Necessidades informacionais do estudante internacional na pós-graduação uma revisão de literatura

RESUMO

Introdução:

Este artigo de revisão de literatura tem como problema a escassez de estudos que versam sobre o processo de internacionalização estudantil, cujo argumento principal é o de que a identificação desses estudos facilitará a compreensão do processo pelos interessados. Objetiva analisar estudos sobre as necessidades informacionais do estudante internacional da pós-graduação, sendo a Universidade Federal de Minas Gerais a referência do estudo.

Método:

Por meio de uma metodologia qualitativa de três etapas, o estudo se baseou em três pontos principais: a internacionalização nas universidades e programas de pós-graduação brasileiros, a percepção dos estudantes internacionais sobre instituições brasileiras de Ensino Superior e as necessidades informacionais do estudante internacional.

Resultados/Conclusão:

A partir desse mapeamento, notou-se que há escassez de publicações voltadas às necessidades de informação dos estudantes internacionais, sobretudo dos pós-graduandos, considerando o panorama das universidades brasileiras.

PALAVRAS-CHAVE:
Necessidades de informação; Educação; Estudantes; Cursos de pós-graduação

ABSTRACT

Introduction:

This literature review article has a lack of studies that deal with the student internationalization process. The main argument is that the identification of these studies will facilitate the comprehension of the process by the interested parties. Furthermore, it aims to analyze studies on the international graduate student’s information needs. In addition to it, the Federal University of Minas Gerais is the study reference.

Method:

The study used a three-step qualitative methodology and was based on three main points: internationalization in Brazilian universities and postgraduate programs, the perception of international students about Brazilian higher education institutions, and the international student’s information needs.

Results/Conclusion:

From this mapping, it was noted that there is a scarcity of publications focused on the international students’ information needs, especially postgraduate students, considering the panorama of Brazilian universities.

KEYWORDS:
Information needs; Education; Students; Postgraduate courses

1 INTRODUÇÃO

O número de estudantes internacionais está se expandindo em diversos países. Ao mesmo tempo, é cada vez mais recorrente a necessidade de melhorar a educação, sobretudo no ensino superior, visando a sua qualidade. Estima-se que, em 2025, as economias emergentes terão cerca de 63 milhões de estudantes universitários a mais, se comparadas ao ano de 2015, e o número mundial deve dobrar para 262 milhões nos próximos dez anos. Boa parte desse crescimento ocorrerá em países recém-industrializados, mais da metade concentrado na China e na Índia. A migração de estudantes, a circulação de cérebros e a internacionalização das universidades não foram tão intensas quanto no atual contexto, conforme informações divulgadas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 2015, p. 3).

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) está inserida no cenário educacional mundial, com contribuições importantes. Isso porque, na atualidade, a instituição conta com um total de 48.949 alunos. De acordo com a contagem mais recente, realizada em 2017, do número total de alunos dessa instituição, 1.021 são estudantes internacionais, vinculados aos cursos de Graduação e Pós-Graduação.

Importante mencionar que, de 2014 a 2017, do total de estudantes internacionais, a Pós-Graduação se destacou em todos os anos, conforme dados produzidos pela Diretoria de Registro e Controle Acadêmico (DRCA) e divulgados pela Diretoria de Relações Internacionais (DRI) da UFMG. Segundo a DRI (2019), o número de estudantes internacionais de Graduação e Pós-Graduação foi: 2014 (Graduação: 340 e Pós-Graduação: 1052), 2015 (305 e 1087), 2016 (315 e 664) e 2017 (272 e 749).

No caso específico do candidato internacional, o processo para se tornar um estudante de Pós-Graduação na UFMG passa por três etapas: o contato com o Programa de Pós-Graduação e o pedido de inscrição; a aprovação e os procedimentos para adquirir o visto; e, por fim, a matrícula, que oficializa o ingresso como estudante internacional. Por meio das etapas descritas, o candidato pode se tornar um estudante de Pós-Graduação regular (caso conclua o curso de Mestrado ou Doutorado) ou um estudante de intercâmbio no Programa (caso frequente o curso em um curto período).

Para garantir a concretização do processo de internacionalização dos estudantes nas instituições de ensino brasileiras, vários departamentos e atividades estão envolvidos, realizando procedimentos diários ao longo do ano. Em particular, no contexto da UFMG, a DRI destaca-se como a estrutura central na operação e inserção dessa universidade no panorama mundial, de modo que ela esteja conectada com instituições do exterior, tendo em vista possibilitar a realização de diversas ações acadêmicas.

O primeiro contato da pesquisadora deste artigo com a DRI manifestou-se com os estudos relacionados ao processo de internacionalização universitária, desenvolvidos no âmbito da Ciência da Informação e iniciados durante o Programa de Mestrado (2015-2016)¹.Durante o Programa de Mestrado, foram coletados dados e identificados alguns desafios enfrentados pelos estudantes internacionais da UFMG. Esses estudantes, provenientes de programas de intercâmbio diversos, apontaram a falta de acesso à informação durante o processo de intercâmbio.

Em continuação aos estudos desenvolvidos no Mestrado, propôs-se o projeto de Doutorado. A motivação da proposta desse estudo decorre da necessidade em buscar mais alternativas para aumentar a interatividade e a troca de informações entre estudantes internacionais dos cursos de Pós-Graduação da UFMG. Essa motivação se justifica pela falta de estudos direcionados a esse público, conforme relatado por vários autores (OH; BUTLER, 2016; OH; BUTLER, 2019, dentre outros), sobretudo no âmbito das universidades brasileiras.

Nesse contexto, três áreas se interceptarão no desenvolvimento da pesquisa de Doutorado, como a Ciência da Informação, a Educação e o Design. Na interação entre essas áreas, a necessidade da informação, caracterizada como uma subárea da Ciência da Informação, constitui o “pano de fundo” ou objeto investigado, com foco no estudante internacional. O design será uma complementação e fechamento da pesquisa, ao ser utilizado como aporte teórico na geração de propostas de soluções para sanar as necessidades informacionais identificadas, após a análise dos dados coletados.

O direcionamento da pesquisa é definido, a partir das relações interdisciplinares da sua temática, em especial no que tange ao estudo das necessidades informacionais, um tema vinculado a uma área interdisciplinar, como é a Ciência da Informação. Sobre isso, Saracevic (1992) enfatiza a constante evolução da área, desde a sua origem, apontando três razões que justificam a interdisciplinaridade da área: a Ciência da Informação é originalmente interdisciplinar e suas relações com outras áreas vêm se ampliando; essa ciência está associada à tecnologia da informação, tendo forte tendência tecnológica; e a Ciência da Informação é uma área participante e ativa no desenvolvimento da Sociedade da Informação (SARACEVIC, 1992).

