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Os conceitos de informação, documento e regime de informação a partir da perspectiva Frohmanniana na Ciência da Informação uma revisão sistemática da literatura em periódicos brasileiros

RESUMO

Introdução:

O presente trabalho propõe uma discussão sobre os estudos que abordam os conceitos de informação, documento e regime de informação, na perspectiva de Bernd Frohmann, no que diz respeito à sua materialidade, à institucionalidade, à historicidade e à agência documentária autônoma. A questão norteadora é: como os autores, no contexto da Ciência da Informação, discutem as abordagens baseadas nos estudos de Bernd Frohmann?

Objetivo:

Para tanto, objetiva-se identificar o enfoque e as concepções e características referentes aos conceitos de informação, documento e regime de informação, buscando compreender as manifestações e influências que esse autor traz às incursões teóricas na Ciência da Informação.

Método:

A pesquisa foi realizada em periódicos da Ciência da Informação Qualis A1 e A2, no período de 2009 a 2019, e optou-se pela revisão sistemática de literatura.

Resultados:

Os resultados demonstram o enfoque nas noções de informação, documento e regime de informação em Frohmann nesses trabalhos para embasar concepções e características introduzidas pelos próprios autores do campo da Ciência da Informação no Brasil.

Conclusão:

Considera-se que os trabalhos analisados complementam e ampliam diversas temáticas e emergem com reflexões desde filosóficas passando pelo profissional da informação até as práticas informacionais circundadas pelas políticas de informação, tecnologia e poder.

PALAVRAS-CHAVE:
Bernd Frohmann; Neodocumentalismo; Revisão sistemática de literatura; Ciência da informação

ABSTRACT

Introduction:

The present work proposes a discussion about the studies that work with concepts of information, document and information regime, from the perspective of Bernd Frohman, regarding its materiality, institutionality, historicity and autonomous documentary agency. The guiding question is: how do authors, in the context of Information Science, discuss approaches based on Bernd Frohmann's studies?

Objective:

Therefore, the objective is to identify the focus, the conceptions and characteristics related to the concepts of information, document and information regime, seeking to understand the manifestations and influences that this author brings to the theoretical incursions in Information Science.

Method:

The research was carried out in Information Science journals Qualis A1 and A2, from 2009 to 2019, and we opted for the Systematic Literature Review.

Results:

The results demonstrate the focus on the notions of information, document and information regime in Frohmann in these works, to support concepts and characteristics introduced by the authors in the field of Information Science in Brazil.

Conclusion:

It is considered that the analyzed works complement and expand several themes and emerge with reflections from philosophical aspects, through the information professional to informational practices surrounded by information, technology and power policies.

KEYWORDS:
Bernd Frohmann; Neodocumentalism; Systematic literature review

1 INTRODUÇÃO

Em meados da década de 1980, pôde-se observar, entre a comunidade da Ciência da Informação, um novo olhar ou uma retomada de olhares para os problemas do documento enquanto elemento cravado entre os aspectos socioculturais com as relações historicizadas e institucionalizadas. Essa retomada deu margens às incursões epistemológicas e filosóficas. Dentre os autores que estimularam os debates estão Michel Buckland, Boyd Rayward, Ronald Day e Bernd Frohmann1 1 Alemão, nascido em 1946, Bernd Frohmann é conhecido como um dos precursores do neodocumentalismo, retomando o documento como objeto central dos estudos informacionais com base em autores clássicos, como Paul Otlet. É doutor em Filosofia pela Universidade de Toronto, no Canadá, e, atualmente, atua como professor associado na Faculdade de Informação e Estudos de Mídia da Universidade de Western Ontario, no mesmo país. (FREITAS, 2010FREITAS, Lídia. O dispositivo de arquivo: a construção histórico-discursiva do documento e do fato. In: FREITAS, Lídia; MARCONDES, Carlos Henrique; RODRIGUES, Ana Célia. (org.). Documento: gênese e contextos de uso. Niterói: Ed. UFF, 2010. Disponível em: http://www.ci.uff.br/ppgci/index.php/2012-03-24-21-04-47. Acesso em: 23 abr. 2020.
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), que se dedicam ao estudo do documento com abordagens que vão ao encontro de uma perspectiva sociocultural e crítica ao mentalismo, passando pelas incursões dos estudos da informação e conceito de regime de informação, contribuindo, assim, para perspectivas que agregam à Ciência da Informação um aguçado senso de desnaturalização de seu objeto. Estas reflexões guardam diversos pontos em comum, como a revisitação dos estudos dos autores clássicos, entre eles, Suzanne Briet e Paul Otlet, originando a denominação de neodocumentalistas.

De acordo com Ortega e Saldanha (2017ORTEGA, Cristina Dotta; SALDANHA, Gustavo Silva. A noção de documento desde Paul Otlet e as propostas neodocumentalistas. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (ENANCIB), 18., 2017, Marília. Anais [...] Marília: Unesp, 2017. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/104362. Acesso em: 23 abr. 2020.
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), a crítica dirigida ao paradigma da informação pelos neodocumentalistas reside na completa ausência de uma relação do conceito de informação com seus respectivos contextos (histórico, político, social) e em seu excesso de subjetivação. Além disso, à luz das contribuições de Paul Otlet, buscam ampliar a noção do conceito de documento, como aquele que é capaz de reunir diferentes tipos de mídias, nas quais este objeto pode ser pensado na perspectiva de sua elaboração social, por meio da materialidade e da institucionalidade que representa.

Em um trabalho do ano de 2004, Frohmann ressalta a importância das contribuições dos estudos documentalistas do final século XIX e início do XX para a construção de novos modelos epistemológicos envolvendo o documento e as práticas documentárias nos estudos contemporâneos. Assim “[...] ‘documento’, em uma linha de reflexão ‘neodocumental’, de fundo frohmanniano, repercute condicionantes políticas plurais e em luta social constante.” (ORTEGA; SALDANHA, 2017ORTEGA, Cristina Dotta; SALDANHA, Gustavo Silva. A noção de documento desde Paul Otlet e as propostas neodocumentalistas. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (ENANCIB), 18., 2017, Marília. Anais [...] Marília: Unesp, 2017. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/104362. Acesso em: 23 abr. 2020.
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, p. 14-15). Os autores explicam que, desde Paul Otlet, o documento incide em uma demanda entre os fundamentos geopolíticos e os ajustes que se fazem no âmbito social, pois, em sua estrutura, demonstra o poder e, ao mesmo tempo, se contrapõe a discursos hegemônicos, contestando a imparcialidade imposta em sua produção e existência (ORTEGA; SALDANHA, 2017).

O documento, postulado em Frohmann (2004FROHMANN, Bernd. Documentation redux: prolegomenon to (another) philosophy of information. Library Trends, v. 52, n. 3, p. 387-407, 2004.), é construído a partir de operações com a linguagem, atuando, por exemplo, como discurso dominante e estabelecendo relações de poder. Portanto, nessa perspectiva, torna-se objeto para se discutir questões essenciais na contemporaneidade, envolvendo princípios éticos no trabalho com as mais variadas mídias.

É pertinente observar que as discussões acerca do papel do documento e suas dinâmicas sociais não incidem na ideia de ruptura, mas sim de um ponto de transição entre um paradigma e outro, dadas as subjetividades e intersubjetividades envolvidas na construção de uma referência e a possibilidade de observar essa construção sob a ótica de um processo histórico, ou seja, permeada pelo movimento contínuo da relação passado e presente: a contribuição de seus predecessores e a ascensão de modelos conceituais transformados (FREITAS; FERRANDO, 2017FERRANDO, Thays Lacerda; FREITAS, Lídia Silva de. Documento e dispositivo: entre Bernd Frohmann e Michel Foucault. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (ENANCIB), 18., 2017, Marília. Anais [...] Marília: Unesp, 2017. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/105326. Acesso em: 23 abr. 2020.
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).

Nesse sentido, Saldanha (2012SALDANHA, Gustavo Silva. O “fabuloso” antílope de Suzanne Briet: a análise e a crítica da análise neodocumentalista. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (ENANCIB) 13., 2012, Rio de Janeiro. Anais [...] Rio de Janeiro: Fiocruz, 2012. Disponível em: https://urless.in/5tYxk. Acesso em: 23 abr. 2020.
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) retoma a posição defendida por Frohmann (2011FROHMANN, Bernd. Reference, representation, and the materiality of documents. In: COLÓQUIO CIENTÍFICO INTERNACIONAL DA REDE MUSSI. 2011. Anais... Toulouse: Université de Toulouse 3, 2011.), ao afirmar que não se trata de abandonar o que se postulou a respeito da informação e do próprio documento em décadas posteriores, posto que este será revestido de novos significados: “É preciso pensar que o “documento” não está, como unidade de análise, em perfeito abandono no período que vai dos anos 1960 à virada do século. O documento se traveste de novos significantes - texto, discurso, registro e, principalmente, informação.” (SALDANHA, 2012SALDANHA, Gustavo Silva. O “fabuloso” antílope de Suzanne Briet: a análise e a crítica da análise neodocumentalista. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (ENANCIB) 13., 2012, Rio de Janeiro. Anais [...] Rio de Janeiro: Fiocruz, 2012. Disponível em: https://urless.in/5tYxk. Acesso em: 23 abr. 2020.
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, p. 9). Na perspectiva neodocumentalista frohmanniana, o documento, em sua materialidade, é a ação da linguagem, que está sempre transformando-se, de acordo com os seus respectivos contextos.

Considerando o exposto, a questão norteadora deste trabalho é: como os autores, no contexto da Ciência da Informação, discutem as abordagens baseadas nos estudos de Bernd Frohmann? Para tanto, objetiva-se identificar o enfoque e as concepções e características referentes aos conceitos de informação, documento e regime de informação, buscando compreender as manifestações e influências que esse autor traz às incursões teóricas na Ciência da Informação.

Optou-se pela Revisão Sistemática de Literatura (RSL) por se tratar de “[...] um tipo de investigação focada em questão bem definida, que visa identificar, selecionar, avaliar e sintetizar as evidências relevantes disponíveis” (GALVÃO; PEREIRA, 2014GALVÃO, Taís Freire; PEREIRA, Mauricio Gomes. Revisões sistemáticas da literatura: passos para sua elaboração. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 23 n. 1, jan./mar. 2014. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742014000100018. Acesso em: 1 nov. 2020.
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, p. 183), possibilitando que a análise da literatura vigente em determinado campo contribua com a identificação de tendências, construções teóricas e contribuições epistemológicas que auxiliam na consolidação e construção do conhecimento. Compreende-se, então, que a relevância de estudos que discutem conceitos e identificam temas de pesquisa, como aqui proposto, colaboram para a consolidação dos campos do saber e, desse modo, contribuem para alicerçar ainda mais as bases fundamentais da Ciência da Informação, ampliando seu espectro de discussões e possibilitando considerações que podem colaborar com seu fortalecimento no contexto acadêmico e científico.

