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Aspirina para prevenção cardiovascular primária

Diretrizes

Clínica Médica

ASPIRINA PARA PREVENÇÃO CARDIOVASCULAR PRIMÁRIA

Entende-se por prevenção cardiovascular primária aquela realizada em pessoas sem doença cardiovascular prévia. A "U.S. Preventive Services Task Force" realizou recentemente meta-análise1 de cinco "trials" randomizados (mais de 50000 pessoas). Verificou que aspirina reduziu o "end point" combinado de infarto não fatal e morte por doença coronariana em 28% (odds ratio=0.72, 95% CI, 0.60 a 0.87). Contudo, aumentou o risco de acidente vascular cerebral hemorrágico em 40% (odds ratio=1.4, 95% CI, 0.9 a 2.0) e hemorragia gastro-intestinal em 70% (odds ratio=1.7, 95% CI, 1.4 a 2.1). Não houve redução significante sobre mortes de todas causas (odds ratio=0.93, 95% CI, 0.84 a 1.02).

O "Guidelines" 2 conclui que balanço entre benefícios e danos é mais favorável em pessoas com elevado risco para doença coronariana (risco ³ 3% em 5 anos 3).

Comentário

Em nossa opinião, as conclusões do "Guidelines" 2 deixam margem a interpretações subjetivas, conforme o leitor poderá verificar no texto original 1,2. Assim, deixamos a seguir resumo objetivo, seguindo nossa análise clínica: 1) Benéfico foi claramente evidente apenas em homens abaixo de 70 anos e com elevado risco de doença coronariana (risco em 5 anos ³ 3% 3). Este risco pode ser calculado por fórmula 3 à base de escores de fatores de risco, a qual calcula o risco percentual para 10 anos. Para se obter o risco para 5 anos, basta dividir o resultado percentual encontrado por dois. 2) Benéfico não foi claro para mulheres de qualquer idade e para pessoas de ambos os sexos com mais de 70 anos. Assim, a princípio, não deve ser aplicada nestes casos, embora o "Guidelines" sugira que em casos com riscos muito elevados pode haver benefício. 3) Em pacientes com Hipertensão Arterial fora de controle não deve ser utilizada, pois claramente facilita acidentes vasculares hemorrágicos.

A dose ideal de aspirina não é conhecida. "Trials" de prevenção primária e secundária têm utilizado doses entre 75 e 325 mg por dia. Não há provas que preparações de liberação entérica reduzam as complicações da droga. Dose única de 200 mg são capazes de bloquear, por reação irreversível, todas as plaquetas circulantes. Como a vida média das plaquetas circulantes é de 10 a 14 dias, 75 ou 100 mg diárias são mais que suficientes para bloquearem todas as novas plaquetas lançadas em circulação por dia. Assim, para efeitos preventivos, doses baixas, como 75 a 100 mg ao dia, parecem ideais.

CAIO BRITO VIANNA

Referências

1. Events: a Summary of the Evidence for the U.S. Preventive Services Task Force. Ann Intern Med 2002; 136:161-72.

2. Hayden M, Pignone M, Phillips C, Mulrow C. Aspirin for the Primary Prevention of Cardiovascular U.S. Preventive Services Task. Aspirin for the Primary Prevention of Cardiovascular Events: recommendation and rationale. Ann Intern Med 2002; 136: 157-60.

3. Wilson PW, D'Agostino RB, Levy D, Belanger AM, Silbershatz H, Kannel WB. Prediction of coronary heart disease using risk factor categories. Circulation 1998; 97: 1837-47.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Set 2002
  • Data do Fascículo
    Jun 2002
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