Resumo
Introdução: Sintomas e infecções do trato urinário têm sido associados a fatores ocupacionais que afetam hábitos de hidratação, particularmente em mulheres. Comparamos sintomas e infecções urinárias autorrelatados e hábitos de hidratação entre técnicas de enfermagem e outras ocupações em unidades de diálise.
Métodos: Estudo transversal. As participantes trabalhavam em cinco centros de nefrologia no Brasil e responderam um questionário online contendo perguntas sobre sintomas do trato urinário e episódios de infecção no ano anterior; também foram coletados dados sobre a ingestão diária habitual de bebidas, frequência e cor da urina de acordo com uma tabela de cores da urina, assim como percepções sobre o acesso à água e adequação das instalações sanitárias no trabalho.
Resultados: Incluímos 133 mulheres (idade=36,9±9,5 anos). Em média, as participantes relataram ingestão de bebidas de 6,6±2,9 copos/dia (~1320 mL), frequência urinária de 5,4±2,1 vezes/dia e escore da tabela de cores da urina de 3,0±1,2. Técnicas de enfremagem (N=66/49,6%) relataram maior prevalência de sensação de ardor (50 versus 27%; P<0,001), urgência urinária (42 versus 21%; P<0,001), e infecção (42% versus 25%; P=0,04), bem como menor ingestão de líquidos (6,0±2,6 versus 7,3±3,0 copos/dia; P=0,01) do que controles. Quarenta e quatro por cento das técnicas de enfermagem relataram poder beber quando têm sede "sempre" e "na maioria das vezes" contra 93% do grupo controle.
Conclusão: Técnicas de enfermagem de unidades de diálise relataram menor ingestão de bebidas e maior prevalência de sintomas e infecção do que outras ocupações no mesmo ambiente de trabalho. Intervenções para melhorar a hidratação podem diminuir problemas urinários nesta população.
Descritores: Técnicas de Enfermagem; Hidratação; Infecções Urinárias; Sintoma do Trato Urinário; Comportamentos Relacionados com a Saúde; Saúde do Trabalhador
Abstract
Introduction: Urinary tract symptoms and infection have been associated with occupational factors that impact hydration habits particularly in women. We compared self-reported urinary symptoms and infection and hydration habits between nurses and other occupations in dialysis units.
Methods: Cross-sectional study. Participants worked in five nephrology centers in Brazil and answered an online questionnaire comprising questions regarding urinary tract symptoms and infection episodes in the preceding year; data on usual daily beverage intake, urine frequency, and urine color according to a urine color chart were also collected, as well as perceptions of water access and toilet adequacy at work.
Results: We included 133 women (age=36.9±9.5 years). The self-reported usual daily beverage intake was 6.6±2.9 cups/day (~1320 mL), daily urine frequency was 5.4±2.1, and urine color chart score: 3.0±1.2. Nurses (N=66/49.6%) reported higher prevalence of burning sensation (50 versus 27%; P<0.001), urinary urgency (42 versus 21%; P<0.001), and infection (42% versus 25%; P=0.04) as well as lower liquid intake (6.0±2.6 versus 7.3±3.0 cups/day; P=0.01) than controls. Forty four percent of nurses reported being able to drink when thirsty "always" and "most of the time" versus 93% of the control group.
Conclusion: Dialysis female nurses reported lower beverage intake and higher prevalence of symptoms and infection than other occupations in the same environment. Interventions to improve hydration can potentially decrease urinary problems in this population.
Keywords: Nurses; Hydration; Urinary Tract Infection; Urinary Tract Symptom; Toilet Behavior; Occupational Health
Introdução
Na prática, permanecer bem hidratado significa consumir água suficiente durante o dia e esvaziar a bexiga sempre que necessário1. Embora aparentemente simples, a hidratação humana é complexa e é influenciada por fatores fisiológicos, dietéticos, metabólicos, ambientais e comportamentais2.
Nos últimos anos, a relação entre hidratação e diversos problemas de saúde tem ganhado cada vez mais atenção. Os sintomas e a infecção do trato urinário têm sido associados à diminuição da ingestão de água e a comportamentos insalubres de utilização de banheiros, particularmente em mulheres3,4.
Enquanto os sintomas urinários podem comprometer a qualidade de vida e a produtividade5, as infecções do trato urinário estão associadas a elevadas prescrições de antibióticos6 e a um risco maior de patógenos urinários resistentes a estes medicamentos7.
