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Modelos do gelo e transições de fase

Ice Models and phase transitions

Resumos

Nesse trabalho consideramos modelos estatísticos unidimensionais, em particular os modelos do gelo de seis e oito vértices, cujas funções de partição podem ser escritas em termos de uma matriz de transferência, e que exibem o fenômeno de transição de fases.

Palavras-chave:
Modelos do gelo; autovalor maximal; transição de fase


In this work we consider one-dimensional statistical models, in particular the six and eight vertex ice models, whose partition functions can be written in terms of a transfer matrix, and which exhibit the transition phenomenon of phases.

Keywords
Ice models; maximal eigenvalue; phase transition


1. Introdução

Experimentalmente, a baixas temperaturas, um sistema ferromagnético pode se manter magnetizado indefinidamente – tratando-se de uma magnetização espontânea a campo magnético nulo, uma vez que havendo campo magnético externo aplicado, a transição de fase ferromagnética-paramagnética em questão deixa de existir. Contudo, se a temperatura for gradualmente aumentada, observa-se que existe um valor crítico a partir do qual a magnetização se anula. Tal comportamento indica a presença de transição de fase nesses sistemas. Em tal valor crítico a susceptibilidade magnética, que é uma derivada da energia livre, é infinita. Intuitivamente, em baixas temperaturas há, de certa forma, uma cooperação entre os spins de sítios vizinhos, devido ao acoplamento entre eles, o que resulta em um alinhamento preferencial para o momento de dipolo. Há assim uma fase ordenada para o sistema em temperaturas baixas. Já em temperaturas altas, a agitação térmica consegue destruir o comportamento ordenado do sistema. Os momentos de dipolo assumem direções aleatórias, sendo que, na média, não há uma magnetização resultante. Esta mudança de comportamento caracteriza uma transição de fase.

Transições de fase ocorrem quando há perda de regularidade de uma energia livre com relação a temperatura no limite termodinâmico. Do ponto de vista experimental, é possível distinguir entre dois tipos de transição de fase: as transições de primeira ordem, nas quais ocorre a coexistência de fases, como por exemplo um sólido de alta densidade e um fluido de baixa densidade; e as transições contínuas (de segunda ordem) nas quais flutuações e correlações crescem de tal ponto que seja macroscopicamente observável [11. R.A. Blythe e M.R. Evans, Brazilian Journal of Physics 33, 464 (2003).].

De uma perspectiva termodinâmica, a compreensão de transições de primeira ordem se dá associando a cada fase uma energia livre. A fase escolhida pelo sistema, dados certos parâmetros externos, é aquela com a menor energia livre de modo que uma transição de fase ocorre quando as energias livres de duas (ou mais) fases são iguais. Mudanças repentinas em quantidades macroscopicamente mensuráveis que ocorrem em transições de primeira ordem são descritas matematicamente como descontinuidades na primeira derivada da energia livre. Já as descontinuidades em derivadas de ordem superior estão relacionadas a transições de fase contínuas (de ordem superior) [11. R.A. Blythe e M.R. Evans, Brazilian Journal of Physics 33, 464 (2003).].

A energia livre é dada pelo logaritmo da função de partição, uma quantidade que normaliza a distribuição de probabilidade de estado estacionário de configurações microscópicas, no limite termodinâmico. De modo a reproduzir corretamente as singularidades na energia livre em transições de primeira ordem, Lee e Yang, em [22. C.N. Yang e T.D. Lee, Physical Review 87, 404 (1952).] e [33. C.N. Yang e T.D. Lee, Physical Review 87, 410 (1952).], introduziram uma descrição de transições de fase relativas a zeros da função de partição quando generalizada para o plano complexo de uma quantidade termodinâmica intensiva, ou seja, cuja magnitude é independente do tamanho do sistema. Tais singularidades na energia livre ocorrem somente no limite termodinâmico. A função pressão, abordada no capítulo 2, está conectada, como conceito termodinâmico, a função de partição – conceito da mecânica estatística – e, por consequência, a energia livre no limite termodinâmico.

Um dos modelos que tradicionalmente introduz o método da matriz de transferência é o conhecido modelo de Ising, que em uma dimensão não apresenta transição de fase, mas em maiores dimensões tais transições podem ocorrer [44. S. Friedli e Y. Velenik, Statistical Mechanics of Lattice Systems: A Concrete Mathematical Introduction (Cambridge UniversityPress, Cambridge, 2017)., 55. S. Salinas, Introdução a Física Estatística (Edusp, São Paulo, 2018), 2ª ed.]. Em particular, a técnica da matriz de transferência foi utilizada por Onsager em [66. L. Onsager, Physical Review 65, 117 (1944).] na solução original do modelo de Ising em duas dimensões.

