RESUMO
Objetivo: Analisar a qualidade em saúde em relação aos componentes de estrutura, processo e resultado nas ações de prevenção e controle de infecções.
Método: Revisão integrativa da literatura nas bases de dados da LILACS, Web of Science, Scopus e SciELO. A delimitação temporal abrangeu artigos publicados entre janeiro de 2009 e maio de 2019.
Resultados: A amostra final foi de 10 artigos publicados, principalmente no Scopus (60%) e na Web of Science (30%). Os elementos estruturais variaram entre os países de estudo, sugerindo oportunidades de melhoria das características organizacionais e dos recursos humanos. Em relação ao processo das rotinas implantadas, foram encontradas inconsistências ao cumprimento das diretrizes. O componente resultado não obteve ênfase entre os estudos incluídos na revisão.
Conclusão: A qualidade dos programas de controle de infecção hospitalar ainda precisa ser aprimorada entre os serviços de saúde, destacando a necessidade de investimentos nos componentes de estrutura, processo e resultado.
ABSTRACT
Objective: To analyze the quality of health in relation to the components of structure, process, and outcome in actions for the prevention and control of infections.
Method: An integrative literature review in the LILACS, Web of Science, Scopus, and SciELO databases. The time delimitation covered articles published between January 2009 and May 2019.
Results: The final sample consisted of 10 articles published, mainly in Scopus (60%), and in Web of Science (30%). The structural elements varied among the study countries, suggesting opportunities for improvement of organizational characteristics and human resources. Regarding the process of the implemented routines, inconsistencies were found to comply with the guidelines. The result component was not emphasized among the studies included in the review.
Conclusion: The quality of hospital infection control programs has yet to be improved among the health services, highlighting the need for investment in the structure, process, and outcome components.
Keywords
Hospital infection; Hospital infection control program; Quality of health care
RESUMEN
Objetivo: Analizar la calidad de la salud en relación con los componentes de estructura, proceso y resultado en las acciones para la prevención y control de infecciones.
Método: Revisión bibliográfica integradora en bases de datos LILACS, Web of Science, Scopus y SciELO. La delimitación temporal abarcó artículos publicados entre enero de 2009 y mayo de 2019.
Resultados: La muestra final consistió en 10 artículos publicados, principalmente en Scopus (60%) y Web of Science (30%). Los elementos estructurales variaron entre los países del estudio, lo que sugiere oportunidades para mejorar las características de la organización y los recursos humanos. Con respecto al proceso de las rutinas implementadas, se advirtieron inconsistencias para cumplir con las pautas. El componente de resultados no se enfatizó entre los estudios incluidos en la revisión.
Conclusión: La calidad de los programas de control de infecciones hospitalarias aún no se ha mejorado entre los servicios de salud, razón por la cual, se destaca la necesidad de invertir en los componentes de estructura, proceso y resultados.
Palabras clave
Infección hospitalaria; Programa de control de infecciones hospitalarias; Calidad de la atención de salud
INTRODUÇÃO
A qualidade em saúde almeja atender as necessidades do paciente de forma efetiva, proporcionando um cuidado seguro, o bem estar máximo e o mais completo em toda sua extensão1. Nos serviços de saúde, a busca pela avaliação da qualidade torna-se uma constante, refletindo uma cultura de excelência que proporciona melhoria dos cuidados assistenciais para alcançar a segurança do paciente2-3.
Destaca-se que a temática é amplamente discutida entre os profissionais de saúde e sua definição ainda possui variação na literatura. Neste estudo, adota-se o construto de qualidade em saúde por meio da avaliação dos componentes de estrutura, processo e resultado. Essa tríade, interdependente, apoia a investigação sistemática e diz respeito à infraestrutura organizacional, as atividades desenvolvidas nos serviços de saúde e aos indicadores de qualidade que reflete o cuidado sobre o paciente3.
Entre os diversos agravos que afetam a qualidade do cuidado e impactam negativamente na segurança do paciente destacam-se as Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS). Essas infecções aumentam o tempo de internação, elevam os custos assistenciais e até mesmo, a morbimortalidade4-5.
Uma das estratégias para redução das IRAS e promoção da qualidade das ações de prevenção e controle de agravos refere-se à criação dos Programas de Controle de Infecção Hospitalar (PCIH)6-9. Segundo a Portaria nº 2616, de 12 de maio de 1998, o PCIH é um conjunto de ações desenvolvidas deliberada e sistematicamente, com vistas à redução máxima possível da incidência e da gravidade das infecções6.