Embora ainda pouco explorado entre mulheres que trabalham, investigações mostraram uma prevalência maior de problemas urinários em professoras8, funcionárias de olarias9, trabalhadoras rurais9, profissionais de salas estéreis3, e, especialmente, profissionais de enfermagem4,10,11. Fatores ocupacionais ligados a distúrbios urinários incluem atividades altamente exigentes, falta de intervalos, instalações sanitárias ausentes ou precárias, uso de roupas especiais, ambientes quentes e restrições do empregador3,8-13. Entre as restrições, a impossibilidade de utilização de garrafas de água em salas de hemodiálise devido aos regulamentos de controle de infecção e a impossibilidade de deixar os pacientes desacompanhados são regras comuns em unidades de diálise. Embora este tópico não tenha sido explorado nestes contextos, hipotetisamos que estes regulamentos podem impactar nos hábitos de hidratação e em problemas urinários em técnicas de enfermagem de unidades de diálise.
Neste estudo transversal multicêntrico, comparamos a prevalência de sintomas e infecções urinárias autorrelatados e marcadores de hidratação entre técnicas de enfermagem de diálise e outras ocupações que compartilham o mesmo ambiente de trabalho.
Métodos
Participantes e contexto
Todas as funcionárias que trabalhavam em cinco centros de nefrologia localizados em quatro cidades do estado de Santa Catarina foram convidadas a participar (n=258). Esta análise incluiu funcionárias empregadas por pelo menos 12 meses que não estiveram grávidas ou amamentando no último ano e com turnos de trabalho semanais variando entre 30 a 42 horas em cinco ou seis dias por semana. Dividimos nossa população em dois grupos: o de técnicas de enfermagem e o controle. A equipe de enfermagem era composta por funcionárias que exerciam suas atividades em salas de diálise. Sua jornada de trabalho de 7,5 horas incluía dois intervalos para refeições (com duração de 15 e 30 min). Sanitários e pontos de disponibização de água estavam disponíveis fora das salas de diálise (devido aos regulamentos de controle de infecção, não são permitidas garrafas de água nas salas de tratamento dialítico). Devido à assistência ao paciente, as técnicas de enfermagem não podem sair das salas de diálise para intervalos extras a fim de beber água ou usar o banheiro sem a presença de um substituto.
O grupo controle era composto por pessoal administrativo e multidisciplinar que tem permissão para ter garrafas de água em seus postos de trabalho. Embora alguns funcionários da equipe multidisciplinar passem parte do dia nas salas de diálise, eles possuem uma estação de trabalho fora dessas salas, na qual são permitidas garrafas de água. Tanto a equipe administrativa quanto a multidisciplinar têm dois intervalos para refeições (15 min e 1 hora) e não precisam de um substituto para ir ao banheiro ou encher sua garrafa de água sempre que desejarem. Seu turno de trabalho varia de 6 a 8,5 horas/dia.
Questionário
Após aprovação pelo Comitê de Revisão Institucional, as funcionárias receberam um convite por e-mail ou por aplicativo de mensagens para participar de um questionário online anônimo formulado pelos pesquisadores. As participantes receberam informações por escrito sobre o estudo na primeira página da pesquisa, e a participação foi considerada como consentimento implícito. O questionário incluía perguntas sobre dados demográficos e características do trabalho, ingestão diária habitual de líquidos (em copos/dia), frequência diária habitual de micção, e cor usual da urina de acordo com a tabela de cores da urina. As participantes também responderam se tiveram (e se tiveram, com que frequência) algum dos seguintes sintomas do trato urinário nos últimos 12 meses: sensação de ardor, vontade frequente ou intensa de urinar, urina com sangue e dor na parte inferior do abdome. Para análise, consideramos qualquer resposta positiva como tendo um sintoma do trato urinário para comparação com participantes com respostas negativas. A ocorrência de episódio relatado de infecção do trato urinário (cistite) foi avaliada separadamente. Também perguntamos: No trabalho, você tem a possibilidade de consumir líquidos quando sente sede? No trabalho, você evita tomar líquidos para não precisar ir ao banheiro? As cinco respostas possíveis para ambas as perguntas eram: sempre, na maioria das vezes, às vezes, raramente, e nunca. Agrupamos "sempre" e "na maioria das vezes" para comparação em relação às outras três opções.