Os modelos do gelo, originalmente propostos com vistas a explicar a entropia residual do gelo em [77. L. Pauling, Journal of the American Chemical Society 57, 2680 (1935).] e a transição de fases no cristal ferroelétrico KH2PO4 em [88. J.C. Slater, Journal of the American Chemical Society 9, 16 (1941).], por sua vez, apresentam transição de fase unidimensional. O modelo de seis vértices foi formulado e resolvido na rede quadrada por E. Lieb na década de 60. Logo depois, Baxter, em [99. R.J. Baxter, Physical Review Letters 26, 832 (1971).], resolveu o modelo de oito vértices na rede quadrada. Essas soluções, que dependem da formulação do problema em termos de uma matriz de transferência, estão bem descritas no artigo de revisão [1010. E.H. Lieb e F.Y. Wu, em: Two-dimensional ferroeletric models, editado por C. Domb e M.S. Green (Academic Press, London, 1972).]. Tais modelos foram revisitados, também via matriz de transferência, em [1111. J.A. Plascak e S.R. Salinas, Revista Brasileira de Física 10, 173 (1980).]. A técnica da matriz de transferência será utilizada a fim de mostrar que a transição de fase está associada à degenerescência do seu autovalor máximo.

Atualmente, modelos similares aos modelos do gelo (ou oriundos deles) ainda são estudados. Conforme o artigo de revisão [1212. A. Ortiz-Ambriz, C. Nisoli, C. Reichhardt, C.J.O. Reichhardt e P. Tierno, Reviews of Modern Physics 9, 041003 (2019).], podemos citar os modelos do gelo artificiais e os modelos do tipo ‘spin ice’ magnético. Tal artigo aborda a conexão entre a regra do gelo e a frustração geométrica (a qual se refere à incapacidade de um sistema de satisfazer interações concorrentes na presença de restrições espaciais), além de apresentar a origem de tais técnicas na matéria condensada ‘soft’ e exemplificar sua atuação possibilitando a criação de novas e exóticas fases da matéria, potencialmente direcionando-as para aplicações tecnológicas relacionadas a memória e dispositivos lógicos que se baseiam no movimento de defeitos topológicos.

Uma curiosidade matemática interessante é que, conforme [1010. E.H. Lieb e F.Y. Wu, em: Two-dimensional ferroeletric models, editado por C. Domb e M.S. Green (Academic Press, London, 1972).], a solução do modelo do gelo também dá o número de formas de colorir todas as faces de um reticulado quadrado com três cores de modo que não haja duas faces adjacentes com a mesma cor.

Inicialmente apresentamos os modelos de Ising, logo enunciamos o Teorema de Perron-Frobenius e um Teorema auxiliar e depois os aplicamos, juntamente com o formalismo da matriz de transferência, aos modelo do gelo de seis e oito vértices.

2. Modelo de Ising

Consideremos uma amostra de algum material cujos átomos estão arranjados em uma estrutura regular cristalina. Suponhamos que cada um desses átomos carrega um momento magnético (algo como um ímã ligado a cada átomo) chamado de spin. Assumamos que cada spin tem a tendência de se alinhar com seus vizinhos e que, inicialmente, esteja orientados aleatoriamente, como na Figura 1. Nessa seção, nos baseamos em [44. S. Friedli e Y. Velenik, Statistical Mechanics of Lattice Systems: A Concrete Mathematical Introduction (Cambridge UniversityPress, Cambridge, 2017).].

Figura 1
[44. S. Friedli e Y. Velenik, Statistical Mechanics of Lattice Systems: A Concrete Mathematical Introduction (Cambridge UniversityPress, Cambridge, 2017).] Estado inicial.

Se o material é exposto a um campo magnético externo apontando numa direção específica, então um tipo de ordem aparece: os spins tendem a se alinhar com o campo, e assim apontando na mesma direção. Se diminuímos devagar a intensidade do campo externo até zero, dois casos podem ocorrer.

Na Figura 2, a ordem global é progressivamente perdida conforme o campo decresce, chegando a zero, quando os spins tornam-se desordenados novamente, como no seu estado inicial. Tal comportamento é chamado paramagnético.

Figura 2
[44. S. Friedli e Y. Velenik, Statistical Mechanics of Lattice Systems: A Concrete Mathematical Introduction (Cambridge UniversityPress, Cambridge, 2017).] Campo magnético decrescente.

