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Perspectivas em Psicologia Indígena no Brasil: desafios éticos e epistemológicos

Nas últimas décadas, a psicologia indígena emergiu como um movimento intelectual internacional que oferece resistência às propostas missionárias das psicologias, refletidas ou irrefletidas, de promover a tradição eurocêntrica sob a aparência de cientificidade. Debates sobre especificidades socioculturais na construção das teorias e sistemas psicológicos foram colocados desde a fundação da psicologia como ciência e profissão. Contudo, concepções indígenas permaneceram, predominantemente, excluídas, inferiorizadas ou relegadas à periferia dos debates na área.

Nas realidades estruturais e processuais, objetivas e subjetivas, que perpassam a vida concreta de todas as pessoas em nossa sociedade, independentemente da pessoa se considerar indígena ou não, persistem efeitos do genocídio e etnocídio indígena. Entretanto, no Brasil, a psicologia indígena ainda é um campo de estudos e atuação profissional pouco sistematizado.

Um dos objetivos da presente proposta de dossiê é introduzir aos estudiosos e profissionais da psicologia, um pequeno panorama de perspectivas na diversidade das reflexões indígenas, buscando refletir sobre as seguintes questões: O que é Psicologia Indígena? Qual a especificidade das perspectivas indígenas sobre a psicologia? Qual a especificidade das propostas teóricas, metodológicas e práticas em psicologia indígena?

Os textos condensam posicionamentos sobre as necessárias viradas epistemológicas, ontológicas e éticas que pesquisadores e profissionais precisam realizar para efetivar a construção de conhecimentos científicos e práticas comprometidas com as formas de ser, sentir e pensar, dos corpos e territórios de pessoas e comunidades indígenas.

Os Indígenas têm Oferecido Inúmeras Contribuições que se Refletem nas Sociedades e nas Ciências Contemporâneas

A invasão de Abya Yala – termo Kuna, povo originário de um território a que se sobrepõe, atualmente, ao Panamá, que significa “Terra madura, Terra Viva ou Terra em florescimento e é sinônimo de América” (Porto-Gonçalves, 2009Porto-Gonçalves, C. W. (2009). Entre América e Abya Yala: Tensões de territorialidades. Desenvolvimento e Meio Ambiente, 20, 25-30. http://dx.doi.org/10.5380/dma.v20i0.16231
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, p. 26) – dá início à era moderna com o maior genocídio da história da humanidade (Todorov, 1982/2011Todorov, T. (2011). A conquista da América: A questão do outro. Martins Fontes. (Originalmente publicado em 1982)). Em contrapartida, para o aprofundamento do debate sobre a pertinência das psicologias indígenas propostas no dossiê, é importante relacionar alguns eventos que indicam a magnitude do impacto deste violento marco fundador das sociedades contemporâneas.

Park et al. (2016)Park, S., Hongu, N., & Daily, J. W. (2016). Native American foods: History, culture, and influence on modern diets. Journal of Ethnic Foods, 3(3), 171-177. https://doi.org/10.1016/j.jef.2016.08.001
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discutem o impacto dos alimentos indígenas na dieta mundial, reportando estudos que apontam que cerca de 60% do suprimento alimentar mundial é originário dos povos Ameríndios. Considerando as diversidades linguísticas e culturais, somente no Brasil re(existem) 305 povos falantes de 274 línguas indígenas, e estima-se que eram mil línguas faladas no Brasil antes da invasão colonialista (Centro Brasileiro de Estudos da América Latina, 2020Centro Brasileiro de Estudos da América Latina (2020). Línguas Ameríndias: ontem, hoje e amanhã. Fundação Memorial da América Latina.).

Diversos povos Ameríndios compreendem a existência de, pelo menos, seis possibilidades de estilos de gênero (gender styles): mulher; homem; não-homem – mulher biológica que assume alguns aspectos de papéis masculinos –, não-mulher – homem biológico que assume alguns aspectos de papéis femininos –, lésbicas; e gays (Brown, 1997Brown, L. B. (1997). Two spirit people: American Indian lesbian women and gay men. Routledge.). Possibilidades indígenas de identidade de gênero e experimentação da sexualidade foram, por séculos, violentamente rechaçadas pelos colonizadores (Fernandes & Arisi, 2017Fernandes, E. R., & Arisi, B. M. (2017). Gay indians in Brazil: Untold stories of the colonization of indigenous sexualities. Springer.).