As percepções das participantes quanto à distância do posto de trabalho até uma fonte de água potável, bem como sobre a quantidade, a higiene e a distância das instalações sanitárias também foram investigadas. As três respostas possíveis foram: favorece a hidratação, não favorece nem dificulta a hidratação ou dificulta a hidratação. Agrupamos as duas primeiras respostas para análise comparativa.
Análise estatística
As variáveis foram relatadas como médias e desvio padrão, medianas e intervalos interquartis ou como porcentagens, conforme apropriado. O teste t foi usado para comparar grupos onde as variáveis apresentavam distribuição normal; caso contrário, foi usado o teste de Mann-Whitney. Os testes Qui-quadrado ou exato de Fisher foram realizados para comparar as distribuições. O IBM SPSS Statistics para Windows versão 21.0 foi usado para analisar os dados. Valores de P < 0,05 foram considerados significativos.
Resultados
Dos 258 convites enviados às colaboradoras, recebemos formulários preenchidos de 179 (69,4%). Excluímos quarenta e seis formulários devido aos critérios de elegibilidade. A amostra final incluiu 133 funcionárias (66 técnicas de enfermagem e 67 controles). As técnicas de enfermagem eram mais jovens que as participantes do grupo controle e tinham menos tempo de empresa. Entre os marcadores de hidratação, as técnicas de enfermagem relataram uma ingestão total de líquidos menor. Uma menor frequência de micção e um escore de coloração da urina mais alto foram reportados pelas técnicas de enfermagem, mas não diferiram significativamente dos controles. Noventa e três por cento dos controles relataram poder consumir líquidos quando têm sede no trabalho sempre ou na maioria das vezes, em comparação com menos da metade das técnicas de enfermagem (Tabela 1).
Comparações das principais características e comportamentos de hidratação entre técnicas de enfermagem e controles (N=133)
Com relação aos sintomas e infecção urinária autorrelatados no ano anterior, as técnicas de enfermagem apresentaram uma prevalência maior de sensação de ardor, urgência urinária e infecção em comparação com os controles (Figura 1).
Prevalência autorrelatada de sintomas e infecção do trato urinário nos 12 meses anteriores entre técnicas de enfermagem e controles.
Nossa análise dos marcadores de hidratação autorreportados mostrou que as participantes que relataram pelo menos um sintoma (N=70 / 53%) apresentaram uma menor frequência de micção (5,0±2,3 versus 5,8±1,8 vezes/dia; P=0,04) e um escore de cor de urina mais elevado (3,3±1,2 versus 2,6±1,1; P=0,002) comparadas às sem sintomas.
Em relação à infraestrutura do local de trabalho, quase metade das técnicas de enfermagem (47%) considerou a distância até a fonte de água potável um obstáculo à hidratação, em comparação com apenas 7% do grupo controle (P<0,001). A distância do banheiro também foi considerada uma barreira por um número maior de técnicas de enfermagem (33 versus 13%; P=0,007). As percepções quanto ao número de banheiros disponíveis e à higiene não diferiram entre os grupos (Figura 2).
Percepções da infraestrutura de trabalho em relação ao abastecimento de água potável e adequação dos banheiros em técnicas de enfermagem e controles.
A análise do impacto das percepções do ambiente de trabalho sobre os problemas urinários mostrou associações significativas apenas no grupo de estudo. As participantes que consideraram a distância à fonte de água potável uma barreira à hidratação adequada tiveram uma prevalência maior de sintomas (77% versus 54%; P=0,04). Um resultado semelhante foi observado em relação à distância do banheiro. Quase todas as técnicas de enfermagem (92%) que consideraram este fator uma barreira apresentaram algum sintoma enquanto apenas 47% entre as que não tiveram essa percepção (P<0,001). Além disso, as que responderam que a higiene dos banheiros prejudicava a hidratação tiveram uma prevalência maior de infecção (86% versus 37%; P=0,03).
Discussão
Os resultados desta pesquisa transversal revelaram que as técnicas de enfermagem de unidades de diálise reportaram um menor consumo hídrico e uma maior prevalência de sintomas e infecção do trato urinário do que colegas de trabalho em outras ocupações que compartilhavam o mesmo ambiente.
