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Compreensão da vivência de mulheres em situação de rua* * Extraído da dissertação "Viver em situação de rua: experiência de mulheres que utilizam o albergue para pernoitar", Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem, 2015.

Resumo

OBJETIVO

Compreender a vivência de mulheres em situação de rua.

MÉTODO

Pesquisa fenomenológica social realizada com 10 mulheres assistidas por um albergue. A análise das entrevistas ancorou-se no referencial teórico da fenomenologia social de Alfred Schütz e literatura temática.

RESULTADOS

As participantes enfrentam adversidades no contexto da rua, com destaque para o risco de violência física e sexual, e buscam o albergue como possibilidade de minimizar as dificuldades vivenciadas. Elas têm como expectativa sair da rua, porém se veem presas a esta realidade social em virtude do vício em álcool e outras drogas.

CONCLUSÃO

A compreensão da vivência de mulheres em situação de rua aponta enfrentamentos cotidianos e revela o conflito entre o desejo de sair e permanecer na rua, dada a complexidade da realidade que as mantém nesta condição.

Descritores
Mulheres; Pessoas em Situação de Rua; Vulnerabilidade Social; Pesquisa Qualitativa

Abstract

OBJECTIVE

To understand the life experience of homeless women.

METHOD

A social phenomenological study was conducted with 10 women assisted by a shelter. The analysis of the interviews was based on the theoretical framework of social phenomenology of Alfred Schütz and thematic literature.

RESULTS

The participants face adversities in the street context, with emphasis on the risk of physical and sexual abuse, and seek shelters as a possibility for minimizing difficulties experienced. They hope to leave the streets; however, they see themselves trapped in this social reality, due to the addiction to alcohol and other drugs.

CONCLUSION

The understanding of the life experience of homeless women shows daily confrontations and reveals the conflict between the desire for leaving and remaining on the streets, given the complexity of the reality that keeps them in this condition.

Descriptors
Women; Homeless Persons; Social Vulnerability; Qualitative Research

Resumen

OBJETIVO

Comprender la vivencia de mujeres en situación de calle.

MÉTODO

Investigación fenomenológica social realizada con 10 mujeres asistidas por un albergue. El análisis de las entrevistas se ancló en el marco de referencia teórico de la fenomenología social de Alfred Schütz y la literatura temática.

RESULTADOS

Las participantes enfrentan adversidades en el contexto de la calle, con énfasis para el riesgo de violencia física y sexual, y buscan el albergue como posibilidad de minimizar las dificultadas vividas. Ellas tienen como expectación salir de la calle, pero se ven presas a dicha realidad social en virtud de la adicción al alcohol y a otras drogas.

CONCLUSIÓN

La comprensión de la vivencia de mujeres en situación de calle señala enfrentamientos cotidianos y desvela el conflicto entre el deseo de salir y permanecer en la calle, en virtud de la complejidad de la realidad que las mantiene en dicha condición.

Descriptores
Mujeres; Personas sin Hogar; Vulnerabilidad Social; Investigación Cualitativa

Introdução

Morar na rua configura-se como um problema global evidenciado tanto em nações desenvolvidas como nas que estão em desenvolvimento, principalmente em centros urbanos de médio e de grande porte. Entretanto, constitui-se um desafio quantificar esta população e estabelecer definições sobre o que consiste estar em situação de rua, considerando-se as diferentes realidades de cada país. Na União Europeia, o percentual desta população tem apresentado um aumento na última década, sendo que apenas Finlândia e Holanda apresentaram uma redução nesse período11 Fazel S, Geddes JR, Kushel M. The health of homeless people in high-income countries: descriptive epidemiology, health consequences, and clinical and policy recommendations. Lancet. 2014;384(9953):1529-40..

Nos Estados Unidos da América (EUA) evidenciou-se que em janeiro de 2015 havia 564.708 pessoas sem moradia. Dessas, 389.649 estavam desabrigadas, utilizando programas de abrigos de emergência ou alojamentos provisórios e 175.059 pessoas viviam em locais degradados, como embaixo de pontes e marquises, prédios abandonados, carcaças de automóveis, entre outros22 United States Department of Housing and Urban Development. The 2015 Annual Homeless Assessment Report to (AHAR) Congress. Part 1: Point-in-time Estimates of Homelessness [Internet]. Philadelphia; 2015 [cited 2016 Feb 19]. Available from: Available from: https://www.hudexchange.info/resources/documents/2015-AHAR-Part-1.pdf
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.

