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Giordano Bruno e o discurso da Fortuna

Giordano Bruno and Fortune’s Discourse

Resumo

No diálogo Spaccio de la bestia trionfante [Expulsão da besta triunfante], publicado em Londres, em 1584, Giordano Bruno apresenta “as sementes da sua filosofia moral”. Após ter apresentado e discutido sua reforma ontológica, cosmológica e epistemológica nos diálogos precedentes, Bruno pretende elaborar uma consequente proposta reforma moral, política e religiosa da sociedade europeia de seu tempo. Com o objetivo de mostrar como Bruno elabora essa sua proposta, após reconstruir brevemente o horizonte histórico-conceitual que orienta o pensamento do Nolano a respeito do tema, apresento aqui a tradução de uma das passagens mais significativas desse seminal e provocativo diálogo, o discurso da Fortuna.

Palavras-chave:
Giordano Bruno; Fortuna; Ética; Política; Religião

Abstract

In the dialogue Spaccio de la bestia trionfante [Expulsion of the Triumphant Beast], published in London in 1584, Giordano Bruno presents “the seeds of his moral philosophy”. After having discussed his ontological, cosmological and epistemological reform in the previous dialogues, Bruno intends to elaborate a consequent proposal for moral, political and religious reform of the European society of his time. With the aim of showing how Bruno elaborates his proposal, after briefly reconstructing the historical-conceptual horizon that guides Nolano's thinking on the subject, I present here the translation of one of the most significant passages of this seminal and provocative dialogue, the discourse of Fortune.

Keywords:
Giordano Bruno; Fortune; Ethics; Politics; Religion

Considerações preliminares

Em seu diálogo Spaccio de la bestia trionfante [Expulsão da besta triunfante], publicado em Londres, em 1584, Giordano Bruno apresenta o que ele mesmo considera as sementes da sua filosofia moral. Após haver trabalhado intensamente em sua reforma ontológica, cosmológica e epistemológica nos diálogos precedentes, Bruno volta-se agora para a discussão de uma consequente reforma moral, política e religiosa da sociedade europeia de seu tempo. Dedicado a Philip Sidney, um dos grandes poetas da era elisabetana, esse diálogo de forte inspiração lucianesca é uma alegoria que serve para Bruno apresentar a reforma celeste comandada por Júpiter na festa que celebra a vitória dos deuses olímpicos sobre os gigantes, a famosa Gigantomaquia.1 1 Sobre o tema ver especialmente Nuccio Ordine, Giordano Bruno, Ronsard et la Religion, Paris: Albin Michel, 2004; do mesmo autor, ver também, O umbral da sombra. Literatura, filosofia e pintura em Giordano Bruno, Prefácio de Pierre Hadot, Trad. de Luiz Carlos Bombassaro, São Paulo: Perspectiva, 2006, p. 102ss. Além de Júpiter, são três as personagens centrais do Spaccio: Sofia, que assume o papel de mediadora entre os homens e os deuses; Saulino, que representa o alter ego do próprio Bruno; e Mercúrio [Momo], o mensageiro divino. Como muito bem assinalou Nuccio Ordine (2006ORDINE, Nuccio. O umbral da sombra. Literatura, Filosofia e Pintura em Giordano Bruno. Prefácio Pierre Hadot. Tradução e apresentação Luiz Carlos Bombassaro. São Paulo: Perspectiva, 2006.), a reforma moral se inicia com o “arrependimento” de Júpiter, que convoca uma assembleia celeste para purificar o céu dos vícios e restabelecer as virtudes, corrompidas por séculos de barbárie. As reflexões brunianas dar-se-ão, portanto, sobre o horizonte referencial da clássica teoria ética dos vícios e das virtudes, proposta já na filosofia antiga e constantemente revisitada pela filosofia medieval, mas agora reinterpretada à luz dos acontecimentos recentes da Reforma protestante e das guerras de religião que assolam a Europa no tempo de Giordano Bruno. É nesse contexto cultural, marcado por uma profunda crise civilizacional, que emerge a necessidade de uma reforma de conceitos e de valores morais, o tema por excelência desse provocativo diálogo bruniano.

Com o intuito de mostrar como Bruno elabora a sua proposta de reforma moral, após reconstruir brevemente o horizonte histórico-conceitual que orienta o pensamento do Nolano a respeito do tema, apresento aqui a tradução de uma das passagens mais representativas do diálogo Expulsão da besta triunfante, o discurso da Fortuna.

As vicissitudes da Fortuna

Deusa do acaso, do destino e da sorte na religião dos romanos antigos, a Fortuna era uma divindade conhecida e venerada sob muitos nomes, sempre de acordo com seus atributos: Fortuna Primigenia, Fortuna Muliebris, Fortuna Virilis, Fortuna Redux, Fortuna Stata e muitos outros.2 2 Ver especialmente Der Kleine Pauly, Band 2, München: DTV, 1979, c. 597 ss. Na mitologia romana, Fortuna, filha de Júpiter, é uma deusa mediadora, que pode trazer felicidade ou desgraça para a vida dos homens. Originariamente associada à fertilidade e ao prazer, Fortuna Primigenia tornou-se a deusa da prosperidade e da abundância, geralmente representada como uma mulher carregando uma cornucópia da qual transbordam os frutos da colheita.

