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A MUDANÇA ESTRATÉGICA DAS ECONOMIAS EM DESENVOLVIMENTO PARA A PRODUÇÃO E A INDUSTRIALIZAÇÃO: O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES INFORMAIS

RESUMO

As economias em desenvolvimento (EDs) no Sul Global são responsáveis por muito mais consumo do que produção. A continuidade dessa tendência mostra o subdesenvolvimento persistente dessas nações e também destaca uma tarefa desafiadora para alcançar a meta das Nações Unidas de um mundo desenvolvido e sustentável até o ano 2030. A literatura na área de Estudos de Organização e Gestão está repleta de explicações sobre os papéis das instituições formais para o desenvolvimento das capacidades de produção e industrialização dos países. No entanto, esses estudos são dominados por análises do Norte Global, especialmente dos EUA. Enquanto isso, são poucas as pesquisas sobre como as instituições informais em geral e, em particular, as instituições formais propostas pelas economias em desenvolvimento do Sul Global fazem para facilitar e promover a produção e a (re)industrialização. O presente artigo funciona como uma nota de pesquisa e uma chamada de trabalhos para uma edição especial que visa contribuir com o discurso emergente sobre a mudança estratégica das economias em desenvolvimento para a produção, por meio de uma compreensão mais profunda do papel das instituições informais no desenvolvimento econômico.

Palavras-chave:
produção; (re)industrialização; Sul Global; economias em desenvolvimento; instituições informais

ABSTRACT

Developing economies (DEs) in the Global South account for a significant amount of consumption than production. A continuation of this trend portrays persistent under-development of the nations in these economies, and it also highlights a challenging task for actualizing the United Nation’s year 2030 goal of a sustainable developed world. The Management and Organization Studies literature abound with explanations about the roles of formal institutions for developing the production capacities and industrialization of economies. Yet, these studies are dominated in US-led Global North. Meanwhile, explanations about how informal institutions in general, and, in particular, formal institutions proposed by Global South developing economies, function to enable and advance production and (re)industrialization has received limited attention. This paper doubles as a research note and a call for papers for a special issue to contribute to the emerging discourse on the strategic shift of developing economies to production through a deeper understanding of the role of informal institutions in economic development.

Keywords:
production; (re)industrialization; Global South; developing economies; informal institutions

RESUMEN

Las economías en desarrollo en el Sur global responden por una cantidad mucho más significativa de consumo que de producción. La continuidad de esta tendencia retrata el subdesarrollo persistente de las naciones con estas economías, y también destaca una tarea desafiante para concretar la meta de las Naciones Unidas para el año 2030 de un mundo desarrollado sostenible. En la literatura sobre Estudios de Gestíón y Organización abundan explicaciones sobre los roles de las instituciones formales para el desarrollo de las capacidades productivas y la industrialización de las economías. Sin embargo, estos estudios están dominados por análisis del Norte global, principalmente de Estados Unidos. Mientras tanto, las explicaciones sobre cómo las instituciones informales en general y, en particular, las instituciones formales propuestas por las economías en desarrollo del Sur global, funcionan para permitir y promover la producción y la (re) industrialización han recibido una atención limitada. Este artículo funciona como una nota de investigación y una convocatoria de artículos para una edición especial que contribuya al discurso emergente sobre el cambio estratégico de las economías en desarrollo a la producción, a través de una comprensión más profunda del papel de las instituciones informales en el desarrollo económico.

Palabras clave:
producción; (re)industrialización; Sur Global; economías en desarrollo; instituciones informales

