Open-access Escola Técnica Nacional: história oral, memória e cotidiano de uma instituição escolar (1942-1965)

National Technical School: oral history, memory and daily life of a school institution (1942-1965)

Escuela Técnica Nacional: historia oral, memoria y vida cotidiana de una institución escolar (1942-1965)

Resumo:

O artigo analisa a história da Escola Técnica Nacional a partir da memória de egressos, membros da Associação de Ex-alunos da Escola Técnica Nacional e do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca. Investigam-se o projeto educacional de reforma do ensino industrial nos anos 1940 e a trajetória de vida de estudantes, enfocando a relação entre memória social e história da educação, bem como entre experiência e identidade social no mundo do trabalho. Utiliza-se a metodologia da história oral e história pública para contribuir com análises da história da educação.

Palavras-chave: história da educação; educação profissional e tecnológica; cotidiano escolar

Abstract:

The article analyzes the history of the National Technical School from the memory of former students, members of the Alumni Association of the National Technical School and the Federal Center for Technological Education Celso Suckow da Fonseca. It investigates the educational project of industrial education reform in the 1940s and the life trajectory of students, focusing on the relationship between social memory and history of education, as well as experience and social identity in the world of work. The methodology of oral history and public history is claimed to renew analyzes of the history of education.

Keywords: history of education; professional education; daily school routine

Resumen:

El artículo analiza la historia de la Escola Técnica Nacional desde la memoria de egresados, miembros de la Asociación de Antiguos Alumnos de la Escola Técnica Nacional y del Centro Federal de Educación Tecnológica Celso Suckow da Fonseca. Investiga el proyecto educativo de reforma de la educación industrial en la década de 1940 y la trayectoria de vida de los estudiantes, centrándose en la relación entre la memoria social y la historia de la educación, así como la experiencia y la identidad social en el mundo del trabajo. Se reivindica la metodología de historia oral e historia pública para renovar los análisis de la historia de la educación.

Palabras clave: historia de la educación; educación profesional; escuela diaria

Introdução

Esta Escola é também nosso Lar

Onde todos irmãos nos sentimos

Com amor e alegria a cantar

É aqui que o Brasil construímos

Pelo sonho vivemos erguidos,

E este sonho de muito é capaz,

Esforçados pacientes e unidos.

Somos nós, os soldados da Paz [...] (Hino..., 1943)

O hino acima foi composto na década de 1940, era memorizado e cantado por estudantes na rotina escolar e se relaciona à conjuntura de criação da Escola Técnica Nacional (ETN), em 1942. Durante o Estado Novo (1937-1945), a mobilização para a participação na Segunda Guerra Mundial e as concepções pedagógicas do Ministério da Educação, Saúde e Cultura almejavam transformar o Brasil por meio de um projeto cívico e educacional. No hino, percebe-se uma semântica que reforça a busca de unidade e identidade que provocam amálgama necessária para a construção da identidade estudantil.

Na ditadura civil-militar, com as transformações no ensino profissional, houve mudança no nome da instituição, que, em 1967, passou a se denominar Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca (ETFCSF). Muda-se a denominação da instituição, mas o hino e a rotina de cantá-lo permaneceram por muitas décadas. Ainda que, na atualidade, o cântico não seja entoado ou lembrado por estudantes do CEFET/RJ, ele continua a ser celebrado nos encontros mensais da Associação de Ex-alunos da Escola Técnica Nacional e do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (AEETNCEFET), definindo uma tradição e uma identidade para os ex-alunos.

Versões impressas da música, tanto a melodia quanto a letra, encontram-se sob guarda da associação de ex-alunos. Criada em 1987, a AEETNCEFET preserva a memória da Escola Técnica Nacional e do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ). Através de sociabilidades dos ex-alunos em reuniões, festas, painéis, álbuns fotográficos, cartazes, jornais e outras interações não planejadas, mas mediadas pela identificação com a experiência de ter se formado na escola, a memória do grupo é celebrada como um lugar para a construção das identidades sociais. A entidade também participa de feiras científicas para apresentar a importância da ETN e do CEFET/RJ na história do Brasil e já foi responsável pela organização e manutenção de um espaço museológico nas dependências da escola no campus Maracanã, local onde mantém sua sede social. Longe de ser uma experiência distante no tempo e no espaço, a memória social da escola é cultivada numa rede de sociabilidade que vem sendo nucleada por uma associação civil e pelas identidades dos seus membros1.

Neste artigo, procuramos compreender a trajetória da instituição escolar mediante a memória social desses ex-alunos, e a ênfase recai sobre as transformações da escola entre 1942 e 1965, a partir do registro de memória de 19 ex-estudantes vinculados à AEETNCEFET. O artigo divide-se em duas partes. Na primeira, situamos o corpus de documentos, a forma como o constituímos e uma proposta de análise da história escolar por meio do diálogo com a historiografia da educação. Enfatizamos a importância da história oral para refletir sobre as práticas e representações das instituições escolares. Na segunda parte, investigamos a memória dos ex-alunos, com base na reflexão sobre a história social do ensino técnico industrial, a partir das experiências relatadas pelos egressos da ETN. A análise está articulada aos debates sobre a instauração do ensino industrial e técnico no Brasil, ao longo do século XX. Além disso, a investigação das memórias sociais e oralidades de ex-alunos evidencia temporalidades individuais e sociais de um cotidiano que é silenciado na história oficial de algumas instituições e nas imagens de passado que as comunidades escolares cultivam.

Partilhamos dos pressupostos analíticos da história oral e da história pública - vertentes historiográficas sensíveis às demandas de memória e aos diferentes lugares de produção e escrita da história e das memórias. Em A voz do passado: história oral, Paul Thompson (1992) observou que a história oral se articulou como prática de pesquisa na História e nas Ciências Sociais, problematizando a oralidade e a forma como, nas narrativas, expressões e falas cotidianas se legitimam nas relações sociais e grupos, bem como identificando os diferentes ‘portadores de memória’, isto é, pessoas que são autorizadas a narrar a história de suas comunidades. A prática de história oral construía uma relação de mutualidade com esses atores sociais para formar um acervo e estabelecer uma crítica desses registros, considerando as condições de sua produção. No artigo ‘A história pública não é uma via de mão única, ou, De A Shared Authority à cozinha digital’, Michel Frisch (2016) elabora essa discussão a partir da noção de ‘história pública’. O conceito, surgido nos anos 1970 nos Estados Unidos para nomear os vários produtores de narrativas históricas/memórias fora do ambiente acadêmico-universitário, foi incorporado no Brasil nos anos 2010. Observando a forte presença da história e da memória na cultura de massa e na vida cotidiana, o autor problematiza os lugares sociais em que se produzem representações sobre o passado e reposiciona as práticas dos historiadores profissionais que podem se articular com, para ou por determinado público2.

