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Comunhão universitária? Balanços e fraturas na história da Universidade de São Paulo

University communion? Balances and fractures in the history of the University of São Paulo

Resumo

Trata-se de realizar uma análise das publicações coletivas voltadas a celebrar o aniversário da Universidade de São Paulo. Os dossiês escolhidos referem-se ao vigésimo, sexagésimo e septuagésimo aniversários dessa instituição. Pretende-se identificar padrões de avaliação, bem como percepções e juízos distintos sobre a excelência do ensino, pesquisa e extensão segundo as unidades e as áreas do conhecimento dessa instituição.

Palavras-chave
USP 90 anos; Dossiês Comemorativos; Avaliação Institucional; Expansão e Crise da Universidade

Abstract

The aim is to analyze the collective publications celebrating the anniversary of the University of São Paulo. The dossiers refer to the institution’s twentieth, sixtieth and seventieth anniversaries. The aim is to identify evaluation standards, as well as different perceptions and judgments about excellence in teaching, research, and extension according to the units and areas of knowledge at the institution.

Keywords
USP 90th Anniversary; Commemorative Dossiers; Institutional Evaluation; University Expansion and Crisis

Uma instituição, como qualquer agente, recebe um nome próprio que sugere uma identidade duradoura e, ao mesmo tempo, tem de atender a múltiplas e conflitantes demandas nos diversos espaços em que atua ao longo de sua existência. A Universidade de São Paulo, desde sua origem, é uma instituição mal definida: criticada por alguns por oferecer uma formação em áreas e/ou cursos sem utilidade direta, segundo a lógica das profissões tradicionais, também foi alvo de ataques por supostamente incutir uma visão excessivamente engajada a respeito dos problemas sociais. Dependendo da faculdade ou do ponto de vista adotado, tradicional ou moderno, científico ou literário, as relações com a sociedade mais ampla e com as elites dirigentes assumiram forma e função muito distintas. Por um lado, as grandes escolas profissionais, como Direito, Medicina e Engenharia, sempre forneceram, e não apenas no Brasil, uma parcela importante dos quadros políticos e econômicos do país. Por outro lado, em oposição àquelas escolas, as faculdades de ciências e de letras destinaram-se a refletir, para além da realidade imediata, sobre problemas científicos e culturais mais abrangentes – ocupando assim posição distintiva, mas dominada, no campo do poder (Bourdieu, 1996BOURDIEU, Pierre. (1996), "A ilusão biográfica". In: Razões práticas. São Paulo, Papirus Editora., 2011BOURDIEU, Pierre. (2011), Homo academicus. Tradução de Ribeiro Valle. 2. ed. Florianópolis, Edtora UFSC.). Esse é o quadro dos anos 1930, e é importante percorrê-lo com a gravidade dos acontecimentos internacionais dessa década, ainda que em aparência a América Latina e, em particular, o Brasil estivessem distantes das transformações econômicas, políticas e intelectuais que mobilizaram os países centrais. Seja olhando para o arsenal de instituições de cooperação intelectual criadas no período, seja para a mobilização dos próprios intelectuais em socorro ao mundo da cultura e da ciência, sob ataque, as expectativas em torno dos “intelectuais” formados por uma cultura humanística eram muito altas (Charle, Luce e Boutry, 2021). Esses são alguns dos elementos que dão a dimensão das expectativas em torno da fundação da Universidade de São Paulo, com sua Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, em 1934, sacramentada pela comunhão entre cultura e ciência (Miceli, 1989MICELI, Sergio (org.). (1989), História das Ciências Sociais no Brasil, 2 vols. São Paulo, Sumaré, vol. 1., 1995MICELI, Sergio (org.). (1995), História das Ciências Sociais no Brasil, 2 vols. São Paulo, Ed. Sumaré, vol. 2.; Cardoso, 1982).

Com algum recuo, não se pode deixar de reconhecer a centralidade da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras na Universidade de São Paulo durante as primeiras décadas de sua existência, assim como a perda de prestígio e poder subsequente ao desmembramento e fundação dos institutos de ciências a partir dos anos 1970, bem como às novas regras que passam a reger o ensino superior e a produção científica nos anos 1990. Ao que tudo indica, rompera-se o elo tradicional entre cultura e ciência. A partir desse período, cada unidade se tornara um universo com dilemas próprios e enorme diversidade de funções: a formação “pura” parece ter se restringido aos cursos da nova Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, enquanto nas unidades das ciências biológicas e exatas operou-se uma especialização acelerada e uma aproximação com as franjas mais científicas das faculdades profissionais. Os efeitos desse longo processo e da nova identidade da Universidade de São Paulo ainda estão para ser avaliados. Esta introdução apenas pontua algumas questões deixadas pelos que nos antecederam.

