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Redescobrindo um autor (quase) esquecido e sua obra

Mere, Gleice; Snethlage, Rotger M.; Snethlage, Alhard-Mauritz. A expedição do Guaporé (1933-1935). I. Cadernos de campo. Belém: Museu Paraense Emilio Goeldi, 2021. 776
Mere, Gleice; Snethlage, Rotger M.; Snethlage, Alhard-Mauritz. A expedição do Guaporé (1933-1935). Publicações e acervo. II. Belém: Museu Paraense Emilio Goeldi, 2021. 855

Há livros que chamam a atenção à primeira vista, seja pelo título, seja pelo layout da capa. Isso também se aplica à publicação ora resenhada, porém devem ser acrescentados o tamanho (21,0 x 30,5 cm), o volume (1631 páginas!) e o peso da obra (4,8 kg). É senso comum que as aparências podem enganar e que o conteúdo de uma obra volumosa pode ser uma grande decepção. Exemplos não faltam. Mas posso antecipar que se trata de uma obra excepcional de suma importância para a história tanto da etnologia indígena quanto da antropologia praticada no Brasil na primeira metade do século XX, sobretudo por etnólogos alemães.

Nas duas décadas passadas, as relações entre as antropologias alemã e brasileira foram “redescobertas” por uma série de pesquisadores, seja por trabalhos sobre determinados autores como Nimuendajú (Schröder, 2022 SCHRÖDER, Peter. 2022. “(Re)aproximando-se e afastando-se da Alemanha: Curt Nimuendajú como parte de redes transnacionais de antropólogos”. Horizontes Antropológicos, 28(62): 211-255. https://doi.org/10.1590/S0104-71832022000100007
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), seja pela reavaliação de toda uma tradição acadêmica (Petschelies, 2023PETSCHELIES, Erik. 2023. Ascensão e declínio da etnologia alemã (1884-1950). Campinas, Editora da Unicamp. ). Neste contexto, o sobrenome Snethlage não soa estranho, mas é muito mais relembrado por causa da biografia extraordinária da ornitóloga e etnóloga em tempo parcial Emilie Snethlage (1868-1929), que chegou ao Brasil em 1905, trabalhou no Museu Goeldi em Belém, de 1905 a 1922, inclusive ocupando o cargo de diretora da instituição, de 1914 a 1922, depois do falecimento de Jacques Huber (1867-1914), e faleceu tragicamente durante sua última expedição no atual Estado de Rondônia. Emilie Snethlage, que representa uma personagem com feições heroicas na história das ciências no Brasil, exercendo um papel pioneiro para a presença feminina nos quadros acadêmicos do país, nunca foi esquecida completamente, mas os trabalhos sobre sua vida e obra ganharam novo fôlego nas duas décadas passadas, sobretudo devido às pesquisas de Miriam Junghans, da Fiocruz, e Nelson Sanjad, do MPEG.

O nome do etnólogo e sobrinho de Emilie, Emil Heinrich Snethlage (1897-1939), no entanto, ficou quase esquecido nas narrativas sobre a antropologia praticada no Brasil na primeira metade do século XX. A biografia de EHS (o acrônimo frequentemente usado para abreviar e facilitar a pronúncia de seu nome) também foi tema de uma série de trabalhos nas duas décadas passadas, mas não ganhou o destaque merecido, o que mudou de maneira contundente com a obra ora resenhada.

EHS nasceu em Bremerhaven, cidade portuária no território da Cidade Hanseática de Bremen, numa família de tradições luteranas que valorizou com firmeza os estudos acadêmicos, o que, inclusive, possibilitou à tia Emilie ser uma das primeiras mulheres a cursar o doutorado numa universidade alemã, com todas as restrições discriminatórias características da época. A vida da tia foi a principal inspiração para a formação acadêmica do jovem EHS. A enorme admiração por ela, aliás, se percebe com nitidez numa foto do acervo da família reproduzida no início do segundo volume da obra. No primeiro plano, vê-se sentada Emilie no gramado de um parque aprazível e, no fundo, EHS como criança, com um livro aberto nas mãos, olhando para a tia com fascínio expressivo.

