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Relações entre fluxo de informação e comportamento informacional de usuários em organizações formais uma revisão sistemática de literatura

RESUMO

O presente artigo busca identificar na literatura como se dão as relações entre fluxo de informação e comportamento informacional de usuários em organizações formais. Foi realizada uma Revisão Sistemática de Literatura (RSL) com intuito de responder duas questões de pesquisa definidas, por meio de um rigoroso protocolo, que contemplou a identificação da pesquisa, a seleção dos estudos, avaliação da qualidade dos estudos, extração e síntese dos dados. O método possibilita a replicação do processo e consequente verificação pelos pares. Permitiu identificar nas bases de dados Web of Science, Scopus e Google Scholar um total de 608 estudos, que após a aplicação dos critérios de seleção, resultou em seis estudos aprovados que relacionam os conceitos de fluxo de informação e de comportamento informacional em organizações. Destes estudos aprovados, quatro apresentam interferências diretas entre fluxo e comportamento. Embora nenhum estudo aprovado cite o conceito de organização formal, inferiu-se que alguns estudos ao tratarem de empresas e seus respectivos setores estão de forma implícita abordando organizações formais. Conclui-se que das seis publicações que atendiam ao objetivo proposto, quatro abordam o fluxo de informação como elemento passível de influenciar ou de sofrer influência do comportamento informacional em organizações. As relações entre fluxo e comportamento informacional em organizações formais possuem um diálogo limitado na literatura, evidenciando que tratar destas relações se constitui em algo relevante para o campo que visa propor soluções que envolva estes dois fenômenos em contextos organizacionais.

PALAVRAS-CHAVE:
Transferência da informação; Fluxo da informação; Comportamento do usuário; Ambiente organizacional; Revisões de literatura; Estudo de usuário

ABSTRACT

This paper seeks to identify in the literature how the relationships between information flow and informational behavior of users in formal organizations occur. A Systematic Literature Review (SLR) was performed in order to answer two defined research questions, through a rigorous protocol, which included the identification of the research, the selection of studies, evaluation of study quality, extraction and synthesis of data. The method enables process replication and subsequent peer verification. A total of 608 studies were identified in the Web of Science, Scopus and Google Scholar databases, which after applying the selection criteria resulted in six approved studies that relate the concepts of information flow and informational behavior in organizations. Of these approved studies, four have direct interference between flow and behavior. Although no approved study cites the concept of formal organization, it has been inferred that some studies dealing with companies and their respective sectors are implicitly addressing formal organizations. It is concluded that of the six publications that met the proposed objective, four address the flow of information as an element that can influence or be influenced by informational behavior in organizations. The relationships between flow and informational behavior in formal organizations are under explored in the literature. Analyzing the details of these relationships is relevant to the field that aims to propose solutions involving these two phenomena in organizational contexts.

KEYWORDS:
Information transfer; Information flow; Information users; Organizations; Literature reviews; User studies

1 INTRODUÇÃO

Na Ciência da Informação (CI) contemporânea, os processos de fluxos e circulação da informação têm sido cada vez mais objetos de análise. Compreender estes fluxos auxilia no atendimento das necessidades informacionais da sociedade em seus diversos contextos, que conforme Almeida et al. (2017), podem ser estudados sob a perspectiva da tríade informação, pessoas e tecnologia. Beal (2004BEAL, Adriana. Gestão estratégica da informação: como transformar a informação e a tecnologia da informação em fatores de crescimento de alto desempenho nas organizações. São Paulo: Atlas, 2004. p. 137.) coloca que a forma como os usuários lidam com a informação (buscam, usam, alteram, trocam, acumulam, ignoram) afeta profundamente a qualidade dos fluxos informacionais. Para além dos fluxos e da circulação, a relação da CI com as ciências do comportamento demonstra a interdisciplinaridade do campo, que aborda o estudo científico do comportamento humano em sua busca de informação e o modo de processá-la (HARMON, 1971HARMON, Glynn. On the evolution of information science (opinion paper). Journal of the American Society for Information Science - JASIS, v. 22, n. 4, p. 235-241, July- August 1971.; SARACEVIC, 1991SARACEVIC, Tefko. Information science: origin, evolution and relations. In: VAKKARI, P.; CRONIN, B., ed. Conceptions of Library and Information Science: historical and theoretical perspectives. In: International Conference held for the celebration of 20th Anniversary of the Department of Information Studies. Finland, University of Tempere. 1991. London, Taylor Graham, 1992. Proceedings... p.5-27.). Martínez-Silveira e Oddone (2007) e Gasque e Costa (2010GASQUE, Kelley Cristine Gonçalves Dias; COSTA, Sely Maria de Souza. Evolução teóricometodológica dos estudos de comportamento informacional de usuários. Ciência da Informação, Brasília, v.39, n.1, p.21-32, jan./abr., 2010.) colocam que as pesquisas sobre comportamento informacional, derivadas da disciplina Estudo de Usuários na CI, têm ampla literatura disponível. Neste sentido, observa-se o interesse em investigar as relações existentes entre fluxo de informação e comportamento informacional. Observa-se também a necessidade de identificar se existem, na literatura da CI, abordagens teórico-metodológicas de fluxo e comportamento informacional que se relacionam ou mantém um diálogo próximo. Assim, o objetivo deste artigo é identificar na literatura como se dão as relações entre fluxo de informação e comportamento informacional de usuários em organizações formais. Entende-se aqui organizações formais como uma extensão do conceito de organização. São organizações constituídas por uma estrutura, predeterminada ou preconcebida, para atender a um funcionamento pretendido em direção a uma finalidade prefixada, tendo como características uma hierarquia formalizada, o planejamento da divisão de trabalho e regulamentos sobre estrutura de funcionamento e controle (BRESCIANI FILHO; D’OTTAVIANO, 2004BRESCIANI FILHO, Ettore; D’OTTAVIANO, Itala Maria Loffredo. Auto-organização e criação. Revista Multiciência, Seção Interdisciplinar, A mente humana, v. 3, 2004.). Para tal, foram levantadas as seguintes questões:

