Flora das cangas da Serra dos Carajás, Pará, Brasil: Lophocoleaceae

Flora of the cangas of Serra dos Carajás, Pará, Brazil: Lophocoleaceae

Resumo

Este trabalho apresenta a família Lophocoleaceae das áreas de canga na Serra dos Carajás, no estado do Pará, incluindo a descrição detalhada, ilustração e comentários morfológicos sobre a espécie Lophocolea bidentata, única registrada na área de estudo.

Palavras-chave:
Brioflora; FLONA Carajás; hepáticas; taxonomia

Abstract

This work presents the family Lophocoleaceae from areas of canga of Serra dos Carajás, Pará state, including a detailed description, illustration and morphologic comments on the species Lophocolea bidentata, the only one recorded in the study area.

Key words:
Bryoflora; FLONA Carajás; liverworts; taxonomy

Lophocoleaceae

Lophocoleaceae Vanden Berghen possui 21 gêneros e 430 espécies, das quais 172 são aceitas por Söderström et al. (2016). No Brasil, foram registrados cinco gêneros e 24 espécies (Gradstein & Costa 2003). Os membros dessa família são reconhecidos pelos filídios súcubos, alternados ou opostos, anfigastros presentes, geralmente bífidos, denteados e conados aos filídios e rizóides usualmente em tufos na base do anfigastro (Fulford 1976; Gradstein et al. 2001). Nas cangas da Serra dos Carajás foi registrada uma espécie do gênero Lophocolea (Dumort.) Dumort.

1. Lophocolea (Dumort.) Dumort.

O gênero possui 151 espécies, das quais 47 aceitas por Söderström et al. (2016). No total, 18 espécies ocorrem no Brasil (Costa & Peralta 2015), geralmente sobre troncos de árvore viva ou em decomposição, sobre rochas, no solo, e raramente sobre folhas (Gradstein et al. 2001; Gradstein & Costa 2003). Lophocolea apresenta ramos laterais terminais (tipo-Frullania) ou intercalares (lateral ou ventral), filídios com 2-3 dentes ou totalmente denteados e periantos com 3 quilhas (Fulford 1976; Gradstein et al. 2001; Gradstein & Costa 2003).

1.1. Lophocolea bidentata (L.) Dumort., Recueil Observ. Jungerm.: 17, 1835.

Jungermannia bidentata L., Sp. Pl. 1: 1132, 1753.

Fig. 1a-c

Figura 1
a-c. Lophocolea bidentata – a. hábito; b. anfigastro; c. dente do filídio.
Figure 1
a-c. Lophocolea bidentata – a. habit; b. underleaf; c. leaf tooth.

Plantas verde-pálidas, 0,8-1,14 mm de largura, ramos laterais. Filídios alternados, amplamente estendidos, simétricos, retangular-ovalados, 0,4-0,5 × 0,3-0,4 mm, ápice 1/5 bífido, dentes distantes, 2-4 células de comprimento. Anfigastro livre (não conado ao filídio), 2/3 bífido, com um dente alongado nas margens. Células isodiamétricas, 12-20 µm, paredes finas, trigônios pequenos.

Material selecionado: Canaã dos Carajás, S11B, 6°21'19,1"S, 50°23'27,4"W, 29.IV.2015, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3518 (MG). Parauapebas, N5, 6°06' 18,1"S, 50°07'49,3"W, 27.IV.2015, A.L. Ilkiu-Borges et al. 3380 (MG).

Essa espécie se caracteriza pelos anfigastros livre e não conados aos filídios, filídios simétricos, retangular-ovalados com ápice curto-bífido e dentes de 2-4 células de comprimento. Gradstein & Ilkiu-Borges (2009), registraram L. bidentata (como Chiloscyphus latifolius (Nees) J.J.Engel & R.M.Schust.) com dentes de até 6 células de comprimento.

Segundo Gradstein & Costa (2003), essa espécie ocorre sobre solo, rochas, sobre troncos de árvores vivas ou em decomposição. Nas cangas da Serra dos Carajás, essa espécie ocorreu sobre rocha de ferro e tronco em decomposição.

Subcosmopolita. No Brasil: AC, AM, CE, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PE, PR, RJ, RR, RS, SC e SP. Serra dos Carajás: Serra Sul: S11C; Serra Norte: N5.

• Lista de exsicatas
  Ilkiu-Borges AL 3380 (1.1), 3381 (1.1), 3518 (1.1).
• Editor de área: Dr. Alexandre Salino

Agradecimentos

Agradecemos ao Museu Paraense Emílio Goeldi e Instituto Tecnológico Vale, a infraestrutura e demais apoios fundamentais para o desenvolvimento deste trabalho, assim como à Dra. Ana Maria Giulietti Harley e ao Dr. Pedro Viana, coordenadores do projeto conveniado MPEG/ITV/FADESP (01205.000250/2014-10) e ao projeto aprovado pelo CNPq (processo 455505/2014-4), o financiamento; ao ICMBio, em especial ao biólogo Frederico Drumond Martins, a licença de coleta concedida e suporte nos trabalhos de campo; ao CNPq, a bolsa de Iniciação Científica concedida ao segundo autor e a bolsa de Produtividade em Pesquisa concedida à primeira autora.

Referências

• Costa DP & Peralta DF (2015) Bryophytes diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1063-1071.
• Fulford MH (1976) Manual of the Leafy Hepaticae of Latin America. Part IV. Memoirs of The New York Botanical Garden 11: 393-535.
• Gradstein SR & Costa DP (2003) The Hepaticae and Anthocerotae of Brazil. Memoirs of The New York Botanical Garden 87: 1-318.
• Gradstein SR, Churchill SP & Salazar-Allen N (2001) Guide to the Bryophytes of tropical America. Memoirs of the New York Botanical Garden 86: 1-577.
• Gradstein SR & Ilkiu-Borges AL (2009) Guide to the plants of Central French Guiana. Part 4. Liverworts & Hornworts. Memoirs of the New York Botanical Garden 76: 1-140.
• Söderström L, Hagborg A, von Konrat M, Bartholomew-Began S, Bell D, Briscoe L, Brown E, Cargill DC, Costa DP, Crandall-Stotler BJ, Cooper ED, Dauphin G, Engel JJ, Feldberg K, Glenny D, Gradstein SR, He X- L, Heinrichs J, Hentschel J, Ilkiu-Borges, AL, Katagiri T, Konstantinova NA, Larraín J, Long DG, Nebel M, Pócs M, Puche F, Reiner-Drehwald E, Renner MAM, Sass-Gyarmati A, Schäfer-Verwimp A, Moragues JGS, Stotler RE, Sukkharak P, Thiers BM, Uribe J, Váňa J, Villarreal JC, Wigginton M, Zhang L. & Zhu R-L (2016) World Checklist of hornworts and liverworts. Phytokeys 59: 1-828.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  Jul-Sep 2017

Histórico

• Recebido
  05 Abr 2017
• Aceito
  30 Jun 2017