Adicionalmente, cabe destacar o reconhecimento do papel da Confederação Iroquesa na conformação da democracia norte-americana que inspirou diversas democracias ao redor do mundo. Para os indígenas a ampla participação e consulta à comunidade nos processos de tomada de decisão são práticas socialmente difundidas e sustentadoras das liberdades individuais. Tais práticas são referidas em reflexões sobre concepções de sociedade e movimentos de democratização significativos no mundo Europeu (Melo Franco, 1976Melo Franco, A. A. (1976). O índio brasileiro e a revolução francesa: As origens brasileiras da teoria da bondade natural. José Olympio.). Assim, os povos indígenas têm recebido reconhecimento por suas contribuições à democracia no mundo:

[...] é inquestionável que alguns dos Pais Fundadores dos Estados Unidos da América eram muito familiarizados com as estruturas de governo tribais. Muitos Fundadores, por exemplo, serviram como negociadores de tratados e comissários de governos tribais e estudaram ativamente as teorias indígenas de governo. Adicionalmente, muitos colonos euro-americanos observaram os princípios democráticos e a governança em ação nos governos indígenas. Em última análise, os Fundadores desenvolveram teorias e princípios políticos democráticos que quase não eram praticados na Europa Ocidental. Pelo contrário, muitos dos princípios que foram incorporados na Constituição dos EUA eram praticados pelas culturas e governos indígenas da América do Norte muito antes da Europa.

(Miller, 2015Miller, R. J. (2015). American Indian Constitutions and Their Influence on the United States Constitution. Proceedings of the American Philosophical Society, 159(1), 32-56. http://www.jstor.org/stable/24640169
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, p. 33)

Somam-se a isso, contribuições em diversas áreas do conhecimento, nas artes, na medicina e psicoterapia:

Os Iroqueses e os Hurons da América do Norte também praticavam psicoterapia. Quando as plantas medicinais não curavam a doença de um doente, os iroqueses e os hurons acreditavam que a doença era causada por sentimentos e necessidades que a pessoa doente não tinha expressado. Estas emoções e desejos eram frequentemente manifestados em sonhos. Se os desejos da alma não fossem satisfeitos, ela ficava zangada. Esta raiva provocava a doença. Quando a alma estava satisfeita, a pessoa se recuperava. Os psicólogos modernos chamam de subconsciente a parte da mente que esconde as memórias e as emoções da consciência.

(Keoke & Porterfield, 2005Keoke, E. D., & Porterfield, K. M. (2005). American Indian contributions to the world: Medicine and health. Facts on File., p. 100)

Um dos aspectos críticos da elaboração de conhecimentos científicos diz respeito aos desafios para obtenção de informações importantes a respeito de conhecimentos que as sociedades indígenas construíram ao longo de sua existência, as formulando segundo bases epistemológicas próprias. Ao extrair as informações sem considerar as epistemologias indígenas que permitiram a evidenciação de um dado conhecimento, muitos equívocos e contradições podem emergir. Evidência disto é a constatação de que os territórios indígenas são as áreas que se destacam na preservação da biodiversidade mundial e, no entanto, a crença amplamente difundida de que o conhecimento científico seria superior a outros saberes criam barreiras para colaborações significativas de indígenas e cientistas (Sobrevila, 2008Sobrevila, C. (2008). The role of indigenous peoples in biodiversity conservation: The natural but often forgotten partners. The World Bank.).

Desafios Emergentes na Construção de uma Ciência Indígena

Ao consolidar as bases epistemológicas das ciências humanas, o filósofo alemão Wilhelm Dilthey (1833-1911) criticou a subordinação dos princípios e métodos das ciências humanas aos princípios e métodos das ciências naturais, bem como a ideia de que as ciências seriam únicas tanto em seus princípios quanto em seus métodos (Dilthey, 1896Dilthey, W. (1896). Survey of the system of the particular human sciences, in which the necessity of a foundational science is demonstrated. In R. A. Makkreel & F. Rodi (Eds.), Dilthey - Selected Works (Vol. 1, pp. 53-169). Princeton University Press.). Para o filósofo, a ciência projeta o mundo experimentado num horizonte de abstração teórica, metafenomenal. Tal horizonte transforma a experiência no fluxo da vida ao mesmo tempo em que é dialeticamente transformado pelo fluxo da experiência sensível, interessada, social e culturalmente valorizada. Assim, o principal problema de toda epistemologia seria relação entre experiência e razão.

