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Elaboração de protocolo de condutas em traqueostomias no hospital referência de tratamento do câncer do Amazonas

RESUMO

Objetivo:

criar um manual de rotina multidisciplinar de condutas em traqueostomias para pacientes adultos e pediátricos da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas.

Métodos:

o protocolo foi desenvolvido por meio do método Delphi modificado, que consistiu na aplicação de duas séries de questionários a 20 profissionais da unidade.

Resultados:

treze profissionais concluíram as duas etapas. Na primeira etapa, 53 de 92 questões apresentadas obtiveram consenso (57,6%). Estas sentenças que obtiveram consenso formaram o texto da segunda etapa, que foi dividido em oito capítulos que foram avaliados por meio da marcação de respostas oferecidas em uma escala Linkert. Todos os capítulos apresentados na segunda etapa obtiveram consenso, significando que a soma das respostas concordo e concordo plenamente foram todas acima de 70%.

Conclusão:

utilizando os dados obtidos no consenso, foi elaborado um protocolo de condutas em traqueostomias e um manual de orientações de cuidados para os pacientes e seus cuidadores.

Descritores:
Protocolos Clínicos; Traqueostomia; Oncologia; Hospitais Universitários

ABSTRACT

Objective:

to create a multidisciplinary conducts manual for tracheostomies in adult and pediatric patients in the Amazonas State Oncology Control Center Foundation.

Methods:

we developed a protocol using the modified Delphi method, which consisted in the application of two series of questionnaires to 20 professionals of the unit.

Results:

thirteen professionals completed the two steps. In the first stage, there was consensus in 53 out of 92 questions (57.6%). The questions that obtained consensus formed the text of the second stage, divided into eight chapters and evaluated by marking the answers offered on a Linkert scale. All the chapters presented in the second stage obtained consensus, meaning that the sum of the answers "agree" and "fully agree" were above 70%.

Conclusion:

using the data obtained in the consensus, we elaborated a tracheostomy conduct protocol and a care guidelines manual for the patients and their caregivers.

Keywords:
Clinical Protocols; Tracheostomy; Medical Oncology; Hospitals; University

INTRODUÇÃO

Traqueostomia (TQT) é o procedimento cirúrgico que consiste na abertura da parede anterior da traqueia, comunicando-a com o meio externo através da inserção de uma cânula, tornando a via aérea pérvia11 Ricz HMA, Mello Filho FV, Freitas LCC, Mamede RCM. Traqueostomia. Medicina (Ribeirão Preto). 2011;44(1):63-9.. É um procedimento comum em oncologia, principalmente em oncologia de cabeça e pescoço22 Hammarfjord O, Ekanayake K, Norton J, Stassen LF. Limited dissection and early primary closure of the tracheostomy stoma in head and neck oncology operations: a retrospective study of 158 cases. Int J Oral Maxillofac Surg. 2015;44(3):297-300.. Estudos entre os cirurgiões de cabeça e pescoço de vários serviços relataram que 26 a 39% dos especialistas realizavam o procedimento com frequência, em casos de retalhos e grandes ressecções, de forma preventiva11 Ricz HMA, Mello Filho FV, Freitas LCC, Mamede RCM. Traqueostomia. Medicina (Ribeirão Preto). 2011;44(1):63-9.