Foi Agostinho de Hipona um dos primeiros pensadores da cristandade a atacar a compreensão politeísta da religião dos romanos, ao afirmar que as filhas de Júpiter, Virtus e Fortuna, acabavam por se contrapor à doutrina cristã, porque - como bem destacou Quentin Skinner - “a deificação da fortuna acarretava uma negação do caráter benfazejo da providência divina” e porque, estando o mundo inteiro inexoravelmente governado pela providência divina, não faria sentido alguém querer definir o seu próprio destino num embate entre fortuna e virtus.3 3 Ver Quentin Skinner, As fundações do pensamento político moderno. Trad. de Renato Janine Ribeiro e Laura Teixeira Motta, São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 116. Assim, a discussão sobre a presença da providência divina e a força da fortuna na vida dos homens manteve acesso o debate sobre a moral, a política e a história no pensamento medieval.

Com uma variação de nomes e com o passar do tempo, Fortuna recebe novas descrições literárias e representações iconográficas. Tema popular e erudito, a um só tempo, em sua versão medieval, Fortuna aparece não somente como motivo figurativo nas iluminuras da época, mas especialmente como motivo literário e como tema de discussão filosófica. Suas representações mais comuns mostram-na girando uma roda, que pode significar tanto a roda da vida - simbolizando a elevação e a queda do homem -, bem como a roda do acaso, indicando o movimento e a mutação como elementos constitutivos da natureza humana. O poema Carmina Burana, uma coleção de canções profanas germânicas recolhidas no século XII, apresenta a Fortuna como “Imperatrix Mundi”, símbolo da mutação e da constante alternância da vida humana.4 4 Ver Carmina Burana. Die Lieder der Benediktbeurer Handschrift. Zweisprachige Ausgabe, (Carl Fischer e Hugo Kuhn: München: dtv, 1991. Já Severino Boécio (2016, p. 49), em sua Consolação da Filosofia, faz a Fortuna se autoapresentar: “É esta a minha força, é este o jogo que continuamente jogo: faço girar a roda com seu volúvel círculo, divirto-me a passar para cima o que está embaixo e para baixo o que está em cima”. Pretensiosa força motriz das ações humanas, a Fortuna assume assim, na medievalidade, uma conotação ético-política essencial, especialmente quando se trata de pensar que todas as coisas mundanas e humanas estão constantemente submetidas ao movimento vicissitudinal da mudança e da transformação. Desse modo, carregada de significação simbólica multifacetada, a Fortuna chega assim a se tornar um dos temas centrais das discussões ético-políticas da tradição do humanismo renascentista.5 5 Uma apresentação detalhada a presença e da importância da Fortuna entre os humanistas pode ser encontrada no livro de Skinner mencionado acima, nota 5, especialmente pp. 115-123.

O discurso da Fortuna

Na Expulsão da besta triunfante, diálogo bruniano dedicado a discutir a necessidade de uma transformação radical da filosofia moral, com o objetivo de implementar a substituição dos vícios pelas virtudes, a Fortuna entra em cena como acompanhante da Riqueza e da Pobreza. Trata-se da apresentação alegórica da teoria cosmológica e ético-política sobre o movimento vicissitudinal da natureza e da história humana, um dos elementos nucleares da filosofia de Giordano Bruno.

Assim, diante da assembleia dos deuses, comandada por Júpiter, a Fortuna apresenta a si mesma:

“E então, enquanto o pai dos deuses dava meia-volta, adiantou-se por si mesma, descaradamente e com nada insólita arrogância, a Fortuna e disse: “Não é bom, Deuses consulares e tu, grande promulgador de sentenças, Júpiter, que ali onde falam e podem ser ouvidas por tanto tempo a Pobreza e a Riqueza, eu seja vista como pusilânime calada por covardia e não me mostre e me queixe com toda razão. Eu, que sou tão digna e tão poderosa que levo adiante, conduzo e coloco onde me parece e me apraz a Riqueza, de onde quero a tiro e de onde quero a levo, realizando sua sucessão e alternância com a Pobreza; e todos sabem que a felicidade dos bens externos não pode ser atribuída mais à Riqueza, como seu princípio, que a mim, da mesma maneira que a beleza da música e a excelência da harmonia ninguém deve atribuí-la mais à lira e ao instrumento que à arte e ao artista que a maneja. Eu sou essa deusa divina e excelente, tão desejada, tão buscada, tão querida, por quem na maioria das vezes se dá graças a Júpiter, de cuja mão aberta provém a riqueza, e de cujas mãos fechadas todo mundo lamenta e soçobram cidades, reinos e impérios. Quem nunca fez votos à Riqueza e à Pobreza? Quem nunca lhe rende graças? Todo aquele que as quer e deseja fervorosamente me chama, me invoca, me oferece sacrifícios; todo aquele que está contente por elas me dá graças, expressa sua gratidão à Fortuna, pela Fortuna coloca aromas no fogo, pela Fortuna incensa os altares.”

