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PESQUISA COMO ATO ÉTICO E POLÍTICO: DISCURSO E ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS EM LINGUÍSTICA APLICADA

RESEARCH AS AN ETHICAL AND POLITICAL ACT: DISCOURSE, AND LANGUAGE TEACHING AND LEARNING IN APPLIED LINGUISTICS

INVESTIGACIÓN COMO ACTO ÉTICO Y POLÍTICO: DISCURSO Y ENSEÑANZA Y APRENDIZAJE DE LENGUAS EN LINGÜÍSTICA APLICADA

Resumo

O objetivo deste ensaio é discutir a relação das pesquisas em discurso e em ensino e aprendizagem de línguas no campo da Linguística Aplicada. Para tanto, em um excedente de visão do sujeito, retomo a pesquisa de mestrado “Da morte da lagarta ao mosaico da borboleta: a polifonia no texto literário” (Rodrigues, 1992RODRIGUES, Rosângela Hammes. Da morte da lagarta ao mosaico da borboleta: a polifonia no texto literário, 1992. 169 p. Dissertação (Mestrado em Linguística). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.) para demonstrar que a pesquisa da heterogeneidade enunciativa no discurso literário em contos e crônicas foi motivada por uma questão advinda da prática pedagógica: o lugar do texto no componente curricular Língua Portuguesa para as aulas de ensino e aprendizagem das práticas de linguagem, no caso, a produção textual. Para dar conta do objetivo proposto, o ensaio desenvolve-se em torno de dois tópicos: o campo da Linguística Aplicada (momentos históricos e objetos de pesquisa) e a retomada da pesquisa de mestrado, com vistas a demonstrar o estudo do discurso literário motivado pelo ensino e aprendizagem de língua.

Palavras-chave:
Linguística Aplicada; Discurso; Ensino de línguas; Heterogeneidade enunciativa

Abstract

The purpose of this essay is to discuss the relationship between discourse research and language teaching and learning in the field of Applied Linguistics. To do so, in an overflow of the subject’s vision, I return to the master’s research “From the death of the caterpillar to the mosaic of the butterfly: polyphony in the literary text” (Rodrigues, 1992RODRIGUES, Rosângela Hammes. Da morte da lagarta ao mosaico da borboleta: a polifonia no texto literário, 1992. 169 p. Dissertação (Mestrado em Linguística). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.) to demonstrate that the research of enunciative heterogeneity in the literary discourse in short stories and chronicles was motivated by a question arising from the pedagogical practice: the place of the text in the Portuguese Language curricular component for teaching and learning classes of language practices, in this case, textual production. The essay is developed around two topics: the field of Applied Linguistics (historical moments and research objects) and the resumption of the master’s research to demonstrate the study of literary discourse motivated by language teaching and learning.

Keywords:
Applied Linguistics; Discourse; Language teaching; Enunciative heterogeneity

Resumen

El propósito de este ensayo es discutir la relación entre la investigación del discurso y la enseñanza y el aprendizaje de lenguas en el campo de la Lingüística Aplicada. Para ello, en un desbordamiento de la visión del sujeto, vuelvo a la investigación de maestría “De la muerte de la oruga al mosaico de la mariposa: la polifonía en el texto literario” (Rodrigues, 1992RODRIGUES, Rosângela Hammes. Da morte da lagarta ao mosaico da borboleta: a polifonia no texto literário, 1992. 169 p. Dissertação (Mestrado em Linguística). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.) para demostrar que la investigación de la heterogeneidad enunciativa en el discurso literario en cuentos y crónicas fue motivada por una cuestión que surge de la práctica pedagógica: el lugar del texto en el componente curricular de lengua portuguesa para clases de enseñanza y aprendizaje de prácticas lingüísticas, en este caso, producción textual. Para lograr el objetivo propuesto, el ensayo se desarrolla en torno a dos temas: el campo de la Lingüística Aplicada (momentos históricos y objetos de investigación) y la reanudación de la investigación de maestría, con miras a demostrar el estudio del discurso literario motivado por enseñanza y aprendizaje de idiomas.

Palabras clave:
La lingüística aplicada; Discurso; Enseñanza de idiomas; Heterogeneidad enunciativa

1 INTRODUÇÃO

Por onde começar um ensaio também com traços memorialísticos, que precisa tecer relações dialógicas entre memória e reflexão teórica para atender aos quesitos da esfera científica? As memórias lembram cenas do mundo da vida e de outros pelos quais transitamos e nos quais interagimos com outros sujeitos que nos constituíram, analisadas axiologicamente por um excedente de visão, uma vez que já somos outros sujeitos; e o ensaio científico, com suas especificidades no cronotopo da reflexão teórica. Começo, então, com duas cenas memorialísticas da esfera escolar: a professora novata às voltas com a análise de suas aulas iniciais de alfabetização que não atingiram os objetivos previstos, pois na história em quadrinhos criada com esmero em papel estêncil para esse fim e impressa no mimeógrafo a álcool, os estudantes não leram “au, au”, “ui”, “oi” e “eu”; a professora se perguntando como elaborar aulas de redação que fossem significativas para seus estudantes. Essa reflexão sobre a práxis docente foi o mote para a pesquisa no campo da Linguística Aplicada (LA): como responder teoricamente a questões advindas da práxis e que para ela trouxessem respostas/ganhos sociais para os sujeitos dessa práxis, no caso, estudantes e professora? E foi assim que começou a constituição de uma professora/pesquisadora que fez iniciação científica durante sua graduação em Licenciatura Letras: Língua Portuguesa, com pesquisa em ensino e aprendizagem de produção textual, e que sentiu necessidade de logo continuar seus estudos em nível de Pós-graduação.

