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Considerações semântico-pragmáticas sobre o item ‘já’* * Agradecemos a colaboração da professora Roberta Pires de Oliveira, orientadora da pesquisa de doutorado de uma das autoras, cujo trabalho serviu de base para a discussão realizada neste artigo. Também agradecemos as valiosas contribuições e sugestões dos pareceristas desta revista, dentre eles, o professor Roberlei Alves Bertucci. Quaisquer problemas remanescentes são de nossa responsabilidade.

Semantic-Pragmatic Considerations About ‘Já’

Resumo

Neste artigo discutimos características semânticas e aspectos pragmáticos do item lexical ‘já’ e, assim, procuramos entender o(s) seu(s) significado(s). Nosso objetivo é explorar alguns dos aspectos linguísticos de ‘já’, pois esse item é pouco discutido nas gramáticas tradicionais. As bases teóricas utilizadas são Gritti (2013), Lopes (2003) e Morais (2004), que abordam aspectos da semântica do item, e algumas considerações gerais de gramáticas descritivas (Perini, 2008; Neves, 2011). A partir da revisão bibliográfica, verificamos que ‘já’ pode ter valor temporal (localizando eventos na linha do tempo), aspectual (modificando o aspecto do evento) e conjuntivo (ligando orações) e concluímos que o item apresenta aspectos pragmáticos relevantes que o caracterizam e que não foram analisados na literatura consultada, tais como leituras de contraexpectativa e de promessa. A presença dessas leituras e a natureza das inferências que as geram foram investigadas neste artigo em sentenças no modo indicativo (presente, passado e futuro) e imperativo, estando as leituras de contraexpectativa e de promessa ausentes do último. Após testes de acarretamento e pressuposição e de cancelamento de implicatura, as leituras de contraexpectativa e de promessa revelaram-se implicaturas conversacionais, sendo, assim, inferências de natureza pragmática.

Palavras-chave:
semântica; pragmática; já; contraexpectativa; promessa; implicaturas

Abstract

In this paper, we discuss semantic characteristics and pragmatic aspects of the lexical item ‘já’; thus, our goal is to understand its meaning(s). We aim to explore some linguistic aspects of ‘já’, as this item is rarely discussed in traditional grammar. The theoretical bases used are Gritti (2013), Lopes (2003), and Morais (2004), who address semantic aspects of the item, and some descriptive grammar (Perini, 2008; Neves, 2011). From the literature review, we verified that the item could have temporal (locating events on the timeline), aspectual (modifying the aspect of events), and conjunctive (linking sentences) values, and we concluded that ‘já’ has some relevant pragmatic aspects that characterize it, such as readings of counter-expectation and promise. These readings and the nature of the inferences were investigated here in sentences in the indicative (present, past, and future) and imperative mood, being absent from the latter. After implication, presupposition, and implicature cancellation tests, the counter-expectation and promise readings were revealed to be conversational implicatures, thus being pragmatic.

Keywords:
semantics; pragmatics; já; counter-expectation; promise; implicatures

Introdução1 1 A discussão realizada neste artigo nasceu em uma das oficinas do projeto de extensão “Formação continuada e desdobramentos: ensino de língua portuguesa por meio de gêneros do discurso no ensino fundamental I”, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Pato Branco.

Este artigo discute alguns dos aspectos linguísticos, sobretudo semântico-pragmáticos, do item lexical ‘já’ de um ponto de vista da Semântica Formal. O item ‘já’ é abordado superficialmente nas Gramáticas Tradicionais (GTs) ou nem é mencionado. Nessas obras, usualmente, ‘já’ é classificado como advérbio, mas, como veremos, ele pode fazer parte de outras classes gramaticais e contribuir de diferentes formas nas construções linguísticas.

As bases teóricas utilizadas (Gritti, 2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p.; Lopes, 2003LOPES, Ana Cristina Macário. Elementos para uma análise semântica das construções com já. Razões e Emoção: Miscelânea de Estudos em Homenagem a Maria Helena Mira Mateus, Lisboa, IN-CM, v. I, p. 411-428, 2003.; Morais, 2004MORAIS, Maria da Felicidade Araújo. Elementos para uma descrição semântico-pragmática do marcador discursivo “já agora”. In: SILVA, Augusto Soares da; TORRES, Amadeu; GONÇALVES, Miguel (org.). Linguagem, Cultura e Cognição: Estudos de Linguística Cognitiva. Coimbra: Almedina, 2004. p. 477-495.) abordam relevantes aspectos semânticos do item e, a partir disso, atribuem-lhe valor temporal, aspectual e conjuntivo. Com relação ao tempo, a literatura afirma que o ‘já’ pode localizar eventos no tempo, tal como em ‘Volte para casa!’, em que ‘já’ se assemelha a ‘agora’ e localiza o evento de ‘estudar’ em um momento igual/bem próximo ao momento do proferimento da sentença. No que diz respeito ao aspecto, os autores afirmam que ‘já’ pode modificar o aspecto do verbo como na sentença ‘João está nadando’ que gera uma leitura de hábito recente, isto é, ‘já’ contribui com a novidade do hábito: o hábito de nadar do João é recente. Para o papel conjuntivo de ‘já’, a literatura indica que ‘já’ pode ligar orações com em ‘João não quis continuar os estudos, que sempre tirava nota baixa’ em que o item forma uma locução conjuntiva com ‘que’ e pode estabelecer relações de causa e efeito ou de explicação. Neste artigo, nossas análises se voltam às contribuições temporais e aspectuais de ‘já’, deixando a detalhada caracterização de seu uso conjuntivo, que se dá por meio da expressão ‘já que’, para estudos posteriores.

O ponto de partida fornecido pelas bases teóricas permite que sejam observados alguns aspectos de ‘já’ que não foram mencionados até então, tais como leituras de contraexpectativa e de promessa. A presença dessas leituras e a natureza das inferências serão investigadas em sentenças nos modos indicativo (presente, passado e futuro) e imperativo2 2 Ressaltamos que analisar o uso de ‘já’ em sentenças no modo imperativo e no modo indicativo (passado, presente e futuro) é uma das inúmeras opções de análise possíveis e a escolhida neste artigo. No entanto, esse estudo também poderia ter sido conduzido a partir de outros recortes relevantes, tais como a partir de diferentes modalidades de sentenças (asseverativa, dubitativa, etc.) ou das diferentes classes acionais dos verbos, métodos que deixamos como sugestão para trabalhos futuros que poderiam complementar as contribuições dadas nesta pesquisa. e os procedimentos metodológicos incluem a testagem das construções para o acarretamento, a pressuposição e o cancelamento de implicaturas, para, assim, se determinar a sua natureza, isto é, se contribuições de ordem semântica ou pragmática.

Para contribuir com os estudos linguísticos acerca do Português Brasileiro (PB), discutir algumas das características semânticas e pragmáticas do item lexical ‘já’ e verificar a natureza das inferências geradas pelo item, organizamos este artigo da seguinte forma: primeiramente, apresentamos algumas considerações encontradas nas GTs sobre o termo; a seguir, expomos algumas características desse item encontradas nas Gramáticas Descritivas (GDs) e na literatura linguística; na sequência, discutimos algumas das características semântico-pragmáticas do item lexical ‘já’, partindo da revisão bibliográfica, e delimitamos a natureza das inferências que geram as leituras de contraexpectativa e de promessa. Finalmente, apresentamos algumas considerações.

Como as Gramáticas Tradicionais concebem ‘já’

Há, de modo geral, conforme afirma Possenti (1996POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado das Letras, 1996., p. 64-73), três tipos de gramática, elencadas a seguir: (i) Gramática Normativa ou Tradicional: apresenta o conjunto de regras que devem ser seguidas no uso da língua; (ii) Gramática Descritiva: apresenta o conjunto de regras que são seguidas no uso da língua; (iii) Gramática Internalizada: apresenta as regras que o falante de uma língua domina. Nesta seção, apresentaremos a caracterização do item lexical ‘já’ realizada por três GTs e que rótulo sintático em comum esse termo recebe segundo elas.

Na Gramática normativa da língua portuguesa, Lima (2011LIMA, Carlos Henrique da Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011., p. 174-175) posiciona ‘já’ na classe dos advérbios de tempo, pois o item faz parte das “[...] palavras modificadoras do verbo [que] servem para expressar as várias circunstâncias que cercam a significação verbal”. O autor reafirma essa classificação, mais adiante, indicando que “[...] ‘já’ é advérbio de tempo, de mais de um sentido” (Lima, 2011, p. 349) e cita quatro exemplos de sentenças com ‘já’ sem discuti-las ou explicar as diferenças de significado de cada uma delas. Seguem os exemplos dados pelo autor:

(1) Venha .

(2) o conhecia.

(3) Eles estão no Rio de Janeiro.

(4) não vou a São Paulo.

Já João Domingues Maia (1995MAIA, João Domingues. Gramática: teoria e exercícios. São Paulo: Ática. 1995.), em Gramática: teoria e exercícios, da mesma forma que Lima (2011LIMA, Carlos Henrique da Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.), também classifica ‘já’ como um advérbio de tempo, mas não cita exemplos. Em adição, esse gramático indica também que a expressão ‘já que’ é uma locução conjuntiva, sem dar detalhes sobre seu papel na oração e sem expor exemplos desse papel.

Domingos Paschoal Cegalla (2008CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.), por sua vez, em Novíssima gramática da língua portuguesa também classifica ‘já’ (morfologicamente) como um advérbio de tempo (Cegalla, 2008, p. 260). Mais adiante, Cegalla (2008, p. 291) também cita a expressão ‘já que’ como uma conjunção subordinativa causal, mas não a exemplifica com sentenças.

Diante das indicações em comum das três GTs consultadas aqui, nota-se que o item lexical, em termos sintáticos, pode ter funções de advérbio de tempo ou ainda pode formar uma locução conjuntiva causal na gramática do PB. Adicionalmente, como podemos observar, nenhuma das obras verificadas deu detalhes sobre a semântica de ‘já’ em cada um desses usos ou então discutiu seus aspectos sintáticos em maiores detalhes. As três GTs se restringiram a classificar o item, mas nem todas exemplificaram algumas dessas classificações com sentenças.

Gramáticas Descritivas e literatura em Linguística

Nesta seção, vamos nos ater às considerações encontradas em GDs e na literatura linguística, isto é, em trabalhos publicados sobre o item lexical ‘já’ no cenário brasileiro. O intuito é encontrar dados e reflexões que contribuam com uma análise semântico-pragmática mais acurada desse item, renegado pelas GTs, mas que é utilizado cotidianamente nas interações em PB3 3 No banco de dados do Projeto da Norma Urbana Linguística Culta (NURC), um dos maiores banco de dados de fala do PB (Oliveira Jr., 2016), foram encontradas 8.186 ocorrências de ‘já’. .

Lembramos que as GDs, segundo Possenti (1996POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado das Letras, 1996., p. 65), descrevem e apresentam as regras que são seguidas no uso da língua e constam nesta seção porque a GD:

[...] é a [gramática] que orienta o trabalho dos linguistas, cuja preocupação é descrever e/ou explicar as línguas tais como elas são faladas [...], a preocupação central é tornar conhecidas, de forma explícita, as regras de fato utilizadas pelos falantes - daí a expressão “regras que são seguidas” (Possenti, 1996POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado das Letras, 1996., p. 65).

Na Gramática de usos do português, Maria Helena de Moura Neves (2011NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Editora Unesp, 2011.) considera ‘já’ um advérbio de tempo. Em relação à semântica do item lexical, Neves (2011) sugere que ele indica uma situação, isto é, uma resposta à pergunta ‘quando?’. Especificamente, ‘já’ indica uma situação relativa4 4 Em comparação aos advérbios de tempo que indicam situação absoluta, isto é, “momento ou período situado na escala do tempo” (NEVES, 2011, p. 265), por exemplo, ‘ontem’, ‘hoje’, etc. (Neves, 2011, p. 268), isto é, “[a] situação pode ser referida a um momento da enunciação ou do enunciado (fóricos)” (grifo da autora). Nesse contexto, para Neves (2011, p. 268), ‘já’ é um advérbio de tempo cuja semântica indica uma situação relativa a outro momento, similar a “neste/nesse/naquele momento ou período, considerado como precedente de outro(s)”. A seguinte sentença é apresentada como exemplo pela autora:

(5) o sol da manhã espalhava-se sobre o sertão florido.

