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RESUMOS DE LIVROS BOOK REVIEWS

João Pessoa de Paula Carvalho

Departamento de Prática de Saúde Pública — FSP/USP

Aditivos para alimentos sob o aspecto toxicológico, por Antonia Mattos Simão. São Paulo, Liv. Nobel, 1985. 274 p.

O livro tem como base a dissertação de mestrado, desenvolvida junto à Disciplina de Laboratorio de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública, cuidadosamente revista, ampliada e complementados os capítulos sob o aspecto toxicológico.

O texto está centrado no fato de que a totalidade dos alimentos é constituída de substâncias químicas denominadas glícides, protídios, lípides, vitaminas, sais minerais e água, mas que, além desses componentes naturais dos alimentos, produtos químicos adicionais podem ser incorporados, direta ou indiretamente, durante o cultivo, estocagem ou processamento e permanecerem como resíduos não previstos. O controle desses elementos requerem exaustivos controles analíticos, pois na maioria das vezes são constituídos por traços de substâncias químicas determinados em poucos laboratorios do mundo, requerendo técnicas altamente especializadas e aparelhos de elevado custo (análise instrumental).

É evidenciado que os aditivos podem contribuir muito para a conservação de alimentos e ajudar a impedir o desperdício de excedentes de safras e que em países como o Brasil a falta de instalações modernas de armazenamento, o clima tropical, a insuficiência de transporte e de meios de comunicação podem proporcionar a necessidade do aumento de emprego de determinados aditivos para a conservação de produtos alimentícios.

O livro descreve e analisa de forma didática os aditivos químicos ou aditivos alimentares. São abordados os diferentes critérios de classificação e os riscos do uso indiscriminado de substâncias químicas adicionadas aos alimentos, bem como a necessidade de uma vigilância mais adequada por parte das autoridades sanitárias para que se evite que tais elementos se tornem, cada vez mais, verdadeiros poluidores, acarretando sérios prejuízos à saúde da coletividade, tendo em vista que muitos deles são considerados até cancerígenos.

A obra, entre outros aspectos, procura mostrar ao leitor a grande importância de se estudar mais profundamente o assunto em nosso País e que o problema aditivo químico é objeto de preocupação mundial, dado o aspecto atual da tecnologia de alimentos. Conceitua aditivos alimentares, como sendo matérias não nutritivas que se incorporam intencionalmente aos alimentos, em geral em pequena quantidade, para melhorar seu aspecto, seu sabor, suas consistências ou suas propriedades de conservação e alerta para o fato de que o aumento crescente de produtos químicos que se empregam ou se pretende empregar nos alimentos ou sobre estes impõe às autoridades sanitárias e outros organismos oficiais a obrigação de decidir se tais substâncias devem ou não ser empregadas.

A publicação se faz importante, procurando divulgar e alertar as pessoas preocupadas com a saúde alimentar através de dados fundamentais para o detalhamento desses elementos tóxicos, sua conceituação, classificação, descrição, necessidade de uso, utilização indiscriminada e a legislação nacional e internacional, sob a responsabilidade da FAO/OMS.

Seu conteúdo é constituído por 16 unidades, todas de grande interesse para estudantes, professores e profissionais da área de Saúde Pública, Farmácia-Bioquímica, Medicina, Química, Engenharia, Tecnologia de Alimentos, Veterinária e público em geral, que se deve preocupar mais com a qualidade dos alimentos que ingere.

Os temas estudados obedecem a seqüência: 1. Introdução; 2. Conceito de aditivo e diferentes critérios de classificação; 3. Corantes; 4. Conservadores; 5. Antioxidantes; 6. Acidulantes; 7. Seqüestrantes; 8. Gomas; 9. Frações de Amido e Derivados; 10. Agente Ativo de Superfície; 11. Polióis; 12. Flavorizantes; 13. Edulcorantes; 14. Aditivos acidentais; 15. Legislação; 16. Conclusões.

Este livro surge em momento oportuno, preenchendo grande lacuna no meio universitário e será de grande utilidade para os propósitos que foi escrito, constituindo, assim, um verdadeiro progresso na literatura brasileira sobre alimentos.

