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PRODUTIVISMO ACADÊMICO MULTINÍVEL: MERCADORIA PERFORMATIVA NA PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

Productivismo académico multinivel: Mercancía performativa en programas de posgrado en Administración

RESUMO

O objetivo deste artigo é analisar o produtivismo acadêmico na pós-graduação em Administração no Brasil a partir de uma perspectiva multinível. Inicialmente, aborda-se o surgimento do produtivismo, além de refletir-se sobre o conflito entre o ensino e a pesquisa como uma manifestação do produtivismo. Em seguida, discute-se o fenômeno em três níveis: governamental, institucional e individual, o que pode auxiliar os pesquisadores da área a refletirem sobre o seu impacto na produtividade, nas condições de trabalho e no bem-estar do docente. A partir das reflexões apresentadas no artigo, propõe-se uma definição de produtivismo acadêmico como um ato performativo que institucionaliza um conjunto de ações e comportamentos, caracteriza uma forma de representação social de uma área do conhecimento, delimita um sistema de crenças e valores orientados para uma cultura performativa incorporada socialmente na ação e afeta as condições de trabalho, a saúde, o bem-estar e a carreira de professores que integram a comunidade da área.

PALAVRAS-CHAVE:
Produtivismo acadêmico; pós-graduação em Administração; perspectiva multinível; docente; ato performativo

RESUMEN

El objetivo de este artículo es analizar el productivismo académico en el posgrado en Administración en Brasil desde una perspectiva multinivel. Inicialmente, se aborda el surgimiento del productivismo, además de reflexionar sobre el conflicto entre la enseñanza y la investigación como una manifestación del productivismo. A continua ción, se discute el fenómeno en tres niveles: gubernamental, institucional e individual, lo que puede ayudar a los investigadores del área de administración a reflexionar sobre su impacto en la productividad, las condiciones de trabajo y el bienestar del docente. A partir de las reflexiones presentadas en el artículo, se propone una definición de productivismo académico como un acto performativo que institucionaliza un conjunto de acciones y compor tamientos, caracteriza una forma de representación social de un área del conocimiento, delimita un sistema de creencias y valores orientados hacia una cultura performativa incorporada socialmente a la acción y afecta las condiciones de trabajo, la salud, el bienestar y la carrera de profesores que integran la comunidad del área.

PALABRAS CLAVE:
Productivismo académico; posgrado en administración; perspectiva multinivel; profesor; acto performativo

ABSTRACT

The objective of this article is to analyze academic productivism in graduate schools of management in Brazil from a multilevel perspective. First, we discuss the emergence of productivism, in addition to reflecting on the conflict between teaching and research as a manifestation of productivism. Next, we analyze this phenomenon at three levels-governmental, institutional, and individual-which may help management researchers examine its impact on productivity, working conditions, and professor well-being. Based on the reflections presented here, we recommend defining academic productivism as a performative act that institutionalizes a set of actions and behaviors, characterizes a social representation as a field of knowledge, delimits a system of beliefs and values oriented to a performative culture incorporated socially into action, and affects the working conditions, health, well-being, and careers of the professors who are part of the community.

KEYWORDS:
Academic productivism; graduate studies in management; multilevel perspective; professor; performative act

PRODUTIVISMO ACADÊMICO NA PÓS-GRADUAÇÃO: ONDE ESTAMOS?

O produtivismo acadêmico tem sido objeto de discussão há várias décadas. De acordo com De Paula e Boas (2017)De Paula, A. V., & Boas, A. A. V. (2017). Well-being and quality of working life of university professors in Brazil. Quality of life and quality of working life (pp. 187-210). Rijeka: InTech. Recuperado de http://www.intechopen.com/books/quality-of-life-and-quality-ofworking-Life
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, o fenômeno surgiu no século passado nos Estados Unidos e ficou conhecido pela expressão publish or perish, uma vez que as universidades utilizavam a quantidade de publicações como fator determinante na progressão da carreira de um professor, com base em indicadores estabelecidos por agências institucionais.

No Brasil, o fenômeno é abordado por vários pesquisadores que enfatizam aspectos envolvendo produção intelectual (Alcadipani, 2011Alcadipani, R. (2011). Resistir ao produtivismo: Uma ode à perturbação acadêmica. Cadernos EBAPE.BR, 9(4), 1174-1178. doi:10.1590/S1679-39512011000400015
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; Rossoni, 2018Rossoni, L. (2018). Produtivismo e coautoria cerimonial. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa, 17(2), 1-8. doi:10.21529/RECADM.2018ed2
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; Sguissardi & Silva, 2009Sguissardi, V., & Silva, J. R., Junior. (2009). Trabalho intensificado nas federais: Pós-graduação e produtivismo acadêmico. São Paulo, SP: Xamã.), precarização do trabalho (De Paula & Boas, 2017De Paula, A. V., & Boas, A. A. V. (2017). Well-being and quality of working life of university professors in Brazil. Quality of life and quality of working life (pp. 187-210). Rijeka: InTech. Recuperado de http://www.intechopen.com/books/quality-of-life-and-quality-ofworking-Life
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), saúde (Godoi & Xavier, 2012Godoi, C. K., & Xavier, W. G. (2012). O produtivismo e suas anomalias. Cadernos EBAPE, 10(2), 456-465.; Leite, 2017Leite, J. L. (2017). Publicar ou perecer: A esfinge do produtivismo acadêmico. Revista Katálysi, 20(2), 207-215. doi:10.1590/1982-02592017v20n2p207
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), entre outros.

O produtivismo acadêmico também é influenciado por políticas públicas que objetivam estimular a internacionalização da produção intelectual, assim como melhorar o posicionamento do País em rankings internacionais (Adler & Harzing, 2009Adler, N. J., & Harzing, A. (2009). When knowledge wins: Transcending the sense and nonsense of academic rankings. Academy of Management Learning & Education,8(1), 72-95. doi:10.5465/amle.2009.37012181
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). Em uma visão mais crítica, Machado e Bianchetti (2011)Machado, A. M. N., & Bianchetti, L. (2011). (Des)fetichização do produtivismo acadêmico: Desafios para o trabalhador-pesquisador. RAE-Revista de Administração de Empresas, 51(3), 244-254. doi:10.1590/S0034-75902011000300005
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ressaltam que o produtivismo acadêmico “fornece a chave que articula os mecanismos de mercado ao mundo intelectual acadêmico” (p. 251), podendo ser considerado um “capitalismo acadêmico”.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) possui um sistema de avaliação da pós-graduação consolidado e baseado em indicadores de produtividade acadêmica centrado nas dimensões da atuação do corpo docente do Programa de Pós-Graduação (PPG), no processo de formação discente, na produção intelectual docente e na inserção social do Programa.

Em 2018, a CAPES aprovou mudanças na ficha de avaliação, que passa a ter três quesitos ou dimensões (programa, formação e impacto na sociedade) e 12 itens (indicadores) com pesos mínimos. A definição e comentários sobre as dimensões e indicadores, além das métricas de avaliação, serão definidos pela comissão da área. As mudanças indicam a necessidade de os PPGs adotarem uma orientação estratégica, um sistema de autoavaliação, maior ênfase nos processos de formação, além do foco no resultado a partir da avaliação do impacto, inovação e internacionalização do PPG.

Mesmo com as mudanças propostas, acredita-se que o produtivismo acadêmico na perspectiva proposta neste artigo continuará sendo difundido na pós-graduação, porque as relações institucionais continuarão sendo permeadas pela pressão por resultados, com repercussões nas condições de trabalho e na vida dos agentes envolvidos.

Parte-se do princípio de que o sistema de avaliação da pós-graduação no Brasil tornou o produtivismo acadêmico um fenômeno complexo e com algumas anomalias, porque a variável tempo de dedicação às atividades, seja a um ou mais programas de pós-graduação, influencia o potencial de impacto da produção intelectual docente, provocando alguns efeitos colaterais como a "produção em série" de artigos (Rigo, 2017Rigo, A. S. (2017). Comunidade acadêmica, produtivismo e avaliação por pares. RAE-Revista de Administração de Empresas, 57(5), 510-514. doi:10.1590/s0034-759020170508
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), a coautoria cerimonial (Rossoni, 2018Rossoni, L. (2018). Produtivismo e coautoria cerimonial. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa, 17(2), 1-8. doi:10.21529/RECADM.2018ed2
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) ou o mimetismo do publish ou perish "global" (Alcadipani, 2017Alcadipani, R. (2017). Periódicos brasileiros em inglês: A mímica do publish or perish “global”. RAE-Revista de Administração de Empresas, 57(4), 405-411. doi:10.1590/s0034-759020170410
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), com publicações em inglês em periódicos nacionais que deveriam resistir a essa lógica "global" e valorizar as publicações em português.

