Acessibilidade / Reportar erro

A expansão da fronteira agrícola no norte do estado de Mato Grosso e o surgimento das cidades “plantadas”: Sinop (MT), uma cidade do agronegócio?

La expansión de la frontera agrícola en el norte del estado de Mato Grosso y el surgimiento de ciudades “plantadas”: Sinop (MT), una ciudad del agronegocio?

Resumo

A relação campo-cidade é intensificada com o avanço do mercado produtivo do agronegócio. Torna-se relevante destacar que as formas de resistência a esse mercado produtivo são intrínsecas às paisagens da cidade e do campo, em quintais produtivos, chácaras, comunidades quilombolas, entre outras formas de uso e ocupação do espaço geográfico, diversificando as maneiras com as quais a sociedade se relaciona com a natureza. Neste artigo, pretende-se discutir o processo de implantação e estruturação de uma cidade “plantada” na fronteira agrícola no norte do estado de Mato Grosso (MT), especificamente a cidade de Sinop. Busca-se sobretudo entender se tal espaço urbano pode de fato ser classificado como uma “cidade do agronegócio”. Para isso, fez-se uso de pesquisa bibliográfica e documental, principalmente de dados do IBGE e de pesquisa de campo para a análise da paisagem urbana, tendo em vista que o principal foco é a cidade. Espera-se que este texto possa contribuir para o avanço das discussões inerentes à cidade em questão, em especial sobre o seu papel polarizador na região em que está inserida.

Palavras-chave:
Relação campo-cidade; agronegócio; soja

Resumen

La relación campo-ciudad se crea e intensifica como consecuencia del avance del mercado productivo de agronegócio. Es relevante resaltar que las formas de resistencia a este mercado productivo son siempre intrínsecas en la ciudad y en el campo, en los traspatios productivos, en la fincas, en los quilombos, entre otras formas, diversificando las maneras en que la sociedad se relaciona con la naturaleza. En este artículo, pretendemos discutir el proceso de implantación de una ciudad “plantada” en el avance de la frontera agrícola en la región norte del estado de Mato Grosso, específicamente en la ciudad de Sinop, para luego comprender si ella puede de hecho ser clasificada como una ciudad de agronegócio. Para ello, se utilizó investigación bibliográfica, investigación documental, sobre todo datos del IBGE e investigación de campo para el análisis del paisaje urbano, considerando que el foco principal es la ciudad. Se espera que este texto contribuya a las discusiones inherentes a la ciudad en cuestión, especialmente sobre su papel polarizador en la región en la que se inserta.

Palabras-clave:
Relación campo-ciudad; agronegocios; soja

Abstract

The rural-city relationship is created and intensified as a result of the advance of the agribusiness productive market. It is relevant to highlight that the forms of resistance to this productive market are always intrinsic in the city and the countryside, in productive backyards, in farms, in the quilombos, among other ways, diversifying the manners in which society relates to nature. In this article, we intend to discuss the process of implantation of a city “planted” in the advance of the agricultural frontier in the northern region of the state of Mato Grosso, specifically in the city of Sinop, to later understand if it can in fact be classified as a city of agribusiness. For this, bibliographic research, documentary research, specifically IBGE data and field research were used for the analysis of the urban landscape, considering that the main focus is the city. It is hoped that this text will contribute to the discussions inherent to the city in question, especially about its polarizing role in the region in which it is inserted.

Keywords:
Countryside-city relationship; agribusiness; soy

Introdução

As cidades surgem e se desenvolvem ao longo dos anos em decorrência das mais diversas funções econômicas, sociais e culturais que desenvolvem. Pensar a cidade e sua relação com o campo, vai muito além das conexões estabelecidas entre eles, tornando-se necessário pensar questões correlatas ao elo da sociedade com a natureza. Teixeira e Castilho (2020)TEIXEIRA, A. F. M.; CASTILHO, C. J. M. A dialética da relação sociedade-natureza e a reprodução do capital imobiliário no ambiente urbano. Revista Brasileira de Meio Ambiente, v. 8, n. 4, p. 212-224, 2020. compreendem que o processo de (re)produção da cidade e do espaço urbano, por conseguinte, quando orientado pelo modo de produção capitalista, segue o princípio de produção-distribuição-circulação-consumo. Esse sistema reforça as desigualdades socioeconômicas e territoriais. Tal transformação, para os referidos autores, resultará em diferentes formas no uso e cobertura da terra, as quais exercem influências significativas na qualidade de vida dos seres vivos.

Essa apropriação que a sociedade realiza da natureza, por vezes, pode ser descrita como perversa, principalmente quando o sistema de produção capitalista é o que orienta o seu processo de apropriação e (re)produção. Whitaker (2006)WHITAKER, D. C. A. A cultura e o ecossistema: reflexões a partir de um diálogo. Campinas: Alínea, 2006. explana que a sociedade tem passado por uma crise ambiental e sociocultural sem precedentes ao longo da história da humanidade, pois há uma intensa destruição de culturas em paralelo com a destruição da natureza e seus inúmeros ecossistemas. Tal situação tem se intensificado desde a primeira Revolução Industrial, devido a ânsia das diversas sociedades pelo domínio e transformação/produção da natureza atrelada à ganância pelo lucro.

Compreender as dinâmicas presentes nas cidades partem das várias formas e funções que estas vão assumindo conforme as suas mais diversas características de (re)produção socioespacial. Carlos (2007)CARLOS, A. F. A. O espaço urbano: novos escritos sobre a cidade. São Paulo: FFLCH, 2007. compreende a cidade como uma construção humana, sendo um produto histórico-social, contexto que torna a cidade um trabalho materializado, que surge ao longo de várias gerações por meio da relação da sociedade com a natureza.

As atividades econômicas são extremamente importantes para o desenvolvimento das cidades, contudo, é sempre pertinente relembrar que elas não existem sozinhas, dependem do campo que as circundam em menor ou maior intensidade, como também de outras cidades presentes em sua rede urbana. Conforme Carlos (2007)CARLOS, A. F. A. O espaço urbano: novos escritos sobre a cidade. São Paulo: FFLCH, 2007., há uma articulação indissociável de três planos na cidade: o econômico, compreendendo que a cidade é produzida como uma condição de realização do capital; o político, tendo em vista que a cidade é produzida como um espaço de dominação pelo Estado; e o social, pois a cidade é produzida como prática socioespacial, sendo o elemento central da reprodução da vida humana.

Ao passo em que se compreende que a cidade só existe pela sua economia, sociedade, cultura e por suas diversas articulações, entende-se que o campo em muitos casos é parte indispensável do modo de (re)produção da cidade e do espaço urbano, assim, tornase relevante compreender quem são os agentes produtores dessas áreas urbanas. A definição clássica de Corrêa (1989)CORRÊA, R. L. A rede urbana. São Paulo: Editora Ática, 1989. divide os agentes produtores em cinco: (I) os proprietários fundiários; (II) os proprietários dos meios de produção; (III) o Estado; (IV) os promotores imobiliários; e (V) os grupos sociais excluídos.

Com isso, compreende-se que as características, formas e funções das cidades, vão se definir e redefinir ao passo que os interesses dos principais agentes produtores vão se delineando e se moldando. Na medida em que isso fica mais claro, é possível entender que a relação com o campo e a dependência em maior ou menor escala será definida pelos interesses dos agentes. Fontoura (2011)FONTOURA, L. F. M. Campo, cidade e natureza recriada na artificialidade urbana. Boletim Gaúcho de Geografia, n. 36, p. 43-51, 2011. explana que a cidade irá crescer na mesma desenvoltura em que o campo vai criando possibilidades de se autossustentar e sustentar as pessoas que se ocupam de outras tarefas que não se vinculam diretamente à produção agrícola. O campo está tão imbricado na cidade, que além de ser o local da produção agropecuária, também se transforma em um espaço onde são executadas atividades não agrícolas, seja como os trabalhos caseiros, diaristas, jardineiros, dentre outros (Marafon, 2014MARAFON, G. J. Territorialidades, ruralidades e as relações campo-cidade. Campo-Território: Revista de Geografia Agrária, v. 9, n. 18, p. 1-13, 2014.).