2 Hammarfjord O, Ekanayake K, Norton J, Stassen LF. Limited dissection and early primary closure of the tracheostomy stoma in head and neck oncology operations: a retrospective study of 158 cases. Int J Oral Maxillofac Surg. 2015;44(3):297-300.
-33 Coyle MJ, Shrimpton A, Perkins C, Fasanmade A, Godden D. First do no harm: should routine tracheostomy after oral and maxillofacial oncological operations be abandoned? Br J Oral Maxillofac Surg. 2012;50(8):732-5.. Este procedimento no manejo da via aérea em pacientes oncológicos tem sido indicado também em casos de pacientes com massas tumorais e submetidos à radioterapia prévia, causando obstrução das vias aéreas e impedindo a intubação orotraqueal (IOT)44 Salgarelli AC, Collini M, Bellini P, Capparè P. Tracheostomy in maxillofacial surgery: a simple and safe technique for residents in training. J Craniofac Surg. 2011;22(1):243-6.,55 Mogedas-Vegara A, Bescós-Atín C, Gutiérrez-Santamaría J, Masià-Gridilla J, Pamias-Romero J, Sáez-Barba M. Manejo de la vía aérea en oncología de cabeza y cuello. Rev Esp Cir Oral Maxilofac. 2014;36(4):164-8.. Estudos evidenciam que a média de traqueostomias de rotina em ressecções de carcinoma espinocelular está entre 23 e 30% e, em casos selecionados, até 74%33 Coyle MJ, Shrimpton A, Perkins C, Fasanmade A, Godden D. First do no harm: should routine tracheostomy after oral and maxillofacial oncological operations be abandoned? Br J Oral Maxillofac Surg. 2012;50(8):732-5.,66 Scott N, Bater M, Fardy M. Tracheostomy in head and neck oncology. Results of the 2014 Tracheostomy Survey of the BAOMS Oncology Specialist Interest Group. Br J Oral Maxillofac Surg. 2015;53(8):779-81..

Este procedimento gera inúmeras mudanças no dia a dia do paciente: em sua dinâmica respiratória, em seu comportamento e relacionamento interpessoal, em seu cuidado pessoal. Para que essas mudanças ocorram com melhores resultados, diversos cuidados são necessários. Para todos esses cuidados, observou-se a importância de uma equipe multidisciplinar para o manejo de traqueostomias (médicos, odontólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas) tanto em ambiente hospitalar quanto no seguimento ambulatorial.

Na Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCECON), observamos a presença de profissionais de inúmeras especialidades atendendo pacientes com TQT, porém ainda não existe uma rotina própria do hospital para adaptar as diretrizes de condutas em traqueostomias à realidade dos nossos pacientes. Não há um modelo uniforme de tratamento do paciente com traqueostomias durante a sua internação, padronização de materiais e procedimentos, nem um modelo de orientações para condutas domiciliares. A elaboração de um manual de rotinas levando em consideração a experiência dos envolvidos nos cuidados com TQTs na FCECON traz subsídio clínico para reprodutibilidade das ações. A apresentação de informações sintetizadas da literatura, elaborada em tópicos para elucidar os questionamentos do dia a dia, mostra-se eficiente no aprimoramento do trabalho em equipe, refletindo em resultados favoráveis em relação à redução de complicações e melhora na qualidade de vida do paciente77 Mitchell R, Parker V, Giles M. An interprofessional team approach to tracheostomy care: a mixed-method investigation into the mechanisms explaining tracheostomy team effectiveness. Int J Nurs Stud. 2013;50(4):536-42..

O objetivo deste trabalho foi criar um protocolo multidisciplinar de condutas em traqueostomias para os pacientes adultos e pediátricos da FCECON que necessitarem do procedimento, além de utilizar os dados do protocolo para elaborar um manual de cuidados domiciliares básicos, orientações e condutas de emergência para cuidadores e pacientes.

MÉTODOS

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FCECON. CAAE: 61650316.1.0000.0004. Foi utilizado para a elaboração do protocolo de condutas em traqueostomias da FCECON o método Delphi modificado, que consiste em aplicação de séries de questionários a especialistas. Os critérios de inclusão foram: profissionais da FCECON de nível superior que trabalham com pacientes traqueostomizados em sua prática diária; no mínimo cinco anos de experiência na área. Critérios de exclusão: profissionais que por qualquer motivo não completaram as duas etapas do questionário; profissional que perdesse o vínculo de trabalho com a FCECON durante o estudo.