Outra discussão relevante envolve a carreira de professor nas universidades brasileiras, sobretudo nas públicas, que é fortemente associada ao ensino. Em muitas instituições, há conflitos departamentais entre professores que atuam e não atuam na pós-graduação, pois, por vezes, esses últimos afirmam que quem atua na pós-graduação tem uma carga de ensino menor na graduação e que, ao priorizarem a pesquisa, estariam relegando o ensino ao segundo plano.

A discussão envolve o paradoxo entre ensino e pesquisa na atuação do professor no contexto da universidade (Alcadipani, 2017Alcadipani, R. (2017). Periódicos brasileiros em inglês: A mímica do publish or perish “global”. RAE-Revista de Administração de Empresas, 57(4), 405-411. doi:10.1590/s0034-759020170410
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; Balkin & Mello, 2012Balkin, D. B., & Mello, J. A. (2012). Facilitating and creating synergies between teaching and research: The role of the academic administrator. Journal of Management Education, 36(4), 471-494.; Braxton, 1996Braxton, J. M. (1996). Contrasting perspectives on the relationship between teaching and research. New Directions for Institutional Research, 1996(90), 5-14. doi:10.1002/ir.37019969003
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; Santos, 2017Santos, G. T. (2017). A aprendizagem da prática docente na pós-graduação em administração. (Tese de Doutorado, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB).; Smeby, 1996; Vroom, 2007Vroom, V. H. (2007). On the synergy between research and teaching. Journal of Management Education, 31(3), 365-375. doi:10.1177/1052562906299170
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), que também é consequência do produtivismo acadêmico, uma vez que, em nível internacional, muitas universidades não atribuem carga horária a atividades de ensino para que o professor priorize as atividades de pesquisa e publicações, e, assim, garantam um bom posicionamento das universidades nos rankings internacionais, atraiam alunos e instituições com aportes financeiros para pesquisa e inovação e avalizem a estabilidade na carreira do professor.

Essa não é a lógica da realidade dos professores da área de Administração no Brasil que realizam atividades em PPGs e desenvolvem atividades de ensino, pesquisa e gestão (Silva & Costa, 2014Silva, A. B., & Costa, F. J. (2014). Itinerários para o desenvolvimento da competência docente na pós-graduação stricto sensu em Administração. Revista Economia & Gestão, 14(34), 30-57. doi:10.5752/P.1984-6606.2014v14n34p30
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) e que, para cumprir os indicadores da CAPES, são pressionados por avaliações institucionais. Além disso, realizam várias atividades que demandam tempo, como reuniões, comissões, avaliação de artigos, participação em bancas, entre outras (Santos, 2017Santos, G. T. (2017). A aprendizagem da prática docente na pós-graduação em administração. (Tese de Doutorado, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB).), as quais interferem na qualidade de vida e bem-estar (De Paula & Boas, 2017De Paula, A. V., & Boas, A. A. V. (2017). Well-being and quality of working life of university professors in Brazil. Quality of life and quality of working life (pp. 187-210). Rijeka: InTech. Recuperado de http://www.intechopen.com/books/quality-of-life-and-quality-ofworking-Life
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).

Alguns professores de universidades brasileiras afirmam que atuar na pós-graduação é uma escolha, sobretudo na universidade pública, mas até quando? O que motiva um professor a atuar na pós-graduação? Seria o status social ou o desejo de contribuição com a formação de novos pesquisadores? Seria a captação de recursos financeiros e de bolsas para a realização de pesquisas ou a busca de reconhecimento da comunidade acadêmica pela sua contribuição ao desenvolvimento de uma área do conhecimento? Poderia ser a recompensa financeira oferecida pela instituição pela publicação de artigos em periódicos de alto impacto, mas ressalta-se que tais recompensas financeiras podem ocorrer apenas no contexto privado, uma vez que, nas universidades públicas, não há diferenças, do ponto de vista da remuneração, para quem atua apenas na graduação ou concomitantemente na graduação e na pós-graduação.

Esse conjunto de fatores depende também das estratégias do PPG, do seu conceito na avaliação da CAPES, além das estratégias individuais de cada pesquisador. Provavelmente, vários fatores atuam de maneira conjunta para ilustrar que uma carreira é, sim, um processo de escolha, mas os fatores motivacionais que levam um professor a atuar na pós-graduação também são influenciados por pressões institucionais, além de ser um sistema que também cria um ambiente de competição, de individualismo e de pressão psicológica para manter um nível elevado de dedicação de tempo para a produtividade e do jogo de poder e de interesses que existe no campo.

Na maioria das instituições de educação superior (IES) brasileiras, a carreira de pesquisador não é regulamentada. Dessa forma, todos são docentes de educação superior, sem haver, de fato, uma identidade definida sobre o que é ser docente na universidade. Existem empresas, por exemplo, em que um administrador entra na base da estrutura da carreira em Y e, com o passar do tempo, ela pode apresentar dois percursos: um mais técnico e outro gerencial. Sabendo disso, segue-se o questionamento: Por que a carreira de professor, sobretudo na universidade pública brasileira, não cria uma estrutura similar, uma vez que muitos professores focalizam sua carreira em atividades de ensino, outros, nas de gestão, e aqueles que vão para a pós-graduação, na maioria das vezes, realizam atividades de ensino, de pesquisa e, em algum momento, de gestão? Para esses últimos, o produtivismo acadêmico é muito mais perverso, pois afeta o tempo de dedicação não apenas à vida profissional, mas também à vida pessoal, com impacto na saúde e bem-estar, acarretando transtornos de ansiedade, síndrome de burnout, depressão, entre outros.

O título deste artigo utiliza a expressão mercadoria performativa porque o produtivismo, como um ato performativo numa acepção pragmática, pode ser associado a uma mercadoria com um valor tangível mensurável de recompensas financeiras pelo bom desempenho, isto é, pela atribuição de valor quantitativo por meio de indicadores e métricas que geram conceitos, como também intangível, associado a representações culturais e simbólicas que influenciam os comportamentos e ações dos agentes envolvidos no contexto da pós-graduação.

A noção de performatividade adotada neste artigo está associada tanto à ação quanto ao desempenho (Bispo, 2016Bispo, M. S., & Costa, F. J. (2016). Artigos como avaliação discente em disciplinas de pós-graduação: Instrumento educativo ou subsistema de linha de montagem? Cadernos EBAPE.BR, 14(4), 1001-1010. doi:10.1590/1679-395141927
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). Como ação, a performatividade do produtivismo surge a partir de um discurso simbólico criado e difundido sobre o que é um professor produtivo, ou seja, aquele que ensina, que pesquisa, que produz, que gerencia várias atividades administrativas e que participa ativamente da comunidade acadêmica. Em relação ao desempenho, a performatividade é consequência de um sistema de interação social no contexto da pós-graduação que premia aqueles que captam recursos por meio de projetos de pesquisa, publicam em periódicos de alto impacto e até recebem recompensas financeiras por isso. A performatividade é constituída a partir da relação entre as atividades, a materialidade e a temporalidade (Gond & Cabantous, 2015Gond, J-P., & Cabantous, L. (2015). Performativity. The Routledge Companion to Philosophy in Organization Studies Routledge. Recuperado de https://www.routledgehandbooks.com/doi/10.4324/9780203795248.ch47
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) existentes no contexto da pós-graduação.

O artigo objetiva analisar o produtivismo acadêmico na pós-graduação a partir de uma perspectiva multinível. A análise considera as várias dimensões que impactam a atuação docente no contexto institucional da pós-graduação e se propõe a revelar que o fenômeno vai além da quantidade de publicações e é complexo, porque deve ser analisado a partir de múltiplas dimensões integradas.

Tendo em vista que a identidade docente na área de Administração ainda não está bem definida e que o ambiente de atuação docente na pós-graduação é marcado por uma diversidade de atividades que geram várias anomalias sobre o significado de ser docente, este artigo apresenta as seguintes contribuições: (a) propõe uma nova perspectiva de análise sobre o produtivismo acadêmico para auxiliar os pesquisadores da área a refletirem sobre o impacto do fenômeno na produtividade e nas condições de trabalho, bem como na saúde e no bem-estar do docente; (b) estimula uma reflexão crítica sobre o processo de avaliação da pós-graduação em discussão na CAPES; e (c) revela a importância prática da discussão nas políticas institucionais e ações gerenciais nas universidades e PPGs em Administração.