Os levantamentos foram realizados em periódicos da área de Ciência da Informação brasileiros, conceitos Qualis A1 e A2, respeitando-se a classificação do Qualis 2013-2016, com recorte de tempo estipulado em 10 (dez) anos, de 2009 a 2019. O processo respeitou as cinco etapas da Revisão Sistemática de Literatura e é explicitado em detalhes no tópico de análise deste artigo. A busca foi realizada, primeiramente, a partir de artigos que utilizam Frohmann em suas citações e referências e, em seguida, procedeu-se à leitura completa de cada artigo considerando olhar para o “enfoque” e para as “concepções conceituais e características”. Assim, entende-se que enfoque é referente ao direcionamento do tema do artigo e a relação com os conceitos de informação e documento por Frohmann e concepções conceituais e características referem-se aos conceitos literais utilizados por esses autores e a elementos que constroem esses conceitos e são passíveis de identificação de suas características. A partir daí, a leitura completa dos artigos forneceu as condições para a análise baseada nos conceitos de informação, documento e regime de informação, subsidiando a construção de uma discussão que buscou compreender as abordagens, usos dos conceitos e contribuições destes estudos às incursões teóricas da área no âmbito da literatura brasileira.

Entre os resultados, percebe-se o uso dos conceitos de informação, documento e regime de informação baseados nos estudos de Bernd Frohmann, nos 20 (vinte) artigos analisados, o que possibilitou verificar a emergência de debates em torno das políticas de informação na Ciência da Informação. Às concepções do autor, os autores por vezes acrescentaram suas próprias incursões, revelando confrontações ou mesmo possibilidades de ampliação das abordagens. Identificou-se também uma relação entre esses usos e uma ampliação das discussões acerca da informação na sociedade contemporânea, além de evidenciar a compreensão da informação sob o viés do paradigma social.

2 OS ESTUDOS DE INFORMAÇÃO, DOCUMENTO E REGIME DE INFORMAÇÃO EM FROHMANN

Os aspectos atribuídos à informação por Bernd Frohmann dizem respeito à sua materialidade, à institucionalidade, à ideia de agência autônoma dos documentos e à sua historicidade. Quando discorre sobre a materialidade da informação, o referido autor volta sua atenção aos documentos, pois é por meio deles que a informação materializa-se, tornando-se pública e social (FROHMANN, 2006FROHMAN, Bernd. O caráter social, material e público da informação. In: FUJITA, Mariângela Spotti; MARTELETO, Regina Maria; LARA, Marilda Lopes Ginez de. (org.). A dimensão epistemológica da informação e suas interfaces técnicas, políticas e institucionais nos processos de produção, acesso e disseminação da informação. 2006. Disponível em: https://urless.in/FuoA1. Acesso em: 23 abr. 2020.
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). Retomando a premissa do aspecto relevante dos contextos de produção dos documentos em detrimento do significado, Frohmann (2009) propõe discutir o caráter público, material e social da informação, buscando demonstrar de que maneira ela está relacionada aos seus contextos, o que evidencia práticas sociais, políticas e culturais. Assim, concilia o conceito de informação a essas práticas (nelas e por elas envolvidas), que se estabelecem por meio da materialização da informação nos documentos, informação essa que configura a vida social e se materializa em um objeto o qual é, por si, social e culturalmente, o próprio documento (FROHMANN, 2009).

A materialidade, nesse sentido, “torna mais significativa a compreensão do caráter público e social da informação [...]” (FROHMANN, 2006FROHMAN, Bernd. O caráter social, material e público da informação. In: FUJITA, Mariângela Spotti; MARTELETO, Regina Maria; LARA, Marilda Lopes Ginez de. (org.). A dimensão epistemológica da informação e suas interfaces técnicas, políticas e institucionais nos processos de produção, acesso e disseminação da informação. 2006. Disponível em: https://urless.in/FuoA1. Acesso em: 23 abr. 2020.
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). Dessa maneira, argumenta que o estudo da informação no sentido imaterial e abstrato do conceito, aspecto determinado no paradigma mentalista da informação, é limitado.

O ponto de vista cognitivo relega os processos sociais de produção, distribuição, intercâmbio e consumo de informação a um nível numênico [...]. A construção social dos processos informativos, ou seja, a constituição social das ‘necessidades dos usuários’, dos ‘arquivos de conhecimentos’ e dos esquemas de produção, transmissão, distribuição e consumo de imagens, exclui-se, pois da teoria da [...] ciência da informação. (FROHMANN, 1995FROHMANN, Bernd. Taking information policy beyond information science: applying the actos network theory. In: ANNUAL CONFERENCE CANADIAN ASSOCIATION FOR INFORMATION SCIENCE, 23,1995, Edmonton, Alberta. Annals […] Edmonton, 1995. Disponível em: https://urless.in/Vwutc. Acesso em: 6 out. 2020.
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apudCAPURRO, 2003CAPURRO, Rafael. Epistemologia e Ciência da informação. Trad. CABRAL, Ana Maria Rezende et al. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 5., Belo Horizonte, 10 de novembro de 2003. Anais... Belo Horizonte: UFMG, 2003, 18 p. Disponível em: http://www.capurro.de/enancib_p.htm. Acesso em: 9 out. 2020.
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, p. 9).

Dessa forma, por sua inserção no neodocumentalismo, o autor aponta o cerne dos estudos da informação para o documento, tirando o foco que se dispõe a propor uma teoria da informação baseada no caráter mental do ato de informar, sem considerar o que é essencial em suas discussões: a inserção do documento nas práticas sociais.

As proposições de Wittgenstein a respeito da linguagem humana tornam-se um referencial a Frohmann (2012FROHMAN, Bernd. A documentação rediviva: prolegômenos a uma (outra) filosofia da informação. Morpheus - Revista Eletrônica em Ciências Humanas, v. 9, n. 14, 2012. p. 227- 249. Disponível em: http://www.seer.unirio.br/index.php/morpheus/article/view/4828. Acesso em: 23 abr. 2020.
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) para refletir sobre questões que vão além da pergunta “o que é informação?”. Ao propor que a linguagem se efetiva nas ações humanas, muito mais que na consciência dos indivíduos, o referencial wittgensteiniano é usado pelo referido autor na desconstrução cognitivista da informação, deslocando o centro de suas discussões da informação para as práticas documentárias (FERRANDO; FREITAS, 2017FERRANDO, Thays Lacerda; FREITAS, Lídia Silva de. Documento e dispositivo: entre Bernd Frohmann e Michel Foucault. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (ENANCIB), 18., 2017, Marília. Anais [...] Marília: Unesp, 2017. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/105326. Acesso em: 23 abr. 2020.
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).

Apropriando-se da metáfora de Wittgenstein do vendedor de cinco maçãs vermelhas, que opera seu entendimento dos signos impressos no papel por meio da ação de escolher as “cinco maçãs vermelhas”, Frohmann (2012FROHMAN, Bernd. A documentação rediviva: prolegômenos a uma (outra) filosofia da informação. Morpheus - Revista Eletrônica em Ciências Humanas, v. 9, n. 14, 2012. p. 227- 249. Disponível em: http://www.seer.unirio.br/index.php/morpheus/article/view/4828. Acesso em: 23 abr. 2020.
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), entende que a informatividade da frase nada deve à sua significação ou a qualquer processo mental: “[...] uma vez que a ideia filosófica de significado como espécie teórica é excluída do modo pelo qual o vendedor opera com as palavras, o mesmo acontece com a correspondente ideia de informação.” (FROHMANN, 2012FROHMAN, Bernd. A documentação rediviva: prolegômenos a uma (outra) filosofia da informação. Morpheus - Revista Eletrônica em Ciências Humanas, v. 9, n. 14, 2012. p. 227- 249. Disponível em: http://www.seer.unirio.br/index.php/morpheus/article/view/4828. Acesso em: 23 abr. 2020.
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, p. 236). O autor explana que, do mesmo modo que não há algo específico que responda pela palavra “significado”, algo semelhante ocorre com a palavra “informação”. Dessa maneira, continua ele, não há respostas para ambas as perguntas: “O que é significado?” e “O que é informação?” (FROHMANN, 2012).

O autor utiliza o referencial wittgensteiniano para aludir à relevância de se estudar as práticas documentárias em detrimento das teorias filosóficas a respeito da natureza da informação. De acordo com essa abordagem, os estudos envolvendo as práticas com documentos, inscrições, variedade de enunciados e registros que circulam seriam muito mais úteis aos fundamentos da Documentação (e, por que não?, da Arquivologia) e da Ciência da Informação do que a própria informação.

[...] a informatividade dos documentos, quando reconhecida como algo dependente de práticas, é também dependente do que lhes dá forma e que os configuram. Este artigo sugere que as direções promissoras a seguir, para se buscar os fatores de configuração são a materialidade dos documentos estudados, suas histórias, as instituições nas quais eles estão inseridos e a disciplina social que dá forma às práticas com os mesmos. (FROHMANN, 2012FROHMAN, Bernd. A documentação rediviva: prolegômenos a uma (outra) filosofia da informação. Morpheus - Revista Eletrônica em Ciências Humanas, v. 9, n. 14, 2012. p. 227- 249. Disponível em: http://www.seer.unirio.br/index.php/morpheus/article/view/4828. Acesso em: 23 abr. 2020.
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, p. 246).

A respeito do próprio documento, Frohmann (2006FROHMAN, Bernd. O caráter social, material e público da informação. In: FUJITA, Mariângela Spotti; MARTELETO, Regina Maria; LARA, Marilda Lopes Ginez de. (org.). A dimensão epistemológica da informação e suas interfaces técnicas, políticas e institucionais nos processos de produção, acesso e disseminação da informação. 2006. Disponível em: https://urless.in/FuoA1. Acesso em: 23 abr. 2020.
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) destaca sua importância para os estudos da informação, uma vez que a torna material, palpável, tangível e reconhecível dentro de um processo que envolve escolhas e relações de poder e que, por isso, é social. Para Frohmann (2006, p. 22), “[...] estudar a documentação é estudar as consequências e os efeitos da materialidade da informação.” Em contraste com informações, textos e conceitos da semiótica, como o de sinais e de significantes, os documentos são materiais e sua materialidade tem efeitos específicos (FROHMANN, 2007FROHMAN, Bernd. Multiplicity, materiality, and autonomous agency of documentation. 2007. Disponível em: https://urless.in/nRbjP. Acesso em: 23 abr. 2020.
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).