A partir dos argumentos propostos por Saracevic (1992) que justificam a interdisciplinaridade da Ciência da Informação, optou-se por estudar o tema das necessidades informacionais de estudantes internacionais de Pós-Graduação, cujo universo de análise é o corpo estudantil da UFMG em seus vários campi. Os quatro campi da UFMG são considerados, na pesquisa de Doutorado, como o universo da pesquisa (1021 estudantes internacionais), e, visando manter uma representatividade desse universo, definem-se como amostra, os 749 estudantes de Pós-Graduação de todos os campi.

No âmbito do fluxo mundial de pessoas que vão de um lugar para o outro, além dos estudantes internacionais, outras pessoas se movimentam por motivos diversos, o que depreende que as necessidades de informação também podem ser distintas. Segundo Caidi, Allard e Quirke (2010), com milhões de pessoas que migram para outros países, por conseguinte, precisam se integrar à sociedade anfitriã, há significativas oportunidades e desafios para as profissões da informação em termos de compreensão de como os imigrantes buscam informações, quais são suas necessidades, quais práticas adotaram e adaptaram e as possíveis barreiras que encontram ao longo do caminho. Logo, justifica-se a importância de mapear estudos que versam sobre necessidades informacionais dos estudantes internacionais, com o fim de contribuir para melhorar o acolhimento e o fornecimento adequado de condições para adaptação desses indivíduos.

Portanto, o presente artigo caracteriza-se como uma revisão de literatura sobre a temática. O objetivo é analisar estudos sobre as necessidades informacionais do estudante internacional no contexto das universidades brasileiras. Para tanto, serão identificadas publicações que norteiem as necessidades de informação dos estudantes internacionais, descrevendo a realidade das universidades públicas brasileiras. Com essa intenção, acredita-se que os principais interessados no tema sejam estudantes internacionais de Graduação e Pós- Graduação, professores de estudantes internacionais, gestores, pesquisadores e profissionais ligados à área de Educação, Ciência da Informação e Direito Internacional.

As primeiras atividades da revisão se iniciaram mediante a composição de uma lista inicial de termos, provenientes das palavras-chave do sumário da pesquisa de Doutorado. Posteriormente, as buscas foram realizadas em duas etapas: 1- via login da UFMG (Portal Capes) e 2- via login da Universidade de Maryland (Estados Unidos). Em ambas as buscas, priorizou-se a relevância das publicações e não foi estipulado um recorte temporal, em virtude da escassez de estudos sobre o tema. Em seguida, foi feita a associação das publicações pré- selecionadas das etapas 1 e 2.

Com as fontes selecionadas, o processo de discussão partiu de um contexto mais amplo, com uma fundamentação teórica conceitual sobre experiências em outras universidades brasileiras, além de um panorama mundial que abordasse as diferentes culturas dos estudantes em universidades no exterior. Sendo assim, a revisão de literatura foi baseada em três pontos principais: a internacionalização nas universidades e programas de Pós-Graduação brasileiros, a percepção dos estudantes internacionais sobre instituições brasileiras de Ensino Superior e as necessidades informacionais do estudante internacional.

Partiu-se do pressuposto de que a literatura científica é escassa quanto ao foco em necessidades informacionais de estudantes internacionais. Essa afirmação se intensifica, sobremaneira, quando a internacionalização é direcionada aos pós-graduandos no panorama das universidades brasileiras.

O artigo está estruturado em três tópicos, além dessa parte introdutória. No segundo tópico, apresenta-se a metodologia utilizada nas buscas e seleção das publicações. Os resultados compõem o terceiro tópico, cujos pilares ou categorias temáticas, nos quais foram baseados a revisão de literatura e o detalhamento das publicações selecionadas, são descritos. No quarto e último tópico, são mencionadas as considerações finais, formando a conclusão.

2 MÉTODO

A revisão de literatura realizada neste estudo foi composta por três etapas. Devido à escassez de estudos sobre necessidades informacionais de estudantes internacionais de Pós- Graduação, a busca por publicações, a princípio, foi amparada pela relevância dos trabalhos recuperados, independente do ano de publicação.

A primeira etapa da revisão foi executada em 2019, via login da UFMG, cujas buscas ocorreram no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (CAPES). A segunda etapa ocorreu em 2020, na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, no momento em que a pesquisadora esteve vinculada a essa instituição como pesquisadora-visitante. Por fim, a terceira etapa manifestou-se após o retorno da pesquisadora à UFMG, mediante as publicações das fases anteriores.

Na primeira etapa, considerando o contexto da UFMG, durante a busca, foi utilizado o Portal da Capes para acessar cinco bases de dados: Web of Science, Library & Information Science Abstracts (LISA), Library, Information Science & Technology Abstracts with Full Text (LISTA), Information Science & Technology Abstracts (ISTA) e Base de Dados de Referência e Citações (SCOPUS). Essas bases foram consultadas a partir de uma lista das principais palavras que melhor representassem a temática estudada, tanto no idioma português quanto em inglês.

Nessa etapa, a partir das atividades de busca, os termos estavam relacionados entre si e, às vezes, considerando os resultados da busca, esses termos eram alternados nos dois idiomas. No decorrer desse processo, foram lidos o título e o resumo das publicações, revelando que a literatura sobre a temática é bastante esparsa, constatação essa mencionada por vários autores, como Lima (2017), Oh e Butler (2016), Rezende (2015), dentre outros.

Uma média de 470 publicações foi recuperada, sendo armazenada em pastas nomeadas de acordo com as palavras pesquisadas. Em seguida, as publicações de cada pasta foram analisadas em profundidade com leitura integral aos títulos, resumos, introdução e conclusão de cada trabalho. No decorrer da atividade de leitura, filtraram-se as publicações que teriam pontos comuns ou alguma informação relevante a ser considerada.

A segunda etapa da revisão, realizada na Universidade de Maryland, durante o ano de 2020, recorreu à mesma lista de termos utilizada na primeira etapa. De início, foram eliminados os textos relacionados diretamente ao Programa de Estudantes-Convênio de Pós-Graduação (PEC-PG)² e os termos em português. Desse modo, previu-se que os resultados da revisão seriam mais abrangentes.