Apesar de a autora afirmar haver uma leitura temporal de ‘já’ em (5), ela não a especifica. Ao analisarmos (5), percebemos que ela é ambígua, pois apresenta duas leituras parafraseadas como: (i) ‘agora o sol da manhã espalhava-se sobre o sertão florido’ (leitura dêitica, referência ao momento do proferimento); e (ii) ‘Maria acordava, nesse momento o sol da manhã espalhava-se sobre o sertão florido’ (leitura anafórica, referência a um evento anterior). A partir disso, na leitura (i), ‘já’ se relaciona ao momento do proferimento e pode ser substituído por ‘agora’; e na leitura (ii), ‘já’ aparece como um fórico, podendo ser substituído por ‘nesse momento’.

Além de citar o papel adverbial de ‘já’, Neves (2011NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Editora Unesp, 2011., p. 801-802) indica que ‘já’ pode fazer parte de locuções causais, mas não discute essa afirmação. A autora cita como exemplo a seguinte sentença:

(6) Nem sabia se iria votar nele, que a candidatura dele me pareceu sempre uma grande encenação.

Em (6), ‘já’ exerce a função de conjunção subordinativa adverbial, ligando orações dependentes, conforme será retomado na seção Já conjuntivo deste artigo. Nesse contexto, ‘já’ pode ser substituído por ‘pois’, uma conjunção causal, e manter leitura similar à de (7), abaixo:

(7) Nem sabia se iria votar nele, pois a candidatura dele me pareceu sempre uma grande encenação

Mário Perini (2008PERINI, Mário A. A Gramática Descritiva do Português. 4. ed. São Paulo: Editora Ática, 2008.) na Gramática descritiva do português indica que ‘já’ é um intensificador juntamente com “muito, demais, realmente, sempre” (Perini, 2008, p. 116). No entanto, o teórico não discute essa afirmação, nem fornece exemplos com o item. A partir da caracterização do autor, entendemos que ‘já’ na sentença abaixo funcionaria como um intensificador nos moldes sugeridos por ele:

(9) Não levar isso em conta resultará em agravar os sérios problemas sociais.

Em (9), ‘já’ intensifica o sentido do adjetivo ‘sérios’, com leitura similar a ‘problemas muito sérios’ e, como tal, poderia ser retirado da sentença, sem torná-la agramatical, como se vê em (10):

(10) Não levar isso em conta resultará em agravar os sérios problemas sociais.

Com relação ao significado de ‘já’, assim como nas GTs e GDs, a literatura na área da Linguística é unânime em dizer que ‘já’ tem relação com o tempo em certos contextos, mas alguns autores trazem alguns outros aspectos sobre ‘já’ que não são somente temporais e serão apontados a seguir.

Para o Português Europeu (PE), Lopes (2003LOPES, Ana Cristina Macário. Elementos para uma análise semântica das construções com já. Razões e Emoção: Miscelânea de Estudos em Homenagem a Maria Helena Mira Mateus, Lisboa, IN-CM, v. I, p. 411-428, 2003., p. 412) afirma que ‘já’ tem uma leitura que pode ser parafraseada como ‘daqui a muito pouco tempo’. Para o PB, Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p., p. 110-111) afirma que essa leitura também existe para verbos no presente e no futuro, como podemos ver nos exemplos a seguir em que ‘já’ pode ser substituído por ‘daqui a muito pouco tempo’ e, assim, o valor semântico da sentença permanece similar:

(11) Olha aquelas nuvens, chove já!

(12) Não se preocupe, te atenderemos ! (Gritti, 2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p., p. 110)

No entanto, no PB, essa leitura não acontece com verbos no passado como no caso de (13), no qual ‘já’ não pode ser substituído pela locução ‘daqui a muito pouco tempo’, como podemos observar pela agramaticalidade da sentença em (14):

(13) Ela se irritou .

(14) *Ela se irritou daqui a muito pouco tempo5 5 O asterisco marca uma sentença agramatical, isto é, uma sentença que não pertence à gramática daquela língua natural. .

A leitura de ‘já’ em (13) envolve um tempo t anterior ao t do proferimento e que acompanha o tempo passado de ‘irritar’. Quando adicionamos a locução ‘daqui a muito tempo’ em (14), ocorre uma contradição entre o tempo do verbo (anterior ao proferimento) e o tempo da locução (posterior ao proferimento), o que gera a agramaticalidade. A partir disso, corroboramos a concepção de Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p., p. 110) que indica que a leitura de ‘já’ pode ser parafraseada com a locução ‘daqui a pouco tempo’ quando o item vem acompanhado de verbos no futuro e verbos no presente (com leitura de futuro), mas não nos outros casos citados acima com verbos no passado, que não tem a ver com a escolha do dialeto (PB/PE), mas com relação à escolha de projeção a partir do momento de referência que, no caso do pretérito, não pode ser colocado a partir de ‘agora’.

A autora elenca três usos de ‘já’ com base em seu comportamento semântico: conjuntivo, tempo-aspectual e temporal. Para fins de organização da literatura sobre o item, desmembramos a atuação semântica (detalhada nas seções seguintes) do item em: conjuntiva, temporal e aspectual. A partir disso, no uso conjuntivo, ‘já’ funciona como uma conjunção que une sentenças ou introduz uma nova sentença (Gritti, 2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p., p. 107) como em ‘Comprei um carrão, que ganhei na loteria’; no uso temporal, ‘já’ colabora na localização do Momento de Referência (MR) (Gritti, 2013, p. 112-114) como em ‘Tome o remédio!’; e no uso aspectual, ‘já’ “parece modificar o aspecto do verbo” (Gritti, 2013, p.109-118) como em ‘Letícia está treinando’.

‘Já’ conjuntivo

A contribuição de ‘já’ se dá ligando orações ou introduzindo uma delas, desse modo, ele relaciona os sentidos de oração dependentes (cf. Gritti, 2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p., p. 108-109):

(15) Marta não viajou, que ficou doente.

(15’) Marta não viajou, porque ficou doente.

Na sentença (15), ‘já’ vem acompanhado de ‘que’; essa expressão estabelece uma ligação entre as orações, por exemplo, p6 6 ‘p’ e ‘q’ aqui são consideradas orações. já que q, e introduz uma causa da oração p. A leitura de ‘já que’ é similar à de ‘porque’ e, por isso, a substituição de uma expressão pela outra, em (15’), pode ser realizada sem causar alterações significativas na interpretação. Nesse contexto, ao suprimirmos ‘já que’ da construção, a conexão causal entre as orações se perde e a leitura fica prejudicada7 7 A partir de uma entonação específica, a sentença poderia ser considerada adequada, como em: ‘Marta NÃO viajou, ficou doente’. : ‘?Marta não viajou, ficou doente’ (p,q)8 8 Para uma relevante caracterização de ‘já que’ nas relações de subordinação e coordenação, sugerimos Vogt ([1978] 2012) e Cavalcante da Cunha (2008). .

Em contextos como o exemplificado por (15), ‘já’ une-se a ‘que’ para que forme uma locução conjuntiva causal. Essa expressão mostra um comportamento semântico diferente dos demais usos de ‘já’ que trataremos na sequência, pois não se relaciona com elementos intraoracionais, tais como tempo e aspecto. Em (15), seu papel desenvolve-se conectando orações, isto é, tem a função interoracional de inserir a causa da oração principal. Esse processo colabora para a noção de causa e efeito (relacionadas a tempo) na sentença, mas não se relaciona diretamente com o tempo e aspecto dos eventos do interior de uma dada oração.

‘Já’ temporal

Com relação ao PE, Lopes (2003LOPES, Ana Cristina Macário. Elementos para uma análise semântica das construções com já. Razões e Emoção: Miscelânea de Estudos em Homenagem a Maria Helena Mira Mateus, Lisboa, IN-CM, v. I, p. 411-428, 2003., p. 412-413) afirma que o ‘já’ é um localizador temporal “quando combinado com verbos não estativos no presente simples do indicativo (com valor de futuro), e a sua posição típica é pós-verbal” (mesmo podendo acontecer em outras posições). O exemplo que ela fornece é ‘Voltamos já’ e, segundo a autora, esse ‘já’ pode ser substituído por ‘amanhã’, ‘no próximo domingo’, etc. No entanto, conforme Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p., p. 110), esses advérbios são bem mais informativos quanto à localização temporal que ‘já’. Por outro lado, esse é um ponto que coincide com o PB, também segundo Gritti (2013, p. 110), uma vez que ocorre o uso de ‘já’ com essa função de localizador temporal em posição pós-verbal como na sentença abaixo:

(16) Marta comprou às 10 horas seu almoço.

No PB, Ilari (1997ILARI, Rodolfo. A expressão do tempo em português. São Paulo: Contexto, 1997., p. 20) afirma que os adjuntos adverbiais de tempo localizam o MR na linha temporal. Para tanto, ele apresenta um exemplo similar ao que segue:

(17) João tinha chegado às 7 horas de ontem.

(17) é ambígua por não se saber exatamente o horário da chegada de João, se exatamente às 7 horas (que é o MR) de ontem ou em algum horário anterior. Para desambiguizar a sentença, basta acrescentar o ‘já’:

(18) João tinha chegado às 7 horas de ontem.

Em (18), a leitura é a de que a chegada de João foi anterior às 7 horas de ontem. Essa análise se transpõe a muitos outros exemplos no passado e, portanto, com base nesses estudos, pode-se dizer que o ‘já’ é compreendido pela literatura como uma espécie de localizador temporal no passado perfeito (logo, um operador temporal). Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p.) conclui, com base nesse e em outros exemplos, que ‘já’ modifica a estrutura temporal do evento. No entanto, neste artigo, indicaremos que esses casos geram inferências pragmáticas (levando a leituras de contraexpectativa em (16)) e não somente colaboram com a localização temporal como afirma Gritti (2013).

Lopes (2003LOPES, Ana Cristina Macário. Elementos para uma análise semântica das construções com já. Razões e Emoção: Miscelânea de Estudos em Homenagem a Maria Helena Mira Mateus, Lisboa, IN-CM, v. I, p. 411-428, 2003., p. 413-414), por sua vez, conclui que ‘já’ funciona como localizador de tempo somente quando combinado com verbos não-estativos no presente simples do indicativo (com valor de futuro). No PB, Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p., p.114) indica que ocorre o mesmo, tal como nos exemplos seguintes em que ‘já’ ressalta o valor de presente do verbo e poderia ser substituído por ‘agora’:

(19) Como a sobremesa que você fez.

(20) Estude para a prova.

Nota-se que, sem a presença de ‘já’, essas sentenças perdem a leitura de ‘agora’/ ‘neste momento’:

(19’) Como a sobremesa que você fez.

(20’) Estude para a prova.

Novamente, apesar de Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p.) e Lopes (2003LOPES, Ana Cristina Macário. Elementos para uma análise semântica das construções com já. Razões e Emoção: Miscelânea de Estudos em Homenagem a Maria Helena Mira Mateus, Lisboa, IN-CM, v. I, p. 411-428, 2003.) afirmarem que a contribuição de ‘já’ fica no viés semântico, nesta análise, indicamos que há leituras pragmáticas (de promessa em (19)) no presente. Assim, somente nas formas imperativas ‘já’ contribui com uma leitura puramente semântica, indicando tempo iminente como ‘agora’. Com verbos estativos no passado não houve testagem em Gritti (2013). Construímos alguns exemplos com estativos no passado, abaixo9 9 Há algumas divergências de julgamento em relação às sentenças. Alguns falantes do PB consideraram as sentenças felizes, especialmente, se aplicadas variações na ênfase entoacional dos itens. , e percebemos que a leitura de ‘já’ como ‘agora’ não se mantém:

(21) ? Fiquei feliz 10 10 A interrogação diante da sentença indica uma sentença inadequada ou infeliz no contexto. .

(22) ? Me irritei com você .