Por sugestão da tia, EHS estudou botânica em Berlim e concluiu o doutorado em 1923, ano da catastrófica hiperinflação que devastou a vida econômica da jovem República de Weimar. Entre julho de 1923 e abril de 1926, ele realizou uma demorada expedição nos atuais estados do Ceará, Piauí, Maranhão e Tocantins, inicialmente acompanhado por Emilie por cerca de nove meses, depois sozinho e com apoio financeiro do Field Museum of Natural History (Chicago). Durante os trajetos da expedição, ele visitou diversas aldeias dos Canela, Guajajara e Apinayé, e suas observações etnográficas foram o tema de seu primeiro trabalho etnológico (Snethlage, 1931SNETHLAGE, Emil Heinrich. 1931. „Unter nordostbrasilianischen Indianern”. Zeitschrift für Ethnologie, 62: 111-205. ). Depois de voltar para a Alemanha em 1926, foi uma palestra sobre a expedição na Berliner Anthropologische Gesellschaft (Sociedade Berlinense de Antropologia), em abril de 1927, que motivou sua contratação pelo Museu Etnológico de Berlim, o que desencadeou uma mudança radical em sua carreira científica. EHS se adaptou, com facilidade surpreendente, tanto ao trabalho museológico quanto ao modo de pesquisa etnológica da época.

O Museu Etnológico de Berlim financiou, de 1933 a 1935, a expedição etnológica mais conhecida de EHS, que teve como objetivo principal um levantamento etnográfico dos povos indígenas na região do vale do Guaporé, pouco conhecida na literatura etnológica da época, a não ser por relatos que cobriam apenas uma parte de sua extensão, como aqueles de autoria de Cândido Rondon (1865-1958), Erland Nordenskiöld (1877-1932) ou Percy Fawcett (1867-1925). O pioneirismo do trabalho de campo de EHS foi um levantamento extenso da presença indígena na região. No total, ele visitou uma dúzia de povos indígenas, os quais em parte mantinham pouquíssimos contatos com o mundo não indígena. A coleção de mais de 2.400 objetos, organizada em condições de campo às vezes bastante difíceis, representa hoje em dia uma das mais importantes no conjunto das grandes coleções americanistas das terras baixas sul-americanas no Museu Etnológico de Berlim (König, 2003KÖNIG, Viola. 2003 (org.). Ethnologisches Museum Berlin. München, Berlim, Londres, Nova York: Prestel. ).

Depois de voltar para a Alemanha, em 1935, EHS ainda conseguiu publicar uma parte dos resultados da expedição em alemão, mas faleceu precocemente em 25 de novembro de 1939, em consequência de um acidente sofrido durante um exercício militar, não tratado devidamente por causa da incompetência de um médico vinculado ao partido nazista, deixando sua esposa Anneliese e seu filho único, Rotger. Ainda ao lado do leito de morte do marido, Anneliese prometeu preparar os manuscritos deixados para serem publicados.

A edição ora resenhada é sobre a expedição à região do Guaporé e seus resultados, mas também oferece um retrato detalhado da biografia de EHS e de sua linhagem familiar. Depois da morte repentina do marido, a viúva não só guardou e salvou seu espólio científico inteiro, com todas as anotações manuscritas e todos os negativos fotográficos, mas também começou a datilografar uma parte dos diários de campo. A história do espólio de EHS pode ser chamada aventureira e sua conservação chega a ser um milagre. Em julho de 1943, Anneliese Snethlage e seu filho conseguiram se mudar de Potsdam para o interior da Áustria, levando todo o material em 42 caixas, apesar dos obstáculos impostos pela Gestapo a uma família não vinculada ao partido único. A volta do espólio para a Alemanha, em 1947, também ficou caracterizada por numerosos obstáculos burocráticos, esta vez impostos pela administração dos Aliados. A Dr.ª Anneliese, formada em história da arte, 2 2 Numa nota de rodapé na p. 27, vol. I, lê-se que ela teria perdido seu emprego no Palácio Monbijou, um museu da dinastia dos Hohenzollern, em Berlim, em 1932, por causa de medidas do NSDAP. No entanto, os nazistas ainda não tinham chegado ao poder em 1932, mas a demissão de funcionárias públicas foi incentivada com base em decretos em vigor sob a Constituição de Weimar, no caso de estas serem casadas. As medidas foram justificadas com o argumento de contornar dificuldades orçamentárias ou de aliviar a situação no mercado de trabalho, para evitar o “Doppelverdienertum” (casais com duas fontes de renda). Evidentemente, usando o mesmo tipo de raciocínio, também teria sido possível demitir homens, o que, de fato, não aconteceu. Essas medidas, aliás, não foram apoiadas exclusivamente pela direita, mas também ganharam os votos da Socialdemocracia, do SPD, da época. continuou a transcrever os manuscritos do marido falecido, mas até sua morte em janeiro de 1981, em Aachen, não teve nenhum sucesso nas diversas tentativas de publicar o material.