Esse fenômeno pode ser medido quantitativamente ao se introduzir a magnetização, que é a média dos spins, projetada na direção do campo magnético. Para o paramagneto, conforme o campo decresce de um valor positivo para zero (mantendo a direção fixada), ou similarmente, se ele cresce de um valor negativo para zero, a magnetização tende a zero, como na Figura 3.

Figura 3
[44. S. Friedli e Y. Velenik, Statistical Mechanics of Lattice Systems: A Concrete Mathematical Introduction (Cambridge UniversityPress, Cambridge, 2017).].

Ainda outro cenário é possível: como o campo externo decresce, a ordem global decresce, mas a interação local entre os spins é forte o suficiente para manter o material em estado de magnetização global mesmo depois que o campo externo tenha alcançado zero. Tal comportamento é chamado ferromagnetismo, representado na Figura 4.

Figura 4
[44. S. Friedli e Y. Velenik, Statistical Mechanics of Lattice Systems: A Concrete Mathematical Introduction (Cambridge UniversityPress, Cambridge, 2017).] Ferromagnetismo.

Um ferromagneto exibe, portanto, magnetização espontânea, que é uma ordem global produzida mesmo com a ausência de um campo magnético externo. O valor da magnetização espontânea, ±m, depende da forma em que o campo externo se aproxima de zero (de > 0 ou < 0), representado na Figura 5.

Figura 5
[44. S. Friedli e Y. Velenik, Statistical Mechanics of Lattice Systems: A Concrete Mathematical Introduction (Cambridge UniversityPress, Cambridge, 2017).] Magnetização espontânea.

Usando o processo descrito, pode-se, a princípio, preparar um material ferromagnético com magnetização espontânea em uma direção arbitrária aplicando o campo magnético nessa direção, e fazê-lo decrescer lentamente a zero. Pode-se observar ainda que, na Figura 5, quando o campo vai para zero, a magnetização tem uma descontinuidade e salta de um valor estritamente positivo para uma valor estritamente negativo, o que representa uma transição de fase de primeira ordem.

O modelo de Ising é um modelo simples cujo objetivo é reproduzir as propriedades descritas acima. A principal simplificação é assumir que os spins são restritos a uma direção particular, apontando para cima ou para baixo. Apesar de ser um modelo simples, é útil na descrição de outros sistemas (tais como um gás) que, com as devidas simplificações, pode ser mapeado pelo modelo de Ising. Para mais detalhes, veja [44. S. Friedli e Y. Velenik, Statistical Mechanics of Lattice Systems: A Concrete Mathematical Introduction (Cambridge UniversityPress, Cambridge, 2017).].

A energia de uma configuração ω ∈ ΩV: = {−1, 1}V, onde –1 e 1 são os spins e V é um conjunto finito (para mais detalhes veja o Apêndice A no material suplementar), é obtida através da soma das interações sobre todos os pares, e pela adição da interação de cada spin com o campo magnético h

(1) H := - β i j ς i ς j - h i ς i ,

onde ςi: ΩV → {−1, 1} definida por ςi(ω):=ωi é uma variável aleatória e dá o valor do spin no vértice i. A função H é também conhecida como o Hamiltoniano. De acordo com a Mecânica Estatística, a probabilidade de observação do sistema na configuração ω é dada por

(2) μ ( ω ) := 1 Z exp ( - H ( ω ) ) ,

onde eH(ω) é conhecido como peso de Boltzmann. A constante de normalização

(3) Z := ω Ω V exp ( - H ( ω ) )

desempenha um importante papel na teoria, e é conhecida como função de partição.

Dois pontos i, j são vizinhos próximos se |ji| = 1, que denotamos por ij. Denotamos por V_N uma caixa de tamanho linear N unidimensional,

(4) V N := { x : 0 x < N } ,

representada na Figura 6. Para mais detalhes, veja [44. S. Friedli e Y. Velenik, Statistical Mechanics of Lattice Systems: A Concrete Mathematical Introduction (Cambridge UniversityPress, Cambridge, 2017).].

Figura 6
[44. S. Friedli e Y. Velenik, Statistical Mechanics of Lattice Systems: A Concrete Mathematical Introduction (Cambridge UniversityPress, Cambridge, 2017).] Caixa unidimensional.

O objetivo é estudar o modelo de Ising em uma caixa grande V_N. Assim, iremos considerar o modelo através de uma sequência de caixas crescentes V1,V2,…,VN,…, e descrever o seu comportamento no limite termodinâmico, isto é, quando N→∞. A energia livre é dada pelo limite (quando este existir)

(5) ψ ( β , h ) := lim N 1 | V N | log Z V N , β , h .

