RESENHA
Visuelles Wörterbuch Portugiesisch/Deutsch
Visual dictionary Portuguese/German
Félix Bugueño Miranda1 1 Professor de Língua Espanhola, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Email: felixv@uol.com.br
Visuelles Wörterbuch Portugiesisch/Deutsch. München: Dorling Kindersley Verlag, 2010 (359p.)
O Visuelles Wörterbuch Portugiesisch/Deutsch (doravante VWtbPD (2010)) pertence à já clássica linhagem de Bildwörterbücher tão intimamente ligada à "família" Duden.
Sabe-se que um dicionário onomasiológico, na modalidade pictórica, apresenta sempre dois desafios. Em primeiro lugar, gerar uma estrutura de acesso intimamente ligada à definição macroestrutural qualitativa. Em segundo lugar, assegurar que a "substituição ostensiva" (a representação de um signo linguístico por uma imagem) represente o conteúdo de um dado signo (raiva, por exemplo). No que diz respeito à função da obra lexicográfica e ao usuário que VWtbPD (2010) almeja atingir, no Front Matter - que corresponde grosso modo a todo o material apresentado antes da nomenclatura principal do dicionário - , comenta-se que o dicionário tem por objetivo permitir o ganho de massa léxica (8), ou seja, aprender léxico. Para tanto, sugere-se um total de quatro estratégias que permitiriam cumprir essa tarefa: 1) estabelecer uma correlação entre as gravuras e os objetos da realidade para verificar se houve aprendizado léxico; 2) escrever um texto empregando o máximo de palavras contidas em algum tópico do dicionário; 3) fazer desenhos imitando as gravuras encontradas no livro e depois acrescentar o nome (designação) correspondente a cada desenho; 4) a partir do índice remissivo - a macroestrutura complementar em português - , tentar lembrar do equivalente em alemão. Em relação ao pretenso usuário, embora não existam informações precisas sobre o público ao qual a obra se dirige, fica mais ou menos evidente que esse público corresponde aos aprendizes (iniciantes) do alemão e do português. Nesse ponto, é necessário salientar que VWtbPD (2010) almeja ser "bifuncional", seguindo a terminologia própria dos dicionários bilíngues, isto é, serviria tanto para o aprendiz de alemão como para o de português (8). A análise deverá demonstrar até que ponto essa função pode ser cumprida satisfatoriamente. No entanto, o fato é que a tabela de pronúncia („Aussprache des Portugiesischen") só considera o respaldo fônico para as letras do português. Isso pode ser um indício de certa preferência por uma das línguas, uma vez que a disposição lemática favorece claramente ao consulente de língua portuguesa.
Em relação à estrutura de acesso, é necessário salientar que a onomasiologia (em qualquer uma das suas modalidades) ainda não consegue estabelecer um modelo de organização do léxico de validade universal. Por isso, o usuário deve sempre "aprender novamente" o caminho para procurar informação. No caso de VWtbPD (2010), a estrutura de acesso é temática e se divide da seguinte maneira: "As pessoas", "A aparência", "A saúde", "A casa", "Os serviços", "As compras", "Os alimentos", "Comer fora", "O estudo", "O trabalho", "Os transportes", "Os esportes" "O lazer", "O meio ambiente" e "As informações". Cada um desses campos temáticos apresenta, por sua vez, subdivisões. A estrutura de acesso corresponde, assim, a um "modelo de cascata" (em oposição ao modelo piramidal, usado em alguns dicionários onomasiológicos), fato que contribuiria para aceder de forma mais rápida à informação procurada. Não há como negar que essa classificação do léxico é arbitrária. Contudo, tampouco há uma alternativa de ordenação que esteja resguardada de críticas. Assim, por exemplo, em VWtbPD (2010), o campo léxico dos animais constitui um subcampo dentro do campo temático "O meio ambiente", die Umwelt. Não obstante, em muitos outros dicionários, constitui um campo temático per se. Nesse mesmo âmbito, os dois únicos subcampos sem utilidade tanto para o usuário de língua portuguesa como para o usuário de língua alemã são "O futebol americano", der Football, e "O basebol", der Baseball, já que são modalidades esportivas muito pouco praticadas tanto no Brasil como na Alemanha.