A “redescoberta” do espólio de EHS começou em 1999, com os contatos iniciados pela linguista holandesa Hélène Brijnen com o filho Rotger, já que EHS tinha produzido valiosos materiais sobre as línguas indígenas da região do Guaporé. No entanto, a publicação dos diários não teria sido possível sem os esforços incansáveis de Gleice Mere em cooperação com os descendentes de EHS. Gleice Mere é formada em jornalismo pela UnB e em fotografia por duas universidades em Dortmund e Leipzig e viveu por treze anos na Alemanha. Devido a seu interesse pelos indígenas em Rondônia, ela topou com a biografia de EHS e, em 2006, decidiu entrar em contato com a família, a qual a recebeu generosamente. Surgiu desse encontro um projeto ambicioso de publicar os diários de campo de EHS em cooperação com o filho Rotger, doutor em direito, e com um dos netos, Alhard-Mauritz, teólogo. Quem ficar pensando agora que uma edição dos diários organizada por pessoas não formadas em antropologia tenha feições amadorísticas, no entanto, está bastante enganado. Ao contrário, trata-se de uma edição magistral e exemplar que pode causar inveja, num sentido positivo, a autores e organizadores de numerosas publicações sobre a história da antropologia no Brasil, sobretudo porque não se trata de alguma publicação preparada às pressas, mas de uma obra que é resultado de esforços contínuos durante uma década e meia para garantir um alto patamar de qualidade.

Os diários de EHS da expedição do Guaporé foram publicados pela primeira vez em 2016, em alemão (Snethlage et al ., 2016SNETHLAGE, Rotger M.; SNETHLAGE, Alhard-Mauritz; MERE, Gleice (Hrsg.). 2016. Emil Heinrich Snethlage: Die Guaporé-Expedition (1933-1935). Ein Forschungstagebuch. Köln, Weimar, Wien: Böhlau Verlag. ), numa edição com 1.211 páginas, por uma conceituada editora. Para uma edição brasileira crítica, a tradução dos diários, acompanhada por textos introdutórios e analíticos complementares, junto com uma série de notas explicativas, por si só, já teria sido uma tarefa enorme, mas os organizadores optaram por ampliar o escopo e os conteúdos. O primeiro volume da edição brasileira contém, além de explicações editoriais e textos introdutórios biográficos, a totalidade dos diários de campo, de 6 de maio de 1933 a 25 de novembro de 1934, com 1.034 páginas transcritas e parcialmente digitalizadas, acompanhadas por inúmeras fotografias e desenhos do autor. O segundo volume, por sua vez, contém, além de extensos índices remissivos muito detalhados, que ajudam a reencontrar devidamente todas as informações contidas nos diários de campo, uma série fascinante de textos, majoritariamente traduzidos pela primeira vez, que não fazem parte da edição alemã. Merecem destaque as correspondências institucionais, tanto com o Museu Etnológico de Berlim quanto com as instituições brasileiras, trechos de sessenta cartas para a esposa e onze cartas da correspondência com Curt Nimuendajú, de 1933 a 1939. A leitura da correspondência com Nimuendajú não só é prazerosa por causa das informações etnográficas, mas também pelos comentários irônicos e cáusticos do etnólogo alemão naturalizado brasileiro sobre a política “nativista” (expressão usada por Nimuendajú) do regime Vargas.

O volume II também contém cinco publicações de EHS do período de 1935 a 1939, acessíveis pela primeira vez em língua portuguesa. Chama a atenção, em particular, o belo artigo informativo sobre os “Instrumentos musicais dos indígenas da região do Guaporé”, com suas numerosas ilustrações, majoritariamente desenhadas à mão, originalmente publicado em 1939 (Snethlage, 1939SNETHLAGE, Emil Heinrich. 1939. „Musikinstrumente der Indianer des Guaporégebietes”. Baessler-Archiv, Beiheft X. Berlin, Dietrich Reimer / Andrews & Steiner. ). Esses artigos são complementados por outros trabalhos: fotografias de instrumentos musicais indígenas da coleção Snethlage no Museu Etnológico de Berlim; um artigo muito detalhado de Gleice Mere sobre as gravações sonoras em cilindros de cera, realizadas durante a expedição, guardadas no Arquivo Fonográfico de Berlim e parcialmente digitalizadas, de acordo com o estado de conservação; a tradução de um artigo do musicólogo Marius Schneider, originalmente publicado em espanhol, em 1952 (“Contribuição para a música indígena do Mato Grosso, Brasil”); quase setenta páginas com ilustrações (sobretudo desenhos, mas também fotografias) dos objetos da coleção Snethlage no Museu Etnológico de Berlim; e um artigo fascinante, também de autoria de Gleice Mere, em que as biografias de Emil Heinrich e Emilie são comparadas.

