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Da Bíblia à psicanálise: saúde, doença e medicina na cultura judaica

Tais fases ou períodos correspondem, aproximadamente a três modelos de pensamento que se sucederam na cultura ocidental: mágico-religioso, empírico e científico. Em cada fase ou período há uma figura polarizadora do pensamento sobre saúde e doença e da prática médica: o sacerdote, o rabino, o filósofo, o médico com formação científica, codificada.

As idéias prevalecentes em cada fase são examinadas com base em textos tradicionais, além de textos filosóficos, científicos, literários, bem como elementos do folclore. Particular atenção é dada à figura de Sigmund Freud não apenas por sua interpretação psicanalítica da trajetória judaica, como também, e principalmente, porque sua própria evolução científica e intelectual reproduz, em sentido inverso, a trajetória descrita.

Moacyr J. Scliar

Tese de doutoramento, 1999

Escola Nacional de Saúde Pública

Rua Santa Cecília, 2129

90420-041 Porto Alegre — RS Brasil

A psicanálise e a clínica da reforma psiquiátrica

O tema da dissertação é a contribuição da psicanálise na clínica da reforma psiquiátrica brasileira. Baseado em sua experiência de trabalho no Ambulatório do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Arthur Bispo do Rosário, o autor discute a prática clínica levada a cabo em diferentes contextos da reforma, procurando localizar os modos pelos quais a psicanálise contribuiu, dando sustentação clínica e teórica à proposta de se levar em consideração o sujeito assistido. A reforma psiquiátrica tem como marco inaugural o momento em que se coloca no centro das reformulações almejadas o resgate da cidadania do louco. Como se desenvolve, então, uma clínica que tem na cidadania seu valor organizador? No primeiro capítulo, abordam-se a história recente e as definições fundamentais da reforma psiquiátrica. No segundo, busca-se formalizar os elementos mínimos de uma clínica da reforma através de uma revisão da literatura constitutiva do campo. No terceiro, mostra-se o trabalho no Ambulatório do IPUB-UFRJ. No quarto, apresenta-se o CAPS Arthur Bispo em seu esquema geral de funcionamento e se relata um caso clínico que mobilizou os diversos recursos da atenção psicossocial. No quinto, abordam-se três eixos: o estatuto de verdade conferido pela psicanálise ao delírio, único indicador de por onde se deve conduzir a cura; o manejo da transferência nos espaços coletivos, através de ilustrações clínicas. Aponta-se aí que, em qualquer contexto, a psicanálise visa mudar a relação do sujeito com seu ato, destacando-se a importância para o psicótico da atividade criacionista desenvolvida nas oficinas. Propõe-se que a psicanálise não deve visar a cidadania; deve, aliás, se opor a duas acepções possíveis dela: a cidadania do doente mental definida por parâmetros universais ou apriorísticos de pertencimento ou inserção social, e o cidadão como aquele que apenas reivindica seus direitos. Sem negar os direitos do cidadão, a psicanálise propõe que o sujeito deve estar em posição de trabalho, construindo singularmente sua cidadania. Embora não a busque diretamente, a psicanálise pode ter como efeito a cidadania pela combinação de seus efeitos terapêuticos (amenizar o aniquilamento subjetivo do psicótico pelo Outro) e de sua ética (convocar o sujeito à sua responsabilidade).

Fernando Ribeiro Tenório

Dissertação de mestrado em

ciências da saúde e saúde mental

novembro de 1999

Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB-UFRJ)

Rua Embaixador Carlos Taylor 95,

bloco 1, ap. 602

22451-080 Rio de Janeiro – RJ Brasil

nandotenorio@openlink.com.br

Médicos, psicanalistas e loucos: uma contribuição à história da psicanálise no Brasil

O trabalho tem como objeto a constituição e o desenvolvimento do campo psicanalítico no Brasil do início do século XX até o começo da década de 1980. O autor focaliza os processos de institucionalização e profissionalização da psicanálise, sem se deter na epistemologia do saber analítico como disciplina. Incorporada inicialmente à vertente psiquiátrica da medicina, a psicanálise no Brasil foi durante longo tempo um território dominado quase que exclusivamente por médicos. Esta modalidade de incorporação do discurso psicanalítico marcou profundamente sua trajetória e imagem em nosso meio, gerando efeitos que continuam atuantes, ainda que não tenham sido suficientemente mapeados.