“E sou uma causa que quanto mais incerta resulto, tanto mais venerável e temível sou e tanto mais desejável e apetecível quanto menos companheira e familiar me mostro; porque geralmente se encontra mais dignidade e majestade nas coisas menos manifestas, mais ocultas e muito mais secretas. Eu, que com meu esplendor ofusco a virtude, denigro a verdade, domo e desprezo a maior e melhor parte destas deusas e deuses que vejo dispostos e ordenados para ocupar um lugar no céu; eu, que também aqui, na presença de um senado tal e como este, por mim mesma, sozinha, infundo terror a todos, porque, embora não tenha olhos que me sirvam, tenho sim ouvidos com os quais percebo como uma grande parte deles grunhe e range os dentes pelo temor que sentem ante minha formidável presença, embora apesar de tudo não percam a ousadia e a arrogância de se adiantar para se fazer nomear, sem que antes se tenha considerado minha dignidade; eu, que muitas vezes e com muita frequência me imponho frente à Razão, à Verdade, à Sabedoria, à Justiça e a outras divindades, as quais (se não querem mentir sobre aquilo que é evidentíssimo para todo o universo) poderão dizer se podem dar conta do número de vezes que as derrubei de suas cátedras, sedes, tribunais e as domei, amarrei, encerrei e encarcerei segundo meu bel-prazer. E também graças a mim, agora e noutras ocasiões, puderam sair, se liberar, se restabelecer e se ver novamente confirmadas, nunca sem temor de incorrer em minha desgraça.”

Momo disse: “Geralmente, senhora cega, todos os outros deuses esperam a retribuição dessas sedes pelas boas obras que fizeram, fazem e podem fazer. E por tais obras, o senado se propôs premiá-los; e tu, para defender tua causa, aduzes a lista e a sucessão daqueles teus delitos pelos quais não somente deverias ser banida do céu, mas também da terra”.

A Fortuna respondeu que ela não era menos boa que outros bons e que por ser assim não era ruim, porque está bem tudo o que dispõe o destino, e se sua natureza fosse como a da víbora, que é venenosa por natureza, isso não seria culpa sua, mas ou da natureza ou daquele que a fez assim. Ademais, nada é absolutamente mau, porque a víbora não é mortal e tóxica para a víbora; nem o dragão, o leão ou o urso para o urso, o leão ou o dragão; mas qualquer coisa é má em relação a alguma outra; “como vós, deuses virtuosos, sois maus para os viciosos, os do dia e da luz são maus para os da noite e das trevas. E vós sois bons entre vós e eles são bons entre eles, como ocorre também entre as seitas inimigas do mundo, onde os contrários se chamam entre si filhos dos deuses e justos; e não menos estes que aqueles e aqueles que estes, chamam piores e mais réprobos aos melhores e mais honrados. Portanto eu, a Fortuna, mesmo que aos olhos de alguns seja réproba, aos olhos de outros sou divinamente boa e é sentença aprovada pela maior parte do mundo que a fortuna dos homens depende do céu, pelo que não há estrela pequena nem grande no firmamento da qual não se diga que eu dispenso meus favores”.

Então Mercúrio respondeu dizendo que se tomava seu nome de forma muito equivocada, porque às vezes por ‘fortuna’ não se entende mais que um resultado incerto das coisas, cuja incerteza nada é o olho da providência, mesmo que seja o máximo para o olho dos mortais.

A Fortuna não escutava nada disso, mas prosseguia e, ao que já havia dito, acrescentou que os mais egrégios e excelentes filósofos do mundo, como Empédocles e Epicuro, atribuem mais poder a ela que ao próprio Júpiter e até mesmo que ao próprio concílio dos deuses reunidos.

“Assim, todos os demais”, dizia, “me entendem por deusa e me entendem por deusa celeste, pois creio que não soa novo aos vossos ouvidos este verso que não há criança de cartilha que não o saiba recitar:

Te facimus, Fortuna, deam, caeloque locamos. 6 6 “Fazemos-te deusa, oh Fortuna, e te colocamos no céu.” (Juvenal, Sátiras, X, 66).

