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Circulação da informação e representações sociais: a crítica cultural em relação ao debate da diversidade

Circulation of information and social representations: cultural criticism in relation to the diversity debate

Resumo

O artigo examina questões relacionadas à representação de grupos não-hegemônicos no contexto das discussões acerca da diversidade, tendo como foco condutor a crítica cultural de produções da cultura pop, particularmente aquela divulgada pela internet. Foi empregada pesquisa bibliográfica e documental. O artigo aborda inicialmente o contexto contemporâneo das “guerras culturais”, conectando-o à discussão acerca das dinâmicas de construção de representações sociais, particularmente a de grupos subalternos. Observa-se que o conjunto de informações que circula na sociedade reporta-se e depende dos sistemas de conhecimento - ou seja, dos esquemas socioculturais de interpretação que lhes atribui status e valor. Defende-se que um lócus tradicional de produção desses esquemas de interpretação é o espaço da “crítica”, considerado como instituição cultural da Modernidade. Após um breve histórico acerca de sua institucionalização, o sistema da crítica é correlacionado a um sistema de produção e circulação de informações sobre bens culturais. A crítica de algumas produções derivadas das histórias em quadrinhos, e as discussões que proporciona, foi escolhida como fio condutor para refletir sobre a maneira pela qual estes esquemas socioculturais de interpretação se constituem contemporaneamente. Nessa perspectiva, discute-se a forma pela qual o contexto tecnológico incide sobre este processo e na maneira pela qual a diversidade na cultura pop é percebida. Aspectos da diversidade de gênero em algumas narrativas são abordados para referenciar a discussão. O artigo é concluído com algumas reflexões sobre o processo, destacando potencial educativo da crítica e o papel dos críticos como mediadores culturais.

Palavras-chave:
circulação da informação; crítica cultural; cultura pop; representações sociais; mediação

Abstract

This paper examines issues related to the representation of non-hegemonic groups in the context of discussions about diversity, focusing on cultural criticism of pop culture products, particularly those disclosed on the internet. Bibliographical and documentary research was used. The article initially addresses the contemporary context of "cultural wars", connecting it to the discussion about the dynamics of the construction of social representations, mainly regarding subaltern groups. It is observed that the set of information circulating in society is reported and depends on knowledge systems - that is, on socio-cultural schemes of interpretation that give them status and value. It is argued that a traditional locus of production of these interpretation schemes is the space of "criticism", considered as a cultural institution of Modernity. After a brief history of its institutionalization, the system of criticism is correlated to a system of production and circulation of information about cultural products. The reviews about comics, and the discussions they provide, were chosen as a guiding thread to reflect on how these socio-cultural schemes of interpretation are constituted contemporaneously. From this perspective, we discuss the way in which the technological context focuses on this process and how diversity in pop culture is perceived. Aspects of gender diversity in some narratives are addressed to reference the discussion. The article concludes with some reflections on the process, highlighting the educational potential of criticism and the role of critics as cultural mediators.

Keywords:
circulation of information; cultural criticism; pop culture; social representations; mediation

1 Introdução

O século XXI tem se caracterizado, entre outras coisas, pelo fenômeno das “guerras culturais” - um desdobramento intensivo de controvérsias culturais que transbordam para os territórios da moralidade e da política. O fenômeno em si não é novo, mas ganha cada vez mais destaque por conta das facilidades de difusão e reverberação das discussões por conta da internet e das redes sociais, em particular. Outra característica do fenômeno envolve uma aparentemente contraditória confluência das pautas de agendas conservadoras em sentido moral e as políticas neoliberais. Nesse sentido, ocorre uma disputa no âmbito das mídias sociais no sentido de moldar o ambiente e os termos do debate, instrumentalizando politicamente - ainda que de forma inconsciente - as preocupações dos conservadores por meio da produção de um “pânico moral” (Miguel, 2018MIGUEL, Luis Felipe. O pensamento e a imaginação no banco dos réus: ameaças à liberdade de expressão em contexto de golpe e guerras culturais. Políticas Culturais em Revista. Salvador, v. 11, n. 1, p. 37-59, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.9771/pcr.v11i1.26804 . Acesso em: 26 abr. 2024.
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).