Mais duas cenas, em novo tempo cronológico, em que se entrelaçam o mundo da vida e o da esfera científica na constituição do sujeito: um exame de gravidez positivo e um telegrama de felicitações pelo segundo lugar no exame de seleção ao mestrado; uma mãe andando para lá e para cá com um bebê chorando no braço direito e o livro “Marxismo e Filosofia da linguagem” no braço esquerdo, tentando realizar a leitura da obra, em quase desespero: “Como vou dar conta? Meus ombros não são tão largos quanto é preciso!”. Mas a vida segue seu curso em sua eventicidade e sem álibi para a existência. Nas interações sociais com outros sujeitos em cujos ombros tive momentos de amparo; pelos atos e ações de orientação da orientadora1 1 À minha querida orientadora, Maria Marta Furnaletto, minha sempre gratidão, que expresso enunciando o discurso da raposa e do pequeno príncipe na obra “O Pequeno Príncipe”: “[...] Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa. [fala da Raposa]. / Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.” (Antoine Saint-Exupéry). Obrigada por você ter me cativado para a pesquisa, para os estudos do discurso e do ensino de língua portuguesa e por toda a ética da responsabilidade com que você me tratou e que você sempre nos ensinou (você vivencia a filosofia bakhtiniana). No final, você me cativou e eu sou eternamente grata a você. , que eu interpretei como dizendo: “Vai, você vai ser pesquidora na vida”, fui-me constituindo como mãe e como pesquisadora no campo da LA.

Assim sendo, este ensaio analisa, em um excedente de visão do sujeito, a pesquisa de mestrado “Da morte da lagarta ao mosaico da borboleta: a polifonia no texto literário”, orientada pela professora Maria Marta Furlanetto e defendida por mim no ano de 1992 no Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFSC, com o objetivo de demonstrar os estudos do discurso empreendidos no campo da LA em sua articulação com os estudos e a práxis em ensino e aprendizagem de línguas. Para tanto, o ensaio orienta-se em torno de dois tópicos: a) discussão sobre o campo da LA (momentos históricos e objetos de pesquisa) e b) retorno à pesquisa de mestrado, com o foco ajustado para o referencial teórico enunciado e para a pesquisa realizada.

2 O CAMPO DA LINGUÍSTICA APLICADA: A PESQUISA EM LINGUAGEM E SUJEITO NA RELAÇÃO ENTRE CIÊNCIA E PRÁXIS HUMANA

Embora para pesquisadores de outras áreas ou mesmo da Linguística a LA possa parecer como uma área de aplicação de teorias2 2 A compreensão do que é pesquisa aplicada tem contornos distintos em diferentes áreas, em que podemos ter áreas que aplicam uma dada teoria a um dado objeto. No caso da Linguística Aplicada que se entende como uma ciência aplicada há outra perspectiva de compreensão, como veremos na sequência, que não é a aplicação de uma teoria a um dado objeto, mas o seu diálogo com a práxis humana. da Linguística a um determinado objeto ou prática, “A compreensão de que a LA não é aplicação de linguística é agora um truísmo para aqueles que atuam no campo.” (Moita Lopes, 2009MOITA-LOPES, L. P. Da aplicação da Linguística à Linguística Aplicada Indisciplinar. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística Aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 11-24., p. 17). Essa visão aplicacionista da LA ao ensino de línguas e à tradução no passado reflete a sua origem: na constituição inicial da área, com ausência de pesquisadores e de teorias próprias, ela foi encampada por linguistas que a entendiam como a aplicação de teorias para a resolução de um problema: ensino de línguas (ensino de língua inglesa, predominantemente) e tradução, de modo particular a aplicação do estruturalismo (os exercícios estruturais no ensino de línguas é um exemplo).