Três direcionamentos foram essenciais nessa etapa: 1) consultoria a um profissional que atua na busca em bases de dados, 2) consulta a um especialista na temática e 3) a validação dos termos por um pesquisador. No primeiro caso, foi consultada uma bibliotecária da área da Ciência da Informação (Rachel Gamons); no segundo direcionamento, procedeu-se à análise de um especialista em Internacionalização da Educação (professor Taylor Woodman). Ambos os profissionais consultados estão vinculados à Universidade de Maryland. Nesse momento, as áreas de Educação, Psicologia e Computação foram incluídas nas bases de dados pesquisadas. Já o terceiro direcionamento foi a seleção de termos, realizada pelo professor Dagobert Soergel, coorientador da tese de Doutorado, a partir da lista primária, utilizada na primeira etapa.

No que tange às estratégias de busca, considerou-se o uso do método booleano³, cujos termos selecionados, no idioma inglês, foram devidamente combinados, formando as expressões de busca. O Quadro 1 expõe os termos e suas combinações, gerando as expressões.

Quadro 1
Termos e expressões utilizadas na busca, durante a segunda etapa da revisão

Concept/Conceito	Query component - Strings/Expressões de busca
Cross-cultural/Transcultural	(“Cross-cultural” OR Intercultural OR Multicultural) / (Transcultural OU Intercultural OU Multicultural)
International ed/ed Internacional	("international education" OR "education internationalization" OR 'foreign student" OR 'international student") / (“educação internacional” OU “internacionalização da educação” OU “estudante estrangeiro” OU “estudante internacional”)
Approach/Abordagem	(design OR "information science" OR "information management" OR "problem-solving" OR "human-centered" OR "user-centered" / (design OU “ciência da informação” OU “gestão da informação” OU “resolução de problemas” OU “centrado no humano” OU “centrado no usuário”)
User experience, Communication/Experiência do usuário, Comunicação	(communication OR web OR "user experience" OR UX OR "human-computer interaction OR HCI) / (comunicação OU web OU “experiência do usuário” OU UX OU “interação homem-máquina” OU IHC)
Cultural intelligence/Inteligência cultural	("cultural intelligence" OR "cultural competence" OR "language skills" OR "foreign language") Note: combine with the international ed concept / (“inteligência cultural” OU “competência cultural” OU “habilidades linguísticas” OU “língua estrangeira”) Nota: associe com o conceito de ed internacional
web localization	web localization
Geographical area/Área geográfica	(Brazil OR "South America" OR "Latin America) / (Brasil OU “América do Sul” OU “América Latina”)

• Fonte: Os autores (2020), com base nos dados validados por Dagobert Soergel.

Os termos mencionados no Quadro 1 foram relacionados pelo booleano “AND”, por exemplo: “Cross-cultural OR Intercultural OR Multicultural” AND “web localization”. As buscas foram realizadas via login no site da Biblioteca de Mckeldin da Universidade de Maryland, como também na base do Google Scholar. Cinco bases de dados foram consultadas nas buscas dos termos relacionados: Education Source, Psyc Info, ERIC, ACM - Digital Library e Library and Information Science Source (LIS).

Os arquivos encontrados foram classificados de acordo com os termos buscados e armazenados em vinte e oito pastas, utilizando os recursos fornecidos pelo Zotero. O número total de arquivos recuperados foi de 547. Em uma análise inicial, foram eliminados os nomes com arquivos inexistentes e duplicados, o que resultou em uma amostra de 518 arquivos, subdivididos em 28 pastas.

A partir das 518 publicações, procede-se à atividade de seleção, realizada em dois momentos. Na primeira seleção, o título e o resumo de cada publicação foram analisados, cujo número de pastas foi reduzido e filtrado para termos específicos, de acordo com as palavras- chave do sumário da tese. Em alguns casos, publicações foram remanejadas entre as pastas, depois que eram lidas, e as publicações comuns a mais de um tópico foram replicadas nas pastas correspondentes. Em seguida, na segunda seleção, as publicações foram revisadas no todo, e uma nova seleção foi feita, dentro de cada pasta. O intuito dessa atividade foi resumir as publicações, além de registrar anotações, de modo a garantir, no futuro, suporte à escrita da tese.

O critério utilizado para a organização das publicações, em ambas as seleções, foi a análise de conteúdo, cujas categorias geradas representam os temas ou nomes das pastas. Ressalta-se que a análise de conteúdo constitui a verificação das comunicações, com o uso de “[...] procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens” (BARDIN, 2011, p. 38). Assim, ao manipular as mensagens, o pesquisador busca confirmar indicadores e inferir qual o seu objetivo, tendo como foco a resolução de dois problemas: “[...] os antecedentes que conduziram a um determinado enunciado; e quais consequências dessas mensagens [...]”. Nesse processo, a técnica é conduzida por três fases: “1) pré-análise, 2) exploração do material e 3) o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação” (BARDIN, 2011, p. 95).

Na pré-análise, é realizada a leitura flutuante, que consiste no primeiro contato com o documento e seu texto, permitindo o julgamento de impressões e orientações. Ao aprofundar na leitura dos textos, a compreensão vai se tornando mais assertiva, pois surgem hipóteses, teorias e possíveis técnicas usadas em materiais análogos. A segunda etapa, a exploração do material, sistematiza os métodos de ordenação estabelecidos na primeira etapa. Para a terceira etapa, o procedimento realizado é a codificação, definida como uma “transformação efetuada segundo regras precisas - dos dados brutos do texto, que por recorte, agregação e enumeração, permite atingir representação do conteúdo, ou da sua expressão, suscetível de esclarecer o analista acerca das características do texto” (BARDIN, 2011, p. 103).

Ao finalizar as atividades de seleção, o corpus de análise foi composto por 12 categorias (originadas com a compilação das pastas), contento um total de 70 arquivos. A Tabela 2 descreve as categorias geradas e o número de arquivos presentes em cada uma, a partir da primeira e segunda seleção.

Tabela 2
Categorias e os números de arquivos na primeira e na segunda seleção

Categoria/ palavra-chave	Primeira seleção/ número de arquivos	Segunda seleção/ número de arquivos
Brasil e Estudantes internacionais	7	_
Transcultural	15	14
Internacionalização da Educação - Conceito	4	_
Internacionalização da Educação - Mercado	15	11
Interação Humano-Computador - IHC	4	5
Design centrado no usuário	4	4
Informação	2	6
Estudante internacional	23	11
Habilidades linguísticas	8	_
Redes sociais	2	4
Experiência do usuário	14	5
Web localization	4	10
Total de arquivos selecionados:	102	70

• Fonte: Dados da pesquisa (2020)

Quanto à terceira etapa da revisão, os arquivos das etapas anteriores foram correlacionados, de modo complementar, possibilitando confrontar os temas e fomentar a discussão dos resultados. Para isso, fez-se necessária a síntese de cada estudo, realizada por meio de uma leitura na íntegra, seguida de fichamentos de cada texto. Nessa atividade, percebeu-se que diversas publicações não contemplavam o escopo deste estudo, o que levou à exclusão dos trabalhos, resultando, para análise, oito trabalhos.

