RESUMO
Estudantes-atletas de futebol são expostos ao desafio de conciliação entre as carreiras esportiva e acadêmica. Essa situação de dupla carreira impõe tensões que podem resultar em evasão ou mal desempenho. Nosso objetivo foi analisar os desafios de estudantes-atletas de futebol no Brasil na conciliação entre as carreiras acadêmica e esportiva. Considerando a dupla carreira como um problema social, este ensaio é fundamentado na literatura sobre esse fenômeno e em categorias da sociologia reflexiva de Pierre Bourdieu. Como principais resultados, tem-se que a recorrente priorização da carreira esportiva se relaciona: às origens socioeconômicas dos indivíduos; ao poder simbólico dos clubes sobre as escolas; à busca por ascensão social; aos sistemas esportivo e escolar que reproduzem desigualdades.
Palavras-chave
Pierre Bourdieu; Carreira; Juventude; Futebol; Dupla carreira
ABSTRACT
Soccer student-athletes are exposed to the challenge of reconciling sports and academic careers. This dual-career situation imposes tensions that can result in dropout or poor performance. Our aim was to analyze the challenges faced by soccer student-athletes in Brazil when reconciling academic and sport careers. Considering dual career as a social issue, this essay is based on the literature about this phenomenon and on categories from Pierre Bourdieu’s reflective sociology. As main results, the recurring prioritization of the sport career is related to the individuals’ socioeconomic origins; the symbolic power of clubs over schools; the search for social ascension; sports and school systems that reproduce inequalities.
Keywords
Pierre Bourdieu; Career; Youth; Soccer; Dual career
RESUMEN
Los estudiantes-deportistas de fútbol se exponen al reto de conciliar la carrera deportiva y la académica. Esta situación de carrera dual impone tensiones que pueden dar lugar a la deserción o al bajo rendimiento. Nuestro objetivo fue analizar los desafíos que enfrentan los estudiantes-atletas de fútbol en Brasil en la conciliación de las carreras académica y deportiva. Considerando la carrera dual como un problema social, este ensayo se basa en la literatura sobre este fenómeno y en las categorías de la Sociología Reflexiva de Pierre Bourdieu. Como principales resultados, la priorización recurrente de la carrera deportiva se relaciona con: el origen socioeconómico de los individuos; el poder simbólico de los clubes sobre las escuelas; la búsqueda de la ascensión social; deportes y sistemas escolares que reproducen las desigualdades.
Palabras clave
Pierre Bourdieu; Carrera; Juventud; Fútbol; Carrera dual
INTRODUÇÃO
Tornar-se um jogador de futebol profissional é o sonho de muitos garotos no Brasil (DAMO, 2007DAMO, A. Do dom a profissão: uma etnografia do futebol de espetáculo a partir da formação de jogadores no Brasil e na França. São Paulo: Aderaldo e Rothchild, Anpocs, 2007.; SOARES et al., 2011SOARES, A.; MELO, L.; COSTA, F.; BARTHOLO, T.; BENTO, J. Jogadores de futebol no Brasil: mercado, formação de atletas e escola. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 33, n. 4, p. 905-921, 2011. https://doi.org/10.1590/S0101-32892011000400008
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). Nesse sentido, percebe-se que os jogadores vêm sendo recrutados por clubes de futebol em idades cada vez mais precoces. Nesse contexto, é de primordial importância oferecer oportunidades de acesso e permanência na escola e em práticas esportivas a todas as crianças e adolescentes, o que é também um direito garantido pela Constituição Federal Brasileira (PAOLI; SILVA, SOARES, 2008PAOLI, P.; SILVA, C.; SOARES, A. Tendência atual da detecção, seleção e formação de talentos no futebol brasileiro. Revista Brasileira de Futebol, v. 1, n. 2, p. 38-52, 2008.; ROCHA; PINTO; SOARES, 2020ROCHA, H.; PINTO, E.; SOARES, A. Marco legal da dupla carreira: perspectivas e limites do Projeto de Lei nº 4.393/2019. Journal of the Latin American Sociocultural Studies of Sport, v. 12, n. 1, p. 39-53, 2020. https://doi.org/10.5380/jlasss.v13i1.76097
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).
Por um período de suas vidas, estudantes-atletas, indivíduos que se dividem entre os esforços ligados às carreiras acadêmica e esportiva, conciliam os esforços no futebol com a rotina escolar, o que parece ser um desafio para muitos/as deles/as (ROCHA et al., 2021ROCHA, H.; MELO, L.; COSTA, M.; SOARES, A. Educação e esporte: analisando o tempo escolar do estudante-atleta de futebol. Educação em Revista, v. 37, n. 1, p. 1-20, 2021. https://doi.org/10.1590/0102-469820719
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). A dedicação e investimentos de forma simultânea em pelo menos duas carreiras distintas, seja esportiva, seja acadêmica, seja vocacional, se denominam dupla carreira (STAMBULOVA; WYLLEMAN, 2015STAMBULOVA, N.; WYLLEMAN, P. Athletes’ career development and transitions. In: PAPAIOANNOU, A.; HACKFORT, D. (org.). Routledge Companion to Sport and Exercise Psychology. Londres: Routledge, 2015. p. 603-618.; MATEU et al., 2020MATEU, P.; INGLÉS, E.; TORREGROSSA, M.; MARQUES, R.; STAMBULOVA, N.; VILLANOVA, A. Living life through sport: the transition of elite Spanish student-athletes to a university degree in physical activity and sports sciences. Frontiers in Psychology, v. 11, n. 1, p. 1367, 2020. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2020.01367
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; ROCHA et al., 2021ROCHA, H.; MELO, L.; COSTA, M.; SOARES, A. Educação e esporte: analisando o tempo escolar do estudante-atleta de futebol. Educação em Revista, v. 37, n. 1, p. 1-20, 2021. https://doi.org/10.1590/0102-469820719
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). Neste ensaio, utilizamos o termo dupla carreira acadêmica-esportiva, pois foi enfatizada principalmente a relação entre as rotinas esportiva e acadêmica (escolar) dos estudantes-atletas.
Diante do exposto, a dupla carreira acadêmica-esportiva apresenta diferentes características e pode se modificar de acordo com a modalidade esportiva, com os contextos socioeconômicos nos quais os estudantes-atletas estão inseridos (STAMBULOVA; WYLLEMAN, 2015STAMBULOVA, N.; WYLLEMAN, P. Athletes’ career development and transitions. In: PAPAIOANNOU, A.; HACKFORT, D. (org.). Routledge Companion to Sport and Exercise Psychology. Londres: Routledge, 2015. p. 603-618.), com a legislação (ROCHA et al., 2021ROCHA, H.; MELO, L.; COSTA, M.; SOARES, A. Educação e esporte: analisando o tempo escolar do estudante-atleta de futebol. Educação em Revista, v. 37, n. 1, p. 1-20, 2021. https://doi.org/10.1590/0102-469820719
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) e com as políticas públicas de natureza social (TORREGROSSA; CHAMORRO; RAMIS, 2016TORREGROSSA, M.; CHAMORRO, J. L.; RAMIS, Y. Transición de júnior a sénior y promoción de carreras duales en el deporte: una revisión interpretativa. Revista de Psicologia Aplicada al Deporte y Ejercicio Físico, v. 1, n. 1, p. e6, 2016. https://doi.org/10.5093/rpadef2016a6
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). De acordo com a literatura, jovens estudantes-atletas podem vivenciá-la de diferentes maneiras:
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Conciliar os investimentos e esforços em ambos os ambientes, escolar e esportivo, sem priorizar nenhum dos dois;
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Conciliar investimentos e esforços similares nos dois ambientes, mas priorizando um em detrimento do outro;
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Em determinado momento de sua vida, abandonar um dos ambientes, passando a caracterizar-se apenas como estudante ou atleta (PALLARÉS et al., 2011PALLARÉS, S.; AZÓCAR, F.; TORREGROSSA, M.; SELVA, C.; RAMIS, Y. Modelos de trayectoria deportiva en waterpolo y su implicación en la transición hacia una carrera profesional alternativa. Cultura, Ciencia y Deporte, v. 6, n. 17, p. 93-103, 2011.).
No futebol brasileiro, existem algumas dificuldades por jovens estudantes-atletas de conciliar ambas as carreiras, sobretudo: pelo cansaço físico ocasionado pelos treinamentos; pela falta de tempo para estudar por causa dos compromissos e das exigências do clube, especialmente em períodos de competição; pela desmotivação perante a carreira acadêmica; por condições socioeconômicas; pela possibilidade de bolsas e auxílios financeiros imediatos, provenientes da prática esportiva (SOARES et al., 2011SOARES, A.; MELO, L.; COSTA, F.; BARTHOLO, T.; BENTO, J. Jogadores de futebol no Brasil: mercado, formação de atletas e escola. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 33, n. 4, p. 905-921, 2011. https://doi.org/10.1590/S0101-32892011000400008
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; ROCHA et al., 2011ROCHA, H.; BARTHOLO, T.; MELO, L.; SOARES, A. Jovens esportistas: profissionalização no futebol e a formação na escola. Revista Motriz, v. 17, n. 2, p. 252-263, 2011.; SOARES et al., 2013SOARES, A.; MELO, L.; BARTHOLO, T.; VELARDE, L.; RIBEIRO, C.; SANTOS, T. Time for football and school: an analysis of young Brazilian players from Rio de Janeiro. Estúdios Sociológicos, v. 31, p. 1-14, 2013. https://doi.org/10.5016/1980-6574.2011v17n2p252
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).
No Brasil, há fragilidades entre instituições escolares e clubes esportivos que parecem prejudicar os jovens estudantes-atletas (COSTA, 2011COSTA, A. As escolas noturnas do município da Corte: estado imperial, sociedade civil e educação do povo (1870-1889). Educação e Sociologia, Campinas, v. 32, n. 114, p. 53-68, 2011.; SOARES et al., 2013SOARES, A.; MELO, L.; BARTHOLO, T.; VELARDE, L.; RIBEIRO, C.; SANTOS, T. Time for football and school: an analysis of young Brazilian players from Rio de Janeiro. Estúdios Sociológicos, v. 31, p. 1-14, 2013. https://doi.org/10.5016/1980-6574.2011v17n2p252
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; MELO; SOARES; ROCHA, 2014MELO, L.; SOARES, A.; ROCHA, H. Perfil educacional de atletas em formação no futebol no Estado do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 28, n. 4, p. 617-628, 2014. https://doi.org/10.1590/1807-55092014000400617
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; MELO et al., 2016MELO, L.; ROCHA, H.; SILVA, A.; SOARES, A. Jornada escolar versus tempo de treinamento: a profissionalização no futebol e a formação na escola básica. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 38, n. 4, p. 400-406, 2016. https://doi.org/10.1016/j.rbce.2015.11.003
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; MIRANDA; SANTOS; COSTA, 2020MIRANDA, I.; SANTOS, W.; COSTA, F. Dupla carreira de estudantes-atletas: uma revisão sistemática nacional. Motrivivência, v. 32, n. 61, p. 1-21, 2020. https://doi.org/10.5007/2175-8042.2020e61788
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) e, por vezes, podem influenciar a continuidade da carreira acadêmica, a qual demonstra ser, para o país, mais do que um problema esportivo e/ou escolar, mas também social (SPOSITO; SOUZA; SILVA, 2018SPOSITO, M.; SOUZA, R.; SILVA, F. A pesquisa sobre jovens no Brasil: traçando novos desafios a partir de dados quantitativos. Educação e Pesquisa, v. 44, n. 1, p. 1-24, 2018. https://doi.org/10.1590/S1678-4634201712170308
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) e econômico (ESCOLANO; PAZELLO, 2014ESCOLANO, A.; PAZELLO, E. Trabalhar e/ou continuar estudando? As decisões dos jovens que se matriculam no último ano do ensino médio: uma análise a partir da PME. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA, 42., 2014, Natal. Anais [...], 2014.). Nesse sentido, podem existir dificuldades para um possível investimento em formação profissional fora do esporte, o que, consequentemente, pode afetar a inserção/reinserção desses jovens no mundo de trabalho (COSTA; SILVA, 2019COSTA, M.; SILVA, L. Educação e democracia: Base Nacional Comum Curricular e novo ensino médio sob a ótica de entidades acadêmicas da área educacional. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, p. 1-23, 2019. https://doi.org/10.1590/s1413-24782019240047
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) posteriormente, ou como alternativa à carreira esportiva.
