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Adaptação transcultural e validação de conteúdo e semântica do Difficult Intravenous Access Score para uso pediátrico no Brasil 1 1 Artigo extraído da dissertação de mestrado “Adaptação Transcultural e validação clínica do Difficult Intravenous Access score - DIVA SCORE - para uso no Brasil”, apresentada à Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.

RESUMO

Objetivo:

apresentar a adaptação transcultural e validação de conteúdo e semântica do Difficult Intravenous Access Score para uso corrente no Brasil.

Método:

pesquisa delineada na adaptação transcultural e validação, estruturada em seis etapas: tradução inicial, síntese das traduções, retrotradução, avaliação da documentação por comitê de juízes especialistas, pré-teste e apresentação da documentação aos juízes especialistas e ao autor do instrumento original. Foram recrutados aleatoriamente 20 profissionais de saúde de uma instituição hospitalar pública do Sul do País, atuantes em pediatria, para avaliar o nível de concordância com as variáveis do instrumento, e, por conveniência, 30 pacientes pediátricos para validação de face do instrumento. Utilizou-se o coeficiente alfa de Cronbach, frequência simples e percentual, testes de Shapiro-Wilk e exato de Fisher, para análise dos dados e mensuração da confiabilidade.

Resultados:

as etapas da adaptação transcultural foram desenvolvidas com plena clareza das variáveis traduzidas, demonstrando resultados satisfatórios no processo de validação de conteúdo e semântica.

Conclusões:

o Difficult Intravenous Access Score foi adaptado transculturalmente e validado em seu conteúdo e semântica. Consideram-se necessárias análises de validade clínica externa, da equivalência de mensuração e da reprodutibilidade.

Descritores:
Pesquisa Metodológica em Enfermagem; Estudos de Validação; Enfermagem Pediátrica; Hospitalização; Cateterismo Periférico

ABSTRACT

Objective:

present the cross-cultural adaptation and content and semantic validation of the Difficult Intravenous Access Score for current use in Brazil.

Method:

cross-cultural adaptation and validation study, structured in six phases: initial translation, synthesis of translations, back-translation, assessment of documents by expert committee of specialized judges, pretest and presentation of the documents to the expert judges and to the author of the original instrument. Twenty health professionals were randomly recruited from a public hospital in the South of Brazil, working in pediatrics, in order to assess the agreement level with the variables in the instrument. In addition, a convenience sample of 30 pediatric patients was selected for the face validation of the same instrument. Cronbach’s alpha coefficient, simple and percentage frequencies, the Shapiro-Wilk and Fisher’s exact tests were used for the data analysis and reliability measures.

Results:

the cross-cultural adaptation phases were executed with totally clear translated variables, demonstrating satisfactory results in the content and semantic validation process.

Conclusions:

the Difficult Intravenous Access Score was adapted and its content and semantics were validated. External clinical validity, measuring equivalence and reproducibility analyses are needed.

Descriptors:
Nursing Methodology Research; Validation Studies; Pediatric Nursing; Hospitalization; Catheterization Peripheral

RESUMEN

Objetivo:

presentar la adaptación transcultural y validación de contenido y semántica del Difficult Intravenous Access Score para utilización actual en Brasil.

Método:

investigación delineada en la adaptación transcultural y validación, estructurada en seis etapas: traducción inicial, síntesis de las traducciones, retrotraducción, evaluación de la documentación por comité de jueces especialistas, pre-prueba y presentación de la documentación a los jueces especialistas y al autor del instrumento original. Fueron reclutados aleatoriamente 20 profesionales de salud de una institución hospitalaria pública del sur del país, activos en pediatría, para evaluar el nivel de concordancia con las variables del instrumento y, por conveniencia, 30 pacientes pediátricos, para validación de faz del instrumento. Fue utilizado el coeficiente alfa de Cronbach, frecuencia simple y porcentaje, pruebas de Shapiro-Wilk y exacto de Fisher, para el análisis de los datos y mensuración de la confiabilidad.

Resultados:

las etapas de la adaptación transcultural fueron desarrolladas con toda claridad de las variables traducidas, demostrando resultados satisfactorios en el proceso de validación de contenido y semántica.

Conclusiones:

el Difficult Intravenous Access Score fue adaptado transculturalmente, y validado en su contenido y semántica. Son considerados necesarios análisis de validez clínica externa, de la equivalencia de mensuración y de la reproductibilidad.

