Controle de partículas aéreas nos procedimentos cirúrgicos durante a pandemia da Covid-19: revisão de escopo

RESUMO

Objetivo:

Mapear as estratégias técnicas e gerenciais para o manejo e a redução da produção de partículas aéreas em ambientes de procedimentos cirúrgicos durante a pandemia da Covid-19.

Método:

Revisão de escopo, de acordo com metodologia do Joana Briggs Institute, a partir de documentos indexados nas bases MEDLINE, BVS, CINAHL Cochrane, Embase, Scopus, Web of Science e literatura cinza, publicados em português, inglês ou espanhol. Foram considerados todos os estudos provenientes de periódicos científicos indexados e recomendações publicadas por órgãos internacionais ou associações acadêmicas, de 2019 a janeiro de 2022. Os achados foram sumarizados e analisados por estatística descritiva e síntese narrativa.

Resultados:

Foram selecionados 22 estudos, sendo 19 publicados em inglês, dois em espanhol, um em português, com predominância de revisões da literatura. Os achados foram categorizados em recomendações para o ambiente, a equipe e a técnica cirúrgica.

Conclusão:

a revisão mapeou as estratégias técnicas e gerenciais para o manejo e a redução da produção de partículas aéreas nos ambientes de procedimentos cirúrgicos. Envolvem desde o uso de equipamentos de proteção individual, treinamentos, modalidade anestésica, manipulação de vias aéreas, até a execução da técnica cirúrgica.

DESCRITORES
Centro Cirúrgico; Aerossóis; Controle de Infecções; Infecções por Coronavírus; Síndrome Respiratória Aguda Grave

ABSTRACT

Objective:

To map the technical and managerial strategies for the management and reduction of airborne particles production in surgical procedures settings during the Covid-19 pandemic.

Method:

Scoping review, according to the Joana Briggs Institute methodology, based on documents indexed in MEDLINE, VHL, CINAHL Cochrane, Embase, Scopus, Web of Science, and gray literature, published in Portuguese, English, or Spanish. All studies from indexed scientific journals and recommendations published by international agencies or academic associations from 2019 to January 2022 were considered. Findings were summarized and analyzed using descriptive statistics and narrative synthesis.

Results:

Twenty-two studies were selected, 19 of which were published in English, two in Spanish, one in Portuguese, with a predominance of literature reviews. Findings were categorized into recommendations for the environment, the team, and the surgical technique.

Conclusion:

The review mapped the technical and managerial strategies for the management and reduction of the airborne particles production in surgical procedures settings. They involve from the use of personal protective equipment, training, anesthetic modality, airway manipulation, to the execution of the surgical technique.

DESCRIPTORS
Surgicenters; Aerosols; Infection Control; Coronavirus Infections; Severe Acute Respiratory Syndrome

RESUMEN

Objetivo:

mapeo de las estrategias técnicas y de gestión para el manejo y la reducción de la producción de partículas aéreas en ambientes de procedimientos quirúrgicos durante la pandemia de Covid-19.

Método:

revisión de alcance, de acuerdo con metodología JBI, con base en documentos indexados en las bases MEDLINE, BVS, CINAHL Cochrane, Embase, Scopus, Web of Science y literatura gris, publicados en portugués, inglés o español. Se consideraron todos los estudios provenientes de periódicos científicos indexados y recomendaciones publicadas por órganos internacionales o asociaciones académicas, de 2019 a enero de 2022. Los hallazgos fueron sintetizados y analizados por estadística descriptiva y síntesis narrativa.

Resultados:

Se seleccionaron 22 estudios, siendo que 19 fueron publicados en inglés, dos en español, uno en portugués, con predominancia de revisiones de literatura. Los hallazgos fueron categorizados en recomendaciones para: el ambiente; el equipo y la técnica quirúrgica.

Conclusión:

la revisión mapeó las estrategias técnicas y de gestión para el manejo y la reducción de la producción de partículas aéreas en los ambientes de procedimientos quirúrgicos. Comprenden desde el uso de equipo de protección individual, entrenamientos, modalidad anestésica, manipulación de vías aéreas, incluso la ejecución de la técnica cirúrgica.