Luiz Paulo da Moita Lopes (2006)MOITA LOPES, L. P. Uma Linguística Aplicada mestiça e ideológica: interrogando o campo como linguista aplicado. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 13-44. salienta que uma das características da LA contemporânea é a reflexão constante que ela faz sobre si, seja olhando para seu passado e na limitação das teorias linguísticas para o ensino de línguas, seja para repensar a área: epistemologia; diálogo com outras áreas, dada a complexidade de seus objetos de pesquisa; natureza trans/indisciplinar; alargamento do campo para o estudo da linguagem na práxis humana, indo além do ensino e aprendizagem de línguas etc. O autor, nos textos “Uma Linguística Aplicada Mestiça e ideológica: interrogando o campo como linguista aplicado” (2006) e “Aplicação de Linguística Aplicada à Linguistica Indisciplinar” (2009), faz uma análise da área da LA, dos quais destaco dois pontos centrais para este ensaio: as viradas pelas quais passou a área e a compreensão do que é a LA a partir da segunda virada. Segundo o autor, a LA constituiu-se como o estudo científico do ensino e aprendizagem de línguas, notadamente o ensino de inglês, no embalo do estruturalismo, que se espraiou para muitas disciplinas científicas: “Parecia natural que uma área que focalizava o fenômeno da linguagem, com influência tão profunda no modo como o Estruturalismo se espraiou em muitas disciplinas, tivesse algo a dizer àqueles que se interessavam pelo ensino de línguas” (Moita Lopes, 2009MOITA-LOPES, L. P. Da aplicação da Linguística à Linguística Aplicada Indisciplinar. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística Aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 11-24., p. 12). No bojo dessa compreensão do estruturalismo como resposta de aplicação de sua teoria a outras disciplinas, decorreram duas vertentes de compreensão da LA em sua constituição, ambas de visão aplicacionista das teorias da Linguística: aplicação das teorias linguísticas com suas categorias para a descrição de uma língua particular e aplicação das teorias linguísticas ao ensino de línguas. No final da década de 1970 já começam os questionamentos sobre essa visão aplicacionista de teorias e descrições linguísticas construídas fora do campo de estudo do ensino e aprendizagem de línguas. O autor cita como exemplo as publicações de Widdowson, das quais destaca duas características centrais: ainda uma restrição de pesquisa a contextos educacionais, mas a necessidade de uma teoria linguística da/na LA para a pesquisa em ensino e aprendizagem de línguas. No entanto, mesmo com a discussão da necessidade de uma LA com teorização própria, o grande foco das publicações ainda continua na pesquisa do ensino e aprendizagem da língua inglesa como língua estrangeira. Conforme Moita Lopes (2009, p. 16):

A compreensão subjacente é que nenhuma área de conhecimento pode dar conta da teorização necessária para compreender os processos envolvidos nas ações de ensinar/aprender línguas em sala de aula devido a sua complexidade. Aqui o pensamento de Widdowson proporciona um avanço: a um só tempo nos livramos da relação unidirecional e aplicacionista entre teoria linguística e ensino de línguas e abrimos as portas para outras áreas de conhecimento de forma a se operar de modo interdisciplinar. No Brasil, há uma série de artigos publicados nos anos 1980-90, quando a LA brasileira começa a tomar força, que seguem tal caminho (CAVALCANTI, 1986; KLEIMAN, 1990; CELANI, 1990; MOITA LOPES, 1990). (Moita Lopes, 2009, p. 16).

O autor salienta esse movimento como a primeira virada da LA: da passagem da aplicação das teorias da Linguística ao ensino de línguas para a construção de teorias próprias para o ensino de línguas, bem como o caráter transciplinar da pesquisa. Já a segunda virada da LA ocorre quando ela amplia o foco de investigação para além do ensino de línguas estrangeiras (inglês, prioritariamente) e começa a pesquisar contextos de ensino de língua materna e a questão da língua em outros contextos institucionais (jornalismo, delegacia de polícia, clínicas médicas etc.).

Nas palavras do autor, “Foram essenciais aqui os insights de teorias socioculturais, na linha de Vygotsky e Bakhtin, sobre relevância de entender a liguagem como instrumento de construção do conhecimento e da vida social, recuperados em muitas áreas de investigação. Essa mudança para a ser bem perceptível no Brasil a partir dos anos 90” (Moita Lopes, 2009, p. 17-18, grifo do autor).

A LA passa a ser compreendida como uma ciência aplicada de natureza inter/trans/in(disciplinar) que objetiva “[...] criar inteligibilidade sobre problemas sociais em que a linguagm tem um papel central [...] [cujos pesquisadores] têm sentido a necessidade de vincular seu trabalho a uma epistemologia e a teorizações que falem ao mundo real [...]” (Moita Lopes, 2006MOITA LOPES, L. P. Uma Linguística Aplicada mestiça e ideológica: interrogando o campo como linguista aplicado. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 13-44., p. 14, grifo do autor). Além disso, deixa de buscar soluções generalizantes para o ensino e aprendizagem de línguas ou outras questões, em que a complexidade e a efemeridade das situações e a singularidade dos sujeitos são apagadas, para, a partir dessa inteligibidade, buscar alternativas situadas para esses problemas.

No caso do ensino e aprendizagem de língua portuguesa no Brasil, entram em cena o ensino e aprendizagem das práticas de linguagem, motivadas pelas teorias socioculturais, o que levanta uma questão social [problema social, nas palavras de Moita Lopes] e de pesquisa: como elaborar aulas de ensino e aprendizagem de práticas de linguagem (leitura, produção textual, oralidade etc.)?; e mais, se o foco está nas práticas, o que sabemos dessas práticas sociais de referência em que a linguagem medeia as interações? Que discursos são produzidos e reenunciados, que valorações sociais eles produzem? Como são constituídos os enunciados/textos dessas interações? Essas questões prementes para o ensino e aprendizagem de leitura, produção textual, oralidade, enfim, questões ligadas ao ensino e aprendizagem de língua portuguesa, impulsionam(ram) também pesquisas sobre discursos e sua materialização em textos/enunciados nas diferentes esferas sociais. E é nesse entremeio de pesquisa que se situa a dissertação que é objeto de análise na próxima seção.