Outro estudo que aponta o valor temporal de ‘já’ é o de Morais (2004MORAIS, Maria da Felicidade Araújo. Elementos para uma descrição semântico-pragmática do marcador discursivo “já agora”. In: SILVA, Augusto Soares da; TORRES, Amadeu; GONÇALVES, Miguel (org.). Linguagem, Cultura e Cognição: Estudos de Linguística Cognitiva. Coimbra: Almedina, 2004. p. 477-495.), que afirma que “[...] ‘já’ contribui para a localização da situação representada num intervalo de tempo que se encontra muito próximo do intervalo de tempo da enunciação” (Morais, 2004, p. 10). Contudo, conforme foi mostrado acima com os estudos de Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p.) e Lopes (2003LOPES, Ana Cristina Macário. Elementos para uma análise semântica das construções com já. Razões e Emoção: Miscelânea de Estudos em Homenagem a Maria Helena Mira Mateus, Lisboa, IN-CM, v. I, p. 411-428, 2003.), isso não se confirma com os casos no passado, em que o evento não está próximo ao momento de proferimento da sentença, ou momento da enunciação.

Em suma, Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p.) sugere que ‘já’ colabora na localização temporal dos eventos e que essa leitura acontece somente com verbos não-estativos. Por isso, a sentença a seguir com um estativo como ‘viver’ é infeliz para o contexto:

(23) ? A Ana vive em Coimbra.

Em termos de tempo, Koch (1984KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Argumentação e Linguagem. São Paulo: Contexto , 1984., p. 106) menciona que o ‘já’ pode ser usado para indicar mudança de estado quando “[...] algo é x em t0 e passa a ser y em t1”, conforme exemplo da autora:

(24) O Brasil não tem esperanças de ser campeão.

Em (24), segundo a análise sugerida por Koch (1984KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Argumentação e Linguagem. São Paulo: Contexto , 1984.), o Brasil tinha esperanças em t0 e passou a não ter mais em t1, uma leitura gerada por ‘já’, pois se retiramos o item da sentença temos a seguinte afirmação: ‘O Brasil não tem esperanças de ser campeão’, em que há um único tempo t sendo considerado, isto é, um tempo em que não há esperanças. Na mesma linha, Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p., p. 107) afirma que ‘já’ pode indicar uma leitura de que “[...] algo que não estava acontecendo e que passou a acontecer [...] com rapidez”. Essa mudança encontrada em (24) é na literatura entendida como semântica e característica dos termos como ‘ainda’ e ‘já’. Contudo, nossa análise sugere que ‘já’ em (24) tem um papel pragmático e gera a leitura de contraexpectativa, isto é, o Brasil perdeu as esperanças antes do esperado, seria uma antecipação de uma certa mudança (de ter esperança para não ter mais). Essa leitura fica mais evidente se retirarmos o operador de negação da construção: ‘O Brasil tem esperanças de ser campeão’. Leitura semelhante a essa foi encontrada para ‘already’ na língua inglesa por autores como Krifka (2000KRIFKA, Manfred. Alternatives for aspectual particles: Semantics of still and already. In: KRIFKA, Manfred. Proceedings of the Twenty-Sixth Annual Meeting of the Berkeley Linguistics Society: General Session and Parasession on Aspect. Berkeley: Berkeley Linguistics Society, 2000. p. 401-412.), Mittwoch (1993MITTWOCH, Anita. The relationship between schon/already and noch/still: a reply to Löbner. Natural Language Semantics, v. 2, n. 1, p. 71-82, 1993.) e Löbner (1989LÖBNER, Sebastian. German schon-erst-noch: an Integrated Analysis. Linguistics and Philosophy , v. 12, n. 2, p. 167-212, 1989.; 1999LÖBNER, Sebastian. Why German schon and noch are still duals: A reply to Van der Auwera. Linguistics and Philosophy , v. 22, n. 1, p. 45-107, 1999.) que a chamaram de “leitura de precocidade” e a consideraram uma implicatura conversacional.

Nesta seção, observamos que a literatura (Koch, 1984KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Argumentação e Linguagem. São Paulo: Contexto , 1984.; Gritti, 2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p.; Lopes, 2003LOPES, Ana Cristina Macário. Elementos para uma análise semântica das construções com já. Razões e Emoção: Miscelânea de Estudos em Homenagem a Maria Helena Mira Mateus, Lisboa, IN-CM, v. I, p. 411-428, 2003.) indica que ‘já’ está relacionado à localização temporal dos eventos da sentença, aspecto de cunho semântico, no entanto, defendemos, como será visto nas seções seguintes, que há leituras de contraexpectativa e de promessa desse item e essas resultam de inferências pragmáticas.

‘Já’ aspectual

Castilho e Ilari (2008CASTILHO, Ataliba Teixeira de; ILARI, Rodolfo. Advérbios predicadores. In: MOURA NEVES, Maria Helena de; ILARI, Rodolfo. Gramática do português culto falado no Brasil: classes de palavras e processos de construção, vol. II. Campinas: Unicamp, 2008. p. 413-456.) indicam que ‘já’ pertence ao conjunto dos advérbios aspectualizadores. Advérbios aspectualizadores são “[...] aqueles que contribuem para confirmar/explicitar a classe acional do predicado (caracterizando-o e subcategorizando-o como pontual ou durativo, télico ou atélico), ou para reforçar seu caráter perfectivo ou imperfectivo” (Castilho; Ilari, 2008, p. 421).

Especificamente, ‘já’ é considerado por Castilho e Ilari (2008CASTILHO, Ataliba Teixeira de; ILARI, Rodolfo. Advérbios predicadores. In: MOURA NEVES, Maria Helena de; ILARI, Rodolfo. Gramática do português culto falado no Brasil: classes de palavras e processos de construção, vol. II. Campinas: Unicamp, 2008. p. 413-456., p. 423) parte dos advérbios aspectuais indicadores de perfectividade. No PB, a principal distinção aspectual se dá entre as formas verbais perfectivas e imperfectivas exemplificadas pelo pretérito perfeito (‘cantou’) e pretérito imperfeito (‘cantava’) do modo indicativo. Pensando nisso, sentenças no imperfectivo contendo ‘já’ geram infelicidade:

(25) João dançou com mulheres mais velhas.

(25’) ? João dançava com mulheres mais velhas.

De modo geral, na perspectiva imperfectiva, dada em (25’), não se considera um ponto final no evento, por isso, veicula-se uma leitura de inconclusão, por exemplo, do evento de ‘dançar’ que não se alinha com a contribuição semântica de ‘já’. Essa combinação parece funcionar quando temos orações complexas em que ‘já’ marca a antecedência temporal do evento que lhe acompanha, em relação a outro evento como em ‘João dançava com mulheres mais velhas, quando Lívia nasceu’. Já um evento numa perspectiva perfectiva, como ‘dançou’, em (25), sugere um ponto final, isto é, a conclusão do evento e, nesse caso, ‘já’ gera uma sentença aceitável. Corroborando nossas considerações, os autores afirmam que o advérbio ‘já’ sempre seleciona formas perfectivas, por exemplo:

(26) Agora eu autorizei a saída (Castilho; Ilari, 2008CASTILHO, Ataliba Teixeira de; ILARI, Rodolfo. Advérbios predicadores. In: MOURA NEVES, Maria Helena de; ILARI, Rodolfo. Gramática do português culto falado no Brasil: classes de palavras e processos de construção, vol. II. Campinas: Unicamp, 2008. p. 413-456., p. 424).

(27) *Agora eu autorizava a saída.

Castilho e Ilari (2008CASTILHO, Ataliba Teixeira de; ILARI, Rodolfo. Advérbios predicadores. In: MOURA NEVES, Maria Helena de; ILARI, Rodolfo. Gramática do português culto falado no Brasil: classes de palavras e processos de construção, vol. II. Campinas: Unicamp, 2008. p. 413-456.) também ressaltam que se o aspecto dessa sentença for o imperfectivo, o advérbio ‘já’ torna a sentença agramatical, similarmente ao que foi observado em (25’), acima. Contudo, a sentença com o imperfectivo em (27) é agramatical tanto com, quanto sem ‘já’, devido à presença concomitante do advérbio ‘agora’ (indicando o momento do proferimento) e o verbo ‘autorizar’ no passado. Desse modo, se ajustarmos a construção retirando esse advérbio e, por exemplo, adicionando mais um evento como ‘Quando eles finalizavam o trabalho’, a sentença, assim como (25’), recupera a gramaticalidade: ‘Quando eles finalizavam o trabalho, eu autorizava a saída’.

Ainda em relação ao aspecto e sua relação com ‘já’, Lopes (2003LOPES, Ana Cristina Macário. Elementos para uma análise semântica das construções com já. Razões e Emoção: Miscelânea de Estudos em Homenagem a Maria Helena Mira Mateus, Lisboa, IN-CM, v. I, p. 411-428, 2003.), nos estudos sobre o PE, concluiu que a posição típica de ‘já’ é pós-verbal, mas o item também pode ocorrer pré-verbalmente como em ‘já voltamos’. A autora sugere que nesses casos “[...] o valor predominante de ‘já’ é aspectual” (Lopes, 2003, p. 415). O seguinte exemplo, com um estativo, é fornecido pela autora para explicar uma transição entre fases que atuaria na duração dos eventos:

(28) A Ana vive em Coimbra (estado).

Nesse caso, segundo a autora, há uma transição11 11 A concepção aspectual de transição de fases já estava em Löbner (1989; 1999) e Van der Auwera (1993) quando os autores analisam o item ‘schön’ do alemão (Das Auto ist schön neu). Eles chamam esse processo de “pressuposição de transição de estados opostos”, mas o próprio Löbner (1989) afirmou que essa pressuposição não ocorre em todos os casos. Michaelis (1992) reafirma que há também essa transição de estados com o ‘already’ do inglês, porém adicionalmente ele indica que existe um elemento pragmático (contextual) nesse operador. de uma fase negativa (não viver em Coimbra) para uma positiva (viver em Coimbra) com um verbo de estado que denota uma situação temporária12 12 Lopes (2003, p. 415) adapta a ideia de Carlson (1977), que distingue predicados de indivíduos (individual level) de predicados de um estágio do indivíduo (stage level), para uma distinção de estado temporário (“viver em”) versus estado permanente (“ter olhos verdes”). . Nas outras classes acionais dos verbos (Vendler, 1967VENDLER, Zeno. Linguistics in Philosophy. New York: Cornell University Press, 1967.),13 13 Vendler (1967) propõe a divisão dos predicados das línguas naturais em quatro classes: estado, atividade, accomplishment e achievement, também chamadas Aktionsart. Sendo os dois primeiros grupos considerados processos atélicos e os dois últimos, télicos. As atividades e os estados diferem um do outro porque os primeiros são dinâmicos, enquanto os segundos são não-dinâmicos. Os predicados de accomplishments diferem dos de achievements, por serem durativos e os últimos serem instantâneos. Essa divisão é baseada na concepção de que cada verbo toma a noção de tempo de uma maneira distinta e pressupõe um determinado esquema temporal. Desse modo, as classes acionais representam esses possíveis esquemas. em posição pré-verbal, também ocorre uma leitura de transição de fases, segundo Lopes (2003LOPES, Ana Cristina Macário. Elementos para uma análise semântica das construções com já. Razões e Emoção: Miscelânea de Estudos em Homenagem a Maria Helena Mira Mateus, Lisboa, IN-CM, v. I, p. 411-428, 2003., p. 415-417):

(29) O João nadou. (atividade)

(30) A Maria escreveu a carta. (accomplishmen)

(31) O Paulo atingiu a meta. (achievement)

Em (29), há duas leituras a depender de contexto: (i) João realizava a atividade de nadar, era um nadador profissional, e agora não é mais (leitura durativa); (ii) João tem o hábito de nadar todos os dias no mesmo horário e João já realizou essa atividade naquele dia específico, quando a sentença foi proferida (leitura pontual). Já em (30) e (31), Lopes (2003LOPES, Ana Cristina Macário. Elementos para uma análise semântica das construções com já. Razões e Emoção: Miscelânea de Estudos em Homenagem a Maria Helena Mira Mateus, Lisboa, IN-CM, v. I, p. 411-428, 2003., p. 417) indica que os próprios verbos, nesse caso, ‘escrever’ e ‘atingir’, possuem em sua semântica a mudança de estado. No entanto, a autora explica que em (30) “há a representação do estado resultante da culminação do evento” e em (31) “a ocorrência de ‘já’ focaliza o estado resultante subsequente à culminação” (Lopes, 2003, p. 417).

Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p., p. 112), ainda com relação à questão aspectual do ‘já’, afirma que no PB o item modifica o aspecto dos eventos:

(32) João está cantando.

(33) João está cantando.

Em (32) há uma leitura de hábito (‘João tem o hábito de cantar’) ou uma leitura episódica (‘João está cantando no momento do proferimento da sentença’). Em (33), ‘já’ informa que o hábito recém se iniciou. Segundo Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p., p. 112), devido a isso, a sentença (33) se torna agramatical com ‘ultimamente’ como em (34):

(34) * João está cantando ultimamente14 14 Se o contexto fosse mais elaborado e restrito, a sentença poderia ser aceita: “[..] João estava muito doente, mas ultimamente já está cantando. Nesse caso, também, o hábito já recém começou.”. (GRITTI, 2013, p. 112). .

Nesses casos, a autora afirma que ‘já’ parece modificar o aspecto do verbo também, além de atuar na ancoragem temporal indicada na seção ‘Já’ temporal deste artigo. Na seção seguinte, dedicada às análises, no entanto, verificaremos que a leitura de ‘hábito recém iniciado’ indicada por Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p.) pode ter uma natureza pragmática e não semântica.

Pensando mais sobre a roupagem semântico-pragmática de ‘já’ no PB

Como vimos, ‘já’ foi descrito na literatura linguística (seções ‘Já’ conjuntivo, ‘Já’ temporal e ‘Já’ aspectual deste trabalho) como um item que tem valor conjuntivo, temporal e aspectual nas sentenças em que ocorre. Já nas GDs, ele é classificado como advérbio, intensificador e locução adverbial conjuntiva. Nesta seção, vamos analisar o item ‘já’, excluindo o uso conjuntivo, pois nesses casos temos um item que atua entre orações e encontra-se sempre acompanhado pelo pronome ‘que’, diferentemente do ‘já’ aspectual e temporal que atua intraoracionalmente e pode ser analisado como um item que pode vir acompanhado por itens de diferentes categorias sintáticas. Desse modo, nosso foco passa a ser os usos classificados como temporais e aspectuais descritos na literatura. Nesse contexto procuramos expor mais alguns exemplos e tentar contribuir para a caracterização semântico-pragmática do item a partir de sua interação com o modo indicativo (verbos no presente, passado e futuro) e o modo imperativo.

Partimos, nesta seção, do valor temporal de ‘já’ no PB, pois o item, entre os demais valores semânticos apontados na literatura, pode localizar um evento no tempo. Começamos a analisá-lo a partir de verbos no presente e no modo imperativo.

(35) Sai daqui!

(36) Marta anda de bicicleta

(37) Pego o ônibus.

(38) estamos chegando... esperem só mais uns minutinhos!

Em (35) há um imperativo e ‘já’ indica o momento do proferimento, isto é, um tempo imediato ao proferimento, podendo ser substituído por ‘agora’. Em (35), se ‘já’ for retirado da sentença, perde-se a leitura imediatista dos eventos de ‘sair’ que se liga ao momento do proferimento. Essa leitura se alinha ao que foi afirmado na literatura até então, de que ‘já’ se assimila a ‘agora’, mas no imperativo, como se observa em (35), não são geradas leituras de promessa, nem de contraexpectativa pela relação de ‘já’ com o imperativo.

Em (36), ‘já’ ocorre com uma sentença no presente e gera uma leitura relacionada ao momento do proferimento. Aqui o item produz uma interpretação de contraexpectativa em relação ao evento, pois não era esperado que Marta andasse de bicicleta, por exemplo, por ter apenas 1 ano de idade. O evento de ‘andar de bicicleta’ é considerado precoce.

Cabe ressaltar que ‘Marta anda de bicicleta’ (sem ‘já’) é uma sentença suficientemente informativa, contudo, o falante opta por adicionar ‘já’ à proposição. Nesse contexto, ele está fornecendo mais informação do que é necessário e tem uma intenção a partir disso. Nesse ponto, o falante explora o princípio de cooperação griceano (Grice, 1975GRICE, Herbert Paul. Logic and conversation. In: COLE, Peter; MORGAN, Jerry (ed.). Syntax and Semantics 3: Speech Acts. New York: Academic Press, 1975. p. 41-58.), esperando que o ouvinte seja cooperativo e infira a intenção subjacente (cf. Pires de Oliveira; Basso, 2014PIRES DE OLIVEIRA, Roberta; BASSO, Renato Miguel. Arquitetura da conversação: teoria das implicaturas. São Paulo: Parábola Editorial, 2014.). Sugerimos que a introdução de ‘já’ na proposição leva à geração de leituras de contraexpectativa nesse caso. Esse tipo de leitura não foi apontado na literatura e sua natureza será detalhada na sequência.

Em (37) e (38) ‘já’ também ocorre com o presente e ambas as sentenças geram uma leitura em que o evento de ‘pegar’ e ‘chegar’ ocorrerá logo após o momento do proferimento, isto é, a sentença tem uma orientação futura. Em (37)15 15 Cabe ressaltar que a sentença (37) sem ‘já’ foi considerada estranha/infeliz por alguns falantes do PB consultados. e (38), se ‘já’ for suprimido, as sentenças mantêm a orientação para o futuro e são suficientemente informativas sobre os eventos futuros de ‘pegar o ônibus’ e de ‘chegar’. A partir disso, se o falante opta por introduzir ‘já’ na sentença, ele tem a intenção de informar mais do que ‘Pego o ônibus’ e ‘Estamos chegando’. Por isso, defendemos que ‘já’ traz a inferência de que o falante está fazendo uma promessa, ou melhor, se comprometendo com a verdade das proposições em (37) e em (38). De acordo com Anjos (2020ANJOS, Lilian Souza dos. Por uma reflexão sobre a "promessa" nos estudos performativos. Línguas e Instrumentos Linguísticos, v. 23, n. 46, p. 51-73, 2020., p. 55), especificamente, no âmbito de uma promessa, há “[...] a intenção de se comprometer e [...] a intenção de comunicar [...] esse compromisso”16 16 Como bem apontado por um dos pareceristas, o gerúndio (um tipo de presente) parece gerar inferências de promessa: ‘Estou pegando o ônibus’. Concordamos que a informatividade da sentença e a orientação futura do evento de ‘pegar o ônibus’ se mantém em sentenças como a anterior. No entanto, se a leitura de promessa viesse especificamente do gerúndio, a sentença ‘Já estou pegando o ônibus’ não seria uma opção considerada pelos falantes de PB, o que parece não ser o caso, pois sentenças como ‘Já estou pegando o ônibus’ são possíveis, aceitáveis e opções usadas pelos falantes em contextos em que a inferência de promessa emerge. . Cabe ressaltar ainda que as sentenças com promessas têm em si uma orientação futura que torna mais complexa a sua análise quando possuem verbos cuja orientação também é futura (tal como o presente) e os verbos futuros em si, essa concepção é trazida por Searle (2010SEARLE, John R. Consciência e linguagem. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010., p. 240) quando ele afirma “[...] a promessa promete não somente que certa ação ocorrerá, mas que ocorrerá como cumprimento da promessa”17 17 O aprofundamento da análise é relevante para os estudos linguísticos, mas foge ao escopo deste artigo. .

Até aqui, nossas considerações ampliam o que é afirmado na literatura, pois ‘já’ em (37) e (38) gera leituras de promessa, isto é, ocorrem inferências de que o enunciador está realizando uma promessa ou está se comprometendo com a verdade da proposição: ‘Prometo que pego o ônibus’ (Me comprometo que pego o ônibus logo) e ‘Prometo que estamos chegando’ (Me comprometo que chegamos logo).

Quando abordamos a leitura de promessa, concordamos com Conison (1997CONISON, Jay. The Pragmatics of Promise. Canadian Journal of Law & Jurisprudence, v. 10, n. 2, p. 273-322, 1997., p. 284) que afirma que “Promessas são mais como um conceito científico, tal qual gene, do que como um conceito convencional, tal qual xícara18 18 “Promise functions more like a scientific concept such as gene than like a conventional one such as cup”. ” (tradução nossa) especialmente por serem, nos casos estudados aqui, parte dos implícitos. Na teoria dos atos de fala (Austin, 1962AUSTIN, John Langshaw. How to do Things with Words. Oxford: Clarendon Press. 1962.; Searle, 1976SEARLE, John R. A classification of illocutionary acts. Language in Society, v. 5, n. 1, p. 1-23, 1976.; 1979SEARLE, John R. Expression and meaning. Cambridge: Cambridge University Press, 1979.), as promessas são consideradas atos ilocucionários e se constituem como tais por serem enunciadas, na maioria das vezes, explicitamente por meio de verbos como ‘prometer’. Aqui nos deparamos com casos mais complexos em que a promessa faz parte dos implícitos e é inferida a partir da introdução de ‘já’ na sentença. Castim (2017CASTIM, Fernando. John Austin e os Atos de Fala. Revista Ágora Filosófica, v. 17, n. 1, p. 84-95, 2017., p. 94), nessa esteira, indica que “há casos de performativos implícitos em que pedidos, promessas, ameaças, reclamações não são indicadas por verbos correspondentes a ações”, o que se alinha ao caso de ‘já’ aqui analisado.

Tendo observado que há leituras de promessa e de contraexpectativa em sentenças com ‘já’, neste artigo, a proposta também é verificar se essas são resultado de inferências semânticas ou pragmáticas. Para verificar a natureza das leituras surgidas com os verbos no presente, primeiro, realizamos um teste de acarretamento. Esse nexo é semântico, pois leva em conta o conteúdo explícito ou convencional da língua (Lyons, 1979LYONS, John. Introdução à linguística teórica. São Paulo: Nacional, 1979.). Assim, o acarretamento é uma relação entre a verdade de duas sentenças, “se a sentença (a) for verdadeira, a sentença (b) também será verdadeira [ou] se a informação da sentença (b) estiver contida na informação da sentença (a)” (Cançado, 2012CANÇADO, Márcia. Manual de Semântica: noções básicas e exercícios. São Paulo: Editora Contexto. 2012., p. 33; Gomes; Mendes, 2018GOMES, Ana Quadros; MENDES, Luciana Sanchez. Para conhecer Semântica. São Paulo: Editora Contexto , 2018., p. 30).

Iniciamos os testes de acarretamento com (36) cujo verbo está no presente e ‘já’ tem leitura de contraexpectativa:

(36a) Marta anda de bicicleta.

(36b) Marta anda de bicicleta

Se (36a) é verdadeira não é necessariamente verdadeiro que (36b), pois o falante pode enunciar (36a), mas ‘andar de bicicleta’ não ser um evento que aconteceu mais cedo do que o esperado. Isto é, a informação da sentença (b) não está contida na informação da sentença (a). Por sua vez, o acarretamento de (b) para (a) é possível, isto é, se é verdadeiro que ‘Marta anda de bicicleta’, então é necessariamente verdadeiro que ‘Marta anda de bicicleta’ (esse acarretamento tem relação semântica com a informação de ‘andar de bicicleta’ e não com ‘andar cedo (antes do esperado) de bicicleta’). No entanto, se negarmos a sentença em (b), temos uma contradição, pois ‘Marta anda de bicicleta’ e ‘Marta ainda não anda de bicicleta’ não podem ser verdadeiras no mesmo mundo. Portanto, a leitura de contraexpectativa da sentença (36) não resulta de processos semânticos, pois as relações entre as sentenças (36a) e (36b) falham no teste do acarretamento.

Agora, realizamos o teste de acarretamento para (37), que também possui um verbo no presente, mas ‘já’ gera outra leitura: a de promessa.

(37a) Pego o ônibus.

(37b) Pego o ônibus.