O método Delphi não utiliza cálculo estatístico para definir o número ideal de especialistas para que o consenso seja adequado. Sugere a escolha dos participantes de acordo com o seu conhecimento e experiência no assunto tratado, sempre privilegiando escolher os melhores qualificados do serviço88 Hasson F, Keeney S, McKenna H. Research guidelines for the Delphi survey technique. J Adv Nurs. 2000;32(4):1008-15.,99 Hsu CC, Sandford B. The Delphi technique: making sense of consensus. Pract Assess Res Eval (Online). 2007;12(10):1-8.. Alguns autores sugerem algumas características básicas para orientar a seleção dos componentes do estudo: especialistas que irão utilizar em sua prática diária os resultados obtidos no protocolo; especialistas que lideram equipes relacionadas ao tema estudado; especialistas considerados como referência em consultas sobre o assunto88 Hasson F, Keeney S, McKenna H. Research guidelines for the Delphi survey technique. J Adv Nurs. 2000;32(4):1008-15.. Para o presente estudo foram convidados 20 especialistas.

O questionário inicial foi elaborado pela equipe de pesquisadores. As questões do primeiro questionário são produto de revisão de literatura, usando as bases de dados MEDLINE, LILACS. Foram utilizados os termos "tracheostomy" e traqueostomia. Livros textos e protocolos de TQT de outros serviços também foram pesquisados. Foram selecionados 37 textos para a elaboração das sentenças do protocolo.

As variáveis primárias foram definidas como blocos de condutas: indicações, procedimentos, complicações, cuidados de rotina especializado, troca de cânula, decanulação, orientações a pacientes e familiares. As perguntas elaboradas em cada um destes blocos principais foram definidas como variáveis secundárias. O especialista tinha a oportunidade de acrescentar respostas que achasse importante para o protocolo. Ao final de cada questão havia espaço para opiniões, acréscimos e correções.

Os especialistas selecionados foram convidados a participar do estudo e os que aceitaram assinaram o TCLE. O primeiro questionário foi entregue aos especialistas. A equipe de pesquisa não presenciou preenchimento das respostas. Após o preenchimento a pesquisadora foi acionada e recolheu o questionário, que foi colocado em envelopes em branco, sem identificação. A elaboração de um segundo questionário resultou da análise das respostas apresentadas no primeiro questionário. Todas as respostas que obtiveram acima de 65% de consenso foram colocadas no texto do segundo questionário. Questões relevantes que não apresentaram consenso no primeiro questionário foram repetidas na segunda etapa.

O segundo questionário transformou as respostas que obtiveram consenso em um texto. O texto foi dividido em oito capítulos para melhor análise. Após a leitura de cada capítulo, o especialista relatava a sua impressão assinalando um item da escala Linkert citada a seguir: 1. Discordo fortemente; 2. Discordo; 3. Neutro; 4. Concordo; 5. Concordo plenamente. O segundo questionário foi entregue ao especialista, seguindo o mesmo protocolo de preenchimento da primeira etapa. Após a análise destas respostas do segundo questionário, os capítulos que obtiveram as respostas concordo e concordo plenamente acima de 70% de consenso integraram o texto final do protocolo. Utilizando os dados do protocolo, foi elaborado também manual para o paciente.

A estatística descritiva foi calculada para item de cada questão. Foi utilizado cálculo de porcentagem entre as respostas consideradas válidas88 Hasson F, Keeney S, McKenna H. Research guidelines for the Delphi survey technique. J Adv Nurs. 2000;32(4):1008-15.. O cálculo de P não se aplica neste tipo de projeto99 Hsu CC, Sandford B. The Delphi technique: making sense of consensus. Pract Assess Res Eval (Online). 2007;12(10):1-8.. Foi utilizado o programa Excel para registro de dados. Consenso e manual do paciente foram entregues à diretoria clínica do hospital.

RESULTADOS

Os 20 profissionais de saúde convidados e que aceitaram participar do estudo da FCECON eram de diversas especialidades: médico intensivista, médico da urgência oncológica, fisioterapeuta, enfermeira intensivista, cirurgião oncológico, cirurgião de cabeça e pescoço, cirurgião torácico, enfermeiro do centro cirúrgico, enfermeiro estomatoterapeuta, enfermeiro da endoscopia. Treze (65%) profissionais participaram das duas séries de questionários e somente esses foram analisados no protocolo. O perfil dos participantes que completaram todas as etapas do projeto pode ser visto na tabela 1.