No entanto, a implementação das estratégias ligadas ao PCIH ainda enfrenta sérios desafios, especialmente nos países em desenvolvimento7. Os problemas contemplam a falta de incentivo governamental, apoio financeiro inadequado, discrepâncias em relação aos papéis da equipe, fatores comportamentais e fragilidades na execução das políticas de segurança do paciente7,10-12.
Este estudo poderá mostrar, aos profissionais de saúde, o panorama da qualidade dos programas de controle de infecção, direcionando aos componentes estruturais, de processos e resultados que impactam nas ações de prevenção e controle das IRAS. Espera-se que essa revisão integrativa forneça subsídios que auxiliem na construção de novas diretrizes e recomendações nacionais atreladas à temática.
O objetivo, portanto, foi analisar a qualidade em saúde em relação aos componentes de estrutura, processo e resultado nas ações de prevenção e controle de infecções.
MÉTODO
Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura que percorreu as seguintes etapas metodológicas: (1) estabelecimento da hipótese ou questão da pesquisa; (2) amostragem ou busca na literatura; (3) categorização dos estudos; (4) avaliação dos estudos incluídos na revisão; (5) interpretação dos resultados e (6) síntese do conhecimento13.
A construção deste artigo foi guiada pelo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis (PRISMA) visando aumentar a qualidade e a confiabilidade das informações obtidas. Embora o PRISMA seja um documento desenvolvido para revisões sistemáticas e meta-análises, os tópicos contribuíram para a construção de todas as etapas metodológicas do estudo14.
Para elaboração da pergunta de pesquisa utilizou-se a estratégia PICO: (P) população; (I) intervenção (ou exposição); (C) comparação e (O) desfecho, do inglês, outcome. Este procedimento buscou fortalecer a Prática Baseada em Evidências (PBE) através de um problema bem estruturado para a máxima recuperação de artigos na literatura15. Formulou-se a seguinte questão norteadora: “Qual é o panorama dos Programas de Controle de Infecção Hospitalar em relação aos componentes de qualidade?”.
A busca de artigos incluiu as bases de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Web of Science, Scopus e a biblioteca eletrônica Scientific Electronic Library Online (SciELO). Como estratégia de recuperação da informação científica, foram cruzados os seguintes descritores MeSH: Hospital Infection Control Program, Cross Infection, Quality of Health Care e Infection Control. Esses descritores foram utilizados na busca com auxílio dos operadores booleanos (AND e OR). Para o levantamento de artigos na SciELO, utilizaram-se as mesmas palavras traduzidas para o português. Optou-se por desconsiderar o uso de aspas para ampliação de artigos, evitando possíveis perdas no levantamento inicial.
Os critérios de inclusão foram artigos completos, de acesso aberto, publicados entre janeiro de 2009 e maio de 2019, nos idiomas português, inglês e espanhol. Foram excluidos artigos de reflexão, editoriais, revisões de literatura não sistemáticas, livros, manuais e outros textos que não tiveram processo de avaliação por pares, e/ou que não abordavam especificamente o objeto de estudo. Os estudos foram exportados para o Software Mendeley® e posteriormente, excluídos aqueles duplicados em duas ou mais bases de dados (Figura 1).
A seleção dos artigos foi realizada no mês de junho de 2019. Adotou-se uma ficha de avaliação de elegibilidade, elaborada pelo Ministério da Saúde e adaptada pelos próprios pesquisadores16. Neste caso, os critérios utilizados foram: (1) identificação do artigo (sobrenome do autor, nome do jornal, ano de publicação, volume e número de páginas); (2) critérios de elegibilidade, adaptados (o artigo foi revisado por pares?; o artigo avalia os requisitos de qualidade aplicados ao Programa de Controle de Infecção Hospitalar?; os resultados e conclusões respondem à pergunta PICO?) e (3) confirmação da elegibilidade (considerando o desenho do estudo, a intervenção e a população envolvida, o estudo pode ser incluído?).
Para avaliação da qualidade metodológica foi utilizada a ferramenta de avaliação da acurácia de estudos observacionais17. Cada uma das 10 perguntas recebe 1 ponto, quando a resposta for positiva. A classificação final pode variar de 8 a 10 (alta), 5 a 7 (média) e 0 a 4 (baixa). No caso dos artigos de revisão sistemática incluídos neste estudo, utilizou-se o instrumento Assessment of Multiple Systematic Reviews (AMSTAR) que apresenta 14 itens de avaliação da qualidade metodológica, sem estabelecer pontos de corte18.
