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Fatores Sociodemográficos e Comportamentais Associados ao Bem-Estar Psicológico em uma Comunidade Acadêmica Brasileira Durante a Pandemia de COVID-19

Resumo

Este estudo procurou identificar fatores sociodemográficos e comportamentais associados ao bem-estar psicológico de universitários em dois momentos distintos, durante o primeiro ano da pandemia de COVID-19. Trata-se de um estudo observacional, com desenho transversal e amostragem por conveniência, com 2.808 estudantes universitários que responderam a um formulário virtual. Os dados foram analisados por meio de estatísticas descritivas e inferenciais (teste Qui-Quadrado de Pearson, regressão logística binomial múltipla com nível de significância de 5%), após realização de testes de normalidade. Os resultados sugerem impactos negativos da pandemia na saúde mental dos universitários. Histórico de alterações psiquiátricas prévias, ter filhos e ter passado por dificuldades financeiras foram alguns dos fatores que contribuíram para a manutenção de algumas dimensões do bem-estar psicológico.

Palavras-chaves:
COVID-19; Saúde Mental; Universidades; Psicologia da Saúde

Abstract

This study aimed to identify sociodemographic and behavioral factors associated with the psychological well-being of university students at two distinct moments during the first year of the COVID-19 pandemic. It is an observational study with a cross-sectional design and convenience sampling, involving 2,808 university students who responded to a virtual form. The data were analyzed using descriptive and inferential statistics (Pearson's chi-square test, multiple binomial logistic regression with a significance level of 5%), after conducting normality tests. The results suggest negative impacts of the pandemic on the mental health of university students. A history of previous psychiatric alterations, having children, and having experienced financial difficulties were among the factors that contributed to the maintenance of some dimensions of psychological well-being.

Keywords:
COVID-19; Mental Health; Universities; Health Psychology

A pandemia de COVID-19 (coronavírus disease - 2019) teve início na província de Wuhan (China), em dezembro de 2019, e vem se caracterizando com um dos mais graves e complexos problemas de saúde pública da humanidade, criando a necessidade de mudanças substanciais na dinâmica social, econômica e individual, especialmente a partir da imposição das medidas de distanciamento físico e social para a contenção da propagação do vírus (Moura et al., 2022Moura, A. A. M. D., Bassoli, I. R., Silveira, B. V. D., Diehl, A., Santos, M. A. D., Santos, R. A. D., ... & Pillon, S. C. (2022). Is social isolation during the COVID-19 pandemic a risk factor for depression? Revista Brasileira de Enfermagem, 75, e20210594. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2021-0594
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).

Nesse panorama, a rotina e o padrão de convívio social foram alterados, gerando a necessidade premente de lidar com aspectos que afetam a saúde mental e com reações psicológicas como ansiedade, medo e estresse, além de favorecer o surgimento e/ou agravamento de outros sintomas psiquiátricos (e.g., insegurança, falta de controle, depressão e agravamento de quadros psiquiátricos pré-existentes) (Noal et al., 2020Noal, D., Passos, M. & Freitas, C. M. (2020). Recomendações e orientações em saúde mental e atenção psicossocial na COVID-19. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz. ; Rocha et al., 2021Rocha, D. D. M., Silva, J. S., Abreu, I. M. D., Mendes, P. M., Leite, H. D. C. S., & Ferreira, M. D. C. S. (2021). Efeitos psicossociais do distanciamento social durante as infecções por coronavírus: revisão integrativa. Acta Paulista de Enfermagem, 34, eAPE01141 https://doi.org/10.37689/acta-ape/2021AR01141
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). Além dos efeitos diretos e imediatos, estudos apontam para os impactos negativos da pandemia a médio e a longo prazos na saúde mental, especialmente no que se refere aos sintomas de depressão, estresse e ansiedade (Kwong et al., 2021Kwong, A. S., Pearson, R. M., Adams, M. J., Northstone, K., Tilling, K., Smith, D., ... & Timpson, N. J. (2021). Mental health before and during the COVID-19 pandemic in two longitudinal UK population cohorts. The British Journal of Psychiatry, 218(6), 334-343. https://doi.org/10.1192/bjp.2020.242
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; Santo et al., 2021Santo, M. A. D. S., Duarte, M. D. Q., Giordani, J. P., Lima, C. P., Bedin, L. M., & Trentini, C. M. (2021). Bem-estar como fator moderador de transtornos mentais na pandemia. Revista Brasileira de Psicoterapia (Online) , 23(3), 33-46. https://doi.org/10.5935/2318-0404.20210042
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).

Os fatores negativos que comprometem a saúde mental da população podem ser socioeconômicos com consequências que perpassam o contexto social, por exemplo, a diminuição ou perda de renda familiar devido à pandemia, a insegurança alimentar e as incertezas quanto ao acesso e utilização de serviços de saúde durante a emergência sanitária (Duarte et al., 2020Duarte, M., Santo, M., Lima, C. P., Giordani, J. P., & Trentini, C. M. (2020). COVID-19 e os impactos na saúde mental: uma amostra do Rio Grande do Sul, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 25, 3401-3411. https://doi.org/10.1590/1413-81232020259.16472020
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). Além disso, há evidências na literatura de que os níveis de depressão e ansiedade aumentaram durante a pandemia em comparação ao período pré-pandemia (Barros et al., 2020Barros, M., Lima, M., Malta, D., Szwarcwald, C., Azevedo, R., Romero, D.,... & Gracie, R. (2020). Relato de tristeza/depressão, nervosismo/ansiedade e problemas de sono na população adulta brasileira durante a pandemia de COVID-19. Epidemiologia e Serviços Saúde, 29(4), e2020427. https://doi.org/10.1590/S1679-49742020000400018.
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; Cha et al., 2022Cha, W., Joo, H., Park, Y., Park, E., & Kim, S. (2022). Depression before and during-COVID-19 by Gender in the Korean Population. International journal of environmental research public health, 19(6), 3477. https://doi.org/10.3390/ijerph19063477
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; Maia & Dias, 2020Maia, B. R., & Dias, P. C. (2020). Ansiedade, depressão e estresse em estudantes universitários: o impacto da COVID-19. Estudos de Psicologia (Campinas) , 37, e200067. https://doi.org/10.1590/1982-0275202037e200067
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).

Durante a pandemia, foram significativos o aumento dos níveis de ansiedade e a diminuição dos níveis de bem-estar psicológico em diversos grupos sociais (Kwong et al., 2020Kwong, A. S., Pearson, R. M., Adams, M. J., Northstone, K., Tilling, K., Smith, D., ... & Timpson, N. J. (2021). Mental health before and during the COVID-19 pandemic in two longitudinal UK population cohorts. The British Journal of Psychiatry, 218(6), 334-343. https://doi.org/10.1192/bjp.2020.242
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). Por exemplo, estudo com amostra de adolescentes e jovens mostrou resultados semelhantes aos observados na população geral, ao encontrar níveis elevados de ansiedade, depressão e estresse (Binotto et al., 2021Binotto, B. T., Goulart, C. M. T., & Pureza, J. R. (2021). Pandemia da COVID-19: indicadores do impacto na saúde mental de adolescentes. Psicologia e Saúde em debate, 7(2), 195-213. https://doi.org/10.22289/2446-922X.V7N2A13
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). Os resultados do estudo indicam que a idade é um fator importante na determinação do adoecimento mental, uma vez que os indivíduos mais jovens tiveram risco 6% maior de apresentar transtornos mentais menores durante a pandemia em comparação às pessoas mais velhas (Duarte et al., 2020Duarte, M., Santo, M., Lima, C. P., Giordani, J. P., & Trentini, C. M. (2020). COVID-19 e os impactos na saúde mental: uma amostra do Rio Grande do Sul, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 25, 3401-3411. https://doi.org/10.1590/1413-81232020259.16472020
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).