3 A HETEROGENEIDADE ENUNCIATIVA EM CRÔNICAS E CONTOS: CONSTRUINDO CONHECIMENTO SOBRE DISCURSOS E TEXTOS/ENUNCIADOS MOTIVADO PELA PRÁXIS DO ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA

Entre um anteprojeto de pesquisa, projeto de pesquisa apresentado e pesquisa realizada, registrada em uma dissertação e sustentada em defesa pública, constitui-se um pesquisador marcado pelo excedente de visão de outros sujeitos, sejam eles o orientador, os autores lidos para a pesquisa, colegas de turma etc. E assim, pré-projetos são reorientados para serem adequados à situação da pesquisa, considerando referencial teórico, questão de pesquisa e na qual o tempo cronológico também é um elemento que entra no horizonte; ou porque entram em cenas novas possibilidades de pesquisa para as questões levantadas; ou porque novas questões de pesquisa entram no horizonte apreciativo.

Não tenho mais registros do pré-projeto, mas as lembranças apontam para questão de pesquisa orientada para o ensino e aprendizagem da produção textual, levantada a partir da atuação docente em sala de aula no Ensino Fundamental - Anos Iniciais (primeira parte do primeiro grau, na época). No intercurso das disciplinas, as aulas de análise de discurso ministradas pela professora Maria Marta Furlanetto ampliaram o horizonte teórico para questões atinentes ao texto (visto em sua condição de enunciado, diria hoje), na cadeia dialógica e no entrecruzamento de discursos. A bibliografia estudada também contemplava entrecruzamentos de vertentes de estudos do discurso e suas temáticas latentes: a constituição social da linguagem e do sujeito, a relação constitutiva entre linguagem e ideologia, os aparelhos ideológicos do Estado, a formação das modalidades enunciativas, as formações discursivas, o dialogismo constitutivo, a polifonia, a heteroneidade constitutiva, a (in)completude do sujeito, o sujeito fragmentado, o sujeito assujeitado3 3 Este conceito, hoje já superado pela análise do discurso francesa, foi à época o que mais questionei em meu discurso interior e, nos limites, na orientação. Para quem se situava no campo do ensino e aprendizagem de línguas, a questão do sujeito assujeitado parecia não caber nas escolhas teóricas. Esse desconforto me orientou para os estudos dialógicos do discurso, em que o sujeito é constituído socialmente, mas cuja constituição não denega o sujeito em sua individualidade (a oposição não é entre o sujeito social e o sujeito em sua individualidade, mas entre o sujeito social e o sujeito natural). , a heterogeneidade mostrada, as estratégias discursivas, a heterogeneidade textual etc. E foi nesse percurso de formação que as lentes se ajustaram para o estudo do discurso. E isso porque pesquisar o ensino e aprendizagem da produção textual ou elaborar aulas de produção textual ancoradas nas práticas de linguagem levanta como questão de pesquisa a compreensão das práticas de linguagem em suas práticas sociais de referência, com vistas ao ensino de produção de textos lastreado nessas práticas sociais.

E assim a orientação foi definida e as lentes de pesquisa focalizaram o estudo de contos e de crônicas, com o objetivo de analisar a fragmentação e a unificação do sujeito no texto, bem como a constituição dos sentidos. Foram objetivos específicos: analisar a heterogeneidade enunciativa dos textos, a heterogeneidade textual, as funções enunciativas e o processo de unificação do sujeito no texto, os efeitos de sentido; e demonstrar a pertinência da pesquisa para uma melhor compreensão da organização textual. Os dados foram compostos de crônicas e contos: cinco crônicas publicadas nos livros “Água do Pote” e “Senhora do Meu Desterro”, de autoria de Flávio José Cardoso; e cinco contos publicados nos livros “Antes do Amanhecer” e “Até Sempre”, de autoria de Edla Van Steen4 4 Ambos os autores são catarinenses. A escolha muito provavelmente foi influenciada pelas aulas de Literatura Catarinense, ministradas pelo professor Lauro Junkes. Somos sujeitos constituídos pela inter-relação com outros sujeitos e seus discursos. , e o objeto de análise foi o discurso literário nesses textos, de modo particular a polifonia vista pela heterogeneidade mostrada.

