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CONSIDERAÇÕES ACERCA DO ENSINO HÍBRIDO NA UNIVERSIDADE E O LUGAR DE ENUNCIAÇÃO DO PROFESSOR NA FORMAÇÃO ACADÊMICO-PROFISSIONAL1 1 Editora-Chefe participante do processo de avaliação por pares aberta: Suzana dos Santos Gomes

CONSIDERATIONS ABOUT BLENDED EDUCATION AT THE UNIVERSITY AND THE PLACE OF Enunciation OF THE TEACHER IN ACADEMIC-PROFESSIONAL TRAINING

CONSIDERACIONES SOBRE LA EDUCACIÓN MIXTA EN LA UNIVERSIDAD Y EL LUGAR DE Enunciación DEL DOCENTE EN LA FORMACIÓN ACADÉMICO-PROFESIONAL

INTRODUÇÃO

O estudo que antecede a esta resenha avaliativa, denominado “Ensino híbrido na universidade e o lugar de enunciação do professor na formação acadêmico-profissional”, trouxe reflexões importantes acerca do ensino híbrido nas universidades particulares.

Os pesquisadores iniciaram as suas provocações destacando a mercantilização da formação universitária por meio do ensino híbrido. Esta tornou-se uma realidade em muitas instituições privadas, cujo objetivo principal é preparar os estudantes para o mercado de trabalho. No entanto, estudos no campo da educação demonstram que muitos diplomas universitários têm perdido valor.

O texto argumenta que a vida universitária se tornou um fardo e um ambiente monótono para muitos, devido ao enfraquecimento da autoridade dos professores e à diminuição da relação entre estudantes e a alteridade, influenciada pela cultura tecnológica.

Além disso, os autores destacam que as políticas públicas de inclusão educacional, embora tenham proporcionado um acesso mais democrático ao ensino superior, também abriram espaço para o setor privado lucrar com a educação como mercadoria.

No contexto de ensino mercantilizado, surge o conceito de ensino híbrido, que combina atividades on-line e presenciais, mediadas parcialmente pelo professor. No entanto, os autores argumentam que, muitas vezes, o papel do professor se limita à função burocrática de facilitador, ignorando sua importância como transmissor do conhecimento e seu valor enigmático. O discurso tecnológico tem levado à redução do conhecimento ao consumo e à visão do ensino como um produto disponível para a satisfação do aluno/cliente.

A lógica financeira e especulativa que permeia o mercado de títulos também exerce influência sobre as universidades, desviando-as de sua vocação e submetendo-as às exigências do mercado. Essa dinâmica afeta significativamente a dinâmica do trabalho docente e resulta em mudanças na representação e no papel do professor.

O artigo utiliza estudos críticos sobre a profissão docente, a mercantilização da educação e a perspectiva lacaniana da psicanálise para refletir sobre o ensino híbrido como um discurso utilizado pelos docentes diante do impacto do discurso tecnológico na formação acadêmico-profissional.

Os autores discutem o paradigma autoinstrucional do ensino híbrido, a influência do discurso tecnológico no mercado da formação universitária e os desafios enfrentados por uma professora fictícia chamada Moara, que segue as regulamentações do ensino híbrido.

Criticamente a precarização do trabalho docente no ambiente universitário, impulsionada pela lógica de mercado e pela mercantilização é uma realidade neste contexto.

Os autores destacam os efeitos do ensino híbrido e do discurso tecnológico na formação acadêmico-profissional, problematizando o papel do professor e a qualidade da experiência educacional.

A abordagem lacaniana da psicanálise é utilizada para compreender as questões relacionadas à educação e à política no contexto abordado.

O ENSINO HÍBRIDO SOB A ÓTICA DO PARADIGMA AUTOINSTRUCIONAL

De maneira a destacar as mudanças e desafios enfrentados na educação devido ao avanço tecnológico, o texto problematiza a ruptura nas relações entre professor e aluno, questionando o papel do professor como detentor da palavra e sua legitimidade social.

Nessa dinâmica, os autores argumentam que o paradigma cognitivista, que reduz a aprendizagem a um mecanismo de processamento de dados, tem influenciado o ensino híbrido e transformado a dinâmica do trabalho docente. A concepção de ensino baseada nesse paradigma enfatiza a percepção e a informação, reduzindo a transmissão de conhecimento a uma mera máquina.

A cultura tecnológica e o discurso da revolução digital são apontados como influências na adoção do ensino híbrido, que combina atividades virtuais e presenciais. O texto destaca que essa abordagem valoriza a autonomia do aluno, mas também enfatiza a lógica neoliberal, que promove o autodidatismo e o consumo da educação.

É destacado que o ensino híbrido pode ser implementado de forma acrítica e instrumental, especialmente em instituições de ensino privadas, prejudicando a qualidade do ensino e a mediação do professor. Além disso, discute-se o impacto da burocratização do trabalho docente e a transformação do professor em executor de instruções pré-formatadas.