No contexto da pandemia, o setor da educação foi um dos mais afetados pelas consequentes medidas de distanciamento social, uma vez que professores, estudantes e pessoal administrativo do setor se depararam com a necessidade de dar continuidade às suas atividades estudantis de forma remota, ao mesmo tempo que buscavam garantir os meios de sobrevivência em meio às incertezas sobre o sucesso e o cumprimento de atividades e prazos acadêmicos e temor pela doença (Vazquez & Pesce, 2022Vazquez, D. A., & Pesce, L. (2022). A experiência de ensino remoto durante a pandemia de COVID-19: determinantes da avaliação discente nos cursos de humanas da Unifesp. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior (Campinas) , 27, 183-204. https://doi.org/10.1590/S1414-40772022000100010
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).

De modo geral, mesmo no período pré-pandemia, a saúde mental e o bem-estar de estudantes universitários já se destacavam como importantes e urgentes desafios de saúde pública, com registro de elevadas taxas de depressão e suicídio (Barbosa et al., 2020Barbosa, L., Asfora, G., & Moura, M. (2020). Ansiedade e depressão e uso de substâncias psicoativas em jovens universitários. SMAD, Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool E Drogas, 16(1), 1-8. https://doi.org/10.11606//issn.18066976.smad.2020.155334
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; Maia & Dias, 2020Maia, B. R., & Dias, P. C. (2020). Ansiedade, depressão e estresse em estudantes universitários: o impacto da COVID-19. Estudos de Psicologia (Campinas) , 37, e200067. https://doi.org/10.1590/1982-0275202037e200067
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; Sheldon et al., 2021Sheldon, E., Simmonds-Buckley, M., Bone, C., Mascarenhas, T., Chan, N., Wincott, M., ... & Barkham, M. (2021). Prevalence and risk factors for mental health problems in university undergraduate students: A systematic review with meta-analysis. Journal of affective disorders, 287, 282-292. https://doi.org/10.1016/j.jad.2021.03.054
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). Embora esses índices sejam inferiores aos da população geral, têm aumentado desde antes da pandemia (Maia & Dias, 2020Maia, B. R., & Dias, P. C. (2020). Ansiedade, depressão e estresse em estudantes universitários: o impacto da COVID-19. Estudos de Psicologia (Campinas) , 37, e200067. https://doi.org/10.1590/1982-0275202037e200067
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; Gunnell et al., 2020Gunnell, D., Appleby, L., Arensman, E., Hawton, K., John, A., Kapur, N., ... & Yip, P. S. (2020). Suicide risk and prevention during the COVID-19 pandemic. The Lancet Psychiatry, 7(6), 468-471. https://doi.org/10.1016/S2215-0366(20)30171-1
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) e se acentuaram com o avanço do COVID-19, agravando os riscos e prejuízos na saúde mental desse grupo social (Lee et al., 2021Lee, J., Jeong, H., & Kim, S. (2021). Stress, anxiety, and depression among undergraduate students during the COVID-19 pandemic and their use of mental health services. Innovative higher education, 46(5), 519-538. https://doi.org/10.1007/s10755-021-09552-y
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).

Pesquisa realizada por Li et al. (2021Li, Y., Wang, A., Wu, Y., Han, N., & Huang, H. (2021). Impact of the COVID-19 Pandemic on the Mental Health of College Students: A Systematic Review and Meta-Analysis. Frontiers in psychology, 12, 669119. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2021.669119
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), durante a pandemia, indicou que ocorreu aumento da prevalência de sintomas depressivos e ansiosos entre estudantes universitários chineses, com destaque para o fato de a prevalência de sintomas ter sido maior após a primeira onda da COVID-19, em meados de março de 2020. Entretanto, é importante também realizar investigação dos fatores de risco para a saúde mental desse segmento social durante a pandemia de COVID-19, de modo que alguns estudos vêm chamando a atenção para a necessidade de investigação dos fatores protetivos e das estratégias de enfrentamento, destacando as estratégias utilizadas por diferentes grupos para o enfrentamento de eventos estressantes (Lourenço et al., 2021Lourenço, T., Charepe, Z., Pestana, C., Rabiais, I., Alvarez, E., Figueiredo, R., & Fernandes, S. (2021). Esperanza y Bienestar Psicológico durante la Crisis Sanitaria por COVID-19: Estudio con Estudiantes de Enfermería. Escola Anna Nery, 25, e20200548. https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2020-0548
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; Palma et al., 2022Palma, E. M., Sousa, A. R., Morais, F. A, Luz, R., Freitas Neto, Á. L., & Lima, P. P. F. (2022). Coping moderates the relationship between intolerance of uncertainty and stress in men during the COVID-19 pandemic. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 56. e20210303. https://doi.org/10.1590/1980-220X-REEUSP-2021-0303
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).

Nesse sentido, os achados de Scorsolini-Comin et al. (2021Scorsolini-Comin, F., Patias N., Cozzer, A., Flores, P. A. W., & Hohendorf, J. (2021) Saúde mental e estratégias de coping em pós-graduandos na pandemia da COVID-19. Revista Latina Americana de Enfermagem, 29, e3491. https://doi.org/10.1590/1518-8345.5012.3491
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) indicam que a manutenção da rotina de trabalho e estudos e a religiosidade podem oferecer menor risco à saúde mental durante a pandemia. O mesmo se pode afirmar sobre a ausência de histórico de transtornos mentais comuns, o que propicia efetivo enfrentamento de situações de crise, reavaliação positiva e resolução de problemas (Mota et al., 2021Mota, D. C. B., Silva, Y. V. D., Costa, T. A. F., Aguiar, M. H. D. C., Marques, M. E. D. M., & Monaquezi, R. M. (2021). Saúde mental e uso de internet por estudantes universitários: estratégias de enfrentamento no contexto da COVID-19. Ciência & saúde coletiva , 26, 2159-2170. https://doi.org/10.1590/1413-81232021266.44142020
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; Santo et al., 2021Santo, M. A. D. S., Duarte, M. D. Q., Giordani, J. P., Lima, C. P., Bedin, L. M., & Trentini, C. M. (2021). Bem-estar como fator moderador de transtornos mentais na pandemia. Revista Brasileira de Psicoterapia (Online) , 23(3), 33-46. https://doi.org/10.5935/2318-0404.20210042
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).

Nesta direção, um construto que se destaca na Psicologia e, especialmente na Psicologia Positiva, é o bem-estar, que pode ser submetido a um processo de análise científica (Seligman, 2019Seligman, M. E. (2019). Positive psychology: A personal history.Annual Review of Clinical Psychology,15,1-23.PMID:https://doi-org.eur.idm.oclc.org/10.1146/annurev-clinpsy-050718-095653
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), ao ser analisado a partir de duas concepções: visão hedônica e eudaimônica, as quais rementem à noção de felicidade. A primeira sugere que o bem-estar envolve a satisfação global com a vida e a vivência de mais emoções, geralmente tratada como bem-estar subjetivo (BES). A segunda fundamenta-se nas teorias humanistas de Rogers e Maslow, que sugerem que a felicidade está intrinsecamente relacionada à busca por uma vida com significado e autorrealização, evidenciando o bem-estar psicológico (BEP) (Ryff, 1989Ryff, C. D. (1989). Happiness is everything, or is it? Explorations on the meaning of psychological well-being. Journal of personality and social psychology, 57(6), 1069. https://doi.org/10.1037/0022-3514.57.6.1069
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).