Descriptores:
Investigación Metodológica em Enfermería; Estudios de Validación; Enfermería Pediátrica; Hospitalización; Cateterismo Periférico

Introdução

O ambiente e fluxo de trabalho nos cenários de hospitalização infantil, assim como nos demais de uma instituição hospitalar, estão permeados de tecnologias duras, manipulações excessivas e procedimentos invasivos e dolorosos. A execução dos procedimentos conspira para a origem do medo, insegurança e ansiedade, tanto na criança quanto no familiar/acompanhante, perpetuando a imagem negativa que crianças e jovens possuem do hospital e da hospitalização11 Gomes AVDO, Nascimento MADL, Moreira MC, Antunes JCP, Araújo MC, Cardim MG. Punción venosa pediátrica: Un análisis crítico a partir de la experiencia del cuidar en enfermería. Enferm Glob. [Internet]. 2011 Jul;10(23):277-86. Disponible en: <http://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S169561412011000300019&lng=es.
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-22 Sagué-Bravo S, Cotanda CP, Solà JA, Sainz de la Maza VT, Cubells CL. Presència dels pares durant els procediments invasius als serveis d’urgències pediàtriques. Què passa a l’Estate spanyol? Pediatr Catalana. [Internet]. 2015 [Acceso 15 julio 2016];75(1):7-11. Disponible en: <http://webs.academia.cat/revistes_elect/view_document.php?tpd=2&i=4898>
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. Nessa ótica, enfatiza-se que uma criança em situação de hospitalização, bem como seu familiar, apresentam dificuldade para compreender e assimilar o novo cenário, refletindo em respostas emocionais de elevada intensidade aos cuidados prestados. Esse espectro é agravado quando a criança é submetida a procedimentos invasivos e dolorosos, principalmente quando há distanciamento entre criança/familiar/acompanhante e invasão brusca dos limites de sua privacidade e seu físico33 Mekitarian FFP, Angelo M. Family’s presence in the pediatric emergency room: opinion of health’s professionals. Rev Paul Pediatr. [Internet] 2015 [cited Jul 18, 2016];33(4):460-6. Available from: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2359348215000469>
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-44 Villadsen KW, Blix C, Boisen KA. More than a break: the impact of a social-pedagogical Intervention during Young persons long-term hospital admission - a qualitative study. Int J Adolesc Med Health. [Internet] 2015 Feb [cited Jul 19, 2016];27(1):19-24. Available from: <https://www.deepdyve.com/lp/de-gruyter/more-than-a-break-the-impact-of-a-social-pedagogical-intervention-X7f5MTPLd1>
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Nessa perspectiva, elenca-se a Punção Intravenosa Periférica (PIP) como procedimento comumente realizado pela enfermagem em hospitais e unidades de saúde. Estima-se que mais de 35% dos pacientes submetidos à internação necessitam da PIP para administração de medicamentos e soluções, implementando a terapêutica clínica estabelecida55 Sena CA, Krempser P, Silva RNA, Oliveira DV. Punção de vasos e paleta cromática: subsídio para pesquisa e prática clínica de enfermeiros. Rev Enferm Cent Oeste Min. [Internet]. jan/abr 2013 [Acesso 15 fev 2016]; 3(1):488-97. Disponível em: <http://www.seer.ufsj.edu.br/index.php/recom/article/viewFile/309/380>
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. Outrossim, entende-se que muitos são os fatores que podem interferir no sucesso da PIP na população pediátrica, e que a história clínica para dificuldade na punção, a desnutrição e os antecedentes de traumas vasculares são exemplos de complicadores para o estabelecimento da PIP66 Negri DC, Avelar AFM, Andreoni S, Pedreira MLG. Predisposing factors for peripheral intravenous puncture failure in children. Rev. Latino-Am. Enfermagem. [Internet]. 2012 Dec [cited Feb 17, 2016]; 20(6):1072-80. Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692012000600009>.
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Diante da problemática para predizer a dificuldade apresentada pelos pacientes pediátricos, no sentido do insucesso no estabelecimento da PIP à primeira tentativa, uma equipe médica, em parceria com enfermeiros de um centro de emergência pediátrica, desenvolveu em 2008 nos Estados Unidos um escore que possibilita quantificar tal dificuldade, denominado Difficult Intravenous Access Score (DIVA score)77 Yen K, Riegert A, Gorelick MH. Derivation of the DIVA Score - a clinical prediction rule for the identification of children with Difficult Intravenous Access. Pediatric Emergency Care. [Internet]. 2008 Mar. [cited Feb 19, 2016]. Available from: <http://journals.lww.com/pec-online/Abstract/2008/03000/Derivation_of_the_DIVA_Score__A_Clinical.4.aspx>
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O DIVA score é composto por variáveis preditivas, a saber: visibility, palpability, age, prematurity e skin shade. Cada variável recebe uma pontuação na avaliação, e todas deverão ser somadas ao final da aplicação, de maneira que as crianças com valor de pontuação total 4 ou mais terão 50% a mais de probabilidade de insucesso no estabelecimento da PIP à primeira tentativa77 Yen K, Riegert A, Gorelick MH. Derivation of the DIVA Score - a clinical prediction rule for the identification of children with Difficult Intravenous Access. Pediatric Emergency Care. [Internet]. 2008 Mar. [cited Feb 19, 2016]. Available from: <http://journals.lww.com/pec-online/Abstract/2008/03000/Derivation_of_the_DIVA_Score__A_Clinical.4.aspx>
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8 Riker MW, Kennedy C, Winfrey BS, Yen K, Dowd MD. Validation and refinement of the difficult intravenous access score: a clinical prediction rule for identifying children with difficult intravenous access. Acad Emergency Med. [Internet]. 2011 [cited March 15, 2016]. Available from: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22092893>
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-99 O´Nell MB, Dillane M, Hanipah NFA. Validating the Difficult Intravenous Access clinical prediction rule. Acad Emerg Med. 2011 Nov cited March 15, 2016];18(11):1129-34. Available from: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22092893>
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. O referido instrumento foi validado nos Estados Unidos no ano 2011, e na Irlanda em 2012, concluindo-se que sua utilização é rápida e eficaz, gerando informações para a opção pela utilização de recursos adjuvantes88 Riker MW, Kennedy C, Winfrey BS, Yen K, Dowd MD. Validation and refinement of the difficult intravenous access score: a clinical prediction rule for identifying children with difficult intravenous access. Acad Emergency Med. [Internet]. 2011 [cited March 15, 2016]. Available from: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22092893>
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-99 O´Nell MB, Dillane M, Hanipah NFA. Validating the Difficult Intravenous Access clinical prediction rule. Acad Emerg Med. 2011 Nov cited March 15, 2016];18(11):1129-34. Available from: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22092893>
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Contudo, para que o DIVA score seja aplicado na realidade brasileira, mantendo-se coerência com o instrumento original, objetivou-se propor uma versão em língua portuguesa para uso corrente no Brasil e, neste artigo, busca-se descrever a adaptação transcultural e validação, de conteúdo e semântica, do Difficult Intravenous Access Score (DIVA score) para uso pediátrico no Brasil.

