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História da Historiografia, Volume: 16, Número: 41, Publicado: 2023
  • A proposição historiográfica da Ciência do Sistema Terra: uma revisão das críticas à “metanarrativa do Antropoceno” Artigo De Revisão

    Lowande, Walter Francisco Figueiredo

    Resumo em Português:

    Resumo As discussões sobre o Antropoceno produzidas pela Ciência do Sistema Terra (CST) e pela estratigrafia têm resultado em textos que lançam mão de dados e modelos, mas que também produzem narrativas históricas por meio das quais se tenta oferecer um novo sentido unificado para a humanidade. Neste artigo tomo esses enunciados como “proposições” com o potencial de transformar a prática historiográfica. O objetivo é oferecer um quadro mais detalhado das contribuições desses e dessas “antropocenologistas” a fim de possibilitar uma melhor avaliação das possibilidades de acolhimento dessas proposições pela comunidade de historiadores e historiadoras. Para tanto, este artigo tem o objetivo de revisar algumas críticas recentes às narrativas produzidas por esses e essas cientistas. Como conclusão, demonstro que a literatura produzida pela CST não pode ser reduzida facilmente à ideia de uma “metanarrativa”, devido à pluralidade de posições que ela abarca, bem como aponto para a necessidade de uma pluralização das perspectivas ontoepistêmicas da historiografia a fim de que ela possa contribuir com as múltiplas formas de habitar e de conferir sentido para a experiência no pós-Holoceno.

    Resumo em Inglês:

    Abstract Discussions about the Anthropocene produced by Earth System Science (ESS) and stratigraphy have resulted in texts that make use of data and models, but that also produce historical narratives through which an attempt is made to offer a new unified meaning for humanity. In this article I take these statements as “propositions” which have the potential to transform historiographical practice. The objective is to offer a more detailed picture of the contributions of these “anthropocenologists” in order to enable a better assessment of the possibilities of reception of these propositions by the historians’community. Therefore, this article aims to review some recent criticisms of the narratives produced by these scientists. As a conclusion, I demonstrate that the literature produced by the ESS cannot be easily reduced to the idea of a “metanarrative”, due to the plurality of positions it encompasses, as well as I point to the need for a pluralization of the historiographical onto-epistemic perspectives so that it can contribute to the multiple ways of inhabiting and giving meaning to the experience in the post-Holocene.
  • Corpos, tempos, lugares das historiografias Dossiê

    Oliveira, Maria da Glória de; Hansen, Patrícia Santos

    Resumo em Português:

    Resumo As lutas por reconhecimento das identidades coletivas sempre produziram tensões no trabalho de historiadores, sinalizando as implicações éticas e políticas do pensamento histórico, o caráter situado das premissas epistemológicas das práticas acadêmicas e a condição social marcada nos sujeitos que fazem e escrevem história. Os artigos deste dossiê abordam, a partir de perspectivas diversas, as marcas de corporeidade implicadas na operação historiográfica, considerando a noção de corpo não apenas como condição da experiência e da escrita da história, mas como o traço mais tangível das diferenças e da situacionalidade temporal e espacial dos sujeitos epistêmicos e de suas possibilidades de negociação e pertencimento. O objetivo é a ampliação do debate numa abordagem cruzada e interseccional, de forma a contribuir para a problematização dos corpos, tempos e lugares da operação historiográfica e, mais amplamente, do campo disciplinar da história.

    Resumo em Inglês:

    Abstract Social fights for the acknowledgement of collective identities have always produced tensions in the work of historians, revealing the ethical and political dimensions of historical thought, the situated character of the epistemological principles and paradigms of the academic practices, and the marked social condition of the subjects who make and write history. The articles of this special issue address, from different standpoints, the marks of corporeality implicated in the historiographical operation, considering the body not only as a condition of the experience and writing of history, but as the most tangible trace of the positionality of the epistemic subjects and of their negotiation and belonging options. The aim is to broaden the debate in a cross and intersectional approach to contribute to the questioning of the bodies, times and places of the historiographical operation and, more broadly, of the disciplinary field of history.
  • A mobilização das carnes: história, desejo e política ao rés dos corpos Dossiê

    Albuquerque Júnior, Durval Muniz de

    Resumo em Português:

    Resumo Esse artigo aborda a centralidade das carnes, dos corpos e dos desejos na escrita da história. Como trazer os corpos e suas sensibilidades, emoções e comoções para o cerne da escrita da história é um gesto político da maior importância. Trata-se do historiador não almejar apenas dar conta das formas que conformaram e configuraram o passado, mas também de querer fazer de seu próprio corpo, de suas carnes, um instrumento de passagem dos afetos, forças e intensidades que ainda habitam os restos, os signos, os materiais que nos chegaram do outrora, medindo e avaliando através da capacidade de afetar que cada uma dessas presenças do passado ainda possuem, suas possibilidades de fazer efeito e de mobilizar as pessoas no tempo presente.