Na década de 1980, a maioria dos pesquisadores abordava o bem-estar a partir de dimensões relativas à felicidade, satisfação com a vida e afetos positivos, não atribuindo destaque a questões essenciais do bem-estar (Ryff, 2014Ryff, C. D. (2014). Psychological well-being revisited: Advances in the science and practice of eudaimonia. Psychotherapy and Psychosomatics,83(1), 10-28. https://doi.org/10.1159/000353263
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). Diferentes perspectivas psicológicas identificaram temas sobrepostos na relação de atribuição de significado do que é ser um humano autorrealizado, individualizado, plenamente funcional ou idealmente desenvolvido (Ryff, 2014Ryff, C. D. (2014). Psychological well-being revisited: Advances in the science and practice of eudaimonia. Psychotherapy and Psychosomatics,83(1), 10-28. https://doi.org/10.1159/000353263
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). Foram esses pontos em comum que subsidiaram os estudos realizados por Carol Ryff sobre um dos possíveis fatores de enfrentamento ao atual contexto destacado na literatura, o bem-estar psicológico (Ryff, 2014Ryff, C. D. (2014). Psychological well-being revisited: Advances in the science and practice of eudaimonia. Psychotherapy and Psychosomatics,83(1), 10-28. https://doi.org/10.1159/000353263
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).

De acordo com Ryff (2014Ryff, C. D. (2014). Psychological well-being revisited: Advances in the science and practice of eudaimonia. Psychotherapy and Psychosomatics,83(1), 10-28. https://doi.org/10.1159/000353263
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), são identificados seis componentes básicos para o bem-estar, na perspectiva eudaimônica, cujas raízes filosóficas, relacionadas à busca por “conhecer a si mesmo” e “tornar-se o que é”, se uniram à concepção humanista da autorrealização e culminaram em estudos científicos que abrangem a atribuição de significado, autorrealização e esforço do ser humano (Ryff, 2008Ryff C., & Singer B. H. (2008). Know Thyself and Become What You Are: a Eudaimonic Approach to Psychological Well-being. Journal of Happiness Studies, 9, 13-39. ).

Assim, as dimensões avaliadas por Ryff (1989Ryff, C. D. (1989). Happiness is everything, or is it? Explorations on the meaning of psychological well-being. Journal of personality and social psychology, 57(6), 1069. https://doi.org/10.1037/0022-3514.57.6.1069
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) e formuladas levando em conta teorias de saúde mental, clínicas e de desenvolvimento da expectativa de vida são: (1) as relações positivas com outros (e.g., desenvolvimento de relacionamentos acolhedores com os outros, preocupar-se com o bem-estar dos demais e ser empático); (2) autonomia (e.g., autodeterminação e independência, resistência a pressões sociais para pensar e agir, autoavaliação segundo critérios pessoais); (3) domínio sobre o ambiente (senso de domínio e competência em manejar o meio ambiente, capacidade de escolha e criação de contextos próprios para satisfazer necessidades e valores pessoais); (4) crescimento pessoal (se autoperceber em crescimento e expansão, desenvolver seus potenciais; (5) propósito na vida (ter um sentido de vida no agora e no futuro e ter propósitos e objetivos de vida); (6) auto aceitação (Atitudes positivas de si, se autoaceitar e sentir-se bem em relação ao passado).

Essas dimensões representam tarefas evolutivas características do desenvolvimento saudável e são indicadores de qualidade de vida e bem-estar (Machado et al., 2013Machado, W. D. L., Bandeira, D. R., & Pawlowski, J. (2013). Validation of the Psychological Well-being Scale in an undergraduate student's sample. Avaliação Psicológica, 12, 263-272. Retrieved from: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712013000200017&lng=pt&nrm=iso
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
). Desse modo, a investigação do bem-estar e dos aspectos protetivos vêm sendo apontados como importantes elementos capazes de identificar e desenvolver os melhores recursos internos para a manutenção da segurança e favorecer o entendimento de possível manejo para as pessoas que se encontram com desvantagens no contexto da pandemia (Noronha et al., 2021Noronha, A., Hutz, C. &Vazquez, A. (2020) Contribuições da psicologia positiva para o enfrentamento da pandemia. In A. Vazquez Protocolos de Saúde Mental na pandemia de COVID-19: uma guia com diretrizes práticas. (pp 61-67). Editora UFCSP.).

Visto que a pandemia reduziu os indicadores de bem-estar e impactou diretamente na vida de estudantes universitários, analisar a maneira como os indivíduos funcionam psicologicamente em resposta às demandas de sua vida com base na noção eudaimônica, pelas dimensões de Ryff (1989Ryff, C. D. (1989). Happiness is everything, or is it? Explorations on the meaning of psychological well-being. Journal of personality and social psychology, 57(6), 1069. https://doi.org/10.1037/0022-3514.57.6.1069
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; 2014Ryff, C. D. (2014). Psychological well-being revisited: Advances in the science and practice of eudaimonia. Psychotherapy and Psychosomatics,83(1), 10-28. https://doi.org/10.1159/000353263
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) que sustentam que o bem-estar vem da realização do potencial humano, pode ampliar o conhecimento sobre a saúde mental e auxiliar na compreensão das alterações psicológicas manifestadas durante a pandemia pelos estudantes universitários (Blasco‐Belled et al., 2022Blasco‐Belled, A., & Alsinet, C. (2022). The architecture of psychological well‐being: A network analysis study of the Ryff Psychological Well‐Being Scale. Scandinavian Journal of Psychology, 63(3), 199-207. ).

Assim, o presente estudo tem como objetivo identificar fatores sociodemográficos e comportamentais associados ao bem-estar psicológico em estudantes de uma instituição de ensino superior do centro-oeste brasileiro em dois momentos distintos, durante o primeiro ano de pandemia de COVID-19. A análise consistirá na abordagem das relações entre as variáveis (sociodemográficos e comportamentais) e cada dimensão da medida de bem-estar psicológico.

Métodos

Tipo de estudo

Trata-se de estudo observacional, com desenho transversal e amostragem por conveniência, realizada por meio de um aplicativo de gerenciamento de pesquisas em formato de formulário na internet (Google Forms).

Local do estudo

O estudo foi realizado com a comunidade universitária de uma universidade pública federal localizada no Centro-Oeste brasileiro, escolhida por ser uma das maiores instituições de ensino superior da região e por ser uma das cinco instituições brasileiras que não suspenderam suas atividades desde o início da pandemia, tendo adotado o regime de ensino remoto de emergência (ERE).

Participantes do estudo

Os participantes do estudo foram membros da comunidade universitária, tanto estudantes quanto docentes e técnicos administrativos, com pelo menos 18 anos de idade. Os participantes foram recrutados para o estudo em dois momentos distintos da pandemia em 2020, separados por um período de 6 meses. O primeiro recrutamento de participantes ocorreu em março-abril e o segundo em setembro-outubro de 2020. Por se tratar de um estudo transversal em duas ondas, os participantes do primeiro momento puderam participar também do segundo instante. Foram considerados todos aqueles que aceitaram o convite e se dispuseram a responder ao questionário online.