Paul Thompson (1992) e Michel Frisch (2016) observam que a história oral e a história pública investigam as narrativas socialmente vivas, constituídas através das diferentes demandas de representação do passado nas comunidades sociopolíticas e das práticas de autoria compartilhada (shared authority), nas quais o historiador pode realizar parcerias com públicos diversos para estabelecer as análises e a escrita da História. Para ambos os autores, as memórias socialmente vivas são fundamentais para se compreender a experiência dos homens no tempo e no locus privilegiado para investigação da História. Situamos nosso trabalho investigativo a partir desses referenciais teóricos e metodológicos que falam da necessidade de reconhecer os atores sociais que reivindicam uma memória/história para uma coletividade.

História e memória de ex-alunos/as

Em 2017, no centenário do CEFET/RJ, os pesquisadores deste artigo realizaram uma parceria com a Associação de Ex-alunos para compreender a trajetória da instituição escolar mediante os registros do arquivo geral do CEFET/RJ e da memória dos ex-estudantes. Os membros da associação foram estimulados a responder à pergunta “Como a escola mudou a sua vida?”. A organização dos testemunhos ficou a cargo do João Carlos Martins, membro da AEETNCEFET, mestre em História e Patrimônio Cultural pela Fundação Getúlio Vargas.

Em resposta ao chamado da Associação, 70 ex-alunos fizeram relatos sobre seu pertencimento à instituição e narraram sua trajetória pessoal durante os anos estudantis. Esses testemunhos foram parcialmente publicados no livro A escola que mudou a minha vida: uma história de vida, pertencimento, afeto, formação humana e profissional (Cardoso, Barreto, & Oliveira 2018). Esse corpus de documentos, articulado voluntariamente por ex-alunos, por um lado, suscita debates acerca da memória social da educação, por representarem as transformações da instituição escolar e do ensino industrial ao longo do século XX; por outro, remete às experiências e identidades sociais no mundo do trabalho.

Na história da educação, a prática da história oral e o debate sobre a memória social apresentam-se em projetos que salientam a relação entre a memória de diferentes sujeitos e as instituições, culturas e práticas escolares, evidenciando uma preocupação com a incorporação da ação de grupos sociais e de narrativas não canônicas na historiografia (Borba & Selles, 2020; Coelho & Vidal, 2013; Garnica & Martins-Salandim, 2016; Goellner, 2016; Grazziontin, 2016; Grazziontin & Almeida, 2012). A metodologia de história oral faz-se presente em centros de pesquisa relacionados, direta e indiretamente, à história da educação, nas salas de aula e nos eventos organizados pela Associação Brasileira de História Oral (ABHO). Em 2016, o encontro nacional da ABHO, organizado em Porto Alegre, teve como temática ‘História oral, práticas educacionais e interdisciplinares’ e culminou na publicação do livro História oral e práticas educacionais (Garnica, & Martins-Salandim, 2016).

No artigo ‘Registros orais: reflexões sobre depoimentos gravados como fonte de pesquisa para a história da educação e de memória para a comunidade escolar’, Patrícia Coelho e Diana Gonçalves Vidal salientam que a prática de história oral surgiu no âmbito da história da educação nas décadas finais do século XX, quando os historiadores da educação passaram a externar grande preocupação com as fontes (Coelho & Vidal, 2013). No intento de organizar e preservar os arquivos permanentes das instituições escolares, a história oral proporciona a superação de “[...] uma lacuna na história das instituições, a partir de múltiplas perspectivas; além disso, há que considerar a tessitura pedagógica ampliada ao envolver a comunidade escolar de professores, estudantes, famílias e funcionários no conhecimento da trajetória da instituição escolar” (Coelho & Vidal, 2013, p. 16-17).

Na historiografia sobre a Escola Técnica Nacional, dois trabalhos de mestrado destacam-se no uso da metodologia de história oral e da investigação dos arquivos escolares: Do “guarda pó” ao jaleco azul: caminhos de uma escola profissional..., de Aline Oliveira (2013), e Entre a técnica e a tática: movimentos estudantis na Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca, de Rodrigo Borba (2017). Os trabalhos partilham pressupostos da história social e cultural e tentam deslocar as narrativas canônicas elaboradas por Celso Suckow da Fonseca (1961), em História do ensino industrial no Brasil, e por Demosthenes Dias (1980), em Estudo documentário e histórico sobre a Escola Técnica Federal “Celso Suckow da Fonseca”. As obras naturalizam as relações de poder na escola e mostram a ETN como locus de uma narrativa nacional sobre o ensino industrial no Brasil. As pesquisas recentes citadas anteriormente usam da metodologia de história oral e partilham do deslocamento analítico operado nos trabalhos de Tereza Fachada Cardoso (2009, 2013) e Zuleide Silveira (2010) os quais demonstraram o interesse em compreender as transformações das relações sociais tecidas na comunidade escolar da Escola Técnica ao longo do século XX, enfatizando diferentes escalas de análise vinculadas à história social, cultural, política e econômica do Brasil.

Em diálogo com essa historiografia, este artigo compreende que a história oral participa do ‘trabalho de memória’ elaborado na sociedade. Em Ouvir contar, Verena Alberti (2004) considera que a história oral, mais do que compor um quadro de evidências e fatos do passado que foram esquecidos ou desconsiderados na História, participa de um trabalho narrativo. Nas entrevistas, “[...] ao contar suas experiências, o entrevistado transforma aquilo que foi vivenciado em linguagem, selecionando e organizando os acontecimentos de acordo com determinado sentido” (Alberti, 2004, p. 77); ao contar, “[...] a narrativa vai além do caso particular e nos fornece uma chave para a compreensão da realidade” (Alberti, 2004, p. 79).

Logo, compreende-se que o trabalho de memória realizado pela Associação dos Ex-alunos em colaboração com os pesquisadores, na produção do livro A escola que mudou a minha vida (Cardoso et al., 2018), revelou diferentes formas culturais que permitem analisar a história social da escola e suas temporalidades. Mais do que complementar lacunas do arquivo permanente de uma escola, o artigo compreende que o trabalho de memória realizado pelos testemunhos dos ex-alunos revela facetas da experiência social dos estudantes as quais fazem parte da história da educação e do ensino técnico industrial.

