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As literaturas de língua espanhola nas páginas da Revista Acadêmica (1933-1948)

The Literatures in Spanish Language on the pages of the Revista Acadêmica (1933-1948)

RESUMO

A Revista Acadêmica foi um periódico crítico-literário de grande destaque no cenário editorial brasileiro. A revista contribuiu para difundir a arte moderna acompanhada de crítica especializada, entre as décadas de 1930 e 1940. Murilo Miranda, editor da publicação carioca, criou uma extensa rede intelectual para a produção e a distribuição do periódico, incluindo escritores brasileiros e estrangeiros. Nesse sentido, este artigo propõe a análise da presença das literaturas de língua espanhola na Revista Acadêmica. Busca-se reiterar a abrangência da rede tecida pelo jornalista e analisar a inserção da literatura brasileira num panorama geográfico e cultural mais amplo. Para o trabalho proposto, parte-se dos estudos de Laura Ribeiro (1989), Muza Velasques (2000), Raúl Antelo (1997) e Vagner Camilo (2013) sobre a atuação editorial da revista. Constata-se, assim, entre os legados da publicação, o intercâmbio realizado com as literaturas de língua espanhola e da literatura brasileira além das fronteiras nacionais.

Palavras-chave:
literatura hispânica; literaturas hispano-americanas; literaturas latino-americanas; redes intelectuais; Revista Acadêmica

ABSTRACT

The Revista Acadêmica was a critic-literary periodical of great importance in the Brazilian publishing scene. This magazine contributed to spread the modern art followed by specialized critics between the 1930’s and the 1940’s. Murilo Miranda, editor of this magazine headquartered in Rio de Janeiro, built a wide intellectual network to publish and distribute the publication, including Brazilian and foreign writers. For that matter, the article presented herein seeks to analyze the literatures in Spanish language in the Revista Acadêmica. The article seeks to reaffirm the reach of the network built by the journalist, as well as analyzing the insertion of the Brazilian literature in a wider geographic and cultural scene. The article is based on studies of Laura Ribeiro (1989), Muza Velasques (2000), Raúl Antelo (1997), and Vagner Camilo (2013) regarding the present publishing activities of the magazine. Thus, one can see, amid the publishing legacy, the interchange with the literature in Spanish language, and the Brazilian literature beyond the national borders.

Keywords:
Hispanic Literature; Hispanic-American Literatures; Latin-American Literatures; intellectual networks; Revista Acadêmica

No marco de 90 anos da estreia da Revista Acadêmica, é oportuno recordar o legado cultural do periódico fundado por Murilo Miranda (1912-1971). A revista surge num período de grande efervescência cultural e política, tornando-se um importante espaço de difusão da arte moderna e um instrumento de luta política. A Revista Acadêmica é situada entre “as tendências internacionalistas e liberalizantes” (Antelo, 1997, p. 7ANTELO, Raúl. As revistas literárias brasileiras. Boletim de Pesquisa NELIC, v. 1, n. 2, 1997, p. 3-11. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/nelic/article/view/1041 . Acesso em: 21 abr. 2024.
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) que marcam as publicações literárias brasileiras quando “a partir de 1930 [...] o esforço pedagógico concentra-se na luta ideológica e no balanço do próprio modernismo” (Antelo, 1997, p. 7ANTELO, Raúl. As revistas literárias brasileiras. Boletim de Pesquisa NELIC, v. 1, n. 2, 1997, p. 3-11. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/nelic/article/view/1041 . Acesso em: 21 abr. 2024.
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).

A publicação foi uma iniciativa de estudantes da Faculdade Nacional de Direito do Rio de Janeiro (Figura 1). O fato explica a origem do título, aparentemente, contraditório (Ribeiro, 1989, p. 2RIBEIRO, Laura Maria de Abreu Daniel. Revista Acadêmica (1933-1948) e a Arte Moderna Brasileira nas Décadas de 1930-1940. Tese (Mestre em História do Brasil) - Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1989.), já que a revista, cuja atividade editorial voltada para a arte “antiacadêmica”, isto é, de linha modernista, também não se identifica com o caráter institucional e solene carreado pelo adjetivo que a qualifica. O peso institucional é abdicado em favor de uma postura contra-hegemônica à consagração de uma seriedade de fachada nos estudos universitários.

Figura 1 -
Divulgação do nº 1 da Revista Acadêmica. Jornal do Brasil, 07 de setembro de 1933REVISTA ACADÊMICA. Jornal do Brasil, quinta-feira, 7 de setembro de 1933, p. 13. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/030015_05/36120 . Acesso em: 21 abr. 2024
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, p. 13.

No texto de apresentação, Murilo Miranda trata, irreverentemente, as possíveis reações adversas no contexto universitário: “a Revista Acadêmica não tem prestígio na classe acadêmica” (Miranda, 1933, p. 3MIRANDA, Murilo (org.). Revista Acadêmica, n. 1, setembro/1933.). No editorial-manifesto, o jovem aluno afirma, jocosamente, que “na classe acadêmica ninguém tem prestígio. Os que pensam ter prestígio são aqueles que ‘pensam que pensam’...” (Miranda, 1933, p. 3MIRANDA, Murilo (org.). Revista Acadêmica, n. 1, setembro/1933.). A vacuidade dos egos e a necessidade de se repensar os problemas estudantis estão no cerne desse primeiro editorial, no qual se denuncia o afastamento da realidade, propondo um equilíbrio entre o campo das ideias (o espírito) e as necessidades pragmáticas (as ações) para os futuros “estudiosos”, isto é, os estudantes negligenciados.

Nesses pequenos trechos do abre-alas da revista, a postura “antiacadêmica” e a dicotomia espírito X ação sinalizam questões importantes do debate crítico-cultural, que encontraram, na Revista Acadêmica, um espaço dialético. Por um lado, a revista está em consonância com a proposta estética do Modernismo em seu gesto de renovação estética e de ruptura com os valores passadistas. Por outro lado, o “pulo do gato” (Miranda, 1933, p. 3MIRANDA, Murilo (org.). Revista Acadêmica, n. 1, setembro/1933.) é o engajamento incontornável diante de um mundo cada vez mais radicalizado ideologicamente: “mas a Revista Acadêmica vai pular sobre assuntos políticos”. A ascensão nazifascista, o integralismo, a difusão das ideias socialistas e a censura ao comunismo no Brasil compõem a infinidade de temas políticos que a revista aborda em suas pautas.

Esse direcionamento combativo marcou a publicação ao longo dos seus 70 númerosMIRANDA, Murilo (org.). Revista Acadêmica, n. 1, setembro/1933.-publicados entre setembro de 1933 e dezembro de 1948MIRANDA, Murilo (org.). Revista Acadêmica , n. 70, dezembro/1948.. Estavam com Murilo Miranda, os escritores Lúcio do Nascimento Rangel e Moacir Werneck de Castro, dividindo a redação da revista, além de Carlos Lacerda, Dante Viggiani e Otávio Dias Leite, que fizeram parte do corpo editorial. O grupo, que transitava entre a Academia e a boemia dos bairros centrais do Rio de Janeiro, como a Glória e a Lapa, recebeu o auxílio de intelectuais consagrados na literatura brasileira. Mário de Andrade é uma das figuras centrais na publicação, mantendo copiosa correspondência com Murilo Miranda, ao lado de nomes como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, o principal cronista das recordações do ambiente e dos personagens que passaram pela revista.

A atividade editorial de Murilo Miranda se caracterizou pelo empenho em reunir, também, artistas e intelectuais de distintas regiões do Brasil e de outros países que fossem afins à proposta da publicação. A profícua articulação se reflete na variedade de autores e textos divulgados pela revista, mas também na imensa correspondência do jornalista que se encontra, em grande parte, nos arquivos do Acervo Murilo Miranda da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRBACERVO MURILO MIRANDA. Sigla: MMi. Procedência: doado por Yedda Braga Miranda. Instrumento de pesquisa: não possui. Estágio de tratamento: não organizado. Dimensão: 2,18 m. Arquivo-Museu de Literatura Brasileira (AMLB) da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB).).1 1 Foram identificados outros documentos do autor e de seus correspondentes nos seguintes acervos: Centro de Documentação e Pesquisa (CEDOC - FUNARTE); Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil — Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV, Arquivo Gustavo Capanema); Fundação da Biblioteca Nacional (FBN - Coleção Murilo Miranda); Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP - Acervo Mário de Andrade) e Instituto Moreira Sales (Arquivo/Coleção: Érico Veríssimo). Existem mais de 200 documentos referentes à edição dos números da Revista Acadêmica e 85 remetentes, comprovando a tessitura de uma extensa rede intelectual de alcance nacional e internacional.