  • Q1: Qual o panorama dos estudos que relacione os conceitos Fluxo de Informação e Comportamento Informacional?

  • Q2: Como são apresentadas as interferências entre Fluxo de Informação e Comportamento Informacional em organizações formais?

Para responder às questões foi utilizado o método de Revisão Sistemática de Literatura (RSL) proposto por Kitchenham (2004KITCHENHAM, Barbara. Procedures for Performing Systematic Reviews. Joint Technical Report, Computer Science Department, Keele University (TR/SE-0401) and National ICT Australia Ltd. NICTA Technical Report 0400011T.1, 2004.), que permite identificar toda a pesquisa relevante para uma questão específica, por meio de um rigoroso protocolo. Este método possibilita a replicação do processo por outro indivíduo e consequente verificação pelos pares. Assim, temse como premissa que o estudo contribua para maior entendimento das relações existentes entre fluxo de informação e comportamento informacional no contexto de organizações formais, por meio da identificação e análise da literatura existente.

O artigo está estruturado em seis seções, iniciado pela introdução à temática e exposição das questões que motivam esta pesquisa. A segunda e terceira seções abordam, respectivamente, conceitos de fluxo de informação e de comportamento informacional, apresentando como a literatura tem tratado esses termos. Na quarta e quinta seções, apresentase a RSL e suas etapas, bem como os resultados obtidos. Na sexta e última seção, são apresentadas as conclusões da pesquisa, suas limitações e questões para trabalhos futuros.

2 FLUXO DE INFORMAÇÃO

As tecnologias de informação que sustentam a comunicação nos ambientes em rede impulsionam diversas mudanças nas formas de representação e entendimento da informação.

O fluxo de informação gerado por esse novo contexto é caracterizado pela horizontalidade e pelo distanciamento do modo hierárquico de produção e transmissão de mensagens, seguindo um processo multidimensional, onde muitos transmitem mensagens para muitos, em um processo cíclico. A tecnologia digital criou uma dependência da sociedade para com as relações não corpóreas e "em outras palavras, o lado tecnológico da equação homem-tecnologia está em contínua expansão" (SARACEVIC, 1996SARACEVIC, Tefko. Ciência da informação: origem, evolução e relações. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 41-62, jan./jun. 1996. Disponível em: http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/view/235/22>. Acesso em: 05 de jun. 2017.
http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/in...
).

Com base em González de Gomez (2000GONZÁLEZ DE GOMÉZ, Maria Nélida. Metodologia da pesquisa no campo da Ciência da Informação. Datagramazero: Revista de Ciência da Informação, v.1, n. 6, dez/2000.), pode-se visualizar os processos de fluxos e circulação da informação em uma das “camadas” ou “estratos”, denominado de metainformacional, onde “se estabelecem as regras de interpretação e de distribuição, especificando o contexto em que a informação tem sentido”. A aplicabilidade da informação possibilita sua utilização e compreensão nos mais diversos ambientes organizacionais, sociais e individuais. Os fluxos e circulação da informação passam por um ciclo, que define as etapas e caminhos percorridos pela informação neste dado contexto. Este ciclo informacional é iniciado, conforme Tarapanoff (2006TARAPANOFF, Kira. Informação, conhecimento e inteligência em corporações: relações e complementaridade. In: TARAPANOFF, K. O. (Ed.). Inteligência, informação e conhecimento. Brasília: IBICT, 2006. p. 19-36. 2006.), quando se detecta uma necessidade informacional, um problema a ser resolvido, uma área ou assunto a ser analisado. É um processo que se inicia com a busca da solução a um problema, da necessidade de obter informações sobre algo, e passa pela identificação de quem gera o tipo de informação necessária, as fontes e o acesso, a seleção e aquisição, registro, representação, recuperação, análise e disseminação da informação, que, quando usada, aumenta o conhecimento individual e coletivo.