Destaca-se que, a princípio, foi feita a leitura do título e resumo das publicações pré- selecionadas, considerando a afinidade delas com a proposta da pesquisa. Em seguida, realizaram-se anotações sobre essas publicações. Por fim, as publicações foram organizadas por semelhança e categorizadas por tema. O passo final foi a comparação com outras publicações.

Assim, na discussão dos resultados, partiu-se de um contexto mais amplo, considerando uma fundamentação teórica conceitual sobre experiências em outras universidades brasileiras, além de um panorama mundial que aborda as diferentes necessidades informacionais desses estudantes em universidades no exterior.

3 RESULTADOS

Após a leitura completa das publicações selecionadas, a revisão de literatura foi baseada em três pilares teóricos ou categorias temáticas correlatos ao tema central da tese: internacionalização nas universidades e programas de Pós-Graduação brasileiros, percepção dos estudantes internacionais sobre instituições brasileiras de ensino superior e as necessidades informacionais do estudante internacional.

Ao longo da exposição dos resultados, as publicações são descritas, de modo individual, com menção ao propósito e resultados alcançados em cada uma, além de serem alinhadas aos três pilares teóricos ou categorias temáticas. Importante mencionar que a ordem de apresentação das publicações não é cronológica, mas relacional, uma vez que os estudos são apresentados a partir dos relacionamentos entre os temas e resultados abordados por cada um deles.

O Quadro 2 discrimina e elucida essas publicações, mencionando o nome dos autores, o título, o tipo de documento e o ano de publicação. Ademais, as publicações são apresentadas, conforme a distribuição de cada uma nas categorias temáticas correspondentes.

Quadro 2
Descrição dos trabalhos selecionados e alinhamento às categorias temáticas

Categorias temáticas	Autores	Títulos	Tipo de documento	Número
Internacionalização nas universidades e programas de Pós-Graduação brasileiros	Rezende, N. A.	Acesso aos programas de Mobilidade Internacional no Ensino Superior: o caso da UFMG à luz de três experiências internacionais	Dissertação	015
	Lima, R. M.	Analisando as motivações dos estudantes estrangeiros do Instituto Oswaldo Cruz na Fundação Oswaldo Cruz	Dissertação	017
	Freitas, D.	Strategies in Search for International Partnerships	Artigo de periódico	015
	Neves, T. K., Lavarda, R. A. B. e Martins, C. B.	Práticas estratégicas de internacionalização de programas de Pós-Graduação: Estudo de caso em uma universidade pública do Sul do Brasil	Artigo de periódico	019
Percepção dos estudantes internacionais sobre instituições brasileiras de Ensino Superior	Silva, C. C. S. e Lima, M. C. A.	Percepção do estudante internacional sobre seu acolhimento em instituições de educação brasileiras	Artigo de conferência	013
	Bello, K. Q. e Guerra, V. M.	Explicando o bem-estar de estudantes latino-americanos de Pós-Graduação no Brasil	Artigo de periódico	018
As necessidades informacionais do estudante internacional	Oh, C. Y. e Butler, B. S.	Newcomers from the Other Side of the Globe: International Students’ Local Information Seeking During Adjustment	Artigo de conferência	016
	Oh, C. Y. e Butler, B. S.	Small Worlds in a distant land: International Newcomer Students’ Local Information Behaviors in Unfamiliar Environments	Artigo de periódico	019

• Fonte: Dados da pesquisa (2020)

Sobre a categoria temática “Internacionalização nas universidades e programas de Pós- Graduação brasileiros”, nota-se que, das oito publicações da amostra, quatro versam sobre esse tema. Desses trabalhos, dois foram desenvolvidos no formato de dissertação e os outros dois no formato de artigos (ambos publicados em periódicos).

A primeira publicação é de Rezende (2015), destacando que estudos acadêmicos sobre a internacionalização do Ensino Superior não são expressivamente numerosos, principalmente no que diz respeito aos estudos, cujo foco de análise seria a realidade brasileira. Com os resultados, o estudo mencionado pretendeu

[...]contribuir teórica e academicamente para a discussão sobre internacionalização do Ensino Superior com enfoque na questão do acesso e, em termos práticos, auxiliar os dirigentes das instituições de ensino superior na formulação de novas políticas e novos desenhos de mais programas de internacionalização, acessível, inclusivo e democrático (REZENDE, 2015, p. 8).

Rezende (2015) estudou o acesso aos programas de mobilidade internacional da UFMG, comparando-o com três universidades estrangeiras da Alemanha, Portugal e Espanha, tendo em vista determinar como os programas de mobilidade influenciam a efetiva aplicação e intercâmbio de estudantes universitários no âmbito da Graduação. Para tanto, o autor cita o modo com que são tratadas as políticas públicas de internacionalização da educação com a UFMG, considerando o estreito relacionamento da DRI com o Ministério da Educação (MEC), entre outras instituições. Nessa discussão, considera o papel exercido pela Capes, com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), entre outras entidades conveniadas ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Diferente de outros órgãos internos da UFMG, a DRI também mantém estreita relação em ações, diretrizes e práticas, bem como na busca de programas conjuntos com o Ministério das Relações Internacionais (MRE) (REZENDE, 2015).

Além disso, a UFMG também parece estar avançando na utilização de sistemas adequados às demandas de procedimentos administrativos relacionados à internacionalização universitária, em particular aos programas de mobilidade internacional (REZENDE, 2015). Esse estudo também descreveu a estrutura da UFMG para a internacionalização, expondo estatísticas quanto ao número de estudantes, departamentos envolvidos, dentre outros elementos. No entanto, enfatiza a mobilidade do estudante de deixar o Brasil para estudar, o que é chamado de “flow out”, expondo as opções de programas, inscrições e parcerias da universidade com organizações em âmbito internacional. O autor também menciona o “fluxo de entrada”, quando os estudantes internacionais vêm estudar na UFMG, mostrando os números e a infraestrutura da universidade para recebê-los, embora esse não é o principal assunto explorado.