Entre os muitos temas e participações na revista, sobressai uma presença expressiva das literaturas hispânicas e hispano-americanas de autores que compartilhavam princípios estético-ideológicos afins à publicação. Por outro lado, a divulgação de textos de autores de língua espanhola é algo singular no panorama literário do Brasil, que começava a se interessar mais pela literatura norte-americana e era voltado para a literatura europeia, mormente francesa. Conquanto haja uma forte francofilia na orientação das pautas e na identidade da publicação - consubstanciada na homenagem à França (nº 67, 11/1946), um dos números de maior qualidade editorial da revista, segundo seus colaboradores e analistas -, é notável a representação das literaturas de língua espanhola e/ou artigos de escritores espanhóis e hispano-americanos.

Por conseguinte, após revisar, brevemente, a inserção da revista no panorama editorial brasileiro, este trabalho propõe a análise da presença das literaturas de língua espanhola na Revista Acadêmica, especialmente o papel de mediação cultural com a Espanha e os países hispano-americanos. Murilo Miranda consegue estabelecer uma rede intelectual que, além de expandir o raio de ação da revista, tentava romper o isolamento brasileiro em relação à América Latina. Era criada uma via de mão dupla, pois a revista abria espaço para difusão dos textos de língua espanhola no Brasil, mas também a propagação da literatura brasileira num quadro cultural de maior alcance, assinalando os traços comuns às demais literaturas latino-americanas.

Para o levantamento realizado, foram consultados os exemplares da Revista Acadêmica pertencentes à “Coleção Plínio Doyle” e a correspondência passiva do escritor entre as décadas de 1930 e 1940 no Acervo Murilo Miranda da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB). Recorreu-se, ademais, aos documentos da “Coleção Murilo Miranda” e da Hemeroteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), sobre a afluência da revista, e o catálogo da revista SurSUR. Buenos Aires, ano 12, n. 96, 1942, 115 p. Disponível em: https://catalogo.bn.gov.ar/F/?func=direct&doc_number=001218322&local_base=GENER . Acesso em: 21 abr. 2024.
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disponibilizado na Hemeroteca da Biblioteca Nacional Mariano Moreno da Argentina. Para a fundamentação teórica, utilizamos, principalmente, os estudos de Laura Ribeiro (1989RIBEIRO, Laura Maria de Abreu Daniel. Revista Acadêmica (1933-1948) e a Arte Moderna Brasileira nas Décadas de 1930-1940. Tese (Mestre em História do Brasil) - Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1989.), Muza Velasques (2000VELASQUES, Muza Clara Chavez. Homens de letras no Rio de Janeiro nos anos 30 e 40. 2000. 204 f. Tese (Doutora em História Social) - Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2000. Disponível em: https://www.historia.uff.br/stricto/td/6.pdf . Acesso em: 21 abr. 2024.
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), Vagner Camilo (2013CAMILO, Vagner. Jorge de Lima no contexto da poesia negra americana. Estudos Avançados, v. 27, n. 77, p. 299-318, 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/p58hb7rR6684wYNfddQM5Zs/?lang=pt# . Acesso em: 21 abr. 2024
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) e Raúl Antelo (1997ANTELO, Raúl. As revistas literárias brasileiras. Boletim de Pesquisa NELIC, v. 1, n. 2, 1997, p. 3-11. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/nelic/article/view/1041 . Acesso em: 21 abr. 2024.
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) a respeito da atuação editorial da Revista Acadêmica, e os trabalhos de Antonio Candido (2011CANDIDO, Antonio. Literatura e subdesenvolvimento. In: CANDIDO, Antonio. A Educação pela Noite. 6. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011. p. 169-197.) e Bella Jozef (2005JOZEF, Bella; GUILLÉN, Nicolás. História da literatura hispano-americana. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; Francisco Alves Editora, 2005. p. 183-184.) para pontuar temas pertinentes à literatura latino-americana.

A fim de contemplar os objetivos propostos, o artigo se divide em mais duas seções. Na segunda seção, é feito o levantamento dos textos e autores publicados pela Revista Acadêmica que abordam o contexto político na Espanha e na América Latina. A terceira seção descreve e analisa os textos de/sobre literatura de língua espanhola na revista e a aproximação da literatura brasileira com o contexto latino-americano. Por fim, destacamos a pertinência em retomar, para a contemporaneidade, as contribuições da Revista Acadêmica, um veículo participante dos grandes debates políticos e culturais de sua época e que congregou inúmeros intelectuais para a promoção da arte moderna dentro e fora do Brasil.

Presenças hispânicas e latino-americanas na Revista Acadêmica

Na “Coleção Plínio Doyle”, pertencente à FCRB, é possível consultar grande parte dos exemplares da Revista Acadêmica. O conjunto das revistas se encontra organizado em cinco tomos e possui 58 do total de 702 2 Não fazem parte da coleção os seguintes números: nº 21 (08/1936); nº 22 (09/1936); nº 24 (12/1936); nº 25 (01/1937); nº 26 (03/1937); nº 30 (09/1937); nº 31 (10/1937); nº 33 (01/1938); nº 34 (04/1938); nº 43 (04/1939); nº 59 (01/1942) e nº 60 (05/1942). números publicados. Ao todo, são 343 3 São eles: nº 1 (09/1933); nº 7 (07/1935); nº 15 (11/1935); nº 16 (01/1936); nº 18 (05/1936); nº 19 (06/1936); nº 20 (07/1936); nº 23 (11/1936); nº 28 (06/1937); nº 29 (07/1937); nº 35 (05/1938); nº36 (06/1938); nº 37 (07/1938); nº 38 (08/1938); nº 39 (09/1938); nº 40 (10/1938); nº 41 (12/1938); nº 45 (08/1939); nº 46 (09/1939); nº 47 (11/1939); nº 48 (02/1940); nº 49 (05/1940); nº 50 (07/1940); nº 51 (09/1940); nº 53 (02/1941); nº 55 (06/1941); nº 62 (11/1942); nº 63 (05/1943); nº 64 (06/1944); nº 65 (04/1945); nº 67 (11/1946); nº 68 (07/1947); nº 69 (12/1947) e nº 70 (12/1948). números com a publicação de artigos, poemas, crônicas e notícias concernentes à América Latina e à Espanha.

Em função dos limites deste artigo, não abordamos as notícias e artigos sobre a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) na Revista Acadêmica. É realizada uma campanha nas páginas da revista a favor da resistência republicana e de repúdio aos ataques brutais dos nacionalistas. Por ser a produção mais vultosa, presente em 13 números da revista,4 4 São eles: nº 28 (06/1937); nº 29 (08/1937); nº 35 (05/1938); nº 36 (06/1938); nº 37 (07/1938); n. 38 (08/1938); nº 39 (09/1938) e nº 40 (10/1938); nº 46 (09/1939); nº 55 (06/1941); nº 62 (09/1942); nº 63 (05/1943) e nº 64 (11/1946). foi objeto exclusivo de outro trabalho, que versou sobre a mobilização de intelectuais de várias partes do mundo que escreveram para a publicação e o simbolismo do conflito.

Já a menção à América Latina é feita desde seu primeiro número (09/1933), quando se expõem as diretrizes editoriais da revista (Miranda, 1933MIRANDA, Murilo (org.). Revista Acadêmica, n. 1, setembro/1933.). O artigo “A nova geração” tem como epígrafe uma citação de Alfredo Palacios, professor e político socialista argentino: “na América Latina são os jovens que orientam o pensamento e dirigem a ação” (Palacios, 1933, p. 13). O artigo do acadêmico cearense Osmundo Bessa trata da missão da juventude após a Revolução de 30 no Brasil e o papel da universidade em um mundo à beira do abismo “dum liberalismo extremado” (Bessa, 1933, p. 13) e sob o “regime do arbítrio e da opressão” (Bessa, 1933, p. 13).

De forma sutil, a epígrafe põe o Brasil em um contexto mais abrangente - a América Latina - e indica a importância da educação para a revista, um meio primordial para preparar os estudantes para a “a investigação das nossas questões e necessidades sociais” (Bessa, 1933, p. 13).