No Brasil, o senso mais recente sobre população em situação de rua foi realizado em 2015, na cidade de São Paulo. Este registrou 15.905 pessoas nessa condição, número preocupante se comparado aos dados de 2000, cujo quantitativo era de 8.706 pessoas. A pesquisa reafirmou o predomínio do sexo masculino nessa população, perfazendo 82% do total33 São Paulo (Cidade). Prefeitura de São Paulo; Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social. Censo da população em situação de rua na municipalidade de São Paulo [Internet]. São Paulo; 2015 [citado 2016 fev. 19]. Disponível em: Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/assistencia_social/observatorio_social/2015/censo/FIPE_smads_CENSO_2015_coletivafinal.pdf
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A vida nas ruas faz com que as pessoas, cotidianamente, se deparem com uma diversidade de situações que envolvem desafios, como o acesso à alimentação e ao transporte, dificuldades financeiras, vícios e estigma social44 Crawley J, Kane D,Atkinson-Plato L, Hamilton M,Dobson K,Watson J. Needs of the hidden homeless - no longer hidden: a pilot study. Public Health. 2013;127(7):674-80.. Embora em menor número, a mulher em situação de rua se torna mais vulnerável por viver em um contexto permeado por preconceitos, violência, desigualdade de gênero e de direitos sociais55 Rosa AS, Bretas ACP. Violence in the lives of homeless women in the city of São Paulo, Brazil. Interface (Botucatu). 2015;19(53):275-85..

Em relação às políticas públicas sociais, no Brasil, o albergue configura-se como a principal estratégia destinada ao abrigo e atendimento às necessidades da população de rua. Este equipamento social, além de estar disponível para os desabrigados, deve oferecer um ambiente acolhedor onde essas pessoas se sintam seguras. Nesse sentido, pesquisa realizada no Canadá mostrou que os participantes se sentiam gratos por contarem com o apoio do albergue, o qual representava um teto e um lugar que podiam atender às suas necessidades de alimentação e repouso66 Palepu A, Hubley AM, Russell LB, Gadermann AM, Chinni M. Quality of life themes in Canadian adults and street youth who are homeless or hard-to-house: a multi-site focus group study. Health Qual Life Outocomes. 2012;10:93.

O Brasil tem avançado também no sentido de incentivar a implementação de políticas públicas de saúde para a população em situação de rua, em consonância com as diretrizes da atenção básica, a exemplo dos Consultórios na Rua77 Brasil. Ministério da Saúde; Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Saúde da população em situação de rua: um direito humano. Brasília: MS; 2014.. O desafio posto, entretanto, está na viabilização da implantação desses consultórios, no sentido de as equipes de saúde conseguirem atuar sobre as singularidades inscritas neste público, com vistas a efetivar os direitos à saúde para este grupo social88 Santana C. Consultórios de rua ou na rua? Reflexões sobre políticas de abordagem à saúde da população de rua. Cad Saúde Pública. 2014;30(8):1798-800.

Estudos nacionais e internacionais abordam diversos aspectos que perpassam a questão da saúde das pessoas em situação de rua, com destaque para as dificuldades de acesso aos serviços de saúde99 Barata RB, Carneiro JN, Ribeiro MCSA, Silveira C. Health social inequality of the homeless in the city of São Paulo. Saude Soc. 2015;24 Suppl 1:219-32. -1010 Weber M, Thompson L, Schmiege SJ, Peifer K, Farrell E. Perception of access to health care by homeless individuals seeking services at a day shelter. Arch Psychiatr Nurs. 2013;27(4):179-84.; significados e práticas de saúde/doença99 Barata RB, Carneiro JN, Ribeiro MCSA, Silveira C. Health social inequality of the homeless in the city of São Paulo. Saude Soc. 2015;24 Suppl 1:219-32. ,1111 Aguiar MM, Iriart JAB. Significados e práticas de saúde e doença entre a população em situação de rua em Salvador, Bahia, Brasil. Cad Saúde Pública . 2012;28(1):115 ; uso de drogas1212 Riley ED, Shumway M, Knight KR, Guzman D, Cohen J, Weiser SD. Risk factors for stimulant use among homeless and unstably housed adult women. Drug Alcohol Depend. 2015;153:173-9.-1313 Rhoades H, Wenzel SL, Golinelli D, Tucker JS, Kennedy DP, Green HD, et al. The social context of homeless men's substance use. Drug Alcohol Depend. 2011;118(2-3):320-5. e desordens psiquiátricas1414 Bonugli R, Lesser J, Escandon S. The second thing to hell is living under that bridge: narratives of women living with victimization, serious mental illness, and in homelessness. Issues Ment Health Nurs. 2013;34(11):827-35.-1515 Nielsen SF, Hjorthoj CR, Erlangsen A, Nordentoft M. Psychiatric disorders and mortality among people in homeless shelters in Denmark: a nationwide register-based cohort study. Lancet. 2011; 377(9784):2205-14. .