O CONFLITO ENTRE ENSINO E PESQUISA E SUA RELAÇÃO COM O PRODUTIVISMO ACADÊMICO

O ambiente de atuação do professor no contexto da universidade brasileira passa por mudanças em decorrência de um conjunto de fatores, sobretudo daqueles vinculados ao desempenho acadêmico e à competitividade em nível institucional. Alguns desses fatores envolvem maior eficiência, produtividade e reputação institucional, que impactam a prática docente em domínios como o ensino e a pesquisa (Balkin & Mello, 2012Balkin, D. B., & Mello, J. A. (2012). Facilitating and creating synergies between teaching and research: The role of the academic administrator. Journal of Management Education, 36(4), 471-494.), uma vez que há uma competição entre pesquisadores, universidades e periódicos em busca de melhores posicionamentos nos rankings acadêmicos (Adler & Harzing, 2009Adler, N. J., & Harzing, A. (2009). When knowledge wins: Transcending the sense and nonsense of academic rankings. Academy of Management Learning & Education,8(1), 72-95. doi:10.5465/amle.2009.37012181
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).

O ambiente institucional das universidades brasileiras é marcado pela busca de maior produtividade científica a partir de pressões realizadas por órgãos do governo, tais como o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e a CAPES, que impactam as políticas internas das universidades, seja em nível de graduação ou de pós-graduação, afetando o trabalho dos professores, que são submetidos a indicadores individuais de desempenho em relação ao ensino e à pesquisa, bem como à sua contribuição para a sociedade. Segundo Leite (2017)Leite, J. L. (2017). Publicar ou perecer: A esfinge do produtivismo acadêmico. Revista Katálysi, 20(2), 207-215. doi:10.1590/1982-02592017v20n2p207
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, as reformas políticas no sistema educacional têm causado problemas físicos e emocionais, que ainda têm recebido pouca atenção no contexto da educação superior.

Autores como Boas e Morin (2013)Boas, A. A. V., & Morin, E. M. (2013). Quality of working life in public higher education institutions: The perception of Brazilian and Canadian professors. International Journal of Business and Social Science, 4(12), 67-77. e De Paula e Boas (2017)De Paula, A. V., & Boas, A. A. V. (2017). Well-being and quality of working life of university professors in Brazil. Quality of life and quality of working life (pp. 187-210). Rijeka: InTech. Recuperado de http://www.intechopen.com/books/quality-of-life-and-quality-ofworking-Life
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destacam que a jornada de trabalho dos professores em geral possui um fator de risco psicológico, que aumenta nas universidades em função das demandas de ensino, pesquisa e publicação, e também da singularidade da atuação profissional da carreira de professor universitário, marcada pela complexidade e pela exaustão física e emocional de sua jornada de trabalho, que impactam a saúde (Godoi & Xavier, 2012Godoi, C. K., & Xavier, W. G. (2012). O produtivismo e suas anomalias. Cadernos EBAPE, 10(2), 456-465.; Leite, 2017Leite, J. L. (2017). Publicar ou perecer: A esfinge do produtivismo acadêmico. Revista Katálysi, 20(2), 207-215. doi:10.1590/1982-02592017v20n2p207
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; Santana, 2011Santana, O. A. (2011). Docentes de pós-graduação: Grupo de risco de doenças cardiovasculares. Acta Scientiarum Education, 33(2), 219-226. doi:10.4025/actascieduc.v33i2.13569
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), o bem-estar (Frenzel et al., 2016Frenzel, A. C., Pekrun, R., Goetz, T., Daniels, L. M., Durksen, T. L., Becker-Kurz, B., & Klassen, R. M. (2016). Measuring teachers’ enjoyment, anger, and anxiety: The Teacher Emotions Scales (TES). Contemporary Educational Psychology, 46, 148-163. doi:10.1016/j.cedpsych.2016.05.003
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), e provocam problemas como estresse e burnout (Pignata, Winefield, Boyd, & Provis, 2018Pignata, S., Winefield, A. H., Boyd, C. M., & Provis, C. (2018). A qualitative study of HR/OHS stress interventions in Australian universities. International Journal of Environment Research and Public Health, 15(1), e103. doi:10.3390/ijerph15010103.
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).

Um dos paradoxos que envolvem o trabalho docente nas universidades, sobretudo dos professores que atuam na pós-graduação, é a relação entre o ensino e a pesquisa, dimensões essenciais do trabalho acadêmico na universidade (Light & Calkins, 2015Light, G., & Calkins, S. (2015). The experience of academic learning: Uneven conceptions of learning across research and teaching. Higher Education, 69(3), 345-359. doi:10.1007/s10734-014-9779-0
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). Essa dicotomia vem sendo abordada há várias décadas como uma consequência da fragmentação e especialização do conhecimento ocorridas sobretudo após a Segunda Guerra Mundial (Neumann, 1992Neumann, R. (1992). Perceptions of the teaching-research nexus: A framework for analysis. Higher Education, 23(2), 159-171. doi:10.1007/BF00143643
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). Essa relação é complexa (Smeby, 1998Smeby, J. C. (1998). Knowledge production and knowledge transmission. The interaction between research and teaching at universities. Teaching inHigher Education, 3(1), 5-20. doi:10.1080/1356215980030101
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) porque existe uma competição ou "rivalidade" entre as atividades de pesquisa e as de ensino (Light, Cox, & Kalkins, 2009Light, G., Cox, R., & Calkins, S. (2009). Learning and teaching in higher education: The reflective professional (2nd ed.). London, UK, and Thousand Oaks, CA: Sage.) envolvendo o tempo, o conteúdo, a atenção e a energia (Balkin & Mello, 2012Balkin, D. B., & Mello, J. A. (2012). Facilitating and creating synergies between teaching and research: The role of the academic administrator. Journal of Management Education, 36(4), 471-494.), o que gera conflito (Vroom, 2007Vroom, V. H. (2007). On the synergy between research and teaching. Journal of Management Education, 31(3), 365-375. doi:10.1177/1052562906299170
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) entre elas.

Braxton (1996)Braxton, J. M. (1996). Contrasting perspectives on the relationship between teaching and research. New Directions for Institutional Research, 1996(90), 5-14. doi:10.1002/ir.37019969003
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estabelece três perspectivas para discutir o paradoxo entre ensino e pesquisa. A primeira reforça que as dimensões de ensino e pesquisa são independentes e que não há relação entre elas. A segunda perspectiva é de conflito, pois ambas envolvem diferentes expectativas e obrigações e, assim, um maior tempo dedicado a uma dimensão provoca um menor tempo de dedicação à outra. A terceira perspectiva é de complementaridade, pois os papéis de ensino e pesquisa são complementares e se reforçam mutuamente. Light e Calkins (2015)Light, G., & Calkins, S. (2015). The experience of academic learning: Uneven conceptions of learning across research and teaching. Higher Education, 69(3), 345-359. doi:10.1007/s10734-014-9779-0
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utilizam a metáfora da corda bamba para explicar que existe uma relação tênue entre a excelência da pesquisa e a qualidade do ensino.

No contexto da educação superior brasileira, esse paradoxo assume uma configuração ainda mais complexa, uma vez que sofre influência de políticas públicas de educação, de políticas internas das universidades, de resoluções específicas dos departamentos acadêmicos e de conflitos de interesses entre professores. A área de Administração Pública e de Empresas, Ciências Contábeis e Turismo da CAPES, por exemplo, estabelecerá descritores e métricas específicas para a avaliação do quadriênio (2017-2020) que ocorrerá em 2021, relacionados às dimensões programa, formação e impacto na sociedade.

Na dimensão “formação”, por exemplo, cada PPG será avaliado a partir de cinco itens. Entretanto, a relação entre ensino e pesquisa em cada PPG já está institucionalizada e pode ser de independência, conflito ou complementaridade, consequência da estratégia de formação adotada, do perfil do corpo docente, dos objetivos do programa e da política institucional da universidade. Essa reflexão sobre a formação é pertinente, pois, para Balkin e Mello (2012)Balkin, D. B., & Mello, J. A. (2012). Facilitating and creating synergies between teaching and research: The role of the academic administrator. Journal of Management Education, 36(4), 471-494., existem fatores determinantes para reforçar a diferenciação entre ensino e pesquisa, com um maior ônus para o primeiro. Os autores ainda destacam que a pesquisa é recompensada globalmente, enquanto o ensino é menos visível externamente.