Os documentos em Frohmann (2007FROHMAN, Bernd. Multiplicity, materiality, and autonomous agency of documentation. 2007. Disponível em: https://urless.in/nRbjP. Acesso em: 23 abr. 2020.
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) assumem muitas formas, não apenas na variedade de suas propriedades físicas, mas também nos diferentes tipos de massa ou inércia exercida por eles, que se expressam nos papéis institucionais que desempenham, manifestado, entre outras ações, por recursos e resistências. A documentação, desse modo, viria para contrariar a imaterialidade das informações com a variedade de materialidades dos documentos e seus efeitos.

Com a abordagem do documento em sua materialidade, consideram-se pertinentes as colocações de Saldanha (2012SALDANHA, Gustavo Silva. O “fabuloso” antílope de Suzanne Briet: a análise e a crítica da análise neodocumentalista. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (ENANCIB) 13., 2012, Rio de Janeiro. Anais [...] Rio de Janeiro: Fiocruz, 2012. Disponível em: https://urless.in/5tYxk. Acesso em: 23 abr. 2020.
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) ao afirmar que documento é passível de assim ser considerado, pois é simbolizado pela linguagem: “O uso não apenas cria o documento por usá-lo, mas, antes de “pegá-lo”, já o elabora, silenciosamente, na conexão com as semelhanças de outros documentos prováveis.” (SALDANHA, 2012SALDANHA, Gustavo Silva. O “fabuloso” antílope de Suzanne Briet: a análise e a crítica da análise neodocumentalista. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (ENANCIB) 13., 2012, Rio de Janeiro. Anais [...] Rio de Janeiro: Fiocruz, 2012. Disponível em: https://urless.in/5tYxk. Acesso em: 23 abr. 2020.
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, p. 8). O autor fala da operação simbólica com os documentos, argumentando que é aí que reside a ideia de materialidade, posição defendida por Frohmann. Não o registro físico em si, mas o que se extrai dele. Assim, argumenta, o documento é documento pelas seguintes razões: a) porque ele foi documentado (perspectiva baseada nos estudos desenvolvidos pelos precursores dos estudos com os documentos, como Paul Otlet e Suzanne Briet); b) porque ele foi consultado e/ou apropriado por um sujeito; c) porque foi considerado, simbolizado, a partir da linguagem (SALDANHA, 2012).

Os diferentes efeitos exercidos pelos documentos (entendidos como aqueles simbolizados pela linguagem) partem das práticas documentárias que, por sua vez, estão sob o jugo das instituições. As formas de criação, os suportes informacionais e todas as regras envolvendo o trabalho com os documentos dentro das instituições evidenciam mais um aspecto da informação em Frohmann: sua institucionalidade. Vinculados às instituições, os documentos expressam seu poder e autoridade, conferindo competências performativas a eles (FROHMANN, 2007FROHMAN, Bernd. Multiplicity, materiality, and autonomous agency of documentation. 2007. Disponível em: https://urless.in/nRbjP. Acesso em: 23 abr. 2020.
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). As instituições seriam, então, o elo entre a informação e sua materialidade ao imprimir no documento alguma disciplina social, o que gera, dessa maneira, determinados efeitos de informação que são, em sua essência, variáveis.

Para discutir a institucionalidade, o autor recorre, dessa vez, à Michel Foucault (2005), estabelecendo relações com a teoria dos enunciados proposta pelo filósofo. Na obra Arqueologia do saber (2005), Foucault discute o poder e a força da materialidade dos enunciados quando inscritos e manipulados pelas instituições, argumentando que a condição de materialidade a que estão submetidos é muito menos da ordem de sua localização no tempo e espaço do que da ordem da instituição (FROHMANN, 2006FROHMAN, Bernd. O caráter social, material e público da informação. In: FUJITA, Mariângela Spotti; MARTELETO, Regina Maria; LARA, Marilda Lopes Ginez de. (org.). A dimensão epistemológica da informação e suas interfaces técnicas, políticas e institucionais nos processos de produção, acesso e disseminação da informação. 2006. Disponível em: https://urless.in/FuoA1. Acesso em: 23 abr. 2020.
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). As instituições, nesse contexto, estabeleceriam práticas documentárias que materializariam a informação, fornecendo-lhe peso, massa e inércia, e estabelecendo raízes profundas com a vida social.

Se nós concebermos os documentos como enunciados, ou como conjuntos de enunciados então quando usarmos o conceito de materialidade dos enunciados de Foucault - isto é, a materialidade da ordem das instituições - vemos que os documentos que circulam através e entre as instituições têm uma materialidade pronunciada. Requer muito esforço produzi-los, instituir práticas com eles, substituí- los por diferentes documentos, e instalar documentos manufaturados e disponibilizados por uma instituição em outra. (FROHMANN, 2006FROHMAN, Bernd. O caráter social, material e público da informação. In: FUJITA, Mariângela Spotti; MARTELETO, Regina Maria; LARA, Marilda Lopes Ginez de. (org.). A dimensão epistemológica da informação e suas interfaces técnicas, políticas e institucionais nos processos de produção, acesso e disseminação da informação. 2006. Disponível em: https://urless.in/FuoA1. Acesso em: 23 abr. 2020.
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, p. 23-24).

A materialidade (pronunciada) dos documentos pode ser revelada pelas instituições, de acordo com Frohmann (2006FROHMAN, Bernd. O caráter social, material e público da informação. In: FUJITA, Mariângela Spotti; MARTELETO, Regina Maria; LARA, Marilda Lopes Ginez de. (org.). A dimensão epistemológica da informação e suas interfaces técnicas, políticas e institucionais nos processos de produção, acesso e disseminação da informação. 2006. Disponível em: https://urless.in/FuoA1. Acesso em: 23 abr. 2020.
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), quando tecemos um rastreio da vida institucional desses objetos. Nesse sentido, a autoridade dos processos informativos dos documentos depende dos locais institucionais de sua produção (FROHMANN, 2012FROHMAN, Bernd. A documentação rediviva: prolegômenos a uma (outra) filosofia da informação. Morpheus - Revista Eletrônica em Ciências Humanas, v. 9, n. 14, 2012. p. 227- 249. Disponível em: http://www.seer.unirio.br/index.php/morpheus/article/view/4828. Acesso em: 23 abr. 2020.
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).

Ainda sobre a institucionalidade da informação, Frohmann (2006FROHMAN, Bernd. O caráter social, material e público da informação. In: FUJITA, Mariângela Spotti; MARTELETO, Regina Maria; LARA, Marilda Lopes Ginez de. (org.). A dimensão epistemológica da informação e suas interfaces técnicas, políticas e institucionais nos processos de produção, acesso e disseminação da informação. 2006. Disponível em: https://urless.in/FuoA1. Acesso em: 23 abr. 2020.
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) recorre também aos registros decorrentes da ciência, argumentando que esses registros materializam os estudos por meio da documentação de suas observações e experimentos. Para exemplificar, cita os estudos realizados por Ludwik Fleck (1935) relacionando a sífilis a uma propriedade do sangue, que só se tornaram de fato aceitos porque institucionalizados por meio do registro material na documentação. Nesse caso, o registro da ciência e, por extensão, dos documentos institucionalizados, colaboram com a estabilização da informação científica (FROHMANN, 2006FROHMAN, Bernd. O caráter social, material e público da informação. In: FUJITA, Mariângela Spotti; MARTELETO, Regina Maria; LARA, Marilda Lopes Ginez de. (org.). A dimensão epistemológica da informação e suas interfaces técnicas, políticas e institucionais nos processos de produção, acesso e disseminação da informação. 2006. Disponível em: https://urless.in/FuoA1. Acesso em: 23 abr. 2020.
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).

As assertivas acima expostas evidenciam o peso do documento como objeto central nos estudos do autor, pois, muito além de discutir o que é o documento, se dispõe ao debate sobre seus efeitos na sociedade, tanto em escala individual (no momento da apropriação do documento e posterior operação simbólica com ele) quanto nas práticas institucionais que o envolvem. Discussões como essa - mais voltada a saber como opera o documento e não o que ele é - remete-nos a mais um aspecto da informação em Frohmann: a questão da agência autônoma dos ocumentos.

Ao discorrer sobre a agência documentária, Frohmann (2007FROHMAN, Bernd. Multiplicity, materiality, and autonomous agency of documentation. 2007. Disponível em: https://urless.in/nRbjP. Acesso em: 23 abr. 2020.
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) reitera os conceitos de multiplicidade e de materialidade dos documentos, que se contrapõem aos conceitos de uniformidade e de imaterialidade do modelo informacional. A agência autônoma dos documentos, nesse caso, opera no sentido de torná-los independentes, posto que se refere ao poder que os documentos possuem de afetar as práticas sociais por meio de seus efeitos de informação (FERRANDO; FREITAS, 2017FERRANDO, Thays Lacerda; FREITAS, Lídia Silva de. Documento e dispositivo: entre Bernd Frohmann e Michel Foucault. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (ENANCIB), 18., 2017, Marília. Anais [...] Marília: Unesp, 2017. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/105326. Acesso em: 23 abr. 2020.
http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapc...
).