Figura 1
Etapas do ciclo informacional

A informação no ciclo pode ser entendida como uma sucessão de eventos de um processo de mediação, entre a geração da informação por uma fonte emissora, e a aceitação da informação pela entidade receptora, e ainda, que a ineficiência do fluxo informacional pode comprometer o sucesso do trabalho de organizações em diferentes áreas de atuação (BARRETO 1998BARRETO, Aldo. Mudança estrutural no fluxo de conhecimento: a comunicação eletrônica. Ciência da Informação, Brasília, v. 27, n. 2, 1998.; LE COADIC 2004LE COADIC, Yves-François. A ciência da informação. Brasília: Briquet de Lemos, 2004.; VIEIRA 2006VIEIRA, Eleonora Milano Falcão. Fluxo informacional como processo à construção de modelos de avaliação para implantação de cursos em educação a distância. Tese (Doutorado), 1v. 184f. Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento. UFSC, Florianópolis, 2006.; MARTINS 2011MARTINS, Jacqueline Alexandre. Fluxo de informação no processo de produção de material didático na EaD. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. UFSC, Florianópolis, 2011.).

Neste campo organizacional, Jamil (2001JAMIL, George Leal. Repensando a TI na empresa moderna. Rio de Janeiro: Axcel Books, 2001., p. 165) define fluxo de informação como "a transmissão de dados ou conjunto de dados através de unidades administrativas (...), organizações e profissionais, (...) para alguém que delas necessitam". Para Greef e Freitas (2012GREEF, Ana Carolina; FREITAS, Maria do Carmo Duarte; ROMANEL, Fabiano Barreto. Lean office operação, gerenciamento e tecnologias. São Paulo: Atlas, 2012.), fluxo de informação é uma sequência de eventos desde a geração da informação, por parte do emissor, até sua captação/assimilação pelo receptor, gerando conhecimento individual e coletivo.

O conceito de fluxo tem sido aperfeiçoado no decorrer dos anos, partindo da premissa inicial de transmissão de um conteúdo de um emissor para um receptor, para definições que mencionem outros elementos do processo (estado de conhecimento, mediação, ambiente e necessidades informacionais). Neste sentido, para dar uma visão evolutiva, apresenta-se alguns dos diversos conceitos de fluxo de informação publicados entre os anos de 1998 e 2017, conforme Quadro 1.

Quadro 1
Como o conceito de Fluxo de Informação evoluiu de 1998 a 2017

De acordo com o Quadro 1, o conceito de fluxo de informação origina-se com base na intenção de transmissão de conteúdo de um emissor para um receptor, no qual este conteúdo permite inovar um estado de conhecimento individual ou coletivo. No decorrer do tempo, diversos autores foram agregando termos ao conceito, como interação entre atores, transmissão de dados, disseminação da informação e mediação do processo de comunicação. O conceito adotado para esta pesquisa foi o apresentado por Inomata (2017INOMATA, Danielly Oliveira. Redes colaborativas em ambientes de inovação: uma análise dos fluxos de informação. 2017. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, 421 f. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017.), que define fluxo informacional como uma sucessão de eventos envolvendo um ponto inicial, uma mensagem e um destino para informação, dependente também de uma mecânica que envolve elementos (fontes e canais de informação, atores e tecnologias) e aspectos influentes (necessidades de informação, barreiras, velocidade da informação, facilitadores, e presença na rede).

3. COMPORTAMENTO INFORMACIONAL

No campo da CI, Wilson (2000WILSON, Thomas Daniel. Human information behavior. Informing Science Research, v.3, n.2, p. 49-55, 2000.) propõe que o comportamento informacional pode ser entendido como um campo oriundo das limitações dos estudos de usuários, podendo ser considerado uma evolução destes estudos. Gasque e Costa (2010GASQUE, Kelley Cristine Gonçalves Dias; COSTA, Sely Maria de Souza. Evolução teóricometodológica dos estudos de comportamento informacional de usuários. Ciência da Informação, Brasília, v.39, n.1, p.21-32, jan./abr., 2010.) citam que, em artigo publicado em 2000, Wilson apresenta quatro definições relacionadas ao comportamento informacional: (i) Comportamento informacional (information behaviour): a totalidade do comportamento em relação ao uso de fontes e canais de informação, incluindo a busca da informação passiva ou ativa; (ii) Comportamento de busca da informação (information-seeking behaviour): a atividade de buscar informação para atingir um objetivo; (iii) Comportamento de pesquisa de informação (information search behaviour): o nível micro de comportamento, onde o indivíduo interage com sistemas de informação; (iv) Comportamento de uso da informação (information use behaviour): conjunto dos atos físicos e mentais e envolve a incorporação da nova informação aos conhecimentos prévios do indivíduo.