A diversidade das experiências e de interesses levados ao campo da reflexão pessoal e coletiva propiciou a emergência de ciências diversas que capturam aspectos da realidade. Contudo, nenhuma ciência específica pode abarcar completamente a realidade e tampouco o mundo em torno dela (Graeber, 2015Graeber, D. (2015) Radical alterity is just another way of saying “reality”: A reply to Eduardo Viveiros de Castro. HAU: Journal of Ethnographic Theory, 5(2), 1-41.). Em sua pluralidade, as ciências precisam realizar diálogos reflexivos que disponibilizem o potencial de contribuição mútua umas com as outras.

A abertura epistemológica aqui visada aponta para a inclusão das ciências indígenas na pluralidade das demais ciências, sem homogeneizar saberes diversos. Portanto, as ciências indígenas precisam ser consideradas na sua heterogeneidade e especificidade. No diálogo das ciências indígenas com a psicologia, haveria a oportunidade de se cultivar psicologias indígenas no plural.

A psicologia indígena, no singular, precisa ser entendida, então, como um campo heterogêneo e lacunar, no qual as especificidades das diversas experiências decorrentes das formas indígenas de ver, sentir e pensar (Quintero Weir, 2021Quintero Weir, J. A. (2021, April 6). Da “virada ontológica” ao tempo de volta do nós. Amazonia Latitude. https://amazonialatitude.com/2021/04/06/da-virada-ontologica-ao-tempo-de-volta-do-nos/#:~:text=%E2%80%9CVirada%20Ontol%C3%B3gica%E2%80%9D%20ou%20o%20Fim%20do%20mito%20da%20ci%C3%AAncia&text=Apesar%20disso%2C%20agora%20ele%20parece,em%20um%20grande%20problema%20global.
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) permitem o cultivo de múltiplas rotas explicativas e compreensivas dos fenômenos em foco. Cabe cultivar também processos de partilha que respeitem a especificidade das situações em que a vida indígena é experimentada e refletida.

No presente dossiê, Almeida, Carvalho e Silva propõem repensar a psicologia social a partir dos saberes indígenas, considerando seu potencial questionador das políticas de subjetivação derivadas das dicotomias natureza-cultura, humano-não humano. Considerando que tais dicotomias não fazem nexo com a experiência refletida nas comunidades indígenas, a psicologia deve reorientar suas experiências para partilhar das cosmoecologias situadas nos territórios indígenas e, potencialmente, desdobrá-las em caminhos inovadores para a área.

A população indígena apresenta as taxas mais altas de notificação de lesões autoprovocadas e de suicídio no Brasil. Porém, também apresentam as taxas mais baixas de hospitalização, em comparação com a população geral (Alves et al., 2024Alves, F. J. O., Fialho, E., Araújo, J. A. P., Naslund, J. A., Barreto, M. L., Patel, V., & Machado, D. B. (2024) The rising trends of self-harm in Brazil: An ecological analysis of notifications, hospitalisations, and mortality between 2011 and 2022. The Lancet Regional Health, 31, 1-11.). Sobre este assunto, Baniwa e Calegare contribuem com uma reflexão sobre a relevância de se considerar fatores explicativos para o suicídio segundo o ponto de vista dos indígenas a respeito desse fenômeno.

Moebus, Barreto e Moraes apontam que uma psicologia a partir do referencial cosmopolítico dos povos originários do Brasil exige realizar uma virada do próprio campo psicológico. É relevante conformar tarefas simultâneas de crítica da psicologia existente, dominante, e participação nas experiências de resistência indígenas de luta pelo bem-viver nos territórios, para propiciar o movimento contínuo de renovação da psicologia.