* * *

Ao propor uma análise de alguns dos dossiês publicados por ocasião das celebrações da Universidade de São Paulo, a ideia é identificar as questões mais candentes que marcam as percepções e juízos da comunidade uspiana ao longo desses noventa anos, bem como as possíveis diferenças entre elas segundo as áreas do conhecimento ou unidades institucionais. Em outros termos, procuramos identificar padrões que foram erigidos como critério de excelência a partir da comparação dos dossiês e entre os artigos de cada dossiê, tomando como referência: a obra Ensaios paulistas, coletânea de artigos publicados originalmente no jornal O Estado de S. Paulo, em 1954, e pela editora Anhambi, em 1958; o dossiê publicado na revista Estudos Avançados da USP, em 1994; e o dossiê publicado na Revista USP, em 20041 1 . Há inúmeros dossiês publicados a respeito das diversas unidades da USP que não foram objeto deste estudo em razão do critério adotado: escolhemos apenas os dossiês que publicaram artigos sobre as unidades e, além disso, que tratavam do conjunto da universidade. Assim, não incluímos o dossiê de 1984, publicado pela revista Literatura e Sociedade, pois ele se restringe a depoimentos de antigos e novos professores. Os dossiês publicados pela Edusp por ocasião dos cinquenta, setenta e oitenta anos da Universidade de São Paulo também foram excluídos por serem publicações com propósitos institucionais e informativos. Para uma análise sociológica dessas publicações, ver M. Carlotto, 2014, 2022. . Em relação aos períodos históricos desses três dossiês, no primeiro caso, trata-se dos anos 1950 e, não por acaso, a publicação abrange tanto textos sobre a Universidade quanto sobre o IV Centenário da cidade de São Paulo. Uma relação de complementaridade que não é estranha ao período de fundação e, pelo contrário, revela a cumplicidade entre as elites dirigentes paulistas e o projeto da Universidade. No dossiê publicado nos anos 1990, o contexto é muito diferente, pois trata-se do início do período democrático e a Universidade já está, segundo alguns, em sua “terceira fundação” (Chaui, 2004). Os artigos, nesse caso, buscam tanto homenagear os “pioneiros” quanto dar visibilidade à estrutura das unidades e cursos. Finalmente, no terceiro período, já na primeira década do século XXI, o quadro observado é bastante distinto. Trata-se dos primeiros anos do governo Lula e de um cenário marcado pelas mudanças no ensino superior promovidas pela “Era FHC”.

A despeito de suas diferenças, as três publicações recorrem ao período de fundação da Universidade de São Paulo como se daí fosse possível deduzir todas as transformações posteriores. A reverência aos “pioneiros”, em particular quando reconhecidos internacionalmente, é uma das estratégias mais recorrentes de legitimação da instituição. O mito fundador, como todo mito de origem, tornou-se uma crença coletiva que deve ser considerada como tal, ou seja, com certo distanciamento (Miceli, 1989MICELI, Sergio (org.). (1989), História das Ciências Sociais no Brasil, 2 vols. São Paulo, Sumaré, vol. 1.). Além dele, o mito da “comunhão universitária” tornou-se parte de uma doxa que impede muitas vezes a identificação de suas tensões internas, fraturas institucionais, oposições disciplinares, visões de mundo incompatíveis, estilos de vida intelectual conflitantes. Várias foram as linhas de força que produziram essas tensões, entre as quais se destaca a oposição entre as escolas profissionais tradicionais – Direito, Medicina, Engenharia – e a Faculdade de Filosofia2 2 . Existem inúmeras publicações sobre as unidades. Ver “130 anos da Escola Politécnica da USP”; Baccalá, 2012. . Não por acaso a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, a instituição que dá origem à universidade, ocupa mais espaço em cada uma das três publicações. Outro eixo a ser ressaltado é o que separa a Faculdade de Filosofia dos centros ou institutos de ciências naturais ou exatas, criados a partir dos anos 1970, uma vez que as disposições críticas dos ocupantes do primeiro espaço se opõem à neutralidade axiológica dos pertencentes ao segundo. Ao longo do tempo, a própria relação com o “internacional” – isso que definia, afinal de contas, a instituição – passa a ser distinta segundo a posição institucional ou área do conhecimento. A dimensão “internacional” passou a ser, do ponto de vista dos institutos de ciências, uma marca de excelência, enquanto para os professores da Faculdade de Filosofia, uma adaptação regida por uma lógica heterônoma. Um último ponto também exprime essas fraturas: a relação entre a Universidade e a sociedade mais ampla. Nos institutos de ciências, não se observa nos balanços distinção qualitativa entre o atendimento a demandas sociais e a demandas do mercado, entre financiamento público e privado, e essa indefinição tendeu a gerar avaliações críticas por parte dos professores oriundos dos cursos mais literários – com o recorrente diagnóstico de “crise” da Universidade.

Ensaios paulistas (1954)

A primeira coletânea sobre as celebrações da USP reuniu artigos publicados no jornal O Estado de S. Paulo em 1954. Seu título, Ensaios paulistas (1958), diz muito sobre a atmosfera de envolvimento da universidade com a vida política e cultural local. Os textos específicos sobre a história das unidades de ensino e dos cursos da Universidade de São Paulo estão intercalados com outros sobre a história de São Paulo, suas tradições culturais, feitos políticos e personalidades eminentes. Entre os 54 textos que compõem a obra, selecionamos os 14 que dizem respeito à Universidade de São Paulo, pois o restante se refere às celebrações do IV Centenário da cidade. Autores e títulos dos textos seguem no Quadro 1.

