Acessibilidade / Reportar erro

Ultrassonografia intraoperatória para identificar tumor residual em ressecção de glioma

INTRODUÇÃO

Uma série de trabalhos recentes publicados no Brasil tem ressaltado a importância dos métodos de imagem na avaliação dos tumores cerebrais(11 Queiroz RM, Abud LG, Abud TG, et al. Burkitt-like lymphoma of the brain mimicking an intraventricular colloid cyst. Radiol Bras. 2017;50:413-4.

2 Abreu PP, Muniz BC, Ventura N, et al. Intraventricular ganglioglioma with dissemination of cerebrospinal fluid. Radiol Bras. 2018;51:272-3.
-33 Niemeyer B, Muniz BC, Ventura N, et al. Papillary tumor of the pineal region accompanied by Parinaud's syndrome: magnetic resonance imaging findings. Radiol Bras. 2018;51:202-4.). O glioma é responsável por cerca de 40% dos tumores do sistema nervoso central e 70% dos tumores cerebrais malignos(44 Ostrom QT, Gittleman H, Liao P, et al. CBTRUS statistical report: primary brain and central nervous system tumors diagnosed in the United States in 2007-2011. Neuro Oncol. 2014;16 Suppl 4:iv1-63.), cujos protocolos de tratamento envolvem ressecção cirúrgica, radioterapia e quimioterapia(55 Erdogan N, Tucer B, Mavili E, et al. Ultrasound guidance in intra­cranial tumor resection: correlation with postoperative magnetic resonance findings. Acta Radiol. 2005;46:743-9.). O objetivo primário do tratamento é o aumento da sobrevida por meio da ressecção total do tumor. Porém, fazer a discriminação intraoperatória entre o tecido tumoral e o cérebro circundante com um microscópio cirúrgico pode ser muito difícil(55 Erdogan N, Tucer B, Mavili E, et al. Ultrasound guidance in intra­cranial tumor resection: correlation with postoperative magnetic resonance findings. Acta Radiol. 2005;46:743-9.) .

A localização precisa do tumor e a identificação de seus limites são necessárias para melhorar as estratégias cirúrgicas. As imagens em tempo real e as propriedades da ultrassonografia intraoperatória (USIO) são amplamente utilizadas na localização do tumor, monitoramento de resíduos, orientação da biópsia por aspiração e fluxo sanguíneo do glioma intracraniano(66 Regelsberger J, Lohmann F, Helmke K, et al. Ultrasound-guided surgery of deep seated brain lesions. Eur J Ultrasound. 2000;12:115-21.,77 Sosna J, Barth MM, Kruskal JB, et al. Intraoperative sonography for neurosurgery. J Ultrasound Med. 2005;24:1671-82.), além de ser um método relativamente simples de operar e ter a possibilidade de ser realizado repetidamente. Em comparação, a ressonância magnética intraoperatória e o sistema de posicionamento de navegação (neuronavegador) são limitados pelo custo e precisam evitar o viés das alterações morfoestruturais do encéfalo após a abertura do crânio e de suas meninges na detecção de restos de glioma(88 Zhang G, Li Z, Si D, et al. Diagnostic ability of intraoperative ultrasound for identifying tumor residual in glioma surgery operation. Oncotarget. 2017;8:73105-14.,99 Gerganov VM, Samii A, Akbarian A, et al. Reliability of intraoperative high-resolution 2D ultrasound as an alternative to high-field strength MR imaging for tumor resection control: a prospective comparative study. J Neurosurg. 2009;111:512-9.). Nos últimos anos, a aplicação de equipamentos de detecção de tumores residuais pode diminuir a taxa de degeneração maligna, prolongar o tempo médio de sobrevivência e o intervalo livre de progressão por meio da excisão radical(55 Erdogan N, Tucer B, Mavili E, et al. Ultrasound guidance in intra­cranial tumor resection: correlation with postoperative magnetic resonance findings. Acta Radiol. 2005;46:743-9.,88 Zhang G, Li Z, Si D, et al. Diagnostic ability of intraoperative ultrasound for identifying tumor residual in glioma surgery operation. Oncotarget. 2017;8:73105-14.).

A USIO possui excelente acurácia diagnóstica na identificação de remanescentes tumorais de gliomas, especialmente de baixo grau, o que representa um benefício para o prognóstico e a qualidade de vida dos pacientes. Portanto, a USIO é uma ferramenta eficaz, segura e de baixo custo para maximizar a extensão da ressecção de glioma cerebral88 Zhang G, Li Z, Si D, et al. Diagnostic ability of intraoperative ultrasound for identifying tumor residual in glioma surgery operation. Oncotarget. 2017;8:73105-14..