Para analisar as memórias dos ex-alunos, priorizamos o recorte temporal entre 1942 e 1965, em função das limitações do espaço do artigo e por enfatizar um conjunto de testemunhos identificados com a memória da geração que experimentou os modelos de cursos básicos e técnicos industriais ofertados a partir da fundação da Escola Técnica Nacional. Essa memória, vista como pioneira, é central na experiência da Associação de Ex-alunos. A partir do corpus de 70 testemunhos que vivenciaram o cotidiano escolar na segunda metade do século XX, selecionamos 19 depoimentos relacionados à fundação da escola e às transformações da ETN na década de 1960 (Tabela 1)3.

Tabela 1
Relação dos estudantes e identificação do curso e do período da experiência na Escola Técnica Nacional.

A maior presença masculina entre os ex-alunos evidencia um recorte de gênero na memória e no cotidiano escolar da ETN que será problematizado na análise dos testemunhos. Também é importante observar a presença de estudantes que permaneceram na ETN uma média de três a sete anos nos cursos industriais ofertados em duas modalidades: básico e técnico. Em 1963, a escola deixou de ofertar os cursos básicos industriais. Essa alteração veio acompanhada de uma tentativa de reformular a imagem da instituição que resultou na alteração dos nomes da escola. Esses pontos serão analisados através das memórias dos ex-alunos da ETN.

História da ETN e memórias do ensino técnico industrial

A ETN iniciou suas atividades em 1942, com o intuito de ser uma escola modelo para o ensino industrial no Brasil, mas só foi inaugurada oficialmente no ano seguinte. Na legislação do Estado Novo, a ETN serviria de exemplo para outras instituições de ensino industrial, instaladas em outras unidades da federação. As memórias dos 19 ex-alunos que ingressaram nos cursos industrial e técnico entre 1943 e 1965 expressaram orgulho da formação educacional recebida e da instituição modelo para o ensino técnico no Brasil5.

O testemunho de Eduardo Xavier Ferreira Filho evoca a fundação da ETN e a visita do então presidente Getúlio Vargas. A despeito de a memória ser um exercício presente sobre vivências do passado, das clivagens que podem atravessar a narrativa - classe, gênero, raça e geração -, a memória relatada no trecho a seguir se tornou recorrente na comunidade dos ex-estudantes: uma instituição educacional de transformação pessoal, social e profissional. Pode-se, até mesmo, correlacionar a mensagem subliminar exarada no hino da ETN com a percepção externada pelo depoente:

Fui deveras privilegiado por ter sido aluno da então Escola Técnica Nacional de 1943 a 1949, formando-me em técnico de máquinas e motores. Uma instituição criada por líderes inspirados por Deus. [...] Ela foi inaugurada em 1943 pelo então Presidente Getúlio Vargas. Ao inaugurar oficialmente a ETN e ingressar pelo portão principal da Escola, por um corredor formado por jovens alunos e alunas que lhe jogaram pétalas de rosa, eu era um desses alunos, tinha então 13 anos de idade. A ETN, além de oferecer cursos profissionalizantes, em horário integral; além de aulas teóricas e práticas de oficina, tínhamos educação física às 2ª, 4ª e 6ª, mais orientação musical segundo supervisão do então maestro Viana de renome internacional, e também atividades culturais. Nós cantávamos os hinos brasileiros em suas datas comemorativas, sabendo de cor todos os hinos como: Nacional, da Bandeira, da República, da Independência e outros. Havia total integração entre alunos e alunas, criando verdadeiros laços de união, afetividade e amor pela escola! E, com tudo isso, a ETN formou profissionais leais, competentes e de caráter, disputados pelas empresas! Foram chefes de famílias responsáveis e com genuíno amor ao Brasil! (Ferreira Filho, 2018).

Ferreira Filho ingressou na ETN em 1943, concluiu o curso industrial básico e, posteriormente, o técnico em Mecânica de Máquinas e Motores. Até o início de 1960, a escola ofertava dois níveis de ensino: para os estudantes com ensino primário completo, havia 14 cursos industriais básicos, oferecidos em quatro anos; para os estudantes com curso industrial ou secundário, ofereciam-se os cursos de técnicos profissionais, com duração de três anos. Todas as formações oferecidas tinham como característica a articulação com a indústria e a necessidade de educar a força de trabalho nacional, visando ao desenvolvimento econômico.

Getúlio Vargas é lembrado como fundador da Escola Técnica Nacional e articulador de um projeto nacionalista e industrial. Durante a década de 1940, o governo federal favoreceu o crescimento econômico por meio de investimentos estatais na indústria de base e na industrialização por substituição de importados. Através do Ministério do Trabalho e Indústria, com sua política trabalhista, o Estado Novo inventou um ideal de trabalhador integrado a um projeto nacional que negava os conflitos sociais e econômicos, numa linguagem política autoritária que propagava harmonia e colaboração entre as classes sociais para favorecer o desenvolvimento nacional. Vargas também favoreceu os debates das classes empresariais sobre a racionalização do trabalho e o foco no aumento da produtividade e da educação da força de trabalho nacional (Ferreira, 2011; Gomes, 2005; Weinstein, 2000).

Nos diferentes relatos de ex-estudantes da ETN, uma das marcas mais importantes de suas lembranças foi o ingresso imediato no mercado de trabalho, com rápida absorção na indústria, iniciando uma carreira que os acompanharia por um bom tempo no processo de construção de suas vidas e famílias. Luiz Paulo Correa da Rocha, que se formou em técnico em estradas, lembra com orgulho: “Não fui em busca de emprego. O emprego foi me buscar na Escola Técnica”. A fala serve para marcar uma experiência coletiva, na qual várias empresas buscavam a ETN para fazer acordos visando à contratação da força de trabalho especializada, e anúncios em jornais solicitavam técnicos formados na escola.

Muitos dos estudantes da geração de 1942 a 1965 que fizeram os cursos da Escola Técnica Nacional não realizaram formação em curso superior, pois apenas com a formação técnica asseguraram a conquista de uma posição no mercado de trabalho. Além disso, a legislação escolar restringia o acesso à universidade daqueles que realizavam cursos ‘técnicos’, diferenciando-os do ‘científico’6. Vale ressaltar a dicotomia do curso técnico industrial voltado às camadas populares e do científico, destinado às classes médias e altas (Romanelli, 2014; Silveira, 2010).

Dos relatos de memória dos ex-alunos, o de Eduardo Xavier Ferreira Filho mostra que ele foi um dos poucos da geração de 1940 e 1950 a ingressar em curso superior, nos anos 1960. Após o término do curso técnico, em 1949, ele trabalhou na General Eletric, White Martins e na Metalon e Cia. Internacional de Engenharia; continuou estudando, ingressou no curso superior em Engenharia da Produção, formou-se e retornou à ETN 20 anos depois como professor nos cursos técnicos e de engenharia (Ferreira Filho, 2018). Na sua visão, a ETN extrapolava a formação profissional, ao oferecer uma formação geral, humanista e cívico-nacionalista, com professores que se destacavam na docência no estado do Rio de Janeiro.

