão as reportagens aqui referenciadas, elencadas ao final do texto.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Fev 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    10 Mar 2018
  • Aceito
    27 Set 2018
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