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EDITORIAL

Neste ano que se encerrou, ficamos envolvidos de maneira intensa no debate sobre visibilidade dos periódicos brasileiros. Alguns têm insistido em que a solução para aumentar a nossa visibilidade é tornarmos nossos periódicos 100% anglófonos, abandonando de vez o Português, língua praticamente ignorada no mundo científico. Segundo esse raciocínio, ao publicarmos em Inglês, aumentaríamos nossa visibilidade e passaríamos a ser mais lidos por pesquisadores de outras partes do planeta.

Sem entrar no mérito de uma série de questões complexas que envolvem o abandono de nossa língua pátria, custos, relevância local etc., vale uma reflexão sobre o tipo de visibilidade que procuramos. O ranking SCImago de países (http://www.scimagojr.com/countryrank.php) nos permite fazer uma análise comparativa interessante. Embora seja uma informação a respeito dos artigos publicados na base Scopus, e não dos nossos periódicos nacionais, vale o raciocínio para discutir a visibilidade que queremos.

A comparação entre o que Brasil, Espanha, México e África do Sul publicaram de 1996 a 2013 na área de Business, Management & Accounting é reveladora. Nesse período, o Brasil teve desempenho considerável, aumentando o número de artigos publicados em 442%, tendo evoluído mais do que Espanha (345%), México (291%) e África do Sul (144%). Por esses números, poderíamos dizer que a visibilidade dos pesquisadores brasileiros está num ritmo acelerado. Ainda que estejamos num patamar equivalente a apenas 60% do que a Espanha publicou, em 2013, publicamos 2,4 vezes mais do que o México e 4,3 vezes mais do que África do Sul, em nossa área.

Quando analisamos o índice de citações das publicações de cada país, entretanto, a situação é bem diferente. Se, em 1996, dividíamos com a Espanha a liderança de citações nesse grupo (31% cada), bem acima de México e África do Sul (19% cada), em 2013, caímos para o quarto lugar, com apenas 18% das citações, enquanto Espanha (35%), África do Sul (27%) e México (20%) passaram à nossa frente. Mais triste é saber que México e África do Sul, publicando bem menos artigos do que nós, conseguiram ser mais citados. Ou seja, enquanto a nossa presença (ou visibilidade) aumentou no cenário científico internacional, nossa relevância diminuiu no período.

Uma possível explicação para esse nosso baixo número de citações comparativo diante desses países pode ser encontrada na evolução dos índices de colaboração internacional em nossos artigos. Em 1996, Brasil, Espanha e México estavam empatados, com 27% de seus artigos sendo fruto de colaboração internacional. A África do Sul, recém-saída do Apartheid, tinha apenas 19% de artigos resultantes de colaboração internacional. Quase duas décadas depois, em 2013, Espanha e África do Sul possuíam 42% de seus artigos frutos de colaboração internacional, com o México logo atrás, com 38%. E o Brasil ficou estacionado: 28% de colaboração internacional.

A lição que esses números nos ensinam é que não basta ter visibilidade para ter sucesso no universo acadêmico. A busca por qualidade parece ter relação direta com a colaboração internacional. Visibilidade sem relevância não nos levará a lugar algum. Temos que investir em colaboração internacional para alcançarmos a visibilidade que importa.

Se traduzirmos essa análise para o mundo dos periódicos, o foco exclusivo na publicação em Inglês pode não ser o alvo correto a ser perseguido. Seguindo esse caminho, poderemos ter apenas brasileiros publicando em Inglês para outros brasileiros lerem.

A língua deve ser o meio, não o objetivo final, se quisermos visibilidade com qualidade. Entre as alternativas, podemos trabalhar para construir parcerias internacionais consistentes, seja com chamadas de artigos coordenadas por editores convidados de outros países, seja na construção de comitês científicos realmente ativos e com membros atuantes de instituições estrangeiras. É bem provável que esses comitês e chamadas de artigos devam optar pelo Inglês como língua de trabalho, mas isso é bem diferente do que acreditar na anglofonização dos periódicos nativos como solução para aumentar a visibilidade de nossas pesquisas.

Nesta edição da RAE, publicamos o Fórum Internacional sobre Finanças Comportamentais. Os organizadores Wesley Mendes-Da-Silva, Newton C. A. da Costa Jr., Lucas Ayres Barros, Manuel Rocha Armada e Jill M. Norvilitis, no artigo de abertura "Behavioral Finance: advances in the last decade", destacam os avanços da área nos últimos anos e apresentam os quatro artigos aprovados. Ainda sobre o tema, na seção Pensata, o texto "The behavioral paradigm shift", do professor Hersh Shefrin, traz uma reflexão sobre a mudança na área de Finanças por meio da incorporação de conceitos da Psicologia Comportamental em oposição à premissa da racionalidade. Na seção Resenha, o professor Sergio da Silva apresenta um clássico de Daniel Kahneman, o livro Thinking, fast and slow, e a seção Indicações Bibliográficas traz sugestões de livros sobre Finanças Comportamentais e decisões sobre investimentos, e sobre Finanças Comportamentais e Psicologia Econômica.

Completam esta edição dois artigos inéditos. Em " Gestión de recursos intangibles en instituciones de educación superior", os autores investigam os recursos intangíveis sobre a gestão estratégica de Institutos de Ensino Superior. Em "Um modelo Fuzzy-DEA-Game para estratégias de produção sob incerteza", os autores desenvolvem um novo modelo para apoiar as estratégias de produção em uma empresa do segmento de energia.

Tenham todos uma boa leitura!

Eduardo Diniz | Editor chefe

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2015
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