Acessibilidade / Reportar erro

Efeitos de conteúdos emocionais sobre o raciocínio dedutivo humano: uma revisão sistemática

Effects of emotional content on human reasoning: a systematic review

Effets du contenu affectif sur le raisonnement humain : une revue systématique

Efectos de los contenidos emocionales sobre el razonamiento humano: una revisión sistemática

Resumo:

O raciocínio e a emoção apresentam complexas e numerosas relações entre si, podendo prejudicar ou beneficiar o processamento lógico. Visando investigar a influência da tonalidade afetiva sobre o raciocínio, realizou-se uma revisão sistemática advinda da busca de estudos publicados nas bases de dados do Portal de Periódicos da Capes, Scielo, PubMed e Google Acadêmico. Os descritores utilizados foram: (affective content OR evaluative content OR emotion*) AND (reasoning). Após análise e submissão aos critérios de inclusão e exclusão, restaram 17 artigos, duas dissertações de mestrado e uma tese de doutorado. Apenas um dos estudos foi realizado no Brasil. Os participantes das pesquisas selecionadas tiveram pior desempenho nas tarefas de raciocínio formadas por conteúdos valorativos negativos. Entretanto, os conteúdos negativos influenciaram de forma positiva o raciocínio dedutivo quando se mostravam relevantes para a realização da tarefa. Assim, os estudos selecionados parecem apontar para a importância das emoções sobre o raciocínio humano.

Palavras-chave:
raciocínio; emoção; conteúdos emocionais

Abstract:

Reasoning and emotions have many complex relations which can hinder or benefit logical processing. Intending to investigate the influence of affective content on reasoning, we conducted a systematic review on scientific articles published on the Capes Journals Portal, Scielo, PubMed and Academic Google databases, retrieved using the descriptors (affective content OR evaluative content OR emotion*) AND (reasoning). After analysis and application of inclusion and exclusion criteria, 17 papers, two master’s dissertations and one doctorate thesis remained. Only one study was conducted in Brazil. Research participants showed a worse performance in reasoning tasks composed by negative emotional content. However, negative emotional content influenced deductive reasoning positively when they proved to be relevant to the task. Hence, the reviewed studies suggest an importance of emotions for human reasoning.

Keywords:
reasoning; emotion; emotional contents

Résumé :

Le raisonnement et l’émotion entretiennent de nombreuses relations complexes qui peuvent entraver ou favoriser le procès logique. Dans le but d’étudier l’influence du contenu affectif sur le raisonnement, on a effectué une revue systématique des articles scientifiques publiés sur les base des données Portail des Périodiques du Capes, Scielo, PubMed et Google Académique, retrouvés en utilisant les descripteurs (affective content OR evaluative content OR emotion*) AND (reasoning). Après l’analyse et application des critères d’inclusion et d’exclusion, 17 articles, deux mémoires de maîtrise et une thèse de doctorat ont été retenus. Une seule étude a été menée au Brésil. Les participants aux recherches ont montré une pire perfomance dans les tâches de raisonnement composés d’un contenu affectif négatif. Cependant, ce contenu a influencé positivement le raisonnement déductif lorsqu’il s’est avéré pertinent pour la tâche. Les études examinées suggèrent donc que les émotions jouent un rôle important dans le raisonnement humain.

Mots-clés :
raisonnement; émotion; contenus affectif

Resumen:

El razonamiento y las emociones tienen relaciones complejas entre sí, que pueden perjudicar o ayudar el procesamiento lógico. Para investigar la influencia del tono afectivo sobre el razonamiento, se realizó una revisión sistemática a partir de la búsqueda de estudios publicados en las bases de datos del Portal de Periódicos Capes, SciELO, PubMed y Google Académico. Los descriptores utilizados fueron los siguientes: (affective content OR evaluative content OR emotion*) AND (reasoning). Después de la aplicación de los criterios de inclusión y exclusión, se seleccionaron 17 artículos, dos disertaciones de maestría y una tesis doctoral. Solo uno de los estudios se llevó a cabo en Brasil. Los participantes de las investigaciones seleccionadas tuvieron un peor desempeño en las tareas de razonamiento formadas por contenidos emocionales negativos. Estos influenciaron de forma positiva el razonamiento deductivo cuando eran relevantes para la realización de la tarea. Los estudios seleccionados parecen evidenciar la importancia de las emociones sobre el razonamiento humano.

Palabras clave:
razonamiento; emoción; contenidos emocionales

Introdução

Os humanos têm emoções que podem se relacionar de formas complexas com o processamento lógico. Investigar as relações entre elas e o raciocínio significa ter uma melhor chance de compreender as relações interpessoais, desde pequenas interações do cotidiano até comunicações que podem afetar eleições de países poderosos. Em uma dimensão mais subjetiva, o diálogo entre as emoções e o raciocínio pode ser uma variável de destaque no processo de transdiagnóstico (Nolen-Hoeksema & Watkins, 2011Nolen-Hoeksema, S., & Watkins, E. R. (2011). A heuristic for developing transdiagnostic models of psychopathology: Explaining multifinality and divergent trajectories. Perspectives on Psychological Science, 6(6), 589-609. doi: 10.1177/1745691611419672
https://doi.org/10.1177/1745691611419672...
). Em uma escala global, esse diálogo pode ser protagonista na tomada de decisões públicas sobre políticas ambientais, sanitárias, econômicas, científicas, bélicas etc. (Forgas & Baumeister, 2019Forgas, J. P., & Baumeister, R. (Eds.). (2019). The Social Psychology of Gullibility: Conspiracy Theories, Fake News and Irrational Beliefs. Oxon, UK & New York: Routledge. ).

Ainda que a emoção seja considerada como um importante fator para a interpretação e o raciocínio humano por pesquisas recentes das áreas de neurociências e psicologia cognitiva (Alba-Juez, 2021Alba-Juez, L. (2021). Fast and slow thinking as secret agents behind speakers’ (un)conscious pragmatic decisions and judgements. Journal of Pragmatics, 179, 70-76. doi: 10.1016/j.pragma.2021.04.016
https://doi.org/10.1016/j.pragma.2021.04...
; Harvey & Kisley, 2023Harvey, A. M., & Kisley, M. A. (2023). Effects of emotion, emotional tolerance, and emotional processing on reasoning. Cognition & Emotion, 37(6), 1090-1104. doi: 10.1080/02699931.2023.2228539
https://doi.org/10.1080/02699931.2023.22...
; Martel, Pennycook, & Rand, 2020Martel, C., Pennycook, G., & Rand, D. G. (2020). Reliance on emotion promotes belief in fake news. Cognitive Research: Principles and Implications, 5(1), 47. doi: 10.1186/s41235-020-00252-3
https://doi.org/10.1186/s41235-020-00252...
; Viau-Quesnel, Savary, Blanchette, 2019Viau-Quesnel, C., Savary, M., & Blanchette, I. (2019). Reasoning and concurrent timing: a study of the mechanisms underlying the effect of emotion on reasoning. Cognition & Emotion, 33(5), 1020-1030. doi: 10.1080/02699931.2018.1535427
https://doi.org/10.1080/02699931.2018.15...
), modelos mais antigos acerca da comunicação humana privilegiavam apenas o aspecto racionalista, dando continuidade à tradição filosófica de separação entre razão e emoção (Santos & Godoy, 2021Santos, S. L., & Godoy, E. (2021). Arquitetura do processamento cognitivo: efeito racional e efeito emocional. Linguagem em (Dis)curso, 21(3), 435-454. doi: 10.1590/1982-4017-210309-11320
https://doi.org/10.1590/1982-4017-210309...
). Nesse sentido, a teoria da relevância postula que a interpretação de enunciados e a racionalização a ela associada são orientados pelos estímulos ( inputs ) mais relevantes, de modo que o processamento cognitivo seja mais eficiente e menos custoso (Wilson & Sperber, 2005 Wilson, D., & Sperber, D. (2005). Teoria da Relevânica. Linguagem em (Dis)curso, 5, 221-268. Recuperado de https://portaldeperiodicos.animaeducacao.com.br/index.php/Linguagem_Discurso/article/view/287/301
https://portaldeperiodicos.animaeducacao...
). Ainda que a teoria da relevância determine o papel da relevância pragmática para o raciocínio, achados mais recentes apontam que a relevância afetiva também se apresenta como fundamental para a cognição humana (Wharton, Bonard, Dukes, Sander, & Oswald, 2021Wharton, T., Bonard, C., Dukes, D., Sander, D., & Oswald, S. (2021). Relevance and emotion. Journal of Pragmatics, 181, 259-269. doi: 10.1016/j.pragma.2021.06.001
https://doi.org/10.1016/j.pragma.2021.06...
). Ademais, as emoções instigam a busca por relevância de contextos e enunciados, auxiliando processos cognitivos superiores, como a tomada de decisão e o raciocínio (Santos & Godoy, 2021Santos, S. L., & Godoy, E. (2021). Arquitetura do processamento cognitivo: efeito racional e efeito emocional. Linguagem em (Dis)curso, 21(3), 435-454. doi: 10.1590/1982-4017-210309-11320
https://doi.org/10.1590/1982-4017-210309...
).