Nos parágrafos anteriores, comentou-se que VWtbPD (2010) almeja ser bifuncional, ou seja, servir para os usuários das duas línguas. É na definição macroestrutural qualitativa que se pode apreciar melhor se essa função foi cumprida satisfatoriamente. Assim, por exemplo, no campo temático dos alimentos, espera-se que as unidades léxicas arroladas possam satisfazer as necessidades de produção do usuário de língua portuguesa. No entanto, faltam lemas tão comuns como picanha, no âmbito das carnes vermelhas, ou aparecem variedades de peixe como cavala, tamboril, solha, eglefim, perca ou bessugo, todos pouco conhecidos para o usuário brasileiro. Outro tanto pode ser dito acerca das designações x-acto (estilete, no português brasileiro), talho (açougue), pequeno-almoço (café da manhã) ou comboio (trem). Em outros campos léxicos, por sua vez, as formas léxicas são facilmente identificáveis para esse mesmo usuário ("Os legumes: a alcachofra, a couve-flor, a batata, a cebola etc."; "As frutas: a laranja, a clementina, a tangerina, o limão, o morango etc"; "Os cereais: o trigo, a aveia, a cevada, o milho, o arroz integral etc."). Nesse mesmo âmbito, merecem comentário especial dois fenômenos. Em primeiro lugar, há casos em que são oferecidas designações próprias do português europeu, tais como alho-francês "alho poró" (125), alperce "damasco" (126) e dióspiro "caqui". Por outro lado, alguns casos de substituições ostensivas correspondem mais a entidades próprias da cultura alemã, tais como óleo de amêndoa (134), óleo de avelã (134), coalhada de limão (134), queijo azul (136), queijo semi-curado (136) e pão de mistura (139).
No que diz respeito à disposição lemática de cada subcampo léxico, o acréscimo de informação léxica pertinente ao campo semântico em questão pode converter-se em um fato altamente funcional para o usuário. Assim, por exemplo, o subcampo léxico "O direito" (que faz parte do campo léxico "O trabalho") está organizado da seguinte maneira: na parte superior das páginas 180 e 181, há um conjunto de 18 substituições ostensivas, tais como "o advogado", der Rechtsanwalt, "o suspeito", der Verdächtige, "a cela", die Gefängniszelle, "os jurados", die Geschworenen, entre outros. Na parte inferior de cada página, por sua vez, aparecem caixinhas de diálogo contendo o léxico complementar ao exposto por meio das substituições ostensivas, como, por exemplo, "o escritório de advogados", das Anwaltsbüro, "a declaração", die Aussage, ou "o caso", das Gerichtsverfahren. Em outros subcampos léxicos, tais como "O autocarro" (que faz parte do campo léxico "Os transportes"), as caixinhas de diálogo oferecem sentenças modelo tais como "Pára em....?", Halten Sie am...? ou "Que autocarro vai para....?" Welcher Bus fährt nach...?.
No que pode ser chamado de Back matter - que corresponde a todo o material apresentado após a nomenclatura principal do dicionário - , embora formalmente faça parte do último campo temático ("As informações"), há uma lista de preposições, advérbios preposicionais e adjetivos dispostos em relações de antonímia ("para" zu, nach / "de, desde", von aus; "por cima" über / "debaixo", unter; "preto", schwarz / "branco", weiß etc). Há também uma segunda tabela intitulada "Frases úteis", praktische Redewendungen, que contém frases para abrir e encerrar situações comunicativas básicas (tais como "sim", ja; "De nada", Bitte sehr; "Lamento", Es tut mir leid) ou próprias de determinados contextos ("Oferta especial", Sonderangebot; "Saldos", Ausverkauf). Embora seja indiscutível que parte desse material léxico é útil, é questionável se lemas como "sim, obrigado" ou "olá" constituam, de fato, uma informação útil para o consulente.
Como é de praxe em dicionários pela imagem, o Back matter dispõe também de duas macroestruturas complementares de progressão alfabética. Uma está em português, a outra, em alemão. Ambas arrolam todas as designações presentes em VWtbPD (2010).
Em termos gerais, VWtbPD (2010) pode ser considerado um instrumento de auxílio útil para a procura de designações, sobretudo nos casos em que o aprendiz de alemão necessitaria de uma organização do vocabulário por campos léxicos, que o dicionário bilíngue ou até o Lernwörterbuch do alemão destroem pela progressão alfabética. A substituição ostensiva constitui uma boa alternativa nesse sentido. Além disso, é necessário salientar que a própria disposição lemática favorece o consulente de língua portuguesa, já que a progressão é sempre do português ao alemão, de modo que, para esse consulente, o dicionário funciona como um dicionário ativo, para se empregar a terminologia própria da lexicografia bilíngue. Sem dúvida alguma, VWtbPD (2010) constitui um auxílio nas tarefas de produção textual. No entanto, deve-se questionar se o dicionário consegue cumprir a tarefa que se impõe a si mesmo, isto é, o ganho de massa léxica. Até agora, a teoria metalexicográfica não tem conseguido demonstrar que esse ou outros tipos de estratégias permitam, de fato, o ganho de massa léxica.
Em suma, pode-se afirmar que VWtbPD (2010) é uma obra recomendável para o germanista brasileiro.
Recebido em 26/02/2013
Aprovado em 27/03/2013
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
11 Jul 2013 -
Data do Fascículo
Jun 2013