Sobre a experiência de viver em situação de rua, a literatura aponta que esta é perpassada pelo uso das drogas como fator desestruturante na vida dessas pessoas1616 Donoso MTV, Bastos MAR, Faria CRD, Costa AA. Estudo etnográfico sobre pessoas em situação de rua em um grande centro urbano. REME Rev Min Enferm. 2013; 17(4):894-909. . Em relação à mulher, pesquisa norte-americana ressaltou que a experiência das participantes em situação de rua reflete a violência pregressa vivenciada desde a infância - abuso físico e emocional, maus-tratos, exploração financeira, intimidação sexual, estresse ambiental, exposição ao crime e subjugação sistemática - que subsiste na realidade social das ruas1717 Lewinson T, Thomas ML, White S. Traumatic transitions homeless women's narratives of abuse, loss, and fear. Affilia J Women Soc Work. 2014;29(2):192-205..

Dada a estreita relação deste grupo populacional com as iniquidades sociais em saúde, denota-se a importância de a Enfermagem se aproximar deste público-alvo no campo prático e também da pesquisa. Espera-se, desse modo, que ao se propor tal movimento esta área de conhecimento sustente suas ações em evidências científicas, com vistas a qualificar o cuidado e a assistência a essa clientela.

Partindo-se do pressuposto de que o conhecimento da subjetividade inscrita na experiência de mulheres em situação de rua auxiliará os profissionais de saúde no seu atendimento, as seguintes questões nortearam a pesquisa: Como é para as mulheres viver em situação de rua? e Considerando-se o fato de estarem em situação de rua, quais as expectativas dessas mulheres para suas vidas? Para responder a estas questões, este estudo teve como objetivo compreender a vivência de mulheres em situação de rua.

Método

Pesquisa qualitativa fundamentada nos seguintes pressupostos da Fenomenologia Social de Alfred Schütz1818 Schütz A. Sobre fenomenologia e relações sociais: Alfred Schütz. Trad. De Wagner HTR. Petrópolis: Vozes; 2012.: mundo da vida, situação biográfica, intersubjetividade, acervo de conhecimentos e ação social.

Realizou-se o estudo em um Albergue de uma cidade de médio porte de Minas Gerais, Brasil, que promove o acolhimento provisório institucional noturno para a população adulta (a partir dos 18 anos) e que reside no município há mais de 1 ano. O albergue funciona das 19 às 07 horas, oferecendo 134 vagas para homens e 16 para mulheres. A forma de o cidadão em situação de rua acessar o serviço é por demanda espontânea e encaminhamento pelo Centro de Referência de Apoio Social, Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua, Centro de Apoio Psicossocial e outros serviços socioassistenciais. Este equipamento social possibilita aos albergados pernoitar, realizar a higiene corporal, alimentar-se e ter acompanhamento social.

O responsável pelo Albergue Municipal autorizou a pesquisa. Para ter acesso às possíveis participantes, a pesquisadora compareceu diariamente ao cenário do estudo no momento em que as mulheres chegavam para pernoitar. Às participantes foi garantida a escolha de entrar no albergue 1 hora antes do habitual para a realização da entrevista, com a finalidade de não prejudicar a rotina de cuidados oferecidos pelo albergue. Nenhuma delas utilizou esse benefício.

Estabeleceram-se como critério de inclusão ser mulher e viver em situação de rua, e de exclusão, estar sob o efeito de substâncias (álcool e/ou drogas) que poderiam interferir na concessão do depoimento.

Anteriormente à entrevista, foi explicado a cada mulher o objetivo da pesquisa e solicitada sua participação voluntária. As que concordavam eram encaminhadas para uma sala reservada, destinada à entrevista. As participantes tiveram liberdade para escolher o momento de prestar o depoimento, sendo todos concedidos após o banho e o jantar, mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Não houve recusa em participar do estudo.

A coleta de dados foi realizada nos meses de maio e junho de 2015, a partir das seguintes questões: como é para você viver na rua? Quais suas expectativas, considerando que você vive na rua? As entrevistas foram gravadas em áudio MP3 e tiveram duração média de 40 minutos. Os depoimentos foram transcritos pela pesquisadora de forma a preservar o conteúdo integral das falas.