Como fator agravante, tem-se que a carreira no esporte se caracteriza por ser extremamente concorrida, instável, ter poucos postos de trabalho disponíveis e curta duração, mesmo quando profissionalizada (MARQUES; MARCHI JR., 2021MARQUES, R. F. R.; MARCHI JR., W. Migration for work: Brazilian futsal players’ labor conditions and disposition for mobility. Journal of Sport & Social Issues, v. 45, n. 3, p. 272-299, 2021. https://doi.org/10.1177/0193723520928592
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), sendo uma aposta arriscada priorizá-la durante a juventude, em detrimento do investimento nos estudos (MARQUES et al., 2021aMARQUES, R. F. R.; RICCI, C.; MIRANDA, I.; COSTA, F. Dupla carreira no contexto do esporte: percepções e desafios em diferentes cenários. Journal of the Latin American Sociocultural Studies of Sport, v. 13, n. 1, p. 1-6, 2021a.). Nesse contexto de tensões e barreiras, existe ainda uma lacuna na legislação brasileira, especialmente relacionada à regulamentação e fiscalização da dupla carreira acadêmica-esportiva (ROCHA et al., 2021ROCHA, H.; MELO, L.; COSTA, M.; SOARES, A. Educação e esporte: analisando o tempo escolar do estudante-atleta de futebol. Educação em Revista, v. 37, n. 1, p. 1-20, 2021. https://doi.org/10.1590/0102-469820719
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).
Perante esse cenário, a pergunta central deste trabalho é: como os conflitos existentes na intersecção entre os campos esportivo e acadêmico podem influenciar os jovens estudantes-atletas de futebol sobre as suas possibilidades de conciliação da dupla carreira acadêmica-esportiva?
O objetivo principal deste ensaio foi analisar os desafios de estudantes-atletas de futebol no Brasil na conciliação entre as carreiras acadêmica e esportiva. Os objetivos específicos foram:
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Refletir sobre a intersecção entre os espaços esportivo e escolar no Brasil;
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Analisar como os jovens estudantes-atletas homens de futebol atuam sobre os desafios de conciliação da dupla carreira acadêmica-esportiva;
-
Discutir os conflitos enfrentados pelos jovens estudantes-atletas, utilizando o arcabouço teórico da sociologia reflexiva de Pierre Bourdieu.
Este ensaio justifica-se pela necessidade de uma reflexão teórica dos dados da literatura sobre a dupla carreira acadêmica-esportiva no futebol brasileiro, visto que grande parte desses jovens estudantes-atletas não conseguirá atingir a elite esportiva (DAMO, 2007DAMO, A. Do dom a profissão: uma etnografia do futebol de espetáculo a partir da formação de jogadores no Brasil e na França. São Paulo: Aderaldo e Rothchild, Anpocs, 2007.; PAOLI; SILVA; SOARES, 2008PAOLI, P.; SILVA, C.; SOARES, A. Tendência atual da detecção, seleção e formação de talentos no futebol brasileiro. Revista Brasileira de Futebol, v. 1, n. 2, p. 38-52, 2008.) e, consequentemente, precisará se inserir no mundo de trabalho, no qual as melhores oportunidades de emprego parecem estar associadas com níveis mais altos de escolaridade. Refletir sobre as maneiras como esses agentes percebem e vivenciam as rotinas de treinamento com os estudos permite compreender como ambos os espaços se estruturam atualmente e, desse modo, contribuir para que novas pesquisas de campo sejam subsidiadas.
O referencial teórico de Pierre Bourdieu neste ensaio se justifica por permitir analisar como as estruturas dos campos acadêmico e esportivo interagem entre si, além de investigar como a distribuição de recursos na intersecção desses espaços pode influenciar as maneiras como os estudantes-atletas percebem suas vivências e se comportam perante elas e, consequentemente, como a associação entre esses fatores pode impactar nas escolhas sobre as suas respectivas carreiras.
O presente trabalho estrutura-se da seguinte maneira:
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A primeira seção consiste em uma apresentação de categorias fundamentais da sociologia reflexiva de Pierre Bourdieu;
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A segunda seção destina-se à caracterização dos campos esportivo, com enfoque no futebol, e acadêmico, nos quais os jovens estudantes-atletas participam dos desafios da conciliação entre duas carreiras e os vivenciam;
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A terceira seção consiste em uma análise e reflexão, pautadas na sociologia reflexiva de Pierre Bourdieu, sobre os desafios e tensões da dupla carreira enfrentados pelos jovens estudantes-atletas e as influências de tais contextos sobre a constituição do habitus de tais indivíduos;
-
Por fim, são apresentadas as conclusões e considerações finais.
Categorias Fundamentais da Sociologia Reflexiva de Pierre Bourdieu
De acordo com Pierre Bourdieu (1983)BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983., sua sociologia caracteriza-se, de maneira relacional, tanto em um “construtivismo estruturalista” quanto em um “estruturalismo construtivista”, destacando que esse jogo de palavras promove essa relação de influência mútua entre as dimensões objetiva e subjetiva de análise social (conhecimento de uma teoria da prática).
As ações dos agentes em determinado espaço social são orientadas pela associação entre suas preferências e seus interesses e as formas estruturais relacionadas ao contexto em que estão inseridos (BOURDIEU, 1996BOURDIEU, P. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996.). O termo espaço social utilizado por Bourdieu (1983)BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983. refere-se ao sistema de disputas formado pelo conjunto das posições sociais ocupadas pelos agentes em determinada formação social, podendo ser considerado como um campo de forças. Todos os indivíduos que entram nesse espaço são expostos a um conjunto de forças, e seus comportamentos ali dependem da posição relativa que eles ocupam na estrutura social. O poder, ou o prestígio, de um indivíduo ou de uma instituição só podem ser considerados ao visualizar as posições que eles ocupam em relação aos demais agentes.
Portanto, o espaço social define-se na maneira como se distribuem as formas de poder em determinada sociedade, podendo ser por meio da legitimação de recursos econômicos, culturais, sociais ou simbólicos (BOURDIEU, 1989BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.). Logo, essas disputas de poder existentes em dado espaço social são fatores determinantes para que seus agentes produzam e reproduzam comportamentos e ações para conservar ou manter e melhorar sua própria posição social. Essas disputas ocorrem de acordo com regras relativamente autônomas à sociedade e influenciam os campos sociais (BOURDIEU, 1989BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.). São exemplos de campos o esportivo, relacionado às formas de práticas esportivas e os agentes que delas participam, e o campo acadêmico, que inclui desde a educação básica até o ensino superior e seus agentes (COELHO et al., 2021COELHO, G. F.; MAQUIAVELI, G.; VICENTINI, L.; RICCI, C. S.; MARQUES, R. F. R. Dual career in Brazil: analysis on men elite futsal players’ academic degree. Cultura, Ciencia y Deporte, v. 16, n. 47, p. 69-83, 2021. https://doi.org/10.12800/CCD.V16I47.1696
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).
Cada campo social possui suas regras, bens de disputa específicos, sendo considerado um espaço relativamente autônomo, possuindo um microcosmo dotado de leis próprias, que está inserido no espaço social (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.). De acordo com Bourdieu e Wacquant (1992)BOURDIEU, P.; WACQUANT, L. An invitation to reflexive sociology. Chicago: University of Chicago Press, 1992., o estado das relações de disputa entre os agentes é o que define a estrutura do campo. Portanto, este é constituído de suas lutas específicas, que ocorrem para conservar ou transformar as formas de disputa dos bens legitimados por aquele contexto e pela manutenção dos agentes nesse espaço. O objetivo dessas disputas reside na apropriação desses bens existentes no campo, os quais são desigualmente distribuídos, produzindo desigualdades entre os agentes com maior ou menor acesso aos meios de acumulação de capitais no campo (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.).
Os capitais representam recursos, um estoque de elementos que podem ser possuídos por dado agente, conferindo-lhe poder de forma relativa e legitimada em determinado campo social. Os diferentes agentes e instituições posicionam-se e comportam-se conforme a quantidade de capital acumulado (BOURDIEU, 1989BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.). Sabendo que os capitais funcionam de maneira e intensidade diferentes em cada campo social, sendo legitimados também distintamente, faz-se pertinente descrever todas as principais formas dessa categoria: econômica, social, simbólica e cultural (BOURDIEU, 1986BOURDIEU, P. The forms of capital. In: RICHARDSON, J. (org.). Handbook of theory and research for the sociology of education. Nova York: Greenwood, 1986. p. 241-258.; BOURDIEU, 1998aBOURDIEU, P. Capital social: notas provisórias. In: NOGUEIRA, M. A.; CATANI, A. M. (org.). Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 1998a. p. 65-69.; 1998dBOURDIEU, P. Os três estados do capital cultural. In: NOGUEIRA, M. A.; CATANI, A. M. (org.). Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 1998d. p. 65-69.).
O capital econômico diz respeito à quantidade de dinheiro e bens financeiros que determinado indivíduo possui; o capital social, à rede de relações e interações pessoais que são úteis para um indivíduo em determinado campo; o capital simbólico, aos bens que são especificamente valorizados e definidos pelas regras e costumes de cada campo social e conferem poder ao agente detentor; e o capital cultural, à quantidade de conhecimento, educação e certificações, que está ligada expressivamente ao que é aprendido principalmente nos ambientes acadêmico e familiar, entre outras maneiras. É possível que esse tipo de capital se manifeste em três estados distintos, podendo ser incorporado (habilidades linguísticas, esquemas mentais, competências intelectuais), objetivado (posse de bens materiais valorizados pela cultura dominante, como livros, quadros, entre outros) e institucionalizado (aquisição de reconhecimento cultural, como diplomas e certificados) (BOURDIEU, 1986BOURDIEU, P. The forms of capital. In: RICHARDSON, J. (org.). Handbook of theory and research for the sociology of education. Nova York: Greenwood, 1986. p. 241-258.; 1998aBOURDIEU, P. Capital social: notas provisórias. In: NOGUEIRA, M. A.; CATANI, A. M. (org.). Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 1998a. p. 65-69.; 1998dBOURDIEU, P. Os três estados do capital cultural. In: NOGUEIRA, M. A.; CATANI, A. M. (org.). Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 1998d. p. 65-69.).
Aos detentores dos capitais legitimados por determinado campo, é-lhes conferido também o direito de influência sobre os critérios de distribuição desses capitais, o que, por consequência, lhes atribui o poder simbólico perante esse espaço, que os consagra como membros dominantes deste último (BOURDIEU, 1986BOURDIEU, P. The forms of capital. In: RICHARDSON, J. (org.). Handbook of theory and research for the sociology of education. Nova York: Greenwood, 1986. p. 241-258.). A imposição desse poder para exercer a dominação é denominada de violência simbólica. Ou seja, essa categoria consiste na imposição arbitrária, por parte da classe dominante do campo, de uma cultura legitimada como autêntica e superior (BOURDIEU, 1989BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.).