Um complemento singular à edição impressa fornecida em caixa para guardar os dois volumes é um pequeno encarte do tamanho de um cartão bancário contendo uma série de arquivos digitais: um filme sobre Culturas indígenas da região de fronteira Bolívia-Brasil , de 1933/34, diversas “Gravações sonoras dos povos indígenas do Guaporé”, originalmente produzidas em cilindros de cera em 1934 e digitalizados em 2009/10, e um booklet explicativo sobre as produções visuais e sonoras de EHS durante a expedição.

Diários de campo de antropólogos falecidos representam um gênero especial e fascinante da literatura antropológica desde o famoso Diary in the strict sense of the term de Malinowski ( 1967MALINOWSKI, Bronislaw. 1967. A diary in the strict sense of the term. Nova York, Harcourt, Brace & World. ), mas nem sempre vale a pena publicá-los. No caso dos diários de campo de EHS, porém, essa afirmação não pode ser feita, por causa de suas valiosíssimas informações sobre os povos indígenas da região e suas relações com os colonizadores. Nas palavras do linguista Hein van der Voort, em sua introdução: “Trata-se da única fonte essencial para essa região nesse período” (p. 19).

É importante frisar que as observações de EHS foram registradas alguns anos antes da famosa expedição de Lévi-Strauss à mesma região, eternizada em Tristes trópicos , mas em estilo bastante diferente. Tanto nos diários quanto nas publicações de EHS não se percebe nenhuma ambição literária, mas um estilo sóbrio focado em fornecer a maior quantidade possível de detalhes etnográficos sobre uma região caracterizada por uma grande diversidade social e linguística. Afinal de contas, a formação de Emil Heinrich tinha suas raízes num empirismo sólido que permeia toda a sua obra.

A época da expedição e o período depois da volta para a Alemanha, contudo, podem despertar suspeitas se EHS era nazista. Mere nega essa possibilidade categoricamente e, de fato, os diários indicam o contrário, embora ele não fosse nem socialista nem fizesse parte de grupos de resistência ao regime. Em alguns trechos percebe-se a vã esperança cultivada por numerosos conservadores da época de que o velho e doente ex-general Paul von Hindenburg (1847-1934), presidente da República (1925-1934), impusesse freios a Hitler e seus carrascos. Nimuendajú, por sua vez, foi muito enfático em suas críticas ao nazismo.

Em EHS percebe-se um traço de profissionalismo que remete ao exemplo da tia: uma dedicação incondicional ao trabalho científico, aceitando todos os tipos de privações imagináveis, para servir a um abstrato objetivo superior de produzir novos conhecimentos empiricamente consolidados. Curiosidade científica e abnegação pessoal, combinados com modéstia em suas aparições públicas, eram características tanto da tia quanto do neto, sendo provavelmente relacionados à educação familiar luterana.

Contudo, os traços somáticos e nacionais de EHS e sua orientação de gênero certamente podem constituir material oportuno para desqualificar sua vida e obra com base naquilo que Thomas Hauschild ( 2002 HAUSCHILD, Thomas. 2002. „Zur Kritik der postkolonialen Kritik: Spurensuche in Malinowskis ethnologischen Fotografien”. Fotogeschichte, 84: 13-32. https://www.fotogeschichte.info/en/back-issues/issues-76-100/84/ .
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) uma vez chamou uma “retórica da suspeita”, sobretudo quando a avaliação está pautada no antônimo colonialidade-decolonialidade, o qual ganhou, na antropologia atual, o status daquilo que Eric Wolf ( 1984 WOLF, Eric R. 1984. “Culture: panacea or problem?” American Antiquity, 49(2): 393-400. https://www.jstor.org/stable/280026 .
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) teria chamado uma panaceia. Evidentemente, Emil Heinrich era um representante da etnologia praticada na Alemanha antes do nazismo, e sua pesquisa de campo, como numerosas outras da época, não teria sido possível sem os contatos com os colonizadores da região. Tampouco se lê em suas anotações e publicações algo parecido com as críticas cáusticas de Nimuendajú aos “neobrasileiros” ou “cristãos”, como ele costumava dizer.

Mas, afinal de contas, quais podem ser os motivos, além de recuperar do esquecimento um espólio científico valioso por si mesmo, para uma publicação tão volumosa e dispendiosa? Alguma celebração anacrônica do passado germânico das pesquisas antropológicas no Brasil? Ou alguma denúncia abrangente de práticas coloniais nas expedições antropológicas estrangeiras na primeira metade do século XX? Certamente, para tais objetivos, menos palavras e menos papel teriam sido suficientes.