    Resumo em Inglês:

    Abstract This text addresses the centrality of flesh, bodies and desires in the writing of history. How to bring bodies and their sensibilities, emotions and emotions to the heart of writing history is a political gesture of the utmost importance. It is about the historian not only aiming to account for the forms that shaped and shaped the past, but also wanting to make his own body, his flesh, an instrument for the passage of affections, forces and intensities that still inhabit the remains, the signs, the materials that came to us from the past, measuring and evaluating through the ability to affect that each of these presences from the past still have, their possibilities of having an effect and mobilizing people in the present time.
  • Redimensionando: uma forma de “leitura crítica” aplicada à Historik de Jörn Dossiê

    Pereira, Ana Carolina Barbosa

    Resumo em Português:

    Resumo O objetivo deste artigo é redimensionar a Historik de Jörn Rüsen, a partir do acréscimo de uma dimensão meta-epistêmica às demais dimensões que estruturam o projeto deste historiador alemão. Essa proposta é apresentada como exercício de um sentido próprio de “leitura crítica”, construído em diálogo com teorias sobre a condição de subalternidade dos(as) intelectuais do sul global e, sobretudo, com as estratégias que oferecem para enfrentá-la. O fio condutor de tais reflexões são: a) as ideias de corpo, e incorporação como metáforas da alimentação e da antropofagia para pensar a incorporação de ideias, conceitos e teorias, mas também a rejeição delas como um ato de bulimia ideológica; b) a ideia de leitura crítica como dinâmica de influxo/refluxo de ideias que, como resultado final, são tanto reconhecidas quanto redimensionadas. Esse redimensionamento, em conclusão, é apresentado como proposta de acréscimo de uma dimensão meta-epistêmica como instância que antecede as dimensões da pragmática, da científica, da tópica e da didática.

    Resumo em Inglês:

    Abstract The aim of this article is to resize Jörn Rüsen’s Historik, starting from the addition of a meta-epistemic dimension to the other dimensions that structure the project of this German historian. This proposal is presented as an exercise of a proper sense of “critical reading”, built in a dialog with theories about the condition of subalternity of intellectuals from the global south and, above all, with the strategies that they offer to face it. The main thread of such reflections are: a) the ideas of body, and incorporation as metaphors of feeding and anthropophagy to think about the incorporation of ideas, concepts and theories, but also the rejection of them as an act of ideological bulimia; b) the idea of critical reading as a dynamic of influx/reflux of ideas that, as a final result, are both recognized and resized. This resizing, in conclusion, is presented as a proposal to add a meta-epistemic dimension as an instance that precedes the pragmatic, scientific, topical and didactic dimensions.
  • Sem nomes e sem histórias, mas amados: a escrita da história da escravidão em Perder a mãe, de Saidiya Hartman Dossiê

    Sousa, Fernanda Silva e

    Resumo em Português:

    Resumo O artigo se propõe a pensar Perder a mãe: uma jornada pela rota atlântica da escravidão, de Saidiya Hartman, em diálogo com os seus ensaios “Tempo da escravidão” e “Vênus em dois atos”, como uma escrita da história da escravidão que concebe os escravizados como seus ancestrais à medida que a autora se afirma como uma descendente de escravizados que vive a sobrevida da escravidão. Situando-a na nova história social da escravidão e no debate em torno do caráter narrativo e ficcional da história, argumentamos como Hartman, apoiada em uma tradição radical negra, elabora uma escrita da história que tenta dar conta dos milhões de mortos sem nomes e sem histórias ao longo do tráfico de escravos. Nesse processo, não apenas o esquecimento, mas também a impossibilidade de lembrar diante da escassez de fontes documentais ou de contornar a violência do arquivo se impõem como desafios ao trabalho de luto dessas vidas perdidas, levando-a à criação do método da fabulação crítica, que dialoga com o pensamento de Toni Morrison ao escrever o romance Amada. Ao fim, conclui-se que a escrita da história da escravidão deve ser acompanhada por um gesto ético de cuidado com os mortos, buscando não a redenção, mas a narração dessas vidas perdidas.