DESCRIPTORES
Centros Quirúrgicos; Aerosoles; Control de Infecciones; Infecciones por Coronavirus; Síndrome Respiratorio Agudo Grave

INTRODUÇÃO

A síndrome respiratória aguda grave causada pelo coronavírus 2 (SARS-CoV-2), mais conhecida como COVID-19, representa um dos maiores desafios para a saúde pública mundial(¹). Desde a sua identificação em dezembro de 2019 na província chinesa de Wuhan, a COVID-19 foi responsável por milhares de mortes em diversos países(²). Com o avanço da doença, em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a COVID-19 uma doença pandêmica e emergente(²). Contudo, o conhecimento em construção sobre a patogenicidade do vírus e sua capacidade de mutação tem exigido respostas rápidas dos sistemas saúde, a partir de tomada de decisão com base nas melhores evidências científicas(³).

O SARS-CoV-2 é um vírus respiratório que se instala inicialmente no trato respiratório superior e pode ser transmitido por partículas aéreas, como gotículas e aerossóis. As gotículas são macropartículas que atingem até um metro de distância após serem expelidas, enquanto que os aerossóis são micropartículas que permanecem suspensas no ambiente por longo período e podem ser transportadas pelo ar, elevando o potencial de transmissão(⁴).

Diante desse cenário e da necessidade de proteger as equipes de saúde e pacientes, medidas de precauções foram necessárias e têm sido constantemente reavaliadas(⁵–⁷). Mais especificamente, no ambiente de centro cirúrgico, cirurgias eletivas foram inicialmente suspensas até que se alcançasse um panorama epidemiológico mais favorável(⁶). Essas medidas foram necessárias devido ao alto risco de exposição que os procedimentos realizados no centro cirúrgico oferecem à equipe de saúde e aos pacientes em relação à infecção pelo SARS-CoV-2(⁷).

Dentre os procedimentos com maior potencial para produzir aerossol, destacam-se a intubação/extubação, a ventilação manual de vias aéreas, a utilização do eletrocautério e de brocas de alta velocidade(⁸). Estudos recentes foram conduzidos para estimar a concentração de partículas dispersas durante os procedimentos cirúrgicos, com o objetivo de aumentar a compreensão dos possíveis riscos de exposição ao SARS-CoV-2 durante as cirurgias(⁸–¹¹).

Pesquisadores quantificaram a concentração média de partículas por meio de um medidor óptico durante cirurgias endonasais. Constataram que próximo ao cirurgião houve um aumento na concentração média de 2.445 partículas/pés cúbicos durante o uso da broca e 1.825 partículas/pés cúbicos durante uso de microdebridador(¹¹). Embora associados a uma modalidade cirúrgica, esses dados reforçam a necessidade da adoção de medidas reconhecidamente eficazes para proteção e prevenção de infecção, como a utilização correta dos equipamentos de proteção individual (EPI)(¹¹,¹²). Cabe ressaltar que, além da utilização de EPI, os estudos indicam medidas relacionadas ao controle da quantidade do inóculo no ambiente, bem como condições ambientais como temperatura e umidade, que podem alterar o tempo de viabilidade das partículas virais aerossolizadas(¹¹–¹⁴).

Apesar do avanço do conhecimento para a prevenção e o controle da COVID-19, a literatura ainda carece de evidências e mapeamento de recomendações abrangentes relacionadas a medidas para o controle de produção de partículas aéreas em ambientes de procedimentos cirúrgicos. Logo, justifica-se a realização de uma revisão de escopo que tem como objetivo mapear as estratégias técnicas e gerenciais para o manejo e a redução da produção de partículas aéreas em ambientes de procedimentos cirúrgicos durante a pandemia da Covid-19. Uma busca preliminar foi realizada no PROSPERO, na MEDLINE, Cochrane Database of Systematic Reviews e JBI Evidence Synthesis e não foram identificadas revisões com esse enfoque, concluídas ou em andamento.

Nesse sentido, o estudo tem por objetivo mapear as estratégias técnicas e gerenciais para o manejo e a redução da produção de partículas aéreas em ambientes de procedimentos cirúrgicos durante a pandemia da Covid-19.

MÉTODO

Desenho do Estudo

Trata-se de uma revisão de escopo, orientada pela metodologia de revisão do JBI(¹⁵). Esta metodologia permite mapear conceitos, clarificar áreas do conhecimento e possíveis lacunas. Para condução do estudo, seguiram-se cinco etapas(¹⁵): identificação da questão da pesquisa; levantamento de estudos relevantes, considerando a amplitude e abrangência da revisão; seleção dos estudos, conforme critérios predefinidos; mapeamento dos dados; e apresentação dos resultados. Também foram consideradas as recomendações do checklist Prisma Extension for Scoping Reviews (Primas-ScR)(¹⁶).

