Em 1947, LaForet e Lynch foram os primeiros a descrever a associação entre infecção materna pelo vírus Varicella-zoster durante o início da gestação e anomalias congênitas no recém-nascido(11. Laforet EG, Lynch CL. Multiple congenital defects following maternal varicella: report of a case. N Engl J Med. 1947;235:534-7.).
Atualmente, a varicela na gestação é uma doença muito rara. Estima-se que a infecção primária pela varicela durante a gestação atinja de 1 a 7 em cada 10 mil gestantes(22. Enders G, Miller E, Cradock-Watson J, Bolley I, Ridehalgh M. Consequences of varicella and herpes zoster in pregnancy: prospective study of 1739 cases. Lancet. 1994;343(8912):1548-51.).
O vírus Varicella-zoster é transmitido ao feto principalmente através da placenta, como resultado da viremia que a primoinfecção ou a reativação do vírus promove. O risco de transmissão materno-fetal varia de 0,5 a 6,5%(33. Muller R. Varicela na gravidez e no recém-nascido. In Segre CAM, Costa HPF, Lippi UG, editors. Perinatologia. Fundamentos e prática. 2a ed. São Paulo: Sarvier; 2009. p. 320-7.).
A varicela é considerada uma síndrome congênita quando a gestante se infecta entre 0 e 20 semanas de gestação; varicela perinatal quando ocorre no recém-nascido até 10 dias depois do nascimento(33. Muller R. Varicela na gravidez e no recém-nascido. In Segre CAM, Costa HPF, Lippi UG, editors. Perinatologia. Fundamentos e prática. 2a ed. São Paulo: Sarvier; 2009. p. 320-7.–66. Pedreira DAL, Halek DM, Sampaio JMM. Varicela: outras infecções congênitas. In: Zugaib M, Pedreira DAL, Brizot ML, Bunduki V, editores. Medicina fetal. 2a ed. São Paulo: Atheneu; 1999. p. 411-27.).
A síndrome da varicela congênita é caracterizada por uma embriofetopatia, que inclui lesões cutâneas cicatriciais, hipoplasia de membros, atrofia muscular, pé torto, restrição de crescimento intrauterino, microcefalia, atrofia cerebelar e cortical, hidrocefalia, convulsões, calcificações intra e extracranianas, déficit sensitivo, síndrome de Horner, atrofia de medula espinhal, disfunção de esfíncter anal, disfagia, atresia intestinal, bexiga neurogênica, disfunção renal, pneumonia por aspiração recorrente, microftalmia, atrofia do nervo óptico, hipoplasia de disco óptico, coriorretinite, catarata congênita e nistagmo(33. Muller R. Varicela na gravidez e no recém-nascido. In Segre CAM, Costa HPF, Lippi UG, editors. Perinatologia. Fundamentos e prática. 2a ed. São Paulo: Sarvier; 2009. p. 320-7.).
Já a varicela perinatal apresenta-se com quadro que pode variar conforme o momento do acometimento materno: se tiver ocorrido entre 6 e 21 dias antes do parto, o quadro no recém-nascido será leve, mas se ocorrer em menos de 5 dias até 2 dias após o parto, 25 a 50% dos recém-nascidos podem ser afetados e a doença neonatal será de extrema gravidade. Os sintomas aparecem entre 5 e 10 dias de vida: ocorre febre, lesões cutâneas, podendo ocorrer dificuldade respiratória e cianose devido a um quadro de pneumonia, ou ainda lesões necróticas disseminadas nas vísceras, sendo esta última forma fatal(33. Muller R. Varicela na gravidez e no recém-nascido. In Segre CAM, Costa HPF, Lippi UG, editors. Perinatologia. Fundamentos e prática. 2a ed. São Paulo: Sarvier; 2009. p. 320-7.,77. Gershon AA. Chickenpox, measles, and mumps. In: Remington JS, Klein J, editors. Infectious diseases of the fetus and newborn infant. 6th Edition. Philadelphia: Elsevier Saunders; 2006. p. 694-737.).
O diagnóstico de varicela perinatal é feito por meio dos dados epidemiológicos, ou seja, mãe que apresentou quadro típico de varicela antes do parto, e pelo quadro clínico característico no recém-nascido, desde a presença de algumas lesões vesiculares, ulceradas e cicatriciais (Figura 1) ou rash cutâneo generalizado em um recém-nascido não muito comprometido em seu estado geral, até uma doença generalizada grave(66. Pedreira DAL, Halek DM, Sampaio JMM. Varicela: outras infecções congênitas. In: Zugaib M, Pedreira DAL, Brizot ML, Bunduki V, editores. Medicina fetal. 2a ed. São Paulo: Atheneu; 1999. p. 411-27.–77. Gershon AA. Chickenpox, measles, and mumps. In: Remington JS, Klein J, editors. Infectious diseases of the fetus and newborn infant. 6th Edition. Philadelphia: Elsevier Saunders; 2006. p. 694-737.). Provas laboratoriais incluem ensaio imunoenzimático (EIE), aglutinação pelo látex (AL), imunofluorescência indireta (IFI), cultura do líquido das vesículas. A sorologia (IgG e IgM) para varicela congênita pode ou não ser positiva ao nascimento(77. Gershon AA. Chickenpox, measles, and mumps. In: Remington JS, Klein J, editors. Infectious diseases of the fetus and newborn infant. 6th Edition. Philadelphia: Elsevier Saunders; 2006. p. 694-737.).
REFERENCES
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1Laforet EG, Lynch CL. Multiple congenital defects following maternal varicella: report of a case. N Engl J Med. 1947;235:534-7.
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2Enders G, Miller E, Cradock-Watson J, Bolley I, Ridehalgh M. Consequences of varicella and herpes zoster in pregnancy: prospective study of 1739 cases. Lancet. 1994;343(8912):1548-51.
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3Muller R. Varicela na gravidez e no recém-nascido. In Segre CAM, Costa HPF, Lippi UG, editors. Perinatologia. Fundamentos e prática. 2a ed. São Paulo: Sarvier; 2009. p. 320-7.
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4Gilbert GL. Infectious diseases in pregnancy and the newborn infant. Newark: Harwood Academic Publishers;1991.
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5Albuquerque DEM, Corradini HB. Infecção pelo Vírus Varicela Zoster. In: Marcondes E, Costa VFA, Ramos JLA, Okay Y. Pediatria Básica, Tomo I, Pediatria geral e neonatologia. 9a ed. São Paulo: Sarvier; 2003. p. 555-60.
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6Pedreira DAL, Halek DM, Sampaio JMM. Varicela: outras infecções congênitas. In: Zugaib M, Pedreira DAL, Brizot ML, Bunduki V, editores. Medicina fetal. 2a ed. São Paulo: Atheneu; 1999. p. 411-27.
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7Gershon AA. Chickenpox, measles, and mumps. In: Remington JS, Klein J, editors. Infectious diseases of the fetus and newborn infant. 6th Edition. Philadelphia: Elsevier Saunders; 2006. p. 694-737.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
Jan-Mar 2010
Histórico
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Recebido
06 Jun 2009 -
Aceito
17 Dez 2009