    Resumo em Inglês:

    Abstract The article aims to think of Lose Your Mother: A Journey Along the Atlantic Slave Route, by Saidiya Hartman, in dialogue with “Time of Slavery” and “Venus in Two Acts” as a writing of the history of slavery that considers slaves as her ancestors inasmuch as she claims to be a descendant of slaves who lives the afterlife of slavery. Situating her work in the new social history of slavery and in the debate about the narrative and fictional character of history, we argue that Hartman, based on a black radical tradition, elaborates a historical writing that tries to account for the millions of dead people who have no names and no stories throughout the slave trade years. In this sense, not only forgetfulness but also the impossibility to remember in face of the scarcity of documentary sources, or to avoid the violence of the archive challenges the work of mourning these lost lives, leading her to create the method of critical fabulation, which dialogues with the thoughts of Toni Morrison on the novel Beloved. In the end, this text concludes that the writing of the history of slavery must be accompanied by an ethical gesture of care for the dead, seeking not redemption, but the narration of these lost lives.
  • Lima Barreto e a política dos sentidos em Numa e a Ninfa: um estudo da expressividade do corpo Dossiê

    Costa, Thiago Venícius de Sousa

    Resumo em Português:

    Resumo Este artigo discute como Lima Barreto construiu uma política dos sentidos, isto é, de que forma refletiu sobre o tema do corpo no espaço no romance Numa e a Ninfa, embora outros manuscritos do autor sejam mobilizados para a articulação do tema. Os relatos que o carioca produziu acerca do espaço parlamentar permitem entender como a corporeidade de uma época - o Rio de Janeiro da Primeira República - ganha visibilidades e dizibilidades em sua fortuna. Desse modo, este artigo pontua que a crítica política barretiana, geralmente situada pelos pesquisadores de sua obra na discussão sobre ética e no empenho dos edis com a coisa pública, permite refletir sobre o teatro de emoções e gestualidades dos governantes. O olhar e a expressividade oral dos congressistas são avaliados neste artigo como forma de conferir o funcionamento dessa política dos sentidos, intencionada nas narrativas de Barreto a respeito dos corpos de homens e mulheres no e pelo espaço. Como resultado, avaliou-se que o estudo da expressividade desenvolvido por Barreto, além de ser uma maneira de ver o mundo, traduz percepções de que o corpo é um produto da cultura modulável pelo espaço.

    Resumo em Inglês:

    Abstract This article discusses how Lima Barreto constructed a politics of the senses, that is, how he reflected on the theme of the body in space in the novel Numa e a Ninfa, although other manuscripts by the author are mobilized for the articulation of the theme. The reports produced by the man from Rio de Janeiro about the parliamentary space allow us to understand how the corporeity of an era - the Rio de Janeiro of the First Republic - gains visibility and sayability in its fortune. Thus, this article points out that Barret’s political criticism, generally located by researchers of his work in the discussion of ethics and the commitment of the aediles with public affairs, allows reflection on the theater of emotions and gestures of the rulers. The gaze and oral expressiveness of the congressmen are evaluated in this article as a way of checking the functioning of the politics of the senses, intended in Barreto’s narratives to deal with the bodies of men and women in and through space. As a result, it was evaluated that the study of expressiveness developed by Barreto, in addition to being a way of seeing the world, translates perceptions that the body is a product of culture that can be modulated by space.
  • Raça, corporeidade e subjetividade em Beatriz Nascimento e Eduardo de Oliveira e Oliveira Dossiê

    Trapp, Rafael Petry

    Resumo em Português:

    Resumo O artigo analisa as proposições epistemológicas sobre raça, corporeidade e subjetividade nos trabalhos teóricos da historiadora Beatriz Nascimento e do sociólogo Eduardo de Oliveira e Oliveira em seus campos disciplinares, entre os anos 1970 e 1990. O trabalho objetiva, dessa forma, a abertura de caminhos empíricos na genealogia do pensamento social e da história da historiografia à dimensão racial na produção do conhecimento em História e Ciências Sociais no Brasil. Em face da historicidade do debate acerca de marcadores sociais de identidade e lugares de fala, o texto considera que os dois autores estabeleceram os fundamentos de um projeto teórico para o estudo da experiência negra brasileira perpassado por problematizações acerca das injunções políticas entre a produção dos discursos sociológico e historiográfico e a identidade racial da figura social do pesquisador. Conclui-se que este projeto instaurou a emancipação epistemológica como princípio político para a elaboração de concepções alternativas de objetividade científica a partir de atravessamentos étnico-raciais.