O referencial teórico, apresentado na dissertação em dois capítulos, focou na hetergoneidade enunciativa e na hetorogenidade mostrada, conceitos desenvolvidos por Jacqueline Authier-Revuz (1984)AUTHIER-REVUZ, J. Hétérogénéité(s) énonciative(s). Langages. Paris: Larousse, 1984. p. 98-111. a partir de leituras de obras do Círculo de Bakhtin, de Michel Foucault, Louis Althusser, Sigmund Freud, Oswald Ducrot e outros autores, e no conceito de polifonia desenvolvido por Ducrot, também lastreado nos estudos de Bakhtin. No capítulo da heterogeneidade enunciativa foram abordados três conceitos centrais: a interdiscursividade, com seus desdobramentos em dialogismo e monologismo, intertextualidade e interdiscurso; a unidade do texto em sua (in)completude, abordando a (in)completude como constitutiva, a questão dos sentidos e a heterogeneidade e unidade textual; e as funções enunciativas, com uma discussão acerca do sujeito social, relacional, ideológico, inconsciente e a busca pela autoria. No capítulo da heterogeneidade marcada, a discussão centrou-se na heterogeneidade constitutiva e heterogeneidade marcada, na polifonia e os efeitos polifônicos e sua materialização nos textos/enunciados, dentre eles: pressuposição, negação, discurso relatado, ironia e alguns operadores argumentativos.

O capítulo de apresentação dos resultados da análise foi organizado em três seções: uma breve introdução explicativa acerca dos autores dos textos literários e da análise apresentada; uma seção de apresentação da análise da heterogeneidade nas crônicas e nos contos; e uma síntese da análise da heterogeneidade enunciativa observada. Cada um dos textos literários foi analisado observando sua heterogeneidade enunciativa, a partir da heterogeneidade observada; a demonstração da heterogeneidade observada em cada um dos textos dos dados; e, no final de cada demonstração, um resumo das vozes enunciativas.

Assim sendo, a análise das crônicas foi apresentada nas respectivas seções, cujos títulos retomavam os títulos das crônicas, seguidos da síntese da análise empreendida: “A terra é boa, Herculano”: construção em mosaico; “Calorão”: comentário presente/passado; “Atentado”: a mão-dupla; “Esse feliz-infeliz”: o falante e o vivente; “Alerta irmão branco”: o texto gobelin. Do mesmo modo foi apresentada a análise dos contos: “A volta”: roteiro cinematográfico; “Aluga-se apartamento”: narrativa dêitica; “Um dia em três tempos”: construções paralelas; “Lembrança no varal: a roda”: texto invertido; “Apesar de tudo”: texto colagem.

Acerca da apresentação da análise realizada para cada um dos textos literários, apresento, a título de ilustração, um excerto analítico de uma crônica e de um conto, respectivamente:

A crônica “Alerta, irmão branco” é construída sob o efeito polifônico da ironia. É um texto especial, pois nele não há apenas fragmentos irônicos; ele é um texto que se veste de ironia. [...].

Nesta crônica, o locutor se coloca no papel de um sujeito que conscientemente quer ironizar determinada categoria de pessoas, os brancos que se colocam como antagonistas dos índios5 5 Naquele período não estava posta a questão axiológica colonizadora na expressão “índios” e sua substituição por outra expressão com outro acento de valor, como povos originários, povos indígenas, por exemplo. . Este locutor (que pode ser o autor ou qualquer outra pessoa “branca” defensora da causa indígena), portanto, se dirige àqueles que, de uma forma ou de outra, estigmatizam a raça indígena. Ele tenta mostrar a falsidade da concepção deles, utilizando-se de seus próprios argumentos, mostrando o quanto são absurdos.

Para tal, utiliza da ironia de um modo muito especial. Ele é um locutor que faz o jogo irônico, mas não aparece diretamente no texto. É um locutor que coloca diretamente a “voz” do ironizado. Quem relata, ao contrário do esperado, não é o ironizador, mas aquele que está sendo ironizado, ridicularizado, que é o branco antagonista do índio.

Nesta perspectiva de análise, pode-se dividir o texto em dois recortes enunciativos que não se encontram separados por parágrafos, nem por camadas enunciativas. Os dois recortes encontram-se entrelaçados, de modo que textualmente não se consegue segmentá-los, embora tematicamente tomem direções opostas. [...].

O locutor [L1] constrói sua fala, seu discurso em camadas: expõe as acusações dos índios e superpõe sua argumentação, tentando desqualificar o que foi dito anteriormente. [...].

Enquanto que o primeiro recorte enunciativo se estabelece por superposições, o segundo se estabelece através do seu entrelaçamento com o primeiro. É o segundo recorte enunciativo que “trabalha” com a ironia e que traz a perspectiva do locutor ironizador. Na posição de locutor ironizador, utiliza-se de uma estratégia típica: não se mostra textualmente, por isso sendo denominado de [L0], mas que põe em cena o locutor [L1]. É o locutor [L1] que fala textualmente e é o locutor [L0] que ironiza, e ironiza exatamente [L1].

O primeiro recorte enunciativo, através de [L1], estabelece-se em nível de dizer, através do domínio da “fala”. O segundo recorte estabelece-se em nível de mostrar, através do domínio das estratégias. O locutor [L0], dominando ambos os recortes enunciativos, se corporifica através das opções, das estratégias que utiliza para fazer [L1] “falar” e para estabelecer o jogo polifônico da ironia. O locutor [L0] faz [L1] “falar” e “falar” de determinada forma, para mostrar que quer ironizá-lo. (Rodrigues, 1992RODRIGUES, Rosângela Hammes. Da morte da lagarta ao mosaico da borboleta: a polifonia no texto literário, 1992. 169 p. Dissertação (Mestrado em Linguística). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis., p. 79-81, grifo no original).