No contexto da pós-graduação de modo geral, e na área de Administração em particular, essa relação também assume uma perspectiva mais conflitiva, porque há uma compreensão tradicional na área de que o objetivo da pós-graduação é formar pesquisadores e, por isso, a dimensão de ensino acaba assumindo uma posição secundária. Entretanto, formar bons pesquisadores demanda o estabelecimento de um processo de formação e uma concepção de professor que dominem e mobilizem competências teóricas, epistemológicas e metodológicas para a prática de ensino, de pesquisa e produção escrita (Silva & Costa, 2014Silva, A. B., & Costa, F. J. (2014). Itinerários para o desenvolvimento da competência docente na pós-graduação stricto sensu em Administração. Revista Economia & Gestão, 14(34), 30-57. doi:10.5752/P.1984-6606.2014v14n34p30
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) e de supervisão acadêmica e que envolvam as dimensões intelectual, contextual, social, emocional, política e moral (Costa, Sousa, & Silva, 2014Bernardo, M. H. (2014). Produtivismo e precariedade subjetiva na universidade pública: O desgaste mental dos docentes. Psicologia & Sociedade, 26, 129-139. doi:10.1590/S0102-71822014000500014
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).

Em uma pesquisa realizada com professores de PPGs em Administração no Brasil, Santos (2017)Santos, G. T. (2017). A aprendizagem da prática docente na pós-graduação em administração. (Tese de Doutorado, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB). identificou que a prática docente nesse contexto é complexa e envolve um conjunto de saberes (profissionais, curriculares, experienciais e disciplinares) e de papéis (professor, orientador, gestor, avaliador e pesquisador). Dessa forma, a prática docente é multidimensional, pois abrange as dimensões institucional, socioemocional e profissional. O desempenho dos professores no contexto de sua atuação na pós-graduação envolve o desenvolvimento da carreira docente, que está vinculada à prática da pesquisa e ao relacionamento com os pares, à orientação acadêmica, à aprendizagem discente e a uma prática também vocacionada para o ensino, além de um conjunto de atividades acadêmicas relacionadas com a sua atuação profissional.

A caracterização da prática docente na pós-graduação em Administração no Brasil indica a existência de uma multiplicidade de saberes e papéis que, ao mesmo tempo que auxiliam a identificação de uma identidade docente, também envolvem a geração de conflitos de tempo dedicado a cada um dos papéis. O conflito de papéis foi apontado por Hattie e Marsh (1996)Hattie, J., & Marsh, H. W. (1996). The relationship between research and teaching: A meta-analysis. Review of Educational Research, 66(4), 507-542. doi:10.2307/1170652
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como negativo na relação entre saberes e papéis relacionados ao tempo dedicado às atividades acadêmicas. Outro fator apontado pelos autores envolve a personalidade, uma vez que as características do pesquisador também impactam a sua forma de atuar e valorizar mais uma dimensão em relação a outra.

A fragmentação entre ensino, pesquisa e aprendizagem é consequência de um discurso dominante que enfatiza a accountability e a performatividade, e afirma que os acadêmicos precisam ser mais engajados por meio da reflexão crítica e ação. Leathwood e Read (2014)Leathwood, C., & Read, B. (2014). Research policy and academic performativity: Compliance, contestation and complicity. Studies in Higher Education, 38(8), 1162-1174. doi:10.1080/03075079.2013.833025
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indicam que as demandas para a accountability e auditoria são evidentes em vários países no quais a performatividade é um processo de mensuração e avaliação da qualidade do ensino e da pesquisa. É uma visão centrada em um "novo" gerencialismo ou, como afirmam Kalfa, Wilkinson & Gollan (2018)Kalfa, S., Wilkinson, A., & Gollan, P. J. (2018). The academic game: Compliance and resistance in universities. Work, Employment and Society, 32(2), 274-291. doi:10.1177/0950017017695043
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, é um jogo acadêmico que caracteriza o trabalho docente a partir da criação de um ambiente de pressão para o aumento da produtividade da pesquisa e dos resultados (Leathwood & Read, 2014Leathwood, C., & Read, B. (2014). Research policy and academic performativity: Compliance, contestation and complicity. Studies in Higher Education, 38(8), 1162-1174. doi:10.1080/03075079.2013.833025
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).

A performatividade no contexto da pós-graduação está associada a uma cultura de resultados, por meio de métricas que tornam o trabalho acadêmico um produto que pode ser mensurado a partir de indicadores de produtividade. Nesse jogo, a pesquisa acaba sendo vitoriosa porque seus produtos são mais tangíveis e de fácil mensuração. Já o ensino apresenta indicadores mais qualitativos e subjetivos. Mas no Reino Unido, por exemplo, a partir de 2016, foi institucionalizado pelo governo um indicador denominado Teaching Excellence Framework (TEF), que objetiva recompensar a aprendizagem e o ensino de excelência de acordo com um conjunto de métricas (Canning, 2017Canning, J. (2017). The UK Teaching Excellence Framework (TEF) as an illustration of Baudrillard’s hyperreality. Discourse: Studies in the Cultural Politics of Education, 40(3), 319-330. doi:10.1080/01596306.2017.1315054
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; Rudd, 2017Rudd, T. (2017). Teaching Excellence Framework (TEF): Re-examining its logic and considering possible systemic and institutional outcomes. Journal for Critical Education Policy Studies, 15(2), 59-90.). No entanto, o TEF recebe várias críticas em relação a sua efetividade (Canning, 2017Canning, J. (2017). The UK Teaching Excellence Framework (TEF) as an illustration of Baudrillard’s hyperreality. Discourse: Studies in the Cultural Politics of Education, 40(3), 319-330. doi:10.1080/01596306.2017.1315054
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), uma vez que tais indicadores podem padronizar currículos, estabelecer medidas objetivas e padronizadas de desempenho, restringir a prática docente e desumanizar os estudantes.

No contexto da graduação e pós-graduação em Administração, um dos fenômenos que têm chamado atenção de alguns pesquisadores e um dos que mais contribuíram para a geração de conflitos entre os papéis docentes no contexto das universidades foi o produtivismo acadêmico. Na próxima seção, o fenômeno é analisado a partir de uma perspectiva sistêmica e multinível.

PRODUTIVISMO ACADÊMICO NA PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO: ALÉM DO PUBLISH OR PERISH

O produtivismo acadêmico não é um fenômeno recente no contexto institucional das universidades e dos países, sobretudo porque envolve um “jogo” em que governos, universidades e pesquisadores buscam posicionar-se em busca de legitimação, reconhecimento e recompensas. Neste artigo, a discussão sobre o produtivismo acadêmico na pós-graduação em Administração vai além do publish or perish.

O termo "produtivismo acadêmico" é mais conhecido no Brasil, embora a sua origem esteja nos Estados Unidos, sendo associado ao jargão "publique ou pereça". Isso porque os governos desses países institucionalizaram políticas públicas de avaliação da pós-graduação e vincularam as publicações dos professores a indicadores quantitativos de produtividade utilizados por universidades para avaliação de desempenho e crescimento na carreira, como também para a captação de recursos fornecidos por agências públicas ou privadas. Quem não alcançasse bons índices de produtividade acabava perecendo em sua carreira, daí a origem da expressão publish or perish (Paula & Boas, 2017).

Nos últimos anos, muitos pesquisadores discutiram o produtivismo acadêmico associado à dimensão quantitativa das publicações acadêmicas, e muitas críticas surgiram em torno de estratégias como a coautoria cerimonial (Rossoni, 2018Rossoni, L. (2018). Produtivismo e coautoria cerimonial. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa, 17(2), 1-8. doi:10.21529/RECADM.2018ed2
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), a produção de artigos como avaliação dos discentes (Bispo & Costa, 2016Bispo, M. S., & Costa, F. J. (2016). Artigos como avaliação discente em disciplinas de pós-graduação: Instrumento educativo ou subsistema de linha de montagem? Cadernos EBAPE.BR, 14(4), 1001-1010. doi:10.1590/1679-395141927
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), bem como aumentaram as discussões sobre a quantidade e a qualidade da produção científica (Bertero, Caldas, & Wood, 1999Bertero, C. O., Caldas, M. P., & Wood Jr., T. (1999). Produção científica em Administração de Empresas: Provocações, insinuações e contribuições para um debate local. RAC-Revista de Administração Contemporânea,3(1), 147-178. doi:10.1590/S1415-65551999000100009
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; Wood & Costa, 2015Wood, T., Jr., & Costa, C. C. M. (2015). Avaliação do impacto da produção científica de programas selecionados de pós-graduação em Administração por meio do índice H. Revista de Administração, 50(3), 325-337. doi:10.5700/rausp1203
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).