O artigo também critica a mercantilização da formação acadêmica, a conivência do Ministério da Educação e a visão naturalista e utilitarista da aprendizagem.

Destaca-se a importância de considerar as diferentes realidades das instituições na implementação do ensino híbrido. Uma análise crítica do ensino híbrido é apresentada, problematizando suas implicações e os desafios enfrentados na educação contemporânea.

O DISCURSO TECNOLÓGICO PRESENTE NO MERCADO DA FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA

Os autores argumentam que esse discurso rejeita a qualidade da experiência educacional. Segundo os estudos citados, a cultura tecnológica hegemônica tem levado à instrumentalização do trabalho docente e à homogeneização das estratégias de ensino, onde a ação do professor se torna descentrada e o conhecimento é disseminado de forma utilitária.

O texto menciona a incompatibilidade entre educação e imediatismo, destacando que a busca por resultados imediatos nega a castração simbólica e promove a ideia de poder gozar ilimitadamente. Essa abordagem da educação como consumo, em que o aluno-consumidor é sempre aprovado, é criticada por enfatizar o resultado em detrimento da construção do desejo e da filiação subjetiva.

Os autores também introduzem o tema do discurso da tecnologia, desenvolvido por Lesourd, que coloca o saber técnico como agente do discurso e determina o lugar do sujeito. Nesse discurso, o objeto é dirigido como se fosse determinado pelo significante mestre, e a proliferação das técnicas de comunicação intensifica a preponderância do objeto de gozo. O desenvolvimento tecnológico tem levado à supressão do sujeito e à perda da qualidade da experiência no ensino.

Além disso, o artigo menciona a mercantilização da formação universitária e a substituição da experiência pela mercantilização. Para os autores o homem contemporâneo foi expropriado de sua experiência, e o discurso da tecnologia rejeita a possibilidade de o professor se enunciar, objetificando-o.

No final, os autores ressaltam a importância do outro no discurso, não apenas como destinatário, mas como aquele que questiona o discurso e o torna um lugar de questão.

Em resumo, o artigo aborda os seguintes pontos: crítica do discurso tecnológico no mercado da formação universitária por sua instrumentalização do trabalho docente, homogeneização das estratégias de ensino e ênfase nos resultados imediatos em detrimento da qualidade da experiência educacional. O manuscrito destaca ainda a perda do sujeito, a objetificação do professor e a mercantilização da formação como consequências desse discurso.

O CASO DA PROFESSORA MOARA

Elemento singular, a professora Moara que participou de uma pesquisa sobre o impacto das novas tecnologias da comunicação e informação (NTIC) no ensino superior privado. A professora Moara tinha experiência no ensino de cursos da área de saúde e, posteriormente, dedicou-se exclusivamente ao curso de medicina.

A professora enfrentou desafios ao se envolver com o ensino híbrido e as metodologias ativas. Ela percebeu que os alunos do turno noturno tinham menos tempo disponível para estudar, o que dificultava a aplicação das mesmas metodologias utilizadas nos cursos diurnos. Além disso, a professora destacou a dificuldade de lidar com grandes turmas de alunos, o que inviabilizava a aplicação efetiva das metodologias ativas.

Os autores fazem uma reflexão sobre a mercantilização da educação e a influência do mercado na adoção do ensino híbrido. Moara critica a padronização das metodologias e a falta de flexibilidade para adaptação às realidades específicas dos alunos e dos cursos.

No caso da professora Moara, ela encontrou satisfação no ensino de medicina devido ao perfil dos alunos e ao processo seletivo mais exigente. No entanto, ela ainda enfrentava dificuldades em relação à rigidez do modelo de ensino híbrido e à falta de espaço para sua própria enunciação como docente.

Por fim, enfatiza a preocupação com a mercantilização da educação, a perda da autonomia do professor e a necessidade de repensar as metodologias adotadas. Moara cita Lacan e outros autores para ilustrar as transformações no campo educacional e as consequências da lógica do mercado na formação dos alunos e no papel do professor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O artigo apresenta uma reflexão crítica sobre as condições enfrentadas pelos professores no contexto das instituições de ensino superior. Os autores destacam que, mesmo diante dessas condições desfavoráveis, os professores podem sentir alívio ao desempenharem um papel semelhante ao de assessores, respondendo às demandas impostas pelas instituições.

No entanto, os autores também ressaltam a inconsistência desse sistema, que valoriza a avalanche de métodos, o controle e a busca pela homogeneização. Embora haja um alívio na responsabilidade por um eventual fracasso, esse peso e suas implicações nas relações de prazer não podem ser totalmente eliminados para alunos e professores.