Se (37a) é verdadeiro, não é necessariamente verdadeiro que (37b), pois o falante pode enunciar (37a), mas resolver ir andando, isto é, a informação da sentença (b) não está contida na informação da sentença (a). Em relação ao acarretamento de (b) para (a) acontece o mesmo, isto é, se é verdadeiro que ‘Pego o ônibus’, então não é necessariamente verdadeiro que ‘Pego o ônibus’, pois (37a) em se tratando de uma promessa, não garante a verdade de (37a)19 19 Note que não estamos testando se há ou não a leitura de promessa e de contraexpectativa a partir dos testes de relações entre sentenças, como o acarretamento. Estamos, sim, verificando se essas leituras são de natureza semântica ou pragmática. Assim, o raciocínio é: se elas não passarem no teste de acarretamento, as leituras não são de natureza semântica, já que não se originam do conteúdo linguístico convencional/explícito. . Nesse contexto, verificamos que não há acarretamento de (a) para (b), nem de (b) para (a). Portanto, a leitura de promessa da (37) não resulta de processos semânticos, isto é, a leitura de promessa não parece ser uma inferência de natureza semântica. Já no teste de acarretamento de (38) temos o seguinte:

(38a) Estamos chegando ... esperem só mais uns minutinhos!

(38b) estamos chegando … esperem só mais uns minutinhos!

Se (38a) é verdadeiro, não é necessariamente verdadeiro que (38b), pois o falante pode enunciar (38a), mas estar indo ao mercado e chegar depois de 2 horas. Na direção inversa, também não há acarretamento, pois se ‘Já estamos chegando’ é verdadeira, não é necessariamente verdadeiro que estamos chegando, pois o falante pode estar deitado no sofá e não ter a intenção de sair dali tão cedo. Portanto, também a leitura de promessa de ‘já’ suscitada em (38), discutida acima, a partir dos testes de relações de acarretamento das sentenças acima, de (38a) para (38b) e de (38b) para (38a), indica que a interpretação de promessa não é de natureza semântica. Em suma, a partir do teste de acarretamento, verificamos que a leitura de promessa que os falantes do PB têm a partir de sentenças com ‘já’, como (38), não é semântica, pois não resulta do conteúdo convencional das construções.

Tendo as sentenças falhado no teste de acarretamento, vamos verificar se a leitura de contraexpectativa e a de promessa geradas por ‘já’ em sentenças no presente são pressuposições, o que permite afirmar com mais argumentos que elas não são semânticas e sim são inferências pragmáticas.

Não há consenso na literatura se a pressuposição é semântica, pragmática ou ambas. Não é intuito deste artigo discutir isso, por essa razão, assumimos aqui que a pressuposição20 20 Na literatura, “A pressupõe uma sentença B se e somente se A e os outros membros da P-família acarretam B” (Pires De Oliveira et al., 2012, p. 61). Portanto, um dos testes seria operar na sentença posta, transformando-a em interrogação, negação, sentença condicional ou contexto de dúvida. Se a informação compartilhada se mantiver, ela é uma pressuposição. No entanto, dado que a literatura (Ilari, 2023; Moura, 2006) indica que o teste da negação é válido por si, utilizamos este instrumento na análise ora realizada. se caracteriza como “uma informação [que] se mantém mesmo que neguemos a sentença que a veicula” (Ilari, 2023ILARI, Rodolfo. Introdução à Semântica: brincando com a gramática. São Paulo: Contexto . 2023., p .85) e, por isso, tem natureza semântica. Nesse contexto, o teste é negar as sentenças (36), (37) e (38):

(36’) Marta ainda não21 21 ‘Ainda não’, segundo Gritti (2013), é a negação de ‘já’, e baseou-se nos estudos de Löbner (1999) em que ‘noch’, no alemão, (correspondente ao ‘ainda’ no PB), tem seu dual negativo em ‘nich mehr’ (correspondente ao ‘já não mais’ no PB). Esse estudo mostrou que o PB também faz parte do esquema de dualidade encontrado para seus correspondentes em outras línguas. Fazem parte dele “schon” (do alemão), “already” (do inglês), “déjà” (do francês) com seus correspondentes ‘noch nich’, ‘not yet’, ‘pas encore’ (Löbner (1989; 1999), Auwera (1993), Michaelis (1992)). anda de bicicleta

(37’) Não pego o ônibus.

(38’) Ainda não estamos chegando.

A partir dos testes, vemos que a leitura de contraexpectativa de (36), isto é, a leitura de o evento acontecer precocemente desaparece. Além disso, a leitura de promessa de (37) e (38) também não se mantêm quando as sentenças são negadas: para (37’) passamos a ter uma leitura similar a ‘não pego agora o ônibus’ e, para (38’), ‘não estamos mais a caminho’. Assim, a interpretação de promessa e de contraexpectativa das sentenças no presente não resultam de uma pressuposição, o que favorece o argumento de que essas inferências não são semânticas e, sim, pragmáticas.

Em resumo, ‘já’ acompanhado de verbos no presente22 22 Comparando as seguintes sentenças e alterando a posição sintática de ‘já’ verificamos uma mudança nas leituras: Nós chegamos já na sua casa/ Nós já chegamos na sua casa/ Nós chegamos na sua casa . Observamos que ‘já’ pós-verbal localiza ‘chegar’ num futuro próximo (Logo chegaremos na sua casa) e gera também a inferência de que há um comprometimento do enunciador com a verdade da proposição, há uma leitura de promessa. Na posição pré-verbal, a sentença é ambígua e ‘já’ pode localizar ‘chegar’ no passado ou no futuro (Há algum tempo, chegamos na sua casa ou Logo chegaremos na sua casa). Quando ‘já’ é suprimido, a única leitura é a de evento presente, verdadeiro no momento do proferimento (Estamos na sua casa). gera leituras de contraexpectativa e de promessa (que não ocorrem com os imperativos) que parecem ser geradas a partir de inferências pragmáticas, pois foram reprovadas no teste de acarretamento e da pressuposição.

Com verbos no passado, ‘já’ parece indicar, em alguns contextos, uma contraexpectativa23 23 Gritti (2013) afirma que há uma implicatura conversacional de contraexpectativa disparada pelo “já não mais” que seria o dual (contrário) de “ainda”, mas nada trabalhou para o ‘já’, em particular. Também, Souza (2020, p. 89) afirma que o ‘já’ aponta, semanticamente, uma precocidade e que o item, "[...] através de uma implicatura conversacional [...] contraria as expectativas dos falantes”, mas a autora não mostra como isso acontece. em relação ao evento da sentença, isto é, uma leitura de precocidade:

(39) Carlos aprendeu a ler.

Cuja interpretação poderia ser parafraseada como ‘Carlos aprendeu a ler mais cedo do que eu esperava’. No teste do acarretamento temos:

(39a) Carlos aprendeu a ler.

(39b) Carlos aprendeu a ler.

Se (39a) é verdadeiro, não é necessariamente verdadeiro que (39b), isto é, a informação da sentença (b) não está contida na informação da sentença (a), pois se Carlos aprendeu a ler, não é necessariamente verdadeiro que ele aprendeu a ler mais cedo do que o esperado (ele pode ter levado muito tempo para aprender). Em relação ao sentido inverso, observamos que ocorre acarretamento de (b) para (a), isto é, se é verdadeiro que ‘Carlos aprendeu a ler’, então é necessariamente verdadeiro que ‘Carlos aprendeu a ler’. Assim como ocorreu com o presente, a sentença com ‘já’ tem um significado mais restritivo do que a sentença sem ‘já’, levando ao acarretamento de (b) para (a), mas não de (a) para (b). No entanto, se negarmos a sentença em (b), temos uma contradição em relação a (a), pois ‘Carlos aprendeu a ler’ e ‘Carlos ainda não aprendeu a ler’ não podem ser ambas verdadeiras no mesmo mundo. Portanto, a leitura de contraexpectativa de (39), com um verbo no passado não resulta de processos semânticos, pois não passou no teste do acarretamento.

Em (40), abaixo, também há uma leitura de contraexpectativa (‘A mudança chegou mais cedo do que o esperado’). Ou seja, há uma expectativa na sentença em relação à chegada da mudança e o item ‘já’ traz uma leitura de contradição em relação ao evento.

(40) A mudança chegou ontem pela manhã.

Ao fazer o teste, observamos, na sequência, em (40a) e (40b), que o acarretamento não ocorre:

(40a) A mudança chegou ontem pela manhã.

(40b) A mudança chegou ontem pela manhã.

A informação da sentença (b) não está contida na informação da sentença (a), pois se a mudança chegou antes do momento de proferimento, não é necessariamente verdadeiro que ela chegou mais cedo do que o esperado. Em relação ao sentido inverso da inferência, observamos que ocorre acarretamento de (b) para (a), isto é, se é verdadeiro que ‘A mudança chegou ontem pela manhã’, então é necessariamente verdadeiro que ‘A mudança chegou ontem pela manhã’. Assim, há o acarretamento de (b) para (a), mas não de (a) para (b). No entanto, se negarmos a sentença em (b), temos uma contradição em relação a (a), pois ‘A mudança chegou’ e ‘A mudança ainda não chegou’ não podem ser ambas verdadeiras no mesmo mundo. Portanto, a leitura de contraexpectativa no passado também não se origina de processos semânticos, isto é, não se origina do conteúdo convencional ou explícito da língua.

O próximo teste é o de pressuposição para o qual temos usado a assunção de Ilari (2023ILARI, Rodolfo. Introdução à Semântica: brincando com a gramática. São Paulo: Contexto . 2023., p. 85) que indica a negação da sentença para verificar a presença do fenômeno e, assim, assumimos aqui que a pressuposição tem natureza semântica. As sentenças (39) e (40) no passado são negadas a seguir:

(40) A mudança chegou ontem pela manhã.

(41) A mudança ainda não tinha chegado ontem pela manhã24 24 A negação de “A mudança já chegou” se dá com o uso de “ainda não” (cf. Gritti, 2013; Löbner, 1999), o que nos levou a realizar algumas adaptações no verbo para manter a gramaticalidade da sentença. .

Nesse caso, a informação de que a mudança chegou cedo, contrariando a expectativa de que ela não chegaria cedo, não se mantém na negação. Logo, essa leitura também não resulta de uma pressuposição, indicando que não resulta de uma inferência semântica. Para (39), isso também se verifica:

(39) Carlos aprendeu a ler.

(39’) Carlos ainda não aprendeu a ler.

Em suma, nas sentenças no passado, ‘já’ gerou somente leituras de contraexpectativa. Quando foram realizados os testes de pressuposição e de acarretamento, a fim de verificar se essas leituras resultam de processos semânticos, verificamos que não houve acarretamento e a pressuposição não se manteve, o que indica que a leitura de contraexpectativa em sentenças com o passado resulta de inferências pragmáticas.

Com verbos no futuro, ‘já’ parece assumir diferentes valores semânticos e pragmáticos:

(42) Eles estudarão.

(43) Marta se casará amanhã.

Em (42) a orientação para o futuro vem da morfologia do verbo e há ambiguidade: (i) ‘já’ parece contribuir com uma interpretação de que há um comprometimento do enunciador em relação à verdade da proposição, isto é, há uma espécie de promessa do enunciador de que o evento de ‘estudar’ ocorrerá muito em breve, isto é, bem próximo ao momento de proferimento; (ii) ‘já’ parece contribuir também com uma leitura de contraexpectativa, em alguns contextos, em relação ao evento “precoce” de estudar. Por exemplo, os filhos de Maria já têm 18 anos e uma tia que não os vê há anos se admira por eles estarem pensando em prestar vestibular. A mãe dos adolescentes diz: ‘Eles já estudarão para o vestibular, pois já estão terminando o Ensino Médio’. No teste de acarretamento temos:

(42a) Eles estudarão.

(42b) Eles estudarão

Em relação à leitura de promessa, se (42a) é verdadeiro, não é necessariamente verdadeiro que (42b), pois o falante, a mãe, por exemplo, pode enunciar (42a) se referindo aos seus filhos adolescentes, mas nem saber onde eles estão e, por isso, não poder confirmar que eles o farão, isto é, a informação da sentença (b) não está contida na informação da sentença (a). Em relação ao sentido inverso da inferência, isto é, de (b) para (a), também não há acarretamento, pois se ‘Eles já estudarão’ é verdadeira, não é necessariamente verdadeiro que ‘Eles estudarão’. Afinal, em se tratando de uma promessa, após enunciar (42b), por exemplo, o falante que é o pai de dois meninos, pode ter lembrado de um compromisso dos filhos e, assim, dar preferência a ele e nem exigir que os filhos estudem em momento posterior. Assim sendo, a leitura de promessa de (42), acima, não resulta de processos semânticos, pois verificamos nos testes que não há acarretamento de (a) para (b), nem de (b) para (a).