Desse modo, a incorporação dessa cultura por parte dos dominados ocorre por meio de uma realidade que é consensual entre os diferentes membros de um campo. Essa ordem, que é devidamente aceita, muitas vezes de maneira oculta pelos agentes do campo, é denominada de doxa. Ou seja, os dominantes, ao dominarem e exercerem poder, consagram os sistemas de classificação, os objetos de interesse e as demandas universais ao campo, estabelecendo a doxa (BOURDIEU, 1989BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.).
Perante o exposto, as relações de força que ocorrem em um campo são orientadas por ações que conservam as suas normas de disputa, chamadas de ortodoxas e, geralmente, realizadas pelos agentes que detêm o poder simbólico. Todavia, os agentes que estão posicionados na periferia do campo e lutam por posições centrais tendem a agir de maneira a romper com o sistema de distribuição de poder existente, ações consideradas heterodoxas.
Nesse contexto, torna-se também presente o fenômeno do paradoxo da doxa, que ocorre quando o agente, mesmo dominado pela estrutura do campo, age de maneira a reproduzir a doxa, reforçando a dominação outrora existente sobre si próprio (BOURDIEU, 1989BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.). Logo, as ações e as maneiras pelas quais os agentes do campo percebem as normas estabelecidas e as disputas pelo poder estão diretamente ligadas com a sua posição nessa estrutura, o que dá origem ao habitus (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.).
Esse conceito engloba as maneiras nas quais as crenças individuais, ideias e preferências se manifestam e influenciam os modos de percepção e ação dos agentes, sendo também influenciadas por relações sociais objetivas e tradições culturais vivenciadas. É o sistema de disposições que age na mediação entre as estruturas e as práticas, considerando o repertório de esquemas dos agentes. Trata-se de um esquema de percepção e apreciação que estrutura o que o indivíduo conhece sobre o mundo. Logo, esse repertório contribui para a formação e o desenvolvimento do habitus (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.). Este não desconsidera individualidades, mas analisa o coletivo e estabelece limites de ação e, assim, uma decisão nunca poderá ser tomada independentemente do contexto em que o agente está inserido.
Portanto, o habitus é uma estrutura estruturante, por direcionar as ações e práticas dos agentes no campo social, mas também uma estrutura estruturada, pois é construída e influenciada pelas normas específicas desse mesmo campo (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.). Assim, pode se modificar, de acordo com a posição social do agente em determinado campo, a quantidade de capitais acumulados e a sua rede de interações com outros agentes e instituições dentro do campo. Ante o exposto, é correto afirmar que o habitus é construído e pode ser modificado no decorrer das disputas por poder que ocorrem no campo (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.).
Como parte do habitus, a illusio pode ser compreendida como o interesse de um agente em participar do jogo de disputa de poder em determinado campo. Também é a sensação de pertencer ao campo que faz com que o indivíduo perceba que existe sentido em disputar os capitais, encontrar as maneiras de acumulá-los, conhecer as posições sociais existentes e, consequentemente, manter, modificar ou transformar seu habitus de acordo com esses fatores (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.).
Os capitais e as maneiras como os agentes podem se relacionar entre si em determinado espaço social são distintos em relação aos grupos que frequentam. Nesse sentido, as classes mais privilegiadas reproduzem um habitus que é consagrado e legitimado no ambiente, como, por exemplo, a escola. Ou seja, o capital herdado culturalmente pode privilegiar as formas de aprendizagem e relações sociais futuras. Essa herança cultural ocorre pela construção de um habitus e pela legitimação de capitais que representam a manutenção da posição social familiar, que, quando pautadas em um investimento de acumulação de capitais culturais, compreendem as expectativas e aprendizagens que foram incorporadas pelos herdeiros, os quais reproduzem essas disposições para as próximas gerações. Essas aprendizagens podem acontecer conscientemente, por meio de ações intencionais específicas sobre determinado ensinamento, ou sobretudo de maneira imperceptível, sutil e inconsciente, por esquemas de percepção/apreciação e/ou nas relações sociais que ocorrem no cotidiano familiar (BOURDIEU; PASSERON, 2014BOURDIEU, P.; PASSERON, J. Os herdeiros: os estudantes e a cultura. Florianópolis: Editora da UFSC, 2014.).
Intersecções Entre os Campos Esportivo e Acadêmico: o Futebol e a Escola Enquanto Espaços de Convivência, Investimento e Conciliação de Carreiras
O futebol, por ter se tornado o esporte mais disseminado e com maior investimento no Brasil (CBF, 2018CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL (CBF). Impacto do futebol brasileiro. Brasil: CBF, 2018. Disponível em: https://conteudo.cbf.com.br/cdn/201912/20191213172843_346.pdf. Acesso em: ago. 2022.
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), aumentou a concorrência entre os atletas durante o processo de seleção e manutenção em seus clubes, por conseguinte reduzindo os postos de trabalho disponíveis (PAOLI; SILVA; SOARES, 2008PAOLI, P.; SILVA, C.; SOARES, A. Tendência atual da detecção, seleção e formação de talentos no futebol brasileiro. Revista Brasileira de Futebol, v. 1, n. 2, p. 38-52, 2008.). No país, foi construído historicamente um imaginário coletivo de que os profissionais que conseguem se manter nesse processo acumulam fortunas e ascendem socialmente (DAMO, 2007DAMO, A. Do dom a profissão: uma etnografia do futebol de espetáculo a partir da formação de jogadores no Brasil e na França. São Paulo: Aderaldo e Rothchild, Anpocs, 2007.; PAOLI; SILVA; SOARES, 2008PAOLI, P.; SILVA, C.; SOARES, A. Tendência atual da detecção, seleção e formação de talentos no futebol brasileiro. Revista Brasileira de Futebol, v. 1, n. 2, p. 38-52, 2008.; SOARES et al., 2011SOARES, A.; MELO, L.; COSTA, F.; BARTHOLO, T.; BENTO, J. Jogadores de futebol no Brasil: mercado, formação de atletas e escola. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 33, n. 4, p. 905-921, 2011. https://doi.org/10.1590/S0101-32892011000400008
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).
Por essa razão, muitos brasileiros percebem o futebol como um projeto, por vezes familiar, de ascensão social, mas a realidade é que poucos atletas atingem o nível de elite (DAMO, 2007DAMO, A. Do dom a profissão: uma etnografia do futebol de espetáculo a partir da formação de jogadores no Brasil e na França. São Paulo: Aderaldo e Rothchild, Anpocs, 2007.; MELO et al., 2016MELO, L.; ROCHA, H.; SILVA, A.; SOARES, A. Jornada escolar versus tempo de treinamento: a profissionalização no futebol e a formação na escola básica. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 38, n. 4, p. 400-406, 2016. https://doi.org/10.1016/j.rbce.2015.11.003
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). Entre os que o fazem, as oportunidades são oferecidas, na maioria das vezes, em clubes com insuficiente infraestrutura, que apresentam um calendário de competições intermitentes e baixa remuneração (DAMO, 2007DAMO, A. Do dom a profissão: uma etnografia do futebol de espetáculo a partir da formação de jogadores no Brasil e na França. São Paulo: Aderaldo e Rothchild, Anpocs, 2007.). Atualmente, existem 874 clubes profissionais de futebol ativos no Brasil e mais de 347 mil jogadores registrados no país, dos quais apenas 25% se tornam profissionais, e mesmo para estes últimos o futebol não se mostra necessariamente como uma forma de mobilidade e ascensão social. Tem-se que 55% dos futebolistas homens no Brasil recebem até um salário mínimo, 33% recebem entre um a cinco, 5% entre cinco e dez, 4% entre 10 e 50, 1% recebem entre 50 e 100, 1% recebem entre 100 e 200, e 1% recebem mais de 200 salários mínimos. Ainda, 80% do valor total de salários se concentra em apenas 7% dos atletas (CBF, 2018CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL (CBF). Impacto do futebol brasileiro. Brasil: CBF, 2018. Disponível em: https://conteudo.cbf.com.br/cdn/201912/20191213172843_346.pdf. Acesso em: ago. 2022.
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).
Esse cenário de baixa remuneração para a maioria dos atletas e a dificuldade de acesso a postos de trabalho disponíveis podem influenciar os vínculos de curta duração observados dos atletas com os clubes, associados com a busca constante de melhores condições de vida em outros locais (MARQUES; MARCHI JR., 2021MARQUES, R. F. R.; MARCHI JR., W. Migration for work: Brazilian futsal players’ labor conditions and disposition for mobility. Journal of Sport & Social Issues, v. 45, n. 3, p. 272-299, 2021. https://doi.org/10.1177/0193723520928592
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), o que, consequentemente, pode afetar os vínculos escolares e, na esteira, todo o processo de construção de carreiras dos jovens atletas (MARQUES et al., 2022MARQUES, R. F. R.; BARKER-RUCHTI, N.; SCHUBRING, A.; MARCHI JR., W.; MENEZES, R.; NUNOMURA, M. Moving away: intra-national migration experiences of Brazilian men elite futsal players during youth. International Review for the Sociology of Sport, v. 57, n. 6, p. 940-959, 2022. https://doi.org/10.1177/10126902211045676
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). No Rio Grande do Sul, por exemplo, percebe-se a necessidade de jovens jogadores de futebol atuantes em categorias de base migrarem de cidade e/ou estado como parte constituinte de investimento na carreira esportiva, o que parece impactar em negligência ao investimento nos estudos e dificultar a criação de vínculos escolares (RIGO; SILVA; RIAL, 2018RIGO, L. C.; SILVA, D.; RIAL, C. Formação de jogadores em clubes de uma cidade do interior: Circulação, escolarização e inserção no futebol profissional. Movimento, v. 24, n. 1, p. 236-274, 2018. https://doi.org/10.22456/1982-8918.71790
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).
Para complementar, sabe-se que a carreira esportiva, mesmo quando profissionalizada, se apresenta como instável e de curta duração, o que, associada com essa percepção secundária da carreira escolar, pode vir a prejudicar e/ou limitar as oportunidades de uma futura inserção/reinserção no mundo de trabalho (MARQUES; MARCHI JR., 2021MARQUES, R. F. R.; MARCHI JR., W. Migration for work: Brazilian futsal players’ labor conditions and disposition for mobility. Journal of Sport & Social Issues, v. 45, n. 3, p. 272-299, 2021. https://doi.org/10.1177/0193723520928592
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).
No que diz respeito ao campo acadêmico, os estudantes-atletas de futebol no Brasil vivenciam problemas similares aos da população jovem de maneira geral (NERI, 2009aNERI, M. Tempo de permanência na escola. Rio de Janeiro: FVG/IBRE CPS, 2009a. Disponível em: https://www.cps.fgv.br/ibrecps/rede/finais/Etapa3-Pesq_MotivacoesEscolares_sumario_principal_anexo-Andre_FIM.pdf#:~:text=O%20Tempo%20de%20Perman%C3%AAncia%20na%20Escola%20e%20as,-%20Rio%20de%20Janeiro%3A%20FGV%2FIBRE%2C%20CPS%2C%202009.%20p.Acesso em: 19 jul. 2022.
https://www.cps.fgv.br/ibrecps/rede/fina...
; 2009bNERI, M. (org.). Motivos da evasão escola. Rio de Janeiro: FGV/IBRE CPS, 2009b. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/21964/Sumario-Motivos-da-Evasao-Escolar.pdf?sequence=1#:~:text=O%20Tempo%20de%20Perman%C3%AAncia%20na%20Escola%20e%20as,-%20Rio%20de%20Janeiro%3A%20FGV%2FIBRE%2C%20CPS%2C%202009.%20p.. Acesso em: 19 jul. 2022.
https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/...