Frohmann (2007FROHMAN, Bernd. Multiplicity, materiality, and autonomous agency of documentation. 2007. Disponível em: https://urless.in/nRbjP. Acesso em: 23 abr. 2020.
https://urless.in/nRbjP...
) ainda pontua, que a característica da agência autônoma dos documentos é motivada por três tipos de fontes. A primeira delas são os diversos tipos de documentos existentes, entre eles, obras de arte, filmes, música, livros, que, a depender de seu conteúdo, tendem a sensibilizar e motivar - ou não - nossas emoções. Como exemplo, cita o caso de um famoso assassinato em série ocorrido no Canadá, cujas fitas de exibição foram extintas a fim de poupar os familiares das vítimas de reviverem a dor do ocorrido. A segunda fonte mencionada diz respeito às ações exercidas por determinados instrumentos de ordem legal, como documentos de adoção, os que atestam cidadania, os relativos à casamento e também ao divórcio, ou seja, documentos que, por sua essência, fornecem existência legal aos indivíduos, atuando como agência autônoma. Por fim, o referido autor argumenta sobre o desafio pós- estruturalista de atribuir o caráter de agência a não humanos, ou seja, aos documentos. A fim de ilustrar esse aspecto, cita o trabalho realizado por Bruno Latour2 2 François Dosse, na obra O império do sentido: a humanização das Ciências Humanas (2018), discute a introdução dos objetos no cerne das pesquisas em Ciências Humanas, que até então eram ciências praticamente sem objetos. No contexto estruturalista, os objetos estavam ali, mas atuavam como “simples suportes de signos.” (DOSSE, 2018, p. 155). Nesse sentido, os estudos de Bruno Latour e a introdução dos não humanos nas pesquisas científicas da área são também apresentados por Dosse para fundamentar seus argumentos a respeito das transformações nos paradigmas nas pesquisas em Ciências Humanas. Nesse contexto em transformação, Latour propôs, inclusive, uma hibridização entre os polos humanos e não humanos, uma vez que, para o autor, “a atribuição do estatuto de humanidade é negociado, discutido, controverso, questionado.” (DOSSE, 2018, p. 156). (1992), que atribuiu a diversos atores não humanos a categoria de agência, inclusive “mecanismos automáticos de abertura de portas”. (FROHMANN, 2007FROHMAN, Bernd. Multiplicity, materiality, and autonomous agency of documentation. 2007. Disponível em: https://urless.in/nRbjP. Acesso em: 23 abr. 2020.
https://urless.in/nRbjP...
, p. 6).

Como uma área de investigação dos neodocumentalistas, a questão da agência documentária eleva a autonomia dos documentos como um fator de primeira ordem, e ainda que os indivíduos entrem em cena nesse processo, os efeitos sobre ele dependerão, sumariamente, dos documentos:

O conceito de agência autônoma, juntamente com os conceitos de multiplicidade e materialidade, pertence aos recursos teóricos que articulam o que os documentos fazem sem redução ao que os indivíduos fazem com eles. [...], o uso da neodocumentação do conceito de agência autônoma reconhece efeitos documentais significativos que não podem ser rastreados na consciência de seres humanos. (FROHMANN, 2007FROHMAN, Bernd. Multiplicity, materiality, and autonomous agency of documentation. 2007. Disponível em: https://urless.in/nRbjP. Acesso em: 23 abr. 2020.
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, p. 7).

Ou seja, os documentos, em sua categoria de agência autônoma, são independentes da consciência dos sujeitos e da intepretação que cada um dos indivíduos faz deles, sendo deles próprios o poder de afetar, de realocar pensamentos, de potencializar decisões em conformidade com seus contextos de uso e com as práticas sociais neles envolvidas (FERRANDO; FREITAS, 2017FERRANDO, Thays Lacerda; FREITAS, Lídia Silva de. Documento e dispositivo: entre Bernd Frohmann e Michel Foucault. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (ENANCIB), 18., 2017, Marília. Anais [...] Marília: Unesp, 2017. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/105326. Acesso em: 23 abr. 2020.
http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapc...
).

Além dos aspectos materiais, institucionais e a questão da agência autônoma documentária, o documento em Frohmann pode ser entendido também em sua historicidade. A respeito desse aspecto, Frohmann (2012FROHMAN, Bernd. A documentação rediviva: prolegômenos a uma (outra) filosofia da informação. Morpheus - Revista Eletrônica em Ciências Humanas, v. 9, n. 14, 2012. p. 227- 249. Disponível em: http://www.seer.unirio.br/index.php/morpheus/article/view/4828. Acesso em: 23 abr. 2020.
http://www.seer.unirio.br/index.php/morp...
) argumenta que práticas, costumes e regras podem surgir, desparecer e ainda se modificar ao longo do tempo, em um processo que é histórico e, portanto, não estático e não atemporal. O mesmo ocorre quando tratamos dos documentos, sobretudo através de sua materialização e da disciplina social imposta pelas instituições, em determinado tempo. Assim, “[...] as ideias de materialidade, instituições, disciplina social e história fornecem um útil começo para uma filosofia da informação cujo ponto de partida é o conceito de práticas documentárias.” (FROHMANN, 2012FROHMAN, Bernd. A documentação rediviva: prolegômenos a uma (outra) filosofia da informação. Morpheus - Revista Eletrônica em Ciências Humanas, v. 9, n. 14, 2012. p. 227- 249. Disponível em: http://www.seer.unirio.br/index.php/morpheus/article/view/4828. Acesso em: 23 abr. 2020.
http://www.seer.unirio.br/index.php/morp...
, p. 237).

Marcados pela historicidade, os documentos podem ser pensados a partir das relações de poder que os envolvem, capazes de produzir - ou não - efeitos de verdade em sua época. Esses efeitos de verdade são dependentes de contextos políticos, econômicos, sociais e culturais, são dependentes também dos discursos dominantes e das vozes - ainda que abafadas - dos marginalizados, são dependentes, portanto, da sua historicidade:

Frohmann afirma que para entendermos a historicidade das práticas documentárias temos de considerar que a relação entre as práticas sociais e os documentos está marcada pelo tempo e pelo espaço, podendo ser analisada pelas permanências e rupturas históricas, assim como pelos dispositivos de poder e saber que envolvem questões políticas e culturais e que estão presentes nestas práticas. (FERRANDO; FREITAS, 2017FERRANDO, Thays Lacerda; FREITAS, Lídia Silva de. Documento e dispositivo: entre Bernd Frohmann e Michel Foucault. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (ENANCIB), 18., 2017, Marília. Anais [...] Marília: Unesp, 2017. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/105326. Acesso em: 23 abr. 2020.
http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapc...
. p. 11).

A fim de elucidar o aspecto da historicidade envolvido nas práticas documentárias, Frohmann (2012FROHMAN, Bernd. A documentação rediviva: prolegômenos a uma (outra) filosofia da informação. Morpheus - Revista Eletrônica em Ciências Humanas, v. 9, n. 14, 2012. p. 227- 249. Disponível em: http://www.seer.unirio.br/index.php/morpheus/article/view/4828. Acesso em: 23 abr. 2020.
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) aborda a questão das pesquisas científicas realizadas no século XVII. Em um contexto ainda impregnado dos conhecimentos filosóficos de base aristotélica, na qual valia a experiência universal como prova, só foi possível tornar válido e reconhecível os estudos feitos naquele momento por meio dos registros dos eruditos, compondo, assim, a literatura científica registrada. A documentação das observações da natureza, feitas pelos cientistas da época (Frohmann cita Galileu e seus experimentos usando o telescópio), validaria as teses desses estudiosos.

Empregando mais uma vez a linguagem anacrônica da informação, pode-se dizer que a informação a respeito da natureza emerge como um efeito dessas práticas documentárias institucionalizadas. Longe de transmitir informação da natureza - a nobre substância apresentada pela natureza, primeiro, às mentes recém ressintonizadas dos filósofos naturalistas, que então a comunicavam aos outros por meio da escrita -, as práticas documentárias do período a constituíam. (FROHMANN, 2012FROHMAN, Bernd. A documentação rediviva: prolegômenos a uma (outra) filosofia da informação. Morpheus - Revista Eletrônica em Ciências Humanas, v. 9, n. 14, 2012. p. 227- 249. Disponível em: http://www.seer.unirio.br/index.php/morpheus/article/view/4828. Acesso em: 23 abr. 2020.
http://www.seer.unirio.br/index.php/morp...
).

Os conhecimentos colocados como válidos por meio da experiência universal, da vivência dos seres, da observação dos fenômenos e legitimada através da fala de eruditos reconhecidos, cujos discursos possuíam poder, exerciam lugar de prova e de verdades inquestionáveis, perpassam a herança aristotélica. Em um processo de ruptura com essa concepção, estudiosos passaram a lançar mão do registro de suas observações, e, de certa maneira, as tornaram públicas com essas práticas documentárias. Naquele contexto histórico, esses documentos passam a exercer credibilidade diante da comunidade científica, o que evidencia, então, a historicidade das práticas documentárias. Nesse aspecto, é possível retomar, inclusive, a questão da institucionalidade (já abordada anteriormente) da informação em Frohmann, pois, uma vez registrado, o discurso científico responde às demandas institucionais específicas, se configurando, então, como socialmente aceito.

Quanto à discussão relacionada aos regimes de informação, Frohmann (1995FROHMANN, Bernd. Taking information policy beyond information science: applying the actos network theory. In: ANNUAL CONFERENCE CANADIAN ASSOCIATION FOR INFORMATION SCIENCE, 23,1995, Edmonton, Alberta. Annals […] Edmonton, 1995. Disponível em: https://urless.in/Vwutc. Acesso em: 6 out. 2020.
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) inaugura estudos a respeito do conceito na Ciência da Informação, influenciando diversos autores que se dedicam a estudá-lo em nosso campo de pesquisa. De acordo com o autor: “[...] descrever um regime de informação significa mapear os processos agonísticos que resultam em estabilizações provisórias e incômodas de conflitos entre grupos sociais, interesses, discursos e até mesmo artefatos científicos e tecnológicos.” (FROHMANN, 1995FROHMANN, Bernd. Taking information policy beyond information science: applying the actos network theory. In: ANNUAL CONFERENCE CANADIAN ASSOCIATION FOR INFORMATION SCIENCE, 23,1995, Edmonton, Alberta. Annals […] Edmonton, 1995. Disponível em: https://urless.in/Vwutc. Acesso em: 6 out. 2020.
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, p.5, tradução nossa). Com seus estudos a respeito do conceito, Frohmann (1995) amplia o espectro das noções sobre políticas de informação, muito voltadas às questões do estado e pouco considerando a atuação dos sujeitos e das tecnologias envoltas nesse processo (BEZERRA et al., 2016BEZERRA, Emy Pôrto et al. Regime de informação: abordagens conceituais e aplicações práticas. Em Questão, Porto Alegre, v. 22, n. 2, p. 60-86, maio/ago. 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.19132/1808-5245222.60-86. Acesso em: 23 abr. 2020.
http://dx.doi.org/10.19132/1808-5245222....
).

As discussões envolvendo as noções de documento e informação em Bernd Frohmann serão agora analisadas e categorizadas em artigos de periódicos científicos brasileiros, procurando perceber de que maneira os autores da Ciência da Informação desenvolvem as perspectivas frohmannianas em seus estudos.

3 AS ABORDAGENS FROHMNIANAS NO CONTEXTO DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO: REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA EM PERIÓDICOS BRASILEIROS

A presente pesquisa se caracterizou como exploratória e bibliográfica, tipologia sistemática com abordagem qualitativa. Buscou-se identificar e discutir especificamente os conceitos de informação, documento e regime de informação na perspectiva de estudos de Bernd Frohmann, tendo como base a literatura publicada.