Essa formação geral foi um diferencial da ETN em relação aos outros cursos industriais. Nas reformas educacionais dos anos 1930 e 1940, as concepções de ensino técnico e industrial foram disputadas por escolanovistas, católicos e empresários: uma ala ligada às associações e aos sindicatos patronais almejava a construção de cursos rápidos, articulados às demandas e aos interesses das indústrias, enquanto o outro grupo vinculava o ensino técnico à necessidade de oferecer também uma formação humanista e generalista. Em 1942, o primeiro projeto se materializou na criação do Serviço Social da Indústria (SESI) e dos cursos técnicos ligados diretamente ao interesse da indústria, e o segundo vinculou-se à reforma da rede de escolas técnicas federais (Cunha, 1983; Schwartzman, Bomeny, & Costa, 2000; Weinstein, 2000).

Em ambos os projetos para o ensino industrial, pode-se identificar os imperativos de formar e educar a classe trabalhadora em acordo com as demandas da industrialização e da racionalização da força de trabalho, com o ideal fordista de formação de operários especializados, eficientes e disciplinados na linha de produção. O imperativo de racionalização da força de trabalho na indústria impulsionou uma onda de discursos sobre o ensino e seu vínculo às atividades prática e produtiva (Gomes, 2005; Weinstein, 2000). Em 1947, esse vínculo com o fordismo e as ideologias de organização do trabalho na indústria ficou evidente através do funcionamento da Comissão Brasileira-Americana de Ensino Industrial (CBAI), a qual afetou a docência e as práticas pedagógicas da ETN (Ciavatta & Silveira, 2010; Prohmann, 2016; Silva Neto & Costa, 2018).

A concepção de escola alinhada ao desenvolvimento industrial e à educação cívica e moral serviu para formar um ideal de classe trabalhadora que associava a conquista da profissão ao estabelecimento de relações familiares patriarcais na condição de ‘chefe de família’. Esse ideal de trabalhador nacional identificado com o gênero masculino e com valores patriarcais exala das memórias de ex-alunos da geração dos anos 1940 e 1950, como no relato de Jorge Paulo Mattos:

Escola pra mim só existe uma, a ESCOLA TÉCNICA NACIONAL!! As demais por onde passei, obviamente têm o seu valor, mas ela foi, é e sempre será a pérola da coroa!! Como é bom, até hoje, estar aí […] Deem-me motivos, e estarei aí revendo em ‘flashes’ momentos que jamais se apagaram da memória.

Foi nesta escola que tive a oportunidade de ver, viver e presenciar coisas boas e más, feias e bonitas, dos 13 aos 17 anos [de 1958 a 1962] [...]. Foi aí que aprendi a discernir o que é bom ou ruim, o melhor para um homem e o seu futuro. Foi através destes exemplos, bons e ruins, que pude forjar a base mínima da minha formação, do meu caráter. Sou de origem suburbana e pobre, sem muitos exemplos a serem seguidos, porém o que poderia querer um homem com caráter, coisa tão rara nos dias de hoje, além da construção de uma família, ver seus filhos formados (3) e o mais que necessário para o final da sua existência? Sabe quem me proporcionou este tesouro e esse orgulho de tê-lo?? A ESCOLA TÉCNICA NACIONAL!! (Mattos, 2018b, grifo do autor).

Paulo Mattos iniciou seus estudos na ETN em 1958, após passar na seleção do curso de Máquinas e Motores e, posteriormente, foi transferido para o curso de Máquinas e Instalações Elétricas. Ele também ingressou no curso de técnico e seguiu para o mercado de trabalho, creditando à formação da ETN a condição material para criar e formar seus três filhos. No projeto varguista e pedagógico que orientou a formação do ‘trabalhador nacional’, a figura do operário confundia-se com a imagem do ‘pai’ provedor de família, sendo a mulher restrita ao papel de ‘dona de casa’ e mãe.

Apesar de as mulheres serem parte da força de trabalho em diversos setores da agricultura, da indústria e dos serviços, era a figura masculina que caracterizava o ‘trabalhador’. Percebe-se essa estrutura discursiva nas memórias dos ex-estudantes as quais se coadunam com a estrutura organizacional dos cursos profissionais da ETN. Além disso, é preciso lembrar que a sociedade brasileira é fortemente marcada pelo patriarcalismo. O Código Civil de 1916 considerava as mulheres incapazes para contrair contrato de emprego e de compra e venda de alguns produtos. Somente com a autorização do pai ou marido as mulheres poderiam entrar no mercado de trabalho. Tal status só veio a ser alterado com a Lei nº 4.121 (1962), reconhecendo a autonomia feminina no mundo do trabalho, mas mantendo ainda várias restrições de direitos que afetavam suas trajetórias.

É interessante, nesse sentido, observar as poucas narrativas de alunas sobre a ETN e a forma como o sexismo organizou o acesso aos cursos. Joaquina Freitas Sampaio lembra:

A ETN, na minha vida de garota de 12 anos nos anos de 1947, órfã, muito me ajudou a ter uma profissão e ainda ter uma alimentação diária (café, almoço e lanche), por ter mais três irmãs para a minha mãe, era como se dizia na época: uma boca a menos nas refeições. Formei-me no curso Industrial de Corte e Costura que agradeço por ter aprendido o que naquela época era profissão para moça. [...] O que aprendi nos quatro anos de curso ajudou a formar meu caráter; a ser companheira das colegas que a maioria era pobre e principalmente com a alimentação, que era muito importante para mim, principalmente na hora do almoço, pois era uma alimentação saudável e farta (Sampaio & Abreu, 2018).

Assim como Joaquina Sampaio, Alzira Mattos frequentou o curso Industrial de Corte e Costura. Ambas lembram que essa era uma ‘profissão para moça’, fazendo referência à importante composição feminina na força de trabalho da indústria têxtil carioca, na primeira metade do século XX, mas também demarcando fronteiras de gênero na definição do acesso à escola. Ainda que tenham se formado em um curso industrial, a educação permitiu uma trajetória distinta para ambas: Joaquina Sampaio tornou-se secretária e, nos anos 1960, voltou a estudar, concluiu o ‘científico’ e ingressou no curso de Administração; já Alzira Mattos se casou com um colega da ETN e tornou-se dona de casa (Mattos, 2018a).