Instrumento de coleta de dados

Foi utilizado um questionário online para coleta de dados sociodemográficos (e.g., religião, sexo, idade, escolaridade, etc.) e sobre atitudes e comportamentos durante os primeiros meses de distanciamento social (e.g., manutenção das recomendações de distanciamento, adesão ao regime de ERE, dificuldades financeiras, uso de substâncias, etc). O questionário foi elaborado e estruturado pelos autores em várias reuniões e discussões.

Foi incluída no questionário a Escala de Bem-estar Psicológico (EBEP), desenvolvida por Ryff e Essex (1992Ryff, C., & Essex, M. (1992). The interpretation of life experience and well-being: the sample case of relocation. Psychology and Aging, 7(4), 507-517. https://doi.org/10.1037//0882-7974.7.4.507
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) e traduzida e validada para o contexto brasileiro por Machado et al. (2013Machado, W. D. L., Bandeira, D. R., & Pawlowski, J. (2013). Validation of the Psychological Well-being Scale in an undergraduate student's sample. Avaliação Psicológica, 12, 263-272. Retrieved from: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712013000200017&lng=pt&nrm=iso
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
). A escala é composta por 36 itens, divididos em seis subescalas que avaliam as dimensões do BEP (Relações positivas com outros - Item 7- sinto que ganho muito com as minhas amizades; Autonomia - Item 8- muitas vezes me preocupo com o que os outros pensam sobre mim; Domínio sobre o ambiente - Item 3- sinto que tenho controle sobre as situações do meu dia a dia; Crescimento pessoal - Item 22- eu acredito que cresci muito como pessoa ao longo do tempo; Propósito na vida - Item 5- acredito possuir objetivos e propósitos na minha vida; e Autoaceitação - Item 6- de forma geral me sinto confiante e positivo sobre mim mesmo).

Os itens são respondidos em uma escala tipo Likert de seis pontos, variando de “discordo totalmente” (1 ponto) a “concordo totalmente” (6 pontos). As medidas apresentaram indicadores satisfatórios de precisão (fidedignidade composta - relações positivas com outros = 0,82; autonomia = 0,70; domínio sobre o ambiente = 0,76; crescimento pessoal = 0,84; propósito de vida = 0,83 e autoaceitação = 0,83).

Procedimentos e Aspectos Éticos

Os dados foram coletados online por meio do formulário eletrônico autopreenchível. Foram garantidos o anonimato, o sigilo das informações e a natureza livre e voluntária da participação, assegurando o direito de desistir do estudo sem quaisquer ônus. Ao acessarem o formulário virtual, os participantes indicavam sua anuência para participar do estudo registrando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) antes de prosseguirem para responder ao formulário de coleta de dados, sendo observadas as recomendações contidas nas Resoluções CNS 510/2016 e 466/2012. Foi recomendado aos participantes que baixassem uma via do TCLE, em .pdf, após a concordância em participar do estudo. O estudo foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), parecer nº 3.971.653.

Análise de Dados

No presente estudo, foram incluídos somente dados de estudantes, portanto, dados de técnicos administrativos e de docentes foram excluídos da presente análise. Os dados de cada momento foram, separadamente, organizados, codificados e tabulados no programa Excel® da Microsoft. As respostas abertas foram agrupadas e categorizadas. Posteriormente, os dados de cada momento foram, separadamente, analisados no programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) (IBM®).

Na presente análise, os escores de cada uma das seis subescalas ou dimensões da EBEP constituíram a variável dependente (quantitativa contínua) e foram resumidos utilizando estatísticas de tendência central e de dispersão, além da avaliação de normalidade da distribuição pelo teste de Shapiro-Wilk, que evidenciou não normalidade (p= 0,000) da distribuição dos escores. Não obstante, a modelagem dos dados via regressão logística binária não requer distribuição normal da variável dependente para avaliar a sua associação com as variáveis independentes.

Note-se que quanto maior o escore em cada subescala da EBEP melhor o grau de bem-estar e vice-versa. Assim, posteriormente, os escores de cada subescala foram categorizados arbitrariamente em dois níveis: ≥4 pontos (escore alto - desfecho = 1) e <4 pontos (escore baixo - desfecho = 0), com a segunda sendo a categoria de referência. A arbitrariedade na escolha do ponto de corte para a categorização se deve à ausência, na literatura, de pontos de corte validados para interpretação do instrumento. Ainda, a categorização foi adotada considerando os requisitos para a modelagem de regressão logística binomial.

As variáveis independentes foram descritas segundo as frequências (absolutas e relativas) e, quando indicado, pelos valores mínimo e máximo e medidas de tendência central e de dispersão. Tendo como referência a categoria ‘escore baixo - desfecho = 0’, foram realizados testes de associação bivariada entre a variável resposta dicotômica da EBEP e as variáveis independentes, utilizando o teste Qui-Quadrado de Pearson. As variáveis independentes que evidenciaram associação com a variável resposta por meio de p valor ≤0,20 foram inseridas no modelo de regressão logística binomial múltipla. Aquelas com p valor entre 0,20 e 0,25 foram consideradas variáveis de ajuste, sendo, portanto, igualmente inseridas e testadas no modelo de regressão logística.

Na modelagem múltipla, utilizou-se a técnica stepwise regression para a seleção automática de variáveis estatisticamente significativas. Primeiro pela abordagem forward (seleção direta) e depois pela backward (eliminação reversa). Foi escolhida a segunda técnica por apresentar os melhores valores de desempenho (R quadrado de Nagelkerke) no teste de acurácia (Hosmer and Lemeshow) e maior capacidade explicativa do modelo (tabela de classificação; porcentagem global). No final foram gerados doze modelos de regressão, um para cada uma das seis subescalas em cada um dos dois momentos da pesquisa.

No primeiro momento da pesquisa, março-abril, foram testadas 27 variáveis independentes, quais sejam: ocupação; idade (categorizada); grupo de risco; filhos; raça/cor; religião; mudança de cidade/estado para estudar na universidade; coabitação; medo de ser contaminado; sintomas de COVID-19; falta de contato social; utilização de redes sociais para diminuir isolamento; dificuldades financeiras; uso de medicação controlada; uso de drogas (a pergunta não separou o uso de drogas lícitas e/ou ilícitas); estado emocional atual comparado a antes do isolamento; alterações psiquiátricas prévias; realização de atividades que proporcionam o bem-estar; acesso à internet; obediência às recomendações de isolamento; frequência de interações sociais com pares antes do isolamento; frequência de interações durante o isolamento; recebimento de bolsa/auxílio universitário; sexo; estado civil; atividade domiciliar remota; tempo de vínculo com a universidade.

Já no segundo momento da pesquisa, setembro-outubro, 29 variáveis independentes foram inseridas nas análises. Quatro novas variáveis foram incluídas: desempenho acadêmico/profissional durante o isolamento; alterações de humor; violência doméstica durante o isolamento social e percepção quanto às informações divulgadas sobre a pandemia por meio de Rádio, TV, jornais, mídias sociais e eletrônicas etc. Entretanto, as seguintes variáveis inseridas no primeiro momento da pesquisa foram excluídas no segundo momento: realização de atividades que proporcionam o bem-estar e alterações psiquiátricas prévias.