A segunda publicação referente à categoria “Internacionalização em universidades e programas de Pós-Graduação brasileiros” é a de Lima (2017), a qual destaca que faltam pesquisas sobre os estudantes internacionais que vêm para o Brasil, além de investigações que explorem as motivações dos estudantes brasileiros que vão para o exterior. Em relação aos países em desenvolvimento, segundo Lima (2017), há um movimento maior de saída de estudantes, do que de entrada, como é o caso do Brasil. Nesse contexto, projetos e ações para apoiar esses estudantes ocorrem em menor escala do que os projetos de recebimento de estudantes e pesquisadores de outros países em comparação com países do Norte (LIMA, 2017).

O objetivo principal do citado estudo foi pesquisar sobre os processos motivacionais vivenciados por estudantes internacionais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) do Rio de Janeiro. Os dados foram coletados por meio de questionários semiestruturados respondidos por treze estudantes. Para analisar as motivações dos estudantes, optou-se pela Teoria da Autodeterminação, visto que integra elementos psicológicos naturais e aspectos ambientais e sociais. Os dados coletados foram analisados por meio da análise de conteúdo (LIMA, 2017).

OIOC é responsável por formar profissionais qualificados em Saúde Pública por meio de programas de Pós-Graduação (Mestrado, Doutorado e Especializações). Todas as oportunidades para estudantes brasileiros e internacionais são divulgadas por meio do site da instituição ou de agências de fomento, quando dos editais de licitação. Dois cursos internacionais da Fiocruz, coordenados pelo IOC, formam mestres e doutores na área de Biociências e Saúde em parceria com instituições da Argentina e de Moçambique (LIMA, 2017).

A Fiocruz possui uma ampla estrutura administrativa e de atendimento ao público, localizada em filiais no campus e no site institucional. Dentro da unidade física e da estrutura de atendimento pessoal, que a Fiocruz e o IOC disponibilizam para atender os estudantes internacionais, existe também o site da Fiocruz, que pode ser acessado em português, espanhol e inglês. As opções estão disponíveis no topo da página, para que qualquer usuário, brasileiro ou não, tenha acesso às informações sobre a instituição (LIMA, 2017).

Esse site disponibiliza uma página específica para estudantes internacionais, podendo ser acessadas informações sobre como ser aprovado em programas, documentação, seguro, vacinação, auxílio e serviços. Além disso, podem ser acessados os contatos telefônicos e e- mails do setor de Educação Internacional, do Centro de Relações Internacionais de Saúde (CRIS) e do endereço das páginas do próprio Facebook da Fiocruz e da Associação dos Alunos de Pós-Graduação (APG) da Fiocruz. O usuário é informado quando as atividades acadêmicas serão realizadas em português e alguns concursos públicos que possam exigir a realização do Exame de Proficiência em Língua Portuguesa (Celpe-Bras), destacando-se a importância dos conhecimentos básicos desse idioma (LIMA, 2017).

No site da Fiocruz, informações sobre hospedagem e contatos importantes para estudantes podem ser localizados nos três idiomas citados (LIMA, 2017). A autora reconhece que a qualidade e o nível de dificuldade em buscar informações sobre o curso desejado podem ser um fator importante na tomada de decisão de um indivíduo que opte em estudar em outro país. As principais motivações encontradas para fazer a Pós-Graduação em instituição no exterior foram: a busca por uma educação de qualidade, a possibilidade de conhecer uma nova cultura aliada à oportunidade de boa formação acadêmica, a oportunidade de desenvolver pesquisas em um ambiente de renome internacional, a instituição e o financiamento da bolsa. Outros motivos também foram relevantes na escolha do Brasil como destino, tais como: a oferta de áreas de pesquisa inexistentes nos países de origem e a proximidade, no caso de estudantes sul-americanos (LIMA, 2017).

Os resultados do estudo de Lima (2017) indicaram que a motivação de alunos para estudar em outro país é caracterizada por um complexo sistema de fatores positivos e se reflete em termos como felicidade, alegria, amizade, esperança e saudade. O termo “violência” merece destaque nos resultados, o que justifica discussão e preocupação, pois é um possível fator negativo em relação à motivação para permanecer na instituição e encerrar o programa (LIMA, 2017).

Apesar da estrutura disponível, os resultados apontaram para a necessidade de maior internacionalização dos diversos setores institucionais, visto que algumas situações problemáticas foram relatadas com o corpo docente da instituição, como preconceito e desinformação. A realização de eventos multiculturais, como palestras, cursos, festas, encontros ou a promoção da formação continuada de idiomas para todos os trabalhadores é uma sugestão de que, de modo gradativo, e com o tempo, toda a Fiocruz assuma uma postura amplamente internacionalizada. Essas demandas devem ser consideradas importantes, pois é a saúde do estudante pesquisador e até mesmo sua produção acadêmica que podem ser afetadas em face de situações críticas que, em alguns casos, poderiam ser resolvidas com o apoio institucional (LIMA, 2017).

A publicação de Freitas (2015) teve como foco o processo de internacionalização dos programas de Pós-Graduação brasileiros, considerando o aumento da participação deles em operações internacionais. Nesse caso, todos os objetivos propostos no processo e suas ações envolvem a alta direção, docentes, funcionários e estudantes. Os quatro principais objetivos estratégicos apresentados para os programas de Pós-Graduação são:

• Ambiente educacional bilíngue;

• Produção científica internacionalizada e tecnológica;

• Cooperação internacional, mediante o envio e recebimento de estudantes, professores e pesquisadores em geral;

• Visibilidade internacional do programa, em conjunto com outras ações, a incluir: a criação de sites eletrônicos trilíngues; participação em congressos; encontros científicos internacionais com centros institucionais de internacionalização eficiente; publicação em periódicos internacionais de alto impacto; e estímulo aos periódicos brasileiros, na busca por um padrão internacional, sem perder sua identidade e características (FREITAS, 2015, p. 81).

Uma das ações mais importantes descritas no estudo de Freitas (2015) é a importância da gestão da informação em todos os setores, no âmbito da Pós-Graduação ou universidade. Nesse sentido, faz-se necessário “estabelecer mecanismos de monitoramento, indicadores, coleta, organização e disseminação de informações sobre as atividades e iniciativas de internacionalização em curso” (FREITAS, 2015, p. 81).

Na conclusão do artigo de Freitas (2015), é ressaltada a importância do planejamento liderado pela coordenação da Pós-Graduação, envolvendo todos os integrantes do programa, junto aos setores da universidade que possuem relações com o processo de internacionalização, tendo em vista a formação de um trabalho institucional cooperativo, não apenas fundado em acordos pessoais entre professores e grupos de pesquisa do exterior. A autora também apoia suas ideias no Plano Nacional de Programas de Pós-Graduação (PNPG) da Capes, ressaltando que “[...] hoje não é possível imaginar ciência sem internacionalização” (FREITAS, 2015, p. 82).