; MELO; SOARES; ROCHA, 2014MELO, L.; SOARES, A.; ROCHA, H. Perfil educacional de atletas em formação no futebol no Estado do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 28, n. 4, p. 617-628, 2014. https://doi.org/10.1590/1807-55092014000400617
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), principalmente em relação à existência de menor tempo de permanência escolar no fim do ensino médio (NERI, 2009aNERI, M. Tempo de permanência na escola. Rio de Janeiro: FVG/IBRE CPS, 2009a. Disponível em: https://www.cps.fgv.br/ibrecps/rede/finais/Etapa3-Pesq_MotivacoesEscolares_sumario_principal_anexo-Andre_FIM.pdf#:~:text=O%20Tempo%20de%20Perman%C3%AAncia%20na%20Escola%20e%20as,-%20Rio%20de%20Janeiro%3A%20FGV%2FIBRE%2C%20CPS%2C%202009.%20p.Acesso em: 19 jul. 2022.
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; 2009bNERI, M. (org.). Motivos da evasão escola. Rio de Janeiro: FGV/IBRE CPS, 2009b. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/21964/Sumario-Motivos-da-Evasao-Escolar.pdf?sequence=1#:~:text=O%20Tempo%20de%20Perman%C3%AAncia%20na%20Escola%20e%20as,-%20Rio%20de%20Janeiro%3A%20FGV%2FIBRE%2C%20CPS%2C%202009.%20p.. Acesso em: 19 jul. 2022.
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; IBGE, 2019INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. IBGE, 2019. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101736_informativo.pdf. Acesso em: jul. 2022.
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). Há diversos anos, o país enfrenta problemas de fluxo escolar nessa etapa, visto que muitos jovens entre 15 e 17 anos de idade deixam de frequentar a escola (SPOSITO; SOUZA; SILVA, 2018SPOSITO, M.; SOUZA, R.; SILVA, F. A pesquisa sobre jovens no Brasil: traçando novos desafios a partir de dados quantitativos. Educação e Pesquisa, v. 44, n. 1, p. 1-24, 2018. https://doi.org/10.1590/S1678-4634201712170308
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). Os dados destacam que a carreira escolar nessa faixa etária apresenta baixa linearidade, é marcada por evasão, reprovações, retenções, e, por conseguinte, há uma distorção idade-série como consequência das acentuadas assimetrias sociais que o país enfrenta (SPOSITO; SOUZA; SILVA, 2018SPOSITO, M.; SOUZA, R.; SILVA, F. A pesquisa sobre jovens no Brasil: traçando novos desafios a partir de dados quantitativos. Educação e Pesquisa, v. 44, n. 1, p. 1-24, 2018. https://doi.org/10.1590/S1678-4634201712170308
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).
A evasão escolar ocorre quando o(a) aluno(a) interrompe os estudos em determinado ano letivo, o que pode causar grandes prejuízos: em nível individual, pois no Brasil existe relação entre o nível de escolaridade e o aumento de oportunidades de emprego digno e, consequentemente, de renda (NERI, 2009aNERI, M. Tempo de permanência na escola. Rio de Janeiro: FVG/IBRE CPS, 2009a. Disponível em: https://www.cps.fgv.br/ibrecps/rede/finais/Etapa3-Pesq_MotivacoesEscolares_sumario_principal_anexo-Andre_FIM.pdf#:~:text=O%20Tempo%20de%20Perman%C3%AAncia%20na%20Escola%20e%20as,-%20Rio%20de%20Janeiro%3A%20FGV%2FIBRE%2C%20CPS%2C%202009.%20p.Acesso em: 19 jul. 2022.
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; 2009b; ESCOLANO; PAZELLO, 2014ESCOLANO, A.; PAZELLO, E. Trabalhar e/ou continuar estudando? As decisões dos jovens que se matriculam no último ano do ensino médio: uma análise a partir da PME. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA, 42., 2014, Natal. Anais [...], 2014.; FERREIRA; OLIVEIRA, 2020FERREIRA, E.; OLIVEIRA, N. Evasão escolar no ensino médio: causas e consequências. Scientia Generalis, v. 1, n. 2, p. 39-48, 2020.); e em nível social, pela marginalização e exclusão desse indivíduo, que pode ter mais dificuldades para se inserir no mundo de trabalho com dignidade, o que, por consequência, afeta negativamente a economia do país (MARUN, 2008MARUN, D. Evasão escolar no ensino médio: um estudo sobre trajetórias escolares acidentadas. 2008. 290 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação: História, Política, Sociedade, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008. ; FERREIRA; OLIVEIRA, 2020FERREIRA, E.; OLIVEIRA, N. Evasão escolar no ensino médio: causas e consequências. Scientia Generalis, v. 1, n. 2, p. 39-48, 2020.).
A permanência escolar é um problema externo e interno à escola. Quanto ao primeiro, veem-se que há poucas políticas públicas que auxiliam nesse processo (RIBEIRO, 2009RIBEIRO, C. Desigualdade de oportunidades no Brasil. Belo Horizonte: Argumentum, 2009.; FERREIRA; OLIVEIRA, 2020FERREIRA, E.; OLIVEIRA, N. Evasão escolar no ensino médio: causas e consequências. Scientia Generalis, v. 1, n. 2, p. 39-48, 2020.), que também está relacionado com o nível socioeconômico dos indivíduos, pois um dos principais motivos do abandono escolar é a necessidade de trabalhar e gerar renda para a família, fator que afeta 27% dos jovens do ensino médio (IBGE, 2019INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. IBGE, 2019. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101736_informativo.pdf. Acesso em: jul. 2022.
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). Já em relação ao último, nota-se que a escola parece não ser atrativa (NERI, 2009aNERI, M. Tempo de permanência na escola. Rio de Janeiro: FVG/IBRE CPS, 2009a. Disponível em: https://www.cps.fgv.br/ibrecps/rede/finais/Etapa3-Pesq_MotivacoesEscolares_sumario_principal_anexo-Andre_FIM.pdf#:~:text=O%20Tempo%20de%20Perman%C3%AAncia%20na%20Escola%20e%20as,-%20Rio%20de%20Janeiro%3A%20FGV%2FIBRE%2C%20CPS%2C%202009.%20p.Acesso em: 19 jul. 2022.
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; 2009b; FERREIRA; OLIVEIRA, 2020FERREIRA, E.; OLIVEIRA, N. Evasão escolar no ensino médio: causas e consequências. Scientia Generalis, v. 1, n. 2, p. 39-48, 2020.), visto que o principal motivo de abandono escolar entre os mais de 40% dos jovens que o fazem é a ausência de interesse (IBGE, 2019INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. IBGE, 2019. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101736_informativo.pdf. Acesso em: jul. 2022.
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), além de a escola ser percebida pelos jovens apenas como uma obrigação social, e não como um processo, o que pode ocorrer por falta de apoio dos familiares próximos (ANDRADE; MOTTA, 2020ANDRADE, M.; MOTTA, V. Base Nacional Comum Curricular e novo ensino médio: uma análise à luz das categorias de Florestan Fernandes. Revista HISTEDBR Online, v. 20, p. e020005, 2020. https://doi.org/10.20396/rho.v20i0.8655150
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), ou pela incompatibilidade entre os conteúdos de estudo e as próprias perspectivas das funções que poderão exercer na sociedade em um futuro próximo (MARUN, 2008MARUN, D. Evasão escolar no ensino médio: um estudo sobre trajetórias escolares acidentadas. 2008. 290 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação: História, Política, Sociedade, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008. ). Portanto, existe a tendência de aderir àquela trajetória mais próxima à realidade a qual percebem que pode gerar ascensão social de maneira mais rápida, como o emprego (MARUN, 2008MARUN, D. Evasão escolar no ensino médio: um estudo sobre trajetórias escolares acidentadas. 2008. 290 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação: História, Política, Sociedade, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008. ) ou o esporte (SOARES et al., 2011SOARES, A.; MELO, L.; COSTA, F.; BARTHOLO, T.; BENTO, J. Jogadores de futebol no Brasil: mercado, formação de atletas e escola. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 33, n. 4, p. 905-921, 2011. https://doi.org/10.1590/S0101-32892011000400008
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).
Nesse sentido, a baixa linearidade, marcada pela evasão, pelas repetências e reprovações de jovens, parece estar vinculada a diversos fatores, além do desinteresse e do cansaço pela conciliação de diferentes rotinas: o nível socioeconômico, como a necessidade de trabalhar para gerar renda (SPOSITO; SOUZA; SILVA, 2018SPOSITO, M.; SOUZA, R.; SILVA, F. A pesquisa sobre jovens no Brasil: traçando novos desafios a partir de dados quantitativos. Educação e Pesquisa, v. 44, n. 1, p. 1-24, 2018. https://doi.org/10.1590/S1678-4634201712170308
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); a distância entre o local de moradia e a escola; e a dificuldade de transporte (MARUN, 2008MARUN, D. Evasão escolar no ensino médio: um estudo sobre trajetórias escolares acidentadas. 2008. 290 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação: História, Política, Sociedade, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008. ; NERI, 2009aNERI, M. Tempo de permanência na escola. Rio de Janeiro: FVG/IBRE CPS, 2009a. Disponível em: https://www.cps.fgv.br/ibrecps/rede/finais/Etapa3-Pesq_MotivacoesEscolares_sumario_principal_anexo-Andre_FIM.pdf#:~:text=O%20Tempo%20de%20Perman%C3%AAncia%20na%20Escola%20e%20as,-%20Rio%20de%20Janeiro%3A%20FGV%2FIBRE%2C%20CPS%2C%202009.%20p.Acesso em: 19 jul. 2022.
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; 2009bNERI, M. (org.). Motivos da evasão escola. Rio de Janeiro: FGV/IBRE CPS, 2009b. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/21964/Sumario-Motivos-da-Evasao-Escolar.pdf?sequence=1#:~:text=O%20Tempo%20de%20Perman%C3%AAncia%20na%20Escola%20e%20as,-%20Rio%20de%20Janeiro%3A%20FGV%2FIBRE%2C%20CPS%2C%202009.%20p.. Acesso em: 19 jul. 2022.
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). Esses fatores também parecem ocorrer de maneira similar entre jovens estudantes-atletas de futebol no estado do Rio de Janeiro (SOARES et al., 2011SOARES, A.; MELO, L.; COSTA, F.; BARTHOLO, T.; BENTO, J. Jogadores de futebol no Brasil: mercado, formação de atletas e escola. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 33, n. 4, p. 905-921, 2011. https://doi.org/10.1590/S0101-32892011000400008
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; SOARES et al., 2013SOARES, A.; MELO, L.; BARTHOLO, T.; VELARDE, L.; RIBEIRO, C.; SANTOS, T. Time for football and school: an analysis of young Brazilian players from Rio de Janeiro. Estúdios Sociológicos, v. 31, p. 1-14, 2013. https://doi.org/10.5016/1980-6574.2011v17n2p252
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; MELO; SOARES; ROCHA, 2014MELO, L.; SOARES, A.; ROCHA, H. Perfil educacional de atletas em formação no futebol no Estado do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 28, n. 4, p. 617-628, 2014. https://doi.org/10.1590/1807-55092014000400617
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).