Resultados

No primeiro momento, dados de 1309 estudantes foram incluídos no estudo, sendo a maioria do sexo feminino (67,1%), com idade média de 25 anos; solteira (80,9%), que indicou não ter filhos (85,3%) e que respondeu praticar ou ter alguma religião (65,8%). No segundo momento, dados de 1.499 participantes foram analisados no estudo, a maioria do sexo masculino (60,8%), com idade média de 26 anos; solteira (73,8%), sem filhos (80,5%) e que responderam praticar ou ter algum credo religioso (65,2%).

A maioria dos participantes, tanto no primeiro (97,5%) como no segundo (85,6%) momentos da pesquisa, disse que fazia 3 ou mais interações sociais por semana antes das medidas de distanciamento social devido à pandemia de COVID-19. Depois da implementação das medidas de distanciamento social, o relato de frequência de interações sociais de 3 ou mais vezes por semana tinha caído para menos da metade, 42,3% em março-abril, e registrou queda ainda maior, 17,5%, em setembro-outubro.

A maior parte dos participantes, 65,2% e 61,0%, respectivamente no primeiro e no segundo momento, indicou que seu estado emocional piorou com as medidas de distanciamento social impostas devido à pandemia. Entretanto, 6,9%, no 1º momento, e 6,5%, no 2º momento, referiram melhora no seu estado emocional durante o isolamento tendo como referência o período imediatamente anterior às medidas de isolamento. Constatou-se ainda que aproximadamente um terço dos participantes relatou uso de medicamentos psicotrópicos no primeiro e no segundo momentos da pesquisa, 28,3% e 29,1%, respectivamente. E quase metade dos participantes, no primeiro e no segundo momento, 48,3% e 47,6%, respectivamente, relatou uso de drogas (não se diferenciou drogas lícitas e/ou ilícitas). Para maiores detalhes ver a Tabela 1.

Tabela 1
Características sociodemográficas dos participantes do estudo de acordo com a etapa do estudo, 1º Momento (Abril/Março) e 2º Momento (Agosto/Setembro), 2020.

Merecem destaque os escores médios da subescala ‘Crescimento Pessoal’ da EBEP que foram 5,14 e 5,24, no primeiro e no segundo momento, respectivamente, e os de ‘Domínio sobre o Ambiente’, 3,23, no primeiro, e 3,52, no segundo momento. Para maiores detalhes veja a Tabela 2.

Tabela 2
Escores médios obtidos pelos participantes nos domínios da EBEP nos dois momentos de pesquisa, 1º Momento (Abril/Março) e 2º Momento (Agosto/Setembro), 2020.

Com base nos dados do primeiro momento, reportar presença de alterações psiquiátricas prévias (em comparação a não reporta), ter filhos (em comparação a não ter filhos), ter passado por dificuldades financeiras (em comparação a não ter passado por dificuldades financeiras) e residir com amigos/em república ou com familiares e/ou cônjuges (em comparação a residir sozinho) são os fatores que predominantemente estiveram associados a escores altos nas dimensões da EBEP. Contudo, ter filhos só não esteve associado a uma das dimensões da EBEP, isto é, ‘Propósito de vida’. Já passar por dificuldades financeiras não esteve associado com duas das dimensões, ‘Autonomia’ e ‘Domínio sobre o Ambiente’. Para mais detalhes sobre as variáveis associadas ao BEP em cada domínio ver a Tabela 3.

Tabela 3
Fatores associados a escores altos de BEP (≥ 4) na Escala de Bem-Estar Psicológico (EBEP - 1º Momento).

No segundo momento, a análise de dados indicou que ser solteiro (em comparação a ser casado e afins), pertencer ao grupo de risco para formas graves de COVID-19 (versus não pertencer ao grupo de risco), reportar alterações de humor durante a pandemia (versus não reportar), sentir-se bem informado sobre a pandemia (em comparação a não se sentir bem informado), relatar que o estado emocional ficou pior durante a pandemia (versus relatar que ficou igual ou melhor) e utilizar as redes sociais para diminuir a sensação de isolamento (em comparação a não utilizar para essa finalidade) foram os fatores que estiveram mais frequentemente associados a escores altos de BEP. Em pelo menos cinco dimensões da EBEP, escores altos de BEP estiveram associados a: relatar alterações de humor (Autoaceitação, Autonomia, Domínio sobre ambiente, Propósito de vida, Relações Positivas); sentir-se bem informado sobre a pandemia (Autoaceitação, Autonomia, Crescimento Pessoal, Propósito de vida, Relações Positivas); e reportar piora do estado emocional durante a pandemia (Autoaceitação, Autonomia, Domínio sobre ambiente, Propósito de vida, Relações Positivas). Para mais detalhes sobre as variáveis associadas ao BEP em cada domínio veja a Tabela 4.

Tabela 4
Fatores associados a escores altos de BEP (≥4) na Escala de Bem-Estar Psicológico (EBEP - 2º Momento).

Discussão

A condição de desemprego e a diminuição de rendimentos financeiros durante a pandemia de COVID-19 vêm sendo apontados, na literatura, como importantes na contribuição para a produção de prejuízos à saúde mental de estudantes universitários, em particular, e da população em geral (Duarte et al., 2020Duarte, M., Santo, M., Lima, C. P., Giordani, J. P., & Trentini, C. M. (2020). COVID-19 e os impactos na saúde mental: uma amostra do Rio Grande do Sul, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 25, 3401-3411. https://doi.org/10.1590/1413-81232020259.16472020
https://doi.org/10.1590/1413-81232020259...
; Teodoro et al., 2021Teodoro, M. L. M., Alvares-Teodoro, J., Peixoto, C. B., Pereira, E. G., Diniz, M. L. N., Freitas, S. K. P., Ribeiro, P. C. C., Gomes, C. M. A., Mansur-Alves, M. (2021). Mental health in college students during COVID-19 pandemic. REFACS, 9, 372-82. https://doi.org/10.18554/refacs.v9i2.5409
https://doi.org/10.18554/refacs.v9i2.540...
). Esse efeito negativo ocorre sobretudo por gerar insegurança e incerteza quanto à possibilidade de acesso aos serviços de saúde em caso de adoecimento e aos meios básicos de sobrevivência, como comida, moradia, água e luz (Duarte et al., 2020Duarte, M., Santo, M., Lima, C. P., Giordani, J. P., & Trentini, C. M. (2020). COVID-19 e os impactos na saúde mental: uma amostra do Rio Grande do Sul, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 25, 3401-3411. https://doi.org/10.1590/1413-81232020259.16472020
https://doi.org/10.1590/1413-81232020259...
; Teodoro et al., 2021Teodoro, M. L. M., Alvares-Teodoro, J., Peixoto, C. B., Pereira, E. G., Diniz, M. L. N., Freitas, S. K. P., Ribeiro, P. C. C., Gomes, C. M. A., Mansur-Alves, M. (2021). Mental health in college students during COVID-19 pandemic. REFACS, 9, 372-82. https://doi.org/10.18554/refacs.v9i2.5409
https://doi.org/10.18554/refacs.v9i2.540...
). Contudo, apesar dos conhecidos efeitos nocivos das dificuldades financeiras e da presença de alterações psicológicas prévias, no presente estudo esses fatores não estiveram associados a baixos escores de BEP, mas sim a altos escores de bem-estar psicológico, sugerindo associação protetora.