O impacto da utilização de recursos adjuvantes, no caso o DIVA score, reflete direta e positivamente na qualidade do procedimento da PIP pediátrica, pois pode minimizar efeitos psicológicos negativos, tendo-se em consideração que o estresse nesse procedimento é elevado, tanto para o paciente e familiar quanto para a equipe de saúde. E, ainda, espera-se que os recursos reflitam na redução de custos do procedimento da PIP, tendo em vista que grandes taxas de insucesso na PIP precipitam elevado custo financeiro, expressos como: gasto excessivo de materiais de consumo, maior tempo de trabalho da enfermagem, empenho da equipe de saúde para a resolução das iatrogenias e prolongado tempo de internamento1010 Mensor LL, Aguiar DG, Souza CPR. Custo-efetividade de cateteres periféricos com plataforma de estabilização integrada sob a perspectiva hospitalar no Brasil. J Bras Econ Saúde. [Internet]. 2016 [Acesso 22 jan 2017];8(1):16-23. Disponível em: <http://files.bvs.br/upload/S/2175-2095/2016/v8n1/a5477.pdf>
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Método

A adaptação transcultural de instrumentos de saúde para uso no Brasil requer o emprego de metodologia com o objetivo de alcançar as equivalências entre os idiomas de origem e de destino. Há necessidade de manutenção da validade do conteúdo, permitindo a aplicação compreensível do instrumento no novo idioma, com adaptação interna consistente da linguística e cultura, com a garantia de que a avaliação do impacto de uma doença ou tratamento está sendo descrita de forma semelhante em ensaios multinacionais1111 Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the Process of Cross-Cultural Adaptation of Self-Report Measures. SPINE. [Internet]. 2000 [cited March 21, 2016];24:3186-91. Available from: http://journals.lww.com/spinejournal/Citation/2000/12150/Guidelines_for_the_Process_of_Cross_Cultural.14.aspx
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-1212 Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Recommendations for the Cross-Cultural Adaptation of the DASH & Quick DASH Outcome Measures. [Internet]. Ontario: CA: Institute for Work & Health 2002, 2007. Available from: <https://www.researchgate.net/profile/Claire_Bombardier/publication/265000941_Recommendations_for_the_CrossCultural_Adaptation_of_the_DASH__QuickDASH_Outcome_Measures_Contributors_to_this_Document/links/53fdd6140cf22f21c2f85143.pdf>.
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Assim, este estudo foi delineado com base no Método de Adaptação Transcultural e Validação, segundo as recomendações do Guidelines for the Process of Cross-Cultural Adaptation of Self-Report Measures, que consistem em seis etapas interdependentes: tradução inicial, síntese das traduções, retrotradução, avaliação da documentação por comitê de juízes especialistas, pré-teste e apresentação da documentação aos juízes especialistas e ao autor do instrumento original1111 Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the Process of Cross-Cultural Adaptation of Self-Report Measures. SPINE. [Internet]. 2000 [cited March 21, 2016];24:3186-91. Available from: http://journals.lww.com/spinejournal/Citation/2000/12150/Guidelines_for_the_Process_of_Cross_Cultural.14.aspx
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Ao longo de todo o processo, ocorrido de fevereiro a outubro de 2015 em uma instituição hospitalar pública do Sul do país, foram analisadas as equivalências propostas pelo Guideline: equivalência semântica (equivalência no significado das palavras), idiomática (peculiares a um idioma), experimental (situações representadas na versão original, mas que devem ser adequadas ao contexto cultural da língua-alvo), conceitual (relacionado à validade de conceitos), que proporcionam a validação do instrumento. As variáveis, que se constituem em medidas do instrumento, deverão ser adaptadas para manter a validade do conteúdo nas diferentes culturas e, para tanto, não basta a simples tradução das mesmas1111 Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the Process of Cross-Cultural Adaptation of Self-Report Measures. SPINE. [Internet]. 2000 [cited March 21, 2016];24:3186-91. Available from: http://journals.lww.com/spinejournal/Citation/2000/12150/Guidelines_for_the_Process_of_Cross_Cultural.14.aspx