O corolário desse diagnóstico repousa no fato de que a dominação de determinados setores, grupos ou classes sociais não é sustentando exclusivamente, pelo poderio econômico ou político, incluindo-se aí o monopólio da violência por parte do Estado. Como recorda Raymond Williams (2015WILLIAMS, R. A Cultura é algo comum. In: Recursos da Esperança: cultura, democracia, socialismo. São Paulo: Ed. Unesp, 2015, p. 3-28.), tal dominação se apoia fortemente na “cultura do vivido”, o conjunto de hábitos, experiências, modos de ver. Essa cultura é produzida permanentemente no decorrer da vida das pessoas, desde a mais tenra infância até a velhice. Trata-se de um processo de introjeção da ordem social, com foco nas representações sociais (Becker, 2009BECKER, Howard. Falando da sociedade: ensaios sobre as diferentes maneiras de representar o social. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.; Hall, 2016HALL, Stuart Cultura e Representação. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, 2016.) que dão substrato ao que as pessoas pensam e sentem, mesmo que não sejam conscientemente percebidas. Representações sociais são plurais, são modos de narrar histórias ou posicionamentos acerca da sociedade, implicam em modelos de conduta ou fontes de argumentação e ação, e as disputas em torno de sua representatividade e/ou legitimidade simbólica. Desse modo, essas representações são produtos e ao mesmo tempo alimentam as disputas entre grupos sociais distintos e até no interior de um mesmo grupo social.

A construção dessa compreensão “legítima” do mundo é um processo que envolve pressões, disputas, tomadas de posição - um conjunto de lutas culturais, que se desenrolaram e ainda o fazem, em arenas diversas: das escolas aos meios de comunicação, dos púlpitos religiosos às assembleias sindicais, dos fóruns políticos às organizações da sociedade civil. Mais recentemente, as facilidades proporcionadas pelas tecnologias digitais e pelas redes sociotécnicas incentivaram a produção e a circulação de conteúdos diversificados, que apesar de todos os filtros tecnológicos e ideológicos, configuram a internet como a arena e o objeto de disputa mais visível da guerra cultural contemporânea.

No caso da sociedade brasileira, as representações sociais acerca dos grupos subalternos foram quantitativamente desiguais e majoritariamente carregadas dos estereótipos inferiorizadores construídos pelas classes dominantes para legitimar ideologicamente sua hegemonia. A proposta das breves e panorâmicas reflexões, aqui reunidas, parte de um território específico de narrativas - as produções na cultura pop, especialmente histórias em quadrinhos, bem como os filmes e outros produtos derivados, como, por exemplo, sites, blogs e postagens na internet - para procurar mostrar que esse território de representações passa por mudanças, apresentando uma maior presença de artistas e personagens mulheres, negras, indígenas, GLBTQIAP+, mostrando facetas mais complexas e conflitivas de seu cotidiano e de suas lutas, sintonizando-se às perspectivas diaspóricas e pós-coloniais. Esta maior presença, nos termos de um pensamento que considera a disputa pela hegemonia cultural, se traduz por um acirramento da disputa simbólica no âmbito das mídias. Cultura pop pode parecer um termo “guarda-chuva” um tanto genérico demais, mas o adotaremos aqui em função da dificuldade de demarcar claramente, no âmbito da atual produção cultural, fronteiras nítidas entre mídias e linguagens. Nesse sentido, estamos considerando os elementos de convergência, colaboratividade e transmidiatização, apontadas por autores como Jenkins (2009JENKINS, Heny. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2009.) e Scolari(2008SCOLARI, Carlos Alberto. Hipermediaciones: Elementos para una Teoría de la Comunicación Digital Interactiva. Barcelona: Gedisa, 2008.), que caracterizam a cultura contemporânea.