A metodologia utilizada foi a Revisão Sistemática de Literatura, que, de acordo com De-La-Torre-Ugarte-Guanilo et al. (2011), é uma metodologia com rigor científico e métodos explícitos, visando avaliar a qualidade e validade de estudos publicados para, consequentemente, verificar a aplicabilidade destes estudos no contexto onde são desenvolvidas. De acordo com Sampaio e Mancini (2007SAMPAIO, Rosana; MANCINI, Marisa Cotta. Estudos de revisão sistemática: um guia para síntese criteriosa da evidência científica. Rev. bras. Fisioter., São Carlos, v. 11 n. 1, 2007. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-35552007000100013. Acesso em: 1 nov. 2020.
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), a RSL demonstra relevância histórica por apresentar as modificações e desenvolvimentos do campo estudado, o que a torna uma metodologia que contribui com o processo de constituição da ciência e também quanto à atualização, pois os estudos versam sobre um período determinado que agrega as pesquisas e resultados alcançados, demostrando tendências e aprofundamento em assuntos que já foram estudados e que, de algum modo, continuam perpassando os temas de estudos do campo.

Assim, a RSL segue etapas para que seja realizada, com variações entre sete (COCHRANE, 2008), cinco (DENYER; TRANFIELD, 2009DENYER, David; TRANFIELD, David. Producing a systematic review. In: BUNCHANA, David; BRYMAN, Alan. (eds.). The SAGE handbook of organizational research methods. London: Sage Publications Ltd., 2009, p. 671-689.) ou quatro etapas (BRINER; DENYER, 2012BRINER, Rob; DENYER, David. Systematic review and evidence synthesis as a practice and scholarship tool. Handbook of Evidence-based Management, London: Companies, Classrooms and Research, 2012.). Optou-se por seguir as cinco etapas determinadas por Denyer e Tranfield (2009DENYER, David; TRANFIELD, David. Producing a systematic review. In: BUNCHANA, David; BRYMAN, Alan. (eds.). The SAGE handbook of organizational research methods. London: Sage Publications Ltd., 2009, p. 671-689.), que se desdobram em: 1) formulação da questão; 2) localização dos estudos; 3) avaliação e seleção dos estudos; 4) análise e síntese e 5) relatar e usar os resultados.

Na primeira etapa, delimitou-se a questão que norteou todo o estudo, ou seja, como os autores, no contexto da Ciência da Informação, discutem as abordagens baseadas nos estudos de Bernd Frohmann?

A segunda etapa visou localizar os estudos que fariam parte da análise, dessa maneira, foram determinados os periódicos brasileros Qualis A1 e A2, classificação Qualis 2013-2016, em Ciência da Informação. Dos periódicos investigados, foram recuperados artigos nos seguintes: Perspectivas em Ciência da Informação, Encontros Bibli, Informação e Informação, Informação e Sociedade: Estudos e Em Questão. A busca foi realizada nas referências que indicavam o uso de textos de Bernd Frohmann. O período determinado foi de 2009FROHMAN, Bernd. Revisiting “what is document?”. Journal of documentation, v. 65, n. 2, p. 291-303, 2009. Disponível em: www.emeraldinsight.com/0022-0418.htm. Acesso em: 23 abr. 2020.
www.emeraldinsight.com/0022-0418.htm...
a 2019.

A terceira etapa se constituiu na avaliação e seleção dos artigos com a verificação das referências e citações. No total, foram analisados 20 (vinte) artigos listados a seguir:

Quadro 1
Artigos recuperados e analisados

A quarta etapa se deu com a análise e síntese. A leitura completa dos artigos foi realizada buscando identificar o “enfoque”, ou seja, o tema geral de cada trabalho e sua relação com os conceitos de informação, documento e regimes de informação em Bernd Frohmann. Além de observar como as “concepções e características” dos conceitos, que estas pesquisas trazem, são trabalhadas. Nesse sentido, levanta-se a questão de se esses estudos trabalham com o conceito de modo literal e/ou acrescentam ou não suas próprias concepções aos conceitos referenciados. A ordem de análise foi anual crescente. Cabe destacar que todos os artigos encontrados com referências a Bernd Frohmann foram analisados, pois, a partir das perspectivas definidas, o que se procurou foi observar como as discussões em torno dos conceitos estudados pelo referido autor se mostram e se desdobram nos diversos assuntos do campo da Ciência da Informação. A quinta etapa se constituiu da descrição dos resultados feito a partir da análise crítica e discussão sobre os textos selecionados. Desta forma, percebeu-se uma multiplicidade de temas em que os conceitos são utilizados e colaboram de forma ampla em suas abordagens, assim como temas comuns discutidos pelos autores, conforme demonstrado no Quadro 2.

Quadro 2
Temáticas com aspectos conceituais convergentes entre os autores analisados

Em Marcondes (2010MARCONDES, Carlos. Henrique. Linguagem e documento: fundamentos evolutivos e culturais da Ciência da Informação. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 15, n. 2, 2010. Disponível em: http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/view/1019. Acesso em: 9 out. 2020.
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), o enfoque se dá nas concepções conceituais que fazem parte das bases da Ciência da Informação, como informação e documento, utilizando os estudos de Frohmann (1995FROHMANN, Bernd. Taking information policy beyond information science: applying the actos network theory. In: ANNUAL CONFERENCE CANADIAN ASSOCIATION FOR INFORMATION SCIENCE, 23,1995, Edmonton, Alberta. Annals […] Edmonton, 1995. Disponível em: https://urless.in/Vwutc. Acesso em: 6 out. 2020.
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; 2006) para embasar a discussão, sobretudo a ideia de desconstruir o imaginário da reificação da informação enquanto essência autônoma, em detrimento da noção de documento. Quanto às concepções conceituais e características, percebe-se que críticas de Frohmann à ideia de autonomia da informação são citadas e a elas são acrescentados os entendimentos do autor para assegurar a importância de se dar ênfase também ao documento como artefato sócio-técnico em “sua autonomia, externalização e registro”. (MARCONDES, 2010MARCONDES, Carlos. Henrique. Linguagem e documento: fundamentos evolutivos e culturais da Ciência da Informação. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 15, n. 2, 2010. Disponível em: http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/view/1019. Acesso em: 9 out. 2020.
http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/in...
, p. 10.). Além disso, Marcondes (2010) propõe uma análise ontológica do documento, com base nas seguintes perspectivas: evolutiva; objeto sócio-técnico-cultural; objeto em si, partindo da premissa de que “documentos só podem ser vistos em si com extremo cuidado, enquanto objetos de análise.” (MARCONDES, 2010, p. 14).

Na defesa da característica iminentemente interdisciplinar da Ciência da Informação, sobretudo com as Ciências Sociais, Araújo (2010ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. Ciência da Informação como campo integrador para as áreas de Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia. Informação & Informação, Londrina, v. 15, n. 1, 2010. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/4744. Acesso em: 9 out. 2020.
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php...
) lança mão dos estudos de Frohmann (2008FROHMANN, Bernd. The Role of Facts in Paul Otlet’s Modernist Project of Documentation. In: RAYWARD, W. B. (ed.). European modernism and the information society: informing the present, understanding the past. Aldershot, UK: Ashgate, 2008. p. 75-88.) e sua perspectiva crítica e cultural da informação para fundamentar essa defesa. Com base nisso, busca demonstrar de que maneira os campos da Biblioteconomia, da Arquivologia e da Museologia estão integrados. Em relação às concepções e características, Frohmann (2008) é mencionado literalmente para embasar a defesa da natureza interdisciplinar da Ciência da Informação e sua intrínseca relação com as Ciências Sociais, evidenciando sua perspectiva social e a integração da Biblioteconomia, da Arquivologia e da Museologia.

No artigo de Arboit et al., (2010ARBOIT, Aline Elis; BUFREM, Leilah Santiago; FRETIAS, Juliana Lazzaroto. Configuração epistemológica da Ciência da Informação na literatura periódica brasileira por meio de análise de citações (1972-2008). Perspect. Ciênc. Inf., Belo Horizonte, v. 15, n. 1, abr. 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 99362010000100003. Acesso em: 9 out. 2020.
https://www.scielo.br/scielo.php?script=...
), o enfoque é dado na análise de trabalhos que abordam questões epistemológicas na Ciência da Informação. No tocante às concepções e características, os autores identificam o uso de Frohmann (2008FROHMANN, Bernd. The Role of Facts in Paul Otlet’s Modernist Project of Documentation. In: RAYWARD, W. B. (ed.). European modernism and the information society: informing the present, understanding the past. Aldershot, UK: Ashgate, 2008. p. 75-88.) nos trabalhos de cunho epistemológico no campo da Ciência da Informação com base no aspecto social de suas abordagens. De acordo com os autores: “Há que se considerar as concepções de autores como [...] Frohmann [...] decorrentes de vertentes que privilegiam os aspectos social, histórico e político da CI.” (ARBOIT et al., 2010ARBOIT, Aline Elis; BUFREM, Leilah Santiago; FRETIAS, Juliana Lazzaroto. Configuração epistemológica da Ciência da Informação na literatura periódica brasileira por meio de análise de citações (1972-2008). Perspect. Ciênc. Inf., Belo Horizonte, v. 15, n. 1, abr. 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 99362010000100003. Acesso em: 9 out. 2020.
https://www.scielo.br/scielo.php?script=...
, p. 33). Os autores entendem as contribuições de Frohmann a esses trabalhos em razão de suas abordagens serem mais de cunho social, inclusive tratando a Ciência da Informação como uma Ciência Social, contribuindo com reflexões a respeito do aporte teórico do autor para a construção das bases dos artigos analisados.

No estudo de Delaia e Freire (2010DELAIA, Claudia Regina; FREIRE, Isa Maria. Subsídios para uma política de gestão da informação da Embrapa Solos: à luz do regime de informação. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 15, n. 3, p. 107-130, set./dez. 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/pci/v15n3/07.pdf. Acesso em: 9 out. 2020.
https://www.scielo.br/pdf/pci/v15n3/07.p...
), tem-se a fundamentação no conceito de regime de informação por Frohmann (1995FROHMANN, Bernd. Taking information policy beyond information science: applying the actos network theory. In: ANNUAL CONFERENCE CANADIAN ASSOCIATION FOR INFORMATION SCIENCE, 23,1995, Edmonton, Alberta. Annals […] Edmonton, 1995. Disponível em: https://urless.in/Vwutc. Acesso em: 6 out. 2020.
https://urless.in/Vwutc...
) como forma de subsidiar a implantação de políticas de gestão de informação em uma instituição de pesquisa. As concepções conceituais e características evidenciam o conceito de regime de informação frohmanniano apresentado de maneira literal que se caracteriza em “[...] um conjunto de redes onde as informações são transferidas de seus produtores, por canais determinados, com a mediação de estruturas organizacionais às comunidades específicas ou aos consumidores.” (DELAIA; FREIRE, 2020, p. 109), consistindo apenas para fundamentar a construção da referida política de gestão de informação na instituição estudada.