INTRODUÇÃO

Uma característica de muitas economias em desenvolvimento (EDs) no Sul Global tem sido um padrão constante onde o consumo (e importação) supera a produção (e exportação), a ponto dessas economias representarem até 85% do consumo global (Gruss & Nabar, 2017Gruss, B. & Nabar, M. (2017). Emerging Markets and Developing Economies: Sustaining Growth in a Less Supportive External Environment. IMF Blog: Insights and Analysis on Economics and Finance. https://www.imf.org/en/Blogs/Articles/2017/04/12/emergingmarketsanddevelopingeconomiessus-taininggrowthinalesssupportiveexternalenvironment
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). A condição periférica dentro do sistema capitalista moderno mundial – sustentada desde há muito tempo por estruturas de diferenciação colonial defendidas pelo Norte Global (que se mostra cada vez mais heterogêneo e desigual) sob a liderança dos EUA – evidencia a necessidade de desenvolver as sociedades em todo o mundo, promovendo instituições e políticas transformadoras e abraçando as tradições acadêmicas que vão além das dicotomias Norte-Sul e desenvolvimento-subdesenvolvimento (Bhambra, 2020Bhambra, G. K. (2020). Colonial global economy: towards a theoretical reorientation of political economy. Review of International Political Economy, 28(2), 307-322. https://doi.org/10.1080/09692290.2020.1830831
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; Furtado, 1964Furtado, C. (1964). Development and underdevelopment. University of California Press.; Ndlovu-Gatsheni, 2020Ndlovu-Gatsheni, S. J. (2020). Decolonization, development and knowledge in Africa: Turning over a new leaf. Routledge.; Santos, 1970Santos, T. D. (1970). The structure of dependence. American Economic Review, 60(2), 231-236. https://www.jstor.org/stable/1815811
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). O campo dos Estudos de Organização e Gestão também precisa ultrapassar essa dicotomia (Alcadipani et al., 2012Alcadipani, R., Khan, F. R., Gantman, E., & Nkomo, S. (2012). Southern voices in management and organization knowledge. Organization, 19(2), 131-143. https://doi.org/10.1177/1350508411431910
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; Faria, 2023Faria, A. Co-production of management knowledge in/from emerging countries and societies. RAE – Revista de Administracao de Empresas, 63 (1), e2021–0621, 2023. https://doi.org/10.1590/S0034-759020230108x
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; Jammulamadaka et al., 2021Jammulamadaka, N., Faria, A., Jack, G., & Ruggunan, S. (2021). Decolonising management and organisational knowledge (MOK): Praxistical theorising for potential worlds. Organization, 28(5), 717-740. https://doi.org/10.1177/13505084211020463
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; Nkomo, 2015Nkomo, S. M. (2015). Challenges for management and business education in a “developmental” state: The case of South Africa. Academy of Management Learning & Education, 14(2), 242-258. https://doi.org/10.5465/amle.2014.0323
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; Wanderley & Barros, 2019Wanderley, S., & Barros, A. (2019). Decoloniality, geopolitics of knowledge and historic turn: Towards a Latin American agenda. Management & Organizational History, 14(1), 79-97. https://doi.org/10-1080/17449359.2018.1431551
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). A ressignificação desse desenho de produção/consumo envolve possibilidades transformadoras que vão além da institucionalização contemporânea de injustiças, desigualdades e impossibilidades em escala global como o único caminho para o desenvolvimento, especialmente o sustentável. A capacidade das nações e empresas de priorizar a produção e as exportações ao invés do consumo e as importações significa crescimento econômico e desenvolvimento.

A NECESSIDADE DE AUMENTO DA CAPACIDADE DE PRODUÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO NAS ECONOMIAS EM DESENVOLVIMENTO

De acordo com o WorldData (2022)WorldData (2022). Developing Economies. https://www.worlddata.info/developing-countries.php
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, 6,69 bilhões de pessoas, ou cerca de 85,33% da população mundial, vivem em EDs. Essas economias abrangem toda a América Central e do Sul, toda a África, muitos países asiáticos e vários outros Estados insulares. Estudos recentes baseados na teoria da troca desigual mostram que, de 1990 a 2015, o Norte Global drenou do Sul Global um total de USD 242 trilhões, equivalente a um quarto de seu próprio PIB (Hickel et al., 2022Hickel, J., Dorninger, C., Wieland, H., & Suwandi, I. (2022). Imperialist appropriation in the world economy: Drain from the global South through unequal exchange, 1990–2015. Global Environmental Change, 73, 102467. https://doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2022.102467
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). Mesmo em uma era de crescente autoritarismo, as EDs têm grande potencial para mudar o desenho estrutural Norte-Sul e contribuir significativamente para o PIB global, redirecionando suas atividades econômicas para a produção e (re)industrialização. As empresas são atores socioeconômicos fundamentais nessa agenda, dada sua capacidade de conduzir um tipo de exploração transformadora e a conversão e disseminação de recursos de produção.