Os estudos existentes sobre emoção e raciocínio são referentes a diversas modalidades de raciocínio. Entre elas, há uma aparente predileção do paradigma dedutivo do raciocínio (Blanchette & Richards, 2010Blanchette, I., & Richards, A. (2010). The influence of affect on higher level cognition: A review of research on interpretation, judgement, decision making and reasoning. Cognition & Emotion, 24(4), 561-595. doi: 10.1080/02699930903132496
https://doi.org/10.1080/0269993090313249...
). O raciocínio dedutivo permite que consequências ou conclusões sejam derivadas a partir de conhecimentos prévios ou premissas (Oaksford & Chater, 2019Oaksford, M., & Chater, N. (2019). New Paradigms in the Psychology of Reasoning. Annual Review of Psychology, 71(1), 305-330. doi: 10.1146/annurev-psych-010419-051132
https://doi.org/10.1146/annurev-psych-01...
). Assim, é caracterizado de forma semelhante às denominações “raciocínio condicional” (Trutescu & Raijmakers, 2019 Trutescu, G., & Raijmakers, M. E. J. (2019). Logical reasoning in a deductive version of the Mastermind game (Dissertação de Mestrado, Leiden University, Holanda). https://doi.org/10.31237/osf.io/hzqx3
https://doi.org/10.31237/osf.io/hzqx3...
), “raciocínio lógico” (Morsanyi, McCormack, & O’Mahony, 2017Morsanyi, K., McCormack, T., & O’Mahony, E. (2017). The link between deductive reasoning and mathematics. Thinking & Reasoning, 24(2), 234-257. doi: 10.1080/13546783.2017.1384760
https://doi.org/10.1080/13546783.2017.13...
) e “raciocínio analítico” (Carreira, Amado, & Jacinto, 2020Carreira, S., Amado, N., & Jacinto, H. (2020) Venues for Analytical Reasoning Problems: How Children Produce Deductive Reasoning. Education Science, 10(6), 169-192. doi: 10.3390/educsci10060169
https://doi.org/10.3390/educsci10060169...
).

Similarmente às diferentes nomenclaturas atribuídas ao raciocínio dedutivo, a emoção é, enquanto fator que influencia o raciocínio, descrita a partir de diversos termos na literatura. Nesse contexto, é essencial apontar a sutil diferença entre os termos “conteúdos emocionais” e “conteúdos valorativos”, ainda que sejam frequentemente utilizados como sinônimos. Os primeiros, também denominados “conteúdos afetivos”, referem-se aos conteúdos semânticos tonalizados afetivamente de modo neutro, positivo ou negativo (Hinojosa, Moreno, & Ferré, 2019Hinojosa, J. A., Moreno, E. M., & Ferré, P. (2019). Affective neurolinguistics: towards a framework for reconciling language and emotion. Language, Cognition and Neuroscience, 35(7), 1-27. doi: 10.1080/23273798.2019.1620957
https://doi.org/10.1080/23273798.2019.16...
), enquanto os segundos pretendem fazer um juízo de valor neutro, positivo ou negativo a respeito de situações ou categorias de pessoas (Greenspan, 2019Greenspan, P. (2019). The Evaluative Content of Emotion. Royal Institute of Philosophy Supplement, 85, 75-86. doi: 10.1017/s1358246118000693
https://doi.org/10.1017/s135824611800069...
). Em outros termos, todo conteúdo valorativo é também “afetivo”, na medida em que inclui uma valência neutra, positiva ou negativa. Contudo, nem todo conteúdo afetivo tem um caráter valorativo (Greenspan, 2019Greenspan, P. (2019). The Evaluative Content of Emotion. Royal Institute of Philosophy Supplement, 85, 75-86. doi: 10.1017/s1358246118000693
https://doi.org/10.1017/s135824611800069...
).

A potencial influência dos conteúdos emocionais sobre o raciocínio dedutivo pode ser compreendida a partir da teoria de processamento dual postulada por Kahneman ( 2012Kahneman, D. (2012). Rápido e devagar: Duas formas de pensar. Rio de Janeiro, RJ: Objetiva. ). O Sistema 1 é responsável por realizar conclusões rápidas e automáticas a partir de poucas evidências sem ponderar a precisão dessas decisões, enquanto o Sistema 2 mobiliza a atenção de forma deliberada para atividades mentais que demandam esforço e concentração, incluindo computações complexas. Dessa forma, os dois sistemas podem interagir com outras dimensões, como a tomada de decisão (Aven, 2018Aven, T. (2018). How the integration of System 1-System 2 thinking and recent risk perspectives can improve risk assessment and management. Reliability Engineering & System Safety, 180, 237-244. doi: 10.1016/j.ress.2018.07.031
https://doi.org/10.1016/j.ress.2018.07.0...
), os julgamentos e vieses cognitivos (De Neys, 2017De Neys, W. (2017). Bias, conflict, and fast logic: Towards a hybrid dual process future?. In W. De Neys (Ed.), Dual Process Theory 2.0 (pp. 47-65). Oxon, UK: Routledge. ) e as emoções (Blanchette, Caparos & Trémolière, 2018Trémolière, B., Maheux-Caron, V., Lepage, J. F., & Blanchette, I. (2018). tDCS Stimulation of the dlPFC Selectively Moderates the Detrimental Impact of Emotion on Analytical Reasoning. Frontiers in Psychology, 9, 568. doi: 10.3389/fpsyg.2018.00568
https://doi.org/10.3389/fpsyg.2018.00568...
). Ainda que o Sistema 2 esteja normalmente envolvido com processamentos que demandam raciocínio dedutivo, contextos que apresentem conflitos entre o raciocínio e as crenças, as expectativas e as emoções podem ser submetidas ao processamento cognitivo do Sistema 1, estando, consequentemente, associadas a um desempenho inferior em tarefas de raciocínio (Tay, Ryan, & Ryan, 2016 Tay, S. W., Ryan, P., & Ryan, C. A. (2016). Systems 1 and 2 thinking processes and cognitive reflection testing in medical students. Canadian Medical Education Journal, 7(2), e97-e103. Recuperado de https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5344059/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
). Ademais, o impacto da emoção sobre o raciocínio parece aumentar a carga cognitiva, sobrecarregando a memória de trabalho que está relacionada com o Sistema 2 (Blanchette, 2014Blanchette, I. (2014). Emotion and Reasoning. East Sussex, UK: Psychology Press. ).

Ao longo dos anos, diferentes instrumentos de pesquisa foram adotados para investigar as relações entre raciocínio e emoções. Uma forma frequente de avaliar o efeito da emoção sobre o raciocínio é por meio da realização de tarefas contendo silogismos neutros e afetivos (e.g., Blanchette & Campbell, 2012Blanchette, I., & Campbell, M. (2012). Reasoning about highly emotional topics: Syllogistic reasoning in a group of war veterans. Journal of Cognitive Psychology, 24(2), 157-164. doi: 10.1080/20445911.2011.603693
https://doi.org/10.1080/20445911.2011.60...
; Goel & Vartanian, 2011Goel, V., & Vartanian, O. (2011). Negative emotions can attenuate the influence of beliefs on logical reasoning. Cognition & Emotion, 25(1), 121-131. doi: 10.1080/02699931003593942
https://doi.org/10.1080/0269993100359394...
). No Brasil, ainda que escassos, um exemplo de estudo sobre a temática foi realizado por Cagnin e Leme ( 2018Cagnin, S., & Leme, M. I. S. (2018). The effects of the evaluative content of premises on the deductive reasoning of psychology students. Temas em Psicologia, 26(2), 819-834. doi: 10.9788/TP2018.2-11Pt
https://doi.org/10.9788/TP2018.2-11Pt...
), que pesquisaram os efeitos de conteúdos emocionais no raciocínio dedutivo em uma amostra de estudantes universitários. No contexto internacional, pesquisas abrangem o uso de silogismos em diferentes amostras de participantes, como mulheres sobreviventes de experiências relacionadas a abuso sexual (Blanchette, Lindsay, & Davies, 2014Blanchette, I., Lindsay, P., & Davies, S. (2014b). Intense emotional experiences and logicality: An exploration of deductive reasoning in survivors of sexual abuse. The Psychological Record, 64(4), 859-867. doi: 10.1007/s40732-014-0073-4
https://doi.org/10.1007/s40732-014-0073-...
), veteranos de guerra (Blanchette & Campbell, 2012Blanchette, I., & Campbell, M. (2012). Reasoning about highly emotional topics: Syllogistic reasoning in a group of war veterans. Journal of Cognitive Psychology, 24(2), 157-164. doi: 10.1080/20445911.2011.603693
https://doi.org/10.1080/20445911.2011.60...
), estudantes universitários e funcionários de universidades (Trémolière, Maheux-Caron, Lepage, & Blanchette, 2018Blanchette, I., Caparos, S., & Trémolière, B. (2018). Emotion and reasoning. In L. J. Ball & V. A. Thompson (Eds.), The Routledge international handbook of thinking and reasoning (pp. 57-70). Routledge/Taylor & Francis Group. ).

Como consequência, o acúmulo desses dados empíricos sugere a demanda de uma revisão sistemática. Como nenhuma revisão sobre o efeito da tonalidade afetiva no raciocínio dedutivo está disponível, no Brasil ou no contexto internacional, reconhece-se a importância de realizar uma revisão sistemática de literatura sobre o tema. Sendo assim, o objetivo desta revisão é organizar e avaliar evidências de pesquisas que investigaram empiricamente o efeito de conteúdos emocionais no raciocínio dedutivo.