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-1212 Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Recommendations for the Cross-Cultural Adaptation of the DASH & Quick DASH Outcome Measures. [Internet]. Ontario: CA: Institute for Work & Health 2002, 2007. Available from: <https://www.researchgate.net/profile/Claire_Bombardier/publication/265000941_Recommendations_for_the_CrossCultural_Adaptation_of_the_DASH__QuickDASH_Outcome_Measures_Contributors_to_this_Document/links/53fdd6140cf22f21c2f85143.pdf>.
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A quinta etapa, pré-teste, foi composta por dois passos. Primeiramente, aplicou-se o pré-teste do instrumento adaptado transculturalmente, com vistas a avaliar a clareza de suas variáveis traduzidas, junto a 20 profissionais de saúde atuantes em pediatria (médicos, enfermeiras, técnicos e auxiliares de enfermagem). Essa distribuição por categoria profissional, não foi planejada, mas ocorreu com base na disponibilidade dos profissionais no setor, nos dias da aplicação do pré-teste. Posteriormente, houve aplicação do pré-teste em 30 crianças do grupo-alvo (n=30), com amostra populacional de conveniência, em virtude de o instrumento ser aplicado com finalidade de validação e não de intervenção. Destarte, não houve intervenção invasiva, apenas avaliação ectoscópica dos membros superiores de cada criança, com base nos critérios do DIVA score traduzido. Para análise dos dados, advindos da aplicação do DIVA score traduzido junto aos 30 pacientes pediátricos, utilizou-se descrição simples com números absolutos e percentuais. Também foram aplicados os testes estatísticos de Shapiro-Wilk e exato de Fisher, com o apoio do Statistical Package for the Social Sciences(SPSS).

Foram desenvolvidos instrumentos específicos para registro do processo em cada etapa, permitindo que cada segmento envolvido documentasse seus pareceres no processo metodológico, com registros de suas observações. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Setor de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Paraná, sob Parecer nº 954.460. Foram cumpridos os pressupostos da Resolução 466/12, sobre as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas em seres humanos1313 Resolução n. 466 de 12 de dezembro de 2012 (BR). Aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União. [Internet]. [Acesso 14 maio 2016]. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf>.
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. Para a adaptação transcultural e validação do instrumento original, com posterior divulgação, foram obtidas autorizações formais dos autores originais.

Resultados

Partiu-se no percurso metodológico da tradução inicial efetivada por dois tradutores bilíngues, com perfis diferenciados, limitando-se a proceder à tradução do instrumento original, do inglês para o português falado no Brasil. Nessa etapa, o Tradutor 1, formado na área de saúde, estava ciente dos conceitos analisados, mas o Tradutor 2 não possuía formação na área, tampouco conhecimento dos conceitos analisados. Cada tradutor produziu uma versão independente. Tal situação é ancorada na explicação de que a não formação na área da saúde proporciona uma tradução capaz de refletir a linguagem utilizada pela população em geral, não sob a influência da perspectiva clínica1111 Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the Process of Cross-Cultural Adaptation of Self-Report Measures. SPINE. [Internet]. 2000 [cited March 21, 2016];24:3186-91. Available from: http://journals.lww.com/spinejournal/Citation/2000/12150/Guidelines_for_the_Process_of_Cross_Cultural.14.aspx
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-1212 Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Recommendations for the Cross-Cultural Adaptation of the DASH & Quick DASH Outcome Measures. [Internet]. Ontario: CA: Institute for Work & Health 2002, 2007. Available from: <https://www.researchgate.net/profile/Claire_Bombardier/publication/265000941_Recommendations_for_the_CrossCultural_Adaptation_of_the_DASH__QuickDASH_Outcome_Measures_Contributors_to_this_Document/links/53fdd6140cf22f21c2f85143.pdf>.
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. O instrumento foi intitulado de acordo com as diferentes traduções da variável pelos tradutores: o Tradutor 1 descreveu o título como Escore de acesso intravenoso difícil - DIVA score; e o Tradutor 2 como Difícil ponto de acesso intravenoso.