Esse fenômeno pode ser facilmente observado no âmbito da produção cultural e seu entorno: discussões acaloradas em redes sociais sobre produções que trazem representações de diversidade costumam provocar reações entre grupos de pessoas que sequer consomem essas produções, como o ocorrido em outubro de 2021 em dois episódios distintos. O primeiro episódio diz respeito à reação do jogador de vôlei Maurício Souza, que postou um discurso homofóbico em suas redes sociais ao se referir a uma história em quadrinhos em que o filho do Superman, Jon Kent, se assume bissexual, o que acarretou sua demissão do time de vôlei do Minas Tênis Clube (Carvalho, 2021CARVALHO, Igor. Criticado, demitido e expulso: o que aconteceu na vida de Maurício Souza após homofobia. Brasil de Fato, São Paulo, 27 out. 2021.). O segundo episódio, mais ilustrativo sobre os espaços de legitimação cultural, diz respeito às críticas ao filme Eternos (2021), derivado dos quadrinhos homônimos e avaliado negativamente pela maior parte das pessoas no site especializado em cinema Rotten Tomatoes1 1 Críticas ao filme Eternos no site Rotten Tomatoes: 61% das 111 pessoas que avaliaram até o dia 29/10/21 consideraram o filme ruim (Rotten Tomatoes, 2021). , um dos mais importantes termômetros de avaliação cinematográfica do mundo, mesmo antes de seu lançamento oficial. Independentemente do julgamento valorativo que possa existir em relação ao filme, se trata da produção com maior representação de diversidade de gênero e identidades do universo cinematográfico da Marvel (MCU), apresentando personagens LGBTQIAP+ e PCD. Ambos os casos evidenciam como a participação dos atores sociais nas mais diversas redes online resultam em ações concretas no mundo offline, seja por meio da discussão sobre diversidade que toma os mais variados espaços ou por meio de ações como a decisão de não assistir a um filme devido às críticas ou ainda pela demissão de um jogador devido a comentários homofóbicos sobre personagens fictícios.

Para refletir um pouco melhor sobre a maneira pela qual a diversidade na cultura pop vem sendo recebida pela crítica e por parcelas de seu público, discutiremos a seguir a maneira pela qual o contexto tecnológico incide sobre este processo. Na sequência, abordaremos aspectos da diversidade de gênero em algumas narrativas, concluindo com algumas reflexões sobre o processo e sobre nossa posição acerca do papel da crítica.

2 Tecnologia, política e a produção da crítica cultural

Canclini acredita que, apesar da promessa de horizontalidade e participação que as redes sociais oferecem, elas só geram movimentos de alta intensidade e curta duração (2019), ou seja, as discussões em torno de temas como a representação da diversidade nas produções culturais podem até tomar grandes proporções rapidamente, mas são substituídas por novas polêmicas na mesma velocidade. Para o autor, isso se deve ao uso de certas alas da sociedade fazem das tecnologias:

Nossas opiniões e comportamentos, capturados por algoritmos, acabam subordinados a corporações globalizadas. O espaço público se torna opaco e distante. A descidadania se radicaliza, enquanto alguns setores se reinventam e ganham batalhas parciais: pelos direitos humanos, pela equidade de gênero, contra a destruição ecológica etc. Mas os usos neoliberais das tecnologias mantêm e aprofundam as desigualdades crônicas do capitalismo (Canclini, 2019CANCLINI, Néstor García. Ciudadanos reemplazados por algoritmos. Guadalajara: Universidad de Guadalajara/CALAS, 2019. , p.11).

Para Almeida (2014ALMEIDA, Marco Antonio. Mediação e mediadores nos fluxos tecnoculturais contemporâneos. Informação & Informação, Londrina, v. 19, n. 2, p. 191-214, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.5433/1981-8920.2014v19n2p191 . Acesso em: 26 abr. 2024.
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), as desigualdades apontadas por Canclini advém de uma falsa ideia de neutralidade das tecnologias: “[...] não há rede sem escolha, sem organização, sem hierarquia, já que os conhecimentos não existem fora de um contexto social, nem se reorganizam de maneira aleatória” (Almeida, 2014ALMEIDA, Marco Antonio. Mediação e mediadores nos fluxos tecnoculturais contemporâneos. Informação & Informação, Londrina, v. 19, n. 2, p. 191-214, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.5433/1981-8920.2014v19n2p191 . Acesso em: 26 abr. 2024.
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, p. 195). Assim, as competências comunicativas, culturais, educacionais e cognitivas seriam fundamentais para que os indivíduos possam contextualizar a informação que recebem e a utilizem de maneira coerente.

Ainda que essa tendência apontada por Canclini e Almeida se deva a vários fatores, Donnat (2011DONNAT, Olivier. Democratização da cultura: fim e continuação? Revista Observatório Itaú Cultural, São Paulo, n. 12, p. 19-34, 2011.) destaca que o sentido de cultura tem se ampliado e que os recursos de acesso a ela têm transformado nossa relação com a arte e com seu consumo, por isso, ele acredita que uma educação cultural que considere as tecnologias atuais como significativas para a aquisição de sentido deveria ser prioridade nos processos pedagógicos.