Metodologia

Para a elaboração deste artigo, foi realizada uma revisão sistemática da literatura a partir da busca de teses, dissertações e artigos publicados em periódicos científicos. Desse modo, consultaram-se, no mês de novembro de 2020, quatro bases de dados, a saber: Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Google Acadêmico e PubMed. As combinações de palavras-chave usadas para pesquisar os títulos foram os descritores e operadores booleanos: ( affective content OR evaluative content OR emotion* ) AND ( reasoning ). As buscas foram realizadas por dois juízes independentes, com avaliações às cegas. Assim, resultaram em um total de 494 estudos.

Posteriormente a essa pesquisa preliminar, foram eliminadas os artigos em duplicatas, levando à exclusão de 198 estudos. Como resultado, 296 pesquisas foram pré-selecionadas e, para serem eleitas para a fase de leitura dos textos em forma completa, os seguintes critérios de inclusão iniciais foram considerados: (1) pertencerem aos idiomas inglês, espanhol, português ou francês; e (2) apresentarem resumo disponível. Consequentemente, houve a eliminação de 40 artigos, pois não cumpriam os critérios de inclusão mencionados (entre eles, 23 não foram escritos nos idiomas citados e 17 não apresentaram resumo), enquanto as 256 pesquisas restantes passaram para a análise dos textos.

Nesta etapa, os estudos foram lidos e avaliados de acordo com os critérios de inclusão delimitados pelos autores, sendo eles: (1) serem estudos originais e empíricos; e (2) apresentarem uma tarefa de raciocínio dedutivo, analítico, condicional ou lógico caracterizada pela manipulação de conteúdos emocionais. Já os critérios de exclusão utilizados para a seleção foram: (1) apresentar tarefas de raciocínio moral ou julgamento; e (2) serem caracterizados pela manipulação de humores ou estados emocionais. A partir desses parâmetros, elegeram-se 18 artigos, duas dissertações de mestrado e uma tese de doutorado, sendo 27 estudos excluídos pelo fato de serem estudos teóricos e 208 pesquisas eliminadas por abordarem modalidades de raciocínio diferentes das exigidas. Um artigo, apesar de ter cumprido os critérios de inclusão, apresentou uma data de publicação muito distante dos demais estudos selecionados (Lefford, 1946Lefford, A. (1946). The influence of emotional subject matter on logical reasoning. Journal of General Psychology, 34, 127-151. doi: 10.1080/00221309.1946.10544530
https://doi.org/10.1080/00221309.1946.10...
), sendo eliminado por esse motivo. Consequentemente, o banco de dados final foi composto por 21 diferentes trabalhos.


Fluxograma da revisão sistemática da bibliografia

Tabela 1. Critério PICOS * * PICOS = Participants, Intervention, Control, Outcomes, and Study designs para a inclusão dos estudos na revisão sistemática
Acrônimo Definição Aplicação do critério no estudo
P População Indivíduos adultos alfabetizados.
I Intervenção Indução da emoção por conteúdos emotivos em tarefas de raciocínio.
C Controle Tarefas de raciocínio apresentando conteúdos neutros.
O Desfecho Baixo desempenho dos participantes em tarefas envolvendo conteúdos emocionais, em comparação com o desempenho em tarefas com enunciados neutros.
S Tipo de estudo Estudos quantitativos transversais.
  • *
    PICOS = Participants, Intervention, Control, Outcomes, and Study designs
  • Fonte: adaptado de Linares-Espinós et al., 2018Linares-Espinós, E., Hernández, V., Domínguez-Escrig, J. L., Fernández-Pello, S., Hevia, V., Mayor, J., . . . Ribal, M. J. (2018). Methodology of a systematic review. Actas Urológicas Españolas (English Edition), 42(8), 499-506. doi: 10.1016/j.acuroe.2018.07.002
    https://doi.org/10.1016/j.acuroe.2018.07...
    .

    Resultados

    A Tabela 2 apresenta o resumo dos 21 estudos analisados com as principais informações a respeito dos autores, do tipo de amostra utilizada, das tarefas apresentadas nas pesquisas e dos principais resultados.

    Dos estudos selecionados, apenas um não foi escrito em língua inglesa, o único realizado no contexto latino-americano (Cagnin & Leme, 2018Cagnin, S., & Leme, M. I. S. (2018). The effects of the evaluative content of premises on the deductive reasoning of psychology students. Temas em Psicologia, 26(2), 819-834. doi: 10.9788/TP2018.2-11Pt
    https://doi.org/10.9788/TP2018.2-11Pt...
    ). Todos os estudos apresentaram uma abordagem quantitativa. As pesquisas selecionadas foram conduzidas, em sua totalidade, nos últimos 15 anos, principalmente na última década (2010-2019), apontando, assim, para um possível aumento de interesse na temática.

    Entre os resultados quantitativos mais significativos, destaca-se que, em 15 estudos analisados, os participantes tiveram piores desempenhos nas tarefas de raciocínio contendo itens de conteúdo emocional negativo do que nos itens neutros (Blanchette, 2006Blanchette, I. (2006). The effect of emotion on interpretation and logic in a conditional reasoning task. Memory & Cognition, 34, 1112-1125. doi: 10.3758/BF03193257
    https://doi.org/10.3758/BF03193257...
    ; Blanchette, Richards, Melnyk, & Layda , 2007Blanchette, I., Richards, A., Melnyk, L., & Lavda, A. (2007). Reasoning about emotional contents following shocking terrorist attacks: a tale of three cities. Journal of experimental psychology. Applied, 13(1), 47-56. doi: 10.1037/1076-898X.13.1.47
    https://doi.org/10.1037/1076-898X.13.1.4...
    ; Blanchette, Gavigan, & Johnston, 2014aBlanchette, I., Gavigan, S., & Johnston, K. (2014a). Does emotion help or hinder reasoning? The moderating role of relevance. Journal of Experimental Psychology: General, 143(3), 1049-1064. doi: 10.1037/a0034996
    https://doi.org/10.1037/a0034996...
    ; Blanchette et al., 2014bBlanchette, I., Lindsay, P., & Davies, S. (2014b). Intense emotional experiences and logicality: An exploration of deductive reasoning in survivors of sexual abuse. The Psychological Record, 64(4), 859-867. doi: 10.1007/s40732-014-0073-4
    https://doi.org/10.1007/s40732-014-0073-...
    ; Blanchette & El-Deredy, 2014Blanchette, I., & El-Deredy, W. (2014). An ERP investigation of conditional reasoning with emotional and neutral contents. Brain and Cognition, 91, 45-53. doi: 10.1016/j.bandc.2014.08.001
    https://doi.org/10.1016/j.bandc.2014.08....
    ; Blanchette & Leese, 2011Blanchette, I., & Leese, J. (2011). The effect of negative emotion on deductive reasoning: Examining the contribution of physiological arousal. Experimental Psychology, 58(3), 235-246. doi: 10.1027/1618-3169/a000090
    https://doi.org/10.1027/1618-3169/a00009...
    ; Blanchette & Richards, 2004Blanchette, I., & Richards, A. (2004). Reasoning About Emotional and Neutral Materials: Is Logic Affected by Emotion? Psychological Science, 15(11), 745-752. doi: 10.1111/j.0956-7976.2004.00751.x
    https://doi.org/10.1111/j.0956-7976.2004...
    ; Cagnin & Leme, 2018Cagnin, S., & Leme, M. I. S. (2018). The effects of the evaluative content of premises on the deductive reasoning of psychology students. Temas em Psicologia, 26(2), 819-834. doi: 10.9788/TP2018.2-11Pt
    https://doi.org/10.9788/TP2018.2-11Pt...
    ; Caparos & Blanchette, 2016Caparos, S. & Blanchette, I. (2016) Independent effects of relevance and arousal on deductive reasoning. Cognition and Emotion, 31(5), 1012-1022. doi: 10.1080/02699931.2016.1179173
    https://doi.org/10.1080/02699931.2016.11...
    ; Eliades, Mansell Stewart, & Blanchette, 2012Blanchette, I., & Campbell, M. (2012). Reasoning about highly emotional topics: Syllogistic reasoning in a group of war veterans. Journal of Cognitive Psychology, 24(2), 157-164. doi: 10.1080/20445911.2011.603693
    https://doi.org/10.1080/20445911.2011.60...
    ; Goel et al., 2017Goel, V., Lam, E., Smith, K. W., Goel, A., Raymont, V., Krueger, F., & Grafman, J. (2017). Lesions to polar/orbital prefrontal cortex selectively impair reasoning about emotional material. Neuropsychologia, 99, 236-245. doi: 10.1016/j.neuropsychologia.2017.03.006
    https://doi.org/10.1016/j.neuropsycholog...
    ; Harvey, 2018 Harvey, A. (2018). Effects of emotion, emotional tolerance, and emotional processing on reasoning (Dissertação de Mestrado, University of Colorado, Colorado Springs, U.S). Recuperado de https://mountainscholar.org/bitstream/handle/10976/167052/Harvey_uccs_0892N_10416.pdf?sequence=1
    https://mountainscholar.org/bitstream/ha...
    ; Jung, Wranke, Hamburger, & Knauff, 2014Jung, N., Wranke, C., Hamburger, K., & Knauff, M. (2014). How emotions affect logical reasoning: Evidence from experiments with mood-manipulated participants, spider phobics, and people with exam anxiety. Frontiers in Psychology, 5, 1-12. doi: 10.3389/fpsyg.2014.00570
    https://doi.org/10.3389/fpsyg.2014.00570...
    ; Stollstorff, 2010 Stollstorff, M. (2010). Modulation of reasoning bias and brain activation by serotonin transporter genotype and emotional content (Tese de Doutorado, Georgetown University, Washington, DC, USA). Recuperado de https://repository.library.georgetown.edu/bitstream/handle/10822/553227/stollstorffMelanie.pdf?isAllowed=y&sequence=1
    https://repository.library.georgetown.ed...
    ; Viau-Quesnel et al., 2019Viau-Quesnel, C., Savary, M., & Blanchette, I. (2019). Reasoning and concurrent timing: a study of the mechanisms underlying the effect of emotion on reasoning. Cognition & Emotion, 33(5), 1020-1030. doi: 10.1080/02699931.2018.1535427
    https://doi.org/10.1080/02699931.2018.15...
    ). No que concerne aos conteúdos afetivos positivos, enquanto quatro experimentos não encontraram diferenças significativas nos desempenhos dos participantes em comparação com os itens neutros (Blanchette, 2006Blanchette, I. (2006). The effect of emotion on interpretation and logic in a conditional reasoning task. Memory & Cognition, 34, 1112-1125. doi: 10.3758/BF03193257
    https://doi.org/10.3758/BF03193257...
    ; Blanchette & Richards, 2004Blanchette, I., & Richards, A. (2004). Reasoning About Emotional and Neutral Materials: Is Logic Affected by Emotion? Psychological Science, 15(11), 745-752. doi: 10.1111/j.0956-7976.2004.00751.x
    https://doi.org/10.1111/j.0956-7976.2004...
    ; Cagnin & Leme, 2018Cagnin, S., & Leme, M. I. S. (2018). The effects of the evaluative content of premises on the deductive reasoning of psychology students. Temas em Psicologia, 26(2), 819-834. doi: 10.9788/TP2018.2-11Pt
    https://doi.org/10.9788/TP2018.2-11Pt...
    ; Jung et al., 2014Jung, N., Wranke, C., Hamburger, K., & Knauff, M. (2014). How emotions affect logical reasoning: Evidence from experiments with mood-manipulated participants, spider phobics, and people with exam anxiety. Frontiers in Psychology, 5, 1-12. doi: 10.3389/fpsyg.2014.00570
    https://doi.org/10.3389/fpsyg.2014.00570...
    , estudo 1), um experimento verificou que os sujeitos tiveram piores taxas de acerto nas declarações positivas do que nas neutras e depreciativas (Jung et al., 2014Jung, N., Wranke, C., Hamburger, K., & Knauff, M. (2014). How emotions affect logical reasoning: Evidence from experiments with mood-manipulated participants, spider phobics, and people with exam anxiety. Frontiers in Psychology, 5, 1-12. doi: 10.3389/fpsyg.2014.00570
    https://doi.org/10.3389/fpsyg.2014.00570...
    , estudo 2).