E quero que saibais, oh deuses, com quanta razão alguns me chamam louca, estulta, insensata, quando eles são tão loucos, tão estultos, tão insensatos que não sabem dizer quem sou; refiro-me também a alguns, considerados mais doutos que os demais, que de fato demonstram e concluem o contrário enquanto são forçados pela verdade. Dizem que sou irracional e sem juízo, mas de tal sorte que nem por isso me têm por animal e louca, já que mediante tal negação nada querem tirar de mim, mas sim conceder-me mais, como eu às vezes costumo negar coisas pequenas para conceder as maiores. Não sou, pois, compreendida por eles como alguém que é e atua sob os ditames da razão e de acordo com a razão, mas acima de toda razão, acima de todo juízo e de todo engenho. Deixo de lado que, certamente, se dão conta e reconhecem que tenho e exerço o governo e reino, muito especialmente sobre os seres racionais, inteligentes e divinos. E nenhum sábio disse que atuo com meu braço sobre coisas privadas de razão e de intelecto, como são as pedras, as bestas, as crianças, os loucos e outros que não têm noção da causa final e não podem atuar com vistas a um fim”.

Então Minerva disse: “Eu te direi, oh Fortuna, por qual motivo te chamam sem juízo e irracional. A quem falta algum sentido, também lhe falta alguma ciência e muito especialmente a ciência correspondente àquele sentido. Considera agora a ti mesma, como estando privada da luz dos olhos que são a causa principal da ciência”.

A Fortuna respondeu que Minerva ou enganava-se a si mesma ou queria enganar a Fortuna; e confiava conseguir isso porque a via cega. E acrescentou “Mesmo que privada de visão, não estou, contudo, privada de audição e de entendimento”.

SAULINO - E acreditas que isso é verdade, Sofia?

SOFIA - Escuta e verás como sabe distinguir e como não lhe estão ocultas as filosofias e entre outras coisas a Metafísica de Aristóteles:

“Eu”, dizia ela, “sei que há quem diga que a visão é especialmente desejada para o saber, mas nunca conheci alguém tão estulto que dissesse que é a visão que faz conhecer. E quando alguém disse que a visão era especialmente desejada, não queria dizer com isso que ela fosse especialmente necessária, senão para o conhecimento de certas coisas, como são as cores, as figuras, as simetrias corporais, as belezas, formosuras e outras coisas visíveis que antes costumam perturbar a imaginação e alienar o intelecto; mas não que fosse absolutamente necessária para todas ou para as melhores espécies de conhecimento, já que sabia muito bem que muitos arrancaram os próprios olhos para alcançar a sabedoria e que entre aqueles que, por sorte ou por natureza, eram cegos, muitos foram vistos com mais admiração, como te poderia mostrar muitos Demócritos, muitos Tirésias, muitos Homeros e muitos como o cego de Adria. Além disso, acredito que saberás distinguir, se és Minerva, que quando um certo filósofo estagirita disse que a visão é especialmente desejada para o saber, não comparava a visão com outras espécies de meios de conhecimento, como a audição, a reflexão, o intelecto, mas que estava comparando entre esse fim da visão que é o saber e algum outro fim que ela mesma se possa propor. Por isso, se não te molesta ir até os Campos Elíseos para discutir com ele (caso ele ainda não tenha partido daí para outra vida e tenha bebido das águas do Leto), verás que ele te faz a seguinte glosa: “nós desejamos especialmente a visão a fim de saber” e não aquela outra de “nós desejamos entre os diferentes sentidos, especialmente a visão para saber”.

SAULINO - É surpreendente, oh Sofia, que a Fortuna saiba discorrer melhor e melhor entender os textos que Minerva, que está acima dessas inteligências.

SOFIA - Não te surpreendas, porque quando examinas em profundidade e quando tenhas praticado e discutido o suficiente, perceberás que os deuses graduados nas ciências, nas eloquências e nos juízos não são mais judiciosos, nem mais sábios, nem mais eloquentes que os outros.

Então, prosseguindo com o assunto da alegação que apresentava ante o senado, dirigindo-se a todos, a Fortuna disse:

“Nada, nada, oh deuses, nada me tira a cegueira; nada que valha, nada que contribua para a perfeição de meu ser, porque se eu não fosse cega, não seria Fortuna; e tão longe se está de que possais diminuir ou atenuar a glória de meus méritos por causa desta cegueira, que dela mesma tomo o motivo de sua grandeza e excelência, posto que vou convencer-vos de que precisamente por ela não atuo sem consideração e não posso ser injusta nas partilhas”.

Então disseram Mercúrio e Minerva: “Não terás feito pouco quando tiveres demonstrado isso”.