Uma transição de fase pode ser interpretada como uma singularidade da energia livre em alguma das suas variáveis. Em geral, o comportamento assintótico (quando N→∞) do sistema descrito pela distribuição de Gibbs em uma caixa suficientemente grande pode ser relacionado com as propriedades analíticas da energia livre em h. Assumindo que o limite e as derivadas podem ser intercambiados (o que acontece sob certas circunstâncias),

(6) ψ β ( h ) h = m β ( h ) ,

e portanto, a magnetização média está relacionada com a derivada da energia livre.

A energia livre ψβ(h) do Modelo de Ising unidimensional é analítica em h em todas as temperaturas, conforme demonstrado no Apêndice A do Material Suplementar.

Seja T_N o grafo obtido por ligar N-1 com 0 em VN = {0,1,…,N−1} como um toro (Figura 7). Formalmente, T_N é obtido de V_N adicionando uma aresta entre N-1 e 0. Ao transformarmos V_n em T_n, estamos caracterizando as condições de contorno periódicas.

Figura 7
[44. S. Friedli e Y. Velenik, Statistical Mechanics of Lattice Systems: A Concrete Mathematical Introduction (Cambridge UniversityPress, Cambridge, 2017).] Envolvendo V_N em um toro T_N.

A vantagem de se trabalhar com T_N ao invés de V_N é que ZT_N,β ,h pode ser escrito como o traço de uma matriz 2×2. De fato, assumindo a condição de contorno periódica ωN = ω0, temos

(7) Z T N , β , h = ω j = ± 1 j { 0 , , N - 1 } i = 0 N - 1 A ω i , ω i + 1 ,

onde os números A + , + = eβ + h, A + ,− = eβ + h, A−, + = eβh e A−,− = eβh podem ser colocados na forma de uma matriz, chamada matriz de transferência:

(8) A = ( e β + h e - β + h e - β - h e β - h ) .

Uma observação útil é que ZT_N,β ,h pode ser interpretado com o traço da N-ésima potência de A:

(9) Z T N , β , h = ω 0 = ± 1 ( A N ) ω 0 , ω 0 := t r ( A N ) .

A tem dois dois autovalores λ+ > λ dados por

(10) λ ± = e β cosh ( h ) ± e 2 β cosh 2 ( h ) - 2 senh ( 2 β ) ,

e como λ+ > λ, tomando o limite termodinâmico, temos ψβ(h) = logλ+, e para todo β≥0, e todo h, a energia livre ψβ(h) existe e é igual a

(11) ψ β ( h ) = log { e β cosh ( h ) + e 2 β cosh 2 ( h ) - 2 senh ( 2 β ) } ,

que é uma função analítica. Em outros termos, o fato da energia livre não apresentar nenhuma singularidade no limite termodinâmico (o que é assegurado pelos Teoremas 3.1 e 3.2 e a estabilidade de um único autovalor simples e maximal) garante que o modelo de Ising unidimensional não apresenta coexistência de fases, não havendo, portanto, nenhuma transição. Para mais detalhes, consulte [44. S. Friedli e Y. Velenik, Statistical Mechanics of Lattice Systems: A Concrete Mathematical Introduction (Cambridge UniversityPress, Cambridge, 2017).] e [55. S. Salinas, Introdução a Física Estatística (Edusp, São Paulo, 2018), 2ª ed.].

3. Matriz de Perron-Frobenius

Muitas vezes, transições de fase podem ser detectadas por meio de singularidades na energia livre no limite termodinâmico. A energia livre, por sua vez, coincide com o maior autovalor (também dependente da temperatura e do campo magnético) da matriz de transferência. As ferramentas essenciais para a execução dessa análise são o Teorema de Perron-Frobenius e outro teorema que garante a analiticidade dos autovalores da matriz de transferência.

Uma matriz M = (mi,j)0≤i,js−1 é dita não negativa se cada uma das suas entradas for não negativa. Em outros termos, para todo i,j ∈ {0,…,s−1}, mij≥0. Uma matriz não negativa M é dita irredutível se, para todo i,j existe algum k≥1 tal que mij(k)>0, denotando por (mij(k)) as entradas da k-ésima potência de M, a saber, Mk. Ela é dita primitiva se Mk é positiva para algum k≥1, isto é, todos os mij(k)>0 para o mesmo k, e o menor k tal que isso aconteça é chamado de índice de primitividade de M.