    Resumo em Inglês:

    Abstract The article analyzes the epistemological propositions on race, corporality and subjectivity in the theoretical works of historian Beatriz Nascimento and sociologist Eduardo de Oliveira e Oliveira in their disciplinary fields, between 1970 and 1990s. The article aims, therefore, to open empirical paths in the genealogy of social thought and history of historiography to the racial dimension of the production of knowledge in History and Social Sciences in Brazil. Considering the historicity of the debate about social markers of identity and places of speech, the text considers that the two authors established the foundations of a theoretical project for the study of the Brazilian Black experience fraught with problematizations about the political injunctions between the production of sociological and historiographical discourses and the racial identity of the researcher’s social figure. In conclusion, this project established epistemological emancipation as a political principle for the elaboration of alternative conceptions of scientific objectivity based on ethnic and race intersections.
  • Seguimos numa busca incessante por um lugar na história: Amuamas, Juliana Notari e ecofeminismo Dossiê

    Oliveira, Cláudia de; Guerra, Paula

    Resumo em Português:

    Resumo O artigo propõe uma reflexão sobre a videoperformance Amuamas, feita pela artista brasileira Juliana Notari na Amazônia brasileira em 2018. Partimos das premissas epistemológicas do ecofeminismo, que pensa o corpo feminino como índice de uma associação mais ampla entre o feminino e a natureza e entre a Mãe Terra e a Mata Virgem. Essa prática investigativa opõe-se à noção masculina e patriarcal de cultura que, ao se propor hegemônica e universal, milenarmente posiciona a Mulher e a Natureza como matéria de exploração. Fazemos um breve panorama da emergência da história da arte feminista, campo no qual se inserem artista e obra e que denuncia a narrativa tradicional da história, especialmente a história da arte, que exclui os oprimidos pelo capitalismo. Em seguida, analisamos a obra num esforço de reflexão que a coloca como uma denúncia das relações de opressão baseadas na colonialidade heterossexual do poder e na ocultação de histórias de violência contra os Outros, neste caso, contra o Outro feminino e o Outro natureza. Rematamos, reiterando que as Amuamas representam o encontro da artista com a floresta, mas não só, já que a floresta representa todas as mulheres e todos os Outros, mortos ou oprimidos pela colonialidade/modernidade, pelo homem, branco, europeu, cristão.

    Resumo em Inglês:

    Abstract The article proposes a reflection on the videoperformance Amuamas, performed by the Brazilian artist Juliana Notari in the Brazilian Amazon in 2018. We start from the epistemological premises of ecofeminism, which take the female body as an index of an association between the feminine and nature and between Mother Earth and the primary forest. This investigative practice opposes the masculine and patriarchal notion of culture, which, by proposing itself as hegemonic and universal, has for millennia positioned Woman and Nature as matters of exploitation. We outline a brief overview of the emergence of feminist art history, a field in which artist and work are inserted, denouncing the traditional narrative of history and especially of art history, which excludes those oppressed by capitalism. Next, we move on to the analysis of the work in an effort of reflection that places it as a denunciation of oppressive relations based on an idea of heterosexual coloniality of power and on the concealment of histories of violence against the Others, that is, against the female Other and the Other Nature. We conclude by reiterating that the Amuamas represent the artist’s encounter with the forest, but not only, since the forest represents all the women and all the Others, killed or oppressed by coloniality/modernity, by the white, European and Christian man.
  • Tempo e História na aesthesis decolonial fílmica Mbyá-Guarani Dossiê

    Wittmann, Luisa Tombini

    Resumo em Português:

    Resumo Este artigo analisa parte da produção do Coletivo Mbyá-Guarani de Cinema a partir das noções de tempo e de história expressas em seus filmes (e filmagens) que, por um lado, denunciam um passado violento que se mantém no presente e, por outro, fortalecem suas lutas pelo território, pelo Bem Viver (nhanderekó). O foco da análise documental são os primeiros filmes do Coletivo - Mokoi Tekoá, Petei Jeguatá: Duas aldeias, uma caminhada (2008) e Bicicletas de Nhanderú (2011) -, quando o grupo constrói um fazer fílmico coletivo impulsionado pelos desafios da colonialidade. Para melhor compreender esta linguagem, fazemos uso do conceito de aesthesis decolonial, demonstrando que essa narrativa guarani não apenas combate o discurso eurocentrado, mas cria uma forma singular de filmar e de contar sua história ancorada nas relações entre oralidade, território e ancestralidade.