Pettigrew et al. (2001PETTIGREW, Karen E.; FIDEL, Raya; BRUCE, Harry. Conceptual frameworks in information behavior. Annual Review of Information Science and Technology, v. 35, p. 43-78, 2001.) compreendem o comportamento informacional como as atividades que envolvem as necessidades dos sujeitos e a forma como eles buscam, usam e transferem a informação em diferentes contextos. Para os autores, a noção de contexto possui papel fundamental no entendimento das motivações e do comportamento do usuário de informações. Martínez-Silveira e Oddone (2007) colocam que, apesar de o contexto ter influência direta no processo de comportamento informacional, o que parece ser determinante, na percepção da necessidade, na escolha das fontes de informação e na decisão de efetivamente buscar a informação, não é exatamente a disponibilidade de recursos e sim os processos cognitivos. Por outro lado, Venâncio e Nassif (2008VENÂNCIO, Ludmila Salomão; NASSIF, Mônica Erichsen. O comportamento de busca de informação sob o enfoque da cognição situada: um estudo empírico qualitativo. Ciência da Informação, Brasília, v.37, n.1, p.95-106, jan./abr. 2008.) colocam que no comportamento de busca por informação, as abordagens cognitivistas mostram-se limitadas, uma vez que considera o usuário restritivamente como um indivíduo processador de informações, enfatizando a natureza individual de suas estruturas cognitivas, colocando em segundo plano as relações sociais e os contextos de ação nos quais ele está inserido.

Em 1981, Wilson concebeu um modelo de comportamento informacional inspirado nas necessidades fisiológicas, cognitivas e afetivas dos usuários. Martínez-Silveira e Oddone (2007) citam que o contexto dessas necessidades do modelo de Wilson seria configurado pelo próprio indivíduo, pelas demandas de seu papel na sociedade e pelo meio ambiente em que sua vida e seu trabalho se desenrolam. As barreiras que interferem na busca de informação surgiriam desse mesmo contexto.

Figura 2
Modelo de comportamento informacional de Wilson

Avançando nos estudos de comportamento informacional pela perspectiva da abordagem alternativa, tendo como base o paradigma cognitivo, surge o modelo de sensemaking, proposto por Brenda Dervin, em 1983. Para Costa et al. (2009COSTA, Lúcia Ferreira; SILVA, Alan Curcino; RAMALHO, Francisca Arruda. (Re) visitando os estudos de usuário: entre a tradição e o alternativo. DataGramaZero, Brasília, v.10, n.4, artigo 3. ago./2009.), este modelo considera o conjunto de premissas conceituais e teóricas para analisar como pessoas constroem sentido e como elas usam a informação e outros recursos nesse processo. Procura lacunas cognitivas e de sentido expressas em forma de questões que podem ser codificadas e generalizadas a partir de dados diretamente úteis para a prática da comunicação e informação.

Martínez-Silveira e Oddone (2007) esclarecem que o modelo de sense-making é composto pelos elementos situação, lacuna e resultado. A situação, inserida no tempo e espaço, seria o contexto no qual surge o problema informacional. A lacuna seria a distância entre a situação contextual e a situação desejada. O resultado representa a consequência do processo de sense-making.

Figura 3
Metáfora do modelo de sense-making de Dervin

Em 1989, Ellis elaborou um modelo do comportamento humano de busca informacional. Costa et al. (2009COSTA, Lúcia Ferreira; SILVA, Alan Curcino; RAMALHO, Francisca Arruda. (Re) visitando os estudos de usuário: entre a tradição e o alternativo. DataGramaZero, Brasília, v.10, n.4, artigo 3. ago./2009.) citam que o modelo de comportamento de busca de informação, proposto por Ellis, parte do pressuposto de que o processo de busca se dá por meio de aspectos cognitivos, constituído por etapas que não acontecem de forma sequencial, características gerais que não são vistas como etapas de um processo. Inicialmente, se baseia em seis categorias de análise: iniciar, encadear, vasculhar, diferenciar, monitorar e extrair. Posteriormente, esse modelo foi aperfeiçoado pelo próprio Ellis, em 1993, conjuntamente com Cox e Hall, que acrescentaram mais duas categorias ao modelo original, que são: verificar e finalizar. Assim, o modelo é composto por oito categorias.

Kuhlthau (1991KUHLTHAU, Carol Collier. Inside the search process: information seeking from the user’s perspective. Journal of the American Society for Information Science, v. 42, n. 5, p. 361371, 1991.), em seu modelo de Processo de Busca de Informação (ISP), acrescentou ao modelo de Ellis uma associação entre sentimentos, pensamentos e atitudes. Para Martínez-Silveira e Oddone (2007) a perspectiva do modelo é fenomenológica, não tanto cognitiva. As fases propostas por Kuhlthau são iniciação, seleção, exploração, formulação, coleta e apresentação. A iniciação, por exemplo, caracteriza-se por sentimentos de incerteza, idéias vagas sobre o tema. A atitude desta fase é simplesmente reconhecer a necessidade da informação. Outras atitudes pertinentes são identificar, investigar, formular, coletar e completar. O modelo de Kuhlthau sugere que o estado emocional inicial de incerteza, confusão e ambiguidade associado à necessidade de buscar informação vai sendo substituído por confiança e satisfação à medida que se avança na busca e na hipótese de que o indivíduo está obtendo sucesso.