    Tabela 2.
    Principais características dos estudos selecionados

    Apesar da consonância apresentada pelos resultados da influência dos conteúdos emocionais negativos sobre o raciocínio humano, tal unanimidade não foi encontrada entre as populações que resolveram tarefas com conteúdos negativos específicos que expressavam suas vivências. Os participantes obtiveram melhor desempenho nas tarefas de raciocínio dedutivo contendo conteúdos emocionais que versavam sobre assuntos sensíveis a eles (como nas situações traumáticas da guerra, abuso, observação de atos terroristas e itens relacionados a fobias) do que naquelas que continham conteúdos emocionais negativos não voltados para a população testada (Blanchette et al., 2007Blanchette, I., Richards, A., Melnyk, L., & Lavda, A. (2007). Reasoning about emotional contents following shocking terrorist attacks: a tale of three cities. Journal of experimental psychology. Applied, 13(1), 47-56. doi: 10.1037/1076-898X.13.1.47
    https://doi.org/10.1037/1076-898X.13.1.4...
    ; Blanchette et al., 2014bBlanchette, I., Lindsay, P., & Davies, S. (2014b). Intense emotional experiences and logicality: An exploration of deductive reasoning in survivors of sexual abuse. The Psychological Record, 64(4), 859-867. doi: 10.1007/s40732-014-0073-4
    https://doi.org/10.1007/s40732-014-0073-...
    ; Blanchette & Campbell, 2012Blanchette, I., & Campbell, M. (2012). Reasoning about highly emotional topics: Syllogistic reasoning in a group of war veterans. Journal of Cognitive Psychology, 24(2), 157-164. doi: 10.1080/20445911.2011.603693
    https://doi.org/10.1080/20445911.2011.60...
    ; Goel & Vartanian, 2011Goel, V., & Vartanian, O. (2011). Negative emotions can attenuate the influence of beliefs on logical reasoning. Cognition & Emotion, 25(1), 121-131. doi: 10.1080/02699931003593942
    https://doi.org/10.1080/0269993100359394...
    ). Ainda que os conteúdos emocionais negativos possam ter promovido o raciocínio dedutivo em alguns estudos, tal tendência de resultado não foi encontrada em três das pesquisas analisadas, as quais também envolviam tarefas compostas por enunciados emocionantes para a amostra testada (Caparos & Blanchette, 2016Caparos, S. & Blanchette, I. (2016) Independent effects of relevance and arousal on deductive reasoning. Cognition and Emotion, 31(5), 1012-1022. doi: 10.1080/02699931.2016.1179173
    https://doi.org/10.1080/02699931.2016.11...
    ; Eliades et al., 2012Eliades, M., Mansell, W., Stewart, A. J., & Blanchette, I. (2012). An investigation of belief-bias and logicality in reasoning with emotional contents. Thinking & Reasoning, 18(4), 461-479. doi: 10.1080/13546783.2012.713317
    https://doi.org/10.1080/13546783.2012.71...
    ; Jung et al., 2014Jung, N., Wranke, C., Hamburger, K., & Knauff, M. (2014). How emotions affect logical reasoning: Evidence from experiments with mood-manipulated participants, spider phobics, and people with exam anxiety. Frontiers in Psychology, 5, 1-12. doi: 10.3389/fpsyg.2014.00570
    https://doi.org/10.3389/fpsyg.2014.00570...
    ).

    Em suma, os artigos selecionados na pesquisa apresentam delineamentos experimentais e evidências empíricas relacionadas a tarefas experimentais que verificam a influência da tonalidade afetiva e/ou valorativa de enunciados de problemas e de premissas nos processos de raciocínios dedutivo, o que corrobora a importância de se analisar os estudos da temática de forma a melhor evidenciar o panorama atual do que vem sendo investigado na área.

    Discussão

    Ainda que os estudos analisados tenham apresentado objetivos distintos, a influência da emoção e, em especial, da tonalidade afetiva dos conteúdos dos enunciados de problemas e premissas sobre os processos de raciocínio dedutivo, condicional e lógico, foi um ponto central em todas as pesquisas. O campo do raciocínio e da emoção tem aumentado drasticamente ao longo dos anos, passando a incluir uma ampla variedade de trabalhos empíricos e teóricos (Blanchette et al., 2018Blanchette, I., Caparos, S., & Trémolière, B. (2018). Emotion and reasoning. In L. J. Ball & V. A. Thompson (Eds.), The Routledge international handbook of thinking and reasoning (pp. 57-70). Routledge/Taylor & Francis Group. ). Apesar desse aumento de interesse pela temática, ainda há uma grande lacuna na literatura no contexto latino-americano e, mais especificamente, brasileiro, dado que dos 21 trabalhos examinados, apenas um foi realizado com uma população brasileira (Cagnin & Leme, 2018Cagnin, S., & Leme, M. I. S. (2018). The effects of the evaluative content of premises on the deductive reasoning of psychology students. Temas em Psicologia, 26(2), 819-834. doi: 10.9788/TP2018.2-11Pt
    https://doi.org/10.9788/TP2018.2-11Pt...
    ). O raciocínio dedutivo parece ser uma competência universal; contudo, como as diferentes culturas apresentam crenças diversificadas, as premissas e inferências também podem se mostrar discrepantes (Yama, 2018Yama, H. (2018). Thinking and Reasoning across Cultures. In: L. J. Ball & V. A. Thompson (Eds.), The Routledge International handbook of thinking and reasoning (pp. 624-638). Oxon, UK & New York: Routledge. ).