Neste artigo, busca-se ampliar a abrangência do produtivismo acadêmico, que deve ser analisado a partir de uma perspectiva multinível. Parte-se do pressuposto de que a análise do produtivismo acadêmico deve ser multinível porque: (a) pensar o fenômeno só a partir de publicações é desconsiderar que a publicação é um processo que envolve dedicação e tempo à pesquisa, a processos de construção teórica, definição metodológica e análise de fenômenos sociais aplicados, como é o caso na Administração; (b) não pode ser considerado de maneira dissociada das outras dimensões da prática docente, como o ensino e a gestão de atividades acadêmicas e administrativas; (c) depende de condições de trabalho, de pressões institucionais e do ambiente de atuação do professor; e (d) também envolve a natureza humana, pois a produtividade de um pesquisador também impacta a sua satisfação, bem-estar subjetivo e engajamento.

Assim, não se pode tratar o produtivismo acadêmico apenas sob o olhar crítico das publicações ou da ausência delas como um critério de exclusão, mas analisar o fenômeno a partir de uma perspectiva multinível: governamental, institucional e individual.

O produtivismo acadêmico como consequência das políticas públicas governamentais performativas

Nesse nível de análise, o produtivismo acadêmico é incentivado pela existência de sistemas de rankings (Adler & Harzing, 2009Adler, N. J., & Harzing, A. (2009). When knowledge wins: Transcending the sense and nonsense of academic rankings. Academy of Management Learning & Education,8(1), 72-95. doi:10.5465/amle.2009.37012181
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) criados por associações ou governos com políticas de incentivo a publicações (Franzoni, Scellato, & Stephan, 2011Franzoni, C., Scellato G., & Stephan, P. (2011). Changing incentives to publish, Science, 333(6043), 702-703. doi:10.1126/science.1197286
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) e que utilizam indicadores de classificação de periódicos para avaliar o impacto de pesquisas (Nkomo, 2009Nkomo, S. M. (2009). The seductive power of academic journal rankings: Challenges of searching for the otherwise. Academy of Management Learning & Education,8(1), 106-112.) na avaliação de projetos, na avaliação de desempenho dos pesquisadores e na concessão de recursos por agências de pesquisa. Essa perspectiva está relacionada a uma cultura de performatividade (Moreira, 2009Moreira, A. F. (2009). A cultura da performatividade e a avaliação da pós-graduação em educação no Brasil. Educação em Revista, 25(3), 23-42. doi:10.1590/S0102-46982009000300003
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), de regulação como meio de controle, de pressão e de mudanças, cuja principal medida é o desempenho acadêmico a partir de indicadores de resultados, na qual o Estado, em vários países, assume um papel tanto de regulador quanto de auditor do desempenho.

Em alguns casos, o processo ocorre a partir da avaliação do desempenho de grupos de pesquisa e, em outros, são institucionalizados sistemas de recompensas financeiras para as melhores publicações. Então, se o sistema premia as publicações de alto impacto e institucionaliza uma visão mercantilista no sistema da pós-graduação, a sua missão de formar pesquisadores acaba sendo comprometida. Além disso, as instituições utilizam o seu posicionamento em rankings internacionais como estratégia para captar estudantes, pesquisadores mais produtivos e investimentos.

No caso brasileiro, as políticas públicas vinculadas ao produtivismo acadêmico são institucionalizadas pelos Ministérios da Educação (MEC) e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação (MCTIC). A CAPES, vinculada ao MEC, estabelece indicadores de avaliação para a pós-graduação, destina recursos para o Programa de Apoio à Pós-Graduação (Proap), concede bolsas para pesquisadores em vários níveis e estabelece critérios para qualificação de revistas acadêmicas. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), vinculado ao MCTIC, também utiliza indicadores de desempenho docente para concessão de bolsas e de apoio financeiro.

Essa cultura de performatividade impacta a ação do professor e “altera a natureza da alma do professor/pesquisador da pós-graduação, as relações dos docentes uns com os outros, contribuindo para que essas relações se pautem não pela solidariedade, mas pela competição” (Moreira, 2009Moreira, A. F. (2009). A cultura da performatividade e a avaliação da pós-graduação em educação no Brasil. Educação em Revista, 25(3), 23-42. doi:10.1590/S0102-46982009000300003
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, p. 32) e se manifesta tanto na pressão psicológica, no estresse e no ritmo do trabalho docente, como também no assédio moral (Pita, 2010Pita, M. (2010). Estresse laboral, assédio moral e burnout marcam produtivismo. Revista Adusp, 48, 14-27. Recuperado de https://www.adusp.org.br/files/revistas/48/r48a02.pdf
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).

Ainda em nível institucional, o fomento à internacionalização da pesquisa também pode ser considerado uma ação que impacta o produtivismo acadêmico porque incentiva a construção de planos estratégicos de internacionalização e o fortalecimento de redes de pesquisa com pesquisadores internacionais. Um exemplo claro dessa política é o Programa Institucional de Internacionalização - Print (Capes, 2017Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. (2017). Programa Institucional de Internacionalização - CAPES - PrInt. Recuperado de https://www.capes.gov.br/cooperacao-internacional/multinacional/programa-institucional-de-internacionalizacao-capes-print
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), que objetiva aprimorar a qualidade da produção acadêmica da pós-graduação e a mobilidade de pesquisadores.

As políticas públicas institucionais, definidas em nível governamental, são fundamentais para o desenvolvimento de um país e objetivam, sobretudo, melhorar o seu posicionamento nos rankings internacionais de produção científica. Por outro lado, também provocam anomalias em relação ao produtivismo acadêmico quando não são gerenciadas adequadamente, ou quando não oportunizam aos pesquisadores condições de trabalho e apoio financeiro para a gestão da internacionalização.

Espera-se que as mudanças propostas pela CAPES para a avaliação quadrienal em 2021 promovam reflexões na comunidade acadêmica, uma vez que a qualidade e o impacto presente na descrição de itens ligados aos quesitos formação e impacto na sociedade suscitam a valorização de ações qualitativas associadas a uma das dimensões fundamentais das políticas públicas de educação, que é a formação de futuros docentes, seu destino e atuação, e que precisa ser ressignificada no contexto da pós-graduação em Administração visando “contribuir para a solução do problema crônico da formação descompensada” (Silva & Costa, 2014Silva, A. B., & Costa, F. J. (2014). Itinerários para o desenvolvimento da competência docente na pós-graduação stricto sensu em Administração. Revista Economia & Gestão, 14(34), 30-57. doi:10.5752/P.1984-6606.2014v14n34p30
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, p. 35), fruto de um produtivismo acadêmico que pode estar comprometendo as perspectivas de carreira de jovens professores e pesquisadores.

A dimensão institucional do produtivismo cria uma lógica isomórfica em todas as dimensões (coercitiva, mimética e normativa) propostas por Dimaggio e Powell (2005)Dimaggio, P. J., & Powell, W. W. (2005). A gaiola de ferro revisitada: Isomorfismo institucional e racionalidade coletiva nos campos organizacionais. RAE-Revista de Administração de Empresas, 45(2), 74-89., o que é uma realidade na pós-graduação brasileira em geral e na área de Administração e suas subáreas em particular. Essa lógica faz com que o produtivismo acadêmico em nível institucional provoque a geração da precarização do trabalho.

O produtivismo acadêmico e a precarização do trabalho docente nas instituições de educação superior

Em nível institucional, o produtivismo acadêmico tem provocado vários problemas para os pesquisadores porque muitas universidades, departamentos e PPGs pressionam seus docentes para publicar em revistas de alto impacto, uma vez que desejam posicionar-se competitivamente em relação a outras instituições e cursos, como já foi indicado por Nkomo (2009)Nkomo, S. M. (2009). The seductive power of academic journal rankings: Challenges of searching for the otherwise. Academy of Management Learning & Education,8(1), 106-112.. A própria CAPES tem um ranking institucional que classifica os programas a partir de um conceito, o que gera pressão institucional aos professores.