Embora a necessidade de água varie de acordo com metabolismo individual, clima e nível de atividade física, uma ingestão total de 2.700 mL/dia de todas as fontes dietéticas é recomendada para mulheres adultas14. Como 20-25% da ingestão hídrica é proveniente dos alimentos, um consumo de líquidos de aproximadamente 2000 mL por dia é considerado adequado, quando a temperatura do ambiente está ameno. Portanto, embora as técnicas de enfermagem tenham relatado uma ingestão usual de líquidos menor que o grupo controle (~1200 contra ~1450 mL/dia), o consumo em ambos os grupos requer aumento. Outras investigações com equipes de enfermagem reportaram uma ingestão média de 4 copos em um turno de 8h13 bem como uma ingestão total de líquidos abaixo de 2000 mL/dia em 86% das participantes10.
Como as participantes do presente estudo compartilhavam da mesma infraestrutura, os fatores relacionados ao trabalho possivelmente associados à menor ingestão de líquidos pelas técnicas de enfermagem, além da falta de garrafas de água nos postos de trabalho, inclui a exigência de um substituto, o que torna desafiador deixar o local de trabalho fora dos intervalos pré-determinados. De fato, apenas 44% das técnicas de enfermagem relataram ser capazes de consumir líquidos quando têm sede "sempre" e "na maioria das vezes" contra 93% do grupo controle.
Uma menor ingestão de líquidos aumenta a concentração da urina e diminui a frequência de micções. Assim, os marcadores urinários também são usados para avaliar o estado de hidratação. Uma frequência urinária de 24 horas superior a 6 micções e um escore de cor da urina ≤ 3 estão associados a uma melhor hidratação15,16. Nesta amostra, a média de frequência de micção de 5,4 ± 2,1 e o escore de coloração da urina de 3,0 ± 1,2 refletiram a baixa ingestão de líquidos reportada. Além disso, os marcadores urinários (frequência e cor) foram associados com os sintomas.
Quarenta e dois por cento das técnicas de enfermagem relataram pelo menos uma infecção do trato urinário no ano precedente. Investigações anteriores de infecção do trato urinário em profissionais de enfermagem usaram métodos diferentes, dificultando a realização de comparações. Em um estudo transversal, Bendtsen et al. (1991)11 encontrou que 16% das enfermeiras apresentavam sintomas que poderiam ser atribuídos à cistite. Entre 636 enfermeiras chinesas que responderam a um questionário, 23% relataram um histórico de infecção do trato urinário10. No entanto, nenhum dos estudos teve um grupo controle. Nossa busca na literatura revelou apenas um estudo que também utilizou um grupo controle para comparar a ocorrência de sintomas do trato urinário inferior (STUI) entre enfermeiras e secretárias que trabalhavam no mesmo hospital; no entanto, esse estudo não incluiu a infecção do trato urinário. Embora houvesse diferenças significativas nas condições de trabalho, os autores relataram uma prevalência semelhante de STUI em ambos os grupos17.
Embora todas as funcionárias participantes compartilhassem a mesma infraestrutura, sua percepção a respeito da distância de seu local de trabalho até uma fonte de água potável e dos banheiros diferiu significativamente. A distância da fonte de água foi considerada uma barreira à hidratação adequada por 47% das técnicas de enfermagem e por apenas 7% dos controles. Acreditamos que o ritmo da atividade laboral e a impossibilidade de possuir uma garrafa de água no posto de trabalho são motivos para este achado. Em relação à distância do banheiro, 33% das técnicas de enfermagem a consideraram uma barreira contra 13% dos controles. A incapacidade de sair das salas de diálise a qualquer momento pode ter influenciado esta percepção. O número de banheiros foi considerado adequado por cerca de dois terços e a higiene foi considerada adequada pela maioria das participantes de ambos os grupos.
As percepções de adequação da infraestrutura de trabalho foram associadas à presença de sintomas e infecção urinária somente no grupo de estudo. Aquelas que consideraram a distância até o abastecimento de água ou instalações sanitárias uma barreira à hidratação adequada apresentaram uma maior prevalência de sintomas urinários do que as participantes com percepções diferentes (77 versus 54%; P=0,04 e 92 versus 47%; P<0,001, respectivamente). Além disso, embora apenas 11% das técnicas de enfermagem considerassem a higiene sanitária um obstáculo à hidratação, 87% dessas funcionárias relataram um ou mais episódios de infecção do trato urinário no ano anterior, enquanto a proporção correspondente entre as participantes que não percebiam a higiene sanitária como um obstáculo foi de 37%.