Encerrou-se a coleta dos dados quando os objetivos da pesquisa foram alcançados. A convergência dos resultados se deu na oitava entrevista. Para fins de confirmação da saturação teórica, estendeu-se a coleta até o décimo depoimento1919 Fontanella BJB, Luchesi BM, Saidel MGB, Ricas J, Turato EB, Melo DG. Amostragem em pesquisas qualitativas: proposta de procedimentos para constatar saturação teórica. Cad Saúde Pública . 2011;27(2):388-94. , culminando na totalização de dez participantes. A fim de garantir o anonimato, as participantes foram identificadas com a letra "M" (Mulher), seguida dos números arábicos correspondentes à ordem em que as entrevistas foram sendo realizadas (M1 a M10).

A análise dos dados foi realizada a partir de passos sugeridos por pesquisadores da fenomenologia social2020 Jesus MCP, Capalbo C, Merighi MAB, Oliveira DM, Tocantins FR, Rodrigues BMRD, et al. The social phenomenology of Alfred Schütz and its contribution for the nursing. Rev Esc Enferm USP. 2013;47(3):736-4. : leitura criteriosa de cada depoimento, seleção de unidades de significado acerca da vivência das mulheres em situação de rua e agrupamento dessas unidades para compor as categorias concretas que congregam os "motivos porque" e "motivos para" da ação vivenciada. A discussão dos resultados foi realizada tendo como fio condutor a fenomenologia social de Alfred Schütz e a literatura relacionada à temática.

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, sob o Parecer nº 952.239, de 09 de fevereiro de 2015.

Resultados

A situação biográfica das participantes expressa uma média de idade de 29,6 anos, sendo mínima de 22 e máxima de 44 anos. A maioria possui o ensino fundamental incompleto, seis são solteiras e as demais convivem com o companheiro, também morador de rua. Sete têm filhos que moram com familiares ou foram para adoção. A maioria encontra-se envolvida com o tráfico de drogas, prostituição, e em alguns casos coletando material para reciclagem e fazendo malabarismo no trânsito para obter algum tipo de renda. A média do tempo em situação de rua é de 7,4 anos, sendo o mínimo de 1,5 e o máximo de 32 anos. Salienta-se que o grupo estudado utiliza o albergue esporadicamente, uma vez que a entrada neste equipamento social se dá de modo espontâneo.

A compreensão da vivência de mulheres em situação de rua fez emergir categorias que remetem aos "motivos porque": Enfrentamentos vivenciados no cotidiano da rua e A busca pelo albergue. A categoria que trouxe os "motivos para" foi designada como Da expectativa à realidade.

Enfrentamentos vivenciados no cotidiano da rua

A impossibilidade de higienização e repouso é uma dificuldade enfrentada pelas mulheres que vivem em situação de rua:

(...) essa vida na rua é muito cansativa, aqui a gente tem que levantar muito cedo. Queria descansar, tomar outro banho durante o dia. Tenho que ficar o dia inteiro andando, fico com o corpo doendo (M1).

(...) o problema é que a gente menstrua e aí vem a questão da higiene, e, se não tiver albergue, você fica semanas sem tomar banho, com roupa suja, porque não dá para ficar lavando (M7).

O enfrentamento das condições climáticas torna a situação de rua ainda mais difícil para elas:

(...) com a noite tem o frio. Quando amanhece a manta está toda molhada de sereno. E, se tiver ventando, não tem jeito, o frio vem que vem (M4).

(...) quando a gente está na rua, o frio castiga (...) (M10).

A questão da vulnerabilidade à violência física, sexual e o convívio com as drogas foram enfatizados pelas participantes como situações a serem enfrentadas na rua:

(...) tenho medo principalmente da violência, a gente não sabe o que pode acontecer, tem muita gente ruim, eu tenho medo de vândalos e dos outros moradores de rua também, porque tem uns que gostam de brigas, drogas (M6).

Não é mole dormir na rua, e tem uns caras aí que são abusados na madrugada, vem querer pegar a gente à força (M5).

Algumas mulheres referem-se ao estado de solidão e sentimento de culpa por estarem longe dos filhos e familiares:

(...) tem dia que eu me sinto muito sozinha, meu marido ficou internado porque levou uma surra na rua (...) (M3).

(...) eu paro para pensar e tenho saudade da minha família e dos meus filhos, nem quero falar sobre isso (M8).

A busca pelo Albergue

O Albergue emerge na fala das mulheres como o principal suporte para suprir suas necessidades básicas como alimentação, higiene e repouso noturno:

(...) se não fosse o albergue, eu nem sei o que seria de mim. (...) é um lugar bom para descansar, para chegar, ficar quieta no seu canto e dormir, além do banho e da comida (M2).