    Na maior parte dos estudos avaliados, as tarefas com conteúdos emocionais afetivos de caráter negativo apresentaram maiores taxas de erro dos participantes do que os itens neutros. A literatura contemporânea parece ser unânime em apontar que a lógica é prejudicada por estados, traços e conteúdos emocionais (Blanchette & Richards, 2010Blanchette, I., & Richards, A. (2010). The influence of affect on higher level cognition: A review of research on interpretation, judgement, decision making and reasoning. Cognition & Emotion, 24(4), 561-595. doi: 10.1080/02699930903132496
    https://doi.org/10.1080/0269993090313249...
    ). Nesse cenário, há evidências da influência das crenças e expectativas dos indivíduos no raciocínio dedutivo humano, posto que o desempenho costuma ser negativamente afetado pela ocorrência de conflitos entre as crenças, as expectativas e a lógica (Bago & De Neys, 2017Bago, B., & De Neys, W. (2017). Fast logic?: Examining the time course assumption of dual process theory. Cognition, 158, 90-109. doi: 10.1016/j.cognition.2016.10.014
    https://doi.org/10.1016/j.cognition.2016...
    ).

    Nesse sentido, o impacto dos conteúdos emocionais sobre o raciocínio tem sido frequentemente explicado pelo modelo de processamento dual (Stanovich & West, 2000 Stanovich, K. E. & West, R. F. (2000). Individual differences in reasoning: implications for the rationality debate. Behavioral and Brain Sciences, 23, 645-726. Recuperado de http://pages.ucsd.edu/~mckenzie/StanovichBBS.pdf
    http://pages.ucsd.edu/~mckenzie/Stanovic...
    ). Segundo esse modelo, há o contraste entre o processamento rápido, automático, heurístico e intuitivo representado pelo “Sistema 1”, que ocorre comumente em situações cotidianas, com o processamento lento e a sobrecarga cognitiva na Memória de Trabalho, o qual frequentemente é iniciado em situações que demandam raciocínio hipotético-dedutivo e/ou raciocínio lógico, correspondente ao “Sistema 2”. Assim, a ideia da prevalência de processos heurísticos, implícitos, associados ao Sistema 1 (Littrell, Fugelsang, & Risko, 2019Littrell, S., Fugelsang, J., & Risko, E. F. (2019). Overconfidently underthinking: narcissism negatively predicts cognitive reflection. Thinking & Reasoning, 26(3) 1-29. doi: 10.1080/13546783.2019.1633404
    https://doi.org/10.1080/13546783.2019.16...
    ), parece ser privilegiada quando há conflito entre a lógica e a emoção (Cagnin & Leme, 2018Cagnin, S., & Leme, M. I. S. (2018). The effects of the evaluative content of premises on the deductive reasoning of psychology students. Temas em Psicologia, 26(2), 819-834. doi: 10.9788/TP2018.2-11Pt
    https://doi.org/10.9788/TP2018.2-11Pt...
    ). Os processos automáticos de pensamentos poderiam levar, então, a uma maior frequência de erros em tarefas de raciocínio (De Neys & Pennycook, 2019De Neys, W., & Pennycook, G. (2019). Logic, Fast and Slow: Advances in Dual-Process Theorizing. Current Directions in Psychological Science, 28(5), 1-7. doi: 10.1177/0963721419855658
    https://doi.org/10.1177/0963721419855658...
    ), especialmente naquelas que envolvessem conteúdos emocionais.

    Tanto as tarefas de silogismos quanto as declarações condicionais podem ser negativamente impactadas por conteúdos emocionais ou estados afetivos induzidos (Blanchette et al., 2018Blanchette, I., Caparos, S., & Trémolière, B. (2018). Emotion and reasoning. In L. J. Ball & V. A. Thompson (Eds.), The Routledge international handbook of thinking and reasoning (pp. 57-70). Routledge/Taylor & Francis Group. ). Similarmente, a emoção se apresenta como um fator de influência negativa sobre diversas competências cognitivas (e.g. Blanchette & Nougarou, 2017Blanchette, I., & Nougarou, F. (2017). Incidental emotions have a greater impact on the logicality of less proficient reasoners. Thinking & Reasoning, 23(1), 98-113. doi: 10.1080/13546783.2016.1228546
    https://doi.org/10.1080/13546783.2016.12...
    ; Plass & Kalyuga, 2019Plass, J. L., & Kalyuga, S. (2019). Four Ways of Considering Emotion in Cognitive Load Theory. Educational Psychology Review, 31, 339-359. doi: 10.1007/s10648-019-09473-5
    https://doi.org/10.1007/s10648-019-09473...
    ), dado que recursos cognitivos adicionais são requeridos para processar as informações emocionais e, assim, há uma aparente sobrecarga da memória de trabalho (Trémolière et al., 2018Trémolière, B., Maheux-Caron, V., Lepage, J. F., & Blanchette, I. (2018). tDCS Stimulation of the dlPFC Selectively Moderates the Detrimental Impact of Emotion on Analytical Reasoning. Frontiers in Psychology, 9, 568. doi: 10.3389/fpsyg.2018.00568
    https://doi.org/10.3389/fpsyg.2018.00568...
    ). A teoria de carga emocional ( cognitive load theory ) aponta que a emoção pode levar à alocação de recursos cognitivos para o processamento de tarefas adicionais ou para o processamento de informações irrelevantes para o desempenho na tarefa (Plass & Kalyuga, 2019Plass, J. L., & Kalyuga, S. (2019). Four Ways of Considering Emotion in Cognitive Load Theory. Educational Psychology Review, 31, 339-359. doi: 10.1007/s10648-019-09473-5
    https://doi.org/10.1007/s10648-019-09473...
    ). Nesse contexto, ambas as emoções de valência negativa e positiva poderiam resultar em uma maior carga cognitiva ao gerar processamentos de informações irrelevantes (Dolcos, Katsumi, Denkova, & Dolcos, 2017Dolcos, F., Katsumi, Y., Denkova, E., & Dolcos, S. (2017) Factors Influencing Opposing Effects of Emotion on Cognition: A Review of Evidence from Research on Perception and Memory. In. I. Opris, & M. Casanova (Eds.), The Physics of the Mind and Brain Disorders (vol. 11, pp. 297-341). Springer, Cham. ).

    Os conteúdos emocionais apreciativos e/ou positivos sobre o raciocínio, não parecem favorecer o desempenho lógico dos participantes. Pode-se supor, então, que os conteúdos positivos não mobilizam tanto o automatismo do raciocínio quanto os itens depreciativos, dado que quatro experimentos não encontraram diferenças significativas entre aqueles e as tarefas neutras (Blanchette, 2006Blanchette, I. (2006). The effect of emotion on interpretation and logic in a conditional reasoning task. Memory & Cognition, 34, 1112-1125. doi: 10.3758/BF03193257
    https://doi.org/10.3758/BF03193257...
    ; Blanchette & Richards, 2004Blanchette, I., & Richards, A. (2004). Reasoning About Emotional and Neutral Materials: Is Logic Affected by Emotion? Psychological Science, 15(11), 745-752. doi: 10.1111/j.0956-7976.2004.00751.x
    https://doi.org/10.1111/j.0956-7976.2004...
    ; Cagnin & Leme, 2018Cagnin, S., & Leme, M. I. S. (2018). The effects of the evaluative content of premises on the deductive reasoning of psychology students. Temas em Psicologia, 26(2), 819-834. doi: 10.9788/TP2018.2-11Pt
    https://doi.org/10.9788/TP2018.2-11Pt...
    ; Jung et al., 2014Jung, N., Wranke, C., Hamburger, K., & Knauff, M. (2014). How emotions affect logical reasoning: Evidence from experiments with mood-manipulated participants, spider phobics, and people with exam anxiety. Frontiers in Psychology, 5, 1-12. doi: 10.3389/fpsyg.2014.00570
    https://doi.org/10.3389/fpsyg.2014.00570...
    , estudo 1). Contudo, há argumentos na literatura que indicam o afeto positivo como prejudicial para o raciocínio humano, como ao influenciar negativamente o desempenho em tarefas envolvendo silogismos (Gosselin & Blanchette, 2018Gosselin, J., & Blanchette, I. (2018). L’influence des émotions intégrales positives sur le raisonnement déductif et inductif. Revue québécoise de psychologie, 39(2), 245-268. doi: 10.7202/1051230ar
    https://doi.org/10.7202/1051230ar...
    ), devido a potenciais reduções nos recursos relacionados à memória de trabalho (Blanchette, 2006Blanchette, I. (2006). The effect of emotion on interpretation and logic in a conditional reasoning task. Memory & Cognition, 34, 1112-1125. doi: 10.3758/BF03193257
    https://doi.org/10.3758/BF03193257...
    ; Blanchette & Richards, 2004Blanchette, I., & Richards, A. (2004). Reasoning About Emotional and Neutral Materials: Is Logic Affected by Emotion? Psychological Science, 15(11), 745-752. doi: 10.1111/j.0956-7976.2004.00751.x
    https://doi.org/10.1111/j.0956-7976.2004...
    ; Jung et al., 2014Jung, N., Wranke, C., Hamburger, K., & Knauff, M. (2014). How emotions affect logical reasoning: Evidence from experiments with mood-manipulated participants, spider phobics, and people with exam anxiety. Frontiers in Psychology, 5, 1-12. doi: 10.3389/fpsyg.2014.00570
    https://doi.org/10.3389/fpsyg.2014.00570...
    ). Ainda que seja possível constatar que os conteúdos positivos não aumentam as taxas de acerto nas tarefas lógicas, é necessário estender a literatura sobre a temática para verificar se esses conteúdos não influenciam ou prejudicam o raciocínio.