QUADRO 1

Mesmo em uma publicação que se esforça em mostrar a unidade do corpo, pode-se identificar uma primeira fratura que separa os relatos sobre as grandes escolas profissionais e os textos sobre a antiga Faculdade de Filosofia. Um exemplo dessa fratura é a ausência, nesse dossiê, de um texto sobre a Escola Politécnica. Outras estratégias de demarcação se dão através do próprio conteúdo de alguns dos capítulos dessa publicação. Por exemplo, os textos dedicados à Faculdade de Direito e à Faculdade de Medicina enfatizam o período anterior à fundação da Universidade, legitimando-se através da tradição. Almeida Júnior, autor do texto sobre a Faculdade de Direito, exprime mesmo certa nostalgia em relação aos primórdios da Faculdade, caracterizados segundo ele por intensa sociabilidade estudantil em comparação ao período posterior, marcado pelo ensino “massificado” e por alunos-trabalhadores. Já Almeida Prado, responsável pelo texto sobre a Medicina, avalia positivamente a institucionalização das carreiras universitárias, mas não deixa de homenagear os “grandes homens”, ou seja, os professores pioneiros, suas pesquisas e influência sobre os alunos. Assim, a fratura se apresenta, no caso das grandes escolas profissionais, pela ênfase na tradição e nos grandes homens, o que resulta na invisibilidade da “nova” instituição.

Em relação aos textos sobre as ciências naturais – física, química, biologia, zoologia e genética –, alguns traços se destacam como típicos de seu habitus científico. Valoriza-se, em primeiro lugar, a vinda de professores internacionalmente reconhecidos para a universidade, mas em seguida aponta-se também a circulação internacional de alunos para fazer especialização no exterior – em geral com bolsas de estudos da Fundação Rockefeller. Essa dupla modalidade de circulação (missões de professores estrangeiros e bolsa de estudos a alunos brasileiros) marca a excelência dos cursos “científicos”. Outro ponto de demarcação é o destaque dado à “ciência de base”, ou seja, à pesquisa “pura”, em oposição à “prática profissional”, uma estratégia de crítica às preferências das escolas profissionais pela importação da ciência feita alhures. A trajetória de Mario Schenberg, nesse caso, é erigida como exemplar: discípulo do professor Wataghin, beneficiou-se de bolsa de estudos para estudar na Itália, Suíça e Estados Unidos; em seguida, como professor, dá aulas no exterior, forma redes internacionais de pesquisa e orienta alunos na Faculdade de Filosofia (Ensaios paulistas, 1958, p. 304).

Os textos sobre as ciências naturais e exatas também podem ser comparados aos capítulos que tratam das ciências humanas e sociais. Há entre eles um ponto de convergência: a defesa da produção acadêmica “desinteressada” ou “pura” em relação à ciência aplicada tipicamente produzida nas escolas profissionais. Contudo, a precoce internacionalização dos cursos científicos, seus recursos específicos, como bolsas de estudo, a participação em eventos científicos e publicações internacionais colocam esses cursos em posição dominante na Faculdade de Filosofia3 3 . “A análise dos fatores que, em apenas vinte anos, permitiram chegar ao estado atual é certamente complexa. Aos autores do presente artigo parece que dois destes fatores tiveram, no entanto, importância capital: capacidade e decidido pendor para as pesquisas físicas encontrados em numerosos estudantes e possibilidade de aperfeiçoamento a eles oferecida por estágios em grandes centros europeus e norte-americanos. […] Devemos assinalar, aqui, a importância que tiveram os auxílios diversos recebidos pela Faculdade da fundação Rockefeller, Conselho Nacional de Pesquisas, Fundos Universitários de Pesquisas, Fundação Getúlio Vargas, Fundação Guggenheim e Unesco, sem os quais dificilmente teria o Departamento atingido o estado atual de desenvolvimento”. Morais e Toledo, 1958, p. 314. . Ora, no caso dos cursos de ciências humanas e sociais praticamente não há relatos sobre bolsas de estudo no exterior, eventos ou publicações internacionais. Outra diferença das áreas “científicas” em relação às áreas de “humanas” é a ênfase no curriculum dos professores estrangeiros que vieram ensinar no Brasil. Além da internacionalização, das bolsas de estudo e da celebridade dos professores estrangeiros, os cursos “científicos” também se distinguem pelo acesso dos alunos brasileiros a pesquisadores premiados no exterior. Assim, a mobilidade internacional de docentes e discentes, bem como os recursos para especialização com “grandes nomes” estrangeiros, torna-se uma estratégia distintiva em relação aos demais cursos. Dois outros fatores completam o quadro dessa posição dominante: a articulação entre ensino e pesquisa e a instalação de laboratórios e aquisição de equipamentos modernos. A publicação no exterior, em coautoria, é considerada o ponto mais alto desse circuito de consagração.