[...]

“Apesar de tudo” também é um conto inovador. O locutor narrador abdica de seu papel de narrador “tradicional”. Ao invés de narrar como aconteceu a morte de Juliana Sarmento através dos depoimentos das pessoas (personagens) envolvidas, ele coloca diretamente o depoimento delas, pela perspectiva delas. É um locutor que reconstrói a vida e a morte da protagonista delegando às personagens as percepções e as omissões. Ele coloca as perspectivas das personagens uma após a outra, dando ao texto a configuração de uma “colagem”.

Entretanto, além de delegar às personagens a tarefa de reconstruir a imagem da vítima, o locutor acopla a sua perspectiva à perspectiva de cada envolvido, dando à versão de cada um o aspecto de veracidade. Por essa perspectica “flutuante” que adota no seu texto, pode ser denominado de locutor cambiante.

Através desta colagem em forma de reconstrução e da perpectiva cambiante do locutor, emerge uma heterogeneidade enunciativa muito grande que vai fornecendo, de diferentes “ângulos”, a imagem da vítima. [...].

O primeiro recorte enunciativo é composto pelo primeiro “recorte” textual. Neste recorte surge um suspeito, vizinho da vítima, Péricles Alvarenga, preparando-se para o interrogatório. Ele elabora estratégias de antecipação do que deve e não deve dizer ao ser interrogado. O que irá dizer fica no nível do explítico e o que irá omitir fica no nível do não explicitado, marcado por estar entre parênteses. [...].

O locutor narrador do texto que se representa através de [L13], inicia o relato em 3ª pessoa para a 1ª pessoa e em seguida para o discurso indireto livre, ocorrendo a polifonia em nível de enunciadores. Locutor e personagem se representam através de [E10] e [E1], respectivamente, falando de um único ponto de vista, o de [E1]. [...].

No entanto, apesar desta “aparente” objetividade, o narrador progressivamente se aproxima da personagem, falando da perspectiva dela, [E8]. [...].

O segundo sub-recorte traz as características enunciativas do primeiro, distinguindo-se daquele por mostrar o ponto alto do conto: o que aconteceu no dia da morte da personagem: as suas apreensões, as pessoas com quem falou.

O nono recorte enunciativo corresponde ao décimo “recorte” textual e traz a perspectiva da Polícia [E9], que aparece como uma “cena” final. [...].

Este conto, em forma de “colagem”, permite ao próprio alocutário (leitor) formar a sua própria imagem da vítima e, principalmente, refletir sobre a ambiguidade que locutor-narrador instaura, falando de diversas perspectivas. Todos os envolvidos dão sua versão sobre a morte de Juliana, revelando certos fatos e encobrindo outros.

O leitor é “leitor” e “ investigador” ao mesmo tempo. (Rodrigues, 1992RODRIGUES, Rosângela Hammes. Da morte da lagarta ao mosaico da borboleta: a polifonia no texto literário, 1992. 169 p. Dissertação (Mestrado em Linguística). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis., p. 102-108, grifo no original).

Os excertos da análise de uma das crônicas e de um dos contos mostram o investimento da pesquisa no estudo do discurso literário e sua materialização linguística, como foco no gerenciamento das diferentes vozes que compõem o mosaico enunciativo do discurso literário, na relação enunciativa entre autor, locutor, narrador, personagens, leitor, bem como no modo de textualização dessas relações.

Trata-se de um olhar de pesquisa motivado pela práxis da sala de aula: como se organizam os discursos literários em sua orquestração de vozes e pontos de vista, de modo especial nos contos e nas crônicas? Como essas vozes se organizam e se materializam nos textos? Como as respostas a essas questões podem balizar aulas de ensino de leitura e de produção textual de contos e crônicas?

Na última seção do capítulo de apresentação dos resultados da análise é feita uma discussão sobre regularidades do discurso literário de um modo geral. Além disso, é apresentada uma análise de convergências (discurso literário) e de diferenças de estratégias discursivas entre as crônicas e os contos analisados. Embora ainda não estivesse no horizonte teórico e analítico a concepção de gêneros do discurso do Círculo de Bakhtin, algumas reflexões realizadas acerca das diferenças entre crônicas e contos sinalizaram para os gêneros do discurso6 6 Também nomeados algumas vezes na dissertação como tipos de textos literários, em um revozeamento das teorias de texto da época. crônica e conto.