    Embora a emoção seja frequentemente associada a efeitos negativos no raciocínio humano, parte da literatura aponta que as emoções realmente importantes para a resolução de tarefas podem ter efeitos positivos sobre o raciocínio (Blanchette et al., 2007Blanchette, I., Richards, A., Melnyk, L., & Lavda, A. (2007). Reasoning about emotional contents following shocking terrorist attacks: a tale of three cities. Journal of experimental psychology. Applied, 13(1), 47-56. doi: 10.1037/1076-898X.13.1.47
    https://doi.org/10.1037/1076-898X.13.1.4...
    ). Estudos que examinam experiências de vida em contextos fora de laboratórios afirmam que os conteúdos emocionais não necessariamente resultam em deficiências no pensamento lógico (Blanchette & Campbell, 2012Blanchette, I., & Campbell, M. (2012). Reasoning about highly emotional topics: Syllogistic reasoning in a group of war veterans. Journal of Cognitive Psychology, 24(2), 157-164. doi: 10.1080/20445911.2011.603693
    https://doi.org/10.1080/20445911.2011.60...
    ). Tais pesquisas trabalham com a emoção integral, ou seja, afetos que estão intrinsecamente associados com os conteúdos semânticos das tarefas (Blanchette & Richards, 2010Blanchette, I., & Richards, A. (2010). The influence of affect on higher level cognition: A review of research on interpretation, judgement, decision making and reasoning. Cognition & Emotion, 24(4), 561-595. doi: 10.1080/02699930903132496
    https://doi.org/10.1080/0269993090313249...
    ).

    O efeito da exposição a um trauma sobre o desempenho em tarefas de raciocínio com conteúdos emocionais provavelmente funciona devido à relevância, dado que sujeitos vítimas de situações extremas parecem ter reações emocionais causadas pelos conteúdos emocionais e, assim, os aspectos de afeto e de semântica estariam intrinsecamente ligados (Blanchette et al., 2018Blanchette, I., Caparos, S., & Trémolière, B. (2018). Emotion and reasoning. In L. J. Ball & V. A. Thompson (Eds.), The Routledge international handbook of thinking and reasoning (pp. 57-70). Routledge/Taylor & Francis Group. ). Portanto, é possível que a emoção (de valência positiva ou negativa) tenha um impacto negativo sobre o raciocínio, com exceção das situações em que a emoção seja integral ou relevante para a tarefa em questão (Viau-Quesnel et al., 2019Viau-Quesnel, C., Savary, M., & Blanchette, I. (2019). Reasoning and concurrent timing: a study of the mechanisms underlying the effect of emotion on reasoning. Cognition & Emotion, 33(5), 1020-1030. doi: 10.1080/02699931.2018.1535427
    https://doi.org/10.1080/02699931.2018.15...
    ). Como alguns estudos não encontraram o desempenho potencializado pelas emoções relacionadas às experiências de vida (Eliades et al., 2012Eliades, M., Mansell, W., Stewart, A. J., & Blanchette, I. (2012). An investigation of belief-bias and logicality in reasoning with emotional contents. Thinking & Reasoning, 18(4), 461-479. doi: 10.1080/13546783.2012.713317
    https://doi.org/10.1080/13546783.2012.71...
    ; Jung et al., 2014Jung, N., Wranke, C., Hamburger, K., & Knauff, M. (2014). How emotions affect logical reasoning: Evidence from experiments with mood-manipulated participants, spider phobics, and people with exam anxiety. Frontiers in Psychology, 5, 1-12. doi: 10.3389/fpsyg.2014.00570
    https://doi.org/10.3389/fpsyg.2014.00570...
    ), é necessário que mais pesquisas sejam conduzidas sobre a emoção integral (Eliades et al., 2012Eliades, M., Mansell, W., Stewart, A. J., & Blanchette, I. (2012). An investigation of belief-bias and logicality in reasoning with emotional contents. Thinking & Reasoning, 18(4), 461-479. doi: 10.1080/13546783.2012.713317
    https://doi.org/10.1080/13546783.2012.71...
    ). Esses experimentos podem ativar uma resposta cognitiva que faz uso dos recursos da memória de trabalho necessários para resolver a tarefa (Jung et al., 2014Jung, N., Wranke, C., Hamburger, K., & Knauff, M. (2014). How emotions affect logical reasoning: Evidence from experiments with mood-manipulated participants, spider phobics, and people with exam anxiety. Frontiers in Psychology, 5, 1-12. doi: 10.3389/fpsyg.2014.00570
    https://doi.org/10.3389/fpsyg.2014.00570...
    ).

    Os resultados dos estudos selecionados apontam emoções negativas costumam ser prejudiciais para o desempenho em tarefas envolvendo o raciocínio dedutivo, em consonância com a ideia de que tanto o conflito entre o raciocínio dedutivo e a emoção quanto a sobrecarga da memória de trabalho estariam associados ao fato de o processamento da informação ser realizado majoritariamente pelo Sistema 1. Apesar disso, quando o conteúdo emocional é relevante para a execução da tarefa, implica-se que a emoção e o raciocínio não estão em discordância e não competem por recursos, mas facilitam o processamento cognitivo da tarefa (Viau-Quesnel et al., 2019Viau-Quesnel, C., Savary, M., & Blanchette, I. (2019). Reasoning and concurrent timing: a study of the mechanisms underlying the effect of emotion on reasoning. Cognition & Emotion, 33(5), 1020-1030. doi: 10.1080/02699931.2018.1535427
    https://doi.org/10.1080/02699931.2018.15...
    ). Assim, as emoções podem afetar os recursos cognitivos disponíveis durante o raciocínio e mobilizar estratégias de raciocínio específicas, permitindo uma melhor interpretação de um estímulo (Blanchette, 2014Blanchette, I. (2014). Emotion and Reasoning. East Sussex, UK: Psychology Press. ).

    Conclusão

    Esta revisão sistemática aponta para a influência dos conteúdos afetivos depreciativos sobre o raciocínio dedutivo humano. Assim, a emoção parece ter um impacto negativo sobre o raciocínio, excetuando as tarefas que envolvam conteúdos relativos às experiências pessoais de grande ativação emocional. Ainda que o efeito dos enunciados emocionais negativos seja unânime entre os estudos selecionados, não há tal conformidade acerca dos trabalhos sobre os conteúdos positivos, que ainda são escassos na literatura. A principal contribuição desta revisão sistemática refere-se à observação de que conteúdos emocionais afetam processos cognitivos (em especial os de raciocínio), levando a melhor ou pior desempenho lógico em diferentes contextos, em consonância com as perspectivas teóricas que versam sobre a associação entre a memória de trabalho e dos Sistemas 1 e 2 e o raciocínio dedutivo.

    A principal limitação diz respeito à seleção de artigos por idioma. Futuros estudos de revisão sistemática podem incluir outras formas de raciocínio, como os trabalhos que envolvem a influência de conteúdos emocionais sobre o raciocínio moral.

    Sugere-se que futuros estudos empíricos sejam realizados no contexto latino-americano. Embora as diferenças culturais possam levar a novos achados sobre o impacto dos conteúdos emocionais sobre o raciocínio dedutivo humano, apenas uma pesquisa foi realizada utilizando amostra de participantes brasileiros. Há, então, uma grande lacuna sobre esse tema na literatura brasileira. Espera-se, portanto, que este artigo lance luz sobre a temática descrita.

    Considera-se que os resultados encontrados sejam relevantes para os contextos escolar e acadêmico, na medida em que os conteúdos emocionais e/ou valorativos de enunciados de problemas apresentados nas escolas e universidades poderiam afetar o desempenho dos alunos em tarefas envolvendo deduções lógicas em geral. Visto que conteúdos emocionais presentes nos enunciados de histórias e problemas afetam o aprendizado, de forma a incrementar ou diminuir o desempenho em tarefas escolares (Plass & Kalyuga, 2019Plass, J. L., & Kalyuga, S. (2019). Four Ways of Considering Emotion in Cognitive Load Theory. Educational Psychology Review, 31, 339-359. doi: 10.1007/s10648-019-09473-5
    https://doi.org/10.1007/s10648-019-09473...
    ), é possível conjecturar que tarefas que demandem raciocínio dedutivo no contexto educacional também seriam influenciadas por conteúdos emocionais.

    Além disso, esses resultados podem ser pertinentes para contextos clínicos, visto que diversos modelos de terapia baseada em evidências consideram a importância do processamento de conteúdos emocionalmente carregados integrado com a racionalidade (Greenberg & Goldman, 2019Greenberg, L. S., & Goldman, R. N. (Eds.). (2019). Clinical handbook of emotion-focused therapy. Washington, DC: American Psychological Association. ). Por exemplo, compreender melhor como a carga emocional de um texto interage com os mecanismos de dedução e indução sobre um trauma pode fomentar melhores intervenções em terapias de exposição que usam a escrita (Dawson et al., 2021Dawson, R. L., Calear, A. L., McCallum, S. M., McKenna, S., Nixon, R. D., & O’Kearney, R. (2021). Exposure-based writing therapies for subthreshold and clinical posttraumatic stress disorder: A systematic review and meta-analysis. Journal of Traumatic Stress, 34(1), 81-91. doi: 10.1002/jts.22596
    https://doi.org/10.1002/jts.22596...
    ). Outro exemplo é a vivência de emoções negativas com o terapeuta durante o processo clínico, que possibilita uma experiência empática para o paciente, de modo que essas emoções são profundamente integradas aos mecanismos racionais e o paciente pode construir narrativas diferentes daquelas que causavam transtornos emocionais (Greenberg & Goldman, 2019Greenberg, L. S., & Goldman, R. N. (Eds.). (2019). Clinical handbook of emotion-focused therapy. Washington, DC: American Psychological Association. ).