Tanto na cidade, como no campo, vão sendo construídos territórios do capital, mas sem destruir totalmente as demais formas pré-existentes, que durante o processo de metamorfose encontram maneiras de resistirem e persistirem, enquanto outras formas são criadas. Por este motivo, é relevante ressaltar que no campo não existe apenas a agropecuária e a agroindústria, mas também pequenos produtores agroextrativistas, como os caiçaras, os quilombolas, as populações ribeirinhas, os faxinalenses, os ocupantes de fundos de pastos, as populações indígenas, dentre tantos outros. Todas essas formas produtivas, envolvendo as populações que possuem uma profunda relação com os bens da natureza, são múltiplas maneiras de resistências sociais, que configuram os territórios que negam a lógica mercantilista do capital, marcado por processos de modernização que envolve a construção de uma nova relação entre o campo e a cidade na atualidade (Suzuki, 2007SUZUKI, J. C. Modernização, território e relação campo-cidade - uma outra leitura da modernização da agricultura. AGRÁRIA, n. 6, p. 83-95, 2007.).

Admite-se, portanto, que a cidade e o campo possuem uma relação de interdependência para os seus processos de (re)produção socioespacial, contudo, há cidades em que essa relação é bem mais próxima, ficando em evidência em suas áreas urbanas. Santos e Silveira (2006)SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Editora Record, 2006., ao analisarem o papel das cidades médias as identificaram como supridoras de informação, técnica e ciência para o campo modernizado brasileiro, como também ofertando bens e serviços para essa nova realidade na atividade agropecuária. Essas configurações, definidas por tais autores, podem se enquadrar na definição das cidades médias, na medida em que elas se manifestam na organização territorial, nos novos modelos de intercâmbio e das novas relações interpessoais, e no geral no entorno delas é criado um novo mundo rural, com processos produtivos estandardizados, onde cada ação deve ser prevista, assegurando a maior produtividade e rentabilidade possível. Spósito (2010) adota a seguinte definição de “cidades médias”:

[...] aquelas que desempenham papéis de intermediação no âmbito de sistemas urbanos simples ou complexos, o que as distingue das ‘cidades de porte médio’, que são aquelas, assim classificadas, em função de um dado tamanho demográfico, que, num determinado país, é considerado como médio segundo esta ou aquela classificação ou tipologia (Sposito, 2010SPOSITO, M. E. B. Novas redes urbanas: cidades médias e pequenas no processo de globalização. GEOGRAFIA, Rio Claro, v. 35, n. 1, p. 51-62, jan./abr. 2010., p. 52).

As formas de organização das cidades mencionadas acima é o que predomina no norte do estado de Mato Grosso, sendo uma região com importante destaque no cenário nacional em decorrência da produção agropecuária em larga escala. Quando esse recorte se restringe às cidades da BR-163, estamos falando em sua maioria em áreas de produção de grãos, tendo em vista que a soja tem exercido um papel fundamental na economia regional. As cidades médias, as margens da rodovia têm recebido o nome de cidades do agronegócio, por terem seu desenvolvimento urbano associado de forma intrínseca ao agronegócio.

Mas, do ponto de vista conceitual, como podemos definir a noção de “cidades do agronegócio?”

Elias (2022)ELIAS, D. Pensando a operacionalização de estudos sobre as cidades do agronegócio. Revista Tamoios, v. 18, n. 1, p. 144-164, 2022., uma das pesquisadoras pioneiras na discussão desse termo no âmbito da ciência geográfica, aponta que tais espaços são portadores de especificidades a partir das quais nos permite classificá-los, considerando uma proposição metodológica, em um tipo de urbanização que se estrutura sob o comando de atividades econômicas associadas a agropecuária modernizada empresarial. De acordo com a própria autora, em seu texto “Pensando a operacionalização de estudos sobre cidades do agronegócio”, as cidades do agronegócio são centros urbanos vinculados à difusão do “agronegócio globalizado”, os quais foram consolidados pelo processo produtivo agropecuário, sobretudo na fronteira agrícola. Nesse amplo espaço da hinterlândia brasileira, alguns desses núcleos surgiram na esteira da ocupação por famílias de produtores agropecuários, frequentemente migrantes de origem do Sul do Brasil; outros, entretanto, já existiam enquanto nucleação urbana, mas se adaptaram ao novo contexto produtivo regional, ganhando dimensão e importância enquanto lugares especializados em serviços e comércio voltados ao consumo produtivo das demandas de um novo rural que se modernizava tecnicamente.

Numa consonância com a demanda de serviços associada diretamente ao campo surgem também as atividades voltadas ao consumo consumptivo (Santos, 1993SANTOS, M. A Urbanização Brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993.), ou seja, ao consumo geral da população assentado na aquisição de mercadorias em lojas de vestuário, de eletrodomésticos, de produtos de beleza, mas expandem ao mesmo tempo os serviços de educação, de telecomunicações, de saúde etc. Além de agregar as novas atividades para atender as demandas dos grupos econômicos do agronegócio, tal movimento possibilitou a implantação nestes lugares de importantes sistemas de transportes e de telecomunicações que passam a garantir maior fluidez ao território, outro fenômeno que evidencia as mudanças socioeconômicas em curso na fronteira agrícola brasileira. Sendo assim, o novo urbano se atualiza tanto com o intuito de atender o consumo produtivo quanto o consumptivo, exercendo o papel de liderança econômica e de polarização regional. É a constituição dessa urbanização, com estreito vínculos com a produção agropecuária em larga escala, que define a cidade do agronegócio.

Embora Elias (2022)ELIAS, D. Pensando a operacionalização de estudos sobre as cidades do agronegócio. Revista Tamoios, v. 18, n. 1, p. 144-164, 2022. tenha adotado, ainda nos anos 1990, o uso da expressão “cidade do agronegócio”, a autora nos alerta no texto citado acima que tal noção é uma derivação do termo “cidade do campo”, utilizado por Santos (1993)SANTOS, M. A Urbanização Brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993. para qualificar a urbanização que se transformava devido às suas novas funções econômicas atreladas à modernização agropecuária cujo comando (político e econômico) passava a ser exercido pelo novo urbano. Destarte tal termo tenha ganhado força argumentativa no âmbito da ciência geográfica sobre o avanço do novo urbano em áreas não metropolitanas, Elias defende que com a noção de cidades do agronegócio é possível explicitar melhor “a quais agentes e interesses a produção de tais cidades se associa, buscando melhor consolidar conceitualmente essa noção” (p. 145).

Dessa forma, diante de uma urbanização que crescia no interior do Brasil e que se consolidou nos anos de 1990 - uma parte importante dela na fronteira agrícola, a partir da instalação de projetos de colonização agropecuária dos governos militares desde os anos de 1970 -, Elias (2022)ELIAS, D. Pensando a operacionalização de estudos sobre as cidades do agronegócio. Revista Tamoios, v. 18, n. 1, p. 144-164, 2022. traz a seguinte definição sobre esse fenômeno urbano em áreas não metropolitanas no interior do país, o qual ganha centralidade analítica para a compreensão dos espaços de elevada produção agropecuária:

A cidade do agronegócio é um espaço urbano não metropolitano, resultado dos processos inerentes às novas formas de uso e ocupação do território brasileiro, associados à reestruturação produtiva da agropecuária e à expansão da economia e da sociedade do agronegócio. Essas cidades exercem centralidade urbana nas RPAs [Regiões Produtivas Agrícolas], ou seja, constituem um elo entre amplos espaços agrícolas - extremamente racionalizados com altos índices de ciência, tecnologia, informação e capital - e o espaço urbano-regional. Assim, as cidades do agronegócio devem ser estudadas a partir de suas interações com os espaços agrícola e regional. Ao mesmo tempo, elas constituem nós da rede de cidades associadas ao agronegócio globalizado, que reúne de cidades pequenas a metrópoles regionais e globais (Elias, 2022ELIAS, D. Pensando a operacionalização de estudos sobre as cidades do agronegócio. Revista Tamoios, v. 18, n. 1, p. 144-164, 2022., p. 146).