No que se refere ao efeito contrário das dificuldades financeiras sobre o bem-estar psicológico, esse pode ser um achado característico do momento pandêmico para algumas pessoas. Isso pode significar que algumas pessoas atribuíram maior significado a aspectos emocionais (e.g., convivência e apoio social, estar próximos aos familiares e entes queridos, ficar em casa, etc) em detrimento de elementos financeiros. Portanto, num contexto marcado por adoecimento, dor, medo da morte, perda de familiares e insegurança/incerteza quanto à própria vida, é possível que as dificuldades financeiras tenham ocupado lugar secundário na hierarquia de necessidades e prioridades, de modo que esses valores passaram a ser destacados em detrimento de outros que envolvessem aspectos financeiros (Dwivedi, 2021Dwivedi, P. (2021). Maslow Theory Revisited-Covid-19-Lockdown Impact on Consumer Behaviour. Turkish Journal of Computer and Mathematics Education, 12(2), 2445-2450. https://doi.org/10.17762/turcomat.v12i2.2072
https://doi.org/10.17762/turcomat.v12i2....
).

Na mesma direção, pessoas diagnosticadas, antes da pandemia, com alterações psicológicas, por exemplo transtornos mentais comuns, apresentaram maior frequência de prejuízos à saúde mental durante o distanciamento social imposto pela pandemia de COVID-19, tais como sinais de ansiedade, depressão e estresse (Baptista & Martins, 2022Baptista, C. J., & Martins, A. M. (2022). Screening for Depression, Anxiety, and Stress in the initial and middle stages of the COVID-19 pandemic in a university community in the Mid-West Brazil, 2020. Research, Society and Development, 11(12), e171111233588, 2022. https://doi.org/10.33448/rsd-v11i12.33588
https://doi.org/10.33448/rsd-v11i12.3358...
; Teodoro et al., 2021Teodoro, M. L. M., Alvares-Teodoro, J., Peixoto, C. B., Pereira, E. G., Diniz, M. L. N., Freitas, S. K. P., Ribeiro, P. C. C., Gomes, C. M. A., Mansur-Alves, M. (2021). Mental health in college students during COVID-19 pandemic. REFACS, 9, 372-82. https://doi.org/10.18554/refacs.v9i2.5409
https://doi.org/10.18554/refacs.v9i2.540...
). Porém, neste estudo observou-se o contrário: esse grupo apresentou altos escores de BEP. Isso pode ser explicado pelo fato de que, de modo geral, as pessoas com transtornos mentais comuns tendem a receber maior assistência médica e psicológica, o que pode fortalecer os mecanismos de defesa e enfrentamento psicológico e acabar por favorecer o BEP (Gomes et al., 2020Gomes, C. F. M., Pereira Junior, R. J., Cardoso, J. V., & Silva, D. A. da. (2020). Transtornos mentais comuns em estudantes universitários: abordagem epidemiológica sobre vulnerabilidades. SMAD, Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool E Drogas, 16(1), 1-8. https://doi.org/10.11606//issn.1806-6976.smad.2020.157317
https://doi.org/10.11606//issn.1806-6976...
).

Esses resultados ainda podem ser explicados por outros estudos, inclusive com os quais corroboram, que constataram que as pessoas que vivenciaram o distanciamento social com seus familiares apresentaram melhores índices de saúde mental (Gaudenzi, 2021Gaudenzi, P. (2021). Cenários brasileiros da saúde mental em tempos de COVID-19: uma reflexão. Interface-Comunicação, Saúde, Educação, 25(1), e200330. https://doi.org/10.1590/Interface.200330
https://doi.org/10.1590/Interface.200330...
; Schönffeldt & Bücker, 2022Schönffeldt, S. D. G., & Bücker, J. (2022). Saúde mental de pais durante a pandemia da COVID-19. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 71, 126-132. https://doi.org/10.1590/0047-2085000000378
https://doi.org/10.1590/0047-20850000003...
). Por um lado, o distanciamento social ampliou o sentimento de solidão e insegurança, colocando as pessoas que moram sozinhas em uma situação de vulnerabilidade, mas, por outro lado, ampliou alguns auxílios, como saúde e solidariedade (Schönffeldt & Bücker, 2022Schönffeldt, S. D. G., & Bücker, J. (2022). Saúde mental de pais durante a pandemia da COVID-19. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 71, 126-132. https://doi.org/10.1590/0047-2085000000378
https://doi.org/10.1590/0047-20850000003...
); embora residir com outras pessoas possa favorecer o sentimento de segurança e apoio diante das adversidades impostas pela pandemia (Gaudenzi, 2022Gaudenzi, P. (2021). Cenários brasileiros da saúde mental em tempos de COVID-19: uma reflexão. Interface-Comunicação, Saúde, Educação, 25(1), e200330. https://doi.org/10.1590/Interface.200330
https://doi.org/10.1590/Interface.200330...
).

As medidas de distanciamento físico e social e a transição para o ensino remoto, somados às incertezas e medos da pandemia, contribuíram para um cenário favorável ao aumento do consumo de substâncias psicoativas (Garcia & Sanchez, 2020Garcia, L. P., & Sanchez, Z. M. (2020). Consumo de álcool durante a pandemia da COVID-19: uma reflexão necessária para o enfrentamento da situação. Cadernos de Saúde Pública, 36(10), e00124520. https://doi.org/10.1590/0102-311X00124520
https://doi.org/10.1590/0102-311X0012452...
; Lima, 2020Lima, R. C. (2020). Distanciamento e isolamento sociais pela COVID-19 no Brasil: impactos na saúde mental. Physis: Revista de Saúde Coletiva, 30(2), e300214. https://doi.org/10.1590/S0103-73312020300214
https://doi.org/10.1590/S0103-7331202030...
). Por isso, possivelmente como efeitos psicológicos da pandemia, estudos constataram elevado uso de substâncias psicoativas na população universitária (Queiroz et al., 2021Queiroz, B. F., Campos, H. M. N., Gomes, D. R., & Mattos, M. P. (2021). Prevalência e fatores associados ao uso de tabaco por estudantes universitários brasileiros: revisão sistemática e metanálise. Revista Baiana de Saúde Pública, 45(1), 198-216. https://doi.org/10.22278/2318-2660.2021.v45.n1.a3452
https://doi.org/10.22278/2318-2660.2021....
), embora essa população já apresentasse taxas altas antes da pandemia (Candido et al., 2018Candido, F. J., Souza, R., Stumpf, M. A., Fernandes, L. G., Veiga, R., Santin, M., & Kluthcovsky, A. (2018). The use of drugs and medical students: a literature review. Revista da Associação Médica Brasileira, 64, 462-468. https://doi.org/10.1590/1806-9282.64.05.462
https://doi.org/10.1590/1806-9282.64.05....
). Recorrentemente, substâncias psicoativas, comumente o álcool, têm sido utilizadas para minimizar a sobrecarga da vida universitária. Ademais, o uso de drogas, lícitas ou ilícitas, é apontado na literatura como estando associado a sintomas de depressão e de ansiedade (Barbosa et al., 2020Barbosa, L., Asfora, G., & Moura, M. (2020). Ansiedade e depressão e uso de substâncias psicoativas em jovens universitários. SMAD, Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool E Drogas, 16(1), 1-8. https://doi.org/10.11606//issn.18066976.smad.2020.155334
https://doi.org/10.11606//issn.18066976....
; Beneton et al., 2021Beneton, E. R., Schimitt, M., & Andretta, I. (2021). Sintomas de depressão, ansiedade e estresse e uso de drogas em universitários da área da saúde. Revista SPAGESP, 22(1), 145-159.; Silva et al., 2019Silva, D A, Pereira Junior, R J, Gomes, C F M., & Cardoso, J V. (2019). Envolvimento com álcool, tabaco e outras substâncias por estudantes universitários. Revista Cuidarte, 10(2), e641. https://doi.org/10.15649/cuidarte.v10i2.641
https://doi.org/10.15649/cuidarte.v10i2....
), independente a direcionalidade temporal da associação.