Essas foram as poucas memórias femininas a que conseguimos ter acesso da geração formada no curso técnico e industrial da ETN - duas em dezenove memórias de ex-alunos. Em 1952, o diretor da escola declarou ao jornal Última Hora que os ‘meninos’ representavam cerca de 70% dos estudantes (Para uma breve..., 1952, p.8). A escola era diferente de outras instituições, como o Colégio Militar, que permitia apenas ingresso de estudantes homens, mas, ainda assim, as mulheres eram minoria! A declaração do diretor ao jornal visava a justificar as constantes brigas entre estudantes da escola nas proximidades do colégio e que assumiu um caráter trágico para a cidade com a morte do estudante Horácio Lucas, do Colégio Militar, morto em uma briga com estudantes da ETN7. Essa assimetria de gênero espelha os papéis designados para as mulheres, as quais, escassas na ETN, eram presença hegemônica na vizinha Escola Normal. Na acomodação dos papéis de gênero, cabia a formação industrial para os homens e o magistério, ou corte e costura, para as mulheres.

Apesar de não ser um colégio exclusivo para homens, a masculinidade era um dos traços na definição do cotidiano escolar, como fica evidente nas várias memórias. Graudo de Abreu, ex-aluno e membro da associação, construiu uma imagem do passado recortado pelos ‘apelidos’ e laços de camaradagem entre os ‘meninos’:

Há 67 anos, quando ainda iniciava os 13 anos, tive um dos melhores instantes da minha vida ao ver o meu nome na lista dos aprovados, no exame de admissão à ETN. Não estava sozinho na euforia: os meus recentes colegas, e nunca nos víramos antes, trataram de gozar as minhas calças curtas com o batismo de ‘cueca’! E assim começou essa camaradagem, de tão grata memória que hoje ainda me recordo de boa parte deles, do jeito como eram, de suas características. Será que eles se lembram de como eram? Que o Guaracy era um ‘tampinha’ e vivia alegre, mexendo com todo o mundo? Que o Adhemar já era ‘sério, comportado’, projeto do dedicado profissional que viria a ser, e excelente companheiro? E o Gilberto de Morais, bem ‘molecão’, e Gilberto Moreira, sempre arrumado, simpático, mais ‘adulto’, alvo das paqueras femininas e sumidas pela vida, pois talvez nem saibam da Associação de Ex-Alunos? E você, Cesar, Cesar Coelho de Morais, recorda o ‘esquilo’, que você rebatizou de ‘fominha’, e do qual não parecia gostar muito? E tínhamos o Roberto ‘perneta’; o ALMIR ‘babão’; um risonho portuguesinho chamado ‘Manuel’; e o ‘manuelzinho’, aplicado aluno de todas as matérias, mas que se excedia na oficina [...] (Abreu, 2018, grifo do autor).

Graudo de Abreu frequentou a escola entre 1951 e 1955, fazendo o curso industrial de marcenaria. A narrativa sobre a experiência escolar é atravessada pela lembrança dos ‘apelidos’ dos colegas, de suas características de comportamento, dos namoros e da camaradagem. ‘Cueca’, ‘tampinha’, ‘molecão’, ‘esquilo’, ‘fominha’, ‘babão’, ‘manuelzinho’, ‘anjinho’, ‘caverinha’, ‘ovo-de-peru’, dentre outros apelidos num repertório longo de nomes e lembranças. As ‘meninas’ aparecem nesse registro como alvo de paqueras. Uma das marcas dessa oralidade, que também está presente na formação da Associação dos Ex-alunos, é lembrar quem era quem na escola e de anedotas que faziam parte do cotidiano, mediadas pela lembrança dos ‘apelidos’ e dos encontros de amizade e romantismo na juventude.

A maior parte dos ex-alunos da geração dos anos 1940 e 1950 era de origem pobre e suburbana e tinha expectativa de sobrevivência material com o curso industrial ou técnico. As trajetórias dos ex-alunos são sempre assinaladas pelas experiências de dificuldades econômicas que marcam a vida das famílias dos trabalhadores na cidade do Rio de Janeiro. Janes Ivantes ingressou no curso Industrial de Máquinas e Instalações Elétricas em 1954 e chegou à escola transferido de um ginásio no município de Duque de Caxias, quando sua mãe ficou viúva e foi morar no subúrbio; Marivaldo F. Pimentel ingressou na escola em 1958, no regime de semi-internato, no curso Industrial de Máquinas e Motores, e lembra que saía de Jacarepaguá para a estação de São Cristóvão, uma ‘verdadeira odisseia’, que incluía bonde e o trem parador da Central do Brasil (Pimentel, 2018; Rage, 2018).

Na memória dos ex-estudantes dessa geração, está o regime de semi-internato, que existiu até 1962. Esses estudantes pobres passavam a maior parte do dia na ETN: “[...] ficávamos o dia inteiro na escola, com várias atividades específicas, como educação física, oficinas e as aulas curriculares. Recebíamos um armário onde tudo era guardado, além de ter que tomar banho, café da manhã e almoço” (Pimentel, 2018). Em função desse semi-internato, em finais da década de 1950, o diretor da ETN permitiu a instalação de uma barbearia8 no espaço escolar para os estudantes manterem o corte do cabelo em dia - exigência disciplinar de asseio e cuidado que os alunos aprendiam. O regime de semi-internato oferecia possibilidades de permanência na instituição, condição sine que non para os estudantes pobres, provenientes de famílias identificadas com a classe trabalhadora, cumprirem a jornada na instituição.

Mas, cruzando documentos escritos e narrativas orais, podemos perceber que protestos e reivindicações também fizeram parte desse cotidiano escolar. Em 1951, na seção ‘Fala o Povo na Última Hora’ do jornal Última Hora - uma coluna do jornal aberta a reclamações sobre problemas urbanos e cotidianos vivenciados no Rio de Janeiro -, publicou-se um dos vários protestos feitos por estudantes contra a má qualidade da comida oferecida no refeitório:

[...] Gororóba [sic]

Larie de Melo Braga reclama contra a gororóba [sic] fornecida pelo restaurante da Escola Técnica Nacional. Até cachorro esfomeado rejeita sua comida. Queixa-se, ainda, contra os professores, os quais faltam, sistematicamente, o mês inteiro. Não será por causa da gororóba [sic]? (Gororóba, 1951, p. 2).