Especificamente no que tange aos jovens estudantes-atletas, percebe-se a existência de conflitos entre instituições escolares e clubes esportivos, os quais prejudicam aqueles(as) que planejam conciliar as duas carreiras (COSTA, 2011COSTA, A. As escolas noturnas do município da Corte: estado imperial, sociedade civil e educação do povo (1870-1889). Educação e Sociologia, Campinas, v. 32, n. 114, p. 53-68, 2011.; SOARES et al., 2013SOARES, A.; MELO, L.; BARTHOLO, T.; VELARDE, L.; RIBEIRO, C.; SANTOS, T. Time for football and school: an analysis of young Brazilian players from Rio de Janeiro. Estúdios Sociológicos, v. 31, p. 1-14, 2013. https://doi.org/10.5016/1980-6574.2011v17n2p252
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; MELO; SOARES; ROCHA, 2014; MELO et al., 2016MELO, L.; ROCHA, H.; SILVA, A.; SOARES, A. Jornada escolar versus tempo de treinamento: a profissionalização no futebol e a formação na escola básica. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 38, n. 4, p. 400-406, 2016. https://doi.org/10.1016/j.rbce.2015.11.003
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; MIRANDA; SANTOS; COSTA, 2020MIRANDA, I.; SANTOS, W.; COSTA, F. Dupla carreira de estudantes-atletas: uma revisão sistemática nacional. Motrivivência, v. 32, n. 61, p. 1-21, 2020. https://doi.org/10.5007/2175-8042.2020e61788
https://doi.org/10.5007/2175-8042.2020e6...
). Por vezes, essas fragilidades de relacionamento podem influenciar a linearidade da carreira acadêmica, o que, de acordo com o que já foi exposto, demonstra ser mais do que um problema esportivo e/ou escolar, mas também social (SPOSITO; SOUZA; SILVA, 2018SPOSITO, M.; SOUZA, R.; SILVA, F. A pesquisa sobre jovens no Brasil: traçando novos desafios a partir de dados quantitativos. Educação e Pesquisa, v. 44, n. 1, p. 1-24, 2018. https://doi.org/10.1590/S1678-4634201712170308
https://doi.org/10.1590/S1678-4634201712...
) e econômico (ESCOLANO; PAZELLO, 2014ESCOLANO, A.; PAZELLO, E. Trabalhar e/ou continuar estudando? As decisões dos jovens que se matriculam no último ano do ensino médio: uma análise a partir da PME. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA, 42., 2014, Natal. Anais [...], 2014.). Nesse sentido, pode haver dificuldades por parte desses jovens para um possível investimento em formação acadêmica e profissional fora do esporte, o que, consequentemente, pode afetar a inserção/reinserção deles no mundo de trabalho, como alternativa à carreira esportiva (MARQUES; MARCHI JR., 2021MARQUES, R. F. R.; MARCHI JR., W. Migration for work: Brazilian futsal players’ labor conditions and disposition for mobility. Journal of Sport & Social Issues, v. 45, n. 3, p. 272-299, 2021. https://doi.org/10.1177/0193723520928592
https://doi.org/10.1177/0193723520928592...
).
Há outro aspecto da dupla carreira acadêmica-esportiva que merece destaque, por apresentar semelhanças ao que foi encontrado na população brasileira (NERI, 2009aNERI, M. Tempo de permanência na escola. Rio de Janeiro: FVG/IBRE CPS, 2009a. Disponível em: https://www.cps.fgv.br/ibrecps/rede/finais/Etapa3-Pesq_MotivacoesEscolares_sumario_principal_anexo-Andre_FIM.pdf#:~:text=O%20Tempo%20de%20Perman%C3%AAncia%20na%20Escola%20e%20as,-%20Rio%20de%20Janeiro%3A%20FGV%2FIBRE%2C%20CPS%2C%202009.%20p.Acesso em: 19 jul. 2022.
https://www.cps.fgv.br/ibrecps/rede/fina...
; 2009b; ESCOLANO; PAZELLO, 2014ESCOLANO, A.; PAZELLO, E. Trabalhar e/ou continuar estudando? As decisões dos jovens que se matriculam no último ano do ensino médio: uma análise a partir da PME. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA, 42., 2014, Natal. Anais [...], 2014.; IBGE, 2019): a condição socioeconômica à qual os estudantes-atletas pertencem. Aqueles com maior renda familiar parecem apresentar melhores desempenhos acadêmicos e esportivos, associando-se a clubes de maior expressão, do que os jovens jogadores de renda mais baixa, o que pode prejudicar uma inserção/reinserção no mundo de trabalho por parte destes últimos (MELO; SOARES; ROCHA, 2014) e, além disso, reforçar ainda mais as desigualdades já existentes, similarmente ao que é observado em aspectos educacionais, visto que as melhores oportunidades permanecem com os mais privilegiados (RIBEIRO, 2009RIBEIRO, C. Desigualdade de oportunidades no Brasil. Belo Horizonte: Argumentum, 2009.).
Para acentuar essas desigualdades, sabe-se que, principalmente da categoria sub-17 em diante, os treinamentos no clube passam a ocorrer em dois períodos com maior frequência. Em decorrência desse aspecto, há tendência de migração desses estudantes-atletas para o período noturno na escola, o qual está relacionado com um menor tempo de permanência escolar e com uma baixa linearidade nessa trajetória (MELO; SOARES; ROCHA, 2014MELO, L.; SOARES, A.; ROCHA, H. Perfil educacional de atletas em formação no futebol no Estado do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 28, n. 4, p. 617-628, 2014. https://doi.org/10.1590/1807-55092014000400617
https://doi.org/10.1590/1807-55092014000...
). Ainda, essa migração está associada com uma flexibilização informal e individualizada entre a escola, o clube, o atleta e seus familiares, o que pode contribuir com negligência em relação à carreira acadêmica e, consequentemente, dificultar uma inserção dos jovens atletas no mundo de trabalho, caso não se profissionalizem no futebol (SOARES et al., 2011SOARES, A.; MELO, L.; COSTA, F.; BARTHOLO, T.; BENTO, J. Jogadores de futebol no Brasil: mercado, formação de atletas e escola. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 33, n. 4, p. 905-921, 2011. https://doi.org/10.1590/S0101-32892011000400008
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).
Esses acordos entre instituições esportivas e escolares muitas vezes privilegiam as agendas de viagem e treinamento dos clubes, pois ocorrem de maneira pontual e informal, constituindo-se de flexibilizações das rotinas e atividades escolares já existentes, como abono de faltas, permissão de atrasos sistemáticos, atividades complementares, ensino a distância (ROCHA, 2017ROCHA, H. O futebol como carreira, a escola como opção: o dilema do jovem atleta em formação. 2017. 290 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.; MIRANDA; SANTOS; COSTA, 2020; ROCHA et al., 2021ROCHA, H.; MELO, L.; COSTA, M.; SOARES, A. Educação e esporte: analisando o tempo escolar do estudante-atleta de futebol. Educação em Revista, v. 37, n. 1, p. 1-20, 2021. https://doi.org/10.1590/0102-469820719
https://doi.org/10.1590/0102-469820719...
), o que também pode influenciar o nível de aprendizado e o desempenho escolar (ROCHA, 2017ROCHA, H. O futebol como carreira, a escola como opção: o dilema do jovem atleta em formação. 2017. 290 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.; VERZANI et al., 2018VERZANI, R.; MORÃO, K.; BAGNI, G.; MACHADO, A.; SERAPIÃO, A. Desafios da dupla carreira na formação de futebolistas: olhar sobre a escolaridade. Arquivos de Ciências do Esporte, v. 6, n. 3, p. 110-113, 2018. https://doi.org/10.17648/aces.v6n3.2402
https://doi.org/10.17648/aces.v6n3.2402...
) e, ainda, destaca a informalidade desse processo. Atualmente, a legislação brasileira não regulamenta nem fiscaliza esse processo ligado aos estudantes-atletas, o que aumenta a tensão existente entre os campos esportivo e acadêmico (ROCHA; PINTO; SOARES, 2020ROCHA, H.; PINTO, E.; SOARES, A. Marco legal da dupla carreira: perspectivas e limites do Projeto de Lei nº 4.393/2019. Journal of the Latin American Sociocultural Studies of Sport, v. 12, n. 1, p. 39-53, 2020. https://doi.org/10.5380/jlasss.v13i1.76097
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).
Nesse confronto entre o mundo de trabalho e o estudantil parece existir a tendência a resistir à cultura escolar por parte dos jovens, pela possibilidade, mesmo que remota, de ascensão social mais rápida pelo futebol e/ou por auxílios e bolsas esportivas imediatas, as quais ajudam as famílias dos atletas (MARQUES et al., 2021bMARQUES, R. F. R.; SCHUBRING, A.; BARKER-RUCHTI, N.; NUNOMURA, M.; MENEZES, R. From soccer to futsal: Brazilian elite level men players’ career pathways. Soccer & Society, v. 22, n. 5, p. 486-501, 2021b. https://doi.org/10.1080/14660970.2020.1826936
https://doi.org/10.1080/14660970.2020.18...
; SOARES et al., 2011SOARES, A.; MELO, L.; COSTA, F.; BARTHOLO, T.; BENTO, J. Jogadores de futebol no Brasil: mercado, formação de atletas e escola. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 33, n. 4, p. 905-921, 2011. https://doi.org/10.1590/S0101-32892011000400008
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; SOARES et al., 2013SOARES, A.; MELO, L.; BARTHOLO, T.; VELARDE, L.; RIBEIRO, C.; SANTOS, T. Time for football and school: an analysis of young Brazilian players from Rio de Janeiro. Estúdios Sociológicos, v. 31, p. 1-14, 2013. https://doi.org/10.5016/1980-6574.2011v17n2p252
https://doi.org/10.5016/1980-6574.2011v1...
).
Esses confrontos podem se agravar ainda mais por consequência da reforma do ensino médio, instituída pela Medida Provisória nº 746/2016 (BRASIL, 2016BRASIL. Medida Provisória nº 746, de 22 de setembro de 2016. Diário Oficial da União, 23 set. 2016. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Mpv/mpv746.htm. Acesso em: 9 dez. 2022.
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_A...
), a qual foi aprovada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), pelo Edital CNE/CP nº 2, no dia 22 de dezembro de 2017, e instituída pela Lei nº 13.415/2017. Nesta, houve diversas alterações, sendo as principais: a ampliação da carga horária anual, de 800 para 1.400 horas; a inclusão de cinco itinerários formativos, organizados pela oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local; e a possibilidade dos sistemas de ensino de oferecer o ensino profissionalizante, sendo eles: linguagem e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; ciências humanas e sociais; e formação técnica e profissional (BRASIL, 2017BRASIL. Novo Ensino Médio. Lei Federal nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Brasil, 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13415.htm. Acesso em: 8 set. 2022.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_At...
).
É possível observar diversos aspectos oriundos dessa reforma que podem impactar diretamente a rotina dos estudantes-atletas de futebol no Brasil: o aumento da carga horária curricular anual e a inclusão de itinerários formativos não necessariamente diminuem a dissonância entre o que é estudado e o que é vivenciado no mundo de trabalho; redução de oferta de vagas no período noturno; as sete horas de estudo diárias propostas praticamente inviabilizam o período noturno com a jornada escolar ideal, que deveria contemplar o início das aulas às 18 horas e encerramento às 23 horas (o que parece não ocorrer) e, automaticamente, contribuem para a exclusão do(a) jovem que tenta conciliar duas rotinas (escolar-esportiva/escolar-trabalho) (ANDRADE; MOTTA, 2020ANDRADE, M.; MOTTA, V. Base Nacional Comum Curricular e novo ensino médio: uma análise à luz das categorias de Florestan Fernandes. Revista HISTEDBR Online, v. 20, p. e020005, 2020. https://doi.org/10.20396/rho.v20i0.8655150
https://doi.org/10.20396/rho.v20i0.86551...