A quarta e última publicação do primeiro tema é o artigo de Neves, Lavarda e Martins (2019). Nesse trabalho, os autores afirmam que a internacionalização da Pós-Graduação brasileira é uma das principais metas do Sistema Nacional de Pós-Graduação, registrado no PNPG 2011-2020 e desenvolvido pela Capes. De acordo com o desempenho acadêmico, em intervalos de quatro anos, os programas recebem notas de 1 a 7, e os classificados na categoria 7 são considerados competitivos no contexto internacional (NEVES; LAVARDA; MARTINS, 2019).

A Pós-Graduação é considerada um motivador no processo de internacionalização do Ensino Superior. Para comprovar essa afirmação, Neves, Lavarda e Martins (2019) citam o Programa Capes-Print, o qual foi implementado com o objetivo de estimular a internacionalização das instituições de Ensino Superior e dos institutos de pesquisa, por meio da ampliação e do aprimoramento das ações de internacionalização, nos programas que oferecem cursos de Mestrado e Doutorado.

No estudo de Neves, Lavarda e Martins (2019), os dados foram coletados por meio de análise documental e entrevistas semiestruturadas com os coordenadores dos programas de Pós- Graduação selecionados. As limitações encontradas, nessa pesquisa, referem-se à análise das estratégias no âmbito dos programas, visto que foi considerado, apenas, o ponto de vista dos coordenadores. Além disso, o método da pesquisa não abordou possíveis estratégias de âmbito institucional, as quais poderiam ter colaborado e/ou impactado na internacionalização dos programas estudados, mesmo que de modo indireto.

A internacionalização dos programas de Pós-Graduação é caracterizada pelos contatos dos docentes e suas redes de relacionamento, que culminam na inserção deles no cenário educacional internacional, percepção destacada por outros autores citados no estudo. Isso pode criar uma relação de dependência do programa com essas ações espontâneas. Com base nas entrevistas e documentos analisados, entendeu-se que as estratégias de internacionalização dos programas de Pós-Graduação stricto sensu que obtiveram a nota máxima da avaliação trienal Capes de 2013, no caso da universidade pública federal estudada, ocorreram de modo fortemente articulado. Essa articulação manifesta-se quando as ações dos docentes ocorrem por meio das redes de contato, atuação em grupos e centros de pesquisa, bem como pela participação em congressos, publicações e outros eventos internacionais (NEVES; LAVARDA; MARTINS, 2019). Os autores identificaram algumas práticas de internacionalização, tais como:

(i) programas de intercâmbio internacional de docentes (pós-doutorado) e alunos dos programas (principalmente relacionados à realização de doutorado sanduíche); (ii) realização de projetos em cooperação com pesquisadores de universidades estrangeiras, que muitas vezes resultam em (iii) publicações conjuntas em revistas indexadas de alta relevância internacional; (iv) a participação de docentes na organização de conferências e seminários internacionais, bem como (v) a apresentação de artigos de docentes e alunos em eventos internacionais de elevada relevância na área de atividade do programa; e (vi) os convênios de Co-tutela de doutorado (NEVES; LAVARDA; MARTINS, 2019, p. 102).

A limitação encontrada pelos autores diz respeito ao fato de apenas os coordenadores dos programas terem sido entrevistados. Pelos resultados do estudo de Neves, Lavarda e Martins (2019), enfatizou-se a necessidade de os programas de Pós-Graduação implementarem estratégias articuladas e institucionais que envolvam docentes, funcionários e alunos, ao longo do processo de internacionalização da Pós-Graduação.

Em relação à segunda categoria temática “Percepção dos estudantes internacionais sobre instituições brasileiras de Ensino Superior”, dois trabalhos são analisados. Quanto à tipologia de documento, ambos são artigos, um publicado em periódico e o outro em conferência.

O trabalho de Silva e Lima (2013) foi publicado um ano antes da Copa do Mundo, realizada no Brasil. O estudo destaca o contexto do país naquele momento, atraindo mais estudantes internacionais, com a perspectiva de um país promissor e que poderia oferecer oportunidades. Nesse caso, o Brasil se tornou uma opção de destino para estudantes internacionais, mesmo que isso não fosse uma realidade antes, quando comparado a outros países, considerados como opções prioritárias para esses alunos (SILVA; LIMA, 2013).

Os autores justificaram a coleta de dados, construída a partir de entrevistas, com roteiro semiestruturado, que abordou a questão da percepção dos alunos, recebidos por instituições de ensino brasileiras. Tais instituições foram representadas por duas universidades de São Paulo e uma de Belo Horizonte, as quais não tiveram os nomes revelados na pesquisa. Os autores identificaram vários motivos que podem estimular as pessoas a estudar no exterior. Destacam como principais:

[...] informações sobre a instituição, cursos de Graduação, requisitos de matrícula podem corresponder ao primeiro impacto nos serviços que serão oferecidos no futuro. Isso pode ser crucial na escolha de uma instituição, mesmo que a escolha resulte de uma combinação de outros fatores, como sua reputação acadêmica, a qualidade e experiência do corpo docente, a atratividade e a atmosfera do campus, a reputação dos cursos oferecidos, o currículo associado às práticas pedagógicas exploradas, o perfil do corpo discente que atrai, o valor social da expedição de diplomas, entre outros fatores. É o somatório das evidências positivas a que os alunos interessados em um programa de intercâmbio têm acesso (SILVA; LIMA, 2013, p. 6).

Ao longo da investigação, observou-se que a percepção e a influência nos processos de decisão dos alunos, quanto à escolha de uma instituição de Ensino Superior pelos recursos digitais são muito criteriosas. Essa impressão pode ocorrer mediante a oferta deum site bem organizado, a rapidez no atendimento aos e-mails e a qualidade e relevância das informações enviadas. Silva e Lima (2013) citam como iniciativa que pode gerar boa impressão aos estudantes a publicação de postagens e depoimentos nas redes sociais de outros alunos, sobre o tipo de acolhida no campus, visto que essa ação pode ser valorizada pelos estudantes internacionais, de modo a influenciara opinião de bolsistas interessados em uma determinada universidade.