O nível de evidência dos estudos foi categorizado de acordo com as recomendações da Agency of Healthcare Research and Quality (AHRQ), sendo o nível 1, revisão sistemática ou metanálise de ensaios clínicos controlados; nível 2, ensaio clínico controlado randomizado bem delineado; nível 3, ensaio clínico controlado sem randomização; nível 4, estudos de coorte ou caso-controle bem delineados; nível 5, revisão sistemática de estudos qualitativos e descritivos; nível 6, estudos descritivos ou qualitativos e nível 7, opinião de especialistas19.
Os dados foram transmitidos para um quadro sinóptico para a síntese do conhecimento. Para análise das informações foi utilizado o programa Microsoft Excel 2013 tendo sido realizada estatística descritiva simples, apresentando números absolutos e porcentagens. Os resultados dos estudos incluídos na revisão foram codificados por similitude e posteriormente, analisados por categorização de conteúdo, possibilitando desenvolver uma síntese narrativa.
Este estudo não envolveu pesquisa com seres humanos, dispensando aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).
RESULTADOS
A amostra final foi de 10 artigos publicados nas quatro bases de dados avaliadas, principalmente no Scopus (60%) e na Web of Science (30%). Apenas 1 (10%) estudo captado no LILACS atendeu aos critérios de inclusão.
A maioria (70%) dos artigos estava publicada na língua inglesa. Os países de origem das publicações foram: Brasil (20%), África (10%), Alemanha (10%), Austrália (10%), Colômbia (10%), Estados Unidos (10%), Holanda (10%) e Irã (10%). Apenas um estudo (10%) foi conduzido de forma simultânea entre os países da Europa e Ásia. Em relação ao campo do conhecimento, todos (100%) os periódicos eram da área da saúde, sendo eles: PLoS ONE (20%), American Journal of Infection Control (10%), BMJ Open (10%), Colombia Médica (10%), Infection, Disease and Health (10%), International Journal for Quality in Health Care (10%), Iranian Red Crescent Medical Journal (10%), Revista da Escola de Enfermagem da USP (10%) e Revista de Saúde Pública (10%) (Tabela 1).
Com equilíbrio entre os anos de publicação, o período que mais se publicou foi em 2016 (20%), 2015 (20%) e 2014 (20%). No ano de 2013, não foram captados artigos nas bases de dados selecionadas. Apesar das buscas na literatura nenhuma explicação foi encontrada sobre os motivos. Em relação ao delineamento, destaca-se que, majoritariamente, os estudos foram transversais e descritivos (60%) e tiveram como cenário de estudo os serviços de saúde (80%). Todos (100%) os estudos apresentaram alta qualidade metodológica, no entanto, com baixos níveis de evidência (Quadro 1).
Quanto aos temas abordados, a maioria dos artigos contemplou, pelo menos, um componente de qualidade relacionado ao PCIH, emergindo três categorias de análise: (1) elementos estruturais dos programas de controle de infecção hospitalar (2) considerações sobre avaliação de processo em controle de infecção e (3) a influência do componente resultado como estratégia de melhoria do PCIH.
Elementos estruturais dos programas de controle de infecção hospitalar
A maioria dos estudos (70%) abordou sobre os aspectos estruturais dos programas de controle de infecção hospitalar20-21,23-25,28-29. As instalações físicas, as características organizacionais, os recursos humanos e materiais foram destacados entre as publicações.
Dois artigos mostraram diversas fragilidades atribuídas ao PCIH dos países da África, destacando a infraestrutura imprópria para prevenção e controle das IRAS24,28. Autores descreveram que apenas 13% dos serviços apresentavam uma CCIH ativa, 11% ainda reciclavam luvas de procedimentos e que pouco mais da metade (52%) possuíam água corrente e insumos apropriados para higiene de mãos28.
Estudos realizados no Brasil evidenciaram bom desempenho na avaliação dos parâmetros de estrutura técnico-operacional, encontrando taxas de conformidades que variaram de 80 a 100%20,29. No entanto, observou-se a carência de dados sobre a qualidade do PCIH proveniente de instituições da rede do Sistema Único de Saúde (SUS). Esses resultados exitosos divergiram de uma pesquisa conduzida nos países da Europa e Ásia, que indicou oportunidades de melhoria em relação ao uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e das áreas de isolamento21.
