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História da administração

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

História da administração

Por João Bosco Lodi. São Paulo, Livraria Pioneira Editora, 1971. 217 p.

Há alguns anos venho acompanhando, entre a admiração e a perplexidade, o trabalho de João Bosco Lodi, meu colega no Departamento de Administração Geral e Relações Industriais da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. Admiração, porque Lodi, que é um administrador profissional, homem que passa seus dias entre problemas administrativos que exigem atenção e esforços constantes, sempre encontra tempo para o estudo, a reflexão e a produção intelectual. Perplexidade, porque seus interesses são extremamente variados. Lodi passa de um nível de abstração para outro, absolutamente à vontade, dedicando-se tanto às técnicas de recrutamento de pessoal quanto à epistemologia das ciências sociais.

O seu novo livro agradou-me prontamente. O tratamento que dá à matéria é novo e totalmente diferente de tudo o que tem feito. Poder-se-ia mesmo discutir se o que Lodi fêz foi uma História da administração. Talvez, o que tenha feito tenha sido uma história dos homens que fizeram a administração. Realmente, o autor analisa com cuidado aqueles que fizeram a teoria administrativa, revelando aspectos que normalmente passam despercebidos ao leitor comum e que, entretanto, explicam os modos de ver a realidade que levaram à construção de modelos particulares. Um exemplo do que afirmo está na página 29 do livro:

"Nascido de uma família quaker de classe média superior da Nova Inglaterra, Taylor teve uma educação primária privilegiada. Porém, um defeito de visão dificultou o prosseguimento dos estudos de advogado que pretendia fazer em Harvard e para os quais certamente não tinha vocação. Somente em 1885, isto é, com 29 anos, conseguiu com muito esforço, estudando à noite, obter o certificado de engenheiro pelo Stevens Institute."

Todavia, não poderia deixar de apontar algumas colocações com as quais não concordo. Acho que a originalidade do trabalho de Mary Parker Follet (Administração dinâmica), bem como o de Chester Bamard (As funções do executivo), torna difícil seu enquadramento em qualquer "movimento" ou "escola". Entretanto, em minha opinião, se Mary Parker Follet significou transição na teoria administrativa, tal transição certamente terá sido na direção da consolidação das idéias da Escola de Relações Humanas. chamado "método de integração" para solução dos conflitos industriais, advogado com tanto empenho pela autora, está no âmago das teses da Escola.

Todavia, estamos no reino das opiniões e acho que não seria difícil encontrar argumentos para a defesa de qualquer um dos pontos de vista. Acredito, também, que se todos estivessem de acordo no que se refere à evolução do pensamento administrativo, não haveria razão para que a encarássemos com seriadade. Uma das coisas que aprendi nesses anos de magistério foi duvidar das verdades absolutas.

Gosto muito, em História da Administração, daqueles aspectos que revelam pensamento original. Por exemplo, a abordagem biográfica bem feita, que vai contra qualquer "sociologismo". Ainda, a inclusão de autores como Jay (Maquiavel e a gerência de empresas), Townsend (Viva a organização), Parkinson (A lei de...), Peter (O princípio de...) é corajosa. Esses são, como diz Lodi, os teóricos do absurdo da administração. E, para mim, com o absurdo desmistificam. Nesse sentido, seus livros, de enorme divulgação, fazem muito mais do que obras de caráter mais acadêmico. A ironia e a sátira são importantes na modificação da realidade, à medida que chamam atenção para seus aspectos alienantes.

Lodi, entretanto, não lhes atribui aparentemente o mesmo significado. Parece, ao contrário, concordar com a posição de Peter Drucker, segundo a qual autores como Townsend são a versão moderna do "bobo da corte", cuja função é fazer o executivo sentir-se agradado pela disposição em aceitar críticas, pela sua "mente aberta", pela sua capacidade de rir de si mesmo. Concordo que, até certo ponto, esses autores sio "bobos da corte", mas convenhamos que Drucker é bobo de uma corte muito maior.

Vale a pena ler o livro. Aliás, se o leitor é um interessado no assunto, não tem mesmo muitas alternativas. Ou lê a História da administração, ou os cinqüenta e tantos livros que o autor leu para sua elaboração... Minha opinião, todavia, é que História da administração vale por si próprio, pelo tipo de abordagem, pela estrutura, pela sistematização, por tudo o que sugere à inteligência do leitor, e, sobretudo, pela seriedade com que o autor conduziu seu trabalho.

FERNANDO C. PRESTES MOTTA

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Maio 2015
  • Data do Fascículo
    Dez 1971
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