Junto com o texto de abertura de Murilo Miranda, o artigo reforça a missão renovadora reservada aos estudantes e o papel a ser desempenhado pela revista: “Os moços eram, como ‘nova geração’, contrapostos aos velhos nomes da inteligência brasileira e a revista, aos velhos periódicos, anacrônicos e bajuladores” (Velasques, 2000VELASQUES, Muza Clara Chavez. Homens de letras no Rio de Janeiro nos anos 30 e 40. 2000. 204 f. Tese (Doutora em História Social) - Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2000. Disponível em: https://www.historia.uff.br/stricto/td/6.pdf . Acesso em: 21 abr. 2024.
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, p. 116). O artigo conclui pela urgência de que os problemas vitais cheguem à universidade, que deveria “irradiar a luz que há de iluminar a alvorada da vida da nova geração” (Bessa, 1933, p. 13).

O número 16 (01/1936) desenvolve, mais uma vez, a relação entre os estudantes e a América Latina. O texto do escritor e jornalista peruano Luis Alberto Sánchez alude à missão intelectual dos estudantes latino-americanos numa linha próxima ao texto de Osmundo Bessa. O artigo “Os estudantes da América” preconiza a necessidade de se aproximar dos problemas reais numa postura comprometida e combativa:

O Estudante da América Latina é por definição rebelde. Explica-se que nas nações imperialistas ou prósperas e autônomas o estudante possa ser só estudante. Nos países, como os da América Latina, China, a estudantada é rebelde. O contato com a vida e seu impulso juvenil a converte em palanca da inconformidade e trincheira do protesto. As universidades isoladas da vida, como a dos Estados Unidos, não têm mostrado ser as mais aptas - por outro lado - para a hora da crise, porque isolando o estudante para que estude bem, o imunizaram da realidade e o tornaram inapto para esta na hora da crise (Sánchez, 1936, p. 5).

Na sequência, Sánchez denuncia o fechamento da Universidade de São Marcos em Lima e a repressão aos estudantes peruanos que foram encarcerados. A situação é similar à perseguição sofrida pelos estudantes no Equador e no Panamá. A censura e as represálias criavam um “político prematuro”, ou seja, transformando, negativamente, os estudantes que passavam a preferir o disfarce e o cálculo como estratégias seguras de ascensão acadêmica. A conversão das universidades em “estalagens profissionais” seria um objetivo das classes abastadas que sabotariam, assim, a possibilidade de questionamento e mudança do status quo. Ao fim do texto, entre a “juventude rebelde e batalhadora ou dominada e hipócrita”, Sánchez (1936, p. 5) prefere os riscos da primeira que o conformismo da segunda.

A dimensão política é fundamental na Revista Acadêmica, que deixa evidente seu compromisso com as causas sociais e um ideário progressista que apostava no conhecimento como meio de revolucionar o que se considerava ultrapassado e injusto, rumo a um novo tempo. Nos primeiros números, a discussão se centra na atividade política dos jovens universitários, que deveriam se opor à cooptação “liberal”, e os pontos de contato da realidade brasileira no contexto latino-americano. Essas diretrizes prevalecem mesmo após a revista deixar, a partir da sua segunda fase (1935-1938), a função de “órgão estudantil” (Ribeiro, 1989RIBEIRO, Laura Maria de Abreu Daniel. Revista Acadêmica (1933-1948) e a Arte Moderna Brasileira nas Décadas de 1930-1940. Tese (Mestre em História do Brasil) - Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1989., p. VI).

Desse modo, podemos perceber que a reflexão se processava em duas dimensões: seja com a reavaliação crítica do passado; seja com o noticiário acerca da atualidade política dos países latino-americanos e as semelhanças com o Brasil. Em relação ao passado, buscam-se as “raízes” dos problemas que afligiam as nações ibero-americanas; em relação ao presente, surgem as pautas que priorizavam as ameaças totalitárias da extrema-direita e o desafio da manutenção da democracia no continente.

É realizada uma investigação sobre as questões coloniais implicadas nos problemas enfrentados na América Latina. No número 16 (01/1936) consta o artigo “As conquistas e suas raízes”, de Aldous Leonard Huxley, que se detém no afã missionário da colonização espanhola que seria inversa à realizada pelas colonizações inglesas e holandesas. A imposição religiosa é uma marca inesquecível nas populações nativas que carregavam, segundo Huxley (1936, p. 1), “o espírito da longínqua Espanha”, apesar da independência secular de países como México.

A distinção entre as colonizações da América Latina e a da América Anglo-Saxônica é tema do ensaio “A experiência americana” no número 65 (04/1945). O poeta estadunidense Archibald MacLeish escreve acerca da colonização nos Estados Unidos e os países hispano-americanos e a mudança da relação de dependência cultural que marca o passado de ambos. O texto propõe uma reorientação cultural em razão do espelho europeu quebrado pela guerra, expondo, também, a nova geopolítica e a consolidação da liderança norte-americana.

É interessante que as proposições dos textos de Huxley e MacLeish, em certa medida, se coadunam à historiografia que exaltou a “eficiência” dos colonizadores ingleses em contraponto ao “caos” dos colonizadores ibéricos. Assim, temos acesso a uma interpretação que vigorava num período que produziu grandes clássicos da história brasileira, como Raízes do Brasil (1936HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: José Olympio, 1936.), de Sérgio Buarque de Holanda. Vemos, em movimento, a formação de um imaginário em relação ao passado colonial que incorpora, paulatinamente, o crescente protagonismo norte-americano.

Ainda no estudo do passado latino-americano, há o artigo “Bolívar y Pedro I” (n. 20, 07/1936), do advogado e jornalista brasileiro Alceu Marinho Rego, que realiza a comparação entre a independência dos países hispano-americanos e o Brasil. O texto contrapõe os processos políticos e a sublimação na figura dos dois políticos: “Bolívar traduzia os ideais das gerações americanas que sonharam a liberdade e a república. Pedro I era a expressão das ideias europeias aclimatadas, querendo estender ao solo hospedeiro o regime em que viviam as combalidas monarquias do velho mundo” (Rego, 1936, p. 8).

O texto recupera fatos históricos para criar o perfil republicano de Bolívar e explicar a divisão entre os países hispano-americanos, ao contrário da unificação do antigo território português. O jornalista se notabilizou nos trabalhos históricos sobre o período monárquico e, de certa forma, alicerça a interpretação da luta hispano-americana pela independência, enquanto, no Brasil, a independência seria um processo de ordem política.

No que se referem aos acontecimentos coetâneos à revista, são recorrentes os sueltos e artigos com as atualidades políticas nos países hispano-americanos. O número 29 (08/1937) dá notícia das eleições na Argentina. “O Candidato do General” critica a distância do futuro Presidente Roberto Ortiz em relação ao proletariado argentino. A situação na Argentina reaparece no número 39 (09/1938): em “Cultura e Nacionalismo”, o escritor alemão Heinrich Mann trata da inauguração de uma escola alemã em Buenos Aires, alvo de ataques nazistas.

O perigo nazista na América Latina é denunciado no número 36 (06/1938) com o artigo “Missão de Herr von Merck”, de Benjamin Soares Cabello, sobre Cárdenas e a infiltração nazista no México. Em contrapartida, a edição apresenta um resumo da entrevista publicada pelo Correio da Manhã com o presidente uruguaio General Alfredo Baldomir.

Se muitas notícias mostram uma virada à extrema-direita no continente americano, o presidente uruguaio é colocado como exemplo democrático e que não segue a tendência de perseguição ao “perigo comunista”. Sobre a conferência policial contra o comunismo, declara que: “Profilaxia policial, se quiserem, contra o comunismo em seus grãos purulentos, mas também contra o comércio de brancas, o tráfico de estupefacientes e o contrabando, que nos causa dano mais sério do que o comunismo” (Baldomir, 1938, p. 29).

O número 37 (07/1938), o suelto “Paz no Chaco” avalia o armistício da guerra entre a Bolívia e o Paraguai. Em agosto de 1938 (n. 38), há artigos de opinião tratando da concessão de indústrias de base na América Latina, em razão do contrato da Itabira Iron, considerado uma “tragédia siderúrgica” para Minas Gerais (Drummond, 1938, p. 14).