Figura 4
Processo de busca de informação de Kuhlthau

Martínez-Silveira e Oddone (2007) citam que Wilson e Walsh realizaram uma revisão do modelo de comportamento informacional, em 1996, propondo conexões com outros domínios. Embora, como foco da necessidade informacional, o modelo tenha mantido “a pessoa em seu contexto”, houve a necessidade de incluir um estágio entre a pessoa e sua consciência da necessidade de informação: justamente o ponto chamado por Dervin de “lacuna” entre situação e o uso da informação. Para preencher este espaço, Wilson adotou o conceito de “mecanismo de ativação” (activating mechanism), proveniente da teoria do estresse/enfrentamento (stress/coping theory), que ajudou a explicar o motivo de algumas necessidades informacionais não se convertem em processos de busca.

Ainda na revisão de comportamento informacional, realizada por Wilson e Walsh, foi percebida outra fase intermediária, agora entre a consciência da necessidade informacional e a atitude requerida para satisfazê-la. Esta fase denominada de “variáveis intervenientes” foi definida por Wilson com base nos conceitos da teoria do risco/recompensa (risk/reward theory) e pode desencadear ou obstruir as iniciativas de busca de informação. As fontes, por exemplo, podem tornar-se barreiras ao processo de busca: ao investigar porque algumas fontes de informação são mais utilizadas do que outras, verifica-se que, quando há várias alternativas similares a escolher, os esforços de pesquisa são proporcionais às recompensas oferecidas em cada fonte (MARTÍNEZ-SILVEIRA; ODDONE, 2007MARTÍNEZ-SILVEIRA, Martha; ODDONE, Nanci. Necessidades e comportamento informacional: conceituação e modelos. Ciência da Informação, Brasília, v.36, n.1, p.118127, maio/ago., 2007.).

Visando agregar as abordagens direcionadas às necessidades, busca e uso da informação, Pereira (2008PEREIRA, Júlio César Lopes. Necessidade, busca e uso da informação: estudo de caso em um setor de help desk de industria cimenteira nacional. 2008. 130 p. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Escola de Ciência da Informação. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.) cita o modelo integrativo de Chun Wei Choo, no qual considera estudos anteriores:

Seu modelo leva em consideração os trabalhos de Wilson (1981, 1999), Dervin (1993), que se liga à dimensão cognitiva, com sua teoria de criação de sentido sensemaking, desenvolvida a partir de 1972, as reações emocionais que acompanham o processo de busca da informação, identificadas por Carol Kuhlthau (1991KUHLTHAU, Carol Collier. Inside the search process: information seeking from the user’s perspective. Journal of the American Society for Information Science, v. 42, n. 5, p. 361371, 1991.), e as dimensões situacionais do ambiente em que a informação é usada, propostas por Robert Taylor (1986). Segundo esse autor, as necessidades de informação são frequentemente analisadas com base nas necessidades cognitivas dos indivíduos - lacunas ou deficiências em um estado de conhecimento mental - que podem ser representadas por questões ou tópicos armazenados em sistemas de informação ou em outras fontes. (PEREIRA, 2008PEREIRA, Júlio César Lopes. Necessidade, busca e uso da informação: estudo de caso em um setor de help desk de industria cimenteira nacional. 2008. 130 p. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Escola de Ciência da Informação. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008., p. 30-31)

Na revisão de Pettigrew et al. (2001PETTIGREW, Karen E.; FIDEL, Raya; BRUCE, Harry. Conceptual frameworks in information behavior. Annual Review of Information Science and Technology, v. 35, p. 43-78, 2001.) sobre comportamento informacional, os autores identificam três abordagens relacionadas aos estudos: cognitiva - examina o comportamento do sujeito a partir do conhecimento, convicções e crenças; social - baseada nos significados e valores que os indivíduos atribuem aos vários contextos; multifacetada - integra múltiplas opiniões para a compreensão do comportamento informacional. Neste campo, Gasque e Costa (2010GASQUE, Kelley Cristine Gonçalves Dias; COSTA, Sely Maria de Souza. Evolução teóricometodológica dos estudos de comportamento informacional de usuários. Ciência da Informação, Brasília, v.39, n.1, p.21-32, jan./abr., 2010.) acrescentam que o comportamento informacional, compreendido como processo natural do ser humano no papel de aprendiz da própria vida, requer visão ampla do pesquisador. Exige, ainda, o entendimento das relações estabelecidas em determinado espaço-tempo, em que ocorrem ações de busca, uso e transferência de informação. Os indivíduos se engajam nessas ações quando têm necessidade de informação.