Assim, tendo em vista a importância de Sinop no contexto de expansão da fronteira agrícola e seu enquadramento na categoria de cidade do agronegócio no eixo da BR-163 mato-grossense, sendo tal cidade nascida de um projeto de colonização privada, este artigo possui como objetivo central discutir o papel das cidades “plantadas”1 1 As cidades “plantadas” como definidas por Trevisan (2011) podem ser entendidas como um meio de ocupação, colonização e urbanização do território, funcionando como um mecanismo de defesa e proteção das fronteiras, bem como a integração do território nacional. na expansão da fronteira agrícola e de que maneira o núcleo urbano em questão pode ser considerado uma cidade do agronegócio. Para isso, realizou-se a análise de seu desenvolvimento ao longo da história, acompanhado de uma breve análise dos elementos do agronegócio presentes na paisagem urbana e de alguns aspectos correlatos à economia local.

Procedimentos metodológicos

Para o desenvolvimento deste estudo foram adotados o levantamento e análise da bibliografia, de documentos e de informações de trabalhos de campo realizados na área urbana do município. Busca-se, portanto, compreender a cidade para além dos aspectos teóricos e dos números referentes a economia presentes nas mais diversas bases de dados, na medida em que a análise se pauta também pelas formas presentes na paisagem urbana de Sinop (MT).

O levantamento e análise da bibliográfica foi realizado a partir dos passos descritos por Carmo (2022)CARMO, B. A. Os Modelos digitais de terreno na caracterização da vulnerabilidade socioambiental a enchentes na periferia do espaço urbano de Holambra (SP) e as ações do planejamento urbano. Campinas, 2022, 208. Dissertação (Mestrado em Geografia), Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2022., a autora pontua que a pesquisa deve ser realizada em base de dados bibliográficos oficiais, buscando por palavras-chave que orientam a pesquisa, nesse sentido, novos levantamentos devem ser realizados sempre que necessário.2 2 É relevante salientar que os bancos de dados citados não abrangem a totalidade de pesquisas realizadas, entretanto, considerando os objetivos deste trabalho, a busca obteve resultados positivos com os quais conseguimos responder as perguntas que foram elencadas na realização desta pesquisa. Após a organização da bibliografia, a autora orienta que a leitura seja dividida por nível de prioridade, para que a análise seja completa.

O levantamento da bibliografia foi realizado em plataformas online como os periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Scopus e o Google Scholar, posteriormente realizou-se a leitura e análise da bibliografia incorporada nas discussões realizadas. Já a pesquisa documental se pautou basicamente nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que apresentam informações referentes a economia do município, buscando compreender quais são as atividades mais representativas localmente.

No que diz respeito ao trabalho de campo, Gil (2002)GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002. estabelece que é nesse momento em que o pesquisador aprofundará seus conhecimentos sobre a área de estudo. Essa etapa foi realizada no primeiro semestre de 2022, junto com a turma de Geografia urbana, do curso de Geografia, da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), buscando identificar como a paisagem urbana revela materialidades e movimentos do agronegócio, remetendo ao que é denominado neste texto de “cidade do agronegócio”.

As cidades do agronegócio, uma discussão necessária no contexto da expansão da fronteira agrícola

O desenvolvimento econômico do estado de Mato Grosso pós-década de 1970, conforme Oliveira (2016)OLIVEIRA. A. U. A fronteira amazônica mato-grossense: grilagem, corrupção e violência. São Paulo: Iandé Editorial, 2016. Disponível em:<https://agraria.fflch.usp.br/sites/agraria.fflch.usp.br/files/A%20FRONTEIRA%20AMAZ%C3%94NICA%20MATO%20GROSSENSE.pdf>. Acesso em 15 abr. 2022.
https://agraria.fflch.usp.br/sites/agrar...
, foi fundamentado nos objetivos dos governos militares em ocupar e integrar economicamente os territórios pertencentes à Amazônia Legal às demais regiões brasileiras. Esse projeto de governo constituiu-se na expansão da fronteira agrícola com o incentivo ao desenvolvimento de projetos agropecuários, técnica e economicamente modernizados, a partir da construção de rodovias e implantação de núcleos urbanos interligados por estas rodovias (Bernardes, 2007BERNARDES, J. A. BR-163: Uma nova fronteira do capital. In: MAITELLI, G. T.; ZAMPARONI, C. A. G. P. (Org.). Expansão da Soja na pré- Amazônia mato-grossense. Impactos socioambientais. Cuiabá: EdUFMT, 2007, p. 127-151.). Deriva desse mesmo processo, uma maior articulação com o território nacional a partir da constituição de uma rede urbana regional mais integrada aos centros urbanos mais dinâmicos, especialmente aqueles da região concentrada do centro-sul do país, motivada por maior adensamento técnico do território (Santos e Silveira, 2006SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Editora Record, 2006.).

Essa rede urbana mais articulada permitiu o aumento e a incorporação de novos fluxos de mercadorias e pessoas. Nas palavras de Corrêa (2006)CORRÊA, R.L. Estudos sobre a Rede Urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006., as cidades, essencialmente aquelas localizadas na fronteira agrícola, transformam-se no centro de produção e de circulação de capital. Ou seja, o excedente de capital gerado pelas atividades econômicas, sobretudo as vinculadas ao campo modernizado, se realizará também na cidade. Assim, a fronteira agrícola que recebe os adjetivos “nova” ou “moderna”, referem-se às áreas ocupadas a partir da década de 1970, através da implantação de monocultivos intensivos em capital e tecnologia, substituindo a vegetação original (Cerrado e floresta amazônica) por culturas tradicionais e áreas de pastagens extensivas (Frederico, 2011FREDERICO, S. As cidades do agronegócio na fronteira agrícola moderna brasileira. Caderno Prudentino de Geografia, n. 33, v. 1, p. 5-23, 2011.).

A dinâmica interna da nova fronteira agrícola, pode ser compreendida através da criação e utilização de meios técnicos que permitam a expansão da agropecuária em áreas de Cerrado, e atualmente na “borda” da Amazônia Legal (Alves, 2022ALVES, V. E. L. (Org.). Do sertão à fronteira agrícola: o espaço brasileiro em transformação. Rio de Janeiro: Consequência Editora, 2022.), favorecendo o desenvolvimento econômico de atividades correlatas a essa atividade econômica (Santos; Silveira, 2006SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Editora Record, 2006.). Dentre os sistemas técnicos criados para a expansão de atividades econômicas associadas ao agronegócio em Mato Grosso, pode-se dizer que a BR-163 é um dos grandes símbolos desse processo de ocupação. Coy e Kingler (2014) tratam essa rodovia como uma espinha dorsal, que realiza a interconexão desta região norte mato-grossense com o restante do país, tornando-se indispensável no processo de modernização e construção de localidades globalizadas na região.

Essa concepção da BR-163 como espinha dorsal nos leva diretamente para os conceitos de fixos e fluxos, desenvolvidos e aprimorados por Santos (1988)SANTOS, M. Metamorfose do espaço habitado. São Paulo: EdUSP, 1988., que compreende os fixos como objetos técnicos e sociais, que se materializam e se organizam via fluxos. Portanto, a BR-163, pode ser tida como uma versão materializada dos fluxos, e as cidades e suas materialidades (do agronegócio, ou não), nas bordas dessa rodovia são os fixos.

Assim, as cidades médias surgem como elos de conexão entre a produção do espaço agrário e o mundo globalizado, como também de conexão com as pequenas cidades, as quais não possuem as mesmas forças e condições para a sua inserção em uma escala para além da sua relação com o regional. Essas cidades despontam pela sua importância a nível regional, estadual e dependendo do contexto, nacionalmente (Silveira, 2002SILVEIRA, A. D. M. Governança corporativa, desempenho e valor da empresa no Brasil. São Paulo, 2002, 252f. Dissertação (Mestrado), Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.). A respeito da importância das pequenas e médias cidades, em contraposição a influência das áreas metropolitanas cujos fluxos vão além da escala regional, Sposito (2010)SPOSITO, M. E. B. Novas redes urbanas: cidades médias e pequenas no processo de globalização. GEOGRAFIA, Rio Claro, v. 35, n. 1, p. 51-62, jan./abr. 2010. destaca o papel que as nucleações urbanas pequenas e médias possuem para a compreensão do espaço regional, conforme se infere da citação abaixo:

A tradição geográfica de analisar as cidades a partir de suas relações regionais sempre teve grande importância para entender as cidades médias e as pequenas. Não que essa perspectiva não tivesse ou tenha importância para a compreensão de cidades grandes e metropolitanas, mas nestes casos, a amplitude dos fluxos que se estabelecem ultrapassa em muito a escala regional das ações e dos movimentos (Sposito, 2010SPOSITO, M. E. B. Novas redes urbanas: cidades médias e pequenas no processo de globalização. GEOGRAFIA, Rio Claro, v. 35, n. 1, p. 51-62, jan./abr. 2010., p. 53).