O Peru se destaca com a notícia do congresso antirracista em Lima em 1938 (n. 41, 12/1938), quando tem lugar a VIII Conferência Pan-Americana contra o racismo. A notícia elogia a atitude de repulsa às perseguições raciais e religiosas que se intensificavam na Europa, embora endosse a polêmica declaração de um dos integrantes da delegação brasileira, o escritor Austregésilo de Athayde sobre a “ausência” de preconceito no país, repetindo o estereótipo da harmonia racial. É interessante a menção da celeuma causada pela escritora brasileira Rosalina Coelho, que destoou do posicionamento geral da delegação. Os problemas levantados por Rosalina não são mencionados, mas é possível atribuir a postura “violentamente contrária à proposta por motivos que nada tinham a ver com o assunto” (Revista Acadêmica, 1938, p. 13) em função das críticas da escritora à hegemonia norte-americana e sua condição de representante do governo de Getúlio Vargas.

A União Pan-Americana reaparece no suelto sobre a Conferência da Democracia Pan-Americana para combater o perigo nazifascista na América no número 40 (10/1938). Denunciam-se a espionagem e a propaganda nazistas nos países sul-americanos, citando um levante no Chile. A conferência foi realizada, simultaneamente, nas capitais dos Estados Unidos e do Peru, entre 10 e 11 de dezembro de 1938, e se preconiza a intensificação da “luta pelos ideais democráticos” (Revista Acadêmica, 1938, p. 17).

A União Pan-Americana volta a ser alvo de apreciação do editorial no número 45 (08/1939) e se argumenta a favor de uma postura continental contrária ao nazifascismo, ainda que haja ressalvas sobre a liderança estadunidense. Em “O momento internacional e a solidariedade pan-americana”, recorda-se a postura favorável de Joaquim Nabuco sobre a democracia nos Estados Unidos da América em contraposição a uma “Europa sulcada de hostilidades e sofrimentos [...]” (Revista Acadêmica, 1939, p. 13) e imersa num conflito gerado pelo ódio racial e às voltas com as primeiras levas de refugiados. O editorial abrange, portanto, os meses iniciais da Segunda Grande Guerra Mundial (1939-1945), expressa a preocupação com a expansão totalitarista pelos outros países do globo e relata, positivamente, a viagem do general Góis Monteiro, chefe do Estado Maior do Exército brasileiro aos Estados Unidos.

Entre os países latino-americanos, o Chile é o único que recebe um número comemorativo da revista, pois o embaixador chileno, Gabriel González Videla, “durante sua estada no Brasil, ganhara simpatia de alguns brasileiros, incluindo o pessoal da Revista Acadêmica. De volta ao seu país foi eleito presidente. Em nome da simpatia que deixara por esses lados é que dedicou um número de homenagem àquele país” (Ribeiro, 1989RIBEIRO, Laura Maria de Abreu Daniel. Revista Acadêmica (1933-1948) e a Arte Moderna Brasileira nas Décadas de 1930-1940. Tese (Mestre em História do Brasil) - Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1989., p. 181).

Como analisa Muza Velasques, as redes de sociabilidade intelectual no Rio de Janeiro, entre as décadas de 1930 e 1940, são constituídas por “relações cotidianas, que muitas vezes eram centradas em relacionamentos pessoais [...] mas que possuíam também espaços e regras institucionais e profissionais que merecem ser analisadas com maior atenção” (Velasques, 2000, p. 5). A própria Revista Acadêmica funciona como um desses centros de sociabilidade, permitindo acompanhar e compreender a dinâmica relacional dos homens de letras naquele período.

Destarte, o número 68 (07/1947) recorda a atuação competente de Videla no Rio de Janeiro, cuja foto estampa a capa da revista. O número, assim como o dedicado à França, celebra o fim da Segunda Grande Guerra e a derrota do Eixo. São reunidos artigos e depoimentos de Ademar Vidal, José Lins do Rêgo, Orígenes Lessa, Raul Fernandes, Renato Almeida e Rosário Fusco.

O depoimento do diplomata Raul Fernandes abre a homenagem, com a reprodução do cumprimento pela eleição de Videla. Nas memórias de Ademar Vidal, é lembrada uma antiga articulação política para o grupo “A.B.C.” (Argentina, Brasil e Chile) e é enfatizada a amizade entre Brasil e Chile, e, principalmente, a solidariedade e o repúdio ao nazismo. Orígenes Lessa ressalta a postura antifascista de Videla e a coragem de se pronunciar, quando embaixador no Brasil, apesar da censura. Zé Lins, em sentido próximo ao texto de Lessa, esboça o retrato do “homem que nos falava de liberdade, quando essa palavra parecia uma palavra de perdição” (Rêgo, 1947, p. 3). Renato Almeida, então presidente do Instituto Brasileiro-Chileno de Cultura, faz um longo discurso do intercâmbio cultural entre Brasil e Chile. É reproduzida uma carta de Rosário Fusco a Murilo Miranda com as “impressões” de Valparaíso e acontecimentos culturais em Santiago.

Neste breve panorama, é perceptível o anseio por se aproximar do contexto espanhol e dos países hispano-americanos. Para consegui-lo, a literatura de língua espanhola é um elemento fundamental. Seguimos, portanto, com a análise da presença dessas literaturas na revista.

Presença das literaturas de língua espanhola na Revista Acadêmica

É expressiva a presença de textos em poesia e prosa de autores espanhóis e hispano-americanos na Revista Acadêmica, sendo acompanhados duma crítica feita por artigos, notícias e sueltos de colaboradores que comentam o panorama literário de língua espanhola. As literaturas hispânicas e hispano-americanas publicadas contemplam tanto autores clássicos quanto escritores coetâneos à Revista Acadêmica. A regularidade da frequência permite comprovar, no total dos números consultados, o interesse em criar um intercâmbio da revista com essas literaturas e do estímulo em aproximar a literatura brasileira do contexto latino-americano.

A poesia sempre teve relevância na Revista Acadêmica e comparece em todos os seus números. Essa primazia se reflete, também, na presença da literatura de língua espanhola. A poesia é o gênero mais publicado, com 12 textos de autores espanhóis e hispano-americanos, e inaugura a presença da literatura de língua espanhola na revista.

O poema do nicaraguense Ruben Darío, “Marcha Triunfal”, com tradução de Armindo Rangel e ilustração de Santa Rosa, é publicado em julho de 1935 (n. 7). Essa estreia da poesia hispano-americana na revista nos remete às discussões do Modernismo hispano-americano e o papel de Ruben Darío no que ficou conhecido como a “inversão do estatuto colonial”. A mediação cultural feita, a partir da América Latina e não por Madri, é analisada por Antonio Candido no ensaio “Literatura e Subdesenvolvimento”:

O “Modernismo” hispano-americano é considerado por muitos uma espécie de rito de passagem, marcando a maioridade literária através da capacidade de contribuição original. Mas, se retificarmos as perspectivas e definirmos os campos, veremos que isto é mais verdadeiro como fato psicossocial do que como realidade estética. É evidente que Darío, e eventualmente todo o movimento, invertendo pela primeira vez a corrente e levando a influência da América sobre a Espanha, representou uma ruptura na soberania literária que esta exercia. Mas o fato é que tal coisa não se fez a partir de recursos expressivos originais, e sim da adaptação de processos e atitudes francesas. O que os espanhóis receberam foi a influência da França já coada e traduzida pelos latino-americanos, que deste modo se substituíram a eles como mediadores culturais (Candido, 2011CANDIDO, Antonio. Literatura e subdesenvolvimento. In: CANDIDO, Antonio. A Educação pela Noite. 6. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011. p. 169-197., p. 183-184).

Logo, a escolha da poesia de Ruben Darío é compatível com “a intensa consciência estético-social dos anos 1930-1940” (Candido, 2011CANDIDO, Antonio. Literatura e subdesenvolvimento. In: CANDIDO, Antonio. A Educação pela Noite. 6. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011. p. 169-197., p. 186), encarnada pela Revista Acadêmica no que tange à mudança de paradigma de dependência cultural, num esforço notório pela busca de originalidade na produção poética latino-americana que sai dos limites do nativismo e lança novos modos de escrita.

Destarte, no número 18 (05/1936), o poema, em espanhol, “Sabás”, de Luiz Guillén [sic], com ilustração de Santa Rosa, comprova o recorte duma poesia que caminha para uma maturidade em que “se associa a capacidade de inovar no plano da expressão e ao desígnio de lutar no plano do desenvolvimento econômico e político” (Candido, 2011CANDIDO, Antonio. Literatura e subdesenvolvimento. In: CANDIDO, Antonio. A Educação pela Noite. 6. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011. p. 169-197., p. 186).

