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Unrest in Brazil: political-military crises, 1955-1964

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Unrest in Brazil: political-military crises, 1955-1964

Por John W. F. Dulles, Austin, University of Texas Press, 1970.

Êste e o segundo livro de Dulles sôbre o Brasil. O primeiro é uma biografia de Vargas (Vargas of Brazil: a political biography, Austin, University of Texas Press, 1970). E, aparentemente, o trabalho de pesquisa de Dulles não terminará aqui, pois anuncia-se um terceiro livro desse mesmo autor sobre o comunismo no Brasil.

Como se pode observar pelos títulos dos livros, Dulles tem escolhido períodos ou assuntos importantes e controvertidos da história do Brasil para estudar. Talvez, nessa escolha se encontra a maior virtude do autor.

Dulles já se havia demonstrado, em sua biografia de Vargas, um cuidadoso pesquisador bibliográfico. De fato, êle apresenta naquele livro um levantamento que nos parece ser um dos mais completos - senão o mais completo - sôbre o controvertido político brasileiro.

Em Unrest in Brazil, também, o autor apresenta uma bibliografia bastante rica sobre o período. Neste segundo livro, entretanto, o autor se baseia em informações colhidas através de numerosas entrevistas que realizou com personagens que participaram ativamente na vida política do país durante esse período histórico.

Não se pode dizer, entretanto, que Dulles seja um cientista, pois êle não fornece, em qualquer momento de seus trabalhos, uma interpretação explícita sobre o período que analisa.

Os livros de Dulles são, portanto, contribuições jornalísticas valiosas para a historiografia brasileira, mas não podem ser considerados trabalhos científicos.

Ocorre, entretanto, que mesmo como contribuição jornalística, Unrest in Brazil precisa ser lido com todo o cuidado crítico, pois ainda que Dulles não apresente qualquer interpretação explícita, pode-se notar um viés ideológico implícito no livro.

Assim, em quase nenhuma parte do livro - a não ser no caso dos personagens marxistas - o autor examina as motivações que levam os atôres a se comportarem de determinadas maneiras em certos momentos da história. Como conseqüência de tal postura, os personagens atuam como se fossem motivados pelas suas exclusivas vontades individuais. Em outras palavras, Dulles parece acreditar no voluntarismo como motivação para a ação social.

Outro problema metodológico, que é aparente no livro de Dulles, se refere a uma certa facilidade do autor em rotular ideologicamente determinadas personagens cuja ideologia nos parece difícil de definir. Assim, para Dulles, não há dúvida de que Francisco Julião é um marxista.

Êsses dois defeitos metodológicos criam alguns problemas de clareza na descrição da história feita pelo autor norte-americano. Por exemplo, tem-se dificuldades para compreender o comportamento de João Goulart, em determinados momentos de sua trajetória política. Não queremos dizer, com isso, que o comportamento de Goulart seja fácil de ser compreendido. Queremos sugerir, apenas, que se Dulles explicitasse um modelo de explicação para o período, o comportamento político de certos personagens talvez ficasse mais compreensível.

Dissemos, no início desta resenha, que uma das grandes virtudes de Dulles é a de escolher, para estudar, temas e períodos importantes e controvertidos da história do Brasil. De fato, só em circunstâncias muito especiais um estudioso brasileiro poderia ter realizado o trabalho de pesquisa que Dulles realizou para escrever Unrest in Brazil. Basta observar, por exemplo, que o estudioso norteamericano teve acesso a pessoas e documentos inacessíveis à maioria dos estudiosos brasileiros. Assim, Dulles entrevistou pessoas inacessíveis para brasileiros (como Gregório Bezerra, em 24 de outubro de 1967, quando esse personagem se encontrava preso, em Recife); ou documentos também inacessíveis (como o relatório do inquérito instaurado contra Luiz Carlos Prestes e outros por ocasião da revolução de março de 1964, preparado pelo Departamento de Ordem Política e Social da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo).

Dessa forma, estudiosos como Dulles podem dar uma contribuição original (ainda que defeituosa) ao conhecimento da história do Brasil para os próprios brasileiros.

MANOEL TOSTA BERLINCK

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Maio 2015
  • Data do Fascículo
    Jun 1971
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