Dentre as várias abordagens apresentadas para o entendimento do comportamento informacional, o conceito adotado para a pesquisa é o colocado por Todd (2003TODD, Ross J. Adolescents of the information age: patterns of information seeking and use, and implications for information professionals. School Libraries Worldwide, v. 9, n. 2, p. 27-46, 2003.), que define como toda a conduta humana na busca de informação, sendo o estudo da interação entre pessoas, os vários formatos de dados, informação, conhecimento e sabedoria, nos diversos contextos em que interagem. O autor acrescenta que este estudo da conduta informacional humana remete a conceitos como contextos informacionais das pessoas, necessidades de informação, comportamentos de busca da informação, modelos de acesso à informação, recuperação e disseminação, processamento humano e uso da informação. Esta definição é baseada na crença de que a informação é essencial ao funcionamento e interação dos indivíduos, grupos sociais, organizações e sociedades e para melhorar a qualidade de vida. O que o fundamenta é a crença de que a informação tem o potencial para mudar o que as pessoas já conhecem e moldar suas decisões e ações.

4 MÉTODO

De acordo com Kitchenham (2004KITCHENHAM, Barbara. Procedures for Performing Systematic Reviews. Joint Technical Report, Computer Science Department, Keele University (TR/SE-0401) and National ICT Australia Ltd. NICTA Technical Report 0400011T.1, 2004.), a RSL é um meio de identificar, avaliar e interpretar toda a pesquisa disponível relevante para uma questão de pesquisa específica ou alguma temática de interesse. Algumas características diferenciam uma RSL de uma revisão convencional. Revisões sistemáticas: (1) definem um protocolo de revisão que especifica a questão de pesquisa e os métodos que serão utilizados para realizar a revisão; (2) são baseadas em uma estratégia de busca definida que visa detectar a parte da literatura relevante; (3) documentam sua estratégia de busca para que os leitores possam verificar seu rigor e integridade; (4) exigem critérios explícitos de inclusão e exclusão para avaliar um estudo primário potencial; e (5) especificam as informações a serem obtidas de cada estudo, incluindo critérios de qualidade para avaliar cada estudo primário.

A condução da RSL foi realizada seguindo as etapas propostas por Kitchenham (2004KITCHENHAM, Barbara. Procedures for Performing Systematic Reviews. Joint Technical Report, Computer Science Department, Keele University (TR/SE-0401) and National ICT Australia Ltd. NICTA Technical Report 0400011T.1, 2004.), contemplando a identificação da pesquisa, a seleção dos estudos, avaliação da qualidade do estudo, extração e síntese dos dados. Para responder as questões levantadas, foi definida a busca da literatura relevante em três bases de dados: Web of Science, Scopus e Google Scholar. Estas bases foram selecionadas por serem as três maiores bases de dados de documentos científicos de referência (UNIVERSITAT DE BARCELONA, 2014). A busca inicial foi realizada em maio de 2018 e atualizada em abril de 2020, considerando os estudos publicados entre os anos de 2007 a 2019 e utilizando as seguintes strings em português e inglês em qualquer local do artigo (título, resumo, palavra-chave e texto):

  • (("fluxo* informa*") OR ("fluxo* de informa*") AND ("comportamento informa*") OR ("busca informa*") OR ("busca* de informa*"))

  • ((("information* flow*") OR ("flow* of information*")) AND (("information* behav*") OR ("information* seek* behav*")))

Na realização da pesquisa foram definidos os critérios de inclusão e exclusão para seleção dos estudos encontrados (Quadro 2), bem como os critérios de qualidade para avaliação.

Quadro 2
Critérios de inclusão e exclusão

Na avaliação da qualidade, cada estudo aprovado é avaliado levando-se em conta a sua aderência ao responder às questões de pesquisa. Ao responder a uma questão de pesquisa, é atribuído ao estudo as respostas de “sim”, "parcial" ou "não", e pontuados, respectivamente, com os valores 1, 0,5 e 0. A pontuação da qualidade máxima é 21 pontos (100%) e da qualidade mínima de 12 pontos (aproximadamente 57%), sendo os estudos com valores inferiores a 12 pontos (57%) excluídos desta etapa.

5 RESULTADOS

Tendo como base o objetivo do estudo, os resultados da RSL serão apresentados com vistas em responder as questões de pesquisa.

•Q1: Qual o panorama dos estudos que relacione os conceitos Fluxo de Informação e Comportamento Informacional?

A partir das buscas nas bases de dados, foram recuperados um total de 608 estudos, sendo 146 com uso de strings em português e 462 com strings em inglês. Na recuperação foram identificados 40 estudos duplicados, ou seja, indexados em mais de uma base de dados. A Tabela 1 apresenta a distribuição destes estudos recuperados por base de dados e por ano de publicação.

Tabela 1
Distribuição dos estudos da pesquisa inicial por ano e por base

Na Tabela 1 verifica-se que o número total de estudos recuperados foi maior entre os anos de 2011 a 2019, com uma média de 54 estudos por ano. Nos resultados por base de dados, verifica-se que a base Scopus foi a de maior número de estudos recuperados com um total de 428 estudos, seguida da Web of Science com 160 estudos. Já a base Google Scholar recuperouse apenas 20 estudos na pesquisa inicial, sendo um destes estudos do ano de 2003, mesmo com a seleção do período definida entre 2007 a 2019. A Figura 5 apresenta os resultados da seleção dos estudos em cada uma de suas etapas.