Teorema 3.1 (Perron-Frobenius)

[1313. M. Queffelec, Substitution Dynamical Systems – Spectral Analysis (Springer-Verlag, Berlin, 2010).] Seja M uma matriz primitiva. Então

  1. M admite um autovalor θ tal que | λ | < θ para quaisquer outros autovalores λ de M.

  2. Existe um autovetor com todas as entradas positivas associado ao autovalor θ .

  3. θ é um autovalor simples, ou seja, tem multiplicidade algébrica um.

Demonstração: Veja Teorema 5.4 de [1313. M. Queffelec, Substitution Dynamical Systems – Spectral Analysis (Springer-Verlag, Berlin, 2010).].

O Teorema de Perron-Frobenius apresenta várias aplicações, muitas das quais apresentadas em [1414. C.R. MacCluer, SIAM Review 42, 487 (2000).], onde também encontramos diversas demonstrações do referido Teorema.

3.1. Transição de Fase

O Teorema de Perron-Frobenius garante que o autovalor maximal de matrizes primitivas é simples e estritamente positivo. Tal fato gera consequências muito importantes na teoria da termodinâmica de sistemas físicos, de modo que em muitos sistemas de spins unidimensionais, a pressão – função analítica que depende da temperatura – coincide com o logaritmo natural de tal autovalor. O fenômeno da transição de fase se dá, matematicamente, através da perda de regularidade da função pressão, ou seja, quando alguma de suas infinitas derivadas se torna descontínua.

Embora fundamental, o Teorema de Perron-Frobenius não é suficiente para mostrar se há ou não transição de fase quando as entradas da matriz de transferência dependem do parâmetro da temperatura β. Nesse caso temos uma família de matrizes dependendo da temperatura, M(β), e precisamos de outro resultado válido para matrizes analíticas em β (ou seja, todos os seus elementos são funções analíticas de β).

Teorema 3.2.

[1515. J.A. Cuesta e A. Sánchez, Journal of Statistical Physics 115, 869 (2004).] Para todo β em um conjunto simplesmente conexo D⊂ℂ, seja M(β) um operador linear em um espaço vetorial X n-dimensional (M(β) é uma matriz complexa n×n). Se M(β) for analítica em D então cada um dos s autovalores (aqueles que não aumentam ou diminuem em número) de M(β) tem multiplicidade constante e pode ser expresso como uma função analítica em D, λj(β), j∈{1,…,s}.

Demonstração: Veja Teorema 1.8 no Capítulo II de [1616. T. Kato, Perturbation Theory for Linear Operators (Springer-Verlag, Berlim, 1980).]. ■

Assim, para uma matriz de transferência não negativa irredutível M(β) cujos elementos são funções analíticas em uma vizinhança do eixo real positivo, β > 0, os Teoremas 3.1 e 3.2 garantem que o autovalor maximal (portanto a energia livre) é uma função analítica de β, para todo β > 0.

4. Modelos do Gelo

Os modelos do gelo são ferramentas muito importantes na introdução dos modelos ferroelétricos. Algumas substâncias, tais como o gelo e CO, aparentemente tem uma entropia residual mesmo em temperaturas muito baixas. No caso do gelo a entropia a 10°K é 0,82 ± 0,05calKmole.

Conforme a simplificação de Slater em [88. J.C. Slater, Journal of the American Chemical Society 9, 16 (1941).] com relação a distribuição dos hidrogênios, existe sempre um, e somente um, átomo de hidrogênio em cada ligação (a ponte funciona como um duplo poço de potencial, com dois mínimos próximos dos vértices nas suas extremidades); e existe precisamente dois átomos de hidrogênio próximos (e dois átomos de hidrogênio distantes) de um dado vértice. Tais restrições são plausíveis física e quimicamente e garantem a neutralidade elétrica local, sendo conhecidas como regras do gelo.

No cristal do gelo cada molécula de água forma quatro ligações de hidrogênio. Se a distribuição de íons de hidrogênio obedece as regras do gelo, podemos escrever a entropia residual, S, como

(12) S = k log Z 0 ,

onde k é a constante de Boltzmann, o logaritmo tem base exponencial e Z_0 é a função de partição

(13) Z = e s t a d o s e - β E

com todas as energias nulas. Além disso, Z_0 representa o número de configurações de hidrogênios do cristal consistentes com a regra do gelo. A função de partição apresentada na equação (13) consiste na soma sobre todos os estados de distribuições de hidrogênio, β=1kT e E é a energia do cristal para um dado estado.