Para além do que se pode observar sobre a construção e representação de identidades na cultura pop em um contexto capitalista e da importância dos produtos culturais para a articulação de sentidos, há aspectos relacionados à forma como a informação sobre esses produtos é difundida que parece determinar significativamente não só a relação que o público consumidor tem com obras que suscitem debates sobre gênero, como também a forma como ele interpreta as informações que recebe acerca das obras, afetando então a distribuição e alcance delas a partir da expressão de críticos e veículos especializados que se apropriam de certos espaços como agentes culturais legitimadores. Isso porque:

As tecnologias de informação e comunicação, ao apontarem novas formas de produção, circulação e recepção de produtos simbólicos, contribuíram, juntamente com a discussão estética relacionada à pós-modernidade, para tornar a atual cena cultural cada vez mais complexa. Múltiplas camadas de informação se agregam aos produtos culturais, sinalizando a constituição de um novo tipo de “conhecimento” necessário para a crítica e compreensão das obras (Almeida, 2009ALMEIDA, Marco Antonio. Informação, tecnologia e mediações culturais. Revista Perspectivas em Ciência da informação, Belo Horizonte, v.14, n. esp., p. 184-200, 2009. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-99362009000400013 . Acesso em: 26 abr. 2024.
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, p. 184).

Entretanto, vale observar que o conjunto de informações que circula reporta-se e depende dos sistemas de conhecimento - ou seja, dos esquemas socioculturais de interpretação que lhes atribui status e valor. Estes sistemas são quadros de interpretação simbólica que permitem separar as informações consideradas relevantes do turbilhão caótico do fluxo informacional em permanente expansão. A maneira pela qual esses quadros simbólicos de interpretação são construídos, legitimados e compartilhados é que se torna alvo de disputas, e, nesse processo, o sistema da crítica cumpre papel estratégico.

Por “crítica” estamos considerando a instituição cultural da Modernidade correlacionada a um sistema de produção e circulação de informações sobre bens culturais, cuja origem situa-se historicamente entre os séculos XVIII e XIX. Anteriormente até existiam críticos, mas não existia a crítica enquanto tal, considerada como atividade relacionada com uma camada profissional treinada para produzir opiniões autorizadas sobre livros, exposições e representações dramáticas/musicais (Almeida, 2009ALMEIDA, Marco Antonio. Informação, tecnologia e mediações culturais. Revista Perspectivas em Ciência da informação, Belo Horizonte, v.14, n. esp., p. 184-200, 2009. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-99362009000400013 . Acesso em: 26 abr. 2024.
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). O sistema da crítica irá estruturar-se, entre outros princípios, sobre a perspectiva de da necessidade de uma seleção e de uma eleição de obras, guiando, assim, o público frente a uma produção cada vez mais ampla e diversa, a partir de um conjunto diverso de valores. Sempre é bom lembrar que esses valores são, em geral, legitimados pela própria construção de “autoridade” da crítica, segundo o mecanismo que rege a dinâmica da hierarquia dentro dos campos culturais na ótica de Pierre Bourdieu (1989BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.; 2017). O crítico surge, portanto, como guia, como um mediador profissional, e sua primeira forma de articulação institucional foi o jornalismo impresso, posteriormente migrando para outros meios de comunicação.

Já as análises de Donnat sobre os processos de democratização da cultura na França demonstraram que uma política pública que tenha como objetivo a ampliação do acesso a bens culturais por parte do público passa, necessariamente, pela compreensão sobre esse público, sem ignorar que as condições de acesso à arte e à cultura são indissociáveis das tecnologias atuais. O público, por sua vez, não é um bloco uníssono que receberia todas as produções da mesma maneira:

Já não é hora de tirar as lições da constatação, confirmada a cada pesquisa, de que os cidadãos não são todos iguais perante a arte e de que a política cultural, observado o perfil sociodemográfico dos públicos que dela mais se beneficiam, constitui uma redistribuição ao avesso? Assim sendo, por que não admitir que a diversificação dos públicos da cultura passa necessariamente por ações cuidadosamente dirigidas e plenamente assumidas como tais, já que todos sabem que tentar “converter” as pessoas menos inclinadas à arte exige mais tempo, energia e poder de convicção, e supõe, consequentemente, mais recursos? (Donnat, 2011DONNAT, Olivier. Democratização da cultura: fim e continuação? Revista Observatório Itaú Cultural, São Paulo, n. 12, p. 19-34, 2011., p. 23).