A revisão foi cadastrada na plataforma Open Science Framework, com identificação DOI 10.17605/OSF.IO/4AW57.

Pergunta Norteadora, Busca e Critérios de Inclusão

A pergunta norteadora da pesquisa foi: quais são as estratégias técnicas e gerenciais para o manejo e a redução da produção de partículas aéreas em ambientes de procedimentos cirúrgicos de pacientes acima de 18 anos durante a pandemia da Covid-19?

Os estudos incluídos nesta revisão de escopo foram selecionados por meio da estratégia mnemônica PCC (População, Conceito e Contexto), sendo: população (P), pacientes com 18 anos ou mais; conceito (C), estratégias técnicas e gerenciais empregadas para o manejo e a redução da disseminação de partículas aéreas em ambientes de procedimentos cirúrgicos; contexto (C), centro cirúrgico durante a pandemia da Covid-19. Entende-se por estratégias técnicas o conjunto de procedimentos assistenciais, ajustados para o controle da produção de partículas aéreas. Já as estratégias gerenciais referem-se a um conjunto de ações que envolvem planejamento e avaliação com o objetivo de controlar a produção de partículas aéreas.

Para a revisão, foram incluídos documentos como artigos científicos, dissertações, teses, livros, protocolos e recomendações sobre estratégias técnicas e gerenciais empregadas para o manejo e a redução da disseminação de partículas aéreas em ambientes de procedimentos cirúrgicos a pacientes acima de 18 anos. Além disso, os documentos deveriam ser publicados a partir de 2019, ano da primeira notificação da doença, nos idiomas inglês, português e espanhol.

Foram excluídas cartas ao editor, resumos em anais de eventos, protocolos de pesquisa e documentos na área de odontologia.

Para busca e identificação dos documentos/estudos, foram utilizadas as seguintes fontes eletrônicas: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) via PubMed, Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Cochrane Library, Embase, Scopus e Web of Science. O acesso aos textos completos foi realizado por meio do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), com uso do proxy da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Como estratégia de busca dos estudos/documentos, utilizou-se a estruturação apresentada no Quadro 1.

Quadro 1
Estratégia de busca para recuperação dos documentos – Juiz de Fora, MG, Brasil, 2022.

As buscas ocorreram no dia 16 de julho de 2021, sendo estabelecida nova busca, em todas as bases e fontes, em 23 de janeiro de 2022.

Seleção, Análise e Tratamento dos Dados

Após a busca nas bases e nas fontes, procedeu-se à seleção dos documentos, norteada pela questão da pesquisa. Os resultados obtidos foram exportados para o gerenciador de referências Rayyan^®, desenvolvido pelo Qatar Computing Research Institute (QCRI). O gerenciador possibilitou a retirada de documentos duplicados, a seleção e a triagem dos documentos por dois revisores, de modo independente. Logo, a primeira fase foi a realização de leitura de títulos e resumos, de forma independente e às cegas pelos dois revisores. As divergências foram solucionadas pela discussão entre os dois revisores e, quando necessário, a participação de um terceiro revisor. Para os documentos que atendessem aos critérios de inclusão, procedeu-se a segunda fase, envolvendo a leitura dos documentos em sua integralidade, buscando informações sobre estratégias técnicas e gerenciais para o manejo e a redução da produção de partículas aéreas em ambientes de procedimentos cirúrgicos durante a pandemia da Covid-19. Quaisquer divergências foram solucionadas com participação de um terceiro pesquisador.

As informações dos documentos selecionados para análise foram extraídas por dois revisores, de maneira independente, com o uso de planilhas do Microsoft Excel ^®. Um terceiro revisor participou da validação das informações e da discussão para estabelecimento de consenso entre os autores, quando necessário. O mapeamento das informações foi estabelecido com base no instrumento do JBI para caracterizar as produções(¹⁵). Para a extração dos dados, foi elaborado um quadro que incluiu autoria, ano de publicação, idioma e país de origem, tipo de estudo e objetivos, procedimento cirúrgico e estratégias técnicas/gerenciais para o manejo e redução da disseminação de partículas aéreas em ambientes de procedimentos cirúrgicos.