Na segunda etapa, após avaliação das divergências e equivalências das traduções originadas da etapa anterior, os dois tradutores produziram um único instrumento traduzido, concluindo a versão de síntese das traduções1111 Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the Process of Cross-Cultural Adaptation of Self-Report Measures. SPINE. [Internet]. 2000 [cited March 21, 2016];24:3186-91. Available from: http://journals.lww.com/spinejournal/Citation/2000/12150/Guidelines_for_the_Process_of_Cross_Cultural.14.aspx
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-1212 Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Recommendations for the Cross-Cultural Adaptation of the DASH & Quick DASH Outcome Measures. [Internet]. Ontario: CA: Institute for Work & Health 2002, 2007. Available from: <https://www.researchgate.net/profile/Claire_Bombardier/publication/265000941_Recommendations_for_the_CrossCultural_Adaptation_of_the_DASH__QuickDASH_Outcome_Measures_Contributors_to_this_Document/links/53fdd6140cf22f21c2f85143.pdf>.
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A retrotradução, como terceira etapa, deu-se pela eleição de dois tradutores sem formação na área de saúde. Eles tiveram acesso apenas ao instrumento traduzido e sintetizado nas fases anteriores do processo, e cada um produziu uma versão independente. Ambos possuíam como língua nativa o inglês norte-americano. Portanto, eles retrotraduziram o instrumento da língua-alvo (português falado no Brasil) para a língua-mãe (inglês falado na América do Norte). Igualmente à etapa anterior, houve consenso entre as retrotraduções, originando a versão de consenso. Essa fase de retrotradução corresponde ao processo de verificação de validade e também garante que a versão traduzida reflita a equivalência conceitual relativa à versão original1111 Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the Process of Cross-Cultural Adaptation of Self-Report Measures. SPINE. [Internet]. 2000 [cited March 21, 2016];24:3186-91. Available from: http://journals.lww.com/spinejournal/Citation/2000/12150/Guidelines_for_the_Process_of_Cross_Cultural.14.aspx
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-1212 Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Recommendations for the Cross-Cultural Adaptation of the DASH & Quick DASH Outcome Measures. [Internet]. Ontario: CA: Institute for Work & Health 2002, 2007. Available from: <https://www.researchgate.net/profile/Claire_Bombardier/publication/265000941_Recommendations_for_the_CrossCultural_Adaptation_of_the_DASH__QuickDASH_Outcome_Measures_Contributors_to_this_Document/links/53fdd6140cf22f21c2f85143.pdf>.
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Na quarta etapa, o comitê de juízes especialistas (n=10) foi composto por 2 tradutores, 2 retrotradutores, 4 especialistas bilíngues e 2 profissionais com formação em letras (um com especialização em metodologia e outro em linguística).

Entre os tradutores T1 e T2, ambos com proficiência na língua do instrumento original (inglês), T1 estava ciente dos conceitos analisados, e possuía formação na área de saúde, para fins de promoção da equivalência sob a perspectiva clínica. Já T2, não formado na área de saúde, não estava ciente dos conceitos analisados. A não formação na área da saúde proporciona uma tradução que reflete a linguagem corrente utilizada pela população, e não sob a perspectiva clínica.

Os retrotradutores escolhidos não eram da área de saúde, não estavam cientes dos conceitos analisados e não tiveram acesso ao instrumento original, apenas à versão traduzida e sintetizada na fase de tradução do processo. Ambos possuíam como língua nativa o inglês norte-americano e retrotraduziram o instrumento da língua-alvo (português falado no Brasil) para a língua materna (inglês norte-americano).

O profissional metodologista foi quem tomou as decisões metodológicas, juntamente com o profissional linguista (responsável pela análise da estrutura das frases e do significado das expressões), de maneira a obter resultados eficazes e adotar decisões para as equivalências propostas. Para a eleição dos especialistas bilíngues, foi utilizado um instrumento adaptado a partir dos critérios de definição de um perito1414 Fehring R. Methods to validate nursing diagnoses. Heart Lung. [Internet] 1987 Nov [cited Jun 15, 2016];16(6 Pt 1):625-9. Available from: <http://epublications.marquette.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1026&context=nursing_fac>
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, indispensável para a escolha dos juízes especialistas, conforme descritos na Figura 1.

Figura 1
Classificação de experts segundo Fehring (1987) e adaptações realizadas pelas autoras. Curitiba, PR, Brasil, 2015

Após escolha, todos os juízes especialistas receberam as versões do instrumento a ser adaptado, bem como as instruções de aplicação do instrumento e as possibilidades para o estabelecimento do score. Com isso, tomaram decisões para a equivalência semântica entre a versão original e a versão de destino, consolidando todas as versões do instrumento, e subsidiaram o desenvolvimento da versão pré-final para testes de campo.