Em relação à leitura de contraexpectativa com o verbo no futuro, se (42a) é verdadeiro, não é necessariamente verdadeiro que (42b), pois se ‘eles estudarão’ é verdadeira, não é necessariamente verdadeiro que ‘eles estudarão antes do esperado’, pois é possível que, por exemplo, ‘eles’ se refira a pessoas com mais de 40 anos e que estejam se preparando para o vestibular, o que torna (42b), com leitura de contraexpectativa, falsa. Assim, ‘eles estudarão’ é verdadeira, mas ‘eles já estudarão’ (com leitura de precocidade do evento de ‘estudar’) é falsa. No sentido inverso, de (b) para (a), há o acarretamento, pois se é verdade que ‘eles vão estudar mais cedo do que o esperado’, também é verdade que ‘eles vão estudar’. Assim, há o acarretamento de (b) para (a), mas não de (a) para (b). No entanto, se negarmos a sentença em (b), temos uma contradição em relação a (a), pois ‘Eles estudarão’ e ‘Eles ainda não estudarão’ não podem ser ambas verdadeiras no mesmo mundo. Portanto, a leitura de contraexpectativa em sentenças no passado também não se origina de processos semânticos, isto é, não resulta do conteúdo convencional ou explícito da língua, corroborando a afirmação de que os processos envolvidos são de ordem pragmática.

No que se refere ao teste da pressuposição em que negamos as sentenças, observamos que a negação da sentença (42), isto é, ‘Eles não estudarão’, gera a leitura de que ‘eles não estudarão mais’. Nesse contexto, a ambiguidade semântica se desfaz e, por isso, as leituras de promessa e de contraexpectativa desaparecem. Logo, se as leituras de promessa e de contraexpectativa de (42) são eliminadas no teste da pressuposição, as inferências que as geram não podem ser caracterizadas como pressuposições, isto é, serem caracterizadas como processos semânticos.

Em (43), acima, há somente uma leitura de contraexpectativa, diferentemente da sentença (42). Em (43), a contraexpectativa é gerada por ‘já’ em relação ao evento de ‘casar’ e traz a leitura de precocidade para o evento. Se suprimirmos o item da sentença, como em ‘Marta se casará amanhã’, a leitura de contraexpectativa desaparece. No teste de acarretamento observamos que (43a) não acarreta (43b):

(43a) Marta se casará amanhã

(43b) Marta se casará amanhã.

Se (43a) é verdadeiro, não é necessariamente verdadeiro que (43b), pois o falante pode enunciar (43), mas o casamento não ter acontecido antes do esperado, isto é, não possuir um caráter de precocidade. Em relação ao sentido inverso, de (b) para (a), há o acarretamento, pois se é verdade que ‘Marta já se casará amanhã’, também é verdade que ‘Marta se casará amanhã’. Assim, há o acarretamento de (b) para (a), mas não de (a) para (b). No entanto, se negarmos a sentença em (b), temos uma contradição em relação a (a), pois ‘Marta não se casará amanhã’ e ‘Marta ainda não se casará amanhã’ não podem ser ambas verdadeiras no mesmo mundo. Portanto, a leitura de contraexpectativa em sentenças do futuro também não se origina de processos semânticos (pois o teste do acarretamento falhou), isto é, não resulta do conteúdo convencional ou explícito da língua, corroborando a afirmação de que os processos envolvidos são de ordem pragmática.

No que se refere ao teste da pressuposição com sentenças no futuro com leitura de contraexpectativa, observamos que ao negarmos a sentença (43) temos ‘Marta não se casará amanhã’, em que verificamos a seguinte leitura: ‘Marta não se casará mais amanhã’, a leitura de contraexpectativa desaparece. Desse modo, a leitura gerada não resulta de inferências semânticas, como a pressuposição, o que ratifica a ideia defendida aqui de que as inferências que levam a essa leitura são de natureza pragmática.

A partir de todas as análises de sentenças realizadas até aqui, corroboramos a concepção de Ilari (1997ILARI, Rodolfo. A expressão do tempo em português. São Paulo: Contexto, 1997.) e Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p.) para quem ‘já’ atua na localização temporal dos eventos. No entanto, também defendemos que esse item gera leituras de contraexpectativa e de promessa que resultam de inferências pragmáticas, aspectos não sugeridos na literatura consultada.

Conforme vimos até aqui, realizamos testes de acarretamento e de pressuposição com os verbos que geram leituras de contraexpectativa e de promessa, especificamente, no presente, passado e futuro. A partir daí, constatamos que as inferências que originam essas leituras não são semânticas. Cabe ressaltar que os imperativos não geram leituras desse tipo e, assim, não foram testados. Esse comportamento do imperativo é mais um argumento para afirmar que as leituras de contraexpectativa e de promessa oriundas das sentenças com ‘já’ nos outros tempos verbais sejam da ordem pragmática, especificamente, implicaturas, aspecto que iremos detalhar na sequência.

Grice (1975GRICE, Herbert Paul. Logic and conversation. In: COLE, Peter; MORGAN, Jerry (ed.). Syntax and Semantics 3: Speech Acts. New York: Academic Press, 1975. p. 41-58., p. 45), na Teoria da Conversação, propõe o Princípio de Cooperação. A partir desse princípio, os usuários da língua adequam suas contribuições conversacionais seguindo uma regra geral: faça sua contribuição conversacional tal como requerida, no momento em que ela ocorre, pela finalidade ou direção da situação comunicativa em que você está envolvido25 25 Grice (1975, p. 45): “Make your conversational contribution such as required, at the stage at which it occurs, by the accepted purpose or direction of the talk exchange in which you are engaged”. . A partir desse princípio, Grice (1975, p. 45-50) concebeu as Máximas Conversacionais26 26 1. Máxima da quantidade: Faça sua contribuição tão informativa quanto for necessário para os propósitos conversacionais. 2. Máxima da qualidade: Tente fazer com que sua contribuição seja verdadeira. 3. Máxima do modo: Seja claro. 4. Máxima da relevância: Seja relevante. e indica que o falante pode violá-las para informar mais do que foi dito, isto é, para além do explícito, pois ele tem uma intenção ao fazer seu proferimento. A intenção do falante é revelada pela implicatura, isto é, pelos implícitos. Assim, Grice (1975) propõe a Teoria das Implicaturas27 27 Na Teoria das Implicaturas a comunicação é o reconhecimento, por parte do ouvinte, da intenção que o falante possui com seu proferimento. e classifica as implicaturas em: convencionais (atreladas ao significado convencional do item lexical e não podem ser canceladas) e conversacionais (não dependem do significado convencional, sendo determinada pelos princípios básicos do ato comunicativo e podem ser canceladas).

A partir disso, vamos verificar se as leituras de contraexpectativa e de promessa geradas por ‘já’ são canceláveis ou não, o que permite dizer se elas são implicaturas convencionais ou conversacionais. Os testes são baseados em Grice (1975GRICE, Herbert Paul. Logic and conversation. In: COLE, Peter; MORGAN, Jerry (ed.). Syntax and Semantics 3: Speech Acts. New York: Academic Press, 1975. p. 41-58.) e em Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p.) e serão realizados para somente um dos casos discutidos acima, a sentença (42), ‘Eles estudarão’, que é ambígua e contempla as duas leituras em discussão.

Começamos a análise detalhada com a leitura de contraexpectativa da sentença (42), retomada abaixo como (44):

(44)Situação discursiva: a vizinha interpela Marta, mãe de 2 adolescentes:

Vizinha: Hoje descobri que seus filhos já estudarão para o vestibular!

Marta: Sim, eles estudarão, pois estão no final do Ensino Médio.

Implicatura: o fato de eles já estudarem contraria a expectativa.

No Fundo Conversacional Compartilhado (FCC) constam as proposições de que crianças não prestam vestibular e ‘eles’ (os filhos de Marta) têm aparência de crianças. Logo, há a expectativa de que eles não estudem tão cedo para o exame. Como essas proposições estão no FCC, quando a vizinha profere ‘eles já estudarão’, o fundo conversacional é atualizado e são eliminados todos os mundos em que eles ainda não estudarão.

A fala de Marta, ao confirmar o conteúdo semântico do proferimento da vizinha (o evento futuro de estudar), ao mesmo tempo cancela a expectativa. Assim, observa-se que Marta não compartilha certas proposições do FCC, tais como ‘eles têm aparência de criança’ e ‘eles são crianças’, o que suspende a implicatura de contraexpectativa trazida pelo ‘já’ proferido pela vizinha. Dessa forma, com o cancelamento da implicatura de contraexpectativa, comprova-se que essa leitura é uma implicatura conversacional.

Resta saber se a leitura de promessa também pode ser cancelada, o que analisaremos a seguir em (45):

(45)Situação discursiva: mãe e pai estão conversando sobre seus filhos:

Pai: Nós precisamos exigir que nossos filhos estudem mais… eles só ficam nas telas e indo em festas.

Mãe: Eles já estudarão!

Pai: Eles já estudarão, é? E por que que eles me disseram que estão saindo agora para ir a uma festa, pois há colegas lá fora esperando?

Implicatura: Prometo que eles estudarão muito em breve.

No FCC constam proposições de que os filhos do casal passam muito tempo em frente às telas; que eles gostam de ir a festas; que é importante estudar e que a mãe sempre insiste que os filhos estudem. A partir disso, a mãe se compromete28 28 As promessas se caracterizam (Anjos, 2020, p. 55) pelas intenções (i) de se comprometer e (ii) de se comunicar essa intenção. Assim, nos casos de promessas, é mais comum que os enunciadores se comprometam com os enunciados que digam respeito a si (Eu prometo que chego cedo!), mas pais, como responsáveis pelos filhos e tendo autoridade sobre eles, podem realizar promessas pelos filhos (Prometo que eles vão estudar mais!), assumindo conjuntamente esse compromisso. com a verdade da proposição ‘eles estudarão’ quando profere a sentença com ‘já’. Assim, ao proferir ‘eles estudarão’, o FCC é atualizado e são eliminados todos os mundos em que eles não estudarão. A fala do pai, ao informar que os filhos estão saindo para a festa, cancela a implicatura da promessa de que os filhos vão estudar muito em breve, pois já há colegas deles esperando lá fora. Sendo assim, a leitura de promessa também pode ser cancelada, principal propriedade das implicaturas conversacionais.

Além disso, podemos excluir a hipótese de que as leituras de contraexpectativa e de promessa sugeridas neste estudo sejam implicaturas convencionais, já que a depender do contexto em que uma sentença com ‘já’ apareça, ela gerará ou uma leitura ou outra, ou nenhuma, como no caso de sentenças no modo imperativo. Segundo Pires de Oliveira e Basso (2014, p. 149), “as implicaturas convencionais estão diretamente ligadas a itens lexicais, não deixam de acontecer e são específicas a cada item”. Como vimos, isso não ocorre com o item lexical ‘já’, pois na sentença em (42) ele pode gerar duas leituras diferentes, definidas somente a partir de um contexto específico e, ainda, ‘já’ com os imperativos não produz leituras nem contraexpectativa, nem de promessa.

A partir de todos os testes feitos, podemos afirmar que a leitura de contraexpectativa e de promessa que ‘já’ suscita em alguns contextos tem natureza pragmática e, além disso, é uma implicatura conversacional. Abaixo há um quadro-resumo (Quadro 1) do que foi realizado:

Quadro 1 -
Quadro-resumo

No que se refere à contribuição de ‘já’ no aspecto, vamos analisar as sentenças abaixo em que os verbos contrastam em termos de perfectividade e imperfectividade:

(46) João comia carne (desde pequeno).

(47) João comeu carne.