Objetivando constituir bases para a construção de uma ciência do documento, Moura e Lara (2012LARA, Marilda Lopes Ginez de; MOURA, Amanda Pacini de. Construir o edifício documentário: concepções de Paul Otlet para uma ciência e uma técnica dos documentos. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 17, n. 4, p. 2-17, out./dez. 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/pci/v17n4/02.pdf. Acesso em: 9 out. 2020.
https://www.scielo.br/pdf/pci/v17n4/02.p...
) recorrem a estudos precursores envolvendo o conceito de documento, passando por estudiosos denominados neodocumentalistas, como Frohmann (2008FROHMANN, Bernd. The Role of Facts in Paul Otlet’s Modernist Project of Documentation. In: RAYWARD, W. B. (ed.). European modernism and the information society: informing the present, understanding the past. Aldershot, UK: Ashgate, 2008. p. 75-88.). O autor é referenciado quanto às concepções e características do conceito de documento visando reforçar a questão da ausência do referencial otletiano nas análises envolvendo o método documentário. Além disso, quanto ao conceito de informação, o autor serve de base para a desconstrução da ideia de uma informação objetiva, posto que sua extração do conteúdo dos documentos não desencadearia a “[...] plena revelação dos fatos”. (FROHMANN, 2008FROHMANN, Bernd. The Role of Facts in Paul Otlet’s Modernist Project of Documentation. In: RAYWARD, W. B. (ed.). European modernism and the information society: informing the present, understanding the past. Aldershot, UK: Ashgate, 2008. p. 75-88., apud MOURA; LARA, 2012LARA, Marilda Lopes Ginez de; MOURA, Amanda Pacini de. Construir o edifício documentário: concepções de Paul Otlet para uma ciência e uma técnica dos documentos. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 17, n. 4, p. 2-17, out./dez. 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/pci/v17n4/02.pdf. Acesso em: 9 out. 2020.
https://www.scielo.br/pdf/pci/v17n4/02.p...
, p. 14). Na concepção frohmanniana, indicada pelas autoras, o caráter do fato estaria sujeito a sua relação com outros fatos, o que indica o erro de isolá-lo do método documentário.

Em Presser e Fukahori (2012FUKAHORI, Mitsuo André Vieira; PRESSER, Nadi Helena. Necessidades de informação: uma análise sociocognitiva na gestão acadêmica no contexto da regulação. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, Florianópolis, v. 17, n. 35, p. 27-46, 2012. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/38672. Acesso em: 9 out. 2020.
https://brapci.inf.br/index.php/res/v/38...
), o enfoque se dá em relação às necessidades de informação decorrentes das tarefas praticadas pelos coordenadores de cursos de pós-graduação a partir da perspectiva sociocognitiva. Nesse contexto, Frohmann (1992FROHMAN, B. The power of images: a discourse analysis of the cognitive viewpoint. Journal of Documentation, v. 48, n. 4, p. 365-386, 1992.) é usado como base crítica aos estudos cognitivos por estes privilegiarem “[...] o usuário individual em detrimento do contexto social mais amplo”. (FUKAHORI; RESSER, 2012FUKAHORI, Mitsuo André Vieira; PRESSER, Nadi Helena. Necessidades de informação: uma análise sociocognitiva na gestão acadêmica no contexto da regulação. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, Florianópolis, v. 17, n. 35, p. 27-46, 2012. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/38672. Acesso em: 9 out. 2020.
https://brapci.inf.br/index.php/res/v/38...
, p. 33). Quanto às concepções conceituais e características, foi identificado que a perspectiva crítica de Frohmann (1992), a respeito do paradigma cognitivo, é mencionada para embasar o estudo que considera não apenas as necessidades mentais dos usuários, mas também suas buscas por informação em decorrência das interações sociais que estabelecem, focando-se, assim, na abordagem sociocognitiva.

No artigo de Pimenta (2012PIMENTA, Shirley Guimarães. Conceitos de informação e texto nas abordagens do ponto de vista cognitivo na Ciência da Informação e do processamento da informação na Psicologia Cognitiva - uma visão interdisciplinar. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, Florianópolis, v. 17, n. esp. 1, 2012. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/1518-2924.2012v17nesp1p40. Acesso em: 9 out. 2020.
https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/...
), o foco são os conceitos de informação do ponto de vista cognitivista na Ciência da Informação. A autora se utiliza das críticas de Frohmann (1992FROHMAN, B. The power of images: a discourse analysis of the cognitive viewpoint. Journal of Documentation, v. 48, n. 4, p. 365-386, 1992.) ao cognitivismo para estabelecer um contraponto a sua abordagem e demonstrar que não se trata de um ponto de vista plenamente acatado no campo para os estudos da informação e do documento. As concepções conceituais e características demonstram que a concepção crítica de Frohmann (1992) ao paradigma cognitivo é utilizada pela autora para ampliar a visão a respeito do processamento da informação nas mentes dos indivíduos. Assim, as premissas do autor são apresentadas de maneira literal, porém, são utilizadas pela autora para esclarecer que o processo de apropriação das informações nas mentes dos indivíduos vai muito mais além: “[...] operando como um efeito de poder por meio de diferentes procedimentos discursivos.” (PIMENTA, 2012PIMENTA, Shirley Guimarães. Conceitos de informação e texto nas abordagens do ponto de vista cognitivo na Ciência da Informação e do processamento da informação na Psicologia Cognitiva - uma visão interdisciplinar. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, Florianópolis, v. 17, n. esp. 1, 2012. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/1518-2924.2012v17nesp1p40. Acesso em: 9 out. 2020.
https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/...
, p. 49). Com esse panorama fornecido pelas críticas de Frohmann (1992), Pimenta (2012) evidencia as diferentes concepções e ideologias que operam na ciência e, mais especificamente, na Ciência da Informação.

Em um estudo interdisciplinar entre a perspectiva cognitiva da Ciência da Informação e a Psicologia Cognitiva para compreender o trabalho do indexador a partir do contexto sociocognitivo, Boccato (2012BOCCATO, Vera Regina Casari. O contexto sociocognitivo do indexador no processo de representação temática da informação. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, Florianópolis, v. 17, n. esp. 1, 2012. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/31670. Acesso em: 9 out. 2020.
https://brapci.inf.br/index.php/res/v/31...
) utiliza as perspectivas de Frohmann (1990FROHMANN, B. Rules of indexing: a critique of mentalism in information retrieval theory. Journal of Documentation, London, 1990, v. 46, n. 2, p. 81-101.) na proposição de uma abordagem que vai além do ponto de vista cognitivo no enfoque de seu estudo. Verifica- se que a referência ao autor se faz mediante a compreensão deste da CI como uma prática social. Em relação às concepções conceituais e características dos conceitos, para fundamentar a crítica ao cognitivismo, a autora recorre aos postulados de Frohmann (1990) a respeito do trabalho de indexação, que, na visão do autor, se dá em dois momentos: no primeiro deles, representa-se implicitamente os documentos por termos de indexação, caracterizado sobremaneira por uma operação mental e, no segundo, ocorre a transição dos termos da indexação para o léxico de um vocabulário controlado. Os estudos de Frohmann (1990), nesse sentido, são apropriados pela autora para fundamentar a defesa de que o trabalho do indexador vai além de modelos cognitivos individualistas, uma vez que “[...] esses processos cognitivos do indivíduo estão associados aos contextos sociais, culturais e históricos [...]” (BOCATTO, 2012, p. 78).

O enfoque dado por Dal’Evedove e Fujita (2013) passa pelos estudos da cognição humana na Ciência da Informação para abordar as ações dos profissionais da informação em uma perspectiva subjetiva. Nesse sentido, Frohmann (1992FROHMAN, B. The power of images: a discourse analysis of the cognitive viewpoint. Journal of Documentation, v. 48, n. 4, p. 365-386, 1992.) é usado como um contraponto aos estudos cognitivistas no campo por tecer uma crítica à perspectiva associal e idealista representada pelo paradigma cognitivo. As concepções conceituais e características demonstram que os estudos de Frohmann (1992) a respeito das críticas ao paradigma cognitivo são usados pelas autoras para fundamentar a perspectiva sociocognitiva que deve embasar as práticas dos profissionais da informação, mas sem acrescentarem demais colocações aos argumentos do referido autor.

Freire e Serafim (2013), quanto ao enfoque, objetivaram realizar um mapeamento das competências em informação na educação superior brasileira utilizando-se das perspectivas do conceito de regime de informação de Frohmann (1995FROHMANN, Bernd. Taking information policy beyond information science: applying the actos network theory. In: ANNUAL CONFERENCE CANADIAN ASSOCIATION FOR INFORMATION SCIENCE, 23,1995, Edmonton, Alberta. Annals […] Edmonton, 1995. Disponível em: https://urless.in/Vwutc. Acesso em: 6 out. 2020.
https://urless.in/Vwutc...
). Quanto às concepções conceituais e características, os estudos sobre o conceito de regime de informação são apenas mencionados pelos autores, não sendo desenvolvidos de maneira mais aprofundada no trabalho.

Em relação ao enfoque, Gomes e Silva (2015GOMES, Henriette Ferreira; SILVA, Jonathas Carvalho. Conceitos de informação na Ciência da Informação: percepções analíticas, proposições e categorizações, Inf. & Soc.:Est, João Pessoa, v. 25, n. 1, p. 145-157, jan./abr. 2015. Disponível em: https://urless.in/mA8Jz. Acesso em: 9 out. 2020.
https://urless.in/mA8Jz...
) analisam os diversos conceitos de informação existentes no campo da Ciência da Informação, utilizando as noções de Frohmann (2008FROHMANN, Bernd. The Role of Facts in Paul Otlet’s Modernist Project of Documentation. In: RAYWARD, W. B. (ed.). European modernism and the information society: informing the present, understanding the past. Aldershot, UK: Ashgate, 2008. p. 75-88.), a respeito do referido conceito. No tocante às concepções conceituais e características, as perspectivas de Frohmann (2008) a respeito do conceito de informação são apresentadas junto a outros autores por meio de uma tabela, tendo-se como objetivo defender que os sujeitos de informação são dotados de um sentido cognitivo e, ao mesmo tempo, se inserem em suas respectivas realidades sociais, possibilitando então entender os reais significados e efeitos da informação. Cita-se de maneira literal a ideia de informação materializada defendida por Frohmann (2008), ao se investigar o papel da documentação, materializando-se por meios institucionais e tecnológicos.