Compondo a quinta etapa, cada um dos 20 profissionais registrou seu nível de concordância com relação à clareza das variáveis do instrumento em português em uma escala do tipo Likert1515 Callegari-Jacques SM. Bioestatística: princípios e aplicações. Porto Alegre (RS): Artmed; 2003. 255 p.. As respostas da escala Likert foram numeradas de 1 a 5, sendo 1 “nada claro” e 5 “totalmente claro”. Os participantes também puderam registrar pareceres para suas respostas em campo exclusivo para comentários. Dentre os participantes, 7 (35%) eram médicos, 2 (10%) enfermeiras, 3 (15%) técnicos de enfermagem e 8 (40%) auxiliares de enfermagem. Um dado já esperado mas que chama atenção é o fato que 65% (13) dos profissionais respondentes do pré-teste foram da área de enfermagem, predominantemente de nível médio, ou seja, técnicos e auxiliares de enfermagem, somando 55% (11 profissionais). E, como sexo prevalente dos participantes, contou-se com 17 mulheres (85%). Pode-se inferir que os participantes apresentaram significativa bagagem profissional, pois 55% (11 profissionais) deles contavam mais de 11 anos de atuação profissional (Tabela 1).

Tabela 1
Caracterização dos profissionais de saúde respondentes (n=20) do questionário de pré-teste Likert DIVA* score, segundo sexo, profissão e tempo de atuação. Curitiba, PR, Brasil, 2015

Posteriormente, seguindo a recomendação do Guideline, houve aplicação do pré-teste em 30 crianças do grupo-alvo (Tabela 2), com amostra populacional de conveniência, em virtude de o instrumento ser aplicado com finalidade de validação e não de intervenção. Destarte, não houve intervenção invasiva, apenas avaliação ectoscópica dos membros superiores de cada criança, com base nos critérios do DIVA score traduzido. Assim, houve avaliação de crianças do sexo feminino e masculino em igual proporção, e a maioria (53%) apresentava mais de 2 anos (Tabela 2).

Tabela 2
Caracterização das crianças (n=30) segundo sexo e faixa etária e segundo os critérios avaliados no DIVA* score (visibilidade, palpabilidade, idade, prematuridade e tonalidade da pele) na aplicação do pré-teste. Curitiba, PR, Brasil, 2015

Quanto aos critérios avaliados pelo DIVA score, salienta-se que 16 (53%) crianças apresentavam rede venosa não visível, mesmo com o garroteamento do membro inspecionado. Com relação à palpabilidade, 19 (63%) possuíam veias palpáveis, ou seja, detectadas mediante inspeção tátil, utilizando-se da polpa digital dos dedos médios e/ou indicadores direito e/ou esquerdo.

Já a idade, na amostra de conveniência, segundo os estratos etários do DIVA score, contou com crianças menores de 12 meses (n=13; 43%), e esse grupo recebeu maior pontuação no DIVA score. As crianças na faixa etária de 12 a 35 meses (n=6; 20%) receberam pontuação intermediária no DIVA score. Entretanto, o segmento etário de ≥36 meses não pontuou no score.

O critério de maior pontuação no DIVA score foi a prematuridade. Ter nascido prematuro, de acordo com as pesquisas e validação originais do DIVA, confere 3 pontos, a serem somados ao score total. O nascido a termo com idade ≥3 anos não recebe nenhuma pontuação. Nesse pré-teste, foram avaliadas 5 (17%) crianças prematuras.

Para mensurar a confiabilidade entre os pareceres dos profissionais de saúde quanto à clareza do instrumento traduzido, foi avaliado o coeficiente de equivalência entre a versão em português falado no Brasil e a versão em inglês norte-americano, e utilizado o coeficiente alfa de Cronbach1414 Fehring R. Methods to validate nursing diagnoses. Heart Lung. [Internet] 1987 Nov [cited Jun 15, 2016];16(6 Pt 1):625-9. Available from: <http://epublications.marquette.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1026&context=nursing_fac>
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, com o apoio do software estatístico SPSS®.

Visto que a somatória dos escores dos avaliadores não tenha sido normalmente distribuída, a partir da verificação feita com o teste de Shapiro-Wilk, com o valor de p<0,0001 considerou-se a dicotomização dos escores para utilizar-se de análise estatística mais adequada para a confiabilidade estatística. Na escala de Likert dicotomizada, as alternativas de resposta foram tratadas, considerando seu cunho positivo ou negativo, respectivamente, como: “não claro”, como a junção dos níveis “nada claro” e “pouco claro”; e “claro”, como junção dos níveis “claro”, “muito claro” e “totalmente claro”. Assim, fundamentado na nova configuração dos níveis de clareza, pode-se assumir que o instrumento estava confiável, tendo em vista que foi considerado “claro” em 100% das avaliações.

A fase final do processo de adaptação transcultural e validação de instrumentos de saúde, a sexta etapa, consistiu na submissão de todos os relatórios, formulários e da versão final do instrumento (Figura 2) para a comissão de juízes especialistas, bem como para o autor da versão original.