O papel destas cidades no mundo globalizado demonstra que a qualidade de vida, o desenvolvimento científico e tecnológico, a disponibilidade de mão de obra e a presença de incentivos governamentais, são alguns dos elementos responsáveis por sua transformação (Pereira, 2005PEREIRA, A. M. A propósito das cidades médias: algumas considerações sobre Montes Claros. In: I Simpósio internacional sobre cidades médias. Anais... Presidente Prudente: GASPERR/UNESP, p. 1-13, 2005.). Logo, apesar da enorme relevância das cidades grandes e das metrópoles, principalmente como centro de comando do capital, as cidades médias aparecem atualmente como propulsoras do desenvolvimento do capital.

Algumas das cidades médias, principalmente aquelas em áreas da fronteira agrícola, têm aparecido no cenário nacional com a denominação de cidades do agronegócio, em decorrência da proximidade das relações do campo com as áreas urbanas. Elias e Pequeno (2007)ELIAS, D.; PEQUENO, R. Desigualdades socioespaciais nas cidades do agronegócio. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 9, n. 1, p.25-39, 2007. compreendem que as cidades são formas materializadas do processo de reprodução do capital. Para tais autores, as cidades do agronegócio são aquelas cujas funções urbanas são principalmente as de atendimento das demandas do agronegócio globalizado, sendo hegemônicas sobre as demais funções urbanas.

Dentre as funções urbanas que as cidades do agronegócio têm recebido, estão os diversos serviços que elas ofertam ao campo moderno. Entre eles, destacam-se a revenda de insumos químicos, mecânicos e biológicos; a prestação de consultoria voltada à agropecuária, a logística, o financeiro e o de mercado; o beneficiamento e processamento agroindustrial dos grãos; o armazenamento e transporte de produtos e insumos agrícolas; o fornecimento de crédito de custeio e investimento (através de bancos e empresas privadas); e, pôr fim, a comercialização da produção (via corretores e tradings) (Frederico, 2011FREDERICO, S. As cidades do agronegócio na fronteira agrícola moderna brasileira. Caderno Prudentino de Geografia, n. 33, v. 1, p. 5-23, 2011.).

Frederico (2011)FREDERICO, S. As cidades do agronegócio na fronteira agrícola moderna brasileira. Caderno Prudentino de Geografia, n. 33, v. 1, p. 5-23, 2011. em sua pesquisa sobre as dinâmicas socioeconômicas e espaciais do novo campo brasileiro, já classificava Sinop como uma cidade do agronegócio, junto às cidades de Rondonópolis (MT), Rio Verde (GO), Dourados (MS), Unaí (MG). Isso principalmente pelo fato de que, na caracterização dessas cidades, o referido autor considera que elas concentram um grande número de agências bancárias, demonstrando a possibilidade da realização do nexo financeiro da produção.

Esse dinamismo urbano exercido pelas cidades do agronegócio se materializa em suas paisagens. No caso das cidades próximas a BR-163, no estado de Mato Grosso, as marcas dessa economia sob o comando do campo concentram, sobretudo, às margens da rodovia, pelo fácil acesso a esses locais, como também em áreas centrais, na medida em que essas cidades nasceram já sob a insígnia do agronegócio.

Sinop (MT): um breve contexto histórico do processo de formação de uma cidade “plantada” e o vínculo com o agronegócio

É no contexto apontado no item anterior que surge e se desenvolve Sinop, no norte do estado de Mato Grosso, área tomada como objeto de estudo deste texto (figura 1). A cidade em questão possui uma população de 196.067 pessoas, conforme o Censo Demográfico de 2022 (IBGE, 2022IBGE Cidades. Brasil - Mato Grosso - Sinop. 2022. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mt/sinop/panorama>. Acesso em: 26 set. 2023.
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mt/si...
), com uma área de 3.990,870 km, PIB per capita, em 2020, de R$ 55.310,00 e o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) em 0,745, para o ano de 2010 (IBGE, 2022IBGE Cidades. Brasil - Mato Grosso - Sinop. 2022. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mt/sinop/panorama>. Acesso em: 26 set. 2023.
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mt/si...
). A discussão neste texto centrará no perímetro urbano do município (figura 1), para além dele será considerada a economia municipal e como o contexto do agronegócio aparece e se destaca.

Figura 1
Localização do município de Sinop e seu perímetro urbano.

A concepção de Sinop encontra-se no bojo de um projeto de ocupação e integração da Amazônia Legal Brasileira, implementada pelo Governo Federal na década de 1970, sendo resultado do projeto de colonização privado da SINOP S.A., tendo a frente dele os proprietários Ênio Pipino e João Moreira de Carvalho. A maior parte das famílias denominadas de pioneiras e que ocupou o núcleo inicial da cidade vindas, prioritariamente, dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Tais famílias chegaram nessa área do estado do Mato Grosso entre os anos de 1972 e 1973. Contudo, a fundação do núcleo urbano só ocorreu no dia 14 de setembro de 1974 e sua elevação à categoria de distrito apenas em 1976, através da lei 3.754, de 29 de junho de 1976 (PREFEITURA, [2022]PREFEITURA Municipal de Sinop (MT). Histórico do município de Sinop. [2022] Disponível em: <https:www.sinop.mt.gov.br/portal/servicios/1001/historia/>. Acesso em 10 jun. 2022.
https:www.sinop.mt.gov.br/portal/servici...
).

A partir da análise dos primeiros documentos impressos, fica evidente que Sinop pode ser compreendida como uma cidade que foi produzida objetivando exclusivamente à reprodução do capital, em especial para a produção de commodities, voltada para escala global, sendo ela direcionada principalmente para a exportação, entretanto com o passar dos anos a cidade assumiu também o papel de oferta de serviços voltados ao agronegócio.

Por este prisma, entende-se que cidades com essas características de formação e consolidação podem ser denominadas de cidades “sem infância”, pelo fato de que nela há a supressão de etapas das fases de seu desenvolvimento socioeconômico. Ou seja, há um processo intenso, desde a sua gênese, na construção de cidades que vão ser apropriadas por consumidores, onde suas partes são compradas aos pedaços para serem loteadas e vendidas em parcelas, em decorrência de sua atratividade a manutenção do complexo agroindustrial. A cidade passa a não ser mais, nesse sentido, projetada para as pessoas que ali residem, mas para tornar o fluxo de bens e serviços mais fluidos (Martins, 1996MARTINS, S. A cidade “sem infância”: a produção do espaço no mundo da mercadoria. Boletim Paulista de Geografia, n. 74, p. 23-46, 1996.).

No contexto do agronegócio, estas cidades são planejadas para servir cada vez mais à manutenção do complexo agroindustrial; portanto, já não são mais projetadas para pessoas, mas, sim, para a circulação e ampliação do capital atrelado ao agronegócio. A partir da implantação e inauguração da BR-163 (trecho Cuiabá-Santarém) em Sinop, no ano de 1986, foi constituída a infraestrutura necessária para articular o norte de Mato Grosso aos demais mercados, nacional e internacional, atribuindo ao município o papel de polo sub-regional. Com a rodovia instalada, houve o reforço para o incentivo à exploração econômica regional dos recursos naturais, começando com a extração de madeiras, compreendida como a atividade pioneira na área, e, nos anos 1990, a implantação do agronegócio visando majoritariamente o mercado externo (Macedo e Ramos, 2015MACEDO, F. C.; RAMOS, P. Formação, expansão e diversificação econômica: o caso do município projetado de Sinop/MT. In: VII Seminário Internacional Sobre Desenvolvimento Regional, 2015, Rio Grande do Sul, Brasil. Anais [...]. Rio Grande do Sul, UNISC, 2015, p. 01-22.).