Bairrão e Campos Silva apostam no método etnopsicanalítico para fazer emergir as vozes indígenas, ultrapassando a narrativa biomédica canônica. O protagonismo indígena aparece na expressão dos participantes de pesquisa e converge com as preocupações contra-hegemônicas presentes desde a psicologia dos povos de Wundt, até as etnopsicologias, psicologias interculturais e as psicologias culturais contemporâneas, que reinventam ou atualizam os caminhos abertos pelos seus precursores.

Gomes Souza, Sampaio e Tramontano aventam o emprego das linguagens audiovisuais como meio de pesquisar, documentar e aprofundar o diálogo entre comunidades acadêmicas e indígenas, proporcionando a mediação entre modos distintos de se compreender o mundo histórico. A psicologia indígena é entendida como um espaço de relações entre diversas epistemes, ao invés de um produto ou especialidade no campo da psicologia.

Assis, Gonçalves, Rodrigues, Vilharva e Nelson Barros ressaltam a necessidade de repensar a psicologia enquanto ferramenta analítica universal, enfatizando a interação entre conhecimento e cultura, e buscando um trânsito e integração epistêmica. As pessoas indígenas, enquanto protagonistas de seus processos de cuidado psicológico, reorientam os discursos e práticas com as quais dialogam.

Noal, Lacerda, Medeiros, Santos, Cardoso, Coelho e Schmidt oferecem subsídios à conformação de políticas públicas consoantes às particularidades sócio-histórico-culturais de cada etnia. Entendem que a cultura de Bem-Viver é inclusiva da espiritualidade, territorialidade, coletividade e ancestralidade indígenas e deve ser a base para prevenir, preparar e mitigar o acontecimento de eventos extremos nos territórios.

Pessoas indígenas fazendo a psicologia e a psicologia feita a partir das concepções indígenas

Os artigos publicados no dossiê evidenciam, dentre outras coisas, que há duas direções simultâneas na qual o campo da psicologia indígena se situa. Uma direção é a do uso das ferramentas metodológicas e conceituais de diversas abordagens psicológicas para explicar e compreender aspectos das vivências indígenas. Outra direção é a da explicitação da particularidade dos ambientes, práticas e concepções indígenas a respeito de fenômenos focalizados pela psicologia como ciência e profissão. Estas direções abrem caminhos de crítica aos discursos e práticas psicológicas hegemônicas com a proposição de um campo diversificado de possibilidades abarcadas pelo rótulo Psicologia Indígena.

A Psicologia Indígena é aquela que é feita pelas pessoas indígenas, que, por sua vez, pertencem a uma ampla diversidade de povos e comunidades. Para além da heterogeneidade comunitária e étnica, é importante considerar a heterogeneidade entre pessoas de um mesmo povo ou comunidade. A atenção às experiências singulares deve contribuir para a ruptura com estereótipos e cristalizações do ser indígena. As práticas e experiências indígenas nos múltiplos territórios em que multiplicam a vida são as bases para a reflexividade que potencializa a transformação da psicologia.

Aproximamo-nos, então, de uma situação paradoxal: sendo a ciência um campo dedicado à crítica da tradição pela racionalidade metódica, o fazer científico está em contradição inerente às tradições indígenas? Uma possível resposta a esse questionamento considera que a pertinência da crítica da tradição pelas ciências é, inevitavelmente, um desdobramento da própria tradição em que a crítica se estabelece (Gadamer, 1960/2008Gadamer, H. G. (2008). Verdade e Método I: Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Vozes. (Original work published 1960)). Em outras palavras, as ciências aprofundam e fortalecem a tradição da qual é desdobramento, ao promover a reflexividade crítica. Assim, o entendimento dos discursos e práticas científicas depende da compreensão das dimensões extra-científicas, que incluem as bases existenciais a partir das quais cada tradição realiza seus procedimentos de crítica potencializadora da continuidade da vida diante do mundo experimentado.

A pluralidade epistêmica se vincula ao sentido fundamental de ciência e universidade, que não está restrito ao lugar do campus universitário ou ao laboratório de experimentações, e pode ser reconhecido em práticas comunitárias dos povos indígenas. Derrida (2003)Derrida, J. (2003). A universidade sem condição. Estação Liberdade. aponta que o sentido filosófico da universidade é inclusivo da série não-finita de oposições pelas quais o ser humano se determina, do direito de questionar comprometido com a verdade, para além dos limites do saber técnico-científico. Contudo, só agora começamos a trilhar a construção de universidades e de psicologias em que as verdades indígenas participam e também questionam.