O poema do cubano Nicolás Guillén foi publicado, originalmente, no livro West Indies, Ltd. (1934), cujo título já anuncia uma crítica ao colonialismo, e lança as bases para a expressão de uma lírica afro-cubana, conforme afirma Bella Jozef (2005JOZEF, Bella; GUILLÉN, Nicolás. História da literatura hispano-americana. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; Francisco Alves Editora, 2005. p. 183-184., p. 184):

No tamborileo de seus poemas se percebe a força do romancero espanhol, a metáfora lorquiana, embebida de elementos populares, criando a tonalidade mulata, com uma colorida afirmação geográfica e étnica. O tema da problemática racial ali se faz presente, assim como a temática negra de cunho social.

Em “Sabás”, é feita a crítica à degradação social do negro produzindo uma existência de miséria e a subalternidade, cuja representação é reforçada com a ilustração de Santa Rosa, na qual o personagem é retratado curvado e com a mão estendida. O dialogismo poético põe em xeque as designações que pesam sobre Sabás: “bueno”, “loco” e “bruto”. As perguntas do eu lírico são respondidas por um “coro” indicado por parênteses ao fim de cada estrofe. O gesto da mão aberta do pedinte é contraposto às portas fechadas, predominando a apóstrofe do eu lírico questionando a situação de Sabás. Ao fim, retomam-se os juízos sobre o personagem e um chamado à rebelião: “Caramba, Sabás, no seas tan loco;/ Sabás, no seas tan bruto, /¡ni tan bueno!” (Guillén, 1936, p. 10).

O poema se correlaciona ao intenso debate, na Revista Acadêmica, sobre o negro que “se inscreve numa tendência maior dos anos 1930, que assiste à projeção dos estudos afro-brasileiros, às comemorações do cinquentenário da abolição em 1938 e a outros acontecimentos relevantes” (Camilo, 2013CAMILO, Vagner. Jorge de Lima no contexto da poesia negra americana. Estudos Avançados, v. 27, n. 77, p. 299-318, 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/p58hb7rR6684wYNfddQM5Zs/?lang=pt# . Acesso em: 21 abr. 2024
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, p. 262). São inúmeros artigos e obras literárias que se reportam à situação do negro, ao racismo e à exclusão social decorrentes do antigo regime escravocrata.

Desse modo, um dos principais colaboradores da revista que aborda a temática é o poeta alagoano Jorge de Lima, cujos textos tiveram uma ampla repercussão no contexto hispano-americano. A editora da Revista Acadêmica realizou a primeira edição do seu livro Poemas negros5 5 A Revista Acadêmica contou com uma editora que se dedicou à publicação de livros de literatura e lançou edições ilustradas pelo “Club do Livro”. Além do livro de Jorge de Lima, Poemas negros, com prefácio de Gilberto Freyre e ilustrações de Lasar Segall, foram lançados os seguintes títulos: Mangue, desenhos de Lasar Segall com texto de Mário de Andrade e poemas de Manuel Bandeira e Jorge de Lima; Poemas traduzidos, de Manuel Bandeira, e ilustrações de Alberto da Veiga Guignard; Dois dedos, de Graciliano Ramos e ilustrações de Axel de Leskochek; Mensagem etérea, poemas de Manoel de Abreu e ilustrações de Portinari; A canção de amor e de morte do porta-estandarte, de Rainer Maria Rilke e ilustrações de Arpad Szenes e tradução de Cecília Meireles e A canção de Dixie, de Ademar Vidal com prefácio de Manuel Bandeira e ilustrações de Oswaldo Goeldi. e teve uma contribuição fundamental para “a formação e a consolidação do cânone da poesia afro-americana”, conforme comprova Vagner Camilo (2013, p. 255CAMILO, Vagner. Jorge de Lima no contexto da poesia negra americana. Estudos Avançados, v. 27, n. 77, p. 299-318, 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/p58hb7rR6684wYNfddQM5Zs/?lang=pt# . Acesso em: 21 abr. 2024
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). O crítico perpassa o contexto de publicação da obra de Jorge de Lima e problematiza “seu alcance crítico e suas contradições ideológicas” (Camilo, 2013, p. 255CAMILO, Vagner. Jorge de Lima no contexto da poesia negra americana. Estudos Avançados, v. 27, n. 77, p. 299-318, 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/p58hb7rR6684wYNfddQM5Zs/?lang=pt# . Acesso em: 21 abr. 2024
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). Sobressai a importância da poesia de Guillén, que vai - junto com a poesia do estadunidense Langston Hughes - atuar:

de forma decisiva na reconfiguração da poesia negra de Jorge de Lima, no sentido de aprofundar sua visada social, superando, assim, a dimensão de exterioridade e exotismo dos primeiros livros, e buscando, quem sabe, pleitear com isso maior inserção no debate internacional sobre o tema (embora, em princípio, sua ambição com o livro não fosse além do mecanismo mais convencional de consagração local [...] (Camilo, 2013, p. 269CAMILO, Vagner. Jorge de Lima no contexto da poesia negra americana. Estudos Avançados, v. 27, n. 77, p. 299-318, 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/p58hb7rR6684wYNfddQM5Zs/?lang=pt# . Acesso em: 21 abr. 2024
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).

Podemos comprovar o trânsito da literatura cubana não só na obra de Jorge de Lima, mas também na própria Revista Acadêmica. A nota de fevereiro de 1940 (n. 48) anuncia o recebimento mensal da revista Ultra e destaca a figura do “etnógrafo” Fernando Ortiz, presidente da Sociedade de Estudios Afro-Cubanos (Figura 2).

Figura 2 -
Ultra”, Revista Acadêmica, n. 48, fevereiro 1940.

No número seguinte, em maio de 1940, a revista divulga a versão em inglês de poema de Jorge de Lima na antologia de “hispanic poets”, pela Hispanic Society of America, sendo o único brasileiro a participar do livro. Num período próximo, Newton FreitasFREITAS, Newton. [ Correspondência ]. Destinatário: Murilo Miranda. Buenos Aires, s.d. 1 carta pessoal. Acervo Murilo Miranda - FCRB., em carta a Murilo Miranda, reporta a seleção do poema “Essa nega Fulô”, do jornalista de La Nación, Gerardo Marone, para uma antologia, em italiano, de escritores sul-americanos. Essas informações atestam a aproximação da obra de Jorge de Lima com a literatura hispano-americana e como o fato se reflete nas páginas da revista.

É possível, ainda, acompanhar a circulação da obra de Jorge de Lima como nas várias traduções do poema “Essa nega Fulô” para o espanhol, conforme registra o último número da revista dedicada ao poeta alagoano (n. 70, 12/1948). Nela, também, é divulgado o compilado “Jorge de Lima e a crítica estrangeira”, com as críticas literárias em periódicos hispânicos: Raúl Navarro, na revista Nosotros, de Buenos Aires; Isaac J. Barrera, do jornal El Comercio, de Quito; no Pensamiento Español, de Buenos Aires; Luis M. Cristóforo em Constancia; Gastón Figueira em La Nueva Democracia, jornal editado em Nova Iorque; o órgão hispano-brasileiro Gaceta Hispana; o jornal francês España Libre e o periódico uruguaio El Sol. No mesmo número, é publicada uma carta do uruguaio Ildefonso Pereda Valdés a Jorge de Lima, o importante compilador da Antología de la poesía negra americana (1936).

Já dentro do campo da crítica literária na revista, a representação do negro na literatura latino-americana é tema do ensaio de Aida Manzoni em setembro de 1940 (n. 51). Vagner Camilo (2013, p. 267CAMILO, Vagner. Jorge de Lima no contexto da poesia negra americana. Estudos Avançados, v. 27, n. 77, p. 299-318, 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/p58hb7rR6684wYNfddQM5Zs/?lang=pt# . Acesso em: 21 abr. 2024
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) rastreia a primeira publicação do ensaio na revista Nosotros de Buenos Aires, entre novembro e dezembro de 1939 (n. 44 e n. 45). Na primeira parte de “Trajetória do Negro na poesia da América”, a autora faz um levantamento de poemas estadunidenses e latino-americanos e das contribuições das culturas africanas para a literatura nas Américas.