Estudos realizados tanto no Norte como no Sul Global analisaram um grande e diversificado corpo de temas relacionados a (re)industrialização e a capacidade e orientação de produção de EDs (por exemplo, Brankov et al., 2021Brankov, T., Matkovski, B., Jeremić, M. & Ɖurić, I. (2021). Food Self-Sufficiency of the SEE Countries; Is the Region Prepared for a Future Crisis? Sustainability, 13(16), 8747. https://doi.org/10.3390/sul 3168747
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; Chang & Andreoni, 2021Chang, H. J. & Andreoni, A. (2021). Bringing production back into development. European Journal of Development Research, 33, 165 – 178. https://doi.org/10.1057/s41287-021-00359-3
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; Ibidunni et al., 2019Ibidunni,A. S., Ufua, D., E. Okorie, U. E. & Kehinde, B. E. (2019). Labour Productivity in Agricultural Sector of Sub Sahara Africa (2010 – 2017): A Data Envelopment and Panel Regression Approach. African Journal of Economics and Management Studies, 11(2), 207–232. https://doi.org/10.1108/AJEMS-02-2019-0083
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; Kruse et al., 2022Kruse, H., Mensah, E., Sen, K., & De Vries, G. (2022). A manufacturing (Re) naissance? Industrialization in the developing world. IMF Economic Review, https://doi.org/10.1057/s41308-022-00183-7
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; Matthess & Kunkel, 2020Matthess, M. & Kunkel, S. (2020). Structural change and digitalization in developing countries: Conceptually linking the two transformations. Technology in Society, 63, 101428. https://doi.org/10.1016/j.techsoc.2020.101428
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; Pochmann, 2021Pochmann, M. (2021). O neocolonialismo à espreita: Mudanças estruturais na sociedade brasileira. Edições Sesc.; Zhang, 2011Zhang, L. (2011). Is industrialization still a viable development strategy for developing countries under climate change? Climate Policy, 11(4), 1159–1176. https://doi.org/10.1080/14693062.2011.579263
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). Mesmo quando uma nação apresenta crescimento do PIB, pode ser ainda mais evidente o seu subdesenvolvimento como consequência da institucionalização – em meio a contestações – da diferenciação material e epistêmica entre

Norte e Sul, das lacunas persistentes nos processos de transformação econômica, bem como da falta de inclusão em vários de seus setores econômicos (Calabrese & Tang, 2022Calabrese, L., & Tang, X. (2022). Economic transformation in Africa: What is the role of Chinese firms? Journal of International Development, 1–22. https://doi.org/10.1002/jid.3664
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; Feldman, Hadjimichael, & Lanahan, 2016Feldman, M., Hadjimichael, T., & Lanahan, L. (2016). The logic of economic development: a definition and model for investment. Environment and Planning C: Government and Policy, 34, 5 – 21. https://doi.org/10.1177/0263774X15614653
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; Pochmann, 2021Pochmann, M. (2021). O neocolonialismo à espreita: Mudanças estruturais na sociedade brasileira. Edições Sesc.). Estudos anteriores se limitaram a explicar a transformação das EDs a partir de perspectivas que moldam a transformação econômica (ou seja, buscando ir além do estímulo ao crescimento do PIB) no sentido de alcançar o desenvolvimento inclusivo e a diversificação em setores críticos e expandir a criação de empregos não só nos setores tradicionais, mas também naqueles altamente industrializados. Consequentemente, as pesquisas mais recentes têm defendido o aumento da produção e a (re)industrialização para o avanço das EDs em mais do que mero crescimento econômico (Chang & Andreoni, 2021Chang, H. J. & Andreoni, A. (2021). Bringing production back into development. European Journal of Development Research, 33, 165 – 178. https://doi.org/10.1057/s41287-021-00359-3
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; Kruse et al, 2022Kruse, H., Mensah, E., Sen, K., & De Vries, G. (2022). A manufacturing (Re) naissance? Industrialization in the developing world. IMF Economic Review, https://doi.org/10.1057/s41308-022-00183-7
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; Pochmann, 2021Pochmann, M. (2021). O neocolonialismo à espreita: Mudanças estruturais na sociedade brasileira. Edições Sesc.). Com a chamada virada de desenvolvimento Leste-Sul (Pieterse, 2021Pieterse, J. N. (2021). Twenty-first-century horizons of development. In: Handbook of Development Policy (pp. 25-34). Edward Elgar Publishing.), países asiáticos como Coreia do Sul, Taiwan e, mais recentemente a China, cresceram com o aumento das capacidades produtivas (Chang & Andreoni, 2021Chang, H. J. & Andreoni, A. (2021). Bringing production back into development. European Journal of Development Research, 33, 165 – 178. https://doi.org/10.1057/s41287-021-00359-3
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), fazendo com que expandissem sua produção, exportação e o crescimento econômico geral. Isso mostra a importância de continuar e expandir os desenhos de governança transformadora do desenvolvimento de cima para baixo e de baixo para cima (Habib & Huque, 2021Habib, Z., & Huque, A. S. (Eds.). (2021). Handbook of Development Policy. Edward Elgar Publishing.). As instituições desempenham um papel crucial na formação das interações políticas, econômicas, epistêmicas e sociais de uma sociedade, influenciando assim sua trajetória de desenvolvimento. A atual literatura estabeleceu que as instituições, ou seja, “as regras do jogo em uma sociedade” (North, 1990:3, tradução nossa), ou mais especificamente, “as restrições criadas pelo homem que estruturam a interação política, econômica e social” (North, 1991:97, tradução nossa) são fundamentais para o crescimento do desenvolvimento que melhora a qualidade de vida para além do mero crescimento do PIB (Acemoglu & Robinson, 2013Acemoglu, D. & Robinson, J. (2013). Why nations fail: The origins of power, prosperity and poverty. Profile Books.; De Soysa & Jutting, 2006De Soysa, I. & Jutting, J. (2006). Informal institutions and development: Think local, act global? International Seminar, OECD Development Centre and Development Assistance Committee – Network on Governance.; Rodrik, Subramanian & Trebbi, 2004Rodrik, D., Subramanian, A., & Trebbi, F. (2004). Institutions rule: The primacy of institutions over geography and integration in economic development. Journal of Economic Growth, 9(2), 131 – 165. https://doi.org/10.1023/B:JOEG.0000031425.72248.85
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; Rodriguez-Pose, 2020Rodriguez-Pose, A. (March, 2020). Institutions and the fortunes of territories. Regional Science Policy and Practice. https://doi.org/10.1111/rsp3.12277
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; Shirley, 2005Shirley, M. M. (2005). Institutions and development. In Handbook of new institutional economics, C. Menard and M. M. Shirley (eds.). Springer.).