Diogo Pupo Nogueira

Departamento de Saúde Ambiental - FSP/USP

The cost of social security: eleventh international inquiry, 1978-1980; by International Labour Office. Geneva, 1985. 113 p. [Texto em inglês, francês, espanhol]

Pela décima-segunda vez, a Organização Internacional do Trabalho propõe-se a estudar as operações financeiras de todos os regimes de previdência social compreendidos no seu campo de inquérito e a proceder uma comparação internacional dos dados, procurando relacionar os custos previdenciários com estatísticas demográficas. A OIT encarece a relevância desse inquérito ao lembrar a importância crescente da previdência social na economia de numerosos países; destaca que tais estudos dependem da existência de dados estatísticos precisos, detalhados, homogêneos e os mais completos possíveis.

Procura-se obter de cada país uma imagem a mais abrangente possível do que recebe e do que gasta a previdência social para prestar seus serviços à população. Os objetivos desses serviços devem ser:

1. prestar cuidados médicos preventivos ou curativos;

2. propiciar pensão adequada em caso de perda involuntária de meios de subsistência ou de uma parte importante de ganhos pessoais; ou

3. dar um ganho suplementar a pessoas que tenham responsabilidades familiares.

Recomenda a OIT que o sistema de previdência social deve ser estabelecido por legislação que dê direitos individuais bem específicos através de um organismo público, semi-público (misto) ou autônomo. Os benefícios por ele concedidos devem incluir: a) assistência médica; b) pagamento de auxílio doença; c) auxílio desemprego; d) auxílio velhice; e) auxílio acidente; f) salário-família; g) auxílio maternidade; h) auxílio invalidez; i) pensão em caso de morte.

Um questionário a respeito dos assuntos em pauta foi enviado ao governo dos países membros da OIT, sendo recebidas 67 respostas (o Brasil não respondeu).

As respostas ao questionário foram resumidas em 8 tabelas principais, subordinadas aos títulos: Tabela 1: Receita e despesa total por itens principais; Tabela 2: Receita e despesa dos sistemas de previdência social em relação ao PIB; Tabela 3: Média anual de receita e despesa e gasto por segurado; Tabela 4: índices das médias de despesa por benefício e por segurado; Tabela 5: Distribuição da despesa da previdência entre os vários esquemas; Tabela 6: Distribuição da receita da previdência social segundo sua procedência; Tabela 7: Distribuição da receita da previdência social por certos regimes previdenciários; Tabela 8: Distribuição da despesa por prestação de serviços e por tipos de previdência social.

Não seria possível, neste breve espaço, resumir o grande número de dados fornecidos por essas tabelas, que merecem estudo detalhado por parte dos interessados. Alguns dados são surpreendentes; assim, na Tabela 1, verifica-se que entre os países das duas Américas, somente a Bolívia apresentou receita menor que despesa (- 1,2%) enquanto que todos os demais países apresentaram valores de receita sempre superiores aos da despesa, variando de um mínimo de +3,2% (Argentina) até um máximo de +78,3% (Guiana), com o Canadá apresentando + 15,3% e os Estados Unidos +11,1% (todos os dados referentes ao ano de 1980); o vultuoso déficit da previdência social no Brasil parece mostrar que tenha sido esta uma das razões pela qual o Governo Brasileiro não respondeu ao questionário da OIT. Outro ponto interessante, revelado pela Tabela 2, é que o Canadá dedica 14,8% do seu PIB à previdência social, sendo seguido pelos Estados Unidos, com 12,2%; esses valores reduzem-se nitidamente quando são considerados os países latino-americanos, cujo melhor resultado é o do Chile (9,8%), com a Argentina em segundo lugar (8,9%) e Trinidad-Tobago em último (0,9%), mas contrastam bastante com os europeus, muito mais elevados (Suécia: 31,2%, Holanda: 27,6%, Dinamarca: 26,2%, França: 25,5%, Bélgica: 24,5% etc.) com exceção de Portugal (9,1%) se bem que nos países socialistas esses valores não sejam tão elevados (URSS: 14,1%, Polônia: 15,5%, Hungria: 18,1%, etc.).