O ensaio se lança na tarefa de “cobrir a produção afro-poética de toda a América” (Camilo, 2013CAMILO, Vagner. Jorge de Lima no contexto da poesia negra americana. Estudos Avançados, v. 27, n. 77, p. 299-318, 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/p58hb7rR6684wYNfddQM5Zs/?lang=pt# . Acesso em: 21 abr. 2024
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, p. 267), criando marcos para as primeiras poesias publicadas, apreciando o período romântico e a abordagem da escravidão na literatura latino-americana, o interesse das vanguardas artísticas europeias pelo “primitivismo” e a poesia de início de século XX na América Latina.

Destaca-se, no ensaio, o painel de escritores negros como Langston Hughes nos Estados Unidos, responsável pela criação de uma poesia afro-americana na perspectiva da autora. Recordam-se escritores como José Vasconcelos no México; Gabriel de la Concepción Valdés, Juan Francisco Manzano, Agustín Baldomero Rodríguez, Ambrosio Echemendia, Antonio Medina em Cuba, Manuel da Silva Alvarenga e Cruz e Souza no Brasil, que, embora fossem negros, “esqueceram, nos seus escritos, a cor da própria pele. Não foram intérpretes de sua raça. Ao adquirirem um grau de cultura superior, igualaram-se aos brancos e cantaram como eles” (Manzoni, 1940, p. 9). Desse modo, o texto da ensaísta apresenta pontos polêmicos ao tratar da condição do negro, numa visão ainda colonialista:

Junto com a música, o negro trouxe a estas terras os seus ritos atávicos, suas cerimônias primitivas e mil superstições e lendas que o branco ouviu em pequeno, da ama de cor.

Finalmente, se o negro desperta a cobiça do colono, a mulher negra, com a sua sensualidade à flor da pele, excita a luxúria do senhor branco. Unem-se as carnes, e o resultado é um novo tipo étnico: o mulato (Manzoni, 1940, p. 7).

Percebe-se, assim, um entrecruzamento dos textos literários, notícias e estudos críticos, formando uma tratativa coesa nos temas e nas colaborações na revista. Ainda no que concerne à poesia, a representação da Guerra Civil Espanhola possui, também, relevo especial, somando-se autores brasileiros na denúncia contra a guerra. O poema “España”, de Federico García Lorca, é o primeiro a ser publicado em agosto de 1937 (n. 29), seguido pelo poema de Pablo Neruda, “España en el corazón”, e de Rossine de Camargo Guarnieri, “Como se eu fora um cidadão do mundo” (n. 39, 09/1938). Os poemas apresentam a tragédia das cidades bombardeadas, a resistência da população civil e a solidariedade com o povo espanhol.

García Lorca, cuja morte se converte num símbolo da violência brutal dos ataques fascistas, e Antonio Machado, um porta-voz contra o arbítrio, são os poetas que sintetizam o drama da guerra espanhola. Assim, a Revista Acadêmica noticia, em setembro de 1939 (n. 46), a homenagem a Lorca e a Machado pela revista cubana Ultra de Fernando Ortiz, mostrando a dimensão humanitária que os artistas alcançaram naquele momento.

O tom elegíaco predomina ao abordar a morte de García Lorca, como na crônica “E o miliciano degolado era o maior poeta da Espanha”, do jornalista Benjamin Soares Cabello (n. 29, Agosto 1937). O escritor granadino é o tema do poema de Eugenio Navas, o poeta estremenho exilado em Buenos Aires, “O cantor dos ciganos (A Frederico Garcia Lorca) [sic]” com tradução de Arlindo del Picchia (n. 55, 06/1941).

Na crônica “Federico García Lorca”, em maio de 1943 (n. 63), isto é, poucos anos após o início da ditadura franquista, Pablo Neruda justifica a escolha do nome de Lorca para o trabalho de memória a ser feito sobre a Guerra Civil Espanhola a fim de que não caia no esquecimento as terríveis perdas humanas das batalhas. Também, na correspondência passiva de Murilo Miranda, registra-se a circulação da obra do poeta espanhol entre os colaboradores da Revista Acadêmica. O crítico Edgard Cavalheiro informa de um possível projeto de livro sobre o artista, “a grande vítima da bestialidade fascista” (Cavalheiro, 03CAVALHEIRO, Edgard. [Correspondência]. Destinatário: Murilo Miranda. São Paulo, mar. 1942. 1 carta pessoal. Acervo Murilo Miranda - FCRB./1942CAVALHEIRO, Edgard. [Correspondência]. Destinatário: Murilo Miranda. São Paulo, 24 mar. 1942. 1 carta pessoal. Acervo Murilo Miranda - FCRB.), e o poeta português Antonio Botto faz uma conferência, em São Paulo, acerca da obra lorquiana em novembro de 1947.

Além das crônicas sobre García Lorca, a prosa literária sobre a Guerra Civil é composta pelo texto de Antonio Machado, “Mairena continua falando a seus discípulos”, e de Rubem Braga, “Franco e Deus”, em julho de 1938 (n. 37). O personagem de Machado reaparece na crônica “Fala Mestre Juan Mairena”, em outubro de 1938 (n. 40).

Poesia e guerra se aproximam, em novembro de 1942, quando se aponta a necessidade de união intelectual diante do avanço do Eixo nazifascista. Trechos do poema de “La luna con gatillo”, do argentino Raúl González Tuñon, estão como mote do artigo de Carlos Lacerda, “Os intelectuais e a união nacional” (n. 62), no qual se conclama o engajamento e o trabalho de denúncia às atrocidades da Segunda Guerra Mundial.

A poesia moderna, em língua espanhola, não se detém apenas nas questões sociais privilegiadas pela Revista Acadêmica, mas também contempla temas atemporais como dor, amor e nostalgia. O lirismo espanhol está presente nos poemas de García Lorca, “O Pranto” e “Do Amor Imprevisto” (n. 62, 11/1942), cujas traduções de J. Carneiro são elogiadas por Edgard Cavalheiro, em carta, a Murilo Miranda; e no belo soneto de Antonio Machado, “Otra vez el ayer” (n. 63, 05/1943MIRANDA, Murilo (org.). Revista Acadêmica , n. 63, maio/1943.). Arturo Torres Rioseco é o representante da poética chilena no número de homenagem ao país (n. 64, 06/1944) com o poema “Que grandes teus olhos”, com tradução de Vinicius de Morais.

Do lirismo hispano-americano, o número 15 apresenta, na seção “Livros”, o lançamento do livro de poemas do uruguaio Gastón Figueira: Mi deslumbramiento en el Amazonas (1935). A obra, que tem como cenário o Norte do Brasil, faz uma viagem pela cultura indígena e “surpreende num tumultuar fragoroso de paixão pela beleza da Amazônia” (Revista Acadêmica, 1935, p. 14).

Em contrapartida, a poesia barroca recebe espaço nas páginas da Revista Acadêmica, voltando-se, portanto, para o passado literário das literaturas de língua espanhola. A poeta mexicana Soror Juana Inés de la Cruz é o exemplo de literatura barroca na América e tem o poema “Doce tormento” traduzido por Manuel Bandeira (n. 65, 06/1944). Da literatura espanhola, contamos com o poeta barroco Francisco de Quevedo, com a publicação de “A Cloris, cuando digo que estás” (n. 63, 05/1943).

A propósito, o período que compreende o Siglo de Oro é examinado pela crítica literária da revista. No número 18, Jean Cassou publica o artigo “Ramón del Valle Inclán”, no qual discorre acerca da retórica e o Barroco na Espanha. Ainda sobre a literatura peninsular, o número 23 (11/1936) se volta para Miguel de Cervantes e o romance El ingenioso hidalgo Don Quijote de la Mancha (1605). Ambos são apreciados no artigo de Jean Cassou, “Gênio de Cervantes”, e na crônica de Rubem Braga, “Uma visão nova de Quixote e Panza”. O artigo “Don Juan”, do escritor e filósofo espanhol Gregorio Marañon, se detém num dos maiores representantes do Siglo de Oro, em julho de 1940 (n. 50).

Ao contrário da poesia, a prosa literária é publicada um pouco mais tarde na revista. Somente no número 39 (09/1938) há um texto sem relação com a guerra de Espanha, cuja primazia cabe a um importante representante da literatura cubana. O conto policial “Resgate”, traduzido por Herrera Filho, é do jornalista de origem espanhola Alfonso Hernández-Catá. O conto se relaciona ao movimento desenvolvido pela Revista Acadêmica em versar a respeito de formas literárias de maior sucesso popular, como é o caso das histórias policiais. A revista dedicou trabalhos a essas narrativas, que aparecem associadas à modernidade, e coube ao crítico Ramon Fernandez, francês de ascendência mexicana, colaborar com o ensaio “O romance policial”, em maio de 1936 (n. 18).