Figura 5
Seleção dos estudos e suas etapas

Detalhadamente, a Figura 5 apresenta os resultados das etapas de seleção e de avaliação da qualidade dos estudos. Observa-se que, em cada etapa, os estudos que estavam enquadrados nos critérios de exclusão estabelecidos na RSL foram eliminados, resultando em um total de seis estudos aprovados que fazem relação direta dos conceitos de fluxo de informação e comportamento informacional.

A Tabela 2 apresenta a distribuição por ano e por base de dados dos estudos aprovados na RSL. Observa-se que cinco dos seis trabalhos aprovados estão concentrados nos cinco últimos anos do período selecionado. Apesar do baixo número de estudos aprovados, esta distribuição indica um interesse recente pelo assunto apresentado na questão de pesquisa.

Tabela 2
Distribuição dos estudos aprovados por ano e por base

Dentre os estudos aprovados, dois deles são considerados duplicados por terem sido recuperados nas duas bases de dados. Pode-se inferir que as duas bases foram as mais relevantes no que tange a recuperação de estudos relacionados com a questão da RSL. Já a base Google Scholar não apresentou nenhum estudo aprovado, sendo que dentre os estudos recuperados na pesquisa inicial, apenas um estudo desta base foi selecionado pelo título (etapa 1).

• Q2: Como são apresentadas as interferências entre Fluxo de Informação e Comportamento Informacional em organizações formais?

Dos seis estudos aprovados, quatro apresentam interferências diretas entre fluxo e comportamento informacional. O Quadro 3 apresenta as referências completas dos estudos aprovados para detalhamento.

Quadro 3
Referências completas dos estudos aprovados

Os estudos de Skec et al., Araújo et al., Al-Fedaghi e Sugahara apresentam dinâmicas de fluxos de informação e como estes fluxos podem influenciar ou sofrer influência do comportamento informacional em dado contexto.

Skec et al. apresentam uma pesquisa prática que busca identificar e representar as atividades de informação (comportamento informacional) individuais e de equipes, bem como a rede gerada pelo fluxo de informação ocorrido entre diferentes setores. A pesquisa foi realizada em duas empresas dos segmentos de energia e automobilístico com indivíduos ligados à área de desenvolvimento de produtos.

Araújo et al. fazem uma abordagem prática em três empresas visando analisar os fluxos de informação em projetos de inovação. Neste contexto é apresentado um modelo de fluxo informacional composto por duas dimensões (elementos e aspectos), no qual são verificados os fatores que influenciam os fluxos de informação. Dentre os fatores estão incluídos conceitos relacionados ao comportamento informacional, tais como: fontes de informação, determinantes de escolha e uso da informação e necessidades de informação.

Al-Fedaghi realiza uma abordagem teórica e propõe um modelo que integra conceitos de fluxo informacional e necessidades de informação. O modelo proposto representa o processo de busca de informação como um fluxo, detalhando-o em duas esferas (das necessidades e da informação) e realizando a integração dos aspectos psicológicos e informacional na busca por informação.

Sugahara discorre sobre a importância da troca de informações no ambiente organizacional para que os fluxos formais (estruturados) e informais (não estruturados) sejam efetivados. Aborda o comportamento informacional no que tange ao compartilhamento de informações e a importância dos fluxos para a construção de conhecimento individual e coletivo. Por meio de um estudo de caso apresenta o fluxo de troca de informações entre especialistas que trabalham em uma rede têxtil.

Os demais estudos aprovados não apresentam claramente interferências entre fluxo e comportamento informacional. Eles focam exclusivamente em um determinado conceito, ou somente em fluxo de informações ou somente em comportamento informacional. No caso do estudo de Teixeira e Valentim é apenas mencionada uma integração, não podendo ser considerada como uma evidência de interferência.

Embora nenhum estudo aprovado cite o conceito de organização formal, infere-se que alguns estudos ao tratarem de empresas e seus respectivos setores estão de forma implícita abordando organizações formais. Neste sentido, os estudos de Cunha et al., Skec et al., Araújo et al. e Sugahara foram realizados tendo como campo de aplicação organizações de diversos segmentos.

Cunha et al. realizou o estudo em uma empresa do ramo de telefonia celular, entrevistando o gerente/coordenador dos setores de Business Intelligence (BI), negócios e produtos. Já Skec et al. explorou os diferentes aspectos relacionados à informação em equipes de desenvolvimento de produtos de duas empresas dos segmentos de energia e automobilístico. Araújo et al. analisou os fluxos de informação das equipes envolvidas em projetos de inovação de três organizações com as seguintes características: tecnologia da informação para agronegócio; fundação sem fins lucrativos de pesquisa & desenvolvimento; grupo de pesquisa de pós-graduação universitária. Sugahara analisou a troca/compartilhamento de informações entre pessoas que trabalham em organizações da cadeia produtiva têxtil (fiação, beneficiamento, tecelagem e confecção) no entorno da cidade de Americana/São Paulo-Brasil.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme o objetivo deste estudo de identificar como se dão as relações entre fluxo de informação e comportamento informacional de usuários em organizações formais, bem como das questões de pesquisa (Q1 e Q2) feitas para responder a esta necessidade, foram obtidas seis publicações que atendiam a demanda por meio da metodologia de estudo de RSL. Esta metodologia se mostrou bastante adequada dentro da necessidade de explorar no contexto da literatura disponível os estudos relevantes que abordam a questão de interesse.