Tabela 1
Perfil dos profissionais que participaram integralmente das séries de questionários do protocolo de traqueostomia.

O tempo de retorno dos questionários preenchidos na primeira etapa variou de dois a 90 dias. Noventa e duas questões foram apresentadas na primeira etapa, dez questões discursivas e 82 objetivas. Foi facultado ao especialista assinalar quantas sentenças julgasse corretas nas questões objetivas. Em todas as questões objetivas, havia a possibilidade do especialista assinalar uma opção na qual o mesmo não responde à pergunta por não fazer parte da sua prática diária. Quando essa alternativa estava assinalada, a questão deste especialista foi descartada ao realizar a quantificação de respostas válidas. Havia espaço para adicionar comentários sobre assuntos relevantes. Após a análise dos questionários preenchidos, 53 questões tiveram 65% de consenso (Tabela 2). Doze comentários de assuntos que não estavam no texto inicial foram adicionados.

Tabela 2
Resultado da primeira etapa do método Delphi.

Utilizando os dados de consenso da primeira etapa, foi elaborado o texto da segunda etapa a ser apresentado aos profissionais. Seis questões da primeira etapa foram reapresentadas integralmente, por terem sido consideradas relevantes para o protocolo, porém sem consenso (abaixo de 65%). O texto da segunda etapa foi dividido em oito capítulos para serem avaliados de forma mais clara: conceitos gerais, indicações, procedimento, técnica, complicações, cuidados, decanulação e cuidadores. O tempo de entrega do questionário respondido da segunda etapa variou de um a 21 dias. No capítulo geral, 30,8% dos especialistas respondeu concordo e 69,2%, concordo plenamente. No capítulo indicações, 38,5% dos especialistas respondeu concordo e 53,8%, concordo plenamente. Responderam neutro 7,7%. No capítulo procedimento, 38,5% dos especialistas respondeu concordo e 61,5%, concordo plenamente. No capítulo técnica, 53,8% dos especialistas respondeu concordo e 23,1%, concordo plenamente. Responderam neutro 15,4% e discordo 7,7%. No capítulo complicações, 61,5% dos especialistas respondeu concordo e 38,5%, concordo plenamente. No capítulo cuidados, 46,2% dos especialistas respondeu concordo e 53,8%, concordo plenamente. No capítulo decanulação, 38,5% dos especialistas respondeu concordo e 53,8%, concordo plenamente. Responderam neutro 7,7%. No capítulo cuidadores, 46,2% dos especialistas respondeu concordo e 53,8%, concordo plenamente (Tabela 3). Analisando as seis questões reapresentadas, apenas uma questão atingiu 70% de aceitação para o consenso.

Tabela 3
Resultado da segunda etapa do método Delphi.

Foram selecionados para integrar o protocolo os textos que apresentaram acima de 70% de consenso pelos especialistas por meio da soma das assertivas concordo e concordo plenamente. Durante a redação final do protocolo, optou-se por descrever, no texto final, as questões que não obtiveram consenso entre os especialistas utilizando os dados que já são consenso na literatura, pois os mesmos têm grande importância e não poderiam ser descartados da redação final do protocolo.

Com os dados resultantes do consenso foi redigido um protocolo em traqueostomias para a equipe do hospital e um manual para o paciente e seus cuidadores com orientações gerais (Tabela 4).

Tabela 4
Resumo do protocolo obtido por meio das respostas dos especialistas.

DISCUSSÃO

Mitchell, em 2013, elaborou um consenso de TQTs pelo método Delphi, com 110 questões iniciais. Ao final da segunda etapa, 77 sentenças foram aprovadas e 36 descartadas. Neste estudo nove especialistas participaram da elaboração do consenso, cujas especialidades eram: cirurgiões adultos e pediátricos, enfermeiros, fisioterapeutas e médicos de urgência1010 Mitchell RB, Hussey HM, Setzen G, Jacobs IN, Nussenbaum B, Dawson C, et al. Clinical consensus statement: tracheostomy care. Otolaryngol Head Neck Surg. 2013;148(1):6-20.. Outro consenso publicado sobre TQT utilizou como método reunir profissionais especialistas (19 profissionais) que realizaram uma revisão conjunta da literatura de 40 artigos e, a partir destes dados, redigiram o consenso. Estes profissionais também buscaram adaptar a literatura a sua realidade local. Também foi realizado apenas por médicos e enfermeiros1111 Urrestarazu P, Varón J, Rodríguez A, Ton V, Vila F, Cipriani S, et al. Consenso sobre el cuidado del niño con traqueostomía. Arch Argentina Pediatr. 2016;114(1):89-95..