PROCEDIMENTO

A decisão da ressecção cirúrgica é definida por uma equipe multidisciplinar (radiologista intervencionista, neurocirurgião e oncologista). A posição do paciente durante a cirurgia é decidida com base na localização do tumor demonstrada em exames prévios, em geral ressonância magnética de encéfalo. Após a craniotomia, um radiologista é incluído na equipe para assistência ultrassonográfica. A USIO é realizada com transdutor de baixa frequência (Figura 1A) para os casos mais profundos e de alta frequência (Figura 1B) nos casos de lesões corticossubcorticais. Os transdutores são protegidos por plásticos esterilizados e é feita irrigação com solução salina no tecido encefálico, para melhorar a interface com os transdutores e, consequentemente, a qualidade das imagens. Antes da abertura da dura- máter, é feita varredura ultrassonográfica para identificar a textura do parênquima tumoral, delimitar e avaliar seu volume, margens e relações com tecidos adjacentes (Figura 2A). Após a cirurgia, as bordas da cavidade são reavaliadas por USIO para identificar possível tecido tumoral residual e/ou hematomas (Figura 2B). Para evitar artefatos, todos os corpos estranhos são removidos da cavidade de ressecção antes de qualquer aquisição de imagem. O achado ultrassonográfico que caracteriza o tumor residual é composto por uma região irregular e hiperecogênica, maior que 5 mm de espessura, que se estende para os tecidos cerebrais adjacentes à cavidade formada pela ressecção tumoral. Não há aumento significativo no tempo total de cirurgia devido ao procedimento e nenhum prejuízo ao paciente.

Figura 1
Transdutores utilizados no procedimento: convexo de baixa frequência (A) e linear de alta frequência (B).

Figura 2
A: USIO com transdutor linear de alta frequência mostra tumor cerebral primário (glioma). B: Controle pós-cirúrgico mostra cavidade porencefálica (repleta de soro), sem indícios de lesões residuais.

REFERENCES

  • 1
    Queiroz RM, Abud LG, Abud TG, et al. Burkitt-like lymphoma of the brain mimicking an intraventricular colloid cyst. Radiol Bras. 2017;50:413-4.
  • 2
    Abreu PP, Muniz BC, Ventura N, et al. Intraventricular ganglioglioma with dissemination of cerebrospinal fluid. Radiol Bras. 2018;51:272-3.
  • 3
    Niemeyer B, Muniz BC, Ventura N, et al. Papillary tumor of the pineal region accompanied by Parinaud's syndrome: magnetic resonance imaging findings. Radiol Bras. 2018;51:202-4.
  • 4
    Ostrom QT, Gittleman H, Liao P, et al. CBTRUS statistical report: primary brain and central nervous system tumors diagnosed in the United States in 2007-2011. Neuro Oncol. 2014;16 Suppl 4:iv1-63.
  • 5
    Erdogan N, Tucer B, Mavili E, et al. Ultrasound guidance in intra­cranial tumor resection: correlation with postoperative magnetic resonance findings. Acta Radiol. 2005;46:743-9.
  • 6
    Regelsberger J, Lohmann F, Helmke K, et al. Ultrasound-guided surgery of deep seated brain lesions. Eur J Ultrasound. 2000;12:115-21.
  • 7
    Sosna J, Barth MM, Kruskal JB, et al. Intraoperative sonography for neurosurgery. J Ultrasound Med. 2005;24:1671-82.
  • 8
    Zhang G, Li Z, Si D, et al. Diagnostic ability of intraoperative ultrasound for identifying tumor residual in glioma surgery operation. Oncotarget. 2017;8:73105-14.
  • 9
    Gerganov VM, Samii A, Akbarian A, et al. Reliability of intraoperative high-resolution 2D ultrasound as an alternative to high-field strength MR imaging for tumor resection control: a prospective comparative study. J Neurosurg. 2009;111:512-9.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Ago 2019
  • Data do Fascículo
    Sep-Oct 2019

Histórico

  • Recebido
    26 Mar 2018
  • Aceito
    11 Jun 2018
Publicação do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem Av. Paulista, 37 - 7º andar - conjunto 71, 01311-902 - São Paulo - SP, Tel.: +55 11 3372-4541, Fax: 3285-1690, Fax: +55 11 3285-1690 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: radiologiabrasileira@cbr.org.br