Os registros da reflexividade indígena sobre experiências e práticas emergentes no diálogo com o campo do psicológico, que também é heterogêneo, permite a formação de pessoas que, não necessariamente indígenas, passam a utilizar tais conhecimentos. É relevante, contudo, que a raiz indígena dos discursos e práticas emergentes seja evidenciada, contribuindo para a coerência nas perspectivas de integração entre saberes e conhecimentos ancorados em bases distintas, prevenindo equívocos decorrentes de um ecletismo irrefletido.

Reconhecer as diferenças e os limites de aproximação entre as epistemologias indígenas e as epistemologias atualmente predominantes na psicologia é um caminho para assegurar a pertinência indígena de certas formas de se fazer psicologia, ainda que por pessoas que não sejam indígenas. A pertinência epistêmica precisa ser inclusiva dos mundos indígenas e de seus modos de ser em seus mundos, reconhecendo a especificidade de cada maneira de ser coletivamente em cada território. Sem os mundos indígenas, não há possibilidade de seguir dialogando no campo da psicologia indígena. Assim, uma tarefa precípua da área é o compromisso com o cuidado e o cultivo dos mundos indígenas, segundo suas práticas e costumes.

Finalmente, as ciências indígenas no diálogo com a psicologia, apontam para a constituição de espaços de partilha, sem redução da heterogeneidade em uma unidade homogênea. Massimi (2018)Massimi, M. (2018). História dos saberes psicológicos. Paulus. aponta que, originalmente, a universidade era um espaço de reunião espontânea de mestres e estudantes. Uma associação de pessoas dedicadas ao conhecimento, de diversas origens, promotora da circulação de culturas variadas no espaço público, abertas à universalidade de pessoas e generalidade dos temas possíveis de serem abordados. Partilhar experiências e conhecimentos para a contribuição mútua com a pluralidade das formas de vida nos territórios de todo o planeta é o sentido da virada ética que aponta para o emergir de outro mundo no qual o “Todos Nós” (Quintero Weir, 2021Quintero Weir, J. A. (2021, April 6). Da “virada ontológica” ao tempo de volta do nós. Amazonia Latitude. https://amazonialatitude.com/2021/04/06/da-virada-ontologica-ao-tempo-de-volta-do-nos/#:~:text=%E2%80%9CVirada%20Ontol%C3%B3gica%E2%80%9D%20ou%20o%20Fim%20do%20mito%20da%20ci%C3%AAncia&text=Apesar%20disso%2C%20agora%20ele%20parece,em%20um%20grande%20problema%20global.
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) não esteja em risco.

A Psicologia Indígena, portanto, excede a relação pontual e restritiva de uma psicologia voltada para uma minoria. Aponta para o aprofundamento de caminhos analítico-interpretativos das violências epistêmicas que persistem nos discursos e práticas psicológicas. Também vai ao encontro das formas indígenas de produzir conhecimento e de cultivar seus mundos. Segundo a ética da partilha, constrói conhecimento sobre como proporcionar o convívio das diversidades sem que isso redunde em dominação de uns sobre os outros e produção do mesmo. É preciso restabelecer o equilíbrio dialógico nos territórios acadêmico-científicos de legitimação dos conhecimentos. Para tanto, é necessário cuidar das dores decorrentes da contramão colonialista, da qual as ciências modernas emergem e para a qual contribuíram.

  • Como citar esse artigo: Guimarães, D. S. (2024). Perspectivas em Psicologia Indígena no Brasil: desafios éticos e epistemológicos. Estudos de Psicologia (Campinas), 41, e2412169. https://doi.org/10.1590/1982-0275202441e2412169pt
  • Apoio

    O projeto intitulado “Rede de atenção à pessoa indígena: concepções, práticas e ambientes para a saúde e o bem-viver” foi financiado pelas seguintes agências de fomento brasileiras: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), processo nº 2022/04906-3 e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processo nº 306149/2023-0.

Referências

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  • Todorov, T. (2011). A conquista da América: A questão do outro Martins Fontes. (Originalmente publicado em 1982)

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jun 2024
  • Data do Fascículo
    2024
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