(...) quando eu estou a fim de descansar, eu venho para o albergue. Aqui você dorme, toma banho e janta. Aqui eu sei que eu estou sendo preservada. (...) na rua, você não descansa, é tenso, porque você tem que ficar ligada (M3).

Algumas participantes revelam que o albergue nem sempre atende às suas demandas devido à rigidez das normas institucionais. Ademais salientam que este equipamento não impede as ações violentas entre as mulheres as quais, diferentemente dos homens, não são monitoradas quanto ao porte de armas e drogas quando da entrada na instituição:

(...) já dormi muito na rua por causa da burocracia de horário do albergue, meu trabalho é de malabarismo no trânsito e, às vezes, não dá tempo de chegar no albergue na hora da entrada (M7).

(...) se eu brigar com alguma mulher na rua e eu ver que ela vai dormir aqui, eu rapo fora, não fico não, porque eu sei que ela pode me pegar à noite. Já entrei com faca várias vezes para o meu marido e ninguém nunca pegou. Entro com droga e poderia entrar com arma, porque aqui não tem revista na gente como acontece com os homens (M3).

Da expectativa à realidade

Os depoimentos das mulheres revelam o desejo de se livrar da dependência do álcool e outras drogas, ter um lugar privado para morar e resgatar o convívio familiar:

(...) quero caçar uma internação para me livrar do crack, arrumar uma casinha e buscar os meus filhos para morar comigo. É isso que vou conseguir (M4).

Penso em parar de beber e sair da rua. (...) quero arrumar meus documentos e me inscrever para ganhar o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida (M9).

Além disso, no âmbito da macroestrutura social, as mulheres esperam ter oportunidade de inserirem-se no mundo do trabalho, a partir do qual vislumbram um futuro melhor para si:

(...) quero trabalhar, sair dessa vida. Tenho vontade de morar sozinha de novo, ter minhas coisas, porque eu já trabalhei. Penso em trabalhar para ter um futuro na vida, porque isso aqui não é futuro não (...) (M1).

As expectativas anteriormente descritas pelas participantes figuram como desejos difíceis de serem realizados em virtude dos diversos aspectos que contribuem para sua manutenção nas ruas. Nesse sentido, o uso de álcool e outras drogas, assim como o tráfico se revelam como importantes motivos para a permanência dessas mulheres nas ruas:

(...) hoje eu trafico pedra, consigo tirar uma renda boa para que eu possa comprar as minhas coisas de uso pessoal, drogas e coisas para levar para o meu marido comer no hospital (M3).

(...) uso maconha, porque eu fico mais relaxada, mas eu uso muito álcool também (M8).

A prostituição também se mostra como um meio que a mulher encontra para sobreviver nas ruas:

(...) quando eu estava com o meu ex-marido, que também fica na rua, eu não precisava andar com ninguém porque ele comprava as coisas, mas agora estou sozinha e não consigo arrumar emprego, então tenho que me prostituir (M1).

(...) tem hora que eu sinto nojo de mim mesma em ser prostituta, bate uma depressão, mas depois passa, pois esse é o jeito que eu achei para ganhar dinheiro na rua. (M10).

Discussão

Considera-se como limitação deste estudo o fato de ter sido realizado com mulheres em situação de rua que pernoitam em um albergue, o que remete a um grupo que conta com este equipamento de apoio social que pode ter interferido na experiência de vivenciar a situação de rua pelas participantes. A ausência deste aporte, bem como a realização da pesquisa em outras realidades podem trazer novas perspectivas de interpretação para a experiência da mulher em situação de rua, o que impede a generalização dos resultados.

A perspectiva da fenomenologia social trouxe como contribuições a possibilidade de acessar a intersubjetividade que permeia o cotidiano das mulheres em situação de rua, revelando questões complexas e conflituosas vivenciadas nesse contexto social. Tal complexidade requer o direcionamento de olhares e práticas que auxiliem no atendimento das necessidades biopsicossociais deste público.

A ação em pauta das mulheres estudadas - vivenciar a situação de rua - é explicitada pelos motivos existenciais, revelados no processo de enfrentamento das adversidades da rua e na busca do albergue como possibilidade de minimizar as dificuldades inscritas neste contexto (motivos porque). Esses motivos incluem também o conflito entre o desejo de saírem da rua e ao mesmo tempo se verem presas a esta realidade social (motivos para).

Ao trazer à tona suas vivências na situação de rua, as mulheres revelam as condições adversas que enfrentam em seu cotidiano, marcado por riscos e vulnerabilidades, que se expressam cotidianamente na situação biográfica em que se encontram. As participantes apontam a falta de infraestrutura na rua para atender às suas necessidades básicas, com destaque para as relacionadas ao universo feminino.