E a Fortuna acrescentou:

“Para minha justiça convém ser assim; para a verdadeira justiça não convém, não cabe, mas ao contrário repugna e ultraja o exercício da visão. Os olhos são feitos para distinguir e conhecer as diferenças (não quero mostrar agora com que frequência se enganam aqueles os que julgam pela visão); eu sou uma justiça que não deve distinguir, que não deve fazer diferenças, mas que, como todos são principal, real e finalmente um só ente, uma mesma coisa (porque o ente, o uno e o verdadeiro são uma mesma coisa), eu também tenho que colocar a todos numa certa igualdade, estimar a todos por igual, considerar a todas as coisas como um só e não estar mais disposta a olhar, a chamar a um que a outro; nem mais disposta a dar a um que a outro, nem estar mais inclinada ao próximo que ao distante. Não vejo mitras, togas, coroas, artes, engenhos; não distingo méritos e deméritos, porque ainda que esses existam, não são coisa de uma ou outra natureza neste ou naquele indivíduo, mas certamente se encontram e se manifestam neste ou naquele de acordo com as circunstâncias e as ocasiões ou acidentes que acontecem. Por isso, quando dou, não vejo a quem dou; quando tiro, não vejo de quem tiro, a fim de que dessa maneira eu venha a tratar a todos por igual e sem nenhuma diferença. Assim entendo e faço corretamente todas as coisas iguais e justas, e dispenso a todos justa e equitativamente. Coloco a todos dentro de uma urna e em seu ventre de imensa capacidade a todos confundo, embaralho e agito. Depois, sorte a quem tocar e a quem a tiver; sortudo, quem leva a melhor; azar, quem leva a pior! Desta forma, dentro da urna da Fortuna não há diferença entre o maior e o menor; inclusive todos são ali igualmente grandes e igualmente pequenos, porque neles as diferenças são estabelecidas por outros, não por mim, ou seja, antes de entrarem na urna e depois que saem da urna. Enquanto estão lá dentro, todos são revirados pela mesma mão, no mesmo vaso, com o mesmo impulso. Por isso, quando é feito o sorteio, não é razoável que aquele a quem cabe um mau resultado se lamente ou de quem tem a urna ou da urna ou do impulso ou de quem põe a mão na urna. Deve, ao contrário, suportar, com a melhor e maior paciência que possa, o que foi disposto e como foi disposto ou está disposto pelo Destino, já que ademais ele estava inscrito igual, sua cédula era igual a de todos os demais, foi numerado, colocado na urna e lá dentro agitado da mesma forma que os demais. Assim pois, eu que trato todo mundo por igual e que a todo o mundo tenho por uma massa da qual nenhuma parte estimo mais digna e indigna que a outra para ser vaso de opróbrio; eu, que lanço a todos na mesma urna da mutação e do movimento, que sou igual para todos, a todos atendo por igual ou não atendo a nenhum particular mais que a outro, acabo sendo justíssima, embora a todos vós pareça o contrário. Então, que para a mão que se mete na urna, toma e tira a sorte (boa para uns, má para outros) lhe saiam ao encontro um grande número de indignos e muito raramente gente de mérito, isso se deve à desigualdade, iniquidade e injustiças vossas, que não fazeis a todos iguais e que tendes olhos para comparações, distinções, disparidades e ordens, com as quais entendeis e estabeleceis diferenças. De vós, de vós, digo, provém toda desigualdade, toda iniquidade, porque a deusa Bondade não se dá a todos por igual, a Sabedoria não se comunica a todos na mesma medida, a Temperança se encontra em poucos, a pouquíssimos se mostra a Verdade. Assim, vós, bons deuses, sois escassos, sois parcialíssimos, estabelecendo as maiores diferenças, a mais desmesuradas desiguldades e as desproporções mais confusas nas coisas particulares. Não sou eu, não sou eu a injusta, que contemplo a todos sem diferença alguma e para quem todos são como de uma mesma cor, de um mesmo mérito e de uma mesma sorte. A vós se deve que quando a minha mão tira as sortes, se apresentem com mais frequência - não somente para o mal, mas também para o bem; não somente para os infortúnios, mas também para as fortunas -, mais geralmente os maus que os bons, mais os ignorantes que os sábios, mais os falsos que os verazes. E, por que isso? Por que? Vem a Prudência e lança na urna não mais do que dois ou três nomes; vem a Sabedoria e lá coloca não mais do que quatro ou cinco; vem a Verdade e deixa lá não mais do que um e ou até menos, se menos pudesse; e, depois que centenas de milhares são lançados na urna, quereis que à mão que tira as sortes se lhe apresentem antes um desses oito ou nove ao invés de um desses oito ou novecentos mil. Pois fazei vós o contrário! Faz tu, digo, Virtude, que os virtuosos sejam mais que os viciosos; faz tu, Sabedoria, que o número dos sábios seja maior do que o dos estultos; faz tu, Verdade, por ser aberta e manifesta para a grande maioria; então, sem dúvida alguma, entre os prêmios e situações ordinárias haverá mais gente vossa que de adversários. Fazei que todos sejam justos, verazes, sábios e bons, e certamente nenhum grau ou dignidade que eu dispense jamais poderá ser atribuído a trapaceiros, a iníquos, a loucos. Não sou, pois, mais injusta eu, que a todos trato e movo da mesma maneira, que vós, que não fazeis a todos iguais. Por isso, quando sucede que um malandro ou rufião chega a ser príncipe ou rico, não é por culpa minha, mas por vossa iniquidade, que, desprovidos do vosso lume e do vosso esplendor, nada fizestes para que ele deixasse de ser preguiçoso e malandro antes ou não o persuadistes a deixar a preguiça e a malandragem agora ou pelo menos não o purgais depois da malandragem preguiçosa, a fim de que um sujeito assim não esteja à frente. Não é um erro que se tenha um príncipe, mas que faça príncipe a um malandro. Pois bem, havendo duas coisas, ou seja, principado e malandragem, o vício certamente não reside no principado que eu ofereço, mas na malandragem que vós permitis. Porque movo a urna e tiro as sortes, eu não atendo mais a ele que a qualquer outro e por isso não o predeterminei a ser príncipe ou rico (embora seja preciso que necessariamente um dentre todos os outros venha ao encontro da mão); vós, que fazeis as distinções com os olhos, olhando e outorgando-os mais a este que àquele, a um demasiado e a outro nada, vós passais a determiná-lo como um malandro ou preguiçoso. Portanto, se a injustiça consiste, não em fazer um príncipe e não em enriquecer-te, mas em determinar que um sujeito seja malandro ou preguiçoso, não serei eu a injusta, mas sim vós. Vede, pois, como o Destino me tem feito justíssima e não me pode ter feito injusta, porque me faz ser sem olhos para que assim eu possa classificar a todos com equanimidade”.