O trecho da soja (BR-163) é onde se concentram as cidades que mais se desenvolvem, principalmente pela influência do agronegócio, com o cultivo de commodities. Souza (2004)SOUZA, E. A. Sinop: história, imagens e relatos. Um estudo sobre a sua colonização. Cuiabá: EdUFMT, 2004. identificou que o discurso de progresso é muito presente em Sinop, causando certas euforias nos projetos de urbanização, que, de certa forma, pode ser compreendida como planejada e controlada, tendo em vista a forte influência do mercado imobiliário. O autor destaca que há um grande fluxo de migrantes de outras partes do país para o município, o que acaba reconfigurando um padrão demográfico e cultural da cidade que se torna bastante diversificado. Volochko (2015) trata que a espacialização das cidades no norte do estado de Mato Grosso ocorre a partir de Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso e Sinop, todas construídas às margens da BR-163 (figura 2).

Figura 2
Espacialização das cidades de Sinop, Sorriso, Lucas do Rio Verde e Nova Mutum ao longo da BR-163.

Na figura 2, em função da escala adotada não é possível visualizar as vias urbanas de forma efetiva, contudo, as cidades em questão apresentam suas vias extremamente retilíneas, o que dá a ideia de uma cidade planejada pelo formato adotado para implantação e expansão da cidade.

Por serem cidades planejadas, e compreendidas como cidades “plantadas”, elas acabam constituindo uma rede de cidades com uma morfologia urbana, paisagens homogêneas e simétricas, com características de organização internas parecidas. Assim, essas cidades acabam assumindo uma concepção de “cidade organizada” ou “cidade planejada”, se articulando esteticamente com o campo.

Souza (2017)SOUZA, E. A. Reflexões acerca da história de Sinop/MT: imigração e fronteira agrícola. Revista História e Diversidade, v. 9, n. 1, 2017, p. 96-109., explica que a caracterização da cidade de Sinop como um núcleo urbano planejado se deu principalmente pelo fato de que o desenvolvimento de seu perímetro urbano incorporou a BR-163 e desde seu início já exercia uma função extremamente importante na fronteira agrícola, destacando-se no quadro político-econômico regional. A rodovia exerce uma enorme influência no desenvolvimento das cidades que se localizam às suas margens, pois com o fluxo econômico intenso e a exploração do agronegócio, as cidades se desenvolvem e aumentam seu perímetro urbano sob a influência do mercado produtivo.

Essas características tornam-se autoexplicativas pelo fato de que os principais agentes produtores desses espaços geográficos (espaço rural e, principalmente, o espaço urbano) são os promotores imobiliários, os grandes latifundiários e o Estado. No caso de Sinop, especificamente há uma influência direta de uma colonizadora imobiliária, de onde vem os padrões urbanos iniciais de implantação, ruas retilíneas e a ideia de uma cidade “plantada” em meio à floresta, como pode ser observado na figura 3.

Figura 3
Vista aérea da cidade de Sinop em 1973 e 2022.

Na área em que se instala Sinop há uma intensa visibilidade internacional, em decorrência da Amazônia Legal; daí a importância de integrar e explorar esse território. Com o passar dos anos a configuração do tecido urbano de Sinop foi se expandindo e a paisagem foi ganhando novas formas, mantendo, contudo, as características de uma cidade com fortes influências das atividades desenvolvidas no campo. Ainda na figura acima, para o ano de 2022, é possível observar como a mancha urbana expandiu significativamente, sendo visível uma maior concentração de casas e um processo inicial de verticalização, embora ainda não se encontre uma grande concentração de prédios, justamente por esse processo de verticalização ainda esteja em gestação.

Mas independentemente da pouca idade, a cidade se desenvolveu de maneira significativa, sobretudo em função das atividades produtivas do campo, revelando uma extensão e uma pressão de seu perímetro urbano para áreas de produção agrícola do seu entorno. Na figura 4 é possível observar os novos condomínios implantados na cidade, efetivando sua expansão urbana para áreas na periferia física da cidade.

Figura 4
Vistas da entrada de um condomínio fechado e de um bairro popular em expansão na cidade de Sinop (MT).

Nessas novas áreas de expansão urbana, se observa o crescimento de bairros com concentração de condomínios fechados habitados por pessoas de elevado padrão econômico e também de bairros populares, demonstrando a consolidação de uma cidade segregada.

A partir das constatações referentes à bibliografia consultada e das observações realizadas em trabalhos de campo, é possível considerar que a cidade de Sinop com o passar dos anos assumiu a função de abastecer o rural e as atividades agrícolas, com a oferta de produtos, maquinários e insumos. Além disso, a cidade fomentou o desenvolvimento de tecnologias, a concentração e a qualificação de mão de obra para atender as demandas regionais.

As reflexões acima possuem respaldo em Macedo e Ramos (2015)MACEDO, F. C.; RAMOS, P. Formação, expansão e diversificação econômica: o caso do município projetado de Sinop/MT. In: VII Seminário Internacional Sobre Desenvolvimento Regional, 2015, Rio Grande do Sul, Brasil. Anais [...]. Rio Grande do Sul, UNISC, 2015, p. 01-22. quando fazem uma análise do documento das Regiões de Influência das Cidades (REGIC) (IBGE, 2020aIBGE. Regiões de Influência das Cidades - REGIC 2018. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2020a.), que classificava Sinop como Capital Sub-Regional B. Na nova versão do documento da REGIC (IBGE, 2020aIBGE. Regiões de Influência das Cidades - REGIC 2018. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2020a.), a cidade em questão aparece como Capital Regional C, resultado do movimento já identificado pelos autores, com a inauguração do campus da UFMT, em 2006, oferecendo cursos de graduação e pós-graduação. Anteriormente a isso, a cidade já contava com um campus da UNEMAT, além dessas universidades, se instalaram as faculdades particulares, como a Faculdade de Sinop - FASIPE, a UNIC e a FASTCH. Em 2008, foi inaugurado o aeroporto para a oferta de voos comerciais para fora do estado, sendo atualmente ampliadas e melhoradas as suas estruturas físicas e logística. Em 2012 houve também a inauguração da EMBRAPA Agrossilvipastoril.

Com essas constatações, é possível inferir que Sinop foi pensada desde o início para ser uma cidade polarizadora, gerenciando o agronegócio regional. Talvez sua função central não seja de fato a produção agropecuária, mas sim a de oferta de serviços para atender esse mercado e suprir as demandas regionais, principalmente pelo fato de que com o aeroporto e a rodovia, a cidade esteja mais integrada ao mercado nacional e global do que as demais cidades ao longo da BR-163.

Sinop é uma cidade do agronegócio?

As cidades “plantadas”, conforme os autores abordados até o momento, geralmente ao longo do tempo se transformam em áreas de importante vínculo com o agronegócio e, além disso, também são classificadas como cidades médias, definidas para além de suas características demográficas. É importante destacar que grande parte das funções desempenhadas pelas cidades médias está diretamente interligada a atividades agropecuárias (Sposito, 2007SPOSITO, M. E. B. Cidades médias: reestruturação das cidades e reestruturação urbana. In: SPOSITO, M. E. B. (Org). Cidades médias: espaços em transição. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2007. p. 233-256.).

Neste contexto das funções das cidades médias, é importante destacar as instituições presentes em Sinop, além das mencionadas no item anterior, na medida em que a previsão é que a cidade possa receber outros investimentos, dado a sua importância regional em vários contextos: produtivo, imobiliário, de serviços etc.