Além das estratégias de visibilidade e capitação de estudantes, Silva e Lima (2013) mencionam o valor assumido pelo processo de ensino-aprendizagem. As autoras enfatizam a relevância das universidades na criação de ambientes e currículos multiculturais, que possam respeitar o estilo de aprendizagem de cada um, possibilitando a constituição de uma sala de aula cada vez mais intercultural.

A última publicação da segunda categoria é o artigo de Bello e Guerra (2018). Esse estudo esclarece que uma das formas mais comuns de migração está associada à busca por educação superior especializada e de qualidade, indicada pelo aumento significativo do número de estudantes internacionais de Graduação e Pós-Graduação. A pesquisa é justificada pela escassez de publicações internacionais e nacionais com foco na Pós-Graduação, em específico, no âmbito da América Latina. O número de publicações é ainda menor quando se trata de estudantes internacionais no Brasil, em comparação com as informações disponíveis sobre brasileiros em outros países (BELLO; GUERRA, 2018).

Na pesquisa mencionada, o objetivo foi investigar a associação entre estratégias de enfrentamento de desafios e reforço de valores e de bem-estar subjetivo de pós-graduandos latino-americanos, no Brasil. A experiência de mudança de país, em face de uma cultura totalmente desconhecida, pode promover a ocorrência de situações estressantes, cujos estudantes precisarão se adaptar de modo adequado para equilibrar o bem-estar aos objetivos pessoais, educacionais e profissionais. O próprio ingresso na universidade já pode ser considerado um período estressante para os estudantes (BELLO; GUERRA, 2018).

De acordo com Bello e Guerra (2018), ao migrar para outros países, surge uma nova rotina para os estudantes, permeada por valores culturais diferentes dos seus, além da necessidade de aprender um novo idioma. Conforme evidências dessa pesquisa, os estudantes internacionais podem desenvolver problemas de saúde mental como depressão, ansiedade e reações paranoicas, além de problemas socioculturais, como dificuldades de linguagem e atividades sociais, discriminação étnica e problemas acadêmicos, com exigências excessivas e reprovação.

A respeito da terceira categoria temática “Necessidades informacionais do estudante internacional”, foram identificados dois estudos. Semelhante à categoria anterior, os dois estudos caracterizam-se como artigo, um publicado em conferência e outro em periódico.

Oh e Butler (2016) esclareceram, por meio dos resultados de uma pesquisa longitudinal e da análise preliminar das entrevistas de acompanhamento, como as necessidades por informações locais, dos estudantes internacionais recém-chegados, desenvolvem-se durante o período de adaptação a novos ambientes de acolhimento. Também foi investigado o comportamento pela busca de informações desses indivíduos.

O estudo em tela também examina as relações entre os comportamentos de informação locais e os contextos demográficos, dos estudantes do mesmo país, mas de estados diferentes, em relação aos estudantes recém-chegados, oriundos de outros países. No entanto, como recém- chegados em um país anfitrião, os estudantes internacionais enfrentam vários desafios, sobretudo, desafios de informação para se ajustar a ambientes geoespaciais não familiares. Eles precisam aprender sobre a cultura e a estrutura do novo ambiente e vários tipos de informações locais, como: habitação, mantimentos, lojas de varejo, bancos, geografia local, transporte público e direções de navegação. Desenvolver esse tipo de conhecimento local também é considerado essencial para a adaptação geral da vida dos estudantes internacionais aos novos ambientes. Mesmo com uma série de estudos sobre a adaptação de estudantes internacionais, esses estudos não analisam as necessidades de informações locais e o comportamento do estudante na busca de informações durante o período de adaptação (OH; BUTLER, 2016).

A última publicação da amostra e da terceira categoria diz respeito ao artigo de periódico, também dos autores Oh e Butler, publicado no ano de 2019. O estudo investiga como os alunos recém-chegados a um país anfitrião enfrentam desafios significativos devido às diferenças em culturas, idiomas, redes sociais e outros sistemas sociais, além de problemas de informação em ambientes desconhecidos. Para se ajustar a novos ambientes, estudantes internacionais precisam de informações locais sobre habitação, áreas locais, lugares, serviços e transporte. A busca e a aquisição por informações locais, isto é, comportamento de informação local (LIB), são essenciais para o período de ajuste geral da vida dos estudantes internacionais em novos ambientes. Oh e Butler (2019), afirmam que entre os estudos analisados o foco principal é a busca de informações com o uso das bibliotecas, sendo secundário, o tópico sobre comportamento informacional de estudantes.

Os autores mencionam que a maioria dos estudos tende a tratar os estudantes internacionais como um único grupo em termos de comportamento de informação, em vez de diversos grupos que podem exibir comportamentos de informação variados. Além disso, poucas pesquisas investigaram os papéis da informação durante a transição dos estudantes para novos ambientes. Menos se sabe sobre como os estudantes internacionais buscam e adquirem informações para lidar com os desafios de se ajustarem ao novo ambiente. Logo, fazem-se necessários mais estudos para examinar os comportamentos de informação de estudantes internacionais como um grupo diversificado (OH; BUTLER, 2019).

Diversos eventos sociais para recém-chegados internacionais e estruturas de rede podem influenciar as maneiras pelas quais os estudantes adquirirem informações. Oh e Butler (2019) desenvolveram a pesquisa com base em estudos anteriores de comportamento de informação do imigrante internacional, utilizando diversas fontes de informação, haja vista medir as informações locais dos estudantes recém-chegados, as necessidades e o uso das fontes de informação.

Pelos resultados do estudo citado, foram identificadas diferenças no uso das fontes de informação por estudantes internacionais recém-chegados, durante o período de ajuste, como também, diferenças no modo com que os estudantes do mesmo país (conacionais), mas de estados diferentes, participam dessas variações. Esses resultados revelam pistas de como os estudiosos e profissionais da informação podem explicar as influências do contexto local de conacionais, ao examinar comportamentos informacionais de estudantes de mobilidade internacional e sistemas de design e serviços para recém-chegados, oriundos de qualquer país (OH; BUTLER, 2019).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste artigo foi analisar estudos sobre as necessidades informacionais do estudante internacional no contexto das universidades brasileiras. Por meio de uma metodologia qualitativa de três etapas, o estudo se baseou em três pontos principais: a internacionalização nas universidades e programas de Pós-Graduação brasileiros, a percepção dos estudantes internacionais sobre instituições brasileiras de Ensino Superior e as necessidades informacionais do estudante internacional.