Em (46), ‘já’ não parece atuar na duração do evento ‘comer’, visto que o morfema do verbo já traz esse valor semântico. Assim, se retirarmos ‘já’ da sentença, a duração do evento no tempo não se altera: ‘João comia carne (desde pequeno)’29 29 Lewis (2019) argumenta que o ‘still’ (dual de ‘already’) se relaciona à duração (não esperada) de um estado. . Aqui, novamente, ‘já’ parece contribuir com uma inferência de contraexpectativa, pensando em algo como: ‘Nossa, João tinha um ano de idade e comia carne, que cedo!’ (contrariando a expectativa de que nessa idade ele não tivesse esse hábito). Nesse sentido, a leitura de ‘já’ não contribuiu com o aspecto nesse caso, contrariamente ao que foi afirmado na literatura30 30 Em Gritti (2013, p. 112), a autora afirma que há dois tipos de ‘já’ temporal: “[...] um operador temporal-aspectual que interfere nas condições de verdade da sentença, outro que seria o candidato a ser o dual de "ainda" e não altera [...]". O que altera seria em sentenças como "João já está cantando", em que a presença do ‘já’ informa que o hábito recém começou. . Em (47), por sua vez, a leitura é de um evento de ‘comer’ pontual, anterior ao momento de proferimento.

Consideramos agora os casos de Lopes (2003LOPES, Ana Cristina Macário. Elementos para uma análise semântica das construções com já. Razões e Emoção: Miscelânea de Estudos em Homenagem a Maria Helena Mira Mateus, Lisboa, IN-CM, v. I, p. 411-428, 2003.) em que constam as 4 classes acionais dos verbos (exemplos adaptados da autora):

(48) O gato ama a família (estado)

(49) O João correu. (atividade)

(50) A Maria construiu a casa. (accomplishment)

(51) O Paulo ganhou a corrida. (achievement)

Segundo a autora, a posição em que ‘já’ atua no aspecto é a pré-verbal e ele gera uma leitura de transição de fases. Em (48) haveria uma transição de uma fase negativa (não amar a família) para uma positiva (amar a família) com o verbo de estado ‘amar’ que denota uma situação temporária (Carlson, 1977CARLSON, Greg. A unified analysis of the English bare plural. Linguistics and Philosophy, v. 1, n. 3, p. 413-457, 1977.). Nas outras classes de verbos (Vendler, 1967VENDLER, Zeno. Linguistics in Philosophy. New York: Cornell University Press, 1967.), também ocorreria uma leitura de transição de fases: em (49), haveria duas leituras: (i) João realizava a atividade de correr, era um corredor, e agora não a realiza mais (contribuição aspectual); (ii) João já realizou essa atividade pontualmente. Já em (50) e (51), os próprios verbos ‘construir’ e ‘ganhou’ possuem em sua semântica a mudança de estado. No entanto, nossa intuição é a de que ‘já’ gera uma contraexpectativa também nesses exemplos. Sendo assim, ‘já’ não realçaria a culminação do evento ou o estado resultante subsequente à culminação afirmados por Lopes (2003LOPES, Ana Cristina Macário. Elementos para uma análise semântica das construções com já. Razões e Emoção: Miscelânea de Estudos em Homenagem a Maria Helena Mira Mateus, Lisboa, IN-CM, v. I, p. 411-428, 2003.).

Por outro lado, em Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p.) foi afirmado que no PB, ‘já’ altera a estrutura aspectual dos eventos como no exemplo ‘João está cantando’, em que o ‘já’ informa que o hábito recém iniciou, diferente do exemplo sem esse item. Porém, como foi mostrado acima, nesta seção de análise, essa leitura é de natureza pragmática, uma implicatura de contraexpectativa (uma leitura de precocidade em relação ao evento).

Finalmente, o último grupo de usos de ‘já’ caracterizado na literatura se constitui pela locução ‘já que’ e pelo item ‘já’ unindo orações. Segundo as GDs, esses elementos funcionam como uma conjunção subordinativa causal, o que se alinha à ideia de Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p.) que indica sua função conjuntiva:

(51) Maria saiu cedo que estava doente.

(52) que perdemos o ônibus, temos de ir andando para o trabalho.

Em (51) e (52), a causa do conteúdo veiculado na oração matriz (‘Maria sair cedo’ e ‘Ir andando para o trabalho’) é dada na oração subordinada (‘estar doente’ e ‘perder o ônibus’) e a expressão ‘já que’ pode ser substituída por ‘porque’, confirmando a relação causal entre as orações.

Em outro caso, ‘já’ também tem caráter conjuntivo, mas agora ligando orações coordenadas como abaixo:

(53) O gato chegou todo molhado, o cachorro chegou cheio de lama.

(54) À noite, Pedro lutava boxe, , durante o dia, dava aulas.

A leitura de ‘já’ nesses casos parece ser de adição e, assim, o item poderia ser substituído por ‘e’ e as relações de sentido entre as orações se manteriam. A partir disso, observamos que o único grupo em que não há leituras de contraexpectativa e de promessa é nos usos conjuntivos de ‘já’.

Em resumo, nos usos temporais de ‘já’, no passado, presente e futuro, foram encontradas as leituras de contraexpectativa (em que o evento aconteceu, acontece ou acontecerá mais cedo do que o esperado) e de promessa (em que há um comprometimento de que o evento ocorrerá). Descartadas as hipóteses de essas leituras serem semânticas, por meio dos testes de acarretamento e de pressuposição, foi provado que elas parecem ser pragmáticas por meio do teste da cancelabilidade, configurando, desta forma, um caso de implicatura conversacional. Essas leituras não foram encontradas em sentenças em que ‘já’ apresenta uso conjuntivo. E, com relação ao aspecto, foi mostrado que o ‘já’, contrariamente ao que afirmam Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p.) e Lopes (2003LOPES, Ana Cristina Macário. Elementos para uma análise semântica das construções com já. Razões e Emoção: Miscelânea de Estudos em Homenagem a Maria Helena Mira Mateus, Lisboa, IN-CM, v. I, p. 411-428, 2003.), não altera a duração do evento e, sim, gera as implicaturas mencionadas acima.

Considerações finais

A partir deste estudo, verificamos que as GTs se restringem a indicar ‘já’ como advérbio de tempo e locução conjuntiva causal; as GDs sugerem que o item funciona como advérbio, intensificador e locução adverbial conjuntiva; a literatura linguística, finalmente, propõe que ‘já’ tem valor temporal, aspectual e conjuntivo, elementos teóricos que utilizamos como base.

Apoiados nas considerações de Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p.), Lopes (2003LOPES, Ana Cristina Macário. Elementos para uma análise semântica das construções com já. Razões e Emoção: Miscelânea de Estudos em Homenagem a Maria Helena Mira Mateus, Lisboa, IN-CM, v. I, p. 411-428, 2003.) e Morais (2004MORAIS, Maria da Felicidade Araújo. Elementos para uma descrição semântico-pragmática do marcador discursivo “já agora”. In: SILVA, Augusto Soares da; TORRES, Amadeu; GONÇALVES, Miguel (org.). Linguagem, Cultura e Cognição: Estudos de Linguística Cognitiva. Coimbra: Almedina, 2004. p. 477-495.), que trataram do valor temporal, aspectual e conjuntivo de ‘já’, percebemos que algumas leituras suscitadas por ‘já’ não se encaixavam nessas abordagens, daí a dificuldade em analisá-las e caracterizá-las. Com o intuito de fazer isso, procuramos investigar sua natureza pragmática. Assim, verificamos que há leituras em sentenças com ‘já’ que esses autores não mencionaram31 31 Gritti (2013) citou a contraexpecativa em sua pesquisa, mas não a testou nos mais variados tempos, aspectos e modos como neste trabalho, tampouco provou com testes de que essa seria uma leitura pragmática. tais como a de contraexpectativa (em que o evento aconteceu, acontece ou acontecerá mais cedo do que o esperado) e a de promessa (em que há um comprometimento do enunciador de que o evento ocorrerá). Observamos que ‘já’ gerou tanto leituras de contraexpectativa quanto de promessa em sentenças no presente e no futuro. Em sentenças no passado, somente ocorreu a leitura de contraexpectativa.

A fim de verificar a natureza dessas leituras, se semânticas ou pragmáticas, foram realizados testes de acarretamento (verdade de A acarreta a verdade de B), de pressuposição (por meio da negação da sentença) e de implicatura (por meio da cancelabilidade). Nenhum exemplo com as leituras de contraexpectativa e de promessa foi aprovado nos testes de acarretamento e de pressuposição, mas sentenças analisadas com ambas as leituras passaram no teste default para implicaturas conversacionais, o da cancelabilidade.

Diante disso, podemos afirmar que o ‘já’ não somente altera o aspecto dos eventos, localiza eventos no tempo e liga sentenças, mas, sim, inclui uma leitura pragmática de contraexpectativa (em todos os tempos verbais do modo indicativo) e de promessa (no futuro e no presente do indicativo) tanto nos usos temporais descritos na literatura, quanto nos usos aspectuais. O único caso em que as leituras de contraexpectativa e de promessa de ‘já’ não foram observadas foi no modo imperativo.

Em vista de tudo que foi posto neste artigo, é possível propor uma definição de ‘já’ como um item que semanticamente tem valor temporal (localizando eventos na linha do tempo), aspectual (modificando o aspecto do evento) e conjuntivo (ligando orações). Pragmaticamente, ‘já’ gera implicaturas conversacionais de contraexpectativa em sentenças no passado, no futuro e no presente do indicativo e de promessa em sentenças no futuro e no presente do indicativo.