Os novos projetos de loteamentos também demonstram um novo rumo para o crescimento de Sinop, ao contrário do que ocorria em outros momentos, quando a cidade crescia no sentido norte-sul do eixo da BR-163, agora a sua expansão horizontal segue também no sentido do aeroporto e da UNEMAT. Ou seja, direciona-se para o oeste, bem como para as áreas próximas da UFMT. Nessas áreas, a colonizadora “pioneira” não possui mais estoque de terras; contudo, mantém contato com proprietários de chácaras, o que aventa a possibilidade de articulação entre os agentes econômicos que produzem o espaço urbano visando também ao processo especulativo. Nesse sentido, a expansão urbana atual de Sinop avança fortemente sobre áreas que até recentemente eram de produção agropecuária, onde ocorre a implantação de novos loteamentos, sobretudo condomínios fechados, empreendimentos imobiliários administrados por diversas empresas do setor (Lima e Palmisano, 2023LIMA, A. C.; PALMISANO, A. O crescimento urbano de Sinop - MT entre os anos de 2000 a 2020 e a relação entre a população, atividades econômicas e agentes produtores do espaço Urbano. Revista GEONORTE, v. 14, n. 44, p. 23-41, 2023.). Com isso, nota-se uma disputa pelo solo urbano por parte dos grandes empreendedores, que cada vez mais almejam a valorização de seus imóveis.

Mas o que de fato na paisagem urbana torna Sinop uma cidade do agronegócio? E, para além da paisagem, quais características podem ser levantadas? Para responder a essas questões, na figura 5, tomando como base informações presentes no Google Earth, buscou-se demonstrar alguns elementos da paisagem urbana que corroboram com essa aproximação da realidade rural à urbana.

Figura 5
Espacialização dos elementos que fomentam o agronegócio no perímetro urbano de Sinop (MT) - 20223 3 Para a classificação dos elementos da paisagem que fomentam o agronegócio no perímetro urbano de Sinop (MT), foi utilizada a identificação via imagens do Google Earth (identificação visual, utilizando street view, bem como as informações fornecidas pelo próprio aplicativo) e validação por meio de idas a campo. Com relação a classificação destas localidades, foi adaptada a proposta da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CONCLA, 2024). .

Na figura acima observa-se que estão espacializados os elementos, a partir da presença de comércio e serviços na paisagem urbana, que possui alguma vinculação com o agronegócio, seja oferecendo bens e serviços, seja disponibilizando a formação de profissionais qualificados para atuar na área. Em suma, fica evidente que o eixo de expansão da mancha urbana ocorre principalmente em direção ao oeste, enquanto a expansão a leste é bem recente, influenciada, sobretudo, pela localização da UFMT e pela implantação de um shopping center. A concentração das materialidades nas proximidades da BR-163 ocorre principalmente pela facilidade no escoamento e pela oferta desses serviços, além de haver certa concentração na área central da cidade. Contudo, há um destaque especial para o setor financeiro, que na figura aparece representado pelas agências bancárias.

Apesar do crescimento da mancha urbana, a BR-163 ainda possui uma importância relativamente grande com relação ao desenvolvimento da cidade de Sinop. Isso fica claro principalmente a partir das constatações de Coy e Klingler (2014)COY, M.; KLINGLER, M. Frentes pioneiras em transformação: o eixo da BR-163 e os desafios socioambientais. Revista Territórios e Fronteiras, v. 7, n. 1, p. 1-26, 2014. que a caracterizam, conforme mencionado anteriormente, como uma espinha dorsal de um dos corredores econômicos mais importantes na Amazônia brasileira. Esse trecho do mencionado eixo rodoviário é entendido como um corredor de modernização, por ser um local onde grandes empresas, em sua maioria de capital estrangeiro, apoiam-se para o surgimento de espaços globalizados, que, sem dúvida, contribuem de forma significativa para o processo de exportação dos produtos agrícolas.

O que também fica em evidência na figura 6 é como a cidade está rodeada por monocultivos agrícolas. Isso ganha destaque quando se expressa o processo produtivo agrícola municipal em números. Tais dados referentes à presença de lavouras temporárias e permanentes podem ser observados na tabela 1.

Tabela 1
Evolução da produção agrícola em Sinop (em hectares).

Os dados em relação às demais cidades do agronegócio se devem à necessidade de demonstrar que Sinop, quando comparada a Sorriso, Lucas do Rio Verde e Nova Mutum, por mais que tenha tido um aumento expressivo de lavouras temporárias em 20 anos (2000 a 2021), ainda é o município com menor área destinada à produção agrícola por hectares. Esse quadro é resultado de sua extensão territorial, menor que aquelas dos demais municípios.

Além disso, nas informações presentes na tabela acima é possível visualizar que em ambos os anos as lavouras temporárias foram as que mais avançaram em comparação com as permanentes. Contudo, as lavouras permanentes, em 2021, tiveram uma redução significativa nos municípios mencionados, ao que havia no ano de 2000, com exceção de Sinop, que teve um pequeno aumento. Acompanhada desses dados, outra variável que merece atenção é o Produto Interno Bruto (PIB) de Sinop, que pode ser visualizado na tabela 2.

Tabela 2
Evolução do PIB e PIB per capita ao longo dos anos em Sinop e Brasil (em reais).

A partir da análise dos dados dispostos na tabela, é possível verificar que houve um aumento significativo do PIB e do PIB per capita4 4 Na tabela, é considerado o valor bruto em preços correntes. ao longo dos últimos 20 anos em Sinop, Mato Grosso e no Brasil, valores que se ampliaram de maneira crescente a cada década. No caso de Sinop, indica que o crescimento econômico foi mais expressivo do que o de Mato Grosso e do Brasil, sobretudo nos últimos dez anos, o que reflete na influência da economia do agronegócio no município. Esse crescimento, por conseguinte, induz a transformações no espaço urbano municipal. O mesmo movimento se observa em relação ao PIB per capita, com crescimento mais relevante para a escala municipal.

Acompanhado disso, as informações referentes ao IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) demonstram que esse indicador econômico para Sinop corresponde a 0,754. Quando comparado ao Brasil, para os anos de referência de 2021/2022, o indicador possui os mesmos valores, de 0,754, embora Sinop tenha crescido economicamente, em termos proporcionais, mais do que o Brasil. Observase, portanto, que o município de Sinop acompanhou o mesmo desempenho correspondente ao nacional, mas com crescimento econômico mais elevado, fato que indica que houve maior concentração de renda no município. No entanto, é importante alertar que os dados de PIB, PIB per capita e IDHM são referências genéricas e correspondem a médias estatísticas, certamente elas escondem ainda mais desigualdades socioeconômicas e territoriais da realidade estudada.

Entretanto, ao analisar o caso de Sinop, esses valores apontam para uma situação de ainda maior contraste de distribuição de renda, na medida em que ao considerar o nível nacional, implica relembrar que estamos tratando de um país com dimensões continentais, com diversas particularidades regionais. Enquanto que Sinop, embora apresente indicadores de produção de riqueza mais acelerada do que a escala nacional nos últimos 20 anos, os dados demonstram que não ocorreu a distribuição dessa riqueza pelo conjunto da população do município, sendo isso uma evidência da injusta distribuição da riqueza.

Considerando os dados referentes ao PIB, é relevante que esses sejam acompanhados daqueles das atividades econômicas predominantes no município. Dito isso, no gráfico 1 é possível visualizar como o valor total está distribuído entre os diversos ramos econômicos.

Gráfico 1
Divisão do PIB (em reais) do município de Sinop de acordo com os ramos da economia (2020).

De acordo com os dados presentes no gráfico, é possível apontar que o PIB municipal de Sinop é mantido principalmente pelo ramo de serviços, sendo que a agropecuária é o que menos impacta o valor, em especial quando comparada ao setor da indústria e da administração, defesa, educação e saúde públicas e seguridade social.

No entanto, quando esses dados são comparados àqueles referentes aos valores de exportação e importação para o ano de 2022, Sinop aparece como o 3° município que mais exportou a nível estadual e o 39° a nível nacional. O município em questão exportou para países em todos os continentes, demonstrando que sua rede de relações vai além da escala nacional. Quando comparado os dados de exportação com os de importação, Sinop exportou, em 2022, US$ 1,72 bilhões e importou US$ 394 milhões, o que demonstra um superávit municipal (COMEX STAT, 2022COMEX STAT. 2022. Disponível em: < http://comexstat.mdic.gov.br/pt/comex-vis >. Acesso em: 15 fev. 2023.
http://comexstat.mdic.gov.br/pt/comex-vi...
).