Em relação aos recursos humanos, 30% dos artigos explicitaram a necessidade de ampliação do quantitativo de controladores de infecção para atender as demandas organizacionais21,23,25. Dois estudos recomendaram a adequação do número desses profissionais conforme a proporção do número de leitos23,25.
Considerações sobre avaliação de processo em controle de infecção
Grande parte dos estudos (60%) destacou sobre algumas ações operacionais para a prevenção e controle de infecção20,25-29. Pesquisadores brasileiros observaram que o processo das rotinas implantadas não foi uniforme entre os hospitais avaliados20. Outros dados enfatizaram o número reduzido de profissionais com titulação específica, gerando inconsistências ao cumprimento das diretrizes publicadas27.
Na Colômbia, 65% das atividades de vigilância das IRAS são realizadas de forma combinada, utilizando o formato de vigilância ativa e passiva. Além disso, percebeu que a maioria dos 23 serviços de saúde avaliados segue a metodologia NHSN do CDC, dos Estados Unidos25.
Três artigos incluídos nesta revisão integrativa sugeriram melhorias em relação ao processo de educação em saúde realizado pela CCIH26-28. Nos Estados Unidos, os pesquisares concluíram que pouco tempo é investido em capacitações e treinamentos27. Corroborando, destaca-se que apenas 33% dos serviços de saúde da Nigéria possuem um programa de treinamentos ativo e não mais que 11% investigam as mortes maternas relacionadas à infecção28.
A influência do componente resultado como estratégia de melhoria do PCIH
Autores reforçaram, em sua revisão sistemática, a importância de investimentos no PCIH para melhoria da qualidade dos indicadores infecciosos22. Estudo multicêntrico mostrou que o sucesso do programa depende da capacidade de fornecer informações aos gestores que podem promover mudanças e agir como um incentivo para participação contínua das ações de controle de infecção23. No entanto, o componente resultado não obteve ênfase entre os outros artigos desta revisão.
Dois estudos apresentaram taxas de conformidades acima dos 77% relacionadas aos resultados do PCIH, atribuindo os melhores desfechos às instituições com processos de qualificação ou acreditação em saúde26,29. Uma sugestão de melhoria recomendada para o sucesso do PCIH refere-se à realização de auditorias adicionais para garantia da qualidade dos indicadores infecciosos21.
DISCUSSÃO
O escopo do PCIH deve estabelecer uma estrutura mínima necessária para a prevenção e controle das IRAS. Os estudos que avaliaram as características de infraestrutura mostraram que não há um padrão de qualidade mínimo preconizado entre os serviços de saúde20-21,23-25,28. Isso ocorreu, principalmente, nos países em desenvolvimento que apresentaram as maiores precariedades deste componente de avaliação24.
Nos países da África, os pesquisadores levantaram diversas fragilidades atribuídas ao PCIH, destacando o baixo investimento em ações sistêmicas que reduzam a incidência e a magnitude dos agravos infecciosos24,28. Sabe-se que as melhores práticas assistenciais são asseguradas através do cumprimento das diretrizes vigentes, enfatizando a higienização das mãos, o uso de EPIs e a capacitação adequada dos recursos humanos30.
Os elementos estruturais impactam no sucesso das ações de prevenção e controle de infecção, onde foi possível levantar, na literatura, que os hospitais nacionais necessitam de adequação do espaço físico pelo fato de compartilhar o mesmo local com outros setores administrativos20. Esse dado contradiz as recomendações descritas na legislação vigente sobre a obrigatoriedade de prover todos os recursos necessários à atuação da CCIH6.
No que diz respeito aos recursos humanos, os pesquisadores da Austrália mensuraram o tempo gasto com a vigilância das IRAS e destacaram que 1.675 horas são despendidas com essa atividade no total de 4.653 horas23. Corroborando, autores indicaram que a proporção adequada de controladores de infecção deve ser estabelecida conforme o porte do hospital25. As atividades de vigilância epidemiológica, a investigação de surtos, os treinamentos e capacitações somente acontecem de forma adequada quando há número suficiente de profissionais para execução das ações programadas31.