As instituições oferecem aos professores múltiplas possibilidades para o exercício da docência, como plataformas virtuais, atividades síncronas e assíncronas, conteúdos apostilados, módulos facilitadores, metodologias ativas, avaliações mediadas, tutorias, entre outros recursos tecnológicos.

Esses recursos permitem que os professores neguem ou camuflem suas próprias faltas e deficiências, apoiando-se em ferramentas tecnológicas fornecidas pelas instituições.

Nesse sentido, os professores acabam exigindo dos alunos não apenas o domínio dos conteúdos, mas também o domínio das tecnologias utilizadas. Os alunos devem converter esses conhecimentos e adesões à tecnologia em produtos, muitas vezes representados por rankings, que são consumidos por todos os envolvidos no sistema educacional.

É destacado que esses rankings, em uma espécie singular de satisfação pulsional, trazem prazer para todos os envolvidos, como Moara, que alcança sucesso ao ascender ao corpo docente de medicina e obter melhores resultados.

No entanto, os autores argumentam que, ao aderir a esse sistema tecnocrático e ranqueado, os professores e alunos se fixam na condição de objetos, tornando-se coisificados e iguais a eles. Eles se alienam e se transformam em objetos de consumo, manipuláveis e descartáveis.

O ato de educar é reduzido, e a falta de laços sociais e pedagógicos suficientes contribui para a objetificação dos docentes.

Em resumo, é feita uma crítica ao sistema educacional que coloca professores e alunos em condições precárias, utilizando recursos tecnológicos como forma de camuflar deficiências e exigindo a conversão do conhecimento em produtos consumíveis. O texto alerta para a alienação e a objetificação resultantes desse sistema, que comprometem o ato de educar e a construção de laços sociais e pedagógicos significativos.

Diante de tais questões, o encontro e o diálogo com os autores propiciou-nos reflexões e provocações que podem ampliar as discussões sobre a temática. No cenário educacional em constante transformação, o ensino híbrido tem emergido como uma alternativa interessante para enriquecer a experiência de aprendizagem tanto na pós-graduação quanto no ensino superior.

A combinação de interações presenciais e virtuais proporciona um ambiente dinâmico e adaptativo que favorece o desenvolvimento de habilidades fundamentais para os alunos, incluindo trabalho em equipe, pensamento crítico e resolução de problemas complexos.

Uma das principais reflexões que emerge deste encontro é a necessidade de incorporar uma "outra docência" que abarque, dialogue e reconheça a identidade do professor na produção do conhecimento. Isso implica em reconhecer a importância da autoria do professor no processo educacional e na busca por uma abordagem que valorize suas experiências, reflexões e contribuições únicas para o desenvolvimento dos estudantes.

Os autores sugeridos, Lilian Bacich, Adolfo Tanzi Neto e Rosália Maria Ribeiro de Aragão, trazem à tona reflexões fundamentais sobre o ensino híbrido. Bacich, com sua expertise em tecnologia educacional, destaca a importância da personalização e do uso da tecnologia para enriquecer o processo de aprendizagem. Tanzi Neto, por sua vez, enfatiza as possibilidades disruptivas do ensino híbrido, desafiando o paradigma tradicional de ensino. Aragão traz à tona a formação docente para o ensino híbrido, ressaltando a necessidade de reflexão pedagógica e integração efetiva da tecnologia na prática educativa.

Contudo, é vital lembrar que a implementação bem-sucedida do ensino híbrido diferenciado requer um planejamento minucioso. Isso inclui a preparação dos professores para atuar nesse novo ambiente, a criação de ações pedagógicas que aproveitem ao máximo as vantagens de cada modalidade de ensino e a disponibilidade de infraestrutura tecnológica adequada. Além disso, é imperativo garantir que todos os estudantes tenham acesso igualitário aos recursos necessários e recebam o suporte necessário para aproveitar plenamente essa modalidade.

Em resumo, a recomendação de um ensino híbrido diferenciado para a pós-graduação e o ensino superior reflete uma abordagem adaptativa e enriquecedora para a educação.

Combinando o melhor dos mundos presencial e virtual, esse modelo busca promover uma experiência de aprendizagem que desenvolva habilidades essenciais para os alunos, ao mesmo tempo em que valoriza a contribuição única do professor. No entanto, essa transição requer um esforço colaborativo entre educadores e instituições e o uso das tecnologias para garantir uma implementação eficaz e equitativa.

Diante disso, as reflexões assinaladas nesta análise acenam para a necessidade da incorporação de uma outra docência, que acolha, dialogue e reconheça a identidade do professor na produção do conhecimento no Ensino Hibrido.ALCADIPANI, Rafael. Academia e a fábrica de sardinhas. O&S Salvador, v. 18, n. 57, p. 345-348, 2011.

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1
Editora-Chefe participante do processo de avaliação por pares aberta: Suzana dos Santos Gomes

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Dez 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    18 Ago 2023
  • Aceito
    04 Out 2023
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