    Conclui-se que os conteúdos emocionais presentes em premissas de silogismos e em problemas que demandam raciocínio lógico costumam, em geral, recrutar um processamento da informação mais implícito e automático, sem uma análise crítica e reflexiva das condições da tarefa, o que pode suscitar em uma maior frequência de erros lógicos nas respostas dos solucionadores dos problemas. Nessa perspectiva, estudos que abordem diferentes situações-problema que envolvem raciocínio dedutivo, incluindo as cotidianas, que, normalmente, são mais sensíveis ao impacto de vieses emocionais e menos sujeitas a uma avaliação crítica, podem gerar maior validade ecológica às pesquisas desenvolvidas na área, bem como a elucidação de questões inconclusivas dos estudos analisados.

    Referências

    • Alba-Juez, L. (2021). Fast and slow thinking as secret agents behind speakers’ (un)conscious pragmatic decisions and judgements. Journal of Pragmatics, 179, 70-76. doi: 10.1016/j.pragma.2021.04.016
      » https://doi.org/10.1016/j.pragma.2021.04.016
    • Aven, T. (2018). How the integration of System 1-System 2 thinking and recent risk perspectives can improve risk assessment and management. Reliability Engineering & System Safety, 180, 237-244. doi: 10.1016/j.ress.2018.07.031
      » https://doi.org/10.1016/j.ress.2018.07.031
    • Bago, B., & De Neys, W. (2017). Fast logic?: Examining the time course assumption of dual process theory. Cognition, 158, 90-109. doi: 10.1016/j.cognition.2016.10.014
      » https://doi.org/10.1016/j.cognition.2016.10.014
    • Blanchette, I. (2006). The effect of emotion on interpretation and logic in a conditional reasoning task. Memory & Cognition, 34, 1112-1125. doi: 10.3758/BF03193257
      » https://doi.org/10.3758/BF03193257
    • Blanchette, I. (2014). Emotion and Reasoning. East Sussex, UK: Psychology Press.
    • Blanchette, I., & Richards, A. (2004). Reasoning About Emotional and Neutral Materials: Is Logic Affected by Emotion? Psychological Science, 15(11), 745-752. doi: 10.1111/j.0956-7976.2004.00751.x
      » https://doi.org/10.1111/j.0956-7976.2004.00751.x
    • Blanchette, I., & Richards, A. (2010). The influence of affect on higher level cognition: A review of research on interpretation, judgement, decision making and reasoning. Cognition & Emotion, 24(4), 561-595. doi: 10.1080/02699930903132496
      » https://doi.org/10.1080/02699930903132496
    • Blanchette, I., & Leese, J. (2011). The effect of negative emotion on deductive reasoning: Examining the contribution of physiological arousal. Experimental Psychology, 58(3), 235-246. doi: 10.1027/1618-3169/a000090
      » https://doi.org/10.1027/1618-3169/a000090
    • Blanchette, I., & Campbell, M. (2012). Reasoning about highly emotional topics: Syllogistic reasoning in a group of war veterans. Journal of Cognitive Psychology, 24(2), 157-164. doi: 10.1080/20445911.2011.603693
      » https://doi.org/10.1080/20445911.2011.603693
    • Blanchette, I., & El-Deredy, W. (2014). An ERP investigation of conditional reasoning with emotional and neutral contents. Brain and Cognition, 91, 45-53. doi: 10.1016/j.bandc.2014.08.001
      » https://doi.org/10.1016/j.bandc.2014.08.001
    • Blanchette, I., & Nougarou, F. (2017). Incidental emotions have a greater impact on the logicality of less proficient reasoners. Thinking & Reasoning, 23(1), 98-113. doi: 10.1080/13546783.2016.1228546
      » https://doi.org/10.1080/13546783.2016.1228546
    • Blanchette, I., Gavigan, S., & Johnston, K. (2014a). Does emotion help or hinder reasoning? The moderating role of relevance. Journal of Experimental Psychology: General, 143(3), 1049-1064. doi: 10.1037/a0034996
      » https://doi.org/10.1037/a0034996
    • Blanchette, I., Lindsay, P., & Davies, S. (2014b). Intense emotional experiences and logicality: An exploration of deductive reasoning in survivors of sexual abuse. The Psychological Record, 64(4), 859-867. doi: 10.1007/s40732-014-0073-4
      » https://doi.org/10.1007/s40732-014-0073-4
    • Blanchette, I., Caparos, S., & Trémolière, B. (2018). Emotion and reasoning. In L. J. Ball & V. A. Thompson (Eds.), The Routledge international handbook of thinking and reasoning (pp. 57-70). Routledge/Taylor & Francis Group.
    • Blanchette, I., Richards, A., Melnyk, L., & Lavda, A. (2007). Reasoning about emotional contents following shocking terrorist attacks: a tale of three cities. Journal of experimental psychology. Applied, 13(1), 47-56. doi: 10.1037/1076-898X.13.1.47
      » https://doi.org/10.1037/1076-898X.13.1.47
    • Brunetti, M., Perrucci, M. G., Di Naccio, M. R., Ferretti, A., Del Gratta, C., Casadio, C., & Romani, G. L. (2014). Framing deductive reasoning with emotional content: An fMRI study. Brain and Cognition, 87, 153-160. doi: 10.1016/j.bandc.2014.03.017
      » https://doi.org/10.1016/j.bandc.2014.03.017
    • Cagnin, S., & Leme, M. I. S. (2018). The effects of the evaluative content of premises on the deductive reasoning of psychology students. Temas em Psicologia, 26(2), 819-834. doi: 10.9788/TP2018.2-11Pt
      » https://doi.org/10.9788/TP2018.2-11Pt
    • Caparos, S. & Blanchette, I. (2016) Independent effects of relevance and arousal on deductive reasoning. Cognition and Emotion, 31(5), 1012-1022. doi: 10.1080/02699931.2016.1179173
      » https://doi.org/10.1080/02699931.2016.1179173
    • Carreira, S., Amado, N., & Jacinto, H. (2020) Venues for Analytical Reasoning Problems: How Children Produce Deductive Reasoning. Education Science, 10(6), 169-192. doi: 10.3390/educsci10060169
      » https://doi.org/10.3390/educsci10060169
    • Dawson, R. L., Calear, A. L., McCallum, S. M., McKenna, S., Nixon, R. D., & O’Kearney, R. (2021). Exposure-based writing therapies for subthreshold and clinical posttraumatic stress disorder: A systematic review and meta-analysis. Journal of Traumatic Stress, 34(1), 81-91. doi: 10.1002/jts.22596
      » https://doi.org/10.1002/jts.22596
    • De Neys, W. (2017). Bias, conflict, and fast logic: Towards a hybrid dual process future?. In W. De Neys (Ed.), Dual Process Theory 2.0 (pp. 47-65). Oxon, UK: Routledge.
    • De Neys, W., & Pennycook, G. (2019). Logic, Fast and Slow: Advances in Dual-Process Theorizing. Current Directions in Psychological Science, 28(5), 1-7. doi: 10.1177/0963721419855658
      » https://doi.org/10.1177/0963721419855658
    • Dolcos, F., Katsumi, Y., Denkova, E., & Dolcos, S. (2017) Factors Influencing Opposing Effects of Emotion on Cognition: A Review of Evidence from Research on Perception and Memory. In. I. Opris, & M. Casanova (Eds.), The Physics of the Mind and Brain Disorders (vol. 11, pp. 297-341). Springer, Cham.
    • Eimontaite, I., Goel, V., Raymont, V., Krueger, F., Schindler, I., & Grafman, J. (2018). Differential roles of polar orbital prefrontal cortex and parietal lobes in logical reasoning with neutral and negative emotional content. Neuropsychologia, 119, 320-329. doi: 10.1016/j.neuropsychologia.2018.05.014
      » https://doi.org/10.1016/j.neuropsychologia.2018.05.014
    • Eliades, M., Mansell, W., Stewart, A. J., & Blanchette, I. (2012). An investigation of belief-bias and logicality in reasoning with emotional contents. Thinking & Reasoning, 18(4), 461-479. doi: 10.1080/13546783.2012.713317
      » https://doi.org/10.1080/13546783.2012.713317
    • Forgas, J. P., & Baumeister, R. (Eds.). (2019). The Social Psychology of Gullibility: Conspiracy Theories, Fake News and Irrational Beliefs. Oxon, UK & New York: Routledge.
    • Goel, V., & Vartanian, O. (2011). Negative emotions can attenuate the influence of beliefs on logical reasoning. Cognition & Emotion, 25(1), 121-131. doi: 10.1080/02699931003593942
      » https://doi.org/10.1080/02699931003593942
    • Goel, V., Lam, E., Smith, K. W., Goel, A., Raymont, V., Krueger, F., & Grafman, J. (2017). Lesions to polar/orbital prefrontal cortex selectively impair reasoning about emotional material. Neuropsychologia, 99, 236-245. doi: 10.1016/j.neuropsychologia.2017.03.006