A partir desse mapeamento, notou-se que há escassez de publicações voltadas às necessidades de informação dos estudantes internacionais, sobretudo dos pós-graduandos, considerando o panorama das universidades brasileiras. Portanto, mediante o contexto das necessidades de informação dos estudantes internacionais da Pós-Graduação no Brasil, as principais contribuições desta revisão de literatura seguem descritas, por meio da subdivisão de três tópicos: a universidade, a Capes e a gestão de processos; a qualidade da informação disseminada; e a aquisição e o uso da informação.

Quanto à universidade, à Capes e à gestão de processos, notou-se que a universidade, enquanto instituição educacional, engloba seus professores, funcionários e pesquisadores, como colaboradores essenciais que possibilitem a referência para a universidade receptora dos estudantes. O recomendado é que a universidade alie a gestão de processos às ferramentas de comunicação, envolvendo os funcionários da instituição. Almeja-se a criação de um ciclo de autonomia para os estudantes, desde o acesso ao site da universidade até os canais de comunicação do programa de Pós-Graduação, como redes sociais e outros meios de atendimento ao público.

Existe interesse da Capes e dos programas de Pós-Graduação no processo de internacionalização, tendo em vista a interação entre pesquisadores de universidades em todo o mundo, possibilitando o desenvolvimento de pesquisas em áreas diversas. A necessidade da internacionalização da Pós-Graduação deve ir além das redes de contato dos professores com universidades no exterior. O processo deve acontecer, também, mediante a disseminação das publicações, participação de eventos, co-tutela, intercâmbio de docentes e discentes, publicações conjuntas, ente outras ações.

No que se refere à qualidade da informação disseminada, faz-se necessário o apoio institucional das universidades e das políticas públicas que dêem suporte à recepção e todo o processo de intercâmbio do estudante internacional. Nesse contexto, as informações divulgadas aos candidatos à Pos-Graduação em uma universidade brasileira são extremamente relevantes em todas as etapas do processo. Nesse caso, fontes e ferramentas de disseminação da informação, por parte da universidade, são fundamentais para o candidato à Pós-Graduação, no momento da sua chegada ao Brasil e do seu período de adaptação. As informações divulgadas pela universidade deveriam estar, preferencialmente, em mais de um idioma, sendo o inglês o idioma secundário, por ser considerado a língua referencial na academia.

A qualidade do tipo de informações que os estudantes ativos têm acesso e a facilidade de encontrarem essas informações afetam, de modo direto, a adaptação e qualidade de vida deles. Isso pode refletir nos estudos e produtividade acadêmica, com impactos negativos. São diversos os desafios encontrados pelos estudantes internacionais durante o período de adaptação, desde moradia, transporte, alimentação, serviços, saúde, entre outros. Portanto, é importante que sejam estudados como grupos diversificados.

Por fim, quanto à aquisição e ao uso da informação, há uma diferença no uso de informações por estudantes recém-chegados, que já possuem uma rede de contatos com outros estudantes do mesmo país, estudando na universidade receptora, entre estudantes que não possuem essa rede de apoio. Faz diferença para o possível candidato à Pós-Graduação obter informações que venham de ex-alunos e alunos ativos, sobretudo no que tange à estrutura da universidade receptora e da cidade onde está inserida.

Além disso, quando o estudante chegar para estudar, precisará de outros tipos de informações, necessárias para se estabelecer no local, como: moradia, transporte, alimentação, saúde, estrutura interna de funcionamento da universidade, entre outros. É interessante que os canais oficiais da universidade informem sobre questões práticas do dia a dia. Eventos de recepção aos estudantes internacionais podem influenciar o modo com que eles adquirem informações, principalmente, ao longo do processo de adaptação.

As revelações apontadas nesta revisão indicam o quanto o tema é complexo, importante e requer estudos mais profundos. Espera-se que iniciativas práticas sejam evidenciadas, a partir desses estudos.

REFERÊNCIAS

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• REZENDE, Nicole Antunes. Acesso aos programas de mobilidade internacional no Ensino Superior: o caso da UFMG à luz de três experiências internacionais. Dissertação (Mestrado em Administração Pública) - Fundação João Pinheiro, Belo Horizonte, 2015. Disponível em: http://tede.fjp.mg.gov.br/handle/tede/356 Acesso em: 27 jul. 2020.
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• SILVA, Cláudia Cristiane dos Santos; LIMA, Manolita Correa. A percepção do estudante internacional sobre seu acolhimento em Instituições de Educação Brasileiras. In: FÓRUM DE GESTÃO DE ENSINO SUPERIOR NOS PAÍSES E REGIÕES DE LÍNGUA PORTUGUESA, 1., 2013, Maputo. Anais [...]. Maputo: [S.n.], 2013. Disponível em: https://www.aforges.org/wp-content/uploads/2017/03/C-Silva_M-Lima_A-percepcao-do- estudante.pdf Acesso em: 27 jul. 2020.
  » https://www.aforges.org/wp-content/uploads/2017/03/C-Silva_M-Lima_A-percepcao-do- estudante.pdf

• 3
  JITA: BH. Information needs and information requirements analysis

• RECONHECIMENTOS:

  Não é aplicável.

• FINANCIAMENTO:

  Este estudo foi financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -Brasil (CAPES).

• APROVAÇÃO ÉTICA:

  Não é aplicável.

• DISPONIBILIDADE DE DADOS E MATERIAL:

  Não é aplicável.

• 1
  Dissertação desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Gestão e Organização do Conhecimento da Escola de Ciência da Informação da UFMG, de 2015 a 2016, e defendida no início de janeiro de 2017.
• 2
  De acordo com a Divisão de Temas Educacionais e Língua Portuguesa (DELP), esse Programa foi implementado, oficialmente, em 1981, e oferece bolsas de estudo para estudantes nacionais de países em desenvolvimento com os quais o Brasil possui acordo de cooperação cultural e/ou educacional, tendo em vista a formação em cursos de Pós-Graduação strictu sensu em instituições brasileiras de Ensino Superior (DELP, 2021).
• 3
  Diz respeito ao Método Booleano de buscas, idealizado e implementado por George Boole. Nesse método de busca, o Or significa OU e, assim como no português, o “ou” tem a função de indicar escolha; assim, na lógica booleana, é quase a mesma coisa. And, traduzindo para o português, significa E. Assim como no português, o E é usado para a junção de ideias; na lógica booleana, é aplicado da mesma maneira (GOMES, 2020; MARTINS, 2009).

Disponibilidade de dados

Não é aplicável.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  09 Jun 2023
• Data do Fascículo
  2021

Histórico

• Recebido
  15 Abr 2021
• Aceito
  21 Jul 2021
• Publicado
  11 Set 2021