Posteriormente, os dados foram categorizados em recomendações, de acordo com as estratégias técnicas e gerenciais para manejo e redução de partículas aéreas no ambiente cirúrgico.

Com base nos dados categorizados, foi realizada uma apresentação narrativa das informações.

RESULTADOS

A pesquisa nas bases de investigação recuperou 6.521 documentos/estudos potencialmente relevantes. Foram excluídos 1.032 documentos duplicados. Foram analisadas 5.489 publicações pelo título e resumo, sendo excluídos 5.302 documentos/estudos por não atenderem aos critérios de inclusão. Dessa forma, 187 documentos/estudos foram avaliados na íntegra quanto à elegibilidade. Ao final, foram incluídos 22 documentos/estudos(¹²,¹⁷–³⁷) para compor a amostra final da revisão (Figura 1).

Figura 1.
Fluxograma do PRISMA-ScR de seleção das publicações(¹⁶) – Juiz de Fora, MG, Brasil, 2022.

Dos 22 documentos/estudos incluídos, 19 foram publicados em inglês(¹²,¹⁷–²⁹,³²–³⁵,³⁷), dois em espanhol(³⁰,³¹) e um em português(³⁶). Quanto à origem, nove foram produzidos no continente americano(¹⁷,¹⁹,²¹,²⁷,²⁸,³⁰,³⁵–³⁷), sete no continente asiático(¹⁸,²³–²⁶,²⁹,³²), cinco no continente europeu ou euroasiático(¹²,²²,³¹,³³,³⁴) e um na Oceania(²⁰). Dentre as pesquisas, 14 foram revisões(¹²,¹⁷–¹⁹,²²,²⁵,²⁶,²⁸–³⁴), quatro declarações de consenso entre especialistas(²⁰,²¹,²⁴,²⁷), três recomendações protocolares(³⁵–³⁷) e uma relativa ao desenvolvimento de técnica para redução de aerossol(²³). A caracterização dos artigos incluídos encontra-se no Quadro 2 e a das publicações da literatura cinza, no Quadro 3.

Quadro 2
Caracterização dos artigos incluídos na revisão – Juiz de Fora, MG, Brasil, 2022.

Quadro 3
Caracterização das publicações recuperadas por meio da busca na literatura cinza – Juiz de Fora, MG, Brasil, 2022.

As informações contidas nos documentos/estudos incluídos evidenciaram três temáticas com recomendações técnicas e gerenciais para redução da produção de partículas aéreas nos ambientes de procedimentos cirúrgicos durante a pandemia da Covid-19: recomendações para o ambiente; recomendações para a equipe e recomendações para a técnica/procedimento cirúrgico (Quadro 4).

Quadro 4
Principais recomendações técnicas e gerenciais para redução da produção de partículas aéreas nos ambientes de procedimentos cirúrgicos durante a pandemia da Covid-19 – Juiz de Fora, MG, Brasil, 2021.

DISCUSSÃO

Os estudos incluídos nesta revisão foram em sua maioria revisões da literatura(¹²,¹⁷–¹⁹,²²,²⁵,²⁶,²⁸–³⁴), produzidas principalmente por autores do continente asiático(¹⁸,²³–²⁶,²⁹,³²). Prevaleceram as revisões rápidas cujo foco foi compilar as recomendações de especialistas e órgãos internacionais com o objetivo de minimizar a produção de aerossol no perioperatório. Essas revisões, produzidas em sua maioria em 2020, são condizentes com a conjuntura inicial da pandemia que exige celeridade no estabelecimento de condutas e recomendações protocolares para os serviços de saúde. Em relação ao continente asiático, infere-se que essa predominância tenha relação com a busca por recomendações no primeiro continente a notificar e iniciar medidas para conter a propagação da Covid-19 em centros cirúrgicos(³⁴).

Quanto aos procedimentos cirúrgicos, a maior frequência nas linhas de orientações voltou-se para a cirurgia videolaparoscópica(¹²,¹⁷–¹⁹,²⁷,²⁹–³²). Trata-se de uma abordagem cirúrgica minimamente invasiva, que utiliza câmeras de alta resolução e instrumentais apropriados inseridos por trocartes em pequenas incisões(¹²,¹⁹). Esta técnica possibilita uma abordagem fechada do sítio cirúrgico; contudo, há altas chances de dispersão de partículas junto com a fumaça dos equipamentos elétricos ou ultrassônicos(¹²).