Como podemos perceber, a literatura publicada, seja poesia ou prosa, segue lado a lado com uma crítica afinada com os temas e formas selecionados. Mas a crítica literária feita por autores de origem espanhola e latino-americana não se restringe às respectivas literaturas nacionais. Ela trata, conjuntamente, dos movimentos de vanguarda na literatura de início do século XX ou das influências de outras literaturas para as culturas hispânicas.

O número 15 (11/1935) traz, pela primeira vez, um comentário de um jornalista espanhol sobre literatura. Em “Arte decadente”, J. Díaz Fernández contrapõe a arte de “introspecções mórbidas, lentas, cansadas” (Fernández, 1935, p. 13), que podemos correlacionar às literaturas finisseculares a escritores modernos, como James Joyce e D. H. Lawrence. O tópico da artificialidade das formas artísticas do primeiro tipo em oposição ao contato vital com a realidade do segundo é uma constante no repertório crítico da revista, favorável à literatura moderna. O poeta espanhol Rafael Albertí escreve, também, sobre a literatura moderna com o artigo “Últimas notícias de Luiz Aragon”, em novembro de 1942 (n. 62), fazendo uma apreciação da obra de Aragon e um estudo do surrealismo.

Em novembro de 1946, sobre o passado hispano-americano, o artigo “Um croqui do espírito francês na América de Língua Espanhola” (n. 67), do tradutor argentino Raúl Navarro, faz um apanhado da influência francesa no século XIX na América Hispânica, sobretudo na literatura romântica e modernista.

Podemos acompanhar aspectos do circuito cultural entre os países de língua espanhola e o Brasil. Em maio de 1940 (n. 49), o trecho da crítica do escritor argentino Bernardo Kordon, publicada originalmente no jornal La Vanguardia, sobre os romances de José Lins do Rego, é reproduzido em espanhol, com destaque para as enquetes literárias da Revista Acadêmica que promovem um panorama da literatura brasileira. Já em fevereiro de 1941 (n. 53), a crônica “Tomás Teran e o Brasil”, de Mário de Andrade, elogia o virtuosismo do pianista espanhol e sua contribuição para a música brasileira.

Há outros artigos e notícias reportando a convergência dos intelectuais, brasileiros e hispano-americanos, que se dedicam à construção e à difusão de um repertório que congregue os países num projeto de maior alcance. Essa dinâmica reponta nos textos dos números temáticos de homenagem da Revista Acadêmica. O escritor mexicano Alfonso Reyes participa da homenagem aos cinquenta anos de Álvaro Moreyra com o ensaio “Medio siglo de Álvaro”, em dezembro de 1938 (n. 41). Em “Mário de Andrade”, em novembro de 1945 (n. 66), Gabriela Mistral faz um retrato elogioso do escritor paulistano. A nota editorial faz menção ao Prêmio Nobel (1945) da poeta chilena, que foi celebrado pela revista como um corolário para a literatura latino-americana.

Na correspondência de Murilo Miranda, presente na “Coleção Murilo Miranda” da FBN, há uma carta de Gabriela Mistral, de 30 de outubro de 1944MISTRAL, Gabriela. [ Correspondência ]. Destinatário: Murilo Miranda. [S.l.], 30 out. 1944. 1 carta pessoal. Coleção Murilo Miranda - FBN. Localização: I-05,12,013., na qual tece considerações sobre homenagem da revista ao poeta paulistano. A missivista destaca o intercâmbio cultural promovido pela Revista Acadêmica entre os países latino-americanos, a despeito da falta de subvenção governamental. Gabriela registrou, também, o projeto de Murilo em procurar editoras hispano-americanas para a impressão e distribuição da Revista Acadêmica na Argentina, no Chile, no México e no Uruguai, o que comprova o propósito de proximidade com o cenário hispano-americano.

Em compensação, escritores brasileiros se dedicam, na revista em homenagem ao Chile (n. 68, 07/1947), a escreverem as notações e as reminiscências sobre a literatura e autores chilenos. O volume é composto pelo “Depoimento” de Ademar Vidal, o suelto “Saudação aos escritores chilenos”, de Guilherme Figueiredo, e a crônica “Lembrança do Chile”, de Osvaldo Alves.

Ademar Vidal (1947, p. 2) recorda a passagem de Gabriela Mistral no Brasil: “Ainda hoje recordo-me cheio de emoção de quando, ao visitá-la, em Petrópolis, fiquei assombrado, com o desvelado carinho que, em cada palavra, ela revelava pelo nosso país, como se estivesse falando da própria terra”. Guilherme Figueiredo (1947, p. 3), como presidente da Associação Brasileira de Escritores, cumprimenta “seus irmãos andinos, que possuem a mais alta compreensão de que nossa tarefa comum só se realiza mediante a defesa da livre manifestação do pensamento”, em consonância com a congratulação pela eleição de Gabriel Videla. Osvaldo Alves narra a viagem ao Chile e a agitação política que antecedeu a eleição de Videla, os contrastes da capital numa recordação sentimental. Chile e seus escritores voltam a aparecer no texto “Dias e Noites”, de Jorge de Lima, que cita Pablo Neruda na revista de dezembro de 1947 (n. 69).

Dentro da coletânea crítica da Revista Acadêmica, há notações que trazem à tona a irradiação dos periódicos de língua espanhola no circuito editorial brasileiro, como na menção à Revista Pan, da Argentina, que é a fonte para o artigo “Spengler e a Paz”, de Caio Julio Cesar Tavares, pseudônimo de Carlos Lacerda (n. 19, 06/1936), ou no release “Intercâmbio Literário”, do DIP, sobre o acordo da Agência Nacional com jornais hispano-americanos e espanhóis, em novembro de 1939 (n. 47).

Outro aspecto que comprova essa reciprocidade são as novidades literárias, os lançamentos e a presença de Brasil em outros periódicos hispano-americanos noticiados pela Revista Acadêmica. O casal Lídia BesouchetBESOUCHET, Lídia. [Correspondência]. Destinatário: Murilo Miranda. Buenos Aires, abr. 1940. 1 carta pessoal. Acervo Murilo Miranda - FCRB. e Newton Freitas colaboraram, ativamente, para esta divulgação fora do país. Após sua prisão no Brasil (1936-1937), durante a Ditadura do Estado Novo, Newton Freitas se exila na Argentina (1938). Ele e a esposa foram representantes informais da Revista Acadêmica, como podemos verificar pela correspondência do casal com Murilo Miranda, ao início da década de 1940MIRANDA, Murilo (org.). Revista Acadêmica , n. 51, setembro/1940.. Newton trata da receptividade existente, em Buenos Aires, para uma exposição de Lasar Segall, outro artista importante para a revista.

Newton surge como um articulador com a imprensa argentina, distribuindo trabalhos de escritores brasileiros, como Jorge de Lima, mas também dá conta das agruras do exílio, o isolamento e a dificuldade em editar e publicar novas obras. Lídia relata o panorama literário da Argentina, os autores brasileiros conhecidos e se propõe a distribuir exemplares da revista.

Assim, pelas páginas da Revista Acadêmica, acompanhamos o trabalho organização e de tradução de ambos os artistas duma antologia de literatura brasileira em espanhol. O anúncio do livro Diez escritores de Brasil (1940) aparece em fevereiro do mesmo ano (n. 48). Pela carta enviada a Murilo Miranda, Newton comenta o êxito do livro, a distribuição em outros países hispano-americanos e a proposta de uma segunda edição: “Felizmente a crítica argentina, chilena, paraguaia está nos tratando bem. Do Brasil nada espero. A ditadura literária reina. Sinto-lhe os efeitos daqui: Que importa! [...] Estou tão longe...” (Freitas, 12/01/194?FREITAS, Newton. [ Correspondência ]. Destinatário: Murilo Miranda. Buenos Aires, 12 jan. 194?. 1 carta pessoal. Acervo Murilo Miranda - FCRB.).

