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O fator de impacto do JBCS: expectativas e esperanças

EDITORIAL

O fator de impacto do JBCS: expectativas e esperanças

Na moderna era digital, junho é um mês de ansiedade para todos os envolvidos com publicações científicas. Esse é o momento da divulgação, pelo Journal Citation Reports, dos novos fatores de impacto e, certamente, queremos voar em céu de brigadeiro. Expectativas e esperanças podem ser um fator de motivação; contudo, podem representar uma fonte de frustração e desilusão.

Para a ciência é importante ter dados quantitativos e, frequentemente, Lorde Kelvin é citado pela afirmação: "Eu costumo dizer que quando você pode medir o que está falando e expressá-lo em números, você sabe algo sobre o assunto; mas quando você não pode expressá-lo em números, seu conhecimento é considerado escasso e insatisfatório; pode ser o início do conhecimento, mas seus pensamentos ainda não atingiram o estágio científico, não importa qual seja a questão."

A maioria de nós, com uma formação em ciências exatas e trabalhando na área, tende a concordar com essa visão, mas é claro que temos que ser cuidadosos na avaliação de números e na compreensão da história que está por trás deles. Por outro lado, em química analítica, fomos treinados para entender que todos os dados contêm erros e que devemos nos empenhar para melhorá-los.1 Assim, vamos fazer um exercício sobre o fator de impacto - FI - do Journal of the Brazilian Chemical Society.

A partir de 2008 e até 2012, os fatores de impacto do JBCS evoluíram da seguinte forma: 1,438, 1,458, 1,334, 1,434 e 1,283. O que você vê: um copo com água até a metade ou um copo meio vazio? Estamos paralisados? Para onde estamos indo?

Contudo, um ponto muito importante a destacar é que a quantidade de artigos publicados no JBCS aumentou 20% a partir de 2010 em consequência da mudança de periodicidade para um fascículo por mês, o que, certamente, tem um forte impacto em qualquer variável intimamente relacionada a esse parâmetro.2

Combinando esses dados, podemos afirmar que o FI do JBCS diminuiu somente 10% apesar do aumento de 20% na quantidade de artigos publicados. Vale a pena lembrar que o FI de 2012 é calculado pela divisão da soma de citações de artigos publicados nos anos de 2010 e 2011 pelo total de artigos publicados nesses dois mesmos anos, ou seja, 766/597. À guisa de comparação, em 2009, tivemos 571/428. Em outras palavras, o número de citações aumentou 34%, apesar de o número de artigos publicados ter subido 39% nesses dois períodos.

Parece que estamos suprindo as necessidades de nossa comunidade quanto à crescente demanda por publicação de artigos de alta qualidade sem afetar negativamente o impacto do JBCS. Um notável ponto favorável é que chegamos a esse impacto com apenas 8% de autocitações. É uma boa indicação da nossa saúde e pode até mesmo ser considerado um percentual muito baixo.

Apesar de concordar com Lorde Kelvin, é importante salientar que todos os indicadores têm pontos positivos e negativos. Valem a pena os esforços para ter indicadores simples de avaliação de resultados científicos e econômicos; no entanto, cada um deles tem suas fraquezas particulares e mostra apenas um lado da moeda. Por exemplo, é sabido que, mesmo para os periódicos científicos já consolidados, as citações estão relacionadas a um número relativamente reduzido de artigos.

Um editorial da revista Nature de 2005 enfatizou que "o artigo mais citado da Nature no período 2002-03 foi sobre o genoma do rato, publicado em dezembro de 2002. Esse artigo representa o ponto culminante de um grande empreendimento; contudo é, inevitavelmente, um importante ponto de referência ao invés da expressão de um insight mecanicista extraordinariamente profundo. Até agora já recebeu mais de 1000 citações... Nosso próximo artigo mais citado de 2002-03 (sobre a organização funcional do proteoma de levedura) recebeu 351 citações naquele ano. Apenas 50 de aproximadamente 1800 artigos citáveis publicados naqueles dois anos receberam mais de 100 citações em 2004. A grande maioria dos nossos artigos recebeu menos de 20 citações.

Esses números refletem quão fortemente o fator de impacto é influenciado por uma pequena minoria de artigos - sem dúvida em menor grau nos periódicos mais especializados, mas com significativa influência. Entretanto, estamos tão satisfeitos com o valor de nossos artigos na 'cauda longa' quanto com o dos trabalhos mais citados."3

Quando citado esse editorial na Wikipedia, destacou-se que "... cerca de 90% do fator de impacto de 2004 da Nature foram baseados somente em um quarto de seus artigos e, portanto, a importância de qualquer um dos artigos será diferente e, na maioria dos casos, menor do que o número global."

Então, pense novamente e aprofunde sua análise. Sem dúvida queremos seguir em frente, mas também queremos continuar caminhando em uma estrada segura. A jornada é longa e o ponto de chegada depende muito do seu apoio contínuo. Somos muito gratos por todos os seus esforços e contamos com eles!

Joaquim A. Nóbrega

Editor do JBCS

Watson Loh

Editor do JBCS

Referências

  • 1. Senise, P. E. A.; Quim. Nova, 1983,6,112.
  • 2. Nóbrega, J. A.; Hatje, V.; J. Braz. Chem. Soc. 2013,24,1.
  • 3. Nature, 2005,435,1003.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Ago 2013
  • Data do Fascículo
    Ago 2013
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