Acessibilidade / Reportar erro

Carta ao Editor

CARTA AO EDITOR

Article: Mariath AB, Henn R, Matos CH, Lacerda LLV, Grilo LP. Prevalência de anemia e de níveis séricos de hemoglobina em adolescentes segundo estágio de maturidade sexual. (Prevalence of anemia and hemoglobin serum levels in adolescents according to sexual maturation stage). Revista Brasileira de Epidemiologia 2006; 9(4): 454-461.

Maria Sylvia de Souza VitalleI; Josefina Aparecida Pellegrini BragaII

ICentro de Atendimento e Apoio ao Adolescente da Disciplina de Especialidades Pediátricas do Departamento de Pediatria da Unifesp – EPM

IISetor de Hematologia Pediátrica da Disciplina de Especialidades Pediátricas do Departamento de Pediatria da Unifesp - EPM

Mailing Address Mailing Address: Maria Sylvia de Souza Vitalle Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente da Disciplina de Especialidades Pediátricas do Departamento de Pediatria da Unifesp – EPM Rua Botucatu 715 – 4023-62 São Paulo – SP E-mail: vitalle.dped@epm.br

Senhor editor, vimos por meio desta parabenizar os autores do excelente trabalho "Prevalência de anemia e de níveis séricos de hemoglobina em adolescentes segundo estágio de maturidade sexual"1 por sua excelente qualidade e contribuição, ao mesmo tempo em que fazemos alguns esclarecimentos do que nos parece ser um viés de interpretação.

No segundo parágrafo da discussão afirmam, incorretamente, que, "Apesar de no presente estudo o consumo alimentar dos adolescentes não ter sido avaliado, esta parece ser a única razão para as maiores médias de hemoglobina apresentadas no sexo masculino". Em que pese que, sabidamente, o consumo alimentar insuficiente em ferro seja a principal causa de deficiência de ferro/anemia carencial ferropriva e não exista trabalho nacional abrangente, parece que a prevalência de anemia em nosso meio, em adolescentes, não é elevada.

Na adolescência é esperado que o sexo masculino tenha Hb em nível maior do que as moças, em função de as prostaglandinas facilitarem a atividade eritropoiética, tanto diretamente (PGE1) quanto por via AMPcíclica (PGE2). Os andrógenos estimulam a atividade da eritropoetina pelo aumento da produção ou pela facilitação na célula-tronco eritróide. Inversamente, os estrógenos inibem os efeitos da eritropoetina2. Daí as normatizações, mostrando que, a partir dos 15 anos de idade, o corte de hemoglobina entre o sexo masculino e feminino se modificam2,3.

Trabalham com uma faixa etária vasta, dos 10 aos 18 anos, embora em média se situem em torno dos 12-13 anos. Mostram ainda, na Tabela 4, que a diferença entre distribuição dos valores médios de Hb e estágio puberal ocorre nas fases IV e V, fases mais adiantadas de desenvolvimento, em que os rapazes estão no pico do estirão ou já o ultrapassaram, e sabidamente as modificações hormonais já ocorreram, como explicado anteriormente, diferenciando os sexos.

É esperado, portanto, que aumentem os níveis de Hb à medida que evoluam os estadios puberais em ambos os sexos. Lembrar que, até os 15 anos de idade, as diferenças entre hemoglobina (Hb) nos sexos masculino e femininos são muito discretas, acentuando-se a partir daí (0,5 a 1g/10mL) devido ao aumento na produção de testosterona e às diferenças na maturação sexual4,5.

Pode-se observar, em ambos os trabalhos citados, Frutuoso et al.6 e Iuliano et al.7, que as amostras compreendem adolescentes na faixa etária abaixo dos 15 anos; portanto, apesar de se poder questionar o pequeno tamanho da amostra, somente este fato já justificaria não terem encontrado diferenças estatísticas entre valores médios de Hb entre os sexos, embora tenham observado o seu valor crescente diretamente relacionado ao desenvolvimento puberal.

Devido às mudanças nas necessidades nutricionais dos adolescentes, ao início da menstruação nas garotas, às modificações hormonais decorrentes da puberdade, há diferenças na concentração de hemoglobina entre os sexos, em idades diferentes e em estadiamentos diferentes, considerando-se adolescentes pré-púberes e aqueles já púberes8,9. Porém, no tocante às diferenças de níveis de hemoglobina, à medida que avança, o estadiamento puberal em rapazes é o esperado, principalmente pelas questões hormonais envolvidas, sendo que a alimentação não é o grande vilão, como quer parecer o artigo. O ferro é utilizado na terapia das anemias pela carência de ferro. Administra-se ferro a paciente com valores sangüíneos normais para aumentar a "reserva de ferro" do organismo, e não para aumentar as quantidades de hemáceas ou de hemoglobina acima de seus limites fisiológicos normais9,10. Portanto, seguindo este mesmo raciocínio, aumentar a biodisponibilidade alimentar em ferro não aumentará os níveis de hemoglobina acima de seus limites fisiológicos normais.

References

1. Mariath AB, Henn R, Matos CH, Lacerda LLV, Grillo LP. Prevalência de anemia e níveis séricos de hemoglobina em adolescentes segundo estágio de maturidade sexual. Rev Bras Epidemiol 2006; 9(4): 454-61.

2. Nathan GD, Orkin SH. Appendices – Reference values in infancy and childhood. In: Nathan and Oski's. Hematology of Infancy and childhood. 5 ed. Philadelphia: WB Saunders; 1998. p. 1893.

3. Powers LW. Diagnostic hematology clinic and technical principles. CV Mooby Company. 1989.

4. Daniel Jr WP, Rowland AM. Hemoglobin and hematocrit values of adolescents. Clin Pediatric 1969; 8: 181.

5. Daniel Jr WP. Hematocrit: maturity relationship in adolescence. Pediatrics. 1973; 52: 358.

6. Frutuoso MFP, Vigantzky VA, Gambardella AMD. Níveis séricos de hemoglobina em adolescentes segundo estágio de maturação sexual. Rev Nutr 2003; 16: 155-62.

7. Iuliano BA, Frutuoso MFP, Gambardella AMD. Anemia em adolescentes segundo maturação sexual. Rev Nutr 2004; 17: 37-43.

8. Anttila R, Siimes MA. Serum transferrin and ferritin in pubertal boys: relations to body growth, pubertal age, erythropoesis, and iron deficiency. Am J Clin Nutr 1996; 63(2): 179-83.

9. Silva FC, Vitalle MSS, Quaglia EC, Braga JAP, Medeiros EHGR. Proporção de anemia de acordo com o estadiamento puberal, segundo dois critérios diagnósticos. Rev Nutr PUC Campinas 2007; 20(3): 297-306.

10. Vitalle MSS. Perspectivas históricas. In: Braga JAP, Amancio OMS, Vitalle MSS. O ferro e a saúde das populações. São Paulo: Roca; 2006. p. 1-7.

  • Mailing Address:
    Maria Sylvia de Souza Vitalle
    Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente da Disciplina de Especialidades Pediátricas do Departamento de Pediatria da Unifesp – EPM
    Rua Botucatu 715 – 4023-62 São Paulo – SP
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      17 Set 2007
    • Data do Fascículo
      Set 2007
    Associação Brasileira de Saúde Coletiva Av. Dr. Arnaldo, 715 - 2º andar - sl. 3 - Cerqueira César, 01246-904 São Paulo SP Brasil , Tel./FAX: +55 11 3085-5411 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: revbrepi@usp.br