Quanto ao presente trabalho, não houve consenso entre os profissionais a respeito do tempo de intubação orotraqueal ideal para indicar traqueostomia. Estudos recentes advogam o procedimento precoce, associando aumento de mortalidade à maior dificuldade de desmame ventilatório, quando associados às traqueostomias tardias (acima de 14 dias após a intubação)1212 Patel SA, Plowman EK, Halum S, Merati AL, Sardesai MG. Late tracheotomy is associated with higher morbidity and mortality in mechanically ventilated patients. Laryngoscope. 2015;125(9):2134-8.. Quando realizada em até sete dias, reduz-se o tempo de permanência na UTI1313 Liu CC, Livingstone D, Dixon E, Dort JC. Early versus late tracheostomy: a systematic review and meta-analysis. Otolaryngol Head Neck Surg. 2015;152(2):219-27..

Com relação à prevenção de decanulação acidental em traqueostomias consideradas difíceis, não houve consenso sobre como conduzir. Estudos já sugerem realizar reparos na traqueia utilizando fios durante os primeiros dias até a cicatrização do trajeto1414 Scurry WC Jr, McGinn JD. Operative tracheotomy. Oper Tech Otolaryngol Head Neck Surg. 2007;18(2):85-9.. A respeito da abertura na traqueia, não houve uma conduta uniforme entre os especialistas. Protocolos mostram que todas as possibilidades de abertura da traqueia têm suas indicações e complicações, realmente não havendo um consenso1414 Scurry WC Jr, McGinn JD. Operative tracheotomy. Oper Tech Otolaryngol Head Neck Surg. 2007;18(2):85-9.,1515 Durbin CG Jr. Tracheostomy: why, when, and how? Respir Care. 2010;55(8):1056-68.. Em crianças, no entanto, é sugerido apenas incisão longitudinal da traqueia com uso de reparo de fios1616 Fraga JC, Souza JCK, Kruel J. Traqueostomia na criança. J Pediatr (Rio J). 2009;85(2):97-103.. A conduta em casos de decanulação acidental não obteve consenso, mesmo sendo reapresentada na segunda etapa. A conduta nos algoritmos de urgências em traqueostomias sugere em casos de decanulação acidental verificar se o paciente está respirando, desinsuflar o balonete, chamar ajuda. É possível tentar reposicionar uma única vez1717 Singapore. Ministry of Health. Moh Nursing Clinical Practice Guidelines 2/2010. Nursing Management of Adult Patients with Tracheostomy. Ministry of Health: Singapore, 2010.. É de extrema importância que este item esteja relatado em um manual de rotinas, pois é uma das principais causas de morte por complicações de traqueostomia.

Outro item de grande importância que não obteve consenso foram as condutas em casos de obstrução da cânula. O que se observa na literatura é verificar, inicialmente, se o posicionamento da cânula está correto, avaliar se o paciente está respirando, estimular o paciente a tossir, aspirar a cânula, em casos de cânula metálica retirar a cânula interna e lavar. Se nenhuma destas manobras funcionar, chamar ajuda para troca de cânula ou intubação orotraqueal1717 Singapore. Ministry of Health. Moh Nursing Clinical Practice Guidelines 2/2010. Nursing Management of Adult Patients with Tracheostomy. Ministry of Health: Singapore, 2010..