      » https://doi.org/10.1016/j.neuropsychologia.2017.03.006
    • Gosselin, J., & Blanchette, I. (2018). L’influence des émotions intégrales positives sur le raisonnement déductif et inductif. Revue québécoise de psychologie, 39(2), 245-268. doi: 10.7202/1051230ar
      » https://doi.org/10.7202/1051230ar
    • Greenberg, L. S., & Goldman, R. N. (Eds.). (2019). Clinical handbook of emotion-focused therapy. Washington, DC: American Psychological Association.
    • Greenspan, P. (2019). The Evaluative Content of Emotion. Royal Institute of Philosophy Supplement, 85, 75-86. doi: 10.1017/s1358246118000693
      » https://doi.org/10.1017/s1358246118000693
    • Harvey, A. (2018). Effects of emotion, emotional tolerance, and emotional processing on reasoning (Dissertação de Mestrado, University of Colorado, Colorado Springs, U.S). Recuperado de https://mountainscholar.org/bitstream/handle/10976/167052/Harvey_uccs_0892N_10416.pdf?sequence=1
      » https://mountainscholar.org/bitstream/handle/10976/167052/Harvey_uccs_0892N_10416.pdf?sequence=1
    • Harvey, A. M., & Kisley, M. A. (2023). Effects of emotion, emotional tolerance, and emotional processing on reasoning. Cognition & Emotion, 37(6), 1090-1104. doi: 10.1080/02699931.2023.2228539
      » https://doi.org/10.1080/02699931.2023.2228539
    • Hinojosa, J. A., Moreno, E. M., & Ferré, P. (2019). Affective neurolinguistics: towards a framework for reconciling language and emotion. Language, Cognition and Neuroscience, 35(7), 1-27. doi: 10.1080/23273798.2019.1620957
      » https://doi.org/10.1080/23273798.2019.1620957
    • Jung, N., Wranke, C., Hamburger, K., & Knauff, M. (2014). How emotions affect logical reasoning: Evidence from experiments with mood-manipulated participants, spider phobics, and people with exam anxiety. Frontiers in Psychology, 5, 1-12. doi: 10.3389/fpsyg.2014.00570
      » https://doi.org/10.3389/fpsyg.2014.00570
    • Kahneman, D. (2012). Rápido e devagar: Duas formas de pensar. Rio de Janeiro, RJ: Objetiva.
    • Lefford, A. (1946). The influence of emotional subject matter on logical reasoning. Journal of General Psychology, 34, 127-151. doi: 10.1080/00221309.1946.10544530
      » https://doi.org/10.1080/00221309.1946.10544530
    • Linares-Espinós, E., Hernández, V., Domínguez-Escrig, J. L., Fernández-Pello, S., Hevia, V., Mayor, J., . . . Ribal, M. J. (2018). Methodology of a systematic review. Actas Urológicas Españolas (English Edition), 42(8), 499-506. doi: 10.1016/j.acuroe.2018.07.002
      » https://doi.org/10.1016/j.acuroe.2018.07.002
    • Littrell, S., Fugelsang, J., & Risko, E. F. (2019). Overconfidently underthinking: narcissism negatively predicts cognitive reflection. Thinking & Reasoning, 26(3) 1-29. doi: 10.1080/13546783.2019.1633404
      » https://doi.org/10.1080/13546783.2019.1633404
    • Marling, M. R. (2015). Left Hemisphere Lesions Differentially Impact Conditional Reasoning with Familiar and Emotional Content (Dissertação de Mestrado, York University, Toronto, Ontario, Canadá). Recuperado de https://yorkspace.library.yorku.ca/xmlui/bitstream/handle/10315/30018/Marling_Miriam_RR_2015_Masters.pdf?sequence=2
      » https://yorkspace.library.yorku.ca/xmlui/bitstream/handle/10315/30018/Marling_Miriam_RR_2015_Masters.pdf?sequence=2
    • Martel, C., Pennycook, G., & Rand, D. G. (2020). Reliance on emotion promotes belief in fake news. Cognitive Research: Principles and Implications, 5(1), 47. doi: 10.1186/s41235-020-00252-3
      » https://doi.org/10.1186/s41235-020-00252-3
    • Morsanyi, K., McCormack, T., & O’Mahony, E. (2017). The link between deductive reasoning and mathematics. Thinking & Reasoning, 24(2), 234-257. doi: 10.1080/13546783.2017.1384760
      » https://doi.org/10.1080/13546783.2017.1384760
    • Nolen-Hoeksema, S., & Watkins, E. R. (2011). A heuristic for developing transdiagnostic models of psychopathology: Explaining multifinality and divergent trajectories. Perspectives on Psychological Science, 6(6), 589-609. doi: 10.1177/1745691611419672
      » https://doi.org/10.1177/1745691611419672
    • Oaksford, M., & Chater, N. (2019). New Paradigms in the Psychology of Reasoning. Annual Review of Psychology, 71(1), 305-330. doi: 10.1146/annurev-psych-010419-051132
      » https://doi.org/10.1146/annurev-psych-010419-051132
    • Plass, J. L., & Kalyuga, S. (2019). Four Ways of Considering Emotion in Cognitive Load Theory. Educational Psychology Review, 31, 339-359. doi: 10.1007/s10648-019-09473-5
      » https://doi.org/10.1007/s10648-019-09473-5
    • Santos, S. L., & Godoy, E. (2021). Arquitetura do processamento cognitivo: efeito racional e efeito emocional. Linguagem em (Dis)curso, 21(3), 435-454. doi: 10.1590/1982-4017-210309-11320
      » https://doi.org/10.1590/1982-4017-210309-11320
    • Stanovich, K. E. & West, R. F. (2000). Individual differences in reasoning: implications for the rationality debate. Behavioral and Brain Sciences, 23, 645-726. Recuperado de http://pages.ucsd.edu/~mckenzie/StanovichBBS.pdf
      » http://pages.ucsd.edu/~mckenzie/StanovichBBS.pdf
    • Stollstorff, M. (2010). Modulation of reasoning bias and brain activation by serotonin transporter genotype and emotional content (Tese de Doutorado, Georgetown University, Washington, DC, USA). Recuperado de https://repository.library.georgetown.edu/bitstream/handle/10822/553227/stollstorffMelanie.pdf?isAllowed=y&sequence=1
      » https://repository.library.georgetown.edu/bitstream/handle/10822/553227/stollstorffMelanie.pdf?isAllowed=y&sequence=1
    • Tay, S. W., Ryan, P., & Ryan, C. A. (2016). Systems 1 and 2 thinking processes and cognitive reflection testing in medical students. Canadian Medical Education Journal, 7(2), e97-e103. Recuperado de https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5344059/
      » https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5344059/
    • Trémolière, B., Maheux-Caron, V., Lepage, J. F., & Blanchette, I. (2018). tDCS Stimulation of the dlPFC Selectively Moderates the Detrimental Impact of Emotion on Analytical Reasoning. Frontiers in Psychology, 9, 568. doi: 10.3389/fpsyg.2018.00568
      » https://doi.org/10.3389/fpsyg.2018.00568
    • Trutescu, G., & Raijmakers, M. E. J. (2019). Logical reasoning in a deductive version of the Mastermind game (Dissertação de Mestrado, Leiden University, Holanda). https://doi.org/10.31237/osf.io/hzqx3
      » https://doi.org/10.31237/osf.io/hzqx3
    • Viau-Quesnel, C., Savary, M., & Blanchette, I. (2019). Reasoning and concurrent timing: a study of the mechanisms underlying the effect of emotion on reasoning. Cognition & Emotion, 33(5), 1020-1030. doi: 10.1080/02699931.2018.1535427
      » https://doi.org/10.1080/02699931.2018.1535427
    • Wharton, T., Bonard, C., Dukes, D., Sander, D., & Oswald, S. (2021). Relevance and emotion. Journal of Pragmatics, 181, 259-269. doi: 10.1016/j.pragma.2021.06.001
      » https://doi.org/10.1016/j.pragma.2021.06.001
    • Wilson, D., & Sperber, D. (2005). Teoria da Relevânica. Linguagem em (Dis)curso, 5, 221-268. Recuperado de https://portaldeperiodicos.animaeducacao.com.br/index.php/Linguagem_Discurso/article/view/287/301
      » https://portaldeperiodicos.animaeducacao.com.br/index.php/Linguagem_Discurso/article/view/287/301
    • Yama, H. (2018). Thinking and Reasoning across Cultures. In: L. J. Ball & V. A. Thompson (Eds.), The Routledge International handbook of thinking and reasoning (pp. 624-638). Oxon, UK & New York: Routledge.

    Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Jun 2024
    • Data do Fascículo
      2024

    Histórico

    • Recebido
      18 Fev 2024
    • Aceito
      02 Mar 2024
    Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Av. Prof. Mello Moraes, 1721 - Bloco A, sala 202, Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, 05508-900 São Paulo SP - Brazil - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: revpsico@usp.br