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O caminho da qualidade editorial

Desde que iniciei minha função como editor da RBO chamei a atenção dos leitores e autores: minha visão era que uma revista médica deve informar e educar e ter como objetivo ser lida.

As outras qualidades que se agregarem à revista, como fatores de impacto e citações nos sites de busca específicos, são valores que devem ser considerados secundários. Na nossa forma de ver, uma boa revista médica é séria na análise dos assuntos publicados e lida pela maioria dos interessados na área. Os índices de qualidade virão como consequência.

Essa visão de forma alguma descarta a importância dos índices que são usados para qualificar as revistas de caráter científico e a meta de atingi-los continua a ser um dos pilares de nossa gestão editorial. Um dos fatores para se obter um dos índices de valorização considerados importantes, chamados de fatores de indexação, é estar ligado a uma grande editora. Sem dúvida alguma, após vivenciarmos um ano de convívio com a nossa atual, que é uma grande editora, pudemos observar que a diferença de apoio logístico e suporte é grande e que esse deve ser considerado um fator positivo na análise de uma revista.

Ao longo destes anos observamos que a deterioração dos objetivos fundamentais das revistas médicas começou a ocorrer inicialmente de forma esporádica e restrita, até que atingiu níveis que a nosso ver merecem reflexão.

A indexação, que deve ser considerada o reconhecimento da qualidade, sofreu algumas distorções.

Publicar em revistas indexadas passou a ser uma moeda de troca para concursos acadêmicos e até para valorização profissional. No nosso meio universitário, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que regulamenta os programas de pós-graduação, considera que um trabalho publicado em uma revista com índice de impacto 4 ou acima vale 10 vezes mais do que um trabalho publicado na RBO; um com índice 1,6 vale seis vezes mais. Vale dizer que não há revistas de ortopedia com impacto 4 no mundo. Essa valorização descabida da indexação causou algumas atitudes estranhas para o meio das publicações de caráter educacional e científico. Algumas revistas indexadas cobram para a análise e publicação de trabalhos originais. Discordamos profundamente dessa cobrança, pois sem dúvida pode gerar interesses escusos que se assemelham ao criticadíssimo "conflito de interesse". Explico o porquê dessa minha interpretação:

  • - O fato de um médico ser consultor de uma determinada empresa nos dá o direito de imaginar que será tendencioso na publicação do resultado do uso de materiais produzidos pela empresa em questão.

  • - O fato de um autor pagar para análise e aprovação de um trabalho também nos dá o direito de imaginar que a aceitação do trabalho será facilitada.

Ter alto fator de impacto passou a ser um bom negócio.

Várias revistas foram criadas. Para demonstrar o que esse expediente gerou, a revista Science, de tradição e qualidade inquestionáveis, publicado no ano de 2013, vol.342, p.60-5 um interessante texto de um autor que forjou um trabalho, sobre um medicamento forjado, feito em uma instituição forjada e com autores forjados, com o título "Who's afraid of peer review?" Esse autor criou esse trabalho falso sobre um quimioterápico e o enviou para 400 revistas. Até o momento da publicação na Science, dessa sua interessante experiência, o trabalho já havia sido aceito em mais de 150 revistas do mundo!!!

Ter uma revista científica para publicação passou a ser bom negócio.

Na RBO vamos no caminho seguro, lento e progressivo de nossa indexação internacional e procuramos divulgar a produção científica da ortopedia brasileira nos seus limites. Exigir cada vez mais qualidade dos trabalhos, atualizar o nosso corpo de editores e divulgar a metodologia necessária para produção de trabalhos científicos tem sido a nossa diretriz.

Acreditamos que bons trabalhos, bem avaliados e corrigidos, servem de exemplo para que próximos trabalhos sejam melhores. Educar pelo exemplo é tarefa longa, mas segura.

Indexar a RBO, agora em sistemas internacionais, continua a ser um de nossos objetivos, mas dentro nos nossos limites.

Ser lida pela comunidade ortopédica brasileira, para a SBOT e para a RBO, é o nosso bom negócio.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2014
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