Isso significa dizer que as ações de formação de público, sejam elas públicas ou privadas, precisariam considerar o que Donnat chama de “desejo de cultura”, que, ao contrário do que propõe o mito da “revelação”, que indica que o prazer experimentado no contato com as obras seria algo universal e espontâneo, seria na verdade um legado familiar que remete às condições de socialização das pessoas envolvidas em seu ambiente social imediato (Donnat, 2011, p. 24). Por isso, o autor postula que uma das formas de transformar as condições da produção desse desejo seria por meio de uma educação artística e cultural dentro do sistema escolar.

Essa perspectiva sobre o desenvolvimento do gosto corrobora o que outro autor francês concluiu acerca de como nossas percepções são constituídas ao longo da vida. Bourdieu (1989BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.; 2017BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. Porto Alegre: Zouk, 2017.) aponta que há uma cultura dominante que se dá por meio da legitimação de distinções que visam separar os indivíduos de acordo com o sistema de valores estabelecido pelos grupos dominantes que buscam se definir pela distância que mantém dos demais grupos e essas distinções se desenvolvem em ambientes como a família e a escola, ou seja, o gosto não é uma característica inata que levaria todos os indivíduos a reagirem da mesma forma às mesmas produções:

A disposição estética - que tende a deixar de lado a natureza e a função do objeto representado, além de excluir qualquer reação “ingênua”, ou seja, horror diante do horrível, desejo diante do desejável, reverência piedosa diante do sagrado, assim como todas as respostas puramente éticas para levar em consideração apenas o modo de representação, o estilo, percebido e apreciado pela comparação com outros estilos - é um dimensão da relação global com o mundo e com outros, de um estilo de vida, em que se exprimem, sob uma forma incognoscível, os efeitos de condições particulares de existência: condição de qualquer aprendizado da cultura legítima, seja ele implícito ou difuso como é, quase sempre, a aprendizagem familiar, ou explícito e específico tal como a aprendizagem escolar, estas condições de existência caracterizam-se pela suspensão e pelo sursis da necessidade econômica, assim pelo distanciamento objetivo e subjetivo em relação à urgência prática, fundamento do distanciamento objetivo e subjetivo em relação aos grupos submetidos a tais determinismos (Bourdieu, 2017BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. Porto Alegre: Zouk, 2017., p. 54).

No universo das histórias em quadrinhos, por exemplo, essas distinções podem ser observadas a partir de diversos elementos que constituem seu universo e a crítica especializada é um deles. Nesse sentido, retomando os episódios relacionados à representação da diversidade nas produções citadas anteriormente, é possível inferir que algumas medidas políticas e culturais poderiam modificar a recepção do público em geral em relação a essas produções além da educação artística e cultural já nos primeiros anos escolares que tenha como norteadora a necessidade de oferta de obras diversas quanto à gênero, orientação sexual, etnias e crenças.

Yúdice (2007YÚDICE, George. Economia da cultura no marco da proteção e promoção da diversidade cultural. Oficina Virtual de Economia da Cultura e Diversidade. In: Seminário Internacional da Diversidade Cultural, Ministério da Cultura do Brasil, Brasília, 2007.) também reflete sobre a economia da cultura como um fator significativo para a manutenção e proteção da diversidade cultural a partir da sugestão de uma série de medidas que poderiam ser usadas por instâncias governamentais no intuito de contemplar o Marco de Proteção e Promoção da Diversidade Cultural ratificado pelo Brasil em 2007. Assim como Bourdieu e Donnat, ele também reforça a ideia de que a criação de políticas públicas culturais passa, ou deveria passar, pela compreensão de como o gosto dos diferentes públicos é constituído:

O gosto determina a demanda, razão pela qual alguém que goste de música ou arte pode apreciar as obras das quais gosta muitas vezes sem esgotar o desejo. Contrariamente com os bens não culturais, que viram mais atrativos se o preço é reduzido, quase ninguém compraria um CD de um músico que não goste; nem levaria o CD de graça. A demanda cultural é acumulativa, ou dito de outra maneira, é um gosto que se cultiva, até o ponto que esse gosto pode definir a identidade cultural. Visto assim, pode-se dizer que o gosto é um capital cultural (Yúdice, 2007YÚDICE, George. Economia da cultura no marco da proteção e promoção da diversidade cultural. Oficina Virtual de Economia da Cultura e Diversidade. In: Seminário Internacional da Diversidade Cultural, Ministério da Cultura do Brasil, Brasília, 2007., p. 4).

No entanto, se no passado o desenvolvimento do