Em relação às ciências humanas e sociais, os textos se referem aos cursos de História, Geografia, Sociologia e Linguística. A Filosofia não conta com um balanço nessa publicação4 4 . Uma hipótese para essa ausência são as mudanças ocorridas na cadeira após a saída de Jean Maugüé. . Alguns aspectos principais desse conjunto podem ser destacados: em primeiro lugar, uma mesma visão sobre a importância do ensino “desinteressado”; em segundo lugar, a valorização da produção científica, que teria deixado a fase “ensaística” ou “empirista” e alçado um padrão de trabalho acadêmico, com emprego de método científico5 5 . No caso da Geografia, lê-se que “havia um divórcio entre a velha e a moderna Geografia, entre as obras puramente enumerativas e as que apresentavam os resultados de pesquisas científicas” (Azevedo, 1958, p. 68). No caso da História, lê-se que pela primeira vez “trabalhava-se metodicamente” (Campos, 1958, p. 341). . Em relação à internacionalização, os textos exaltam o trabalho dos professores estrangeiros na organização das cadeiras, a fundação de sociedades científicas e de revistas universitárias6 6 . Observe-se que os estudos das sociedades tradicionais são chamados por Antonio Candido de “sociologia das sociedades primitivas”. Sobre as relações entre sociologia e etnologia, ver artigo de M. Consolim neste dossiê. . Contudo, no caso desses cursos, não se observam impactos na trajetória dos discentes, pois não recebem bolsas e não cursam especializações no exterior. Os textos sobre as ciências humanas e sociais também são mais políticos e analisam criticamente os efeitos do golpe de 1937 sobre a Universidade, um deles sendo a “burocratização” crescente da instituição. Essa visão da instituição como “burocrática”, no sentido autoritário, como se verá, volta a rondar os balanços de 1994 e de 2004.

O impacto das transformações científicas e intelectuais do pós-guerra sobre a Universidade pode ser observado nos balanços das ciências humanas e sociais sob a expressão “crise da universidade”. Fernando de Azevedo indica alguns dos problemas enfrentados no caso da Universidade de São Paulo, entre os quais destaca a pequena procura pelos cursos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, resolvida até certo ponto pelo regime de comissionamento dos normalistas, e as lutas entre as faculdades profissionais e a Faculdade de Filosofia em torno do tipo de formação generalista ou especializada. De maneira mais ampla, os principais problemas da universidade se referem ao que Fernando de Azevedo denomina “anti-humanismo” e “profissionalização” da formação, ou seja, à crescente fragmentação entre os que se formam com base em uma cultura geral e os que seguem a especialização precoce nas áreas de ciências exatas e naturais. Nos anos 1950, ele identifica uma crescente estigmatização do intelectual (“o sábio é suspeito”, assinala), o que pode ser considerado um marco no longo processo de separação entre as formações técnicas e científicas, de um lado, e as formações humanas e sociais, de outro. Essas observações são importantes, pois mostram que a Universidade de São Paulo acompanhou as transformações observadas nas instituições de ensino superior ao redor do mundo7 7 . “Certo, a crise por que passa a Universidade, e que não é agora o momento de analisar, nos seus aspectos como em suas causas principais, peculiares ao nosso meio ou de caráter geral, reflete, em parte, na sua ‘profissionalização’ crescente, no seu anti-humanismo e na ausência de qualquer esforço que implique a procura do universal, o agitado ‘clima histórico’, em que vivemos”. Azevedo, 1958, p. 224. .

USP 60 anos – revista Estudos Avançados (1994)

O dossiê organizado por ocasião do aniversário de sessenta anos da Universidade de São Paulo é muito distinto da coletânea publicada em celebração aos vinte anos8 8 . Após a edição comemorativa de 1954, foram publicados dossiês apenas de 1984 em diante, ou seja, não houve publicações de coletâneas em 1964 e em 1974, o que pode ser explicado pelo contexto político do país nesse período. I. Cardoso em “Setenta anos de USP”, 2004. . Os artigos não mais tratam do estado de São Paulo e de suas conquistas históricas, mas restringem-se a questões diretamente ligadas à Universidade. Entretanto, é preciso fazer uma diferenciação: dos 163 artigos desse dossiê, em torno de um terço focaliza a memória dos professores pioneiros, e outros dois terços são artigos informativos sobre a estrutura das unidades, cursos de graduação, linhas de pesquisa, número de alunos e docentes, laboratórios de pesquisa, parcerias e publicações.

Além desses dois gêneros textuais, pode-se identificar um terceiro conjunto de textos, que abre o dossiê, revelando mais claramente a refração do social através dos muros da universidade. Redigidos por figuras que ocupam posição social e intelectual dominante, Miguel Reale e Marilena Chaui, esses escritos estão associados a universos ideológicos e políticos opostos. A análise desses textos põe em confronto, de um lado, um ex-reitor, eleito por duas vezes (uma delas, inclusive, no período militar, como regente da cadeira de Filosofia do Direito da Faculdade de Direito), e uma professora do Departamento de Filosofia, regente da cadeira de Filosofia Moderna da Faculdade de Filosofia. No caso de Reale, a abordagem é memorialista e ele encarna a figura do administrador “neutro” diante dos conflitos universitários, opondo-se assim ao texto de veio crítico e político de Chaui. As contribuições de Reale à estruturação da Universidade nos anos 19609 9 . Miguel Reale é nomeado reitor em duas gestões: a primeira em 1949 e a segunda em 1967. visam a alcançar uma linha diretiva para a instituição, enquanto Chaui observa essa estrutura, saída da “segunda fundação” da Universidade (1969-1987), como início do declínio de sua função pública em nome de lógicas mercantis e regidas pela racionalidade administrativa. A instituição universitária aparece, num caso, como instrumento de harmonia e eficiência e, no outro, como instância de dominação, vigente desde o regime militar à “Era FHC” (Chaui em “Dossiê 60 anos de USP”, 1994, p. 51). Segundo Chaui, ao contrário da integração, a universidade teria realizado a centralização; ao contrário da democracia, a modernização; ao contrário da departamentalização, teria separado ensino e pesquisa.