Protestos e discussão sobre a organização do cotidiano escolar eram constantes na Associação de Alunos e Ex-alunos da Escola Técnica (AAEAT), criada em 1944 por iniciativa dos estudantes e do diretor - o engenheiro e professor Celso Suckow da Fonseca, que dirigiu a escola entre 1944-1951 e 1960-1966 -, com o intuito de mobilizar a ‘juventude’ para os assuntos nacionais e relativos ao ensino técnico. A representação estudantil criou o jornal O Micron em 1945, participou da organização de bailes, formaturas, competições esportivas e realizou protestos na cidade, alinhando os estudantes da ETN com outros grupos sociais e políticos. Nos anos 1960, assim como outras organizações estudantis, a AAEATN viveu um momento de radicalização e polarização entre direita e esquerda no debate das reformas de base e na luta contra a ditadura civil-militar (Borba, 2017). Alguns estudantes como Osvaldo Orlando Costa - ‘Osvaldão’ - (1938-1974), e Iuri Xavier Pereira (1948-1972) participaram da vida estudantil na AAEATN e, posteriormente, ingressaram em organizações políticas da luta armada contra o regime militar.

Nesse período, o perfil dos estudantes se alterou de maneira profunda com o fim dos cursos industriais e do regime de semi-internato, com a última turma se formando em 1965. Nesse período, a escola passou por várias transformações. O fim dos cursos industriais básicos e o enfoque em cursos técnicos de formação de quatro anos levaram também à alteração do uniforme da escola: deixou de ser o ‘macacão’ de fábrica e se tornou o ‘jaleco’. O jaleco é a expressão de um universo científico, uma referência aos laboratórios e ao mundo acadêmico; em contraposição ao ‘macacão’ identificado com o chão de fábrica. Além disso, essa mudança indicava uma alteração do perfil do estudante, o qual, nos anos 1960 e 1970, aproximou-se de um modelo ideal para formar o ensino médio e as classes médias (Oliveira, 2013).

Outra mudança significativa nos anos 1960 diz respeito à modificação do nome da escola. Em agosto de 1965, através da Lei nº 4.759, a Escola Técnica Nacional passou a se chamar Escola Técnica Federal da Guanabara (ETFG), devido à mudança da capital para Brasília, ocorrida em 1960, passando o antigo Distrito Federal a ser o estado da Guanabara (Lei nº 4.759, 1965). Novamente, a escola teve seu nome alterado, mediante o Decreto-lei nº 181, de 17 de fevereiro de 1967, para Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca, em homenagem a seu diretor e também professor, falecido em 1966 numa viagem aos Estados Unidos para estudar modelos de ensino técnico e industrial a serem aplicados na reforma educacional do período (Decreto-lei nº 181, 1967).

A rápida mudança de nomes da escola técnica traduz as tensões existentes na instituição diante das alterações sociopolíticas da cidade do Rio de Janeiro no início dos anos 1960. Por ser capital nacional durante maior parte do processo de formação do Estado nacional brasileiro, o Rio de Janeiro concentrou a maioria das instituições de cultura e educação que serviam de exemplo para outras localidades. Ao alterar seu status de território federal para se tornar um estado, a mudança afetava não apenas a estrutura política, mas também a autoimagem da escola como uma referência modelo para o restante do Brasil. Outrossim, a Escola Técnica passou a assumir o nome do diretor e patrono que liderou a instituição nas reformas educacionais do ensino técnico industrial na década de 1960. Celso Suckow da Fonseca9 foi o engenheiro, educador e diretor da instituição de ensino entre 1960 e 1966 escolhido para três mandatos consecutivos no Conselho de Representantes da Escola Técnica.

Apesar de a instituição escolar perder a centralidade no debate sobre o ensino industrial nos anos 1960, deixando de ser o modelo que balizaria outras instituições, na memória social da associação de ex-alunos, a centralidade e a capitalidade da instituição escolar são uma constante, reafirmada e repetida em diferentes práticas e representações. Quando se visita a sede da associação e observam-se os painéis construídos para celebrar a memória escolar, tem-se a impressão de que vemos uma narrativa da história nacional mediada pela participação e pela ação dos ex-alunos que trabalharam em diferentes setores da economia e participaram de competições esportivas famosas.

Considerações finais

As memórias de ex-alunos oferecem um importante aporte para refletir sobre a história da educação no Brasil. Os testemunhos registram oralidades, temporalidades coletivas e individuais e significados que contribuem para diversificar as análises sobre a trajetória das instituições escolares e seus vínculos com as relações de classe e gênero, constitutivas da sociedade brasileira. No caso da ETN, esses relatos trazem dimensões da vida escolar que não são problematizadas em histórias oficiais do ensino técnico e industrial, como aquelas elaboradas por Celso Suckow da Fonseca (1961) e Demosthenes Dias (1980).

Neste artigo, evidenciamos como o projeto de educação e ensino que fundou a ETN criou oportunidades e afetou a formação social e política de toda uma geração que se formou no ensino industrial e técnico, entre 1943 e 1965. Assim, o projeto educacional construído durante os anos 1930 e o Estado Novo ganhou diferentes sentidos na vida e nas trajetórias dos estudantes, numa perspectiva de expansão do direito à educação. O nacionalismo, a relação entre educação e classe social, bem como os ideais de masculinidade na construção de uma classe trabalhadora balizaram as referências sociais e políticas das vidas dos ex-alunos e das memórias cultivadas na AEETNCEFET.