Apesar dos numerosos estudos que exploram o impacto das instituições no desenvolvimento socioeconômico, a maioria deles se concentrou apenas em instituições formais e historicamente controladas pelo Norte Global liderado pelos EUA (Dau et al., 2022Dau, L., Chacar, A., Lyles, M., & Li, J. (2022). Informal institutions and international business: Toward an integrative research agenda. Journal of International Business Studies, 53(6), 985–1010. https://doi.org/10.1057/s41267-022-00527-5
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; Feldman et al., 2016Feldman, M., Hadjimichael, T., & Lanahan, L. (2016). The logic of economic development: a definition and model for investment. Environment and Planning C: Government and Policy, 34, 5 – 21. https://doi.org/10.1177/0263774X15614653
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; Rodriguez-Pose, 2020Rodriguez-Pose, A. (March, 2020). Institutions and the fortunes of territories. Regional Science Policy and Practice. https://doi.org/10.1111/rsp3.12277
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), enquanto o papel das instituições informais na evolução das EDs do Sul Global é pouco estudado (destacam-se como exceções a essa tendência os trabalhos de Beugelsdijk & Klasing, 2016Beugelsdijk, S., & Klasing, M. J. (2016). Diversity and trust: The role of shared values. Journal of Comparative Economics, 44(3), 522- 540. https://doi.org/10.1016/j.jce.2015.10.014
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; Beugelsdijk, Klasing, & Milionis, 2019Beugelsdijk, S., Klasing, M. J., & Milionis, P. (2019). Value diversity and regional economic development. The Scandinavian Journal of Economics, 121(1), 153- 181. https://doi.org/10.1111/sjoe. 12253
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; e Cortinovis, et al., 2017Cortinovis, N., Xiao, J., Boschma, R., & van Oort, F. G. (2017). Quality of government and social capital as drivers of regional diversification in Europe. Journal of Economic Geography, 17(6), 1179 – 1208. https://doi.org/10.1093/jeg/lbx001
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). É escassa a literatura abordando especificamente como as instituições informais em geral e, em particular, as instituições formais propostas pelos DEs do Sul Global atuam para facilitar e promover a produção e a (re) industrialização. O foco da maioria dos estudos sobre instituições formais moldadas pelos países do Norte e seus respectivos sistemas de conhecimento parece também sugerir que esse tipo de instituição é mais importante para a transformação e desenvolvimento do que as instituições informais (Feldman et al., 2016Feldman, M., Hadjimichael, T., & Lanahan, L. (2016). The logic of economic development: a definition and model for investment. Environment and Planning C: Government and Policy, 34, 5 – 21. https://doi.org/10.1177/0263774X15614653
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; De Soysa & Jutting, 2006De Soysa, I. & Jutting, J. (2006). Informal institutions and development: Think local, act global? International Seminar, OECD Development Centre and Development Assistance Committee – Network on Governance.; Rodriguez- Pose, 2020Rodriguez-Pose, A. (March, 2020). Institutions and the fortunes of territories. Regional Science Policy and Practice. https://doi.org/10.1111/rsp3.12277
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). Assim, poucos estudos têm se concentrado em compreender o papel das instituições informais, ligadas ou não às instituições formais propostas pelo Sul Global, no avanço de formas organizadas e gerenciáveis de produção, (re)industrialização e desenvolvimento. Além disso, mesmo no contexto mais amplo das instituições formais, ainda falta compreender os mecanismos pelos quais elas atuam para facilitar o desenvolvimento (Rodriguez-Pose, 2020Rodriguez-Pose, A. (March, 2020). Institutions and the fortunes of territories. Regional Science Policy and Practice. https://doi.org/10.1111/rsp3.12277
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).