Da Argentina, registramos a homenagem ao Brasil na revista Sur. A publicação de Buenos Aires dedica o número 96 (1942) à literatura brasileira, após a passagem da escritora argentina María Rosa Oliver pelo Brasil, em setembro de 1942. A Revista Acadêmica, em novembro de 1942 (nº 62), descreve o dossiê e elenca os escritores que participam de uma “pequena antologia da nossa moderna poesia”. Grande parte é de colaboradores da Revista Acadêmica, como Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Jorge de Lima, etc. e marca a estreia de Aníbal Machado. As traduções para o espanhol foram feitas por Cecília Meireles. Na prosa, aparecem os textos de Jorge Amado, Rachel de Queiroz, Rubem Braga e Marques Rebelo. Há estudos de Vinicius de Morais sobre a moderna poesia brasileira e Rubem Navarro sobre artes plásticas. Concluindo o número, é reproduzida a crônica de Manuel Bandeira, “Um inquérito sobre o romance brasileiro”, cujo material é baseado numa das enquetes promovidas pela revista.

Por fim, através do número especial da revista Sur, evidencia-se o sucesso do intenso trabalho da Revista Acadêmica para a promoção da literatura brasileira, seja fornecendo o aporte crítico-interpretativo, seja promovendo a moderna literatura do Brasil, que, neste caso, ganha um âmbito de interlocução que excede o quadro teórico nacionalista, enfatizando temas e formas comuns no cenário cultural latino-americano de 1930 e 1940.

Considerações Finais

Dentro da linha editorial que conjugava a participação nas grandes questões sociais e a difusão da arte moderna (Antelo, 1997ANTELO, Raúl. As revistas literárias brasileiras. Boletim de Pesquisa NELIC, v. 1, n. 2, 1997, p. 3-11. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/nelic/article/view/1041 . Acesso em: 21 abr. 2024.
https://periodicos.ufsc.br/index.php/nel...
), a Revista Acadêmica estabeleceu uma imensa rede colaborativa, dentro e fora do Brasil, ampliando e aprofundando o debate cultural e político que animava o periódico. De acordo com a proposta deste trabalho, o levantamento, ainda que parcial, fez emergir a presença consistente e expressiva da literatura dos países de língua espanhola na revista, o que não era o usual nas publicações daquele momento.

Para contextualizar o interesse nas questões latino-americanas e hispânicas, retomamos a cobertura internacional sobre a situação hispano-americana diante do avanço da extrema-direita, a estratégia continental de combate ao nazifascismo na América, bem como sinalizamos o acompanhamento intensivo das batalhas da Guerra Civil Espanhola. A revista abriu espaço para estudos sobre o passado colonial hispano-americano e os vínculos políticos e sociais com a história brasileira. Demonstrou-se, portanto, a relevância e continuidade na abordagem do cenário latino-americano e espanhol em consonância com a linha editorial antifascista e antirracista.

Na sequência, mapeamos a presença das literaturas de língua espanhola na Revista Acadêmica, que refletem a preferência da publicação pela literatura moderna, especialmente a poesia, ressaltando o arrojo estético e político para uma produção poética autêntica. A prosa literária tem um conjunto impressionante de crônicas, reforçando a vocação da revista em conciliar jornalismo e literatura. Os autores, cujas obras são divulgadas, sinalizam o empenho da Revista Acadêmica de estar em dia com as manifestações de vanguarda, o que se espraia pelo seu ensaísmo “antiacadêmico”, cuja autoria diversificada representa os inúmeros locais de circulação da revista.

Sobressai, ademais, o êxito da Revista Acadêmica em promover a literatura brasileira no cenário latino-americano, seja como o espaço de interlocução para a produção da poesia de Jorge de Lima, seja com a divulgação da literatura brasileira, fomentando traduções e colaborações para publicações hispano-americanas, ou, ainda, criando um repertório interpretativo para o estudo da literatura brasileira e duma crítica nacional sobre os textos de língua espanhola.

Desse modo, retomar o legado da Revista Acadêmica permite conhecer outras faces do Modernismo, quando a expansão da literatura moderna contou com ação de escritores de várias partes do país, mostrando a capilaridade do movimento e a revista foi um espaço de convergência fundamental. Em suma, importa rever sua atuação, na medida em que a radicalização ideológica e ascensão do nazifascismo, que culminou em ditaduras e guerras, tem sido reatualizada, neste início de século, com a evocação da censura, do racismo e da violência. O diálogo encetado pela revista, a exemplo da sua aproximação com os países de língua espanhola, foi um dos meios de se opor aos totalitarismos, denunciando os efeitos nefastos dos regimes ditatoriais, reafirmando a intrínseca dimensão política da arte.

Agradecimentos

Aos funcionários do Arquivo-Museu de Literatura Brasileira (AMLB) pelo auxílio gentil e atencioso para esta pesquisa resultante do estágio de Pós-Doutorado realizado na Fundação Casa de Rui Barbosa (2022-2023).

Referências

  • ACERVO MURILO MIRANDA. Sigla: MMi. Procedência: doado por Yedda Braga Miranda. Instrumento de pesquisa: não possui. Estágio de tratamento: não organizado. Dimensão: 2,18 m. Arquivo-Museu de Literatura Brasileira (AMLB) da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB).
  • ANTELO, Raúl. As revistas literárias brasileiras. Boletim de Pesquisa NELIC, v. 1, n. 2, 1997, p. 3-11. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/nelic/article/view/1041 Acesso em: 21 abr. 2024.
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  • 1
    Foram identificados outros documentos do autor e de seus correspondentes nos seguintes acervos: Centro de Documentação e Pesquisa (CEDOC - FUNARTE); Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil — Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV, Arquivo Gustavo Capanema); Fundação da Biblioteca Nacional (FBN - Coleção Murilo Miranda); Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP - Acervo Mário de Andrade) e Instituto Moreira Sales (Arquivo/Coleção: Érico Veríssimo).
  • 2
    Não fazem parte da coleção os seguintes números: nº 21 (08/1936); nº 22 (09/1936); nº 24 (12/1936); nº 25 (01/1937); nº 26 (03/1937); nº 30 (09/1937); nº 31 (10/1937); nº 33 (01/1938); nº 34 (04/1938); nº 43 (04/1939); nº 59 (01/1942) e nº 60 (05/1942).
  • 3
    São eles: nº 1 (09/1933); nº 7 (07/1935); nº 15 (11/1935); nº 16 (01/1936); nº 18 (05/1936); nº 19 (06/1936); nº 20 (07/1936); nº 23 (11/1936); nº 28 (06/1937); nº 29 (07/1937); nº 35 (05/1938); nº36 (06/1938); nº 37 (07/1938); nº 38 (08/1938); nº 39 (09/1938); nº 40 (10/1938); nº 41 (12/1938); nº 45 (08/1939); nº 46 (09/1939); nº 47 (11/1939); nº 48 (02/1940); nº 49 (05/1940); nº 50 (07/1940); nº 51 (09/1940); nº 53 (02/1941); nº 55 (06/1941); nº 62 (11/1942); nº 63 (05/1943); nº 64 (06/1944); nº 65 (04/1945); nº 67 (11/1946); nº 68 (07/1947); nº 69 (12/1947) e nº 70 (12/1948).
  • 4
    São eles: nº 28 (06/1937); nº 29 (08/1937); nº 35 (05/1938); nº 36 (06/1938); nº 37 (07/1938); n. 38 (08/1938); nº 39 (09/1938) e nº 40 (10/1938); nº 46 (09/1939); nº 55 (06/1941); nº 62 (09/1942); nº 63 (05/1943) e nº 64 (11/1946).
  • 5
    A Revista Acadêmica contou com uma editora que se dedicou à publicação de livros de literatura e lançou edições ilustradas pelo “Club do Livro”. Além do livro de Jorge de Lima, Poemas negros, com prefácio de Gilberto Freyre e ilustrações de Lasar Segall, foram lançados os seguintes títulos: Mangue, desenhos de Lasar Segall com texto de Mário de Andrade e poemas de Manuel Bandeira e Jorge de Lima; Poemas traduzidos, de Manuel Bandeira, e ilustrações de Alberto da Veiga Guignard; Dois dedos, de Graciliano Ramos e ilustrações de Axel de Leskochek; Mensagem etérea, poemas de Manoel de Abreu e ilustrações de Portinari; A canção de amor e de morte do porta-estandarte, de Rainer Maria Rilke e ilustrações de Arpad Szenes e tradução de Cecília Meireles e A canção de Dixie, de Ademar Vidal com prefácio de Manuel Bandeira e ilustrações de Oswaldo Goeldi.

Editado por

editor-chefe:

Cássia Maria Bezerra do Nascimento

editora executiva:

Rachel Esteves Lima

editor associado:

Anderson Bastos Martins

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Jun 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    24 Mar 2023
  • Aceito
    17 Dez 2023
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