Uma investigação realizada em São Francisco, EUA, com 260 pessoas, das quais 70% eram mulheres, também destacou a falta de infraestrutura das ruas, ao revelar que aproximadamente metade das participantes não conseguia suprir suas necessidades de higiene, alimentação e repouso. Para ter estas necessidades atendidas, 46% delas dormiam em abrigos1212 Riley ED, Shumway M, Knight KR, Guzman D, Cohen J, Weiser SD. Risk factors for stimulant use among homeless and unstably housed adult women. Drug Alcohol Depend. 2015;153:173-9..

As condições climáticas também foram citadas pelas participantes como outro aspecto enfrentado no cotidiano da rua. Pesquisa conduzida em Toronto, Canadá, mostrou que algumas mulheres em situação de rua associaram suas condições precárias de saúde à exposição ao frio intenso e às constantes noites mal dormidas2121 Waldbrook N. Formerly homeless, older women's experiences with health, housing, and aging. J Women Aging. 2013;25(4):337-57. .

Outra questão referida pelas mulheres diz respeito às situações de violência vivenciadas, que incluem disputa por drogas, atitudes intolerantes em relação aos moradores de rua, além da violência sexual. Salienta-se que as relações intersubjetivas estabelecidas no mundo social das mulheres que vivem nas ruas são perpassadas pelo potencial risco de serem violentadas, em virtude da situação biográfica em que se encontram.

Em Ottawa, Canadá, uma pesquisa revelou que durante os primeiros meses da experiência de viver nas ruas as mulheres apontaram o estupro como o maior medo vivenciado nesta realidade, sobretudo pelas mais jovens. Como estratégias de autoproteção para a convivência com os pares e outras pessoas estranhas, indicaram dormir em grupo quando estão ao ar livre, além de portar armas2222 MacDonald SA. Managing risk: self-regulation among homeless youth. Child Adolesc Soc Work J. 2014;31(6):497-520..

Estudo realizado em São Paulo, Brasil, mostrou que especialmente as mulheres que pernoitam na rua sofrem violência física praticada por pessoas ou grupos intolerantes com a situação vivida por elas. Também foi apontada a violência, de cunho higienista, praticada por policiais, indivíduos contratados por comerciantes ou moradores que se sentem prejudicados pela presença das pessoas em situação de rua nos arredores dos domicílios, comércios, monumentos e cartões postais da cidade. A violência sexual foi relatada com frequência, sendo praticada quase sempre por homens, moradores de rua ou não, com potencial de causar danos físicos e mentais irreparáveis a essas mulheres55 Rosa AS, Bretas ACP. Violence in the lives of homeless women in the city of São Paulo, Brazil. Interface (Botucatu). 2015;19(53):275-85..

Segundo as participantes, a vida na rua exige que as mulheres lidem, cotidianamente, com uma diversidade de situações que envolvem diretamente a relação com o seu corpo, sexualidade e, em alguns casos, com o cuidado do filho. Elas expressaram sentimento de culpa por viverem longe da família, reforçando o mal-estar vivenciado por deixar de exercer o papel social a ela conferido - ser mãe.

Uma investigação com usuárias de um abrigo na Flórida, EUA, corroborou os achados da presente pesquisa, ao relatar que a separação de mulheres em situação de rua dos seus filhos foi geradora de sofrimento. Muitas alegaram o desejo de restabelecer o relacionamento com eles, embora reconhecessem a impossibilidade desse convívio, devido à condição de viver nas ruas2323 Dotson HM. Homeless women, parents, and children: a triangulation approach analyzing factors influencing homelessness and child separation. J Poverty. 2011;15(3):241-58. .

Estudo realizado em Calgary, Canadá, ressaltou que devido à incapacidade de suprir as necessidades básicas da família, muitas mulheres que vivem nas ruas optam por deixar seus filhos para adoção ou aos cuidados de um parente próximo2424 Shier ML, Jones ME, Graham JR. Sociocultural factors to consider when addressing the vulnerability of social service users: insights from women experiencing homelessness. Affilia J Women Soc Work. 2011;26(4):367-81., situação também evidenciada no presente estudo. A literatura aponta que a perda da guarda de seus filhos pode afetar a saúde mental dessas mulheres e diminuir a esperança de sair da condição de moradoras de rua2424 Shier ML, Jones ME, Graham JR. Sociocultural factors to consider when addressing the vulnerability of social service users: insights from women experiencing homelessness. Affilia J Women Soc Work. 2011;26(4):367-81..