Analisando exotopicamente a pesquisa de mestrado empreendida, percebe-se os movimentos tanto da professora-pesquisadora quanto da própria LA: a relação implicada entre a práxis humana, com questões sociais nas quais a linguagem tem papel central, e a pesquisa sobre essas questões. No caso da dissertação de mestrado, a questão do ensino e aprendizagem das práticas de linguagem nas aulas de Língua Portuguesa, que demanda o texto como a unidade de ensino e aprendizagem, foi o ponto inicial a partir do qual a pesquisa ajustou o foco para a compreensão desses textos em suas práticas sociais de referência, em diálogo com outra questão da época, como o trabalho na escola com textos artificializados, seja nas aulas de leitura, pelos textos inventados para esse fim, seja nas aulas de escrita, que se baseavam em modelos abstratos (os tipos taxionômicos, texto dissertativo e narrativo, por exemplo, viraram os modelos abstratos dissertação e narração). Ainda em articulação com as teorias discursivas da época, que já se orientavam para a constituição social da linguagem e do sujeito, a pesquisa, em seu estudo das crônicas e contos, buscou compreender o texto em sua condição de enunciado, como um elo na cadeia dialógica: nasce de outros discursos e é orientado para a resposta ativa de seus interlocutores, e como tudo isso se materializa na linguagem e no texto. Ainda que, como já comentado, as pesquisas estivessem mais voltadas para a (in)completude do sujeito e a heterogeneidade da linguagem, para as relações dialógicas, a pesquisa apontou também para questões ligadas aos discursos e textos da esfera literária, bem como se atentou para certas especificidades entre as crônicas e entre os contos, apontando para as questões dos gêneros do discurso.

Finalmente, para colaborar com a questão dos estudos do discurso na área da LA, trago para o diálogo o artigo “Sessenta anos de Linguística Aplicada: de onde viemos e para onde vamos” (2009), de Vera Menezes, Marina Morena Silva e Iran Felipe Gomes, que, na terceira parte do texto, analisam a produção da pesquisa em LA no Brasil em cinco periódicos7 7 Um dos quais publica textos de Linguística e Linguística Aplicada. da área no período de 1996 a 20068 8 Dois desses periódicos se iniciam depois de 1996: um em 1998 e outro em 2001. . O fato de o recorte de dados se iniciar no ano de 1996 não invalida a proposição deste ensaio, uma vez que a dissertação foi defendida em 1992; antes pelo contrário, ratifica o ponto de vista defendido. Tomando como referência os temas das comissões científicas da Associação Internacional de Linguística Aplicada (AILA)9 9 As quais muitas vezes se situam ainda na primeira virada da linguística ou na chamada LA tradicional, que ainda é muito positivista, segundo Moita Lopes (2006). , os autores observaram que o tema análise do discurso junto com os temas ensino e aprendizagem de línguas e formação de professores foram os mais recorrentes nesses periódicos. Do mesmo modo, buscaram identificar quais teorias embasaram as pesquisas nesses temas, mostrando uma predominância maior do sociointeracionismo, da teoria bakhtiniana, da análise de discurso francesa e da análise crítica do discurso.

Esses resultados podem apresentar alguma restrição, pelo uso na pesquisa dos temas propostos pela AILA, mas, de todo modo, mostram a solidez de pesquisas em discurso e em ensino e aprendizagem de línguas na área da LA, sejam as duas motivadas entre si, como o caso da pesquisa de mestrado apresentada, ou não. E isso porque os estudos do discurso podem se voltar para outras questões das práticas de linguagem, sem relação direta e imediata com o ensino e aprendizagem de línguas. O que as une é a “[...] é a preocupação com problemas [questões] de uso da linguagem situados na práxis humana” (Moita Lopes, 1996MOITA LOPES, L. P. Afinal, o que é Linguística Aplicada? Intercâmbio, São Paulo, v. 5, p. 3-14, 1996., p. 3).

Um bom exemplo atual das pesquisas da LA pode ser observado em seus grupos de trabalho na Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa (ANPOLL): Ensino e Aprendizagem na Perspectiva da Linguística Aplicada, Formação de Educadores na Linguística Aplicada, Gêneros textuais/discursivos, Linguagem e Tecnologias, Práticas Identitárias na Linguística Aplicada e Transculturalidade, Linguagem e Educação.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS: A PESQUISA NA LINGUÍSTICA APLICADA COMO ATO ÉTICO E ATO POLÍTICO

O objetivo deste ensaio foi, em um excedente de visão do sujeito, retomar a pesquisa de mestrado “Da morte da lagarta ao mosaico da borboleta: a polifonia no texto literário” com o objetivo de demonstrar os estudos do discurso empreendidos na área da LA. A análise da heterogeneidade enunciativa do discurso literário em contos e crônicas foi motivada por uma questão advinda da prática pedagógica: o trabalho com o texto em sala de aula.

O ensino e aprendizagem de língua portuguesa na Educação Básica, tomado axiologicamente pela concepção do ensino e aprendizagem das práticas de linguagem, situa tanto o pesquisador quanto os estudantes em uma concepção de linguagem e de sujeito, bem como em uma concepção política de ensino, lastreada tanto pela teoria quanto pela ética da responsabilidade com os sujeitos de aprendizagem: para quem ensinamos, para que ensinamos, que nos orientam para o que ensinar e como ensinar.

É este ato ético da responsabilidade com o ensino e aprendizagem de língua portuguesa na Educaçao Básica que me movimenta na minha constituição de pesquisadora em constante (in)acabamento na LA. É ele que marca a coerência na pesquisa: muda o foco das lentes, ora mais voltado para os estudos do discurso, ora para os estudos dos gêneros, ora para as unidades de ensino e aprendizagem (leitura, produção textual, ausculta e prática de análise linguística), ora para a elaboração didática dessas práticas, ora para a constituição histórica do ensino de língua portuguesa no Brasil, ora para o material didático, ora para a formação de professores de língua portuguesa etc., mas o tema é o mesmo.