As diversas transformações observadas na economia regional e local em Sinop, se revelam principalmente através da BR-163, não somente com o desaparecimento da atividade madeireira, mas também com surgimento de enormes armazéns de grãos de empresas multinacionais e nacionais, como a Amaggi, a Bunge, a ADM, a Cargill, entre outras. Essa situação confirma a incorporação da cidade na região produtiva do agronegócio, o que transforma significativamente a relação campo-cidade (Coy e Klingler, 2014COY, M.; KLINGLER, M. Frentes pioneiras em transformação: o eixo da BR-163 e os desafios socioambientais. Revista Territórios e Fronteiras, v. 7, n. 1, p. 1-26, 2014.).

As Regiões Produtivas Agrícolas (RPAs), ou do agronegócio, que podem ser compreendidas como os novos arranjos territoriais voltados para as produções agrícolas, sendo elas redes agroindustriais que recebem expressivos investimentos produtivos fruto do agronegócio globalizado. Essas regiões introduzem alterações nas relações campo-cidade e no próprio processo de urbanização, tornando-o mais intensivo, já que para o desenvolvimento efetivo da produção agrícola e agroindustrial, elas necessitam das cidades para se tornarem de fato funcionais ao agronegócio (Elias, 2011).

A classificação de Sinop como uma cidade do agronegócio não ocorre apenas pela produção de commodities, mas também por sua importância regional e pelas profundas mudanças que sua instauração causou na rede urbana regional da qual faz parte. Sua importância e sua classificação como tal não se devem apenas à produção, mas principalmente à oferta de bens e serviços que ela destina regionalmente, seja pelas empresas de manutenção de maquinário agrícola, seja pela venda de insumos para a produção. No geral, a cidade participa de toda a cadeia produtiva do agronegócio.

A reestruturação da relação campo-cidade e a presença latente de atividades agropecuárias no entorno da cidade de Sinop, ficam mais evidente ao se considerar a figura 6, que demonstra como as duas formas de interação estão intrinsecamente vinculadas na localidade, evidenciando a força do agronegócio no município, mas com menos influência estritamente produtiva desse setor, e mais relacionada às demandas de outras etapas da cadeia produtiva.

Figura 6
Vista aérea de Sinop evidenciando a expansão urbana, local próximo à UFMT e ao shopping (2022).

Na figura acima é possível visualizar parte do campus da UFMT em Sinop, com ênfase nos blocos. Além disso, verifica-se no centro da imagem uma escola pública e, do lado direito, um prédio branco, do shopping sinopense. O que deve ser ressaltado na imagem é que, ao fundo, próximo às duas instituições, já são observados os cultivos agrícolas, com lavouras temporárias, no entorno da área urbana. Além disso, a maior parte dos cursos ofertados pela UFMT é voltada ao atendimento e a formação de mão de obra qualificada para manter e desenvolver a cadeia produtiva do agronegócio.

Com isso, torna-se patente, tanto pela produção e pelas relações estabelecidas entre o campo e a cidade quanto pela oferta de serviços, que Sinop pode ser caracterizada como uma cidade do agronegócio não somente pelo processo produtivo agropecuário - que, quando comparada ao de outras cidades de características urbanas semelhantes, mostra-se bem menor, mas também por ela possuir um papel polarizador na estrutura econômica da agricultura globalizada em escala regional e estadual. Portanto, pode-se dizer que o crescimento econômico de Sinop deve continuar se mantendo e que sua importância regional, estadual e nacional, tende a aumentar, considerando o seu poder de influência econômica e a importância das commodities agrícolas para a economia brasileira.

Considerações finais

A expansão da fronteira agrícola brasileira desde os anos de 1970 permitiu a expansão econômica e demográfica, bem como a dilatação do espaço urbano em áreas do espaço rural do município de Sinop, com sua crescente inserção na economia nacional. Com a implantação da BR-163 e a exploração agropecuária na região norte mato-grossense foi cada vez mais intensificada a relação sociedade-natureza, com fortes impactos ambientais com supressão da maior parte da vegetação nativa. Contudo, o elevado crescimento econômico verificado nas últimas décadas no município, não houve garantia de uma relação de maior equidade socioeconômica, principalmente por tal crescimento econômico orientado pela produção capitalista, que visa os lucros acima do bem-estar social e da qualidade socioambiental.

Compreender que Sinop é uma cidade média de enorme relevância na região que ocupa, o norte do estado do mato Grosso, direciona-se para o entendimento de que para além da sua relevância regional, há uma enorme significância de sua participação na rede urbana regional e, principalmente, para uma melhor articulação com as demais cidades no eixo da BR-163. Outro ponto que merece atenção é o que se considera a consolidação e integração dessa área que surgiu especialmente em decorrência do destaque internacional que a Amazônia Legal recebeu a partir da segunda metade do século XX. De qualquer forma, integrar e desenvolver economicamente essa área não garantiu a manutenção dos seus potenciais naturais.

Considerar Sinop uma cidade do agronegócio vai além das suas capacidades produtivas (de produção de commodities agrícolas), mas também da oferta de bens e serviços por parte dela. Isso ocorre principalmente pelo fato de que grandes empresas transnacionais e nacionais se instalarem na região para atender o mercado produtivo do agronegócio. A produção agropecuária do município ainda é amplamente relevante, mas não é o único setor que torna a cidade importante economicamente, principalmente quando se observa a paisagem urbana, marcada por importantes alterações ao longo da sua breve história, evidenciando uma cidade com cada vez mais diversificação das atividades econômicas e que cumpre um papel de enorme destaque na rede urbana regional, embora o agronegócio ainda continue definindo às suas dinâmicas socioespaciais e econômicas.

Cabe salientar, ainda, que embora Sinop configure como uma cidade do agronegócio que adquiriu centralidade econômica regional e que concentra uma parcela relevante da riqueza produzida no estado de Mato Grosso, não somente pelas atividades associadas diretamente ao rural globalizado, mas também por sua diversificação econômica, a lógica de reprodução do capital continua mantendo o mesmo padrão de acumulação. Isso porque a produção do espaço urbano, com sua consequente valorização, continua sendo controlada pelos poucos grupos econômicos concentradores da terra urbana e rural, gerando, por conseguinte, a ampliação da segregação socioespacial e o aumento da exclusão de parcelas consideráveis da população do município, as quais não conseguem ser contempladas, em plenitude, com a riqueza produzida. Agrega-se a isso os enormes passivos ambientais gerados ao longo de décadas de exploração intensiva de recursos naturais pelas atividades agropecuárias e pela expansão urbana conduzida pela especulação imobiliária. Trata-se, nesse sentido, de um modelo econômico socialmente injusto e ambientalmente insustentável.

  • Como citar este artigo

    CARMO, Beatriz de Azevedo do; ALVES, Vicente Eudes Lemos. A expansão da fronteira agrícola no norte do estado de Mato Grosso e o surgimento das cidades “plantadas”: Sinop (MT), uma cidade do agronegócio? Revista NERA, v. 27, n. 2, e10101, abr.-jun., 2024.
  • 1
    As cidades “plantadas” como definidas por Trevisan (2011) podem ser entendidas como um meio de ocupação, colonização e urbanização do território, funcionando como um mecanismo de defesa e proteção das fronteiras, bem como a integração do território nacional.
  • 2
    É relevante salientar que os bancos de dados citados não abrangem a totalidade de pesquisas realizadas, entretanto, considerando os objetivos deste trabalho, a busca obteve resultados positivos com os quais conseguimos responder as perguntas que foram elencadas na realização desta pesquisa.
  • 3
    Para a classificação dos elementos da paisagem que fomentam o agronegócio no perímetro urbano de Sinop (MT), foi utilizada a identificação via imagens do Google Earth (identificação visual, utilizando street view, bem como as informações fornecidas pelo próprio aplicativo) e validação por meio de idas a campo. Com relação a classificação destas localidades, foi adaptada a proposta da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CONCLA, 2024CONCLA. Classificação Nacional de Atividades Econômicas [2024]. Disponível em: https://concla.ibge.gov.br/estrutura/atividades-economicas-estrutura/cnae. Acesso em: 27 jan. 2024.
    https://concla.ibge.gov.br/estrutura/ati...
    ).
  • 4
    Na tabela, é considerado o valor bruto em preços correntes.