Figura 2
Versão original do DIVA score e versão adaptada transculturalmente ao português falado no Brasil

Discussão

A adaptação transcultural de instrumentos de saúde para uso em novo país requer o emprego de uma metodologia única, objetivando alcançar as equivalências entre os idiomas de origem e de destino. Trata-se da necessidade de manter a validade do conteúdo e, assim, permitir a aplicação do instrumento no novo idioma, com adaptação linguística e cultural, tendo a confiabilidade de que a avaliação do impacto de uma doença ou tratamento é descrita de forma semelhante em ensaios multinacionais1212 Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Recommendations for the Cross-Cultural Adaptation of the DASH & Quick DASH Outcome Measures. [Internet]. Ontario: CA: Institute for Work & Health 2002, 2007. Available from: <https://www.researchgate.net/profile/Claire_Bombardier/publication/265000941_Recommendations_for_the_CrossCultural_Adaptation_of_the_DASH__QuickDASH_Outcome_Measures_Contributors_to_this_Document/links/53fdd6140cf22f21c2f85143.pdf>.
https://www.researchgate.net/profile/Cla...
.

A preocupação com a utilização de instrumentos na área de saúde, traduzidos com exatidão para outras línguas e realidades culturais, emergiu por volta do início da década de 90. Esse fato foi precipitado pela utilização desses instrumentos meramente traduzidos, ou então como simples comparação com a retrotradução, sem que houvesse equivalências para manter coerência com o original, o que culminava em utilizações inadequadas e resultados não satisfatórios1616 Merkin R, Taras V, Steel P. State of the art themes in cross-cultural communication research: A systematic and meta-analytic review. Int J Intercultural Relations. [Internet]. 2014 Jan [cited March 17, 2016]. 2014;38:1-23. Available from: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0147176713001193#>
http://www.sciencedirect.com/science/art...
.

Analisando a tradução inicial do DIVA score, houve concordância que a versão do Tradutor 1, Escore de acesso intravenoso difícil - DIVA score, aproximou-se mais da prática profissional. Sua leitura sugere a dificuldade de estabelecimento de acesso intravenoso, diferentemente do Tradutor 2, que sugeriu Difícil ponto de acesso intravenoso, demarcando ou delimitando um local privativo para a realização da punção, dando a entender dificuldade de acesso a um local específico.

Acesso intravenoso difícil é aquele em que o profissional, mesmo sendo qualificado e experiente, não consegue estabelecer a cateterização venosa periférica de paciente pediátrico após múltiplas tentativas. Não se trata apenas de habilidade manual, mas também de questões físicas do paciente, psicológicas (tanto do profissional quanto do paciente), uso de material inadequado ao calibre do vaso, tipos de soluções que serão infundidas - ou terapêutica já instituída -, entre outros fatores1717 Rodrigues EC, Cunha SR, Gomes R. “Perdeu a veia”: significados da prática da terapia intravenosa na unidade de terapia intensiva neonatal. Ciênc Saúde Coletiva. [Internet]. 2012;17(4):989-99. Disponível em: <http://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/9058>
http://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/...
. Pacientes pediátricos geralmente são submetidos a diversas tentativas de estabelecimento da PIP, por mais de um profissional. Assim, a dificuldade de estabelecer uma via de administração de soluções, principalmente à primeira tentativa, é uma realidade vivenciada diariamente, especialmente nos serviços de emergência pediátrica. Por se tratar de uma necessidade de alta prioridade para o atendimento da criança criticamente doente e instável, é causa de angústia e elevado estresse na equipe, criança e familiar/acompanhante quando não se estabelece prontamente a PIP1818 Unbeck M, Förberg U, Ygge BM, Ehrenberg A, Petzold M, Johansson E. Peripheral venous catheter related complications are common among paediatric and neonatal patients. Acta Paediatrica. Acta Paediatr. [Internet]. 2015 Jun [cited May 14, 2016];104(6):566-74. Available from: http://onlinelibrary.wiley.com/wol1/doi/10.1111/apa.12963/abstract
http://onlinelibrary.wiley.com/wol1/doi/...
.

Após a tradução, retrotradução e avaliação pelo comitê de juízes especialistas, a versão pré-final do instrumento na língua portuguesa falada no Brasil foi submetida a testagem da clareza das variáveis ou sua confiabilidade pelos profissionais de saúde. A maioria dos participantes era experiente no atendimento em pediatria, fato que pode confirmar a fidedignidade de suas respostas de avaliação ao instrumento DIVA score, mediante conhecimento teórico e habilidades práticas acumuladas. A pontuação no questionário Likert, preenchido pelos profissionais de saúde, sinalizou para além de um parecer de confiabilidade moderada, pois 100% dos participantes confirmaram a clareza do instrumento.

