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Apresentação

Este número de Letras de Hoje, dedicado à literatura em língua espanhola, é o resultado de colaboração entre a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS e a Universidade de Vigo (Espanha), através do Programa de Pós-Graduação em Letras, área de concentração em Teoria da Literatura, e o Departamento de Literatura Española y Teoría de la Literatura, respectivamente. A chamada deste número convidava pesquisadores e estudiosos interessados no gênero narrativo em espanhol à reflexão acerca de narrativas longas (romances) ou curtas (contos e/ou microrrelatos), para revisitarem esse universo literário valendo-se de abordagens teóricas diferenciadas e abertas à análise das produções do século XIX ao XXI.

Atendendo ao convite, os autores e as autoras dos textos aqui apresentados contemplam obras (romances e contos) de escritores e escritoras originários/as de países diversos. Cada texto traz à luz análises que perpassam questões significativas que envolvem as relações humanas nas mais diversas situações, que a literatura, naquilo que é a sua essência enquanto arte, oportuniza ao leitor refletir acerca desse universo único e, ao mesmo tempo, múltiplo que é a vida.

Toma-se como ponto de partida o texto “Cartografia sociopolítica de Venezuela: os romances de Miguel Otero Silva”, de Carmen Becerra. Nele, a pesquisadora centra seu olhar para a obra desse autor venezuelano, cuja leitura possibilita perceber um retrato da realidade venezuelana do século XX, visando colaborar com a divulgação da narrativa ficcional desse escritor e jornalista pouco conhecido fora de seu país natal. Seguindo no âmbito americano do século XX, com vistas a contribuir com a difusão da literatura, neste caso, produzida no Equador, o texto “Una mirada a la generación de la década de 1970 en Ecuador: Teoría del desencanto, de Raú Pérez Torres”, de Leonardo Monroy Zuluaga, apresenta uma análise desse romance com o propósito de conhecer, por meio de uma leitura hermenêutica de raiz schlegeliana, alguns sentidos sugeridos pelo romance, entre eles, o questionamento à teoria ocidental através de estratégias narrativas particulares, a configuração da cidade de Quito como espaço espiritualmente alheio, as decepções frente ao marxismo e a contracultura na década de 1970.

Saindo da produção ficcional da América, indo para outro lado do Atlântico, mas seguindo em ambiente americano, o artigo “Las colonias en los Episodios galdosianos”, de Dolores Troncoso, volta-se para a obra de Galdós para mostrar como a referência às colônias e seu significado para a sociedade espanhola do século XIX estão presentes no decorrer dos Episodios nacionales. Além disso, o artigo destaca, de forma detalhada, sua localização e reflete sobre a visão crítica de Galdós em relação ao modo acerca da percepção das colônias por seus contemporâneos e pelos políticos espanhóis oitocentistas no momento histórico do fim do império colonial espanhol.

Na sequência, continuando no espaço latino-americano entre Uruguai e Argentina, encontra-se o ensaio “As cidades de Juan Carlos Onetti”, de Iuri Almeida Müller, que analisa os contos ‘Regreso al sur, de Onetti, e “El sur”, de Jorge Luis Borges, visando compreender como o deslocamento das personagens desses contos explicita questões culturais e geográficas referentes à cidade moderna, mais especificamente a cidade de Buenos Aires. No mesmo universo, agora apenas na Argentina, o artigo “A apropriação em El Aleph engordado”, de Tatiana da Silva Capaverde, analisa a apropriação realizada pelo escritor argentino Pablo Katchadjan do texto “El Aleph”, de Jorge Luis Borges, a fim de sinalizar a intertextualidade praticada e a ressignificação da autoria provocada pelas alterações realizadas. Continuando na Argentina, o texto “Todos os tradutores o tradutor: literatura e tradução na obra de Julio Cortázar, de Janaina de Azevedo Baladão, destaca a importância da tradução para a formação do escritor Julio Cortázar, por meio de análise de sua própria obra, entrevistas, sobretudo as que foram concedidas a Harss (2012), Prego Gadea (1985), González Bermejo (2002) e Picón Garfield (1996), e demais textos críticos e biográficos, nomeadamente, Herráez (2011), Goloboff (1998) e Maturo (2004). Permanecendo nesse espaço americano, agora voltado para a literatura colombiana, o artigo “Maria dos Prazeres e Noi: à margem”, de Bethânia Martins Mariano, apresenta a leitura do conto “María dos Prazeres”, do livro Doze contos peregrinos, de Gabriel García Márquez, considerando que as literaturas que florescem no subdesenvolvimento cultural adquirem a consciência nacional e universal, apresentando um olhar da margem, deslocam-se das tradições europeias.

Seguindo na América, agora no México, o artigo “Sabores e amores na cozinha de Laura Esquivel”, de Jenison Alisson dos Santos e Ana Cristina Marinho Lúcio, volta-se para o romance Como agua para chocolate, de Laura Esquivel, analisando, numa perspectiva afetiva, como a autora utiliza recursos gastronômicos para recodificar e ressignificar a expressão de sentimentos das personagens como amor, ódio, austeridade e ressentimento. Ficando na narrativa escrita por mulheres, essa originária do Paraguai, o artigo “Josefina Plá e a conformação do conto paraguaio: a desolação de pertencer a dois mundos”, de Maria Josele Bucco Coelho, a partir da análise do conto “Sesenta listas” (1981), mostra a potência transculturadora / fagocitadora das narrativas de Josefina Plá, ao mesmo tempo em que se faz aflorar a violência engendrada pela colonialidade na comunidade cultural do Atlântico Sul.

Ainda no universo americano, incluindo a narrativa europeia, o artigo “Gol y memoria: el futebol en la narrativa en lengua española del XXI”, de David García Cames, analisa um conjunto de textos produzidos no século XXI, que tem como temática a narrativa de futebol, para expor principais dinâmicas, obras e autores, e mostrar como o conto e o romance convivem com formas hibridas situadas entre o ensaio e a ficção.

Completa, ainda, este número de Letras de Hoje, o texto “Las Revistas: ¿fin de un proyecto?”, de Pablo Rocca, que revisita alguns momentos em que a produção textual, os autores, os bens culturais e os leitores se relacionavam a partir do jornalismo e a revista cultural (sobretudo a literária), tomando como exemplos episódios latino-americanos, para apontar propostas sobre as atuais possibilidades levando em conta o “império da Internet”. Para fechar o número, juntando os dois lados do Oceano, encontra-se a produção ficcional “Jorge, Enrique, seus personagens”, de Reginaldo Pujol, unindo dois nomes da literatura em lingua espanhola, Jorge Luis Borges e Enrique Vila-Matas, para refletir, em uma narrativa, entrelaçamentos possíveis entre esses autores, a questão da autoria, a questão pós-moderna da apropriação, da citação, do eco.

Por fim, agradecemos aos colaboradores e às colaboradoras por suas valiosas contribuições e os desafiamos a novas e estimulantes propostas acerca da produção ficcional em língua espanhola. Este agradecimento estende-se também aos/às demais colegas que contribuíram com esta edição e, em especial, aos/às colegas da Universidad de Vigo, a quem serei eternamente grata pela acolhida e oportunidade dos estudos ali realizados.

As Organizadoras

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2017
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