Considerando-se, ainda nesse dossiê, o conjunto de textos sobre as unidades e os departamentos, destacam-se alguns aspectos: a departamentalização e a consequente especialização da formação; maior diversidade de unidades autônomas, em particular em razão da fundação dos institutos de ciências (química, física etc.) e das novas unidades de humanas (economia, psicologia); maior diversidade de funções e de interações com a sociedade, assumindo-se a formação para o mercado e para a gestão pública, além da formação em pesquisa; interiorização da universidade, com novos campi surgindo no interior do estado. Apesar dessas mudanças, podem-se identificar distinções entre os balanços com base nos critérios de excelência erigidos pelos autores sobre as respectivas unidades ou departamentos.

No caso dos balanços sobre as unidades de ciências naturais e exatas, a “origem” assume um peso relevante como critério de excelência, pois os professores estrangeiros, muitos deles premiados internacionalmente, formaram gerações imbuídas do mesmo espírito: a internacionalização estaria cumprindo seu ciclo ao permitir que as novas gerações de pesquisadores brasileiros obtivessem reconhecimento internacional. Além do reconhecimento internacional dos pioneiros e de seus discípulos brasileiros, dois outros aspectos são realçados como marca dessas unidades: a “interdisciplinaridade”, em função da articulação entre “ciência pura” e “ciência aplicada”, e a articulação entre ensino e pesquisa em oposição ao ensino “livresco”10 10 . Em relação aos depoimentos, observe-se que os ex-alunos e professores das seções ou subseções de física, química e geociências enfatizam que precisavam trabalhar para sobreviver enquanto cursavam a faculdade, ou seja, eram oriundos de camadas sociais modestas. . O desmembramento em relação à Faculdade de Filosofia é positivamente avaliado em razão da maior liberdade quanto a questões orçamentárias e acadêmicas, como em prol de uma formação especializada. O balanço do Instituto de Física é exemplar nesse sentido: por um lado, o período de funcionamento na antiga FFCL é invisibilizado pelo destaque dado aos “pioneiros”, seguido pelo período posterior em que se mostram os frutos em termos de estrutura, linhas de pesquisa, produção e publicação. As publicações internacionais aparecem novamente como marca de excelência, além de uma relação mais próxima com a sociedade pela ênfase na formação de experts. Assim, a extensão é vista como atividade que atende tanto a sociedade quanto o mercado. Outro caso exemplar é o balanço sobre o Instituto de Química. Avalia-se positivamente a criação do instituto exatamente porque foi possível reunir sob um mesmo teto especialistas antes dispersos em várias unidades – resultado da reforma de 1969 (Colli em “Dossiê 60 anos de USP”, 1994, p. 534). Em outros casos, como no balanço das Ciências Biomédicas, a história da unidade é construída de maneira relativamente independente à da universidade11 11 . “[…] apesar de na atualidade as universidades terem se tornado os centros de pesquisa mais vigorosos do país, os Institutos citados ainda constituem importantes núcleos científicos em muitas das áreas biomédicas básicas.” Malnic e Sampaio em “Dossiê 60 anos de USP”, 1994, p. 550. . Tudo se passa como se só houvesse indivíduos e interações entre eles. Os critérios de excelência da área sendo, novamente, a internacionalização dos professores, o financiamento internacional à pesquisa e, finalmente, a associação entre pesquisa de boa qualidade, publicação internacional e programas de pós-graduação com atividades de tempo integral (“Dossiê 60 anos de USP”, 1994, p. 551).

O conjunto de balanços nas áreas de ciências humanas e sociais é o mais significativo12 12 . Ver Quadro 2. Para essa análise, consideramos principalmente os balanços da Filosofia (Franklin); Sociologia (Arruda); História (Novaes, França) e Geografia (Mombeig). . Esses textos, por um lado, colocam de maneira mais explícita as relações entre problemas políticos e sociais e as atividades de ensino e pesquisa da Faculdade de Filosofia através das menções aos regimes autoritários, ao perfil dos discentes nos diversos turnos, à falta de recursos e a temas de pesquisa sobre problemas da sociedade brasileira. Por outro lado, não há muita reflexão sobre a passagem das cátedras aos departamentos e tampouco sobre a questão da interdisciplinaridade, que se resolve por meio de instituições externas à Universidade. No caso do balanço das Ciências Sociais, da Antropologia, da Ciência Política, mas também da História e da Geografia, valorizam-se a relação entre ensino e pesquisa, a diversidade de linhas de pesquisa, a produção intelectual, a extensão universitária.

Em relação aos cursos da Faculdade de Filosofia, o balanço sobre a Faculdade de Economia e Administração adota postura crítica: críticos da formação puramente “teórica” ou da “discussão abstrata da teoria”, valorizam consequentemente as reformas dos anos 1970 e, em particular, a formação de experts para o mercado ou para a burocracia estatal (Diva Pinho, “Dossiê 60 anos de USP”, 1994, p. 365). A justificativa para essa formação se dá sob o pano de fundo da expansão da economia brasileira e dos problemas de uma economia industrial, questões que exigem a colaboração da Universidade. Além disso, a formação internacional, como nas áreas científicas, é valorizada.