Esta publicação da OIT deve constituir leitura obrigatória para todos os que estudam custos da previdência social e é de lamentar-se que o nosso país não tenha respondido ao questionário, o que impede comparar os custos brasileiros com os de outros países.

Clóvis Lombardi

Departamento de Epidemiologia — FSP/USP

Gonorrhea transmission dynamics and control, by Herbert W. Hethcote and James A. Yorke. Berlin, Springer-Verlag, 1984. 105 p. (Lecture notes in biomathematics, 56)

O propósito geral do livro é o de aplicação de modelos matemáticos ao estudo da epidemiologia da gonorréia, para uma melhor compreensão dos mecanismos biológicos e sociológicos que influenciam a distribuição da doença numa população e para fornecer subsídios para os programas oficiáis de controle.

O primeiro capítulo, introdutório, descreve a magnitude do problema epidemiológico representado pela gonorréia especialmente nos Estados Unidos da América, bem como as principais ações que compõem o programa de controle da doença (triagem em massa de casos através de cultura, investigação epidemiológica de contactos, e outros).

Ainda no primeiro capítulo são formuladas as premissas de um modelo da dinâmica da transmissão da doença; assume-se que as três características epidemiológicas fundamentais da gonorréia que devem fazer parte do modelo são:

1) ausência de imunidade protetora após a infecção;

2) período de latência muito curto da gonorréia, em relação a outras doenças transmissíveis (um a dois dias);

3) pequena magnitude das flutuações sazonais da incidência.

Com base nestas características epidemiológicas da gonorréia, no capítulo 2 é descrito um modelo simples para a dinâmica da doença, o qual supõe uma população homogênea, constituída apenas por indivíduos de alto risco, sem distinção epidemiológica entre homens e mulheres. Define-se um ponto de equilíbrio endêmico, a partir do qual a incidência varia em função da variação dos parâmetros.

No capítulo 3 é proposto um modelo mais sofisticado para a dinâmica da gonorréia, que assume a heterogeneidade de uma população subdividida em "n" grupos em função de critérios como sexo, idade, comportamento sexual, número de parceiros sexuais, distribuição geográfica, status sócio-econômico, além de outros.

No capítulo 4 introduz-se o conceito de grupo nuclear ou central ("core group"), em contraposição ao conceito vigente na década de 70, de que a "gonorréia é um problema de todos". O "core group" é constituído por aqueles indivíduos sexualmente muito ativos e que são transmissores eficazes. São os grupos de alta prevalência (ao menos 20%), que correspondem a menos de 2% da população e que são responsáveis diretos por cerca de 60% das infecções. Em função destas características epidemiológicas é proposto um modelo "core" / "non core", e a partir deste são criticadas as estratégias de triagem em massa de casos, de investigação epidemiológica de contactos e de vacinação.

É proposto no capítulo 5 um modelo para a dinâmica de transmissão da gonorréia para uma população heterossexual, a partir das diferenças epidemiológicas da doença nos dois sexos. Neste capítulo procura-se analisar também a natureza e as implicações da distribuição sazonal da gonorréia, que é introduzida no modelo, assumindo-se que o número de contatos varia com a estação do ano.

No capítulo 6 é desenvolvido um modelo para a gonorréia em que a população é dividida em 8 grupos, de acordo com: sexo, nível de atividade sexual e presença ou não de infecção sintomática. As oito combinações resultantes são usadas para comparar a eficácia de 6 tipos de ações de controle baseadas em estratégias de triagem em massa de casos e investigação de contactos em grupos selecionados. Este modelo, que incorpora a heterogeneidade da população, é considerado mais realístico que os anteriores modelos a dois grupos.

Finalmente, são descritos os programas para computador escritos com a finalidade de encontrar o ponto de equilíbrio endêmico, os quais requerem, como "input", valores relativos aos 8 parâmetros essenciais anteriormente citados.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Set 2005
  • Data do Fascículo
    Out 1985
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