Por outro lado, a falta de condições adequadas de trabalho em grande parte das instituições, sobretudo no contexto das universidades públicas, bem como a necessidade de compatibilizar atividades de ensino com pesquisa, atividades acadêmicas e de gestão, tem gerado um processo de precarização do trabalho docente, uma vez que o tempo de dedicação às várias atividades acaba dificultando a capacidade de dedicação do professor às várias demandas institucionais. A precarização do trabalho docente é mais subjetiva do que objetiva (Bernardo, 2014Bernardo, M. H. (2014). Produtivismo e precariedade subjetiva na universidade pública: O desgaste mental dos docentes. Psicologia & Sociedade, 26, 129-139. doi:10.1590/S0102-71822014000500014
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).

Para Santana (2011)Santana, O. A. (2011). Docentes de pós-graduação: Grupo de risco de doenças cardiovasculares. Acta Scientiarum Education, 33(2), 219-226. doi:10.4025/actascieduc.v33i2.13569
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, a carga horária de trabalho de um professor de pós-graduação é maior que 40 horas semanais de dedicação exclusiva. Tal carga horária é dedicada ao ensino, à supervisão acadêmica, à gestão de projetos de pesquisa, à atuação em cargos administrativos na universidade, à participação em eventos científicos e em bancas de avaliação de dissertações de mestrado e teses de doutorado e à preparação de trabalhos acadêmicos para publicação.

Em um estudo realizado com docentes da pós-graduação em Administração, a partir de uma análise da sociologia da ciência, Melo e Serva (2012)Melo, D., & Serva, M. (2012). A agenda do professor-pesquisador em administração: Uma análise baseada na sociologia da ciência. Cadernos EBAPE, 12(3), 605-632. doi:10.1590/1679-39518559
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contabilizaram que os docentes investigados tinham uma carga horária de aproximadamente 50,65 horas semanais, considerada muito elevada para uma semana. Dessa carga horária semanal, 46% eram destinados ao ensino (preparação e ministração de aulas, orientação), 24%, à pesquisa, 19%, a atividades burocráticas, 8%, à avaliação de artigos e participação em redes de cooperação científica, e 3%, a atividades extras. Um dos resultados mais interessantes e preocupantes revelados na pesquisa é que 47% das horas dedicadas à pesquisa são despendidas nos finais de semana.

O trabalho docente é precarizado porque sua prática profissional é marcada pela diversidade e complexidade das atividades, o que demanda maior versatilidade, dinamismo e alto custo pessoal. Além disso, de acordo com os resultados do estudo, as atividades de pesquisa, consideradas das mais importantes na atuação docente na pós-graduação, ocorrem fora do ambiente de trabalho na universidade, em um espaço social que deveria ser destinado à vida privada. Uma pergunta indicada por Melo e Serva (2012)Melo, D., & Serva, M. (2012). A agenda do professor-pesquisador em administração: Uma análise baseada na sociologia da ciência. Cadernos EBAPE, 12(3), 605-632. doi:10.1590/1679-39518559
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serve como motivadora para a reflexão sobre o assunto: Quais os riscos de ser professor pesquisador nesse contexto, com uma carga horária de trabalho que ultrapassa 50 horas semanais?

O produtivismo acadêmico pode ser associado à precarização do trabalho na pós-graduação, uma vez que o tempo de dedicação dispensado às atividades docentes dificulta a dedicação e a produtividade do professor em relação à pesquisa e vice-versa. Diante desse contexto, algumas estratégias passam a ser adotadas visando atender sobretudo aos indicadores de produção intelectual. Uma delas envolve a coautoria cerimonial (Rossoni, 2018Rossoni, L. (2018). Produtivismo e coautoria cerimonial. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa, 17(2), 1-8. doi:10.21529/RECADM.2018ed2
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), um tipo de coautoria em que o autor não contribui ou, quando muito, apresenta uma contribuição marginal na preparação de um artigo para publicação. Outra envolve a elaboração de artigos em disciplinas, de maneira semelhante a uma linha de montagem de uma fábrica de artigos (Bispo & Costa, 2016Bispo, M. S., & Costa, F. J. (2016). Artigos como avaliação discente em disciplinas de pós-graduação: Instrumento educativo ou subsistema de linha de montagem? Cadernos EBAPE.BR, 14(4), 1001-1010. doi:10.1590/1679-395141927
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). Reflexões em torno da produção intelectual associada ao produtivismo também podem ser encontradas em Alcadipani (2011)Alcadipani, R. (2011). Resistir ao produtivismo: Uma ode à perturbação acadêmica. Cadernos EBAPE.BR, 9(4), 1174-1178. doi:10.1590/S1679-39512011000400015
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e Godoi e Xavier (2012)Godoi, C. K., & Xavier, W. G. (2012). O produtivismo e suas anomalias. Cadernos EBAPE, 10(2), 456-465..

A pressão para publicar pode acabar comprometendo uma das dimensões mais importantes e essenciais para a pós-graduação: a formação dos alunos em atividades de ensino. Por outro lado, o ensino precisa ser repensado, pois é comum, em muitos PPGs em Administração, os professores indicarem uma quantidade excessiva de textos, muitos deles publicados em inglês, e as aulas acabarem sendo um evento de discussão de textos pelos alunos, por meio de seminários, levando-os a assumirem um papel mais ativo na condução da aula.

Qual o papel do professor no ensino da pós-graduação em Administração? Como despertar o espírito crítico e reflexivo dos alunos a partir de discussões teóricas de um tema ou subárea de conhecimento, de modo que auxiliem os alunos a serem os protagonistas do processo de aprendizagem? O tempo de dedicação ao ensino acaba sendo comprometido por uma lógica produtivista criada por um sistema em que os indicadores estabelecidos pelos professores da própria área determinam alguns padrões de comportamento, levando o professor a adotar estratégias de ensino que não promovem o desenvolvimento de competências teóricas, epistemológicas ou metodológicas (Silva & Costa, 2014Silva, A. B., & Costa, F. J. (2014). Itinerários para o desenvolvimento da competência docente na pós-graduação stricto sensu em Administração. Revista Economia & Gestão, 14(34), 30-57. doi:10.5752/P.1984-6606.2014v14n34p30
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), por exemplo, ou um processo de aprendizagem mais significativo e transformador (Lima & Silva, 2018Lima, T. B., & Silva, A. B. (2018). Como os mestrandos aprendem? Significados e transformações em um programa de pós-graduação em administração. Reunir: Revista de Administração, Contabilidade e Sustentabilidade,8(1), 36-55. doi:10.18696/reunir.v8i1.518
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).

Esse contexto pode criar anomalias na formação de jovens pesquisadores, que aprendem, por exemplo, a elaborar artigos como requisito para finalização de disciplinas (Bispo & Costa, 2016Bispo, M. S., & Costa, F. J. (2016). Artigos como avaliação discente em disciplinas de pós-graduação: Instrumento educativo ou subsistema de linha de montagem? Cadernos EBAPE.BR, 14(4), 1001-1010. doi:10.1590/1679-395141927
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), por vezes com baixo impacto de contribuição para a área, mas que têm dificuldade de serem aprovados em provas de concurso público para o cargo de professor adjunto em virtude do baixo nível de competência teórica e substantiva de uma área de conhecimento da Administração.

Vale ressaltar que a lógica da precarização do trabalho no contexto dos PPGs também causa anomalias associadas à saúde e ao bem-estar no trabalho. Muitos professores vivenciam problemas de saúde que estão intimamente associados às suas condições de trabalho, e o mais grave é que esses problemas acabam também afetando a saúde dos alunos, criando um círculo vicioso de adoecimento físico e mental. Essa perspectiva caracteriza a dimensão individual do produtivismo acadêmico.

O produtivismo acadêmico, o bem-estar e a saúde do professor: publicar é preciso, mas viver bem também é preciso

A lógica do produtivismo associado à publicação tem consideráveis implicações para o docente. Miller, Taylor e Bedeian (2011)Miller, A. N., Taylor, S. G., & Bedeian, A. G. (2011). Publish or perish: Academic life as management faculty live it. Career Development International, 16(5), 422-445. doi:10.1108/13620431111167751
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analisaram o efeito da pressão para publicação de artigos e encontraram uma relação positiva com o estresse (uma tensão mental associada à pressão) e o burnout (sentimento de exaustão emocional decorrente da pressão para publicar) e uma relação negativa com a satisfação quanto ao processo de publicação. Isso indica que há uma relação entre o ambiente de pressão para publicar e as consequências no bem-estar dos professores. Muitos professores acabam não compartilhando seus problemas de saúde físicos e psicológicos ou demoram a reconhecê-los “por medo de serem vistos como incapazes” (Pita, 2010Pita, M. (2010). Estresse laboral, assédio moral e burnout marcam produtivismo. Revista Adusp, 48, 14-27. Recuperado de https://www.adusp.org.br/files/revistas/48/r48a02.pdf
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, p. 15).