Os organizadores, de fato, não “restituíram” materiais textuais, visuais e sonoros apenas à academia brasileira, para que pesquisadores deste país tivessem acesso a eles, mas também aos indígenas de Rondônia, sobretudo seus professores em diversas comunidades dos povos visitados por EHS. É importante destacar que a impressão e a distribuição sistemática de uma publicação excepcional como esta, que foge dos padrões editoriais comuns na antropologia, só foram possíveis graças a uma emenda parlamentar do então deputado federal de Rondônia, Nilton Capixaba (PTB). Esse apoio financeiro possibilitou não só a própria produção da edição brasileira para fins não comerciais, mas também abriu o caminho para a distribuição de exemplares nas comunidades indígenas descendentes daquelas visitadas por EHS como uma segunda etapa de atividades de restituição de conhecimentos. A primeira aconteceu em 2009, quando sete representantes das Terras Indígenas Rio Branco e Guaporé foram convidados para Berlim para conhecer pessoalmente os objetos coletados por EHS no Museu Etnológico e escutar as gravações realizadas em 1934 no Arquivo Fonográfico da cidade. Essa visita também está documentada, sobretudo por fotos, nos dois volumes da obra.

Resumindo: trata-se de uma publicação excepcional para a antropologia brasileira, que merece muitos leitores, já que a leitura, tanto dos diários quanto dos textos complementares, é agradável e fascinante. Pode-se afirmar sem hesitar que A expedição do Guaporé fará parte das referências importantes na historiografia da antropologia no Brasil.

Referências bibliográficas

  • HAUSCHILD, Thomas. 2002. „Zur Kritik der postkolonialen Kritik: Spurensuche in Malinowskis ethnologischen Fotografien”. Fotogeschichte, 84: 13-32. https://www.fotogeschichte.info/en/back-issues/issues-76-100/84/ .
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  • KÖNIG, Viola. 2003 (org.). Ethnologisches Museum Berlin. München, Berlim, Londres, Nova York: Prestel.
  • MALINOWSKI, Bronislaw. 1967. A diary in the strict sense of the term. Nova York, Harcourt, Brace & World.
  • PETSCHELIES, Erik. 2023. Ascensão e declínio da etnologia alemã (1884-1950). Campinas, Editora da Unicamp.
  • SCHRÖDER, Peter. 2022. “(Re)aproximando-se e afastando-se da Alemanha: Curt Nimuendajú como parte de redes transnacionais de antropólogos”. Horizontes Antropológicos, 28(62): 211-255. https://doi.org/10.1590/S0104-71832022000100007
    » https://doi.org/10.1590/S0104-71832022000100007
  • SNETHLAGE, Emil Heinrich. 1931. „Unter nordostbrasilianischen Indianern”. Zeitschrift für Ethnologie, 62: 111-205.
  • SNETHLAGE, Emil Heinrich. 1939. „Musikinstrumente der Indianer des Guaporégebietes”. Baessler-Archiv, Beiheft X. Berlin, Dietrich Reimer / Andrews & Steiner.
  • SNETHLAGE, Rotger M.; SNETHLAGE, Alhard-Mauritz; MERE, Gleice (Hrsg.). 2016. Emil Heinrich Snethlage: Die Guaporé-Expedition (1933-1935). Ein Forschungstagebuch. Köln, Weimar, Wien: Böhlau Verlag.
  • WOLF, Eric R. 1984. “Culture: panacea or problem?” American Antiquity, 49(2): 393-400. https://www.jstor.org/stable/280026 .
    » https://www.jstor.org/stable/280026
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    Numa nota de rodapé na p. 27, vol. I, lê-se que ela teria perdido seu emprego no Palácio Monbijou, um museu da dinastia dos Hohenzollern, em Berlim, em 1932, por causa de medidas do NSDAP. No entanto, os nazistas ainda não tinham chegado ao poder em 1932, mas a demissão de funcionárias públicas foi incentivada com base em decretos em vigor sob a Constituição de Weimar, no caso de estas serem casadas. As medidas foram justificadas com o argumento de contornar dificuldades orçamentárias ou de aliviar a situação no mercado de trabalho, para evitar o “Doppelverdienertum” (casais com duas fontes de renda). Evidentemente, usando o mesmo tipo de raciocínio, também teria sido possível demitir homens, o que, de fato, não aconteceu. Essas medidas, aliás, não foram apoiadas exclusivamente pela direita, mas também ganharam os votos da Socialdemocracia, do SPD, da época.
  • O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001
  • O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001, projeto n. 88881.895126/2023-01 PROBRAL (CAPES/DAAD)

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Jun 2024
  • Data do Fascículo
    2024
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