); os itinerários formativos são decididos pelos estados e por seus respectivos sistemas de ensino, e não pelo(a) estudante, visto que não há a obrigatoriedade de oferecer os cinco itinerários existentes nem, ainda, a garantia de que estes serão realizados sob condições adequadas e com professores valorizados e reconhecidos (FERRETTI, 2018FERRETTI, C. A reforma do ensino médio e sua questionável concepção de qualidade da educação. Estudos Avançados, v. 32, n. 93, p. 25-42, 2018. https://doi.org/10.5935/0103-4014.20180028
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; COSTA; SILVA, 2019COSTA, M.; SILVA, L. Educação e democracia: Base Nacional Comum Curricular e novo ensino médio sob a ótica de entidades acadêmicas da área educacional. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, p. 1-23, 2019. https://doi.org/10.1590/s1413-24782019240047
https://doi.org/10.1590/s1413-2478201924...
).
Portanto, para se compreender a relação entre esses jovens estudantes-atletas para com o mundo de trabalho e a escola no contexto atual, faz-se pertinente que se compreendam os seus respectivos domínios familiares, as redes de relações com os diversos agentes e com as suas vivências, nos distintos ambientes com os quais estão envolvidos (SPOSITO, 2005SPOSITO, M. Algumas reflexões e muitas indagações sobre as relações entre juventude e escola no Brasil. In: ABRAMO, H.; BRANCO, P. (org.). Retratos da juventude brasileira: análises de uma pesquisa nacional. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2005. p. 87-127.). A sociedade atual, capitalista e competitiva, proporciona grandes dificuldades para a inserção desses jovens no mundo de trabalho, pela desigualdade de oportunidades vivenciada no país (DAMO, 2005DAMO, A. Do dom a profissão: uma etnografia do futebol de espetáculo a partir da formação de jogadores no Brasil e na França. França. 2005. 435 f. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.; RIBEIRO, 2009RIBEIRO, C. Desigualdade de oportunidades no Brasil. Belo Horizonte: Argumentum, 2009.; MELO; SOARES; ROCHA, 2014MELO, L.; SOARES, A.; ROCHA, H. Perfil educacional de atletas em formação no futebol no Estado do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 28, n. 4, p. 617-628, 2014. https://doi.org/10.1590/1807-55092014000400617
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).
Um Olhar Bourdieusiano Sobre as Possibilidades de Conciliação de Dupla Carreira de Jovens Estudantes-Atletas de Futebol no Brasil
A opção pela priorização da carreira escolar ou da carreira esportiva, ou pelo investimento conciliatório em ambas, consiste em um produto relacional entre as condições sociais objetivas em que o agente se encontra e suas disposições para percepção e ação (habitus). Ou seja, condicionantes sociais, econômicas e culturais influenciam as maneiras como o indivíduo percebe o esporte e a escolarização, sendo elementos importantes para interpretar suas escolhas sobre carreiras. Tentar compreender o jovem de modo individualizado e descontextualizado de sua realidade social implicaria uma ilusão e equívoco, atribuindo extrema autonomia e consciência racional pura em suas ações e interações. As ações práticas dos agentes são pautadas e ocorrem de forma dependente de suas disposições e posições nos distintos ambientes de que participam, relacionais a seu universo de possibilidades (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.; 1989BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.).
É preciso considerar que o estudante-atleta é um agente social pertencente a diversos campos, e o presente ensaio tem como foco discutir a relação entre o esportivo e o acadêmico. Os agentes pertencentes a ambos os campos influenciam as disputas específicas e as relações de força que neles ocorrem e, simultaneamente, são influenciados por elas (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.), orientados pelos seus habitus e posições sociais, as quais refletem as características da realidade social que foram anteriormente vivenciadas (BOURDIEU, 1990BOURDIEU, P. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 1990.). As oportunidades de escolha sobre as carreiras são desiguais entre os jovens e resultado de uma seleção direta e/ou indireta ao longo de suas vidas, de acordo com a classe social e a herança cultural, que interferem nas chances e possibilidades de ascender socialmente, por se apropriar de forma mais ou menos legítima da cultura erudita consagrada pelos campos acadêmico e esportivo (BOURDIEU; PASSERON, 2014BOURDIEU, P.; PASSERON, J. Os herdeiros: os estudantes e a cultura. Florianópolis: Editora da UFSC, 2014.).
Tanto o capital cultural institucionalizado, conferido pelo diploma no campo acadêmico, quanto o capital econômico, conferido pela conversão de capitais relacionados ao desempenho em ambos os campos, influenciam os critérios de distribuição de poder e reconhecimento (BOURDIEU, 1998dBOURDIEU, P. Os três estados do capital cultural. In: NOGUEIRA, M. A.; CATANI, A. M. (org.). Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 1998d. p. 65-69.). As posições e disposições dos estudantes-atletas de futebol nesses campos, as quais estão relacionadas também com sua origem social, conhecimento, vivências e redes de relacionamento, podem influenciar nas escolhas sobre suas carreiras, por meio de uma percepção sobre as oportunidades disponíveis no ambiente nos quais são ou não possíveis de se materializar, internalizando as chances de acesso a determinados capitais, adequando seus investimentos às chances percebidas, o que é denominado de “espaço dos possíveis” (BOURDIEU, 1998bBOURDIEU, P. Futuro de classe e causalidade do provável. In: BOURDIEU, P. Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 1998b.; BOURDIEU; PASSERON, 2014BOURDIEU, P.; PASSERON, J. Os herdeiros: os estudantes e a cultura. Florianópolis: Editora da UFSC, 2014.). Portanto, os estudantes-atletas podem investir em suas carreiras de distintas maneiras, com base nesse espaço de possibilidades nos quais percebem os seus mundos sociais.
Entretanto, com a maior mercantilização do esporte no século XXI, associada com a espetacularização e valorização de uma carreira esportiva de sucesso esportivo e financeiro construídas pela mídia, aumentou-se a disputa por postos de trabalho no futebol (DAMO, 2007DAMO, A. Do dom a profissão: uma etnografia do futebol de espetáculo a partir da formação de jogadores no Brasil e na França. São Paulo: Aderaldo e Rothchild, Anpocs, 2007.). Consequentemente, os jovens sofrem maior influência para manter a carreira esportiva mais próxima aos seus horizontes de possibilidades (BOURDIEU, 1998bBOURDIEU, P. Futuro de classe e causalidade do provável. In: BOURDIEU, P. Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 1998b.). O aumento do número de praticantes que almeja uma carreira profissional no futebol, portanto, conferiu maior poder simbólico aos clubes, por terem maior possibilidade de escolha no processo de seleção dos jovens que permanecem ou não na carreira esportiva. Ainda, essas instituições mantêm a tutela dos atletas, são responsáveis por oferecerem oportunidades de ensino (PAOLI; SILVA; SOARES, 2008PAOLI, P.; SILVA, C.; SOARES, A. Tendência atual da detecção, seleção e formação de talentos no futebol brasileiro. Revista Brasileira de Futebol, v. 1, n. 2, p. 38-52, 2008.) e, assim, detêm o poder em ambos os campos (acadêmico e esportivo), visto que os estudantes-atletas dependem do clube para permanecer na carreira esportiva, seja para buscar o sonho de se tornar profissional, seja por auxiliar financeiramente a família por receberem bolsas esportivas, ajudas de custo ou até mesmo salário; e muitas vezes também da escola, por meio de bolsas de estudo e/ou por ser a única oportunidade de a escola estar presente no espaço desses possíveis agentes (SOARES et al., 2011SOARES, A.; MELO, L.; COSTA, F.; BARTHOLO, T.; BENTO, J. Jogadores de futebol no Brasil: mercado, formação de atletas e escola. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 33, n. 4, p. 905-921, 2011. https://doi.org/10.1590/S0101-32892011000400008
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; MELO et al., 2016MELO, L.; ROCHA, H.; SILVA, A.; SOARES, A. Jornada escolar versus tempo de treinamento: a profissionalização no futebol e a formação na escola básica. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 38, n. 4, p. 400-406, 2016. https://doi.org/10.1016/j.rbce.2015.11.003
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; ROCHA, 2017ROCHA, H. O futebol como carreira, a escola como opção: o dilema do jovem atleta em formação. 2017. 290 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.; ROCHA et al., 2021ROCHA, H.; MELO, L.; COSTA, M.; SOARES, A. Educação e esporte: analisando o tempo escolar do estudante-atleta de futebol. Educação em Revista, v. 37, n. 1, p. 1-20, 2021. https://doi.org/10.1590/0102-469820719
https://doi.org/10.1590/0102-469820719...
).
Os clubes exercem, então, violência simbólica por intermédio de acordos informais realizados com a escola. Associados com a ausência de uma legislação rígida sobre essas instituições (ROCHA et al., 2021ROCHA, H.; MELO, L.; COSTA, M.; SOARES, A. Educação e esporte: analisando o tempo escolar do estudante-atleta de futebol. Educação em Revista, v. 37, n. 1, p. 1-20, 2021. https://doi.org/10.1590/0102-469820719
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), demonstram a distribuição desigual de capitais em ambos os campos (BOURDIEU, 1986BOURDIEU, P. The forms of capital. In: RICHARDSON, J. (org.). Handbook of theory and research for the sociology of education. Nova York: Greenwood, 1986. p. 241-258.). Os clubes, conforme o processo de profissionalização se aproxima, aumentam o volume de treinamento de seus atletas, muitas vezes realizados em dois períodos (SOARES et al., 2011SOARES, A.; MELO, L.; COSTA, F.; BARTHOLO, T.; BENTO, J. Jogadores de futebol no Brasil: mercado, formação de atletas e escola. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 33, n. 4, p. 905-921, 2011. https://doi.org/10.1590/S0101-32892011000400008
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; SOARES et al., 2013SOARES, A.; MELO, L.; BARTHOLO, T.; VELARDE, L.; RIBEIRO, C.; SANTOS, T. Time for football and school: an analysis of young Brazilian players from Rio de Janeiro. Estúdios Sociológicos, v. 31, p. 1-14, 2013. https://doi.org/10.5016/1980-6574.2011v17n2p252
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), o que os força a migrarem para o período escolar noturno, que apresenta menor jornada escolar e diminui o tempo de permanência dos atletas na escola (MELO; SOARES; ROCHA, 2014MELO, L.; SOARES, A.; ROCHA, H. Perfil educacional de atletas em formação no futebol no Estado do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 28, n. 4, p. 617-628, 2014. https://doi.org/10.1590/1807-55092014000400617
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). Logo, consagram a doxa da dupla carreira acadêmica-esportiva no futebol brasileiro de jovens: priorizar a carreira esportiva. Existe, portanto, tendência das instituições escolares e esportivas à ortodoxia, pois as primeiras aceitam as imposições e a distribuição de recursos das últimas, as quais detêm o poder em ambos os campos e, desse modo, agem e se comportam de maneira ortodoxa (BOURDIEU, 1989BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.) para a manutenção desse poder.
O desinteresse pela carreira acadêmica pode advir dessa distribuição desigual dos capitais. A rotina exaustiva em seus clubes, a tendência de migração para o período noturno, o menor tempo de jornada escolar nesse mesmo período, em comparação ao que foi proposto pela nova reforma do ensino médio (BRASIL, 2017BRASIL. Novo Ensino Médio. Lei Federal nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Brasil, 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13415.htm. Acesso em: 8 set. 2022.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_At...