Na dimensão individual do produtivismo acadêmico, analisa-se o impacto da produtividade na saúde e bem-estar dos professores. Refletir sobre o nível individual é fundamental, uma vez que a liberdade de escolha de um professor em atuar ou não na pós-graduação é marcada tanto por dilemas profissionais em torno da carreira como por fatores associados à vida privada.

De Paula e Boas (2017)De Paula, A. V., & Boas, A. A. V. (2017). Well-being and quality of working life of university professors in Brazil. Quality of life and quality of working life (pp. 187-210). Rijeka: InTech. Recuperado de http://www.intechopen.com/books/quality-of-life-and-quality-ofworking-Life
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destacam que o contexto de precarização do trabalho traz consequências para a saúde física e mental dos professores e pode provocar vários transtornos mentais e comportamentais, tais como depressão, ansiedade, estresse, alcoolismo, o que também já foi abordado por Sguissardi e Silva (2009)Sguissardi, V., & Silva, J. R., Junior. (2009). Trabalho intensificado nas federais: Pós-graduação e produtivismo acadêmico. São Paulo, SP: Xamã., Santana (2011)Santana, O. A. (2011). Docentes de pós-graduação: Grupo de risco de doenças cardiovasculares. Acta Scientiarum Education, 33(2), 219-226. doi:10.4025/actascieduc.v33i2.13569
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, Godoi e Xavier (2012)Godoi, C. K., & Xavier, W. G. (2012). O produtivismo e suas anomalias. Cadernos EBAPE, 10(2), 456-465., Bernardo (2014)Bernardo, M. H. (2014). Produtivismo e precariedade subjetiva na universidade pública: O desgaste mental dos docentes. Psicologia & Sociedade, 26, 129-139. doi:10.1590/S0102-71822014000500014
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e Rigo (2017)Rigo, A. S. (2017). Comunidade acadêmica, produtivismo e avaliação por pares. RAE-Revista de Administração de Empresas, 57(5), 510-514. doi:10.1590/s0034-759020170508
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. Os problemas de saúde dos docentes também podem afetar as relações com os discentes e até levá-los a desenvolver transtornos mentais e comportamentais, criando um círculo vicioso que prejudica todo o sistema de pós-graduação.

Sguissardi e Silva (2009)Sguissardi, V., & Silva, J. R., Junior. (2009). Trabalho intensificado nas federais: Pós-graduação e produtivismo acadêmico. São Paulo, SP: Xamã., após realizarem uma pesquisa com professores de sete instituições federais, concluíram que a precarização do trabalho docente tem provocado problemas existenciais, de saúde, de vida privada, de sofrimento psíquico e de relacionamento. Santana (2011)Santana, O. A. (2011). Docentes de pós-graduação: Grupo de risco de doenças cardiovasculares. Acta Scientiarum Education, 33(2), 219-226. doi:10.4025/actascieduc.v33i2.13569
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realizou um estudo com 914 pesquisadores de produtividade em pesquisa do CNPq e teve sua hipótese confirmada de que quanto maior a produção intelectual e o número de alunos orientados, maiores as ocorrências médias de intervenção cardíaca, doenças coronárias e acidentes cerebrais (hemorrágicos e isquêmicos). Esses problemas ocorrem pela ausência de atividades físicas, pela falta de uma dieta equilibrada e balanceada e pela ausência de consultas médicas, justificadas pelo excesso de trabalho e pela necessidade de manter os indicadores de qualidade dos PPGs e os currículos atualizados.

Para Godoi e Xavier (2012)Godoi, C. K., & Xavier, W. G. (2012). O produtivismo e suas anomalias. Cadernos EBAPE, 10(2), 456-465., tais comportamentos são suicidas e configuram-se como consequências de um conjunto de anomalias na saúde do professor pesquisador, concluindo que é urgente refletir sobre os efeitos na vida pessoal gerados pelo excesso de trabalho. Para atender às políticas governamentais e institucionais que regem a atuação no sistema de pós-graduação, os docentes necessitam manejar melhor suas emoções e encontrar alternativas para preservar seu bem-estar.

Em um estudo realizado com professores de uma universidade pública federal, Bernardo (2014)Bernardo, M. H. (2014). Produtivismo e precariedade subjetiva na universidade pública: O desgaste mental dos docentes. Psicologia & Sociedade, 26, 129-139. doi:10.1590/S0102-71822014000500014
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analisou a precariedade subjetiva dos docentes e constatou a existência de um desgaste mental, sofrimento psíquico e adoecimento, o que é ratificado por Rigo (2017)Rigo, A. S. (2017). Comunidade acadêmica, produtivismo e avaliação por pares. RAE-Revista de Administração de Empresas, 57(5), 510-514. doi:10.1590/s0034-759020170508
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ao destacar que a "política" do produtivismo acadêmico provoca efeitos na psique e na saúde dos pesquisadores.

A partir da compreensão do termo perish como representando a exclusão de um professor do sistema quando não alcança os indicadores de publicação, nessa dimensão do produtivismo acadêmico, perecer não significa apenas ser excluído do sistema, mas um processo de adoecimento físico e emocional que, muitas vezes, assume uma dimensão invisível na prática docente, porque o professor não reconhece os problemas físicos e emocionais ou estabelece um processo de evitação emocional visando não enfrentar o problema. No longo prazo, transtornos emocionais e comportamentais decorrentes do estresse (Pignata et al., 2018Pignata, S., Winefield, A. H., Boyd, C. M., & Provis, C. (2018). A qualitative study of HR/OHS stress interventions in Australian universities. International Journal of Environment Research and Public Health, 15(1), e103. doi:10.3390/ijerph15010103.
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) e do burnout (Chang, 2009Chang, M. (2009). An appraisal perspective of teacher burnout: Examining the emotional work of teachers. Educational Psychology Review, 21(3), 193-218. doi:10.1007/s10648-009-9106-y
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; Ghanizadeh & Hahedizadeh, 2005), por exemplo, podem levar ao afastamento do trabalho porque essa última é “uma síndrome causada por estresse prolongado e é relacionada com o ambiente de trabalho” (Chang, 2009Chang, M. (2009). An appraisal perspective of teacher burnout: Examining the emotional work of teachers. Educational Psychology Review, 21(3), 193-218. doi:10.1007/s10648-009-9106-y
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).

Na Administração, muitos professores seniores que tiveram uma grande contribuição na formação de professores e pesquisadores da área são excluídos da pós-graduação porque não atendem mais os critérios de produção intelectual. Aliás, muitos deles adoeceram ao longo de sua vida, e uma das consequências desses problemas é a diminuição da produção intelectual, a qual não é um processo mecânico ou não deveria ser, mas sim um processo intelectual de reflexão. Apesar de serem excelentes professores da pós-graduação, admirados pelos alunos como referência, tais professores acabam sendo excluídos do sistema e tratados como uma "mercadoria" que perdeu o seu valor, mas não deveriam ser excluídos do sistema apenas pela baixa produção intelectual, pois sua expertise em outras dimensões, como ensino, orientação e gestão, deveriam ser avaliadas como fundamentais para o desempenho de um PPG.

Essa é uma face do produtivismo acadêmico que precisa ser pesquisada e discutida tanto em nível institucional, como nos fóruns da CAPES, dos eventos da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ANPAD), entre outros, como no contexto das universidades e programas de pós-graduação.

REFLEXÕES FINAIS: PARA ONDE VAMOS?

A pós-graduação no Brasil vivencia momentos de crise, que não está associada apenas à falta de recursos, mas também à necessidade de melhor delimitação dos itinerários formativos de professores e pesquisadores em todas as áreas do conhecimento. Na Administração, a discussão em torno da formação do professor e pesquisador já vem sendo abordada em publicações e em fóruns realizados no âmbito de eventos da ANPAD, sobretudo o Encontro Nacional de Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade (EnEPQ), e no fórum dos PPGs da Sociedade Brasileira de Administração Pública (SBAP).