É importante ressaltar que, durante a pandemia de COVID-19, houve aumento no consumo de substâncias psicoativas em diversos grupos (Lima, 2020Lima, R. C. (2020). Distanciamento e isolamento sociais pela COVID-19 no Brasil: impactos na saúde mental. Physis: Revista de Saúde Coletiva, 30(2), e300214. https://doi.org/10.1590/S0103-73312020300214
https://doi.org/10.1590/S0103-7331202030...
; Salerno et al., 2021Salerno, J. P., Shrader, C. H., Algarin, A. B., Lee, J. Y., & Fish, J. N. (2021). Changes in alcohol use since the onset of COVID-19 are associated with psychological distress among sexual and gender minority university students in the US. Drug and alcohol dependence, 221, 108594. https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.2021.108594
https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.202...
), com aumento significativo na população universitária de consumo de drogas lícitas, especialmente tabaco e álcool, e ilícitas, sobretudo maconha (Gritsenko et al., 2020Gritsenko V, Skugarevsky O, Konstantinov V, Khamenka N, Marinova T, Reznik A, Isralowitz R. (2021). COVID-19 fear, stress, anxiety, and substance use among Russian and Belarusian university students. International Journal of Mental Health Addiction, 19, 2362-2368. https://doi.org/10.1007/s11469-020-00330-z
https://doi.org/10.1007/s11469-020-00330...
; Lechner et al., 2020Lechner, W. V., Laurene, K. R., Patel, S., Anderson, M., Grega, C., & Kenne, D. R. (2020). Changes in alcohol use as a function of psychological distress and social support following COVID-19-related University closings. Addictive behaviors, 110, 106527. https://doi.org/10.1016/j.addbeh.2020.106527
https://doi.org/10.1016/j.addbeh.2020.10...
; Salerno et al., 2021Salerno, J. P., Shrader, C. H., Algarin, A. B., Lee, J. Y., & Fish, J. N. (2021). Changes in alcohol use since the onset of COVID-19 are associated with psychological distress among sexual and gender minority university students in the US. Drug and alcohol dependence, 221, 108594. https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.2021.108594
https://doi.org/10.1016/j.drugalcdep.202...
). O mesmo pode ser dito em relação ao uso de medicamentos psicotrópicos, com ou sem prescrição médica, cujo aumento vem sendo reportado na literatura e relacionado ao aumento de sofrimento psicológico durante a pandemia (Fontes et al., 2022Fontes, B. A., dos Santos Jacinto, P. M., & de Santana Rocha, R. V. (2022). Consumo de ansiolíticos benzodiazepínicos durante a pandemia de COVID-19: um estudo remoto com estudantes universitários. Sapienza: International Journal of Interdisciplinary Studies, 3(1), 34-44. https://doi.org/10.51798/sijis.v3i1.203
https://doi.org/10.51798/sijis.v3i1.203...
; Silva et al., 2022Silva, M. O., Dias, D. O., Ferraz, H. R., Braga Junior, A. C. R., & Amorim, A. T. (2022) Using profile of pysicotropic medicines distributed by public pharmacies during the COVID-19 pandemic. Research, Society and Development, 11(7), e45911730269, https://doi.org/10.33448/rsd-v11i7.30269
https://doi.org/10.33448/rsd-v11i7.30269...
).

Assim como outras investigações, o presente estudo constatou que a maioria dos participantes reportou ter autopercepção de piora do seu estado de saúde mental durante a pandemia (Barros et al., 2020Barros, M., Lima, M., Malta, D., Szwarcwald, C., Azevedo, R., Romero, D.,... & Gracie, R. (2020). Relato de tristeza/depressão, nervosismo/ansiedade e problemas de sono na população adulta brasileira durante a pandemia de COVID-19. Epidemiologia e Serviços Saúde, 29(4), e2020427. https://doi.org/10.1590/S1679-49742020000400018.
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; Cha et al., 2022Cha, W., Joo, H., Park, Y., Park, E., & Kim, S. (2022). Depression before and during-COVID-19 by Gender in the Korean Population. International journal of environmental research public health, 19(6), 3477. https://doi.org/10.3390/ijerph19063477
https://doi.org/10.3390/ijerph19063477 ...
; Gritsenko et al., 2021Gritsenko V, Skugarevsky O, Konstantinov V, Khamenka N, Marinova T, Reznik A, Isralowitz R. (2021). COVID-19 fear, stress, anxiety, and substance use among Russian and Belarusian university students. International Journal of Mental Health Addiction, 19, 2362-2368. https://doi.org/10.1007/s11469-020-00330-z
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). A pandemia contribuiu igualmente para o agravamento de sintomas psicológicos já presentes antes da pandemia, diante de um cenário que se impôs de forma brusca, como as medidas adotadas para o trabalho e o ensino remotos (Torres et al., 2021Torres, A. G., Nolasco, L. E. L., Oliveira, M. G. M. L., & Martins, A. M. (2021). COVI-19 e saúde mental de universitários: revisão integrativa internacional. Psicologia & Saúde, 13(4), 183-197. https://doi.org/10.20435/pssa.v13i4.1567
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). Entretanto, foram observados escores altos de BEP na dimensão ‘Crescimento Pessoal’, o que pode encontrar explicação ao se considerar que eventos de crise e experiências de sofrimento podem igualmente contribuir para a resiliência bem como para reflexões sobre temas como a finitude e o sentido da vida, essenciais para o crescimento pessoal (Machado & Bandeira, 2012Machado, W. D. L., & Bandeira, D. R. (2012). Bem-estar psicológico: definição, avaliação e principais correlatos. Estudos de Psicologia (Campinas) , 29, 587-595. https://doi.org/10.1590/S0103-166X2012000400013
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; Torres et al. 2021Torres, A. G., Nolasco, L. E. L., Oliveira, M. G. M. L., & Martins, A. M. (2021). COVI-19 e saúde mental de universitários: revisão integrativa internacional. Psicologia & Saúde, 13(4), 183-197. https://doi.org/10.20435/pssa.v13i4.1567
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).