Momo acrescentou: “Não te chamamos injusta pelos olhos, mas pela mão”.

E a Fortuna replicou: “Tampouco pela mão, Momo; porque sou mais causa do mal eu que os pego como chegam, que eles que não vêm como eu os pego; quero dizer: que eles não vêm tão indiferentemente como indiferentemente os pego. Não sou eu a causa do mal, se os pego como se apresentam, mas eles, que me vêm ao encontro tal como são, e quem não os faz ser de outra maneira. A perversa não sou eu, que, cega, estendo a mão indiferentemente a quem se me apresenta, claro ou escuro, mas quem assim os faz e quem assim os deixa e me os envia”.

Momo acrescentou: “Mas mesmo que todos chegassem a ti sem diferenças, iguais e semelhantes, nem por isso deixarias de ser injusta, já que apesar de serem todos igualmente merecedores do principado, não os farias a todos príncipes, mas somente a um deles”.

A Fortuna respondeu sorrindo: “Estamos falando, Momo, de quem é injusto e não falamos de quem seria injusto. Certo, com este teu modo de falar e de responder me pareces suficientemente convencido, já que do que é de fato passaste ao que seria; e como não podes dizer que sou injusta, passas a dizer que eu seria injusta. Firme permanece, então, de acordo com o que tu mesmo concedes, que eu sou justa, porém que seria injusta e que vós sois injustos, pois seríeis justos. É mais: ao que disse acrescento que não somente não sou, mas que tampouco seria menos justa se vós os oferecêsseis a mim a todos iguais, porque com relação ao impossível não há justiça nem injustiça. Pois bem, não é possível que um principado seja concedido a todos; não é possível que todos tenham a mesma sorte, mas é possível que a todos seja oferecida por igual. Desta possibilidade se segue o necessário, ou seja, que de todos é preciso que o consiga um; e nisso não há injustiça nem mal, porque não é possível que haja mais de um, mas que o erro está no que vem depois, ou seja, que esse é um vil, que aquele é um malandro, que aquele não é um virtuoso; e desse mal a causa não é a Fortuna, que concede ser príncipe e ser rico, mas a deusa Virtude, que não lhe concede nem lhe concedeu ser virtuoso. “De modo muito excelente expôs suas razões a Fortuna”, disse o pai Júpiter, “e por todos os conceitos me parece digna de ocupar um lugar no céu. Mas que tenha um lugar exclusivo não me parece conveniente, dado que tem tantos como tantas estrelas há, porque a Fortuna está em todas elas não menos que na Terra, dado que elas não são menos mundos que a Terra. Além disso, de acordo com estimação geral dos homens, de todas elas se diz que depende a Fortuna e certamente, se tivessem mais abundância de intelecto, diriam algo mais. Por isso (diga Momo o que queira), posto que tuas razões, deusa, me parecem inclusive demasiado eficazes, concluo que se nos oferecem contra tuas causas outras alegações que valem mais que as que tens apresentado até agora, e não quero me atrever a te delimitar um lugar, como se quisesse eu te constranger ou te relegar a ele, mas que te dou, inclusive te deixo com a potestade que mostras ter todo o céu, posto que por ti mesma tens tanta autoridade que podes abrir para ti aqueles lugares que estão fechados ao próprio Júpiter e a todos os outros deuses. E não quero me estender acerca daquilo pelo qual todos te estamos profundamente obrigados. Tu, abrindo para ti todas as portas, plainando-te todos os caminhos e dispondo-te todos os lugares, fazes tuas todas as coisas alheias; por isso não pode faltar que as sedes (lugares) dos demais sejam também tuas, já que quanto está sob o destino da mutação, tudo, absolutamente tudo, passa pela urna, por uma revolução e pela mão de tua excelência”.