Em um estudo chinês, o número limitado de banheiros, condição de higiene e a inacessibilidade foram preditores de comportamentos insalubres, sendo o mais prevalente o retardamento da micção10.
Pierce et al. (2019)18 realizaram uma exploração qualitativa das experiências envolvendo sintomas urinários de enfermeiras e parteiras no ambiente de trabalho por meio de discussões em grupos focais. As participantes relataram atraso na micção devido a uma cultura de trabalho de "atenção ao paciente em primeiro lugar" em detrimento do autocuidado, relacionamentos na equipe de enfermagem, exigências da função de enfermagem e inadequação das instalações sanitárias do local de trabalho. As barreiras incluíam a distância e número inadequado de banheiros, além da relutância em usar instalações com falta de privacidade ou higiene. O esvaziamento voluntário da urina não é apenas um processo fisiológico, é também influenciado por fatores psicológicos, socioculturais e ambientais. A privacidade, segurança, limpeza e conforto dos banheiros públicos são importantes para muitas mulheres19.
Com base nos nossos resultados e em achados anteriores, estratégias para promover melhores hábitos sanitários e de hidratação entre as funcionárias, especialmente em equipes de enfermagem, são imperativas para diminuir o risco de problemas urinários e suas consequências adversas relacionadas à saúde e ao trabalho. A "cultura do paciente em primeiro lugar" sem uma abordagem adequada que fomente o autocuidado com a saúde em cenários acadêmicos e profissionais tem implicações de assimilação e atuação sem pensamento crítico e análise de contextos e situações.
Não encontramos nenhum estudo de intervenção sobre este tema com equipes de enfermagem. No entanto, foram relatados resultados positivos entre trabalhadoras de salas estéreis. Um estudo em 2002 constatou que a prevalência de infecção do trato urinário entre esses estas profissionais era 2,5 vezes maior do que entre mulheres em outras ocupações, devido ao custoso processo de troca de roupas especiais e procedimentos de limpeza necessários para deixar o local de trabalho para consumir água ou usar banheiros3. Após uma intervenção que incluiu um programa de educação em saúde com diferentes ferramentas, houve uma diminuição significativa na prevalência de infecção do trato urinário avaliada por urinálise (de 9,8 para 1,6%) e aumentos significativos na ingestão de água e de frequência miccional20. Um recente ensaio controlado e randomizado reforçou o aconselhamento médico habitual de aumentar a ingestão de água para prevenir infecções urinárias. Os autores encontraram uma redução significativa na cistite recorrente em mulheres que antes consumiam baixos volumes de líquidos diariamente (<1,5 L por dia) e aumentaram a frequência miccional durante 24 horas, passando de 6,0 ± 1,2 para 8,2 ± 1,2 vezes após 12 meses de intervenção21.
As limitações deste estudo incluem o uso de um questionário autorreferido sem confirmação clínica e a falta de controle da frequência das relações sexuais, um importante fator de risco para infecção do trato urinário, especialmente em mulheres. Como em todos os estudos transversais, não é possível avaliar causalidade ou relações temporais. Nosso principal ponto forte foi a inclusão de um grupo controle trabalhando no mesmo ambiente para identificar questões específicas relacionadas ao trabalho das técnicas de enfermagem.
Em conclusão, as técnicas de enfermagem das unidades de diálise relataram uma menor ingestão de líquidos e uma maior prevalência de sintomas e infecção do trato urinário do que a equipe administrativa e multidisciplinar. Além disso, as colaboradoras que perceberam barreiras ambientais à hidratação adequada apresentaram uma prevalência maior de problemas urinários. Nossos resultados corroboram achados anteriores e destacam a importância de investigações para identificar barreiras que desestimulem a hidratação adequada e suas consequências adversas. Intervenções envolvendo legisladores, organizações e educação em saúde com foco na importância do autocuidado podem reduzir potencialmente os problemas urinários nessas populações.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
21 Maio 2021 -
Data do Fascículo
Oct-Dec 2021
Histórico
-
Recebido
20 Nov 2020 -
Aceito
19 Fev 2021