Importa ressaltar que, no Brasil, durante as décadas de 1920 e 1930, são numerosas as referências à aplicação das idéias de Freud em áreas como medicina, direito, educação, literatura e artes plásticas, ente outras. A psicanálise era vista como acessível a todos os que por ela se interessassem. Estavam, portanto, abertas as suas portas a diferentes categorias profissionais, bem como a diversas óticas sobre a sua utilização no campo social. A institucionalização preconizava a posse de um diploma de medicina como condição para o ingresso no processo de formação de maneira a restringir não só o mercado psicanalítico, como também as possibilidades de sua utilização e desenvolvimento. Tornaram-se então limitadas as múltiplas aplicações que poderiam derivar de um diálogo mais intenso com tradições disciplinares diferentes.

Orientada pela sociologia das profissões e pelos estudos de Robert Castel e Pierre Bourdieu, a dissertação busca identificar os canais de difusão inicial da psicanálise no país, bem como os elementos que concorreram para a exclusão temporária de outras categorias profissionais do universo da psicanálise como profissão.

Sem pretender minimizar aspectos intrínsecos à teoria e prática psicanalíticas, reduzindo a questão a condicionantes externos, a pesquisa parte do pressuposto de que a compreensão das circunstâncias que levaram à referida exclusão deve considerar também o ambiente cultural e os interesses que agiram e agem ainda no interior do campo psicanalítico.

O trabalho descreve também a participação da Associação Psicanalítica Internacional na etapa de institucionalização da psicanálise no Brasil, procurando verificar seu papel na constituição da legitimidade e autonomia das sociedades a ela vinculadas frente ao Estado e outras áreas do conhecimento.

Carlos Fidelis da Ponte

Dissertação de mestrado, 1999

ENSP/Fiocruz

Pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz

Rua Nascimento Silva, 66/206

22421-020 Rio de Janeiro — RJ Brasil

ponte@fiocruz.br

Solidariedade: uma abordagem teórica dos vínculos sociais modernos

Esta dissertação discute alguns significados atribuídos à solidariedade. Privilegiei aqueles em que mais fortemente se verifica a preocupação com o tema do amparo e da justiça social. Por esse motivo, estive atento aos intelectuais que podem ser situados em uma corrente de pensamento voltada para os temas da democracia, incorporação e coesão social.

A meu ver, o problema da falta de coesão social está relacionado a três frentes: o declínio da consciência social da história e da vida coletiva; o desequilíbrio entre as dimensões pública e privada da vida em sociedade; e o declínio dos sistemas e instituições de amparo e assistência social nas sociedades ocidentais modernas. Tento mostrar que estes diferentes enfoques estão, na verdade, inter-relacionados. É da conjunção entre as idéias de solidariedade no espaço e no tempo que parece surgir a possibilidade de uma forte coesão na vida em sociedade.

Carlos Henrique Assunção Paiva

Dissertação de mestrado em Saúde Coletiva

Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ)

Rua São Francisco Xavier, 524, Pavilhão João Lira Filho, 7º andar, Bloco D-E 20550-013

Rio de Janeiro — RJ Brasil

Parahyba: uma cidade entre miasmas e micróbios. O serviço de higiene pública: 1895-1918

Procurando resposta à pergunta: quando e como se deu na cidade da Paraíba o processo de organização do Serviço de Higiene Pública, deparamo-nos com informações deveras interessantes e inéditas. A inexistência de obras a respeito do assunto e minha confessa paixão por escrever sobre o tema levaram-me ao compulsivo trabalho detetivesco de juntar retalhos da história dispersos em jornais já desgastados pelo tempo e em arquivos pouco valorizados por nossos governantes.