As crianças avaliadas representaram igualmente os sexos feminino e masculino, e a maioria tinha mais de 2 anos de idade. Quanto à vulnerabilidade para o insucesso à primeira tentativa, as crianças menores de 12 meses apresentaram-se mais vulneráveis, enquanto as de 12 a 35 meses mostraram insucesso intermediário segundo o DIVA score. Contudo, o segmento etário de ≥36 meses não recebeu pontuação no cálculo do score, denotando que a categoria idade para crianças acima de 3 anos não pesa no score total do risco de insucesso à primeira punção. Pode-se inferir que a categoria idade, para predição do insucesso à primeira tentativa da PIP, é uma variável preditiva isolada pouco significativa. No entanto, ao se calcular as demais variáveis, pode-se obter um risco elevado, mesmo que a pontuação relativa à idade seja nula. Outrossim, observa-se que as demais variáveis serão impactadas por outras condições clínicas, como a cronicidade, o estado de nutrição e a hidratação.

Nos critérios de visibilidade, avaliados pelo DIVA score, salienta-se que a maioria das crianças apresentava rede venosa não visível, a despeito do garroteamento do membro inspecionado visualmente, situação rotineira vivenciada no estabelecimento de uma PIP e geradora de stress na equipe de punção. Em contrapartida, a maior parte das crianças possuía veias palpáveis, ou seja, detectadas mediante inspeção tátil. No entanto, esse cenário aponta a necessidade de recursos adjuvantes para melhor localização da via de acesso, evitando as inúmeras repunções e sobretudo o trauma da criança.

A prematuridade é o critério de maior pontuação no DIVA score. Nascimento prematuro, de acordo com as pesquisas e validação originais do DIVA, confere 3 pontos, a serem somados ao score total. Assim, o nascimento a termo pode ser considerado fator de proteção para o insucesso da punção à primeira tentativa. A prematuridade, analisada isoladamente, sem contabilizar os demais itens, promove status de pontuação limítrofe para o sucesso à primeira tentativa. Somente um ponto a mais no score total, relacionado a qualquer outra variável, colocará a criança em contexto de análise, que não dispensa o uso de um recurso adjuvante.

O escore de predição clínica ao insucesso de punção à primeira tentativa pode ser utilizado por flebotomistas, que atuam em laboratórios onde se realizam PIPs em crianças, ou mesmo em ambulatórios, nos quais a coleta de sangue faz parte da rotina diária de trabalho. Os resultados evidenciaram que o DIVA score, traduzido para o português falado no Brasil, é de fácil aplicabilidade na assistência de enfermagem pediátrica, e útil como ferramenta para qualificar o cuidado, tanto em cenários ambulatoriais como hospitalares.

Ressalta-se que as dificuldades para o desenvolvimento desta pesquisa foram relativas à escolha e disponibilidade dos juízes, especialistas e tradutores, e à organização do tempo destinado a cada uma das seis etapas do Método de Adaptação Transcultural e Validação.

Conclusão

A inquietação, relacionada ao procedimento da PIP e suas dificuldades, foi derivada da vivência na prática cotidiana em um serviço de emergência pediátrica, e determinante para a busca por uma alternativa e/ou instrumento preditivo que auxiliasse nesse processo doloroso e inquietante, tanto para a equipe de enfermagem quanto para o paciente pediátrico e seu familiar/acompanhante.

A possibilidade de ajustar o DIVA score à realidade brasileira, para uso nos setores de cuidados pediátricos, com a possibilidade de planejar o cuidado de maneira individualizada, segura, responsável e centrada no bem-estar da criança e de seu familiar/acompanhante e assim repercutir na satisfação e no êxito do desempenho profissional da equipe de enfermagem, foram fatores determinantes para sua escolha.

A versão brasileira do DIVA score, denominada Escore de Acesso Intravenoso Difícil, foi adaptada transculturalmente com validação de conteúdo e semântica, ou de face, para uso corrente no Brasil. É instrumento adjuvante ao diagnóstico de enfermagem Risco de Trauma Vascular, pois define os pacientes pediátricos que terão 50% de chance de insucesso à primeira tentativa de estabelecimento da PIP. Além disso, propicia análise de qualidade da assistência prestada e permite concluir pela necessidade de implementação de grupos com expertise em acesso vascular pediátrico, ou pelo uso de aparatos tecnológicos que facilitem a visualização da rede venosa.

Por conseguinte, contribui com a enfermagem pediátrica brasileira, ao apresentar um recurso de predição que poderá ser empregado para minimizar possíveis traumas vasculares, bem como favorecer a opção por recursos adjuvantes facilitadores da PIP em pediatria. Sugere-se a realização de estudos de avaliação da rede venosa pediátrica, utilizando-se o DIVA score como ferramenta em outros cenários, com a realização de análise de validade clínica externa, equivalência de mensuração e de reprodutibilidade.

Agradecimentos

Ao Dr. Kenneth Yen, principal autor da versão original do instrumento, pela permissão para o desenvolvimento deste estudo, e por sua disponibilidade, esclarecimentos e apoio ao longo da pesquisa.

References

  • 1
    Artigo extraído da dissertação de mestrado “Adaptação Transcultural e validação clínica do Difficult Intravenous Access score - DIVA SCORE - para uso no Brasil”, apresentada à Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2017

Histórico

  • Recebido
    13 Jul 2016
  • Aceito
    11 Maio 2017
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