), os acordos informais que muitas vezes privilegiam as agendas dos clubes (ROCHA et al., 2021ROCHA, H.; MELO, L.; COSTA, M.; SOARES, A. Educação e esporte: analisando o tempo escolar do estudante-atleta de futebol. Educação em Revista, v. 37, n. 1, p. 1-20, 2021. https://doi.org/10.1590/0102-469820719
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), que incluem viagens longas e/ou treinamentos em dois períodos, associados com a ausência de tempo livre para conciliar estudos e treinamentos (SOARES et al., 2013SOARES, A.; MELO, L.; BARTHOLO, T.; VELARDE, L.; RIBEIRO, C.; SANTOS, T. Time for football and school: an analysis of young Brazilian players from Rio de Janeiro. Estúdios Sociológicos, v. 31, p. 1-14, 2013. https://doi.org/10.5016/1980-6574.2011v17n2p252
https://doi.org/10.5016/1980-6574.2011v1...
; MELO et al., 2016MELO, L.; ROCHA, H.; SILVA, A.; SOARES, A. Jornada escolar versus tempo de treinamento: a profissionalização no futebol e a formação na escola básica. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 38, n. 4, p. 400-406, 2016. https://doi.org/10.1016/j.rbce.2015.11.003
https://doi.org/10.1016/j.rbce.2015.11.0...
; ROCHA; PINTO; SOARES, 2020ROCHA, H.; PINTO, E.; SOARES, A. Marco legal da dupla carreira: perspectivas e limites do Projeto de Lei nº 4.393/2019. Journal of the Latin American Sociocultural Studies of Sport, v. 12, n. 1, p. 39-53, 2020. https://doi.org/10.5380/jlasss.v13i1.76097
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), também podem ser responsáveis por manter e/ou aumentar as desigualdades de distribuição de capital cultural legitimado aos estudantes-atletas. As vivências escolares permanecem dificultadas, o que pode consagrar, ainda mais, a valorização do capital esportivo, referente ao desempenho, em detrimento do capital cultural incorporado por intermédio da escola, o que influencia na constituição do habitus dos estudantes-atletas (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.; 1986BOURDIEU, P. The forms of capital. In: RICHARDSON, J. (org.). Handbook of theory and research for the sociology of education. Nova York: Greenwood, 1986. p. 241-258.).
Para exemplificar essa desigualdade distribucional dos capitais em ambos os campos, percebe-se que em clubes de maior expressão no cenário nacional os atletas parecem ter melhores oportunidades de acesso ao ensino e apresentam melhores rendas familiares, desempenhos acadêmicos e esportivos em comparação aos jovens que atuam em clubes com pior infraestrutura (MELO; SOARES; ROCHA, 2014MELO, L.; SOARES, A.; ROCHA, H. Perfil educacional de atletas em formação no futebol no Estado do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 28, n. 4, p. 617-628, 2014. https://doi.org/10.1590/1807-55092014000400617
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), reforçando, também no campo esportivo, as desigualdades outrora existentes, desde a origem social (BOURDIEU, 1990BOURDIEU, P.; PASSERON, J. Reproduction in education, society and culture. Londres: Sage, 1990.).
Nesse sentido, muitos estudantes-atletas são oriundos de famílias de classes sociais mais vulneráveis (SOARES et al., 2013SOARES, A.; MELO, L.; BARTHOLO, T.; VELARDE, L.; RIBEIRO, C.; SANTOS, T. Time for football and school: an analysis of young Brazilian players from Rio de Janeiro. Estúdios Sociológicos, v. 31, p. 1-14, 2013. https://doi.org/10.5016/1980-6574.2011v17n2p252
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; MELO; SOARES; ROCHA, 2014; MELO et al., 2016MELO, L.; ROCHA, H.; SILVA, A.; SOARES, A. Jornada escolar versus tempo de treinamento: a profissionalização no futebol e a formação na escola básica. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 38, n. 4, p. 400-406, 2016. https://doi.org/10.1016/j.rbce.2015.11.003
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) e podem ter mais dificuldades para decifrar os códigos pertencentes à cultura legitimada pelo campo acadêmico, a qual, para Bourdieu e Passeron (2014)BOURDIEU, P.; PASSERON, J. Os herdeiros: os estudantes e a cultura. Florianópolis: Editora da UFSC, 2014., consagra um “saber fazer” legítimo inculcado pela herança cultural, que se expressa muitas vezes de forma oculta nos ambientes familiares. Por terem pouco acesso a essa cultura, os jovens percebem que o investimento para acumular esse capital cultural via escola não é convergente com suas condições e, por se sentirem deslocados, direcionam a sua illusio para a carreira esportiva.
No Brasil, os pais e mães que apresentam menor grau de escolaridade tendem a ter filhos com mais baixos graus acadêmicos (RIBEIRO, 2009RIBEIRO, C. Desigualdade de oportunidades no Brasil. Belo Horizonte: Argumentum, 2009.; ESCOLANO; PAZELLO, 2014ESCOLANO, A.; PAZELLO, E. Trabalhar e/ou continuar estudando? As decisões dos jovens que se matriculam no último ano do ensino médio: uma análise a partir da PME. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA, 42., 2014, Natal. Anais [...], 2014.; IBGE, 2019INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. IBGE, 2019. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101736_informativo.pdf. Acesso em: jul. 2022.
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), e muitas vezes o abandono escolar ocorre pela necessidade de trabalhar para gerar renda para a família, ou pela falta de interesse pela escola (NERI, 2009aNERI, M. Tempo de permanência na escola. Rio de Janeiro: FVG/IBRE CPS, 2009a. Disponível em: https://www.cps.fgv.br/ibrecps/rede/finais/Etapa3-Pesq_MotivacoesEscolares_sumario_principal_anexo-Andre_FIM.pdf#:~:text=O%20Tempo%20de%20Perman%C3%AAncia%20na%20Escola%20e%20as,-%20Rio%20de%20Janeiro%3A%20FGV%2FIBRE%2C%20CPS%2C%202009.%20p.Acesso em: 19 jul. 2022.
https://www.cps.fgv.br/ibrecps/rede/fina...
; 2009bNERI, M. (org.). Motivos da evasão escola. Rio de Janeiro: FGV/IBRE CPS, 2009b. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/21964/Sumario-Motivos-da-Evasao-Escolar.pdf?sequence=1#:~:text=O%20Tempo%20de%20Perman%C3%AAncia%20na%20Escola%20e%20as,-%20Rio%20de%20Janeiro%3A%20FGV%2FIBRE%2C%20CPS%2C%202009.%20p.. Acesso em: 19 jul. 2022.
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; IBGE, 2019INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. IBGE, 2019. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101736_informativo.pdf. Acesso em: jul. 2022.
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). Portanto, os jovens estudantes-atletas de futebol tendem a vivenciar situações similares à exposta, podendo desenvolver, de maneira mais facilitada, habitus esportivo, pela percepção existente de uma ascensão social que lhes é possível em curto prazo (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.; 1998cBOURDIEU, P. O diploma e o cargo: relações entre o sistema de produção e o sistema de reprodução. In: BOURDIEU, P. Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 1998c. p. 67.), por já estarem inseridos em um clube de futebol que pode oferecer, mesmo em categorias de base, auxílios financeiros imediatos, como bolsas esportivas e/ou de estudo (COELHO et al., 2021COELHO, G. F.; MAQUIAVELI, G.; VICENTINI, L.; RICCI, C. S.; MARQUES, R. F. R. Dual career in Brazil: analysis on men elite futsal players’ academic degree. Cultura, Ciencia y Deporte, v. 16, n. 47, p. 69-83, 2021. https://doi.org/10.12800/CCD.V16I47.1696
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; SOARES et al., 2011SOARES, A.; MELO, L.; COSTA, F.; BARTHOLO, T.; BENTO, J. Jogadores de futebol no Brasil: mercado, formação de atletas e escola. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 33, n. 4, p. 905-921, 2011. https://doi.org/10.1590/S0101-32892011000400008
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), que contribuem para gerar renda ou evitar gastos para a família desses agentes.
A relação entre o esporte e a escola só pode ser compreendida com os conflitos existentes entre a classe dominante e a classe dominada. O sistema escolar, se não pensado de forma a promover a inclusão de diferentes classes sociais e a acessibilidade a elas, privilegia, legitima e reproduz a cultura da classe dominante, por meio do arbitrário cultural (BOURDIEU; PASSERON, 1990BOURDIEU, P.; PASSERON, J. Reproduction in education, society and culture. Londres: Sage, 1990.). No campo acadêmico, portanto, existe um valor atribuído, o qual se torna legítimo, inquestionável e considerado universalmente, a doxa (BOURDIEU, 1989BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.). Para sua legitimação, a cultura escolar precisa ser apresentada como neutra, apesar de essa neutralidade não existir. Pela ocultação de seu caráter arbitrário e socialmente imposto pela classe dominante, exerce livremente a reprodução das desigualdades sociais já existentes (BOURDIEU; PASSERON, 1990BOURDIEU, P.; PASSERON, J. Reproduction in education, society and culture. Londres: Sage, 1990.; BOURDIEU, 2006BOURDIEU, P. A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura. In: NOGUEIRA, M. A.; NOGUEIRA, C. M. M. (org.). Bourdieu & educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p. 5-15.).
Portanto, os códigos pertencentes à cultura escolar são decifrados com maior facilidade e naturalidade por aqueles que já são favorecidos, ou seja, os que apresentam maior bagagem cultural e construíram seu habitus por meio dessa posição privilegiada (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.; 1998bBOURDIEU, P. Futuro de classe e causalidade do provável. In: BOURDIEU, P. Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 1998b.; 1998cBOURDIEU, P. O diploma e o cargo: relações entre o sistema de produção e o sistema de reprodução. In: BOURDIEU, P. Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 1998c. p. 67.; 2006BOURDIEU, P. A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura. In: NOGUEIRA, M. A.; NOGUEIRA, C. M. M. (org.). Bourdieu & educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p. 5-15.). Já aqueles agentes que pertencem a camadas sociais menos favorecidas reconhecem a cultura legitimada ao apresentarem dificuldade para decifrar tais códigos, inculcados pelas experiências culturais limitadas anteriormente.
Logo, as discrepâncias existentes pelas perspectivas dos professores e também pelos resultados das avaliações tendem a ser percebidas como diferenças de capacidade intelectual, quando são reflexos da associação cultural entre a família e a escola. A última não privilegia nem/ou recompensa o esforço para a aprendizagem (o que Bourdieu denomina de “desvalorização escolar do escolar”), mas sim a apropriação facilitada e natural desse processo, fundada em palavras como “dom” e/ou “mérito”, o que destaca o poder simbólico da escola, que valoriza esse capital cultural extracurricular (BOURDIEU; PASSERON, 1990BOURDIEU, P.; PASSERON, J. Reproduction in education, society and culture. Londres: Sage, 1990.; BOURDIEU, 2006BOURDIEU, P. A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura. In: NOGUEIRA, M. A.; NOGUEIRA, C. M. M. (org.). Bourdieu & educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p. 5-15.). Então, a relação pedagógica é uma relação de forças na qual o sistema de ensino legitima o arbitrário cultural dominante que, por meio de uma violência simbólica, transforma a desigualdade de fato em desigualdade de direito e, também, legitima a herança cultural (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.; 2006; BOURDIEU; PASSERON, 1990BOURDIEU, P.; PASSERON, J. Reproduction in education, society and culture. Londres: Sage, 1990.).
Para contextualizar o que foi exposto no contexto do presente ensaio, observa-se que as reformas referentes ao novo ensino médio (BRASIL, 2017BRASIL. Novo Ensino Médio. Lei Federal nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Brasil, 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13415.htm. Acesso em: 8 set. 2022.