No Brasil, as diretrizes operacionais e atividades específicas da CCIH ainda precisam ser aprimoradas entre os serviços20. Destaca-se que o sucesso das ações de prevenção e controle de infecção contempla o envolvimento de todos os profissionais, pacientes e familiares11. A garantia da qualidade em saúde requer compromisso, dedicação, implementação de boas práticas e atualizações constantes da equipe multidisciplinar. Um dos desafios é garantir que a medição dos processos seja amplamente estimulada, até mesmo nos serviços de saúde com baixo investimento financeiro.
Nesse sentido, destaca-se o enfoque de estudos brasileiros nas avaliações estruturais e de processos, principalmente no levantamento de indicadores de educação permanente como requisito de qualidade para a prevenção das IRAS7-9. Além disso, o contexto organizacional não contribui para o sucesso do programa, e ainda há dificuldades para implementação das recomendações e fragilidades na execução das políticas de segurança do paciente10-12.
Nos Estados Unidos, embora a rede de hospitais apresente desempenho satisfatório em relação ao PCIH, o tempo investido em capacitações que evitem, por exemplo, a infecção do trato urinário ainda é pequeno27. Estudo realizado na Nigéria mostrou o déficit de um programa de treinamentos para o controle de infecções em maternidades28. Neste contexto, os controladores de infecção tem o compromisso de reduzir as IRAS utilizando ações de educação em saúde junto aos profissionais. São várias estratégias que podem ser utilizadas na prática para estimular a equipe, destacando paródias, cartazes, frases permeadas com um toque de humor e até mesmo softwares de informática, que flexibilizam o horário dos profissionais envolvidos32.
O resultado das ações desenvolvidas pela CCIH com vistas à redução da incidência das IRAS impacta nos indicadores de qualidade, considerado importante componente que reflete os cuidados assistenciais realizados pela equipe33. Os indicadores vislumbram a excelência do cuidado e proporcionam melhores resultados organizacionais, no entanto, do ponto de vista dos estudos incluídos nesta revisão, este componente não obteve grande destaque.
Através dos indicadores infecciosos é possível medir a qualidade dos cuidados interdisciplinares prestados ao paciente e detectar possíveis falhas relacionadas aos processos de trabalho33. Uma revisão sistemática afirmou que investimentos feitos no PCIH proporcionam melhorias dos resultados institucionais22. Além disso, o incentivo dos gestores em saúde para execução das ações planejadas pela CCIH foi considerado fator que contribui para a promoção do conjunto de ações desenvolvidas pelo programa23.
Estudos recomendaram auditorias adicionais e processos de acreditação em saúde visando à melhoria dos indicadores por meio de ações sistemáticas desenvolvidas pela CCIH21,29. Dentre os diversos benefícios da acreditação hospitalar destacam-se as mudanças de comportamento dos profissionais e da satisfação dos pacientes. Nesse sentido, os avanços organizacionais advindos deste processo contribuem para a melhor tomada de decisão, garantindo assim, a segurança do paciente34-35.
Este estudo representou um avanço para o ensino e pesquisa visto que as etapas de elaboração foram desenvolvidas com rigor metodológico, utilizando instrumentos validados na literatura que permitiram avaliar de forma mais crítica os estudos incluídos nesta revisão. Além disso, a compreensão dos componentes de qualidade dos programas de controle de infecção hospitalar contribuirá para o planejamento de ações sistemáticas que busquem inovação na prática dos profissionais de saúde, proporcionando um cuidado seguro e livre de danos.
Como limitações do estudo destaca-se que a delimitação temporal pode ter contribuído para não inclusão de artigos que respondem à pergunta de pesquisa, podendo estes estar publicados antes do período definido. Além disso, não houve interpretações por parte dos pesquisadores durante a categorização dos artigos, explicitando apenas os resultados dos estudos captados na estratégia de recuperação da informação científica.
CONCLUSÃO
Neste estudo foi possível analisar os programas de controle de infecção hospitalar em relação aos componentes de qualidade, destacando a necessidade de aprimorar na estrutura, processo e resultado. Observou-se que as características organizacionais são diversificadas entre os países, as atividades desenvolvidas não cumprem as diretrizes baseadas em evidências e ainda há necessidade de dar ênfase nos indicadores infecciosos que refletem a excelência do cuidado ao paciente.
Destaca-se, de maneira geral, que as ações desenvolvidas pelo PCIH possuem grande variação na literatura, apresentando sugestões de melhorias a serem trabalhadas pelos gestores em saúde para redução da magnitude das IRAS. Espera-se que este estudo tenha fornecido subsídios que contribuam para a construção de novas diretrizes e recomendações atreladas à temática.
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