Conforme [1010. E.H. Lieb e F.Y. Wu, em: Two-dimensional ferroeletric models, editado por C. Domb e M.S. Green (Academic Press, London, 1972).], o qual revisa resultados de, entre outros, [1717. E.H. Lieb, Physical Review Letters 18, 692 (1967)., 1818. E.H. Lieb, Physical Review 162, 162 (1967)., 1919. E.H. Lieb, Physical Review Letters 18, 1046 (1967)., 2020. E.H. Lieb, Physical Review Letters 19, 108 (1967).], em um cristal de gelo os oxigênios estão situados nos vértices do reticulado, enquanto os hidrogênios são posicionados nas arestas do reticulado podendo ser especificados por setas sobre essas arestas. Então Z_0 é o número de formas de direcionar os setas do reticulado de modo que existam sempre duas setas apontando para fora e duas setas apontando para dentro em cada sítio do reticulado. Os seis possíveis estados de cada vértice são ilustrados na Figura 8.

Figura 8
[1010. E.H. Lieb e F.Y. Wu, em: Two-dimensional ferroeletric models, editado por C. Domb e M.S. Green (Academic Press, London, 1972).] As seis configurações permitidas pelas regras de gelo.

Os modelos construídos em [1111. J.A. Plascak e S.R. Salinas, Revista Brasileira de Física 10, 173 (1980).] são dados por uma cadeia dupla de N vértices na direção horizontal e M=2 vértices na direção vertical, conforme Figura 9a, adotando-se condições periódicas de contorno em ambas as direções vertical e horizontal. Cada vértice está ligado a quatro outros através de pontes de hidrogênio e na Figura 9b estão representadas as condições de contorno vertical. As ligações de hidrogênio horizontais são as únicas a serem representadas e seja ϕi o estado do par de ligações horizontais entre os vértices i e i+1. Para qualquer i, o estado ϕi é totalmente especificado e, conforme a Figura 9c de [1111. J.A. Plascak e S.R. Salinas, Revista Brasileira de Física 10, 173 (1980).], há apenas quatro valores distintos de ϕi.

Figura 9
[1111. J.A. Plascak e S.R. Salinas, Revista Brasileira de Física 10, 173 (1980).] a) Geometria dos análogos unidimensionais de [1111. J.A. Plascak e S.R. Salinas, Revista Brasileira de Física 10, 173 (1980).]; b) as condições periódicas de contorno na direção vertical evidenciam que cada vértice está ligado aos seus vizinhos através de quatro pontes de hidrogênio; c) os quatro valores possíveis de um estado ϕi.

4.1. Modelo de seis vértices

Vamos considerar um modelo de seis vértices generalizado, conforme [1111. J.A. Plascak e S.R. Salinas, Revista Brasileira de Física 10, 173 (1980).], com as energias ε1≥0 para as configurações (1) e (2), ε2≥0 para as configurações (3) e (4) e ε3≥0 para as configurações (5) e (6). A construção das entradas da matriz de transferência se dará conforme as configurações aceitáveis em cada um dos valores possíveis de um estado ϕi da Figura 9c, os quais são representados esquematicamente na Figura 10.

Figura 10
[1111. J.A. Plascak e S.R. Salinas, Revista Brasileira de Física 10, 173 (1980).] Representação esquemática da matriz de transferência (4×4) para os quatro valores possíveis de um estado ϕi. Na primeira linha temos 1→1, 2→1, 3→1 e 4→1 (2 e 3 trocam de lugar na Figura 9c).

O cálculo de cada entrada da matriz de transferência é realizado no Apêndice B do Material Suplementar, e a matriz de transferência 𝕋 é dada por

(14) 𝕋 ( e - 2 β ε 1 + e - 2 β ε 2 0 0 2 e - β ( ε 1 + ε 2 ) 0 e - 2 β ε 3 0 0 0 0 e - 2 β ε 3 0 2 e - β ( ε 1 + ε 2 ) 0 0 e - 2 β ε 1 + e - 2 β ε 2 ) .

4.1.1. Autovalores

Os autovalores de 𝕋 são os números λ (reais nesse caso, uma vez que a matriz é simétrica) tais que 𝕋v = λv para algum vetor v4, logo (𝕋λ𝕀4)v = 0 aceita soluções não triviais apenas se a matriz 𝕋λ𝕀4 for não invertível, ou seja, quando det⁡(𝕋λ𝕀4) = 0. A análise dos autovalores também é realizada no Apêndice B do Material Suplementar. Em resumo, temos

(15) λ 1 = λ 2 = e - 2 β ε 1 + e - 2 β ε 2 ,
(16) λ 3 = 2 e - β ( ε 1 + ε 2 ) - e - 2 β ε 3

e

(17) λ 4 = 2 e - β ( ε 1 + ε 2 ) + e - 2 β ε 3 .