Por ser um fenômeno multinível, o produtivismo acadêmico está se transformando num dos grandes desafios da pós-graduação no Brasil, sobretudo pelas consequências que pode provocar para as instituições, docentes e discentes. Essa discussão deve fazer parte da agenda dos programas de pós-graduação, dos representantes da área na CAPES e também dos gestores universitários e das agências de fomento (CAPES e CNPq).

A partir das reflexões apresentadas neste artigo, considera-se o produtivismo acadêmico multinível como um fenômeno complexo decorrente de políticas governamentais e ações institucionais performativas, que envolvem não apenas a quantidade e a qualidade da produção intelectual, mas também os indicadores de produtividade de ensino, pesquisa, orientação e demais atividades acadêmicas do trabalho docente que são isomorficamente institucionalizadas e afetam as condições de trabalho, o bem-estar físico e psicológico dos agentes que integram o contexto da pós-graduação.

O fenômeno é sistêmico e multinível porque influencia e é influenciado por vários agentes, como o governo, as IES com programas credenciados pela CAPES, os colegiados, os coordenadores e os professores dos programas. O produtivismo também possui várias dimensões, mas a produção intelectual assume um papel predominante e de maior valorização para grande parte da comunidade acadêmica da área.

Ao discutir o produtivismo a partir de uma perspectiva multinível, espera-se chamar a atenção dos pesquisadores da área para o fato de que a principal vítima do produtivismo acadêmico é o professor, e refletir sobre as consequências do sistema em sua saúde e bem-estar é um alerta para pensar o futuro da pós-graduação.

Assim, o grande desafio para todos os pesquisadores da área de Administração e suas subáreas é fomentar fóruns para discutir alternativas ao produtivismo acadêmico, e a primeira delas envolve discutir o processo de avaliação da área. Romper a lógica produtivista não é um processo fácil, até porque há uma relação de dependência entre a comunidade de uma determinada área de conhecimento e a dimensão do produtivismo em nível institucional, no contexto das políticas públicas e das estratégias de posicionamento do país em rankings de produtividade intelectual em nível mundial.

A produtividade intelectual é hoje o principal instrumento de uma orientação produtivista vigente nos programas de pós-graduação. Devemos refletir sobre o custo pessoal que essa lógica pode provocar na relação entre o trabalho e a vida pessoal, a saúde e a doença, a felicidade e a depressão. Por outro lado, essa noção de produtivismo acadêmico atinge muitos professores experientes no ensino e na pesquisa na pós-graduação em Administração, que, em função da redução da produtividade acadêmica e das perspectivas de aposentadoria, reduzem o interesse pela produtividade acadêmica e acabam sendo "descartados" pelos programas de pós-graduação, desconsiderando sua trajetória e seu legado como professor e pesquisador.

Recuperar a identidade docente na pós-graduação em Administração é uma oportunidade de repensar a sua missão e seus valores, assim como perceber que os futuros mestres e doutores devem ser formados para resgatar o ensino e a pesquisa como dimensões integradas e indissociáveis da prática docente. Entretanto, essa realidade pode estar ficando cada vez mais distante, porque o ambiente de formação discente é marcado mais pela pressão e pelo sofrimento psíquico do que por um processo de desenvolvimento acadêmico consistente teórica e epistemologicamente.

Esse ambiente está sendo criado porque publicar é preciso, mas os alunos acabam produzindo artigos que não contribuem para o avanço da área, servindo apenas para "engordar" seus currículos e contribuir com alguns pontos para o currículo de professores e orientadores. Esse comportamento só enfatiza a lógica de coautoria cerimonial já discutida anteriormente, como também pode criar uma linha de montagem para produção intelectual que não agrega valor ao conhecimento substantivo da área.

A produção intelectual na pós-graduação no Brasil tornou-se uma anomalia criada pelo sistema de recompensas das instituições, pelos critérios de avaliação da CAPES e também pelos critérios de avaliação de projetos e de bolsas de produtividade em pesquisa, cujas consequências já foram discutidas por vários pesquisadores, a exemplo de Alcadipani (2017)Alcadipani, R. (2017). Periódicos brasileiros em inglês: A mímica do publish or perish “global”. RAE-Revista de Administração de Empresas, 57(4), 405-411. doi:10.1590/s0034-759020170410
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, Rigo (2017)Rigo, A. S. (2017). Comunidade acadêmica, produtivismo e avaliação por pares. RAE-Revista de Administração de Empresas, 57(5), 510-514. doi:10.1590/s0034-759020170508
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, Rossoni (2018)Rossoni, L. (2018). Produtivismo e coautoria cerimonial. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa, 17(2), 1-8. doi:10.21529/RECADM.2018ed2
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e Bispo (2018)Bispo, M. S. (2018). Se publicar é preciso, avaliar também é! RAE-Revista de Administração de Empresas, 58(4), 438-442. doi:10.1590/s0034-759020180409
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, o que demanda uma reflexão crítica da comunidade acadêmica sobre os rumos dos processos de avaliação da pós-graduação, dos periódicos e dos pesquisadores.

Será que ainda prevalece a máxima “A CAPES somos nós!”, e a nossa realidade é socialmente construída ou imposta por um processo institucional e reificado que nos torna produtores e consumidores de uma mercadoria performativa chamada produtivismo acadêmico? Que estratégias coletivas podemos pensar para enfrentar as consequências do produtivismo? Será que as dimensões e indicadores propostos para a próxima avaliação quadrienal em 2021 promoverão mudanças na concepção do produtivismo acadêmico vigente no contexto da pós-graduação no Brasil?

Nas reflexões finais deste artigo, o questionamento "Para onde vamos?" envolve possibilidades, percursos e itinerários que a própria área deve construir e que se materializarão em indicadores de avaliação. Espera-se, assim, que a proposta de análise do produtivismo acadêmico multinível sirva de alerta, porque a trajetória da pós-graduação na área de Administração é responsabilidade de cada docente que integra a comunidade, e conciliar interesses não é um processo fácil.

É possível pensar estratégias que minimizem o impacto do produtivismo acadêmico multinível na pós-graduação em Administração, desde que a comunidade acadêmica da área discuta, por meio de fóruns, alternativas à mercadoria performativa dos pontos, das métricas e dos conceitos e reflita sobre estratégias e ações para a formação acadêmica e seu potencial de impacto econômico, social e cultural para o País, considerando a diversidade e o contexto regional.

Repensar, por exemplo, o impacto econômico, cultural e social de um programa de pós-graduação, que, como mercadoria, ainda tem um peso pouco expressivo na avaliação, como também o comprometimento do corpo docente no processo de formação no programa, são algumas diretrizes que podem servir de referência para o início de um debate na comunidade.

Valorizar a atuação dos grupos de pesquisa na avaliação da CAPES também é uma alternativa para reconhecer o trabalho conjunto e ativo de pesquisadores de um PPG, a partir dos resultados alcançados por meio das ações de formação, de interação com a comunidade, da participação de discentes.

O produtivismo acadêmico multinível é muito mais do que o jargão “publish or perish”. É um ato performativo que institucionaliza um conjunto de ações e comportamentos, caracteriza uma forma de representação social de uma área do conhecimento, delimita um sistema de crenças e valores orientados para uma cultura performativa incorporada socialmente na ação de agentes públicos, privados e PPGs e afeta as condições de trabalho, a saúde, o bem-estar e a carreira de professores que integram a comunidade da área.

Temos que encontrar caminhos alternativos para “desnaturalizar” essa lógica performativa, criar um espaço de reflexão para definir estratégias para compatibilizar o desempenho acadêmico, boas condições e relações de trabalho, ações para preservar a qualidade de vida e a saúde de professores e alunos para tornar a pós-graduação um espaço social mediado por experiências prazerosas para educar e formar professores e pesquisadores na busca de uma sociedade melhor para todos.

NOTA DE AGRADECIMENTO

Este artigo é parte de uma pesquisa que recebeu apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), por meio do Programa Estágio Sênior no Exterior (processo n. 88881.119133/2016-01).

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Editado por

Este artigo tem autoria de um membro do Corpo Editorial da RAE, foi avaliado em double blind review, com isenção e independência. Editor Científico: Diogo Henrique Helal

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Nov 2019
  • Data do Fascículo
    Sep-Oct 2019

Histórico

  • Recebido
    28 Dez 2018
  • Aceito
    01 Jul 2019
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