Referências

  • Abreu, G. (2018). Entrevista com G. Abreu [ Entrevista concedida a João Carlos Martins]. Rio de Janeiro.
  • Alberti, V. (2004). Ouvir contar: textos em história oral Rio de Janeiro, RJ: Ed. FGV.
  • Borba, R. C. (2017). Entre a técnica e a tática: movimentos estudantis na Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca (1967-1978) (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
  • Borba, R. C. N., & Selles, S. E. (2020). Pesquisa com história de vida na produção da história da educação em ciências: o dispositivo fotobiográfico como recurso para compreensão de experiências sociais. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, (20), 275-402.
  • Cardoso, T. F. L. (2013). Um acervo da memória nacional: o arquivo do CEFET-RJ. In A. Nascimento, C. S. Chamon (Org.), Arquivo e história do ensino técnico no Brasil (p. 105-121). Belo Horizonte, MG: Mazza Edições.
  • Cardoso, T. F. L. (2009). A trajetória da Escola Normal de Artes e Ofícios Wenceslau Braz (1917-1937). In M. W. Chaves, & S. C. Lopes (Org.), Instituições educacionais da cidade do Rio de Janeiro - um século de história (1850-1950) Rio de Janeiro, RJ: Mauad, Faperj.
  • Cardoso, T. F. L., Barreto, M. R., & Oliveira, S. S. R. (2018). A escola que mudou a minha vida: uma história de vida, pertencimento, afeto, formação humana e profissional Rio de Janeiro, RJ: Poiatec.
  • Ciavatta, M., & Silveira, Z. S. (2010). Celso Suckow da Fonseca Recife, PE: Ed. Fundação Joaquim Nabuco.
  • Coelho, P., & Vidal, D. G. (2013). Registros orais: reflexões sobre depoimentos gravados como fonte de pesquisa para a história da educação de memória para a comunidade escolar. In A. Nascimento, & C. S. Chamon (Org), Arquivos e história do ensino técnico no Brasil (p. 15-31). Belo Horizonte, MG: Mazza.
  • Cunha, L. A. (1983). A política educacional e a formação da força de trabalho industrial na Era Vargas. In C. M. Franco, & A. A. Abreu (Coord.), A revolução de 30: seminário internacional realizado pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil: (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas. Rio de Janeiro. Setembro de 1980 (p. 437-471). Brasília, DF: Ed. UNB.
  • Decreto-lei nº 181, de 17 de fevereiro de 1967. (1967, 20 de fevereiro). Da nova denominação a atual escola técnica federal da Guanabara. Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca . Diário Oficial da União Recuperado de: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1960-1969/decreto-lei-181-17-fevereiro-1967-375916-publicacaooriginal-1-pe.html
    » https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1960-1969/decreto-lei-181-17-fevereiro-1967-375916-publicacaooriginal-1-pe.html
  • Dias, D. O. (1980). Estudo documentário e histórico sobre a Escola Técnica Federal “Celso Suckow da Fonseca” Rio de Janeiro, RJ: Setor de Artes Gráficas do Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro.
  • Fagundes, B. L. (2019, maio). História pública brasileira e internacional: seu desenvolvimento no tempo, possíveis consensos e dissensos. Revista NUPEM, 11(23), 29-47. Recuperado de: https://vortex.unespar.edu.br/index.php/nupem/article/view/5719/3743
    » https://vortex.unespar.edu.br/index.php/nupem/article/view/5719/3743
  • Ferreira, J. (2011). Trabalhadores do Brasil: o imaginário popular (1930-1945) Rio de Janeiro, RJ: 7 Letras.
  • Ferreira Filho, E. X. (2018). Entrevista com E. X. Ferreira Filho [Entrevista concedida a João Carlos Martins]. Rio de Janeiro.
  • Fonseca, C. S. (1961). História do ensino industrial no Brasil Rio de Janeiro, RJ: Escola Técnica Nacional.
  • Frisch, M. (2016). A história pública não é uma via de mão única, ou, De A Shared Authority à cozinha digital, e vice-versa. In A. M. Mauad, J. R. Almeida, & R. Santhiago (Org.), História pública no Brasil: sentidos e itinerários (p. 57-69). São Paulo, SP: Letra e Voz.
  • Garnica, A. V. M., & Martins-Salandim, M. E. (2016). História oral e educação matemática: perspectivas e um projeto coletivo. In C. S. Rodeghero, L. Grinberg, & M. Frotscher (Org), História oral e práticas educacionais (p. 176-189). Porto Alegre, RS: Ed. UFRGS.
  • Goellner, S. V. (2016). Garimpando memórias: esporte, lazer e educação física. In C. S. Rodeghero, L. Grinberg, & M. Frotscher (Org), História oral e práticas educacionais (p. 191-200). Porto Alegre, RS: Ed. UFRGS .
  • Gomes, A. M. C. (2005). A invenção do trabalhismo (3a ed.). Rio de Janeiro, RJ: Ed. FGV .
  • Gororóba. (1951, 24 de setembro). Última Hora Recuperado de: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=386030&pagfis=2532
    » http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=386030&pagfis=2532
  • Grazziotin, L. S. S. (2016). História da educação e história oral: possibilidades de pesquisa em acervos de memória. In C. S. Rodeghero, L. Grinberg, & M. Frotscher (Org.), História oral e práticas educacionais (p. 162-176). Porto Alegre, RS: Editora da UFRGS.
  • Grazziotin, L. S. S., & Almeida, D. B. (2012). Romagem do tempo e recantos da memória: reflexões metodológicas sobre história oral São Leopoldo, RS: Oikos.
  • Halbwachs, M. (2013) A memória coletiva (2a ed.). São Paulo, SP: Centauro.
  • Hino da Escola Técnica Nacional (1943). Rio de Janeiro, RJ: Arquivo da Associação de Ex-Alunos da Escola Técnica Nacional e Centro Federal de Educação Tecnológica (AEETNCEFET).
  • Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. (1961, 27 de dezembro). Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União , seção 1, p. 11429. Recuperado de: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-4024-20-dezembro-1961-353722-publicacaooriginal-1-pl.html
    » https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-4024-20-dezembro-1961-353722-publicacaooriginal-1-pl.html
  • Lei nº 4.121, de 27 de agosto de 1962. (1962, 3 de setembro). Dispõe sobre a situação jurídica da mulher casada. Diário Oficial da União , seção 1, p. 9125. Recuperado de: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/l4121.htm
    » http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/l4121.htm
  • Lei nº 4.759, de 20 de agosto de 1965. (1965, 24 de agosto). Dispõe sôbre a denominação e qualificação das Universidades e Escolas Técnicas Federais. Diário Oficial da União , seção 1, p. 8554. Recuperado de: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/l4759.htm
    » http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/l4759.htm
  • Liddington, J. (2011). O que é história pública? In J. R. Almeida, & M. G. O. Rovai (Org.), Introdução à história pública (p. 31-52). São Paulo, SP: Letra e Voz .
  • Mattos, A. (2018a). Entrevista com A. Mattos [Entrevista concedida a João Carlos Martins]. Rio de Janeiro.
  • Mattos, J. P. (2018b). Entrevista com J. P. Mattod [Entrevista concedida a João Carlos Martins]. Rio de Janeiro.
  • Mauad, A. M., Almeida, J. R., & Santhiago, R. (Org.). (2016). História pública no Brasil: sentidos e itinerários. São Paulo, SP: Letra & Voz.