Quanto à frequência de aspiração da cânula traqueal, não houve consenso também entre os especialistas. Na literatura, o consenso é que não há um protocolo de periodicidade de aspiração, pois dependerá da quantidade e fluidez da secreção eliminada por cada paciente. Pacientes com bom reflexo de tosse necessitam de menos aspirações durante o dia. Na série de questionários apresentada aos nossos especialistas, obtivemos uma resposta semelhante, de individualizar a frequência de aspiração para cada paciente. A frequência de limpeza da cânula interna segue a mesma teoria de avaliar o paciente para definir a frequência1717 Singapore. Ministry of Health. Moh Nursing Clinical Practice Guidelines 2/2010. Nursing Management of Adult Patients with Tracheostomy. Ministry of Health: Singapore, 2010..

O tempo mínimo necessário para que seja realizada a primeira troca da cânula não foi definido pelos especialistas da FCECON. Protocolos já estabelecidos recomendam que seja feita a primeira troca da cânula, em casos de necessidade, entre 48 e 72 horas no mínimo1818 Dawson D. Essential principles: tracheostomy care in the adult patient. Nurs Crit Care. 2014;19(2):63-72.,1919 National Tracheostomy Safety Project Manual [Internet]. Manchester: National Tracheostomy Safety Project; 2013. Availbale from: www.tracheostomy.org.uk
www.tracheostomy.org.uk...
. As trocas periódicas das cânulas metálica e de plástico com balonete também não obtiveram consenso, sendo que está recomendado que sejam trocadas a cada 30 dias (metálica) e entre sete e 14 dias (plástico)1818 Dawson D. Essential principles: tracheostomy care in the adult patient. Nurs Crit Care. 2014;19(2):63-72.,1919 National Tracheostomy Safety Project Manual [Internet]. Manchester: National Tracheostomy Safety Project; 2013. Availbale from: www.tracheostomy.org.uk
www.tracheostomy.org.uk...
. Estes dados são fundamentais nas condutas de enfermaria, UTI e ambulatório.

Em relação a um protocolo de decanulação também não houve consenso. Analisando os comentários relatados pelos especialistas, procede a sugestão de não determinar um protocolo de decanulação e sim personalizar de acordo com o motivo da traqueostomia e comorbidades associadas.

Não houve consenso sobre qual seria o profissional da equipe que iria realizar o treinamento para os cuidadores de pacientes com traqueostomia. O relato dos especialistas nas observações foi que cada profissional fizesse a orientação da sua parte. A literatura relata orientação semelhante, descrevendo a importância da orientação de todos os profissionais da equipe em relação aos cuidados com a traqueostomia e não um único profissional2020 McCormick ME, Ward E, Roberson DW, Shah RK, Stachler RJ, Brenner MJ. Life after tracheostomy: patient and family perspectives on teaching, transitions, and multidisciplinary teams. Otolaryngol Head Neck Surg. 2015;153(6):914-20.,2121 Yelverton JC, Nguyen JH, Wan W, Kenerson MC, Schuman TA. Effectiveness of a standardized education process for tracheostomy care. Laryngoscope. 2015;125(2):342-7..

Ao ser efetivado na FCECON, espera-se que o protocolo promova um atendimento multidisciplinar padronizado adaptado às particularidades dos pacientes. Esta forma de atendimento permite que eventuais mudanças no quadro de profissionais não modifiquem o modelo de tratamento. Além do atendimento personalizado, os pacientes e seus cuidadores serão orientados quanto à assistência e cuidados no domicílio. Consultar os especialistas na nossa região que trabalham na FCECON foi a opção para essa adaptação, pois conhecem a rotina dos pacientes. É sabido que existirão casos particulares em que será necessário que o especialista personalize a conduta.

Ao realizar a revisão deste protocolo, anualmente ou a cada biênio, sugere-se tentar convocar um maior número de profissionais e principalmente convocar membros de outras especialidades que não participaram da elaboração deste texto inicial, podendo assim, elaborar um manual mais amplo em relação ao conceito de multidisciplinaridade, tão importante para o paciente que é submetido a uma traqueostomia.

  • Fonte de financiamento: nenhuma.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Jul 2018
  • Data do Fascículo
    2018

Histórico

  • Recebido
    30 Jan 2018
  • Aceito
    10 Maio 2018
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