Consequentemente, nossa compreensão do papel das instituições informais e como elas interagem com as formais para impulsionar a produção e moldar o desenvolvimento precisa ser melhorada, especialmente nas EDs. Essas economias apresentam um contexto particularmente problemático, com instituições formais fracas e informais que acabam desempenhando um papel proeminente nos negócios e na economia em geral (Dau et al., 2022Dau, L., Chacar, A., Lyles, M., & Li, J. (2022). Informal institutions and international business: Toward an integrative research agenda. Journal of International Business Studies, 53(6), 985–1010. https://doi.org/10.1057/s41267-022-00527-5
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; Khanna & Pelepu, 2010Khanna, T. & Pelepu, K. G. (2010). Winning in emerging markets: A road map for strategy and execution. NHRD Network Journal, 3(3), 75–75. https://doi.org/10.1177/0974173920100316
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).

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas enfatizam fortemente o consumo e a produção sustentáveis (ODS 12), bem como a redução das desigualdades dentro e entre os países (ODS 10). Embora muitas EDs tenham empenhado esforços louváveis para aumentar sua contribuição para a cadeia de valor de abastecimento global, especialmente em termos de exportação de bens, os efeitos dos choques econômicos e de saúde globais nos últimos anos (por exemplo, a pandemia de Covid-19 e o conflito entre Rússia e Ucrânia) lhes causou reveses significativos. Portanto, torna-se indispensável envolver os crescentes apelos epistêmicos do Sul Global e incentivar pesquisadores, acadêmicos e profissionais da indústria a debater e desenvolver possíveis soluções para a realização de uma mudança estratégica das EDs em direção à produção e a (re)industrialização, contribuindo para o desenvolvimento transformador e o crescimento socioeconômico para todos.

NOTAS FINAIS

Em parceria com a RAE-Revista de Administração de Empresas os autores promovem a edição especial sobre “Strategic shift of developing economies to production and industrialization: The role of informal institutions” que visa contribuir para o discurso emergente sobre a mudança estratégica das economias em desenvolvimento (ED) em direção a produção, por meio de uma compreensão mais profunda do papel das instituições informais no desenvolvimento econômico, o que também é um discurso recente. O escopo da edição especial cobre também as amplas áreas de análise em nível micro e macro, bem como investigações teóricas e políticas sobre a transição de EDs do consumo para a produção. Esta chamada de trabalhos convida contribuições de pesquisas nas áreas de gestão e economia de negócios no contexto das EDs e além. A equipe editorial está aberta a receber estudos de qualidade que podem ser conceituais, teóricos ou empíricos (abordados quantitativa e/ou qualitativamente). Essa edição especial da RAE, busca pesquisas originais de acadêmicos interessados no tema, experientes ou em início de carreira, profissionais e participantes da Conferência Internacional sobre o Desenvolvimento Sustentável da África (ICASuD), que buscam explorar qualquer uma das seguintes linhas de pesquisa:

  • Evolução e natureza das instituições informais e formais nas EDs

  • A interação (divergente, convergente e outra) entre instituições formais e informais, especialmente na promoção da produção e (re)industrialização

  • Tipos de instituições informais e seu papel na construção de capacidades produtivas individuais e coletivas, como capacidades empreendedoras e de gestão

  • Instituições (formais e informais) e parcerias internacionais para a produção regional

  • Teorização para a utilização de capacidades autóctones na economia de produção de EDs

  • Os papéis da economia informal na orientação produtiva da ED

  • Desmistificando os desafios de ineficiência das EDs

  • Os papéis dos setores industriais e do capital industrial

  • Os efeitos do transbordamento e transferência de conhecimento e tecnologia nas relações transfronteiriças

  • Os papéis da troca de conhecimento entre as redes locais

  • Os papéis das parcerias público-privadas

Convidamos a todos os pesquisadores interessados nesse tema a submeterem seus trabalhos. Para mais informações sobre o cronograma e envio dos trabalhos para a edição especial, acessem aqui

REFERENCES

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Jun 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    31 Dez 2022
  • Revisado
    30 Abr 2023
  • Aceito
    15 Maio 2023
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