O albergue foi apontado pelas participantes como um equipamento social que contribui para o atendimento de suas necessidades básicas. Outra pesquisa canadense, que incluiu 140 pessoas que residiam em Toronto, Ottawa, Montreal e Vancouver e utilizavam albergues, também mostrou que a maioria delas se sentia grata por contar com o apoio dessa instituição, em virtude de ter um teto e um lugar seguro para dormir66 Palepu A, Hubley AM, Russell LB, Gadermann AM, Chinni M. Quality of life themes in Canadian adults and street youth who are homeless or hard-to-house: a multi-site focus group study. Health Qual Life Outocomes. 2012;10:93.. Na cidade de Salvador, Brasil, estudo qualitativo de enfoque antropológico constatou que as pessoas albergadas consideravam estar mais assistidas quanto aos seus direitos sociais, especialmente em relação à possibilidade de conseguir um trabalho formal e de se beneficiarem de programas sociais1111 Aguiar MM, Iriart JAB. Significados e práticas de saúde e doença entre a população em situação de rua em Salvador, Bahia, Brasil. Cad Saúde Pública . 2012;28(1):115 .

Por outro lado, a rigidez das normas para utilização do albergue e os casos de violência que ocorrem dentro deste local foram evidenciados na presente investigação como dificultadores do acesso a este serviço. Estudo brasileiro, realizado na capital paulista também evidenciou esta insatisfação em relação a este equipamento social, ressaltando a falta de privacidade, brigas e discussões entre as usuárias e a obrigação de se adequarem aos horários rígidos de alimentação, higiene corporal e repouso55 Rosa AS, Bretas ACP. Violence in the lives of homeless women in the city of São Paulo, Brazil. Interface (Botucatu). 2015;19(53):275-85..

As participantes do presente estudo salientaram a maior vulnerabilidade para sofrer violência em virtude da não observância e controle por parte do albergue com relação ao porte de armas pelas mulheres. Isso reflete um sentido social construído em relação à violência. O sentido social é resultante da intersubjetividade e configura-se a partir dos significados individuais atribuídos à experiência do homem no mundo da vida1818 Schütz A. Sobre fenomenologia e relações sociais: Alfred Schütz. Trad. De Wagner HTR. Petrópolis: Vozes; 2012.. No presente estudo tal sentido aponta que a violência é interpretada como uma ação agenciada por homens, sentido este reproduzido e incorporado como norma institucional nas casas que abrigam pessoas em situação de rua, desconsiderando a possibilidade do porte de armas e a violência entre as mulheres no interior do albergue.

No que diz respeito à moradia, pesquisa realizada em cidades do Canadá também mostrou que as pessoas em situação de rua desejavam ter um espaço próprio, onde pudessem ter contato com seus objetos e utensílios domésticos, com higiene, privacidade e estabilidade66 Palepu A, Hubley AM, Russell LB, Gadermann AM, Chinni M. Quality of life themes in Canadian adults and street youth who are homeless or hard-to-house: a multi-site focus group study. Health Qual Life Outocomes. 2012;10:93.. No que tange à oportunidade do trabalho remunerado, um estudo realizado em Porto Velho, Brasil, revelou que o sentido dado ao trabalho por pessoas em situação de rua foi de autorrealização, entretenimento, de se obter dignidade e até mesmo saúde física e mental2525 Henrique RA, Santos CM, Vianna JJB. Sentidos e significados do trabalho entre pessoas em situação de rua. Psicol Am Lat. 2013;(24):109-20. .

Para que seus projetos sejam colocados em prática, as depoentes verbalizaram o desejo de saírem da situação de rua, e para que isso aconteça mencionaram ser necessário sair do círculo vicioso das drogas e prostituição em que se veem prisioneiras. Pondera-se, no entanto, que este intento é dotado de desafios, uma vez que tal círculo se configura como o elemento mantenedor destas na realidade das ruas.

Um inquérito realizado nos EUA com 60 mulheres em situação de rua constatou que, mesmo entre aquelas que tinham apoio de abrigos, 36 praticavam a prostituição e o tráfico de drogas para suprir as necessidades básicas, embora relatassem vergonha desta experiência2626 Warf CW, Clark LF, Desai M, Rabinovitz SJ, Agahi G, Calvo R, et al. Coming of age on the streets: survival sex among homeless young women in Hollywood. J Adolesc. 2013;36(6):1205-13..