Esse dossiê também produziu artigos de informação sobre as atividades do campus São Carlos e Ribeirão Preto. No primeiro, apresentam-se os institutos de Física, Química e Ciências Matemática; no segundo, a Faculdade de Medicina e a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Os balanços produzidos, nesses casos, são bastante descritivos e institucionais, ou seja, há pouca articulação ao conjunto sediado na cidade de São Paulo.

QUADRO 2

Revista USP (2004)

Ao contrário da coletânea e do dossiê de 1994, compostos por grande volume de artigos, a publicação de 2004 contém apenas dez artigos (Quadro 3). Em relação ao equilíbrio das áreas, como nos casos anteriores, apenas um terço focaliza as áreas de ciências exatas e naturais, e o restante aborda as áreas de ciências humanas e sociais. Não há artigo sobre a Faculdade de Direito, sendo que os textos que abordam o funcionamento da medicina e das engenharias não tratam exclusivamente de cada unidade13 13 . Os títulos dos artigos são “As Ciências Exatas” e “Medicina e Ciências Biológicas”. Já no caso da Escola Superior de Agricultura, o texto refere-se exclusivamente a essa unidade. Ver “Setenta anos de USP”, 2004. . Esse balanço explicita o sentido das transformações da Universidade de São Paulo que levou à separação entre as áreas “científicas” e as áreas de humanas. A própria organização do dossiê exprime essa fratura, pois há duas apresentações em um mesmo dossiê: Irene Cardoso apresenta apenas os artigos de Franklin Leopoldo e Silva e de Afrânio Catani, mas não os textos das demais áreas, apresentados por Francisco Costa, editor da revista. Além disso, os artigos sobre as áreas de engenharia, medicina e artes foram escritos por jornalistas, e apenas os de ciências humanas e sociais por autores pertencentes ao corpo docente da Universidade. Tudo leva a crer que houve sobreposição de dois projetos conflitantes. O editor chama atenção para o tom otimista e confiante no “progresso da ciência” e em sua capacidade de resolução dos problemas práticos da vida social, no caso dos balanços das áreas “científicas”, e para o tom crítico e pessimista dos textos sobre as ciências humanas.

QUADRO 3

Nesse dossiê, atinge-se o ponto mais tenso da fratura entre os “velhos tempos”, lembrados pelos professores de ciências humanas e sociais, e os “novos tempos”, período de grande expectativa em relação ao progresso da ciência, enfatizados pelos cientistas (Blasques em “Setenta anos de USP”, 2004, p. 89). O contexto de publicação, entre o fim da “era FHC” e o início do governo Lula, dá indícios de que as reformas do ensino superior levadas a cabo pelo governo FHC foram avaliadas distintamente segundo as áreas do conhecimento na universidade. Nos três balanços que envolvem as unidades “científicas”, a tônica é o imperativo da “adaptação” – à sociedade, à internet, à tecnologia moderna. O elemento novo, no caso desses balanços, é que não há mais separação clara entre as escolas profissionais tradicionais, Escola Politécnica e Faculdade de Medicina, e os institutos de ciências “puras”. Ou seja, as reformas dos anos 1960 levaram, em primeiro lugar, à ruptura com as áreas de humanidades e, em segundo lugar, a uma aproximação com as escolas profissionais.

No balanço sobre as áreas médicas e as ciências biológicas, os critérios de excelência se baseiam agora não apenas em indicadores de internacionalização, mas também de produção, em parcerias entre agências de financiamento públicas e privadas, nacionais e internacionais, em laboratórios e equipamentos de última geração. Os indicadores empregados representam novos meios de exprimir padrões de excelência (Qualis, Capes). Os projetos interdisciplinares são considerados fundamentais, tanto para o avanço das ciências de base quanto para a formulação de políticas públicas. A relevância da internacionalização também pode ser observada pelos laboratórios e equipamentos modernos, pelas agências de financiamento (Rockefeller), pela participação em congressos e associações científicas internacionais. Busca-se também destacar o papel social da ciência através de pesquisas e práticas de extensão de impacto para a população.

Em relação às ciências exatas, menciona-se a origem dos departamentos de Física e de Química na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, mas também na Escola Politécnica, o que é uma forma de reconstruir a trajetória da instituição a partir de um ponto de origem mais próximo ao de chegada. Em relação à excelência, também nesse caso recorre-se a indicadores e exalta-se o impacto da tecnologia sobre o ensino e a sociedade em geral. A tônica é a sobrevivência dos melhores pela otimização do “gerenciamento das relações com a sociedade”. O futuro é visto com otimismo (“Setenta anos de USP”, 2004, p. 95). A lista de realizações e de expectativas a respeito de projetos científicos é extensa, mas esses projetos envolvem tanto práticas científicas quanto práticas de mercado. Outras questões de destaque são a “multidisciplinaridade” e a adaptação à revolução digital. A relação com a sociedade é justificada através de projetos específicos, como casas de baixo custo, aumento da produtividade e melhoria do meio ambiente. Pensa-se, também, na formação do “caráter” e na formação de base dos estudantes (Idem, pp. 94-96).