Independentemente da técnica cirúrgica, as sociedades científicas e órgãos sanitários mundiais recomendaram em primeiro momento adiar as cirurgias eletivas, exceto nas regiões com situação epidemiológica favorável(²,³⁸,³⁹). Contudo, com a sedimentação do conhecimento sobre a doença e a vacinação em massa da população mundial, mesmo que de forma heterogênea, as cirurgias que outrora foram adiadas vêm sendo retomadas(³⁴). Nesse sentido, mesmo para pacientes vacinados, tornam-se importantes a triagem e os exames complementares prévios às cirurgias(³⁴,³⁶,³⁷). Essas condutas ampliam a segurança para os pacientes e para equipe de saúde(³⁴).

Portanto, as investigações(⁴⁰–⁴²) recomendam primeiramente realizar a triagem dos pacientes, com anamnese direcionada à identificação de sinais e sintomas da Covid-19. Além disso, recomendam também a realização de testes diagnósticos moleculares ou imunológicos e, quando não disponíveis em tempo hábil, a consideração do paciente como possível portador da Covid-19(⁴¹,⁴²). Estudo(³³) também recomenda a tomografia computadorizada de tórax como uma possibilidade suplementar na triagem do paciente.

No que diz respeito às recomendações para o ambiente do centro cirúrgico, há indicação de sala operatória e de recuperação pós-anestésica exclusivas para pacientes suspeitos ou diagnosticados com Covid-19(⁴³,⁴⁴). Também é importante estabelecer um fluxo de circulação e equipar as salas cirúrgicas com sistema de ventilação e de filtração, de modo a favorecer a eliminação segura de fumaça, gases e aerossóis(²⁵,⁴³). Autores(¹²,²²) destacam a importância de salas cirúrgicas equipadas com filtros de alta eficiência, que garantam cerca de 25 filtrações por hora e com pressão negativa de pelo menos −4,7 Pa em relação à antessala. Na impossibilidade do uso desses recursos, a manutenção de uma pressão estável deve ser encorajada, recomendando-se, portanto, desligar o equipamento de ar condicionado durante os procedimentos geradores de aerossóis(³²). Os cuidados com a filtração e com a pressão devem ser mantidos durante o processo de limpeza terminal das salas operatórias(¹²,²²,³²).

A equipe cirúrgica multiprofissional deve passar por treinamentos específicos sobre fluxos, descarte de materiais contaminantes, risco biológico, com destaque para a proteção através do uso dos EPI(²⁵,⁴³). A utilização de EPI como máscaras de proteção respiratória para gotículas e aerossol, gorro, óculos/face shield, luvas, avental e calçado impermeável é essencial para preservação da saúde da equipe(¹⁷–²⁰). As orientações sobre EPI também devem esclarecer sobre a paramentação e desparamentação, sobre a higienização das mãos antes e após a retirada dos equipamentos, sobre quais equipamentos devem ser descartados ou reutilizados, bem como o fluxo ordenado para esse processo(¹⁷,¹⁸,⁴³).

Estudo ressalta a importância da realização de briefings entre os componentes da equipe, com o objetivo de atribuir funções, discutir a cirurgia, identificar procedimentos geradores de aerossol e revisar os recomendações(²⁰).

Quanto às recomendações sobre os procedimentos cirúrgicos, estas vão desde a escolha da modalidade anestésica, a manipulação adequada de vias aéreas, até a execução da técnica cirúrgica(¹²,²⁰,²¹,²⁴). No contexto da pandemia da Covid-19, o objetivo principal é reduzir ao máximo a produção e a dispersão de partículas aéreas, optando por procedimentos que não produzam aerossol, gases ou fumaças(²⁰,⁴⁵). Sempre que possível, deve-se utilizar a anestesia por bloqueios locorregionais, considerando que a anestesia geral requer a manipulação de vias, com manobra de ventilação, intubação traqueal e consequentemente produção de aerossol(¹⁷,¹⁸). Porém, quando a intubação traqueal for necessária, deve ser feita por profissional experiente, no menor tempo possível e com limitado número de pessoas presentes(²⁰,²⁶). Pesquisas recomendam que os demais profissionais da equipe só adentrem a sala cirúrgica após um intervalo médio de 10 minutos, o que garante pelo menos quatro ciclos de filtração do ar ambiente(¹⁸,²²).