A literatura tem mostrado que a situação imposta pela pandemia contribuiu para o autoconhecimento e o desenvolvimento de novas estratégias de cuidado pessoal e coletivo na comunidade universitária, associados a esperança de desfechos positivos da pandemia (Lourenço et al., 2021Lourenço, T., Charepe, Z., Pestana, C., Rabiais, I., Alvarez, E., Figueiredo, R., & Fernandes, S. (2021). Esperanza y Bienestar Psicológico durante la Crisis Sanitaria por COVID-19: Estudio con Estudiantes de Enfermería. Escola Anna Nery, 25, e20200548. https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2020-0548
https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-20...
; Machado & Bandeira, 2012Machado, W. D. L., & Bandeira, D. R. (2012). Bem-estar psicológico: definição, avaliação e principais correlatos. Estudos de Psicologia (Campinas) , 29, 587-595. https://doi.org/10.1590/S0103-166X2012000400013
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; Reicher & Bauld, 2021Reicher, S., & Bauld, L. (2021). From the ‘Fragile rationalist’to ‘collective resilience': what human psychology has taught us about the COVID-19 pandemic and what the covid-19 pandemic has taught us about human psychology. Journal of the Royal College of Physicians of Edinburgh, 51(1), 12-19. https://doi.org/10.4997/jrcpe.2021.236
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).

Como constatado neste estudo, altos escores nas dimensões de BEP estiveram presentes mesmo em grupos marcados por fatores comumente associados a desfechos negativos de saúde mental e BEP. Esses achados sugerem a importância de levar em consideração a capacidade dos indivíduos de construir estratégias de enfrentamento que minimizem os efeitos das adversidades sobre seu BEP, mesmo em contextos de intenso sofrimento como a pandemia de COVID-19 (Santo et al., 2020Santo, M. A. D. S., Duarte, M. D. Q., Giordani, J. P., Lima, C. P., Bedin, L. M., & Trentini, C. M. (2021). Bem-estar como fator moderador de transtornos mentais na pandemia. Revista Brasileira de Psicoterapia (Online) , 23(3), 33-46. https://doi.org/10.5935/2318-0404.20210042
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; Panourgia et al., 2021Panourgia, C., Wezyk, A., Ventouris, A., Comoretto, A., Taylor, Z., & Yankouskaya, A. (2021). Individual factors in the relationship between stress and resilience in mental health psychology practitioners during the COVID-19 pandemic. Journal of Health Psychology, 1, 1-19. https://doi.org/10.1177/13591053211059393
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). Assim, aponta-se para um outro cenário de intervenções em Psicologia que, além do enfrentamento dos aspectos que comprometem a saúde mental, devem se incluir o desenvolvimento de estratégias e o fortalecimento de aspectos que favoreçam a saúde mental da população (Scorsolini-Comin et al., 2021Scorsolini-Comin, F., Patias N., Cozzer, A., Flores, P. A. W., & Hohendorf, J. (2021) Saúde mental e estratégias de coping em pós-graduandos na pandemia da COVID-19. Revista Latina Americana de Enfermagem, 29, e3491. https://doi.org/10.1590/1518-8345.5012.3491
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).

É importante destacar que não se trata de negligenciar os prejuízos à saúde mental e ao bem-estar, mas de levar em conta outros aspectos da vivência da pandemia que podem contribuir para a construção de estratégias pautadas em fatores protetivos à saúde mental (Lourenço et al., 2021Lourenço, T., Charepe, Z., Pestana, C., Rabiais, I., Alvarez, E., Figueiredo, R., & Fernandes, S. (2021). Esperanza y Bienestar Psicológico durante la Crisis Sanitaria por COVID-19: Estudio con Estudiantes de Enfermería. Escola Anna Nery, 25, e20200548. https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2020-0548
https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-20...
; Noronha et al., 2020Noronha, A., Hutz, C. &Vazquez, A. (2020) Contribuições da psicologia positiva para o enfrentamento da pandemia. In A. Vazquez Protocolos de Saúde Mental na pandemia de COVID-19: uma guia com diretrizes práticas. (pp 61-67). Editora UFCSP.; Palma et al., 2022Palma, E. M., Sousa, A. R., Morais, F. A, Luz, R., Freitas Neto, Á. L., & Lima, P. P. F. (2022). Coping moderates the relationship between intolerance of uncertainty and stress in men during the COVID-19 pandemic. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 56. e20210303. https://doi.org/10.1590/1980-220X-REEUSP-2021-0303
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). Essas ações podem reforçar as contribuições da Psicologia Positiva para os desafios da saúde pública (Noronha et al., 2020Noronha, A., Hutz, C. &Vazquez, A. (2020) Contribuições da psicologia positiva para o enfrentamento da pandemia. In A. Vazquez Protocolos de Saúde Mental na pandemia de COVID-19: uma guia com diretrizes práticas. (pp 61-67). Editora UFCSP.), pois podem ser estratégicas para o desenvolvimento e o fortalecimento de programas de saúde mental da população universitária, que antes mesmo da pandemia, já apresentava estatísticas de saúde mental e uso de substâncias psicoativas que representam problemas de saúde pública.

Considerações Finais

Os resultados do presente estudo somam-se a outros achados na literatura que apontam para os impactos da pandemia de COVID-19 e, possivelmente efeitos consequentes das medidas de distanciamento social na saúde mental da população universitária. Foram identificados fatores associados a altos escores de bem-estar psicológico durante a pandemia, tais como reportar alterações psiquiátricas prévias, ter filhos, ter passado por dificuldades financeiras e residir com amigos/em república ou com familiares.

A identificação de fatores associados a altos escores de bem-estar psicológico pode contribuir para o delineamento de estratégias de intervenção em saúde mental que vão além dos aspectos de adoecimento e fortaleçam as estratégias de enfrentamento dos efeitos da pandemia pelos estudantes universitários e por outros grupos sociais. Nessa perspectiva, a Psicologia Positiva apresenta importantes aportes para subsidiar a construção de estratégias de prevenção e de tratamento/reabilitação psicológica indispensáveis em meio a emergências sanitárias.

Apesar de os resultados alcançados atenderem ao objetivo geral da pesquisa, o estudo não está isento de limitações. O uso de medidas de autorrelato bem como obtidas online pode ser afetado tanto pelo viés de desejabilidade social quanto pelo falseamento das respostas de maneira proposital, na tentativa de expor uma imagem de indivíduo saudável. A natureza da amostra de conveniência limita a generalização dos achados além dos participantes incluídos. Salvo estas limitações, os resultados encontrados, que corroboram com alguns disponíveis na literatura científica da área, permitiram o dimensionamento dos indicadores de bem-estar psicológico dos estudantes universitários e a identificação de potenciais fatores determinantes do bem-estar psicológico.

Por fim, a composição das duas amostras do presente estudo reflete proporcionalmente e por estratos a população universitária do local de estudo e, em parte, o perfil da população universitária brasileira, tanto no que se refere ao perfil sociodemográfico quanto no que tange aos principais desafios relacionados à saúde mental e uso de substâncias psicoativas. De modo geral, os dados apontam para a heterogeneidade dos grupos investigados, assim como para a importância de considerar fatores psicossociais e econômicos enquanto determinantes do bem-estar psicológico durante a pandemia de COVID-19.

Pesquisas futuras poderão enfocar na construção de modelos explicativos levando em consideração outras variáveis além de indicadores demográficos e comportamentais. Sugere-se estudos qualitativos, tão escassos, para aprofundar a compreensão da vivência da pandemia, seus impactos e nas estratégias de enfrentamento que influenciam a saúde mental. Igualmente, estudos longitudinais dos indicadores psicológicos que permitam acompanhar os impactos psicopatológicos da pandemia e seus desdobramentos com determinantes de diferentes dimensões.

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Pedro Afonso Cortez

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    04 Set 2022
  • Aceito
    13 Jan 2023
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