É a angústia e a busca por respostas às questões de pesquisa demandadas pela práxis humana e o não-álibi da existência na esfera da educação que me constituíram e me constituem como pesquisadora em meu (in)acabamento constitutivo, com meus acabamentos temporários construídos pelos excedentes de visão dos muitos sujeitos com os quais dialoguei, seja na esfera escolar, seja na esfera científica, seja na esfera política, dentre outras. O lastreamento no não-álibi da existência, na ética da responsabilidade na pesquisa e nos atos políticos educacionais, vêm ao encontro da minha justificativa pela incursão nos estudos do discurso e que representa parte de minha atuação na LA.

REFERÊNCIAS

  • AUTHIER-REVUZ, J. Hétérogénéité(s) énonciative(s). Langages. Paris: Larousse, 1984. p. 98-111.
  • MENEZES, V.; SILVA, M. M.; GOMES, I. F. Sessenta anos de Linguística Aplicada: de onde viemos e para onde vamos. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística Aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 25-50.
  • DUCROT, O. O dizer e o dito. Revisão técnica da tradução de Eduardo Guimarães. Campinas, SP: Pontes, 1987.
  • MOITA LOPES, L. P. Afinal, o que é Linguística Aplicada? Intercâmbio, São Paulo, v. 5, p. 3-14, 1996.
  • MOITA LOPES, L. P. Uma Linguística Aplicada mestiça e ideológica: interrogando o campo como linguista aplicado. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 13-44.
  • MOITA-LOPES, L. P. Da aplicação da Linguística à Linguística Aplicada Indisciplinar. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística Aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 11-24.
  • RODRIGUES, Rosângela Hammes. Da morte da lagarta ao mosaico da borboleta: a polifonia no texto literário, 1992. 169 p. Dissertação (Mestrado em Linguística). Programa de Pós-Graduação em Linguística, Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
  • SAINT-EXUPÉRY, A. de. O Pequeno Príncipe. 31. ed. Rio de Janeiro: Editora Agir, 1987.
  • VOLÓCHINOV, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução do francês de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 4. ed. São Paulo: Hucitec, 1988 [1929].
  • 1
    À minha querida orientadora, Maria Marta Furnaletto, minha sempre gratidão, que expresso enunciando o discurso da raposa e do pequeno príncipe na obra “O Pequeno Príncipe”: “[...] Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa. [fala da Raposa]. / Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.” (Antoine Saint-Exupéry). Obrigada por você ter me cativado para a pesquisa, para os estudos do discurso e do ensino de língua portuguesa e por toda a ética da responsabilidade com que você me tratou e que você sempre nos ensinou (você vivencia a filosofia bakhtiniana). No final, você me cativou e eu sou eternamente grata a você.
  • 2
    A compreensão do que é pesquisa aplicada tem contornos distintos em diferentes áreas, em que podemos ter áreas que aplicam uma dada teoria a um dado objeto. No caso da Linguística Aplicada que se entende como uma ciência aplicada há outra perspectiva de compreensão, como veremos na sequência, que não é a aplicação de uma teoria a um dado objeto, mas o seu diálogo com a práxis humana.
  • 3
    Este conceito, hoje já superado pela análise do discurso francesa, foi à época o que mais questionei em meu discurso interior e, nos limites, na orientação. Para quem se situava no campo do ensino e aprendizagem de línguas, a questão do sujeito assujeitado parecia não caber nas escolhas teóricas. Esse desconforto me orientou para os estudos dialógicos do discurso, em que o sujeito é constituído socialmente, mas cuja constituição não denega o sujeito em sua individualidade (a oposição não é entre o sujeito social e o sujeito em sua individualidade, mas entre o sujeito social e o sujeito natural).
  • 4
    Ambos os autores são catarinenses. A escolha muito provavelmente foi influenciada pelas aulas de Literatura Catarinense, ministradas pelo professor Lauro Junkes. Somos sujeitos constituídos pela inter-relação com outros sujeitos e seus discursos.
  • 5
    Naquele período não estava posta a questão axiológica colonizadora na expressão “índios” e sua substituição por outra expressão com outro acento de valor, como povos originários, povos indígenas, por exemplo.
  • 6
    Também nomeados algumas vezes na dissertação como tipos de textos literários, em um revozeamento das teorias de texto da época.
  • 7
    Um dos quais publica textos de Linguística e Linguística Aplicada.
  • 8
    Dois desses periódicos se iniciam depois de 1996: um em 1998 e outro em 2001.
  • 9
    As quais muitas vezes se situam ainda na primeira virada da linguística ou na chamada LA tradicional, que ainda é muito positivista, segundo Moita Lopes (2006).

Editores de Seção:

Fábio José Rauen e Andreia da Silva Daltoé

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Set 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    26 Fev 2024
  • Aceito
    24 Mar 2024
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