Para compararmos λ1 com λ4, os dois maiores autovalores, temos dois casos.

  1. λ1λ4: Se λ1λ4 então temos −βε1log⁡(2)−βεj, onde o logaritmo tem base natural, logo β(εjε1)≥log⁡(2) e assim

    (18)βlog(2)εj-ε1;

  2. λ1λ4: Se λ1λ4 então temos −βε1log⁡(2)−βεi, onde o logaritmo tem base natural, logo β(εiε1)≤log⁡(2) e assim

    (19)βlog(2)εi-ε1.

Para maiores detalhes, veja o Apêndice B do Material Suplementar.

4.1.2. Transição de fase

Uma vez que a n-ésima potência sua matriz de transferência tem entradas nulas, para qualquer que seja o n, não há garantias de um único autovalor maximal por parte do Teorema de Perron-Frobenius. Em vez disso, há sim uma alternância entre os autovalores na posição maximal, o que configura uma quebra de analiticidade da energia livre de Gibbs, ou seja, uma transição de fase. Em outros termos, para termos uma transição de fase, o que significa que a energia livre, dado que os autovalores são positivos e funções analíticas de β, é não analítica em algum ponto, devemos ter dois autovalores se cruzando em certo βc.

No limite termodinâmico, resta somente o maior autovalor e, para N→∞, a energia livre é dada por

(20) f 1 N F - 1 β N log Z N = - 1 β log max i { 1 , 2 , 3 , 4 } ( λ i )

onde o logaritmo tem base natural e

(21) Z N = tr ( 𝕋 N ) .

Como os autovalores λ1 e λ4 se cruzam em algum ponto

(22) β c [ min ( log ( 2 ) ε i - ε 1 , log ( 2 ) ε j - ε 1 ) , max ( log ( 2 ) ε i - ε 1 , log ( 2 ) ε j - ε 1 ) ] ,

conforme as Equações (18) e (19), há nesse ponto uma transição de fase. Caso ε2 = ε3, então a transição de fase se dá em

(23) β c = log ( 2 ) ε 2 - ε 1 ,

como ilustra a Figura 11.

Figura 11
Autovalores λ1 e λ4 para ε1 = 0 e ε2 = ε3 = 1. A transição de fase ocorre em β = log⁡(2), quando λ4 deixa de ser e λ1 se torna o autovalor maximal.

4.2. Modelo de oito vértices

O modelo de oito vértices é definido pela adição de uma energia ε4 > 0 associada às configurações de vértices dos tipos (7) e (8) (Figura 12) ao modelo de seis vértices.

Figura 12
[1111. J.A. Plascak e S.R. Salinas, Revista Brasileira de Física 10, 173 (1980).] As configurações (7) e (8), juntamente com as seis configurações permitidas pelas regras de gelo da Figura 8, definem o chamado modelo de oito vértices.

A construção da matriz de transferência para esse caso é muito similar ao caso de seis vértices, e é dada por 𝕋′ na Equação (24):

(24) 𝕋 = ( e - 2 β ε 1 + e - 2 β ε 2 0 0 2 e - β ( ε 1 + ε 2 ) 0 e - 2 β ε 3 + e - 2 β ε 4 2 e - β ( ε 3 + ε 4 ) 0 0 2 e - β ( ε 3 + ε 4 ) e - 2 β ε 3 + e - 2 β ε 4 0 2 e - β ( ε 1 + ε 2 ) 0 0 e - 2 β ε 1 + e - 2 β ε 2 ) .

Note que se ε4→∞ então eβε4→0 e a matriz 𝕋′ se resume a matriz 𝕋 do modelo de seis vértices.

4.2.1. Autovalores

Da mesma forma como calculamos os autovalores de 𝕋, calculamos os de 𝕋′ no Apêndice B do Material Suplementar. Tais autovalores são os números λ (reais nesse caso, uma vez que a matriz é simétrica) tais que 𝕋v = λv para algum vetor v4, logo (𝕋′−λ𝕀4)v = 0 aceita soluções não triviais apenas se a matriz 𝕋′−λ𝕀4 for não invertível, ou seja, quando det⁡(𝕋′−λ𝕀4) = 0. Dessa forma, temos

(25) λ 1 = e - 2 β ε 1 + e - 2 β ε 2 + 2 e - β ( ε 3 + ε 4 ) ,
(26) λ 2 = e - 2 β ε 1 + e - 2 β ε 2 - 2 e - β ( ε 3 + ε 4 ) ,
(27) λ 3 = 2 e - β ( ε 1 + ε 2 ) + e - 2 β ε 3 + e - 2 β ε 4

e

(28) λ 4 = 2 e - β ( ε 1 + ε 2 ) - e - 2 β ε 3 - e - 2 β ε 4 .