Na historiografia brasileira sobre a saúde pública, sobretudo aquela relativa ao período 1889-1930, alguns autores têm sido criticados por reproduzirem, à revelia das singularidades regionais/locais, o cenário típico das cidades inglesas à época da revolução industrial. Além de reificarem conceitos utilizados por Michel Foucault, sobretudo a tríade cidade-questão social-doença, reduziram o Brasil às cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, retirando dos demais espaços urbanos o direito de possuírem história.

Alguns historiadores paraibanos sugerem que o serviço sanitário na Paraíba tenha sido inaugurado em 1921 com a instalação da Comissão de Higiene e Profilaxia Rural, que iria atuar conforme o modelo tecno-assistencial médico-sanitário vigente a partir da década de 1920. Do geral ao particular, nada se dizia a respeito da existência de um serviço sanitário com as características do campanhismo e da polícia sanitária, como os que passaram a figurar em cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo após a proclamação da República.

Observamos que, desde meados do século XIX, as elites locais encetaram um apelativo discurso sobre a necessidade de um serviço de higiene, de modo a mostrar que a cidade da Paraíba já fazia jus à civilização e ao progresso. Esse discurso torna-se mais enfático na década de 1880, atravessa a proclamação da República, vigorando até a década de 1910. Permeavam este discurso as febres e a varíola, sob a forma de metáforas, justificando a organização de um serviço sanitário que erradicasse as fossas fixas e os pântanos de onde se desprenderiam os miasmas responsáveis pelas febres. Os bacharéis locais, já entusiasmados com a ciência de Pasteur, símbolo do progresso, defendiam a existência desse serviço para combater a varíola através da vacinação e revacinação. Vale salientar que esse discurso tinha como alvo principal os retirantes que fugiam da seca e se abrigavam na capital. Eles eram responsabilizados por enfear a cidade e disseminar as pestes entre seus moradores.

Na cidade da Paraíba, atendendo ao modelo campanhista e policial hegemônico na época, o Serviço de Higiene Pública foi instituído nominalmente pelo decreto nº 53, de 30 de março de 1895. Pelo visto, surgiu para atender mais às determinações do decreto nº 169 de 18 de janeiro de 1890, que reorganizou o Serviço Terrestre da República, do que ao merecido desejo de seus habitantes de habitar uma Salentum. A grande epidemia de varíola de 1907 levou as autoridades locais a organizar o referido serviço. Assim, as bexigas tabocas e lixas enquanto cegavam uns, abriam, muito devagar, os olhos das autoridades da terra. Passados quatro anos, em 1911, o decreto 494 de 8 de junho de 1911 determinou a instituição de "uma repartição central subordinada ao poder executivo estadual, compreendendo a Diretoria Geral e as seções anexas sob sua dependência: (a) a seção de desinfecção, (b) hospitais de isolamento e (c) a estatística demógrafo-sanitária".

O Serviço de Higiene Pública emergiu em nossa capital no momento em que o grupo oligárquico de base familiar Neiva-Pessoa-Lucena retomava o poder no estado, na década de 1910, tirando de cena o grupo Machado-Leal, que dirigia a política local desde 1892. O grupo Neiva-Pessoa-Lucena, entretanto, nada tinha de novo. Seu representante maior, Epitácio Pessoa, assim como Venânio Neiva figuraram como expoentes políticos na proclamação da República e, em seguida, no governo do estado. A década de 1910 trazia-os de volta ao poder. Implantar a ordem, tendo como desculpa o progresso, requeria, entre outros meios, um serviço de saúde com características policialescas e repressoras que, além de combater epidemias, auxiliasse também a sanear os odores dos ditos "tempos da anarquia", nada agradáveis às narinas dos "novos oligarcas".

Lenilde Duarte de Sá

Tese de doutoramento, 1999

Programa de Pós-Graduação Interunidades em Enfermagem da Escola de

Enfermagem de Ribeirão Preto

Rua Maestro Osvaldo E. Costa, 473

58028-150 João Pessoa — PB Brasil

iazul@openline.com.br

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Maio 2006
  • Data do Fascículo
    Fev 2000
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