    Resumo em Inglês:

    Abstract This article analyzes films of the Coletivo Mbyá-Guarani de Cinema through the notions of time and history. The films denounce a violent past that remains in the present and strengthen their struggles for the territory and Bem Viver (nhanderekó). The focus of the analysis are the first films - Mokoi Tekoá, Petei Jeguatá (2008) and Bicicletas de Nhanderú (2011) -, when the group builds a collective filmmaking driven by the challenges of coloniality. To better understand this language, we make use of the concept of decolonial aesthesis, demonstrating that this indigenous narrative does not only combat Eurocentric discourse, but creates a singular storytelling anchored in the relations between orality, territory and ancestry.
  • Mundo ao Revés: Silvia Rivera Cusicanqui e a criação de uma episteme visual para a América Andina Dossiê

    Dalfré, Liz Andréa

    Resumo em Português:

    Resumo Este artigo analisa como a socióloga aimará Silvia Rivera Cusicanqui identifica nas imagens presentes na obra Primer nueva corónica y buen gobierno, de 1615, do cronista Felipe Guamán Poma de Ayala, a construção de uma episteme visual para a América Andina. A socióloga boliviana ressignifica as imagens presentes nesse livro, evidenciando seu potencial teórico para a elaboração de conceitos e chaves de leitura que podem ser utilizados para a compreensão da história andina colonial e contemporânea. Em termos teóricos e metodológicos, são importantes para este artigo as reflexões críticas propostas por autores identificados às perspectivas pós-coloniais e decoloniais, além de estudos que se voltam para epistemologias não canônicas, compreendendo-as como saberes fundamentais para um posicionamento crítico e descolonizador, como os trabalhos de Linda Smith e Boaventura de Sousa Santos. Por fim, essa reflexão demonstra a posição de Silvia Rivera Cusicanqui em torno de uma proposta de descolonização epistêmica, ao transformar Guamán Poma de Ayala em sujeito do conhecimento e ao demonstrar que a experiência da visualidade é também importante na formulação epistemológica da história.

    Resumo em Inglês:

    Abstract The purpose of this article is to analyze how the Aymara sociologist Silvia Rivera Cusicanqui identifies in the images present in the work Primer nueva corónica y buen gobierno, from 1615, by the chronicler Felipe Guamán Poma de Ayala, the construction of a visual episteme for Andean America. The Bolivian sociologist resignifies the images, highlighting their theoretical potential for the development of concepts and reading keys that can be used to understand colonial and contemporary Andean history. The books published by the author between 2010 and 2018 will be used as sources. In theoretical and methodological terms, it will be important to understand the critical reflections proposed by authors identified with post-colonial and decolonial perspectives, in addition to studies that turn to non-canonical epistemologies comprising as fundamental knowledge for a critical and decolonizing positioning, such as the works of Linda Smith and Boaventura de Sousa Santos. Finally, this reflection demonstrates Silvia Rivera Cusicanqui’s position around an epistemic decolonization proposal, by transforming Guamán Poma de Ayala into a subject of knowledge and by demonstrating that the experience of visuality is also important in the epistemological formulation of history.
  • Mensagem, Présence Africaine, Black Orpheus: African epistemes, international networks, and the renovation of the literary environment (1960s) Special Issue

    Alfieri, Noemi

    Resumo em Inglês:

    Abstract This article dwells on reviews such as Mensagem (Lisbon), Présence Africaine (Dakar and Paris) and Black Orpheus (Ibadan) and on the transcontinental connections and international networks they established. While literature often tends to be considered, by the European tradition, as an individual practice, this contribution will focus on the collective editorial works that generations of young African intellectuals, strongly committed to the anticolonial movements and/ or to Pan-African ideals, built through transnational connections in the 1960’s. The circulation of texts, authors, and translations between those reviews was deeply connected to a conception of art committed to the dislocation of the idea of center. Those projects addressed oral tradition, visual arts and claimed the dignity of these forms of knowledge. Despite often using the “Metropoles” as intellectual hubs, African epistemes, and their diffusion in and outside Africa, were central to the reflections of the above-mentioned editorial projects.
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