Em oposição aos balanços das áreas de ciências, a “crise” das áreas de “humanas” está claramente diagnosticada nesse dossiê, mesmo na declaração de Hansen, para quem “as humanidades e a cultura têm hoje uma importância relativa”. (Hansen em “Setenta anos de USP”, 2004, 80). Tudo é político nos textos de Franklin Leopoldo e de Afrânio Catani, ainda que a abordagem do primeiro seja teórica e a do segundo empírica. Esses textos realçam a figura do “intelectual”, que surge como instância crítica e de resistência contra os avanços da racionalidade instrumental e contra os “novos mandarins” que a figura do expert encarna. No artigo de Franklin Leopoldo e Silva, o isolamento da Faculdade de Filosofia, a dominação das antigas escolas profissionais, as contradições entre um projeto crítico e ao mesmo tempo de poder são alguns dos resultados da reforma de 1969, à qual o regime democrático deu continuidade. Os antigos departamentos ou seções de ciências naturais e exatas, ao se transformarem em institutos, se adaptaram ao modelo de produção científica e tecnológica dos países centrais. A Universidade de São Paulo estaria em “crise”, pois teria perdido sua dimensão crítica diante do discurso baseado na eficiência, produtividade e lógica do mercado. Catani mostra, a partir de dados empíricos, a crescente concentração do poder orçamentário na figura do reitor e, no plano mais amplo do ensino superior, os impactos do crescimento das instituições de ensino superior privadas sobre a relação entre ensino e pesquisa, concluindo que as mudanças separaram essas duas atividades. O diagnóstico acompanha o de Franklin: a era FHC consagra a “mercantilização da educação superior” (“Setenta anos de USP”, 2004, p. 59). O internacional aqui aparece como subordinação e adaptação heterônoma, mas não como escolha autônoma.

Assim, o que no período de fundação aparecia como central à unidade da instituição e à universalidade do conhecimento – a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras – revela-se por meio desses balanços como “crise”: nos textos de Fernando de Azevedo (1954), Marilena Chaui (1994) ou Franklin Leopoldo e Silva (2004). As transformações institucionais, mas também as regras do campo foram alteradas nesse processo – e, consequentemente, os valores e práticas associados à excelência intelectual e científica. A “crise” da Universidade, portanto, não pode ser dissociada da crise das ciências humanas e sociais.

* * *

Ao contrário dos dossiês anteriores, que pretendiam oferecer um retrato da totalidade da Universidade de São Paulo, o presente dossiê é fruto de um projeto mais restrito: trata-se de uma contribuição das áreas de ciências sociais. Procuramos mostrar aspectos específicos da universidade que normalmente não são apresentados em épocas de celebração e edições de júbilo. O texto que abre o dossiê, de Maria Rita Loureiro, Adriano Codato, Rafael Viegas e Rodrigo da Silva, objetiva localizar a USP no espaço das elites políticas brasileiras. A pergunta que dá origem ao artigo é qual a parcela de membros oriundos da USP nesse espaço. A resposta foi surpreendente, pois a Universidade ainda hoje parece ocupar posição inigualável nesses meios. Em seguida, o texto de Ana Almeida, Graziela Perosa, Guilherme Lamana e Rafael Maia investiga a outra ponta dessas relações, ou seja, a permeabilidade da Universidade à inclusão de camadas socialmente dominadas da sociedade e que, desde 2012, têm maiores expectativas de ingressar em uma universidade pública. Os resultados foram igualmente surpreendentes, pois o gênero ainda se mostra uma barreira, enquanto os efeitos de raça e classe parecem ter diminuído. O terceiro artigo, de Maria Carlotto, trata da questão da distribuição do poder dentro da própria universidade, e sua análise, baseada no perfil dos reitores desde a fundação, indica que há uma tendência à concentração do poder nas instâncias mais tradicionais da universidade. O quarto artigo, de Mariana Chaguri e Bárbara Pires, sobre três professoras do curso de Ciências Sociais, mostra que, mesmo quando portadoras de trunfos sociais e intelectuais, os efeitos do gênero marcam suas carreiras universitárias, aspecto comum a um conjunto mais amplo de mulheres docentes na história da FFCL. O último artigo apresenta uma controvérsia sobre os programas das cadeiras de Sociologia I e II no período de fundação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, assim como seu impacto no diálogo entre as diversas redes intelectuais do período, em particular aquelas preocupadas em definir os limites da ação cultural e educacional da Universidade de São Paulo. Fechando este dossiê, apresentamos uma entrevista com Roger Chartier realizada por Miguel Palmeira e Mariana Osés sobre as relações intelectuais entre a França e o Brasil.