Assim, pois, Júpiter negou a sede de Hércules à Fortuna, a cujo arbítrio deixou tanto aquela como todas as demais sedes do universo. A essa sentença, seja lá qual for, nenhum deus se opôs e a deusa cega, vendo que a resolução adotada não lhe causava nenhuma injustiça, despediu-se do Senado com as seguintes palavras: “Eu, então, me vou totalmente manifesta e oculta ao mesmo tempo por todo o universo; percorro os altos e os baixos palácios e não menos que a morte sei exaltar as coisas ínfimas e rebaixar as mais altas; e ao final, pela força da vicissitude, torno todas as coisas iguais e com uma sucessão incerta e uma razão irracional que tenho em mim (ou seja, acima e além de razões particulares) e com uma medida indeterminada giro a roda, agito a urna, para que minha intenção não seja recriminada por nenhum indivíduo. Ei, Riqueza, coloque-se à minha direita e tu, Pobreza, à minha esquerda. Tragam convosco o vosso séquito. Tu, Riqueza, os servos tão gratos e tu, Pobreza, esses teus tão nojentos para a multidão. Que vos sigam, digo, em primeiro lugar, o incômodo e o gozo, a felicidade e a infelicidade; a tristeza, a alegria; a jovialidade, a melancolia; o esforço, o repouso; o ócio, a ocupação; a sordidez, o ornamento; depois o desejo, a abstinência; a ebriedade, a sede; a crápula, a fome; o apetite, a saciedade; o desejo, o tédio, o fastio; a plenitude, o vazio. Depois o dar, o tomar; a efusão, a parcimônia; o investir, o despojar; o lucro, a desventura; a entrada, a saída; a ganância, o dispêndio; a avareza, a liberalidade, com o número e a medida, o excesso e a deficiência; a igualdade, a desigualdade; o débito, o crédito. Em seguida, a segurança, a suspeita; o ciúme, a adulação; a honra, o desprezo; a reverência, a burla; o obséquio, o despeito; a graça, a vergonha; a ajuda, o abandono; o desconsolo, a consolação; a inveja, a congratulação; a emulação, a compaixão; a confiança, a desconfiança; a dominação, a servidão; a liberdade, a escravidão; a companhia, a solidão. Tu, Ocasião, caminhe à frente, precede meus passos, abra-me mil e mil caminhos; vê? incerta, incógnita, oculta, porque não quero que minha chegada seja percebida com demasiada antecedência. Dá bofetadas em todos os vates, profetas, adivinhos, augures e videntes. A todos aqueles que se atravessam para impedir a nossa passagem, bate-lhes nas costelas. Tira da minha frente todo obstáculo possível. Aplaina e arranca qualquer outro matagal de intenções que possa molestar a um nume cego, para que possas comodamente me indiques, meu guia, por onde subir ou onde me apoiar, onde girar à direita ou à esquerda, para onde dirigir ou deter, levar ou conter os passos. Eu num momento e num só instante vou e venho, fixo e movo, me levanto e me sento, enquanto estendo as mãos para diversas e infinitas coisas com os diferentes meios da ocasião. Discorramos, pois, por todas as partes, por meio de todas as partes, em todas as partes, para todas as partes; aqui com os deuses, ali com os heróis; aqui com os homens, lá com as bestas”.7 7 Giordano Bruno, Spaccio de la bestia trionfante. In: Œuvres completes de Giordano Bruno (Yves Hersant e Nuccio Ordine), Paris: Les Belles Lettres, 1993, p. 162-208. [Essa passagem integra a tradução do volume Expulsão da besta triunfante, a ser publicado brevemente na coleção Obras italianas de Giordano Bruno, da qual já foram publicados os volumes I - Castiçal, II - A ceia de Cinzas, III - A causa, o princípio e o uno, IV - O infinito, universo e mundos (prelo), V - A cabala de Pégaso (prelo)].