Como eβεk > 0 para todo εk, k = 3,4, temos claramente

(29) λ 1 > λ 2 e λ 3 > λ 4 .

4.2.2. Transição de fase

A existência de uma transição de fases dependerá se λ1 ou λ3 é o autovalor maximal, para cada β > 0, e se houver tal transição, esta ocorrerá em alguma temperatura crítica tal que λ1 = λ3, ou seja,

(30) ( e - β ε 1 - e - β ε 2 ) 2 = ( e - β ε 3 - e - β ε 4 ) 2 .

Como temos quatro variáveis livres, vamos simplificar a análise fazendo uma escolha particular de energias que, conforme [1111. J.A. Plascak e S.R. Salinas, Revista Brasileira de Física 10, 173 (1980).], correspondem fisicamente ao modelo de Slater para o KH_2PO_4 com a adição das configurações duplamente ionizadas. Assim, sejam ε1 = 0, ε2 = ε3 = ε > 0 e ε4 = , com n > 0, e neste caso, a Equação (30) se torna

(31) 1 - e - β ε = ± ( e - β ε - e - n β ε )

e os autovalores λ1 e λ3 se tornam

(32) λ 1 = 1 + e - 2 β ε + 2 e - β ( n + 1 ) ε ,
(33) λ 3 = 2 e - β ε + e - 2 β ε + e - 2 n β ε .

Conforme análise realizada no Apêndice B do Material Suplementar, para que haja transição de fase, n deverá ser obrigatoriamente maior do que 2. Em tais circunstâncias, λ1 é o maior autovalor para temperaturas baixas (β > βc) e λ3 é o maior autovalor para temperaturas altas (β < βc), e a transição de fase é de primeira ordem. A Figura 13 apresenta um caso particular.

Figura 13
Autovalores λ1 (Equação (32)) e λ3 (Equação (33)) para ε = 1 e n=3. A transição de fase ocorre em β≈0,48, quando λ3 deixa de ser e λ1 se torna o autovalor maximal.

Por outro lado temos, para n≤2, um único autovalor maximal, a saber, λ1, conforme apresentado na Figura 14, o que torna a energia livre do modelo uma função analítica.

Figura 14
Autovalores λ1 (Equação (32)) e λ3 (Equação (33)) para ε = 1 e n=2. A transição de fase não ocorre e λ1 é o autovalor maximal.

No limite termodinâmico, para N→∞, a energia livre é dada por

(34) f 1 N F - 1 β N log Z N = - 1 β log max i { 1 , 3 } ( λ i )

onde o logaritmo tem base natural e

(35) Z N = tr ( 𝕋 N ) .

Para n≤2, a Equação (34) é analítica. Já para n > 2, não é.

5. Discussão e Considerações Finais

Apresentamos resultados sobre o tratamento de transições de fase via teoria da matriz de transferência, iniciando com o modelo de Ising e mostrando porque não há transição de fase, e apresentando os modelos do gelo de seis vértices e oito vértices.

No caso do modelo do gelo de seis vértices, construímos sua matriz de transferência de uma maneira bastante intuitiva e fizemos uma análise bastante completa de seus autovalores, em particular os autovalores maximais cuja importância nos é remetida pelo Teorema de Perron-Frobenius, concluindo que a transição de fase existe e ocorre em uma temperatura que depende das energias envolvidas no modelo.

De fato, a n-ésima potência de sua matriz de transferência tem entradas nulas, para qualquer que seja o n, logo não há garantias de um único autovalor maximal por parte do Teorema de Perron-Frobenius.

No caso do modelo do gelo de oito vértices, construímos sua matriz de transferência e fizemos uma análise um pouco mais simplificada de seus autovalores. Em particular, a alternância da posição do autovalor maximal depende de um parâmetro n associado a energia ε4.

Os modelos do gelo, portanto, apresentam transição de fase unidimensional e tal transição está associada à degenerescência do seu autovalor máximo.

Agradecimentos

O autor agradece ao revisor anônimo e ao editor chefe pelas orientações e apontamentos, os quais qualificaram o trabalho.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Mar 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    12 Nov 2020
  • Revisado
    03 Fev 2021
  • Aceito
    12 Fev 2021
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