Referências

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  • AUSTIN, John Langshaw. How to do Things with Words Oxford: Clarendon Press. 1962.
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  • VENDLER, Zeno. Linguistics in Philosophy New York: Cornell University Press, 1967.
  • *
    Agradecemos a colaboração da professora Roberta Pires de Oliveira, orientadora da pesquisa de doutorado de uma das autoras, cujo trabalho serviu de base para a discussão realizada neste artigo. Também agradecemos as valiosas contribuições e sugestões dos pareceristas desta revista, dentre eles, o professor Roberlei Alves Bertucci. Quaisquer problemas remanescentes são de nossa responsabilidade.
  • 1
    A discussão realizada neste artigo nasceu em uma das oficinas do projeto de extensão “Formação continuada e desdobramentos: ensino de língua portuguesa por meio de gêneros do discurso no ensino fundamental I”, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Pato Branco.
  • 2
    Ressaltamos que analisar o uso de ‘já’ em sentenças no modo imperativo e no modo indicativo (passado, presente e futuro) é uma das inúmeras opções de análise possíveis e a escolhida neste artigo. No entanto, esse estudo também poderia ter sido conduzido a partir de outros recortes relevantes, tais como a partir de diferentes modalidades de sentenças (asseverativa, dubitativa, etc.) ou das diferentes classes acionais dos verbos, métodos que deixamos como sugestão para trabalhos futuros que poderiam complementar as contribuições dadas nesta pesquisa.
  • 3
    No banco de dados do Projeto da Norma Urbana Linguística Culta (NURC), um dos maiores banco de dados de fala do PB (Oliveira Jr., 2016OLIVEIRA Jr., M. NURC Digital: um protocolo para a digitalização, anotação, arquivamento e disseminação do material do Projeto da Norma Urbana Linguística Culta (NURC). CHIMERA: Revista De Corpus De Lenguas Romances Y Estudios Lingüísticos. v. 3, p. 149-174, 2016.), foram encontradas 8.186 ocorrências de ‘já’.
  • 4
    Em comparação aos advérbios de tempo que indicam situação absoluta, isto é, “momento ou período situado na escala do tempo” (NEVES, 2011NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Editora Unesp, 2011., p. 265), por exemplo, ‘ontem’, ‘hoje’, etc.
  • 5
    O asterisco marca uma sentença agramatical, isto é, uma sentença que não pertence à gramática daquela língua natural.
  • 6
    ‘p’ e ‘q’ aqui são consideradas orações.
  • 7
    A partir de uma entonação específica, a sentença poderia ser considerada adequada, como em: ‘Marta NÃO viajou, ficou doente’.
  • 8
    Para uma relevante caracterização de ‘já que’ nas relações de subordinação e coordenação, sugerimos Vogt ([1978] 2012VOGT, Carlos. A. Indicações para uma Análise Semântica Argumentativa das Conjunções ‘porque’, ‘pois’ e ‘já que’. Cadernos de Estudos Linguísticos, v. 1, p. 35-50, 2012 [1978].) e Cavalcante da Cunha (2008CAVALCANTE DA CUNHA, Antônio Sérgio. Algumas propostas de análise da coordenação e da subordinação a partir do comportamento das conjunções da área da causa e da explicação. Revista SOLETRAS, n. 16, p. 9-22, 2008.).
  • 9
    Há algumas divergências de julgamento em relação às sentenças. Alguns falantes do PB consideraram as sentenças felizes, especialmente, se aplicadas variações na ênfase entoacional dos itens.
  • 10
    A interrogação diante da sentença indica uma sentença inadequada ou infeliz no contexto.
  • 11
    A concepção aspectual de transição de fases já estava em Löbner (1989LÖBNER, Sebastian. German schon-erst-noch: an Integrated Analysis. Linguistics and Philosophy , v. 12, n. 2, p. 167-212, 1989.; 1999LÖBNER, Sebastian. Why German schon and noch are still duals: A reply to Van der Auwera. Linguistics and Philosophy , v. 22, n. 1, p. 45-107, 1999.) e Van der Auwera (1993VAN DER AUWERA, Johan. “Already” and “Still”: Beyond Duality. Linguistics and Philosophy , v. 16, p. 613-653, 1993.) quando os autores analisam o item ‘schön’ do alemão (Das Auto ist schön neu). Eles chamam esse processo de “pressuposição de transição de estados opostos”, mas o próprio Löbner (1989LÖBNER, Sebastian. German schon-erst-noch: an Integrated Analysis. Linguistics and Philosophy , v. 12, n. 2, p. 167-212, 1989.) afirmou que essa pressuposição não ocorre em todos os casos. Michaelis (1992) reafirma que há também essa transição de estados com o ‘already’ do inglês, porém adicionalmente ele indica que existe um elemento pragmático (contextual) nesse operador.
  • 12
    Lopes (2003LOPES, Ana Cristina Macário. Elementos para uma análise semântica das construções com já. Razões e Emoção: Miscelânea de Estudos em Homenagem a Maria Helena Mira Mateus, Lisboa, IN-CM, v. I, p. 411-428, 2003., p. 415) adapta a ideia de Carlson (1977CARLSON, Greg. A unified analysis of the English bare plural. Linguistics and Philosophy, v. 1, n. 3, p. 413-457, 1977.), que distingue predicados de indivíduos (individual level) de predicados de um estágio do indivíduo (stage level), para uma distinção de estado temporário (“viver em”) versus estado permanente (“ter olhos verdes”).
  • 13
    Vendler (1967VENDLER, Zeno. Linguistics in Philosophy. New York: Cornell University Press, 1967.) propõe a divisão dos predicados das línguas naturais em quatro classes: estado, atividade, accomplishment e achievement, também chamadas Aktionsart. Sendo os dois primeiros grupos considerados processos atélicos e os dois últimos, télicos. As atividades e os estados diferem um do outro porque os primeiros são dinâmicos, enquanto os segundos são não-dinâmicos. Os predicados de accomplishments diferem dos de achievements, por serem durativos e os últimos serem instantâneos. Essa divisão é baseada na concepção de que cada verbo toma a noção de tempo de uma maneira distinta e pressupõe um determinado esquema temporal. Desse modo, as classes acionais representam esses possíveis esquemas.
  • 14
    Se o contexto fosse mais elaborado e restrito, a sentença poderia ser aceita: “[..] João estava muito doente, mas ultimamente já está cantando. Nesse caso, também, o hábito já recém começou.”. (GRITTI, 2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p., p. 112).
  • 15
    Cabe ressaltar que a sentença (37) sem ‘já’ foi considerada estranha/infeliz por alguns falantes do PB consultados.
  • 16
    Como bem apontado por um dos pareceristas, o gerúndio (um tipo de presente) parece gerar inferências de promessa: ‘Estou pegando o ônibus’. Concordamos que a informatividade da sentença e a orientação futura do evento de ‘pegar o ônibus’ se mantém em sentenças como a anterior. No entanto, se a leitura de promessa viesse especificamente do gerúndio, a sentença ‘ estou pegando o ônibus’ não seria uma opção considerada pelos falantes de PB, o que parece não ser o caso, pois sentenças como ‘ estou pegando o ônibus’ são possíveis, aceitáveis e opções usadas pelos falantes em contextos em que a inferência de promessa emerge.
  • 17
    O aprofundamento da análise é relevante para os estudos linguísticos, mas foge ao escopo deste artigo.
  • 18
    “Promise functions more like a scientific concept such as gene than like a conventional one such as cup”.
  • 19
    Note que não estamos testando se há ou não a leitura de promessa e de contraexpectativa a partir dos testes de relações entre sentenças, como o acarretamento. Estamos, sim, verificando se essas leituras são de natureza semântica ou pragmática. Assim, o raciocínio é: se elas não passarem no teste de acarretamento, as leituras não são de natureza semântica, já que não se originam do conteúdo linguístico convencional/explícito.
  • 20
    Na literatura, “A pressupõe uma sentença B se e somente se A e os outros membros da P-família acarretam B” (Pires De Oliveira et al., 2012PIRES DE OLIVEIRA, Roberta; BASSO, Renato Miguel; SOUZA, Luisandro Mendes de; CRUZ, Ronald Taveira da; GRITTI, Letícia Lemos. Semântica. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, v.1, 2012., p. 61). Portanto, um dos testes seria operar na sentença posta, transformando-a em interrogação, negação, sentença condicional ou contexto de dúvida. Se a informação compartilhada se mantiver, ela é uma pressuposição. No entanto, dado que a literatura (Ilari, 2023ILARI, Rodolfo. Introdução à Semântica: brincando com a gramática. São Paulo: Contexto . 2023.; Moura, 2006MOURA, Heronides Maurílio de Melo. Significação e contexto: uma introdução a questões de Semântica e de Pragmática. Florianópolis: Insular, 2006.) indica que o teste da negação é válido por si, utilizamos este instrumento na análise ora realizada.
  • 21
    ‘Ainda não’, segundo Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p.), é a negação de ‘já’, e baseou-se nos estudos de Löbner (1999LÖBNER, Sebastian. Why German schon and noch are still duals: A reply to Van der Auwera. Linguistics and Philosophy , v. 22, n. 1, p. 45-107, 1999.) em que ‘noch’, no alemão, (correspondente ao ‘ainda’ no PB), tem seu dual negativo em ‘nich mehr’ (correspondente ao ‘já não mais’ no PB). Esse estudo mostrou que o PB também faz parte do esquema de dualidade encontrado para seus correspondentes em outras línguas. Fazem parte dele “schon” (do alemão), “already” (do inglês), “déjà” (do francês) com seus correspondentes ‘noch nich’, ‘not yet’, ‘pas encore’ (Löbner (1989LÖBNER, Sebastian. German schon-erst-noch: an Integrated Analysis. Linguistics and Philosophy , v. 12, n. 2, p. 167-212, 1989.; 1999LÖBNER, Sebastian. Why German schon and noch are still duals: A reply to Van der Auwera. Linguistics and Philosophy , v. 22, n. 1, p. 45-107, 1999.), Auwera (1993), Michaelis (1992MICHAELIS, Laura A. Aspect and the semantics-pragmatics interface: The case of already. Língua, v. 87, n. 4, p. 321-339, 1992.)).
  • 22
    Comparando as seguintes sentenças e alterando a posição sintática de ‘já’ verificamos uma mudança nas leituras: Nós chegamos já na sua casa/ Nós já chegamos na sua casa/ Nós chegamos na sua casa . Observamos que ‘já’ pós-verbal localiza ‘chegar’ num futuro próximo (Logo chegaremos na sua casa) e gera também a inferência de que há um comprometimento do enunciador com a verdade da proposição, há uma leitura de promessa. Na posição pré-verbal, a sentença é ambígua e ‘já’ pode localizar ‘chegar’ no passado ou no futuro (Há algum tempo, chegamos na sua casa ou Logo chegaremos na sua casa). Quando ‘já’ é suprimido, a única leitura é a de evento presente, verdadeiro no momento do proferimento (Estamos na sua casa).
  • 23
    Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p.) afirma que há uma implicatura conversacional de contraexpectativa disparada pelo “já não mais” que seria o dual (contrário) de “ainda”, mas nada trabalhou para o ‘já’, em particular. Também, Souza (2020SOUZA, Débora Granda de. O comportamento dos advérbios aspectuais ‘ainda’ e ‘já’. Revista Versalete. Curitiba, v. 8, n. 15, p. 73-96, jul.-dez. 2020., p. 89) afirma que o ‘já’ aponta, semanticamente, uma precocidade e que o item, "[...] através de uma implicatura conversacional [...] contraria as expectativas dos falantes”, mas a autora não mostra como isso acontece.
  • 24
    A negação de “A mudança chegou” se dá com o uso de “ainda não” (cf. Gritti, 2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p.; Löbner, 1999LÖBNER, Sebastian. German schon-erst-noch: an Integrated Analysis. Linguistics and Philosophy , v. 12, n. 2, p. 167-212, 1989.), o que nos levou a realizar algumas adaptações no verbo para manter a gramaticalidade da sentença.
  • 25
    Grice (1975GRICE, Herbert Paul. Logic and conversation. In: COLE, Peter; MORGAN, Jerry (ed.). Syntax and Semantics 3: Speech Acts. New York: Academic Press, 1975. p. 41-58., p. 45): “Make your conversational contribution such as required, at the stage at which it occurs, by the accepted purpose or direction of the talk exchange in which you are engaged”.
  • 26
    1. Máxima da quantidade: Faça sua contribuição tão informativa quanto for necessário para os propósitos conversacionais. 2. Máxima da qualidade: Tente fazer com que sua contribuição seja verdadeira. 3. Máxima do modo: Seja claro. 4. Máxima da relevância: Seja relevante.
  • 27
    Na Teoria das Implicaturas a comunicação é o reconhecimento, por parte do ouvinte, da intenção que o falante possui com seu proferimento.
  • 28
    As promessas se caracterizam (Anjos, 2020ANJOS, Lilian Souza dos. Por uma reflexão sobre a "promessa" nos estudos performativos. Línguas e Instrumentos Linguísticos, v. 23, n. 46, p. 51-73, 2020., p. 55) pelas intenções (i) de se comprometer e (ii) de se comunicar essa intenção. Assim, nos casos de promessas, é mais comum que os enunciadores se comprometam com os enunciados que digam respeito a si (Eu prometo que chego cedo!), mas pais, como responsáveis pelos filhos e tendo autoridade sobre eles, podem realizar promessas pelos filhos (Prometo que eles vão estudar mais!), assumindo conjuntamente esse compromisso.
  • 29
    Lewis (2019LEWIS, Diana M. Grammaticalizing adverbs of English: the case of ‘still’. Crossing Linguistic Boundaries: Systemic, Synchronic and Diachronic Variation in English, 2019.) argumenta que o ‘still’ (dual de ‘already’) se relaciona à duração (não esperada) de um estado.
  • 30
    Em Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p., p. 112), a autora afirma que há dois tipos de ‘já’ temporal: “[...] um operador temporal-aspectual que interfere nas condições de verdade da sentença, outro que seria o candidato a ser o dual de "ainda" e não altera [...]". O que altera seria em sentenças como "João já está cantando", em que a presença do ‘já’ informa que o hábito recém começou.
  • 31
    Gritti (2013GRITTI, Letícia Lemos. Ainda há o que fazer, mas já não mais aqui! Uma análise semântico-pragmática de ainda e já não mais. 2013. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, 223 p.) citou a contraexpecativa em sua pesquisa, mas não a testou nos mais variados tempos, aspectos e modos como neste trabalho, tampouco provou com testes de que essa seria uma leitura pragmática.

Editado por

Editora-chefe dos Estudos de Linguagem:

Bethania Mariani

Editores convidados:

Brenda Laca Luciana Sanchez-Mendes

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Ago 2024
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2024

Histórico

  • Recebido
    15 Nov 2023
  • Aceito
    15 Abr 2024
Programas de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal Fluminense (UFF) Rua Professor Marcos Waldemar de Freitas Reis, s/n, Bloco C - sala 518, CEP 24210-201 - Niterói, Rio de Janeiro, Brasil., Telefone +55 21 2629-2600 - Niterói - RJ - Brazil
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