Referências

  • ALVES, V. E. L. (Org.). Do sertão à fronteira agrícola: o espaço brasileiro em transformação. Rio de Janeiro: Consequência Editora, 2022.
  • BERNARDES, J. A. BR-163: Uma nova fronteira do capital. In: MAITELLI, G. T.; ZAMPARONI, C. A. G. P. (Org.). Expansão da Soja na pré- Amazônia mato-grossense. Impactos socioambientais. Cuiabá: EdUFMT, 2007, p. 127-151.
  • CARLOS, A. F. A. O espaço urbano: novos escritos sobre a cidade. São Paulo: FFLCH, 2007.
  • CARMO, B. A. Os Modelos digitais de terreno na caracterização da vulnerabilidade socioambiental a enchentes na periferia do espaço urbano de Holambra (SP) e as ações do planejamento urbano Campinas, 2022, 208. Dissertação (Mestrado em Geografia), Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2022.
  • COMEX STAT. 2022. Disponível em: < http://comexstat.mdic.gov.br/pt/comex-vis >. Acesso em: 15 fev. 2023.
    » http://comexstat.mdic.gov.br/pt/comex-vis
  • CONCLA. Classificação Nacional de Atividades Econômicas [2024]. Disponível em: https://concla.ibge.gov.br/estrutura/atividades-economicas-estrutura/cnae Acesso em: 27 jan. 2024.
    » https://concla.ibge.gov.br/estrutura/atividades-economicas-estrutura/cnae
  • CORRÊA, R.L. Estudos sobre a Rede Urbana Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
  • CORRÊA, R. L. A rede urbana São Paulo: Editora Ática, 1989.
  • COY, M.; KLINGLER, M. Frentes pioneiras em transformação: o eixo da BR-163 e os desafios socioambientais. Revista Territórios e Fronteiras, v. 7, n. 1, p. 1-26, 2014.
  • ELIAS, D.; PEQUENO, R. Desigualdades socioespaciais nas cidades do agronegócio. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 9, n. 1, p.25-39, 2007.
  • ELIAS, D. Pensando a operacionalização de estudos sobre as cidades do agronegócio. Revista Tamoios, v. 18, n. 1, p. 144-164, 2022.
  • FONTOURA, L. F. M. Campo, cidade e natureza recriada na artificialidade urbana. Boletim Gaúcho de Geografia, n. 36, p. 43-51, 2011.
  • FREDERICO, S. As cidades do agronegócio na fronteira agrícola moderna brasileira. Caderno Prudentino de Geografia, n. 33, v. 1, p. 5-23, 2011.
  • GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.
  • IBGE. Regiões de Influência das Cidades - REGIC 2018 Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2020a.
  • IBGE. PIB por município - Sinop 2020b. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/contas-nacionais/9088-produto-interno-bruto-dos-municipios.html?=&t=pib-por-municipio&c=5107909>. Acesso em: 21 jan. 2023.
    » https:/www.i/bge.gov.br/estatisticas/economicas/contas-nacionais/9088-produto-interno-bruto-dos-municipios.html?=&t=pib-por-municipio&c=5107909
  • IBGE Cidades. Brasil - Mato Grosso - Sinop 2022. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mt/sinop/panorama>. Acesso em: 26 set. 2023.
    » https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mt/sinop/panorama
  • IBGE/SIDRA. Produção Agrícola Municipal (PAM) 2022. Disponível em: <https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/pam/tabelas>. Acesso em: 20 jan. 2023.
    » https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/pam/tabelas
  • LIMA, A. C.; PALMISANO, A. O crescimento urbano de Sinop - MT entre os anos de 2000 a 2020 e a relação entre a população, atividades econômicas e agentes produtores do espaço Urbano. Revista GEONORTE, v. 14, n. 44, p. 23-41, 2023.
  • MACEDO, F. C.; RAMOS, P. Formação, expansão e diversificação econômica: o caso do município projetado de Sinop/MT. In: VII Seminário Internacional Sobre Desenvolvimento Regional, 2015, Rio Grande do Sul, Brasil. Anais [...]. Rio Grande do Sul, UNISC, 2015, p. 01-22.
  • MARAFON, G. J. Territorialidades, ruralidades e as relações campo-cidade. Campo-Território: Revista de Geografia Agrária, v. 9, n. 18, p. 1-13, 2014.
  • MARTINS, S. A cidade “sem infância”: a produção do espaço no mundo da mercadoria. Boletim Paulista de Geografia, n. 74, p. 23-46, 1996.
  • OLIVEIRA. A. U. A fronteira amazônica mato-grossense: grilagem, corrupção e violência. São Paulo: Iandé Editorial, 2016. Disponível em:<https://agraria.fflch.usp.br/sites/agraria.fflch.usp.br/files/A%20FRONTEIRA%20AMAZ%C3%94NICA%20MATO%20GROSSENSE.pdf>. Acesso em 15 abr. 2022.
    » https://agraria.fflch.usp.br/sites/agraria.fflch.usp.br/files/A%20FRONTEIRA%20AMAZ%C3%94NICA%20MATO%20GROSSENSE.pdf
  • PEREIRA, A. M. A propósito das cidades médias: algumas considerações sobre Montes Claros. In: I Simpósio internacional sobre cidades médias. Anais.. Presidente Prudente: GASPERR/UNESP, p. 1-13, 2005.
  • PREFEITURA Municipal de Sinop (MT). Histórico do município de Sinop [2022] Disponível em: <https:www.sinop.mt.gov.br/portal/servicios/1001/historia/>. Acesso em 10 jun. 2022.
    » https:www.sinop.mt.gov.br/portal/servicios/1001/historia/
  • SANTOS, M. Metamorfose do espaço habitado São Paulo: EdUSP, 1988.
  • SANTOS, M. A Urbanização Brasileira São Paulo: Hucitec, 1993.
  • SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Editora Record, 2006.
  • SILVEIRA, A. D. M. Governança corporativa, desempenho e valor da empresa no Brasil São Paulo, 2002, 252f. Dissertação (Mestrado), Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.
  • SOUZA, E. A. Sinop: história, imagens e relatos. Um estudo sobre a sua colonização. Cuiabá: EdUFMT, 2004.
  • SOUZA, E. A. Reflexões acerca da história de Sinop/MT: imigração e fronteira agrícola. Revista História e Diversidade, v. 9, n. 1, 2017, p. 96-109.
  • SPOSITO, M. E. B. Novas redes urbanas: cidades médias e pequenas no processo de globalização. GEOGRAFIA, Rio Claro, v. 35, n. 1, p. 51-62, jan./abr. 2010.
  • SPOSITO, M. E. B. Cidades médias: reestruturação das cidades e reestruturação urbana. In: SPOSITO, M. E. B. (Org). Cidades médias: espaços em transição. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2007. p. 233-256.
  • SUZUKI, J. C. Modernização, território e relação campo-cidade - uma outra leitura da modernização da agricultura. AGRÁRIA, n. 6, p. 83-95, 2007.
  • TEIXEIRA, A. F. M.; CASTILHO, C. J. M. A dialética da relação sociedade-natureza e a reprodução do capital imobiliário no ambiente urbano. Revista Brasileira de Meio Ambiente, v. 8, n. 4, p. 212-224, 2020.
  • VOLOCHKO, D. 2016. Terra, poder e capital em Nova Mutum-MT: elementos para o debate da produção do espaço nas “cidades do agronegócio”. GEOgraphia v. 17, n. 35, p. 40-67, 2016. Disponível em: <https://periodicos.uff.br/geographia/article/view/13728>. Acesso em: 8 abr. 2022.
    » https://periodicos.uff.br/geographia/article/view/13728
  • WHITAKER, D. C. A. A cultura e o ecossistema: reflexões a partir de um diálogo. Campinas: Alínea, 2006.
O processo de editoração deste artigo foi realizado por Lorena Izá Pereira e Camila Ferracini Origuela.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Set 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    28 Set 2023
  • Revisado
    06 Jan 2024
  • Aceito
    17 Abr 2024
Universidade Estadual Paulista (UNESP) CEP: 19060-900, +55 (18) 3229-5664 - Presidente Prudente - SP - Brazil
E-mail: revista.nera@gmail.com