  • Oliveira, A. R. C. (2013). Do “guarda-pó” ao jaleco azul: caminhos de uma escola profissional, sua construção e seu impacto sobre os egressos (Dissertação de Mestrado). Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. Recuperado de: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/10841
    » https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/10841
  • Para uma breve Estação de Rádio na Escola Técnica (1952, 4 de agosto). Última Hora . Recuperado de: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=386030&Pesq=%22Escola%20T%c3%a9cnica%22&pagfis=8927
    » http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=386030&Pesq=%22Escola%20T%c3%a9cnica%22&pagfis=8927
  • Pimentel, M. F. (2018). Entrevista com M. F. Pimentel [Entrevista concedida a João Carlos Martins]. Rio de Janeiro.
  • Pollack, M. (1989). Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, 2(3), 3-15.
  • Pollack, M. (1992). Memória e identidade social. Estudos Históricos , 5(10), 200-212.
  • Prohmann, M. (2016) Americanismo e fordismo nos boletins da Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial (Dissertação de Mestrado). Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba. Recuperado de: https://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/1658/1/CT_PPGTE_M_Prohmann%2c%20Mariana_2016.pdf
    » https://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/1658/1/CT_PPGTE_M_Prohmann%2c%20Mariana_2016.pdf
  • Rage, J. I. (2018). Entrevista com J. I. Rage [Entrevista concedida a João Carlos Martins]. Rio de Janeiro.
  • Rodeghero, C. S., Grinberg, L., & Frotscher, M. (Org.). (2016). História oral e práticas educacionais Porto Alegre, RS: Ed. UFRGS .
  • Romanelli, O. O. (2014). História da educação no Brasil: (1930-1973) (40a ed.). Petrópolis, RJ: Vozes.
  • Sampaio, J. F & Abreu, G. (2018). Entrevista com J. F. Sampaio e G. Abreu [Entrevista concedida a João Carlos Martins]. Rio de Janeiro.
  • Schwartzman, S., Bomeny, H. M. B., & Costa, V. M. R. (2000). Tempos de Capanema Rio de Janeiro, RJ: Ed. FGV .
  • Silva Neto, O., & Costa, D. A. (2018). A Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial (CBAI) e o ensino industrial em Florianópolis. In: Anais do 16 o Seminário Temático - provas, exames e a escrita da história da educação matemática Boa Vista, RR. Recuperado de: https://xviseminariotematico.paginas.ufsc.br/files/ 2018/05/SILVA_NETO_COSTA_T1_vf.pdf
    » https://xviseminariotematico.paginas.ufsc.br/files/ 2018/05/SILVA_NETO_COSTA_T1_vf.pdf
  • Silveira, Z. S. (2010) Contradições entre capital e trabalho: concepções de educação tecnológica na reforma do ensino médio e técnico Jundiaí, SP: Paco.
  • Smith, R. C. (2012) Circuitos de subjetividade: história oral, o acervo e as artes São Paulo,SP: Letra & Voz.
  • Thompson, P. (1992). A voz do passado: história oral Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra.
  • Weinstein, B. (2000). (Re)formação da classe trabalhadora no Brasil (1920-1964) São Paulo: Cortez.
  • 1
    A análise dos relatos dos membros da AEETNCEFET está calcada nessa compreensão da memória como construção social. Michel Pollack (1989, 1992) e Maurice Halbwachs (2013) consideram que a memória se relaciona à manutenção da coesão dos grupos e das identidades e às relações tecidas por esses atores com a sociedade englobante; assim, as lembranças pessoais ganham significados e buscam referências nos quadros da memória coletiva, os quais são atualizados nas interações e sociabilidades.
  • 2
    Para um debate mais aprofundado sobre a relação entre história oral e história pública, ver: Fagundes (2019); Liddington (2011); Mauad, Almeida & Santhiago (2016).
  • 3
    O quadro foi feito pelos autores a partir da consulta das entrevistas organizadas por João Carlos Martins. Cf. Cardoso et al. (2018).
  • 4
    As memórias de Walter Pereira foram relatadas por sua filha para João Carlos Martins, uma vez que aquele tinha um quadro diagnosticado de Alzheimer, e feitas a partir de suas lembranças de conversas com o pai e dos fragmentos de memória de Walter.
  • 5
    O orgulho nessa lembrança é celebrado não só pelos ex-alunos da ETN, mas também se constituiu uma memória de tabela para outros estudantes que vivenciaram um período em que a escola já havia deixado de ser exemplo e modelo para outras instituições de ensino industrial e técnico.
  • 6
    Na legislação educacional que vigorou entre as décadas de 1940 e 1960, somente o ensino secundário ou ‘científico’ dava acesso a qualquer carreira do ensino superior, e as modalidades de ensino técnico tinham acesso vedado ou limitado. Na Lei de Diretrizes e Bases de 1961 (Lei nº 4.024, 1961), os cursos técnicos davam acesso ao ensino superior nas carreiras correspondentes à formação adquirida durante o colegial.
  • 7
    A morte do estudante levou a várias reportagens sensacionalistas nos jornais da época e à alteração do nome de um largo em frente ao Colégio Militar, para Largo Horácio Lucas.
  • 8
    Na unidade do Maracanã do CEFET-RJ, a barbearia permitida pela direção escolar nos anos 1950 continuou existindo até 2020, quando foi fechada em função da pandemia. Nesse período, constituiu uma clientela entre ex-alunos, professores, novos estudantes e outros frequentadores do espaço escolar.
  • 9
    Celso Suckow da Fonseca (1905-1966) nasceu no Rio de Janeiro, formou-se em Engenharia Civil pela Escola Polytecnica do Rio de Janeiro em 1929 e teve sua trajetória profissional ligada à Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB) e à Escola Técnica Nacional (ETN). Ingressou como professor da ETN em 1942, quando foi fundada, no Estado Novo, sendo diretor indicado pelo Ministério da Educação entre maio de 1943 e 1951, e escolhido pelo Conselho de Representantes da ETN, ocupando o primeiro lugar em lista tríplice, entre 1960 e 1966. Cf. Ciavatta & Silveira (2010).
  • 14
    Rodadas de avaliação: R1: três convites; uma avaliação recebida; R2: três convites; duas avaliações recebidas; R3: dois convites: uma avaliação recebida
  • 15
    Como citar este artigo: Oliveira, S. S. R., Cardoso, T. F. L., & Barreto, M. R. Escola Técnica Nacional: história oral, memória e cotidiano de uma instituição escolar (1942-1965). (2023). Revista Brasileira de História da Educação, 23. DOI: http://doi.org/10.4025/rbhe.v23.2023.e242 Este artigo é publicado na modalidade Acesso Aberto sob a licença Creative Commons Atribuição 4.0 (CC-BY 4)

Editado por

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Fev 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    23 Set 2021
  • Aceito
    01 Set 2022
  • Publicado
    01 Dez 2022
location_on
Sociedade Brasileira de História da Educação Universidade Estadual de Maringá - Av. Colombo, 5790 - Zona 07 - Bloco 40, CEP: 87020-900, Maringá, PR, Brasil, Telefone: (44) 3011-4103 - Maringá - PR - Brazil
E-mail: rbhe.sbhe@gmail.com
rss_feed Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS
Acessibilidade / Reportar erro