Referências Bibliográficas

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  • 1
    . Há inúmeros dossiês publicados a respeito das diversas unidades da USP que não foram objeto deste estudo em razão do critério adotado: escolhemos apenas os dossiês que publicaram artigos sobre as unidades e, além disso, que tratavam do conjunto da universidade. Assim, não incluímos o dossiê de 1984, publicado pela revista Literatura e Sociedade, pois ele se restringe a depoimentos de antigos e novos professores. Os dossiês publicados pela Edusp por ocasião dos cinquenta, setenta e oitenta anos da Universidade de São Paulo também foram excluídos por serem publicações com propósitos institucionais e informativos. Para uma análise sociológica dessas publicações, ver M. Carlotto, 2014CARLOTTO, Maria Caramez. (2014), Universitas semper reformanda?: a história da Universidade de São Paulo e o discurso da gestão à luz da estrutura social. Doutorado em Sociologia, São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. https://doi.org/10.11606/T.8.2014.tde-19032015-171049.
    https://doi.org/10.11606/T.8.2014.tde-19...
    , 2022CARLOTTO, Maria. (abr. 2022), "Relato pessoal ou primazia da estrutura? Da história oral à história estrutural como modelo para a sociologia histórica: o caso da história institucional da USP". Tempo Social, 34 (1): 55-82. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2022.180874.
    https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.20...
    .
  • 2
    . Existem inúmeras publicações sobre as unidades. Ver “130 anos da Escola Politécnica da USP”; Baccalá, 2012BACCALÁ, Luiz (org.). (2012), As 100 turmas da Faculdade de Medicina da USP. São Paulo, Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Medicina da USP..
  • 3
    . “A análise dos fatores que, em apenas vinte anos, permitiram chegar ao estado atual é certamente complexa. Aos autores do presente artigo parece que dois destes fatores tiveram, no entanto, importância capital: capacidade e decidido pendor para as pesquisas físicas encontrados em numerosos estudantes e possibilidade de aperfeiçoamento a eles oferecida por estágios em grandes centros europeus e norte-americanos. […] Devemos assinalar, aqui, a importância que tiveram os auxílios diversos recebidos pela Faculdade da fundação Rockefeller, Conselho Nacional de Pesquisas, Fundos Universitários de Pesquisas, Fundação Getúlio Vargas, Fundação Guggenheim e Unesco, sem os quais dificilmente teria o Departamento atingido o estado atual de desenvolvimento”. Morais e Toledo, 1958MORAIS, Abraão de & TOLEDO, Paulo Saraiva de. (1958), "Desenvolvimento da Física em São Paulo". In: Ensaios paulistas (contribuição de O Estado de S. Paulo às comemorações do IV centenário da cidade). São Paulo, Anhambi, pp. 300-315., p. 314.
  • 4
    . Uma hipótese para essa ausência são as mudanças ocorridas na cadeira após a saída de Jean Maugüé.
  • 5
    . No caso da Geografia, lê-se que “havia um divórcio entre a velha e a moderna Geografia, entre as obras puramente enumerativas e as que apresentavam os resultados de pesquisas científicas” (Azevedo, 1958AZEVEDO, Aroldo de. (1958), "A Geografia em São Paulo". In: Ensaios paulistas (contribuição de O Estado de S. Paulo às comemorações do IV centenário da cidade). São Paulo, Anhambi, pp. 65-80., p. 68). No caso da História, lê-se que pela primeira vez “trabalhava-se metodicamente” (Campos, 1958CAMPOS, P. (1958), "Estudos da História na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo". In: Ensaios paulistas (contribuição de O Estado de S. Paulo às comemorações do IV centenário da cidade). São Paulo, Anhambi, pp. 340-349., p. 341).
  • 6
    . Observe-se que os estudos das sociedades tradicionais são chamados por Antonio Candido de “sociologia das sociedades primitivas”. Sobre as relações entre sociologia e etnologia, ver artigo de M. Consolim neste dossiê.
  • 7
    . “Certo, a crise por que passa a Universidade, e que não é agora o momento de analisar, nos seus aspectos como em suas causas principais, peculiares ao nosso meio ou de caráter geral, reflete, em parte, na sua ‘profissionalização’ crescente, no seu anti-humanismo e na ausência de qualquer esforço que implique a procura do universal, o agitado ‘clima histórico’, em que vivemos”. Azevedo, 1958AZEVEDO, Aroldo de. (1958), "A Geografia em São Paulo". In: Ensaios paulistas (contribuição de O Estado de S. Paulo às comemorações do IV centenário da cidade). São Paulo, Anhambi, pp. 65-80., p. 224.
  • 8
    . Após a edição comemorativa de 1954, foram publicados dossiês apenas de 1984 em diante, ou seja, não houve publicações de coletâneas em 1964 e em 1974, o que pode ser explicado pelo contexto político do país nesse período. I. Cardoso em “Setenta anos de USP”, 2004.
  • 9
    . Miguel Reale é nomeado reitor em duas gestões: a primeira em 1949 e a segunda em 1967.
  • 10
    . Em relação aos depoimentos, observe-se que os ex-alunos e professores das seções ou subseções de física, química e geociências enfatizam que precisavam trabalhar para sobreviver enquanto cursavam a faculdade, ou seja, eram oriundos de camadas sociais modestas.
  • 11
    . “[…] apesar de na atualidade as universidades terem se tornado os centros de pesquisa mais vigorosos do país, os Institutos citados ainda constituem importantes núcleos científicos em muitas das áreas biomédicas básicas.” Malnic e Sampaio em “Dossiê 60 anos de USP”, 1994, p. 550.
  • 12
    . Ver Quadro 2. Para essa análise, consideramos principalmente os balanços da Filosofia (Franklin); Sociologia (Arruda); História (Novaes, França) e Geografia (Mombeig).
  • 13
    . Os títulos dos artigos são “As Ciências Exatas” e “Medicina e Ciências Biológicas”. Já no caso da Escola Superior de Agricultura, o texto refere-se exclusivamente a essa unidade. Ver “Setenta anos de USP”, 2004.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2024

Histórico

  • Recebido
    30 Abr 2024
  • Aceito
    01 Maio 2024
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