Com enfoque direcionado a estudar a Bibliologia como discurso da organização dos saberes, Saldanha (2015SALDANHA, Gustavo Silva. Sobre a Bibliologia entre Peignot, Otlet e Estivals: vertentes de um longo discurso “metaepistemológico” da organização dos saberes. Informação & Sociedade, João Pessoa, v. 25, n. 2, set./dez. 2015. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/ies/article/view/75. Acesso em: 9 out. 2020.
https://periodicos.ufpb.br/index.php/ies...
) utiliza bases otletianas, peignotianas e estivalsianas. Assim, perspectivas neodocumentalistas são visitadas, como as de Frohmann (2004FROHMANN, Bernd. Documentation redux: prolegomenon to (another) philosophy of information. Library Trends, v. 52, n. 3, p. 387-407, 2004.; 2011), para fundamentar a abordagem. No que se refere às concepções conceituais e características, Frohmann (2004; 2011) é utilizado no trabalho como um autor da concepção neodocumentalista que retoma os estudos sobre o documento no centro das discussões na Ciência da Informação, entendendo a informação em sua perspectiva materializada. Saldanha (2015), no entanto, acrescenta às suas próprias considerações o fato de Frohmann pertencer a um contexto anglófono, que acaba por edificar a expressão “information science”, trazendo os questionamentos e discussões envolvendo o próprio conceito de informação.

Bezerra et al., (2016BEZERRA, Emy Pôrto et al. Regime de informação: abordagens conceituais e aplicações práticas. Em Questão, Porto Alegre, v. 22, n. 2, p. 60-86, maio/ago. 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.19132/1808-5245222.60-86. Acesso em: 23 abr. 2020.
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) discutem os conceitos de regime de informação na perspectiva da CI utilizando os estudos inaugurais de Frohmann (1995FROHMANN, Bernd. Taking information policy beyond information science: applying the actos network theory. In: ANNUAL CONFERENCE CANADIAN ASSOCIATION FOR INFORMATION SCIENCE, 23,1995, Edmonton, Alberta. Annals […] Edmonton, 1995. Disponível em: https://urless.in/Vwutc. Acesso em: 6 out. 2020.
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) para fundamentar a discussão em sua aplicação prática, ao identificar a presença de regimes de informação em três diferentes espaços de informação. As concepções conceituais e característica evidenciam os estudos de Frohmann (1995) a respeito do conceito de regime de informação que é citado de maneira literal, demonstrando que este possibilita ampliar a visão reducionista de políticas de informação focadas apenas em aspectos governamentais. Citam também a apropriação do conceito de dispositivo, proposto por Michel Foucault e trabalhado por Frohmann (1995), para se referirem aos dispositivos de poder edificados para além de questões relativas ao estado, passando também pela formação dos discursos que emergem da materialidade dos sujeitos e documentos. Os autores ainda estabelecem uma comparação entre o conceito de regime de informação desenvolvido por Frohmann (1995) e Braman (2004BRAMAN, S. The emergent global information policy regime. In: BRAMAN, S. (ed.). The emergent global information policy regime. Houndsmills, UK: Palgrave Macmillan, 2004.) identificando aproximações e distinções entre essas relações. Além disso, não deixam de mencionar as influências da Teoria Ator-Rede (TAR), de Bruno Latour, sobre as incursões teóricas de Frohmann a respeito do conceito de regime de informação, posto que considera aspectos humanos e não humanos para estabelecer o conceito, evidenciando sua grande divergência para com outras concepções.

No enfoque do trabalho de Bezerra (2017BEZERRA, Arthur Coelho. Vigilância e cultura algorítmica no novo regime global de mediação da informação. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 22, n. 4, p. 68-81, out./dez. 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1981-5344/2936. Acesso em: 23 abr. 2020.
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), a cultura dos algoritmos no novo regime global de mediação da informação é estudada a partir do conceito de regime de informação desenvolvido por Frohmann (1995FROHMANN, Bernd. Taking information policy beyond information science: applying the actos network theory. In: ANNUAL CONFERENCE CANADIAN ASSOCIATION FOR INFORMATION SCIENCE, 23,1995, Edmonton, Alberta. Annals […] Edmonton, 1995. Disponível em: https://urless.in/Vwutc. Acesso em: 6 out. 2020.
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) para evidenciar os efeitos devastadores desse novo regime sobre a cultura e a privacidade humanas. Quanto às concepções conceituais e características, o conceito de regime de informação de Frohmann (1995) é trabalhado de maneira literal e também sua associação à Teoria Ator-Rede (TAR). Os estudos de Frohmann fundamentam o entendimento de Bezerra (2017) no que diz respeito à constituição das políticas de informação: para entendê-las, é necessário empreender uma análise do conceito de regime de informação e essa análise passa, inevitavelmente, pelo olhar construtivista presente na TAR. Dessa maneira: “As preocupações de Frohmann (1995), portanto, voltam-se para os processos pelos quais os artefatos, as redes e suas relações são construídas no bojo do regime de informação vigente.” (BEZERRA, 2017BEZERRA, Arthur Coelho. Vigilância e cultura algorítmica no novo regime global de mediação da informação. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 22, n. 4, p. 68-81, out./dez. 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1981-5344/2936. Acesso em: 23 abr. 2020.
http://dx.doi.org/10.1590/1981-5344/2936...
, p. 71).

Medeiros (2017MEDEIROS, Jackson da Silva. Compreensões sobre o dispositivo: da informação à via para profanação. Informação & Informação, Londrina, v. 22, n. 3, p. 158 - 177, set./out. 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5433/1981-8920.2017v22n3p158>. Acesso em: 23 abr. 2020.
http://dx.doi.org/10.5433/1981-8920.2017...
) faz uma interpretação do conceito de dispositivo de Michel Foucault, e sua posterior apropriação por autores da CI, para construção do corpo conceitual relacionado à informação e ao documento. Também se refere ao conceito de regime de informação, dentre eles, o desenvolvido por Bernd Frohmann. As concepções conceituais e características versam sobre a concepção de regime de informação frohmanniano, a qual, no ponto de vista de Medeiros (2017), permitiu uma visão para além do conceito de política de informação, que estaria reduzida ao papel do estado. A concepção de documento em Frohmann (2009) também é citada possibilitando a Medeiros (2017) identificar o caráter relacional da ideia de documento e ainda argumentar que o documento “[...] carrega a comunicação da informação” (MEDEIROS, 2017MEDEIROS, Jackson da Silva. Compreensões sobre o dispositivo: da informação à via para profanação. Informação & Informação, Londrina, v. 22, n. 3, p. 158 - 177, set./out. 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5433/1981-8920.2017v22n3p158>. Acesso em: 23 abr. 2020.
http://dx.doi.org/10.5433/1981-8920.2017...
, p. 172).

No artigo de Araújo e Berti (2018ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila; BERTI, Ilemar. Christina Lansoni Wey. Pressupostos da Teoria ator-rede para os estudos das práticas informacionais. Informação & Sociedade, João Pessoa, v. 28, n. 2, p. 285-294, maio/ago. 2018. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/ies/article/view/38024. Acesso em: 23 abr. 2020.
https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php...
), o enfoque é o estudo de usuários em uma perspectiva social da CI e Frohmann (2008FROHMANN, Bernd. The Role of Facts in Paul Otlet’s Modernist Project of Documentation. In: RAYWARD, W. B. (ed.). European modernism and the information society: informing the present, understanding the past. Aldershot, UK: Ashgate, 2008. p. 75-88.) é mencionado como um dos autores que estão ancorados em uma epistemologia social da informação. Quanto às concepções conceituais e características, alguns pressupostos são utilizados para defender a condição social da informação e Frohmann (1995) é citado para fundamentar essa defesa. As ações dos sujeitos informacionais, nesse sentido, atribuem determinadas intencionalidades a essas informações, além de alicerçarem o postulado de que não existe informação ideal, posto que impregnada de pessoalidades e de intencionalidades.

O trabalho de Saldanha (2018SALDANHA, Gustavo Silva. Um método entre a Filosofia da informação e a organização do conhecimento: Wittgenstein, epistemologia histórica e crítica da linguagem. Informação & Sociedade, João Pessoa, v. 28, n. 3, p. 81-94, set./dez. 2018. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/view/38084/21803. Acesso em: 23 abr. 2020.
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) propõe discutir possibilidades de sistematizar um método filosófico, que vai da filosofia da informação à organização do conhecimento. Como um dos autores que se ateve às incursões filosóficas de Wittgenstein para discutir a materialidade da informação, Frohmann (1990FROHMANN, B. Rules of indexing: a critique of mentalism in information retrieval theory. Journal of Documentation, London, 1990, v. 46, n. 2, p. 81-101.; 2009) é citado pelo autor, o que leva às concepções conceituais e características por meio das quais Frohmann (1990; 2009) é referenciado como um dos autores que se aprofunda nos estudos wittgensteinianos. Na perspectiva de Saldanha (2018), porém, esse estudo é realizado de modo inverso: “indo da crítica ao mentalismo da organização do conhecimento à filosofia da informação.” (SALDANHA, 2018SALDANHA, Gustavo Silva. Um método entre a Filosofia da informação e a organização do conhecimento: Wittgenstein, epistemologia histórica e crítica da linguagem. Informação & Sociedade, João Pessoa, v. 28, n. 3, p. 81-94, set./dez. 2018. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/view/38084/21803. Acesso em: 23 abr. 2020.
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, p. 82).