Considerações finais

As questões levantadas no Discurso da Fortuna remetem ao arcabouço da crise civilizacional tematizada por Bruno parte do reconhecimento da perda de significado dos valores clássicos inerentes à teoria ética das virtudes e do sentimento de decadência moral vivido pela cultura europeia dos séculos XV e XVI. Surge então, também para Bruno como havia surgido para muitos intelectuais de seu tempo, a pergunta: a quem deve ser destinado o governo do mundo? A resposta de Bruno é clara: Não será a Fortuna quem poderá ocupar o posto de Hércules (Henrique III), mas a Fortaleza, “porque esta não deve estar longe de onde está a verdade, a lei, o juízo, já que constante e forte deve ser a vontade que administra o juízo com a prudência, por meio da lei, de acordo com a verdade, pois como a verdade e a lei formam o intelecto, a prudência, o juízo e a justiça regulam a vontade, assim também a constância e a fortaleza conduzem ao efeito.” (1993, p. 281) Desse modo, podemos concordar com a análise feita por Ordine: “A Fortuna reconhece que a humanidade tem a possibilidade de condicionar positivamente os acontecimentos. Se a necessidade impõe leis irreversíveis, a liberdade de agir do homem e a sua capacidade de levar a efeito qualquer operação consentem em modificar o curso das coisas. [...] O movimento circular da roda, que tanto havia aterrorizado o homem medieval, deve ter presente também a vontade de agir e de fazer de cada indivíduo em particular.”8 8 Nuccio Ordine. O umbral da sombra, 2006, p. 119. Por isso, em seu instigante diálogo, Bruno fará com que Júpiter reconheça que somente a Fadiga - leia-se, o persistente esforço do homem com o trabalho do intelecto e das mãos - terá condições de saber aproveitar a ocasião para agarrar a Fortuna pelos cabelos e agir de tal maneira para que possa interferir efetivamente no movimento da roda vicissitudinal da história.

Referências

  • BRUNO, Giordano. Opere complete / Œuvres Complètes (Vol. Spaccio de la bestia trionfante / Expulsion de la bete triomphante. Texte établi par Giovanni Aquilecchia, traduction de Jean Balsamo, introduction par Nuccio Ordine, notes par Jean Seidengart). Paris: Les Belles Lettres, 1999.
  • BRUNO, Giordano. Expulsión de la bestia triunfante. Traducción, introducción y notas de Miguel Á. Granada. Madrid: Tecnos, 2022.
  • BOMBASSARO, Luiz Carlos. Giordano Bruno e a Filosofia na Renascença. Prefácio de Michael Spang. Caxias do Sul: Educs, 2007.
  • EISENHUT, Werner. ‘Fortuna’. In: ZIEGLER, Konrat; et al. Der kleine Pauly. Lexikon der Antike. Band 2. München: dtv, 1979, p. 597-600.
  • FISCHER, Karl; KUHN, Hugo (Eds.) Carmina Burana. München: dtv, 1991.
  • GRANADA, Miguel Á. La reivindicación de la Filosofía en Girodano Bruno. Barcelona: Herder, 2005.
  • ORDINE, Nuccio. Giordano Bruno, Ronsard et la Religion. Paris: Albin Michel, 2004.
  • ORDINE, Nuccio. O umbral da sombra. Literatura, Filosofia e Pintura em Giordano Bruno. Prefácio Pierre Hadot. Tradução e apresentação Luiz Carlos Bombassaro. São Paulo: Perspectiva, 2006.
  • SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno. Tradução da Renato Janine Ribeiro e Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
  • 1
    Sobre o tema ver especialmente Nuccio Ordine, Giordano Bruno, Ronsard et la Religion, Paris: Albin Michel, 2004; do mesmo autor, ver também, O umbral da sombra. Literatura, filosofia e pintura em Giordano Bruno, Prefácio de Pierre Hadot, Trad. de Luiz Carlos Bombassaro, São Paulo: Perspectiva, 2006, p. 102ss.
  • 2
    Ver especialmente Der Kleine Pauly, Band 2, München: DTV, 1979, c. 597 ss.
  • 3
    Ver Quentin Skinner, As fundações do pensamento político moderno. Trad. de Renato Janine Ribeiro e Laura Teixeira Motta, São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 116.
  • 4
    Ver Carmina Burana. Die Lieder der Benediktbeurer Handschrift. Zweisprachige Ausgabe, (Carl Fischer e Hugo Kuhn: München: dtv, 1991.
  • 5
    Uma apresentação detalhada a presença e da importância da Fortuna entre os humanistas pode ser encontrada no livro de Skinner mencionado acima, nota 5, especialmente pp. 115-123.
  • 6
    “Fazemos-te deusa, oh Fortuna, e te colocamos no céu.” (Juvenal, Sátiras, X, 66).
  • 7
    Giordano Bruno, Spaccio de la bestia trionfante. In: Œuvres completes de Giordano Bruno (Yves Hersant e Nuccio Ordine), Paris: Les Belles Lettres, 1993, p. 162-208. [Essa passagem integra a tradução do volume Expulsão da besta triunfante, a ser publicado brevemente na coleção Obras italianas de Giordano Bruno, da qual já foram publicados os volumes I - Castiçal, II - A ceia de Cinzas, III - A causa, o princípio e o uno, IV - O infinito, universo e mundos (prelo), V - A cabala de Pégaso (prelo)].
  • 8
    Nuccio Ordine. O umbral da sombra, 2006, p. 119.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Mar 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    18 Fev 2023
  • Aceito
    03 Dez 2023
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