No que tange a recuperação dos estudos, observa-se que na pesquisa inicial, a base Scopus foi a de maior recuperação de estudos, sendo 420 estudos com uso de strings em inglês e oito estudos com strings em português. Já a base Web of Science recuperou 137 estudos com uso de strings em português e 23 estudos com strings em inglês. Na base Google Scholar foram recuperados um total de 20 estudos, sendo 19 com strings em inglês e um com strings em português. Em resumo, a base Scopus foi a que obteve melhor resposta de recuperação na pesquisa inicial, com destaque para o uso de strings em inglês. Já na seleção de estudos aprovados as bases Web of Science e Scopus foram as mais relevantes, tendo maior número de estudos aprovados relacionados com as questões de pesquisa.

Quanto ao tipo, identificou-se estudos de cunho teórico e prático com as abordagens direcionadas a ambientes organizacionais e que podem ser entendidos como organizações formais por tratarem de empresas e seus respectivos setores. Os estudos práticos são realizados em diferentes contextos como telecomunicações, energia, tecnologia da informação, industria têxtil, dentre outros.

Dentre os trabalhos aprovados, em particular os de cunho prático, Cunha et al. e Araújo et al. fizeram uso da abordagem qualitativa e de entrevistas como instrumento de coleta de dados, tendo estes o português como idioma. O trabalho de Skec et al., publicado em inglês, fez uso da amostragem de trabalho com utilização de smartphones como método de coleta de dados para análise. Já Sugahara fez uso de questionário para coleta de dados e da análise de rede social para demonstrar o fluxo de troca de informações entre indivíduos.

Na identificação de teorias ou modelos para fluxo de informações, os conceitos de Valentim (2010VALENTIM, Marta Ligia Pomim. Ambientes e fluxos de informação. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010.) relativos a fluxos de informações (formais e informais) em organizações e suas respectivas etapas são mencionados nos estudos de Teixeira e Valentim, Cunha et al., Araújo et al. e Sugahara. Em sequência, Cunha et al. e Araújo et al. fazem referência à Beal (2004BEAL, Adriana. Gestão estratégica da informação: como transformar a informação e a tecnologia da informação em fatores de crescimento de alto desempenho nas organizações. São Paulo: Atlas, 2004. p. 137.) e seu modelo de fluxo de informações voltado para organizações. Estes resultados indicam que, no contexto brasileiro, as autoras possuem relevância de contribuições conceituais nesta temática.

Quanto à identificação de teorias ou modelos para comportamento informacional, dentre os estudos aprovados, não houve consenso de modelos referenciados. Especificamente quatro estudos fizeram menção à modelos de comportamento, citando as proposições de Choo (Teixeira e Valentim, Sugahara), Wilson (Skec et al.) e Ellis (Al-Fedaghi).

De forma geral identifica-se nesta pesquisa que as relações entre fluxo e comportamento informacional em organizações formais possuem um diálogo limitado na literatura, no que tange às possíveis influências ou interferências entre os conceitos. Sendo assim, evidencia-se que tratar das relações entre estes conceitos em organizações se constitui em algo relevante para o campo, uma vez que são escassas as publicações que aprofundem esta inter-relação com vistas à propor soluções que envolva estes fenômenos em processos organizacionais.

No contexto da literatura de RSL, esta pesquisa apresenta as seguintes limitações: as bases digitais selecionadas podem não contemplar a literatura científica na totalidade, uma vez que alguns periódicos e seu respectivo conteúdo (artigos) podem não estar indexados nas bases; o fato de ter sido realizada em bases digitais, que recuperam, em maioria, estudos publicados em formato de artigos. Kitchenham (2004KITCHENHAM, Barbara. Procedures for Performing Systematic Reviews. Joint Technical Report, Computer Science Department, Keele University (TR/SE-0401) and National ICT Australia Ltd. NICTA Technical Report 0400011T.1, 2004., 2007) sugere que para evitar tal fato, deve-se investigar também a literatura cinzenta. Vislumbra-se como complementação desta RSL a construção da rede de referências dos estudos aprovados, por meio do método de análise de citações em conjunto com a análise de redes sociais, permitindo uma visualização mais clara de conexões entre autores utilizados como referência nos estudos.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Set 2023
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    27 Dez 2019
  • Aceito
    29 Abr 2020
  • Publicado
    11 Jun 2020
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