No que diz respeito à modalidade cirúrgica, ou seja, cirurgia minimamente invasiva ou aberta, não há recomendações claras na literatura sobre qual técnica produz menos partículas aéreas(⁴⁰–⁴³). A literatura incluída identifica como procedimentos relacionados à alta produção de partículas aéreas as cirurgias torácicas, neurológicas, otorrinolaringológicas, maxilofaciais e laparoscópicas(²⁰,²¹,²⁹). Dentre elas, as pesquisas têm relatado risco maior relacionado à laparoscopia, devido ao vazamento de gás do pneumoperitônio, que pode conter altas concentrações de vírus suspensos(¹²,⁴³). Nesse sentido, é recomendado o manejo seguro do pneumoperitônio, com pressões diminutas de gás carbônico e utilização de sistema de sucção e filtragem frequente para evitar o acumulo de fumaça cirúrgica (pluma) na cavidade abdominal(¹⁸).

Outra recomendação identificada nos estudos diz respeito ao tamanho e ao número de incisões cirúrgicas, sendo o risco de produção de fumaça cirúrgica proporcional ao tamanho e à quantidade de incisões(¹⁷,¹⁸). Além disso, todos os equipamentos geradores de energia, como o eletrocautério ou ultrassônico, devem ser regulados em baixa potência para reduzir a produção de material particulado aerossolizado(¹⁸,³⁰,³²).

Para a finalização cirúrgica, os autores recomendam o uso de drenos apenas se estritamente necessários e a síntese com fios absorvíveis ou qualquer dispositivo de fechamento que reduza o vazamento de gases pela ferida operatória(¹⁸,²⁹,³³).

A literatura ainda carece de mais estudos que determinem ou não a relação direta da transmissão da Covid-19 por meio da fumaça cirúrgica(³⁴). Dessa forma, cabe aos órgãos governamentais de saúde, responsáveis por diretrizes, acompanhar a produção de sínteses de evidências, ajustando ou modificando as recomendações, quando necessário.

Esta investigação apresenta como limitações a inclusão de estudos em apenas três idiomas e o recorte temporal. A primeira limitação tem relação com a capacidade técnica da equipe e ausência de recursos confiáveis para a tradução de estudos em outros idiomas. Quanto à segunda limitação, apesar de atrelada à Covid-19, uma doença de surgimento recente, pode ter sido um limitador para o mapeamento de recomendações em outros contextos pandêmicos.

Acredita-se que os resultados da presente investigação poderão fornecer um conjunto de ações para ambientes de procedimentos cirúrgicos realizados durante a pandemia de COVID-19 e em outros cenários epidêmicos.

CONCLUSÃO

O mapeamento das estratégias para manejo da produção de partículas aéreas em centros cirúrgicos durante a pandemia da Covid-19 identificou recomendações técnicas e gerenciais quanto ao ambiente do centro cirúrgico, à equipe multiprofissional e aos procedimentos cirúrgicos propriamente ditos.

As estratégicas técnicas relacionam-se, principalmente, a utilizar paramentação completa, a preconizar a anestesia regional quando possível, a evitar ventilação manual por bolsa e máscara, a priorizar a intubação por sequência rápida, a minimizar o comprimento e o número de incisões cirúrgicas, a reduzir a eletrocirurgia, a usar dissecção ultrassônica, instalação de drenos e, em videocirurgias, a empregar técnicas que reduzam o acúmulo ou extravasamento de gás ou fumaça cirúrgica. Já as estratégias gerenciais relacionam-se a treinar a equipe multiprofissional, a controlar a circulação de pessoas, a disponibilizar equipamentos e insumos estritamente necessários aos procedimentos e a utilizar salas com sistema de ventilação e pressão negativa.

Os resultados apresentados visam apoiar a prática clínica segura e colaborar com novas pesquisas sobre estratégias de controle de partículas aéreas nos ambientes de procedimentos cirúrgicos. Contudo, os resultados desta revisão são provisórios e podem mudar conforme os avanços nas descobertas científicas sobre a Covid-19. Dessa forma, recomendam-se novos estudos que incluam pesquisas com alto nível de evidência, produzidas ao longo do recorte temporal da pandemia da Covid-19.

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Editado por

EDITOR ASSOCIADO

Cristina Lavareda Baixinho

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  22 Jul 2022
• Data do Fascículo
  2022

Histórico

• Recebido
  20 Dez 2021
• Aceito
  09 Jun 2022