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) parecem reforçar o arbitrário cultural, pois: há diversas dificuldades para a implantação de novos laboratórios nas escolas, de melhores infraestruturas, de melhores salários para os professores e de adequação à nova carga horária, para atender às necessidades propostas pela lei (COSTA; SILVA, 2019COSTA, M.; SILVA, L. Educação e democracia: Base Nacional Comum Curricular e novo ensino médio sob a ótica de entidades acadêmicas da área educacional. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, p. 1-23, 2019. https://doi.org/10.1590/s1413-24782019240047
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); e a não obrigatoriedade dos sistemas de ensino de disponibilizar os cinco itinerários formativos propostos limita ainda mais o campo de possibilidades dos estudantes de classes desfavorecidas, o que pode reforçar as desigualdades já existentes e aumentar as dificuldades dos estudantes-atletas de cumprir suas obrigações acadêmicas.
Com base nesses princípios, os estudantes-atletas, pelas dificuldades anteriormente citadas (SOARES et al., 2011SOARES, A.; MELO, L.; COSTA, F.; BARTHOLO, T.; BENTO, J. Jogadores de futebol no Brasil: mercado, formação de atletas e escola. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 33, n. 4, p. 905-921, 2011. https://doi.org/10.1590/S0101-32892011000400008
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; SOARES et al., 2013SOARES, A.; MELO, L.; BARTHOLO, T.; VELARDE, L.; RIBEIRO, C.; SANTOS, T. Time for football and school: an analysis of young Brazilian players from Rio de Janeiro. Estúdios Sociológicos, v. 31, p. 1-14, 2013. https://doi.org/10.5016/1980-6574.2011v17n2p252
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; MELO; SOARES; ROCHA, 2014; ROCHA et al., 2021ROCHA, H.; MELO, L.; COSTA, M.; SOARES, A. Educação e esporte: analisando o tempo escolar do estudante-atleta de futebol. Educação em Revista, v. 37, n. 1, p. 1-20, 2021. https://doi.org/10.1590/0102-469820719
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), são agentes heterodoxos no campo escolar e, por isso, podem estar vivenciando, seja pelo esforço de permanecer na escola, seja por não perceberem sentido na instituição, um processo de “deslocamento” e exclusão dessa instituição, por não se apropriarem do capital cultural da maneira como é legitimada pelo arbitrário existente no campo acadêmico. Associado a isso, as reformas do ensino médio (BRASIL, 2017BRASIL. Novo Ensino Médio. Lei Federal nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Brasil, 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13415.htm. Acesso em: 8 set. 2022.
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) parecem, pela extensão da carga horária anual e mudanças curriculares, dificultar ainda mais as possibilidades de construção de um habitus acadêmico (BOURDIEU, 1983BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.; 20ANDRADE, M.; MOTTA, V. Base Nacional Comum Curricular e novo ensino médio: uma análise à luz das categorias de Florestan Fernandes. Revista HISTEDBR Online, v. 20, p. e020005, 2020. https://doi.org/10.20396/rho.v20i0.8655150
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06) por parte desses jovens que se dividem entre as carreiras esportiva e acadêmica.
O futebol, como o espaço dos possíveis mais próximos e com a pretensa maior chance de êxito desses estudantes-atletas, pode também estar relacionado, assim como a educação, ao habitus familiar (BOURDIEU, 1990BOURDIEU, P. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 1990.). Esses jovens, que muitas vezes são oriundos de classes sociais mais vulneráveis (SOARES et al., 2013SOARES, A.; MELO, L.; BARTHOLO, T.; VELARDE, L.; RIBEIRO, C.; SANTOS, T. Time for football and school: an analysis of young Brazilian players from Rio de Janeiro. Estúdios Sociológicos, v. 31, p. 1-14, 2013. https://doi.org/10.5016/1980-6574.2011v17n2p252
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; MELO; SOARES; ROCHA, 2014MELO, L.; SOARES, A.; ROCHA, H. Perfil educacional de atletas em formação no futebol no Estado do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 28, n. 4, p. 617-628, 2014. https://doi.org/10.1590/1807-55092014000400617
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; ROCHA, 2017ROCHA, H. O futebol como carreira, a escola como opção: o dilema do jovem atleta em formação. 2017. 290 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.), podem ter tido pouco contato com a cultura escolar em sua infância, sobretudo por o ambiente familiar ser constituído de agentes com menor grau de escolaridade. Consequentemente, não reconhecem na escola possibilidade de carreira futura, percebendo no esporte uma maneira de conseguir um emprego digno, ou até mesmo por receber bolsas e/ou auxílios imediatos, os quais podem auxiliar na geração de renda para os familiares (COELHO et al., 2021COELHO, G. F.; MAQUIAVELI, G.; VICENTINI, L.; RICCI, C. S.; MARQUES, R. F. R. Dual career in Brazil: analysis on men elite futsal players’ academic degree. Cultura, Ciencia y Deporte, v. 16, n. 47, p. 69-83, 2021. https://doi.org/10.12800/CCD.V16I47.1696
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). Os fatores supracitados podem explicar essa valorização e prioridade de jovens estudantes-atletas de seguir nesse esporte no Brasil e destacam a tendência de reforçar as desigualdades outrora impostas, limitando as possibilidades de se conseguir melhores oportunidades de emprego por meio da continuidade acadêmica (BOURDIEU, 1990BOURDIEU, P.; PASSERON, J. Reproduction in education, society and culture. Londres: Sage, 1990.).
Ainda, uma das estruturas estruturantes do campo esportivo, a influência midiática no entorno do futebol brasileiro (PAOLI; SILVA; SOARES, 2008PAOLI, P.; SILVA, C.; SOARES, A. Tendência atual da detecção, seleção e formação de talentos no futebol brasileiro. Revista Brasileira de Futebol, v. 1, n. 2, p. 38-52, 2008.), reforça as possibilidades, não tão reais nem acessíveis, de conquista de capital social e econômico mediante a carreira esportiva, assim legitimando e consagrando essa valorização do futebol como meio de ascensão social, principalmente nas classes mais vulneráveis, que são dominadas pelas doxa dos campos acadêmico (“saber fazer” legítimo de um capital cultural extraescolar e, muitas vezes, herdado) e esportivo (“saber fazer” legítimo de um capital simbólico representado pelo desempenho e cumprimento de obrigações impostas pelos clubes de futebol). Desse modo, os estudantes-atletas de futebol tendem a perceber mais sentido em direcionar sua illusio para o esporte e, por consequência, apenas cumprem as funções exigidas no campo acadêmico por obrigação social.
Considerações Finais
O objetivo principal deste ensaio foi analisar os desafios de estudantes-atletas de futebol no Brasil na conciliação entre as carreiras acadêmica e esportiva. Os objetivos específicos foram:
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Refletir sobre a intersecção entre os espaços esportivo e escolar no Brasil;
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Analisar como os jovens estudantes-atletas homens de futebol atuam sobre os desafios de conciliação da dupla carreira acadêmica-esportiva;
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Discutir os conflitos enfrentados pelos jovens estudantes-atletas, utilizando o arcabouço teórico da sociologia reflexiva de Pierre Bourdieu.
De maneira geral, os jovens estudantes-atletas de futebol no Brasil parecem priorizar mais a carreira esportiva, principalmente em categorias próximas à profissionalização, existindo a tendência de migração para o período noturno de ensino, por causa do aumento de compromissos esportivos exigidos pelos clubes. Consequentemente, esses jovens tendem a ter menor tempo de permanência escolar, seja pela menor jornada nesse período de ensino, seja pelas faltas que ocorrem por viagens e/ou competições. A associação desses fatores pode contribuir para agravar ainda mais o desinteresse pela escola e com a evasão, os quais já são um problema social e econômico há muitas décadas no Brasil. Existe também a tendência desses estudantes-atletas de virem a apresentar baixa linearidade escolar, a qual pode impactar em uma futura inserção/reinserção no mundo de trabalho por parte dos jovens que não atingirão a elite esportiva.
O referencial teórico de Pierre Bourdieu auxiliou na reflexão sobre esses conflitos nos campos acadêmico e esportivo e permitiu concluir que as maneiras como as instituições escolares e os clubes se estruturam para lidar com os estudantes-atletas de futebol no Brasil parecem privilegiar aqueles agentes que já são mais favorecidos em ambos os espaços, o que parece reproduzir desigualdades já existentes.
A priorização por parte de jovens estudantes-atletas de futebol no Brasil pelo maior investimento na carreira esportiva em detrimento da acadêmica e a tendência à ortodoxia por parte das instituições escolares, ao aceitar nos acordos informais as imposições dos clubes, os quais detêm o poder simbólico em ambos os campos, o que as mantêm como dominadas e acentuam cada vez mais essa dominação, parece estar relacionada com diversos fatores, entre eles:
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Suas origens sociais e econômicas;
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O poder simbólico dos clubes;
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O imaginário coletivo criado pela mídia, associado com a mercantilização, a espetacularização e o destaque do futebol no cenário nacional;
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A alta concorrência de postos de trabalho no esporte, o que aumenta as exigências sobre os jovens;
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A ausência de políticas públicas e os conflitos existentes entre o campo esportivo e o acadêmico dificultam as vivências escolares, priorizando a agenda dos clubes, que são as instituições dominantes nessa intersecção entre os campos;
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A violência simbólica produzida por essa relação, que influencia os jovens a priorizarem o acúmulo do capital esportivo em detrimento do capital cultural institucionalizado, o que dificulta a construção de um habitus acadêmico;
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O próprio sistema escolar, que, por meio do arbitrário cultural, associado com as reformas para o ensino médio, acentua as desigualdades existentes desde a origem social e pode influenciar os estudantes-atletas a direcionarem seus esforços para o campo esportivo.
O presente trabalho apresenta algumas limitações, entre elas: as pesquisas sobre dupla carreira acadêmica-esportiva no futebol brasileiro se concentram majoritariamente aplicadas no estado do Rio de Janeiro, o que não permite generalizações em âmbito nacional; os dados encontrados na literatura, em sua maioria, contemplam apenas as perspectivas dos clubes e/ou dos próprios atletas ante os desafios existentes nos campos esportivo e acadêmico, e, por isso, não é possível compreender como a escola percebe esse tema; os estudos não consideram, em sua maioria, se existe ou não atraso escolar, o que também pode influenciar na linearidade da carreira acadêmica e interferir em uma futura inserção no mundo de trabalho.
Novas pesquisas que envolvam a dupla carreira acadêmica-esportiva são necessárias, com o intuito de compreender essa realidade em diferentes locais do Brasil, principalmente no que diz respeito à evasão do ensino médio e à existência ou não de atraso escolar, os quais podem influenciar a percepção sobre as possibilidades de carreira dos estudantes-atletas e a inserção/reinserção no mundo de trabalho. Ainda, há ausência de estudos sobre a influência da nova reforma do ensino médio nas percepções acerca das carreiras dos indivíduos, as quais merecem ser investigadas, assim como a perspectiva de diferentes agentes que se relacionam à dupla carreira acadêmica-esportiva, como estudantes-atletas, familiares, gestores dos clubes e das escolas.
-
Esta pesquisa tem o financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e está vinculada à tese de doutorado intitulada A dupla carreira acadêmica-esportiva de jogadores de futebol da categoria sub-17 do campeonato paulista: desafios e ações a partir de uma perspectiva sociológica.
Referências
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
30 Jun 2023 -
Data do Fascículo
2023
Histórico
-
Recebido
21 Nov 2022 -
Aceito
08 Maio 2023