Salienta-se que o uso de álcool e outras drogas constitui o cerne da problemática que perpassa o cotidiano das participantes da presente investigação. Essa questão conduz a duas possibilidades de reflexão frente ao grupo estudado, quando questionado sobre suas expectativas frente à realidade vivenciada. As mulheres mostram-se conscientes dos prejuízos que o vício do álcool e outras drogas ocasionam em suas vidas, pois compreendem que a reaproximação com a família, o trabalho e a reinserção social estão atrelados à condição do abandono do vício. Outra perspectiva anunciada diz respeito à linha tênue que separa este desejo da falta de perspectiva de realmente conseguir realizá-lo, em virtude da dificuldade de superar a dependência química, o que retroalimenta sua manutenção em situação de rua.

Uma pesquisa realizada em Boston, nos EUA, com 154 mulheres dependentes químicas, mostrou que 90% delas expressaram a vontade de deixar o vício em álcool e outras drogas. Os autores salientaram que a motivação das pessoas para abandonar o vício é grande, independentemente da sua condição de morador de rua ou não2727 Upshur CC, Weinreb L, Cheng DM, Kim TW, Samet JH, Saitzr R. Does experiencing homelessness affect women's motivation to change alcohol or drug use? Am J Addictions. 2014;23(1):76-83. . Contudo, existe uma distância entre o desejo e a realidade. Para que estes dois polos se aproximem, faz-se necessário que diversos equipamentos sociais, setores e atores - como a família - sejam incluídos, no sentido de conferir suporte para o abandono do vício.

A reaproximação com a família foi identificada no presente estudo como uma expectativa das mulheres. Isso remete a um valor que a presença dos familiares representa na vida das participantes, o que denota que sua inserção no processo terapêutico necessita ser considerada. Uma investigação realizada em Maringá, Paraná, revelou que, mesmo associando a família como responsáveis por sua busca pela situação de viver na rua, na maioria dos casos, os participantes expressaram desejo de reconstruir ou formar uma nova família. Isso mostra que o ser humano rompe laços afetivos, mas continua a sonhar, a reconfigurar suas relações, resgatar as anteriores e projetar um novo viver2828 Marchi JA, Carreira L, Salci MA. House without a roof: the family influence in the life of street people. Ciênc Cuid Saúde. 2013;12(4):640-7. .

Nesse sentido, o ser humano, no mundo da vida, tem a oportunidade de vislumbrar e de mudar as estruturas deste mundo. Ao agir sobre ele de modo intencional, transforma a si e a sua realidade social1818 Schütz A. Sobre fenomenologia e relações sociais: Alfred Schütz. Trad. De Wagner HTR. Petrópolis: Vozes; 2012.. Ao projetar a ação, a pessoa antecipa mentalmente o ato (ação já realizada), contudo, a real possibilidade de concretizar essa ação está diretamente ligada aos elementos circunscritos ao presente vivido1818 Schütz A. Sobre fenomenologia e relações sociais: Alfred Schütz. Trad. De Wagner HTR. Petrópolis: Vozes; 2012..

Evidencia-se neste estudo que a ação social em pauta - vivenciar a situação de rua - reflete um contexto (motivos porque) que dificulta a realização dos projetos das participantes (motivos para)1818 Schütz A. Sobre fenomenologia e relações sociais: Alfred Schütz. Trad. De Wagner HTR. Petrópolis: Vozes; 2012.. Os resultados denotam que a transformação da realidade social em que as mulheres estão inseridas, apesar de marcada por uma intencionalidade de sair da situação de rua, não se sustenta pautada somente na motivação pessoal, dependendo de um aporte que envolve diferentes atores e setores, dada a complexidade da realidade que as mantém nessa condição.

Isso prediz a necessidade de um olhar diferenciado por parte dos enfermeiros e demais profissionais envolvidos no atendimento dessa parcela da população. Equipamentos sociais destinados ao tratamento de álcool e drogas, ao atendimento às situações de violência e demais serviços que incluam as pessoas em situação de rua precisam se preparar para oferecer uma escuta qualificada a este público, bem como para serem resolutivos frente às necessidades por ele apresentado.

Conclusão

A compreensão da vivência de mulheres em situação de rua aponta os enfrentamentos do cotidiano e a busca pelo albergue como suporte para o atendimento de suas necessidades básicas. Revela o conflito entre o desejo de sair e permanecer na rua, dada a complexidade da realidade que as mantém nesta condição.

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    Extraído da dissertação "Viver em situação de rua: experiência de mulheres que utilizam o albergue para pernoitar", Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem, 2015.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Oct 2016

Histórico

  • Recebido
    10 Mar 2016
  • Aceito
    31 Ago 2016
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