Em Cavalcante et al., (2018CAVALCANTE, Lídia Eugenia et al. Documento e informação audiovisual: bases conceituais numa perspectiva neodocumentalista. Em Questão, Porto Alegre, v. 24, n. 2, p. 235-259, maio/ago. 2018. Disponível em: http://dx.doi.org/10.19132/1808-5245242.235-259. Acesso em: 23 abr. 2020.
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), o enfoque é dado ao documento e à informação audiovisual, envolvendo, sobretudo, a questão da produção desse tipo de documento, uma vez que parte da informação materializada, conforme argumentam. Por discutir questões envolvendo a informação materializada, utilizam bases conceituais neodocumentalistas de fundo frohmnniano (2008). Quanto às concepções conceituais e características, Frohmann (2008FROHMANN, Bernd. The Role of Facts in Paul Otlet’s Modernist Project of Documentation. In: RAYWARD, W. B. (ed.). European modernism and the information society: informing the present, understanding the past. Aldershot, UK: Ashgate, 2008. p. 75-88.) é utilizado pelos autores de maneira literal para construir as bases teóricas neodocumentalistas sobre a documentação audiovisual. Ao versar sobre os documentos digitais, Frohmann (2008) possibilita o embasamento necessário para que os autores estabeleçam seus constructos a respeito da documentação audiovisual, entendida como a materialização da informação que se processa pela dimensão textual da informação audiovisual.

Ortega e Saldanha (2019ORTEGA, Cristina Dotta; SALDANHA, Gustavo Silva. A noção de documento no espaço- tempo da Ciência da Informação: críticas e pragmáticas de um conceito. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 24, n. esp., p. 189-203, jan./mar. 2019. Disponível em: http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/view/3920/2242. Acesso em: 23 abr. 2020.
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) buscam compreender a noção de documento na CI, passando pela abordagem clássica da Documentação e por uma possível perspectiva neodocumentalista. Bernd Frohmann (1990FROHMANN, B. Rules of indexing: a critique of mentalism in information retrieval theory. Journal of Documentation, London, 1990, v. 46, n. 2, p. 81-101.; 2011) é estudado nesse trabalho como um representante da corrente anglófona, discutindo o documento em suas aplicações para acesso à informação. As concepções conceituais e características são abordadas pelos autores a partir da perspectiva neodocumentalista do referido autor que é citada e, às suas incursões, é acrescentada a percepção de que Frohmann (1990; 2000; 2006; 2011) retoma a noção clássica de documento, percebendo no contexto otletiano as ferramentas conceituais para discutir a difusão dos documentos em plataformas agora tecnológicas. Além disso, os autores agregam às concepções do referido autor, a respeito de seus estudos sobre a informação, a crítica recorrente a estudiosos que sobrepõem a filosofia da informação à filosofia do documento. Diante disso, o ‘documento’, em uma linha de reflexão ‘neodocumentalista’, de fundo frohmanniano, repercute condicionantes políticas plurais e em luta social constante.” (ORTEGA; SALDANHA, 2019ORTEGA, Cristina Dotta; SALDANHA, Gustavo Silva. A noção de documento no espaço- tempo da Ciência da Informação: críticas e pragmáticas de um conceito. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 24, n. esp., p. 189-203, jan./mar. 2019. Disponível em: http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/view/3920/2242. Acesso em: 23 abr. 2020.
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, p. 203), o que acaba por dificultar a percepção do papel social dos documentos na atualidade.

O enfoque dado por Gonzalez de Gomez (2019) é a conceituação de regime de informação na CI, propondo reflexões a respeito do conceito e utilizando a perspectiva de Frohmann (1995FROHMANN, Bernd. Taking information policy beyond information science: applying the actos network theory. In: ANNUAL CONFERENCE CANADIAN ASSOCIATION FOR INFORMATION SCIENCE, 23,1995, Edmonton, Alberta. Annals […] Edmonton, 1995. Disponível em: https://urless.in/Vwutc. Acesso em: 6 out. 2020.
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) a respeito de suas proposições para o conceito. Quanto às concepções conceituais e características, o conceito de regime de informação de Frohmann (1995) é mencionado pela autora apresentando-se como um dos pilares para que seja debatido ao longo do trabalho.

No decorrer das análises, é possível inferir e perceber questões que perpassam diferentes temáticas no contexto da Ciência da Informação. Essas temáticas mostram aspectos conceituais convergentes abordados pelos autores, explicitados a seguir:

O conceito de informação é caracterizado a partir das incursões de Frohmann, mas também contraposto ao contexto da Ciência da Informação como forma de refletir os diversos fatores de materialidade, institucionalidade e linguagem, abarcando desde abordagens epistemológicas com a discussão do próprio conceito, passando por perspectivas que discutem a natureza da Ciência da Informação assim como seu próprio objeto, considerando a abordagem social deste conceito e, em paralelo, com concepções mentalistas e referentes ao modelo cognitivo, principalmente nas reflexões acerca do profissional da informação e as atividades realizadas no processo de tratamento da informação.

Assim, o conceito de documento é abordado de forma que contempla discussões em torno do suporte e das implicações que este documento vem a ter como elemento material que contém uma informação direcionada e abordada de acordo com o contexto em que foi produzida. Promove também discussões em relação ao objeto da Ciência da Informação e um repensar das práticas informacionais.

Também é possível observar que o conceito de regime de informação é tratado como elemento norteador de discussões epistemológicas e sobre as questões tecnológicas, de poder e de políticas de informação, que circundam as características a partir das quais esta informação será moldada e trabalhada nas diversas esferas institucionais. Transversalmente ao objetivo principal deste estudo, as temáticas abordadas discorrem sobre as questões sociocognitivas de usuários e profissionais da informação, organização da informação e do conhecimento, estudos de usuários, políticas de informação, competência da informação, gestão da informação, mediação da informação.

As abordagens dos estudos de Bernd Frohmann perpassam todas as temáticas e eixos da Ciência da Informação e se mostram como uma perspectiva importante para discutir desde aspectos clássicos da ciência até os assuntos atuais que emergem em torno desses conceitos tão específicos e importantes para a Ciência da Informação.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A percepção sobre a maneira como os autores pesquisados neste trabalho abordou Bernd Frohmann foi fundamental para aprofundar e ampliar a compreensão sobre o neodocumentalismo e sobre a trajetória do citado autor em seus estudos. Como um dos precursores a retomar o documento como objeto de estudo central na Ciência da Informação, Frohmann contribuiu para transformar os paradigmas do campo, os quais, na década de 1980, estavam debruçados sobre o conceito de informação sem estabelecer relações com seus contextos, sejam políticos, sociais, históricos (ORTEGA; SALDANHA, 2017ORTEGA, Cristina Dotta; SALDANHA, Gustavo Silva. A noção de documento desde Paul Otlet e as propostas neodocumentalistas. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (ENANCIB), 18., 2017, Marília. Anais [...] Marília: Unesp, 2017. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/104362. Acesso em: 23 abr. 2020.
http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapc...
).

A fim de fundamentar essa contextualização, Frohmann atribuiu diversos aspectos essenciais à informação, que dizem respeito à sua materialidade, possibilitada pelas práticas documentárias; às relações de poder estabelecidas pelos documentos, o que constituiu a sua institucionalidade; à agência autônoma dos documentos, operada pelo poder que esses objetos possuem de afetar as práticas sociais por meio de seus efeitos de informação; além da historicidade, ou seja, os contextos históricos que determinam as práticas documentárias. Dessa maneira, também inaugurou estudos a respeito do conceito de regime de informação, fundamental para discussões envolvendo políticas de informação na CI.

Esses aspectos são explorados nos artigos analisados, possibilitando um embasamento teórico sólido desses textos com a finalidade de atingir seus objetivos. Percebeu-se um largo uso dos conceitos de informação e de documento de Bernd Frohmann e a imediata identificação desse autor ao neodocumentalismo, além de estudos envolvendo o conceito de regime de informação do mesmo autor. Notou-se ainda que os estudos perpassam todas as temáticas e eixos da Ciência da Informação trazendo pesquisas reflexivas sobre o modo com que a informação, o documento e os regimes de informação atuam e interferem teoricamente, epistemologicamente, nas práticas do profissional da informação e em relação aos usuários da informação.

Além do uso literal dos conceitos frohmnnianos, foi possível identificar a presença de concepções dos próprios autores, confrontando-as com as de Frohmann ou mesmo ampliando as abordagens do autor neodocumentalista. Identificou-se também uma relação entre esses usos e uma ampliação das discussões acerca da informação na sociedade contemporânea, o que se evidencia na fala de González de Gómez (2019, p. 156): “Ao dar visibilidade ao cenário histórico que contextualiza esses usos do conceito, surgem traços das potencialidades e fragilidades das concepções das sociedades-redes e ganha atualidade o debate sobre as arquiteturas regulatórias das sociedades contemporâneas.”.

Considera-se que a discussão dos estudos informacionais com base em Frohmann evidencia também a compreensão da informação sob o viés do paradigma social. Ou seja, para Bernd Frohmann e para os autores analisados, a informação é viva, posto que as práticas documentárias são estabelecidas com ela e a partir dela, sendo que, assim, se constituem as relações sociais, relações de poder.

REFERÊNCIAS

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  • 2
    JITA: AB. Information theory and library theory.
  • RECONHECIMENTOS:

    Ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina e ao grupo de Pesquisa Organização e Recuperação da Informação e do Conhecimento de Recursos Imagéticos.
  • FINANCIAMENTO:

    Não é aplicável.
  • APROVAÇÃO ÉTICA:

    Não é aplicável.
  • DISPONIBILIDADE DE DADOS E MATERIAL:

    Não é aplicável.
  • 1
    Alemão, nascido em 1946, Bernd Frohmann é conhecido como um dos precursores do neodocumentalismo, retomando o documento como objeto central dos estudos informacionais com base em autores clássicos, como Paul Otlet. É doutor em Filosofia pela Universidade de Toronto, no Canadá, e, atualmente, atua como professor associado na Faculdade de Informação e Estudos de Mídia da Universidade de Western Ontario, no mesmo país.
  • 2
    François Dosse, na obra O império do sentido: a humanização das Ciências Humanas (2018), discute a introdução dos objetos no cerne das pesquisas em Ciências Humanas, que até então eram ciências praticamente sem objetos. No contexto estruturalista, os objetos estavam ali, mas atuavam como “simples suportes de signos.” (DOSSE, 2018, p. 155). Nesse sentido, os estudos de Bruno Latour e a introdução dos não humanos nas pesquisas científicas da área são também apresentados por Dosse para fundamentar seus argumentos a respeito das transformações nos paradigmas nas pesquisas em Ciências Humanas. Nesse contexto em transformação, Latour propôs, inclusive, uma hibridização entre os polos humanos e não humanos, uma vez que, para o autor, “a atribuição do estatuto de humanidade é negociado, discutido, controverso, questionado.” (DOSSE, 2018, p. 156).

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Não é aplicável.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Jun 2023
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    20 Nov 2020
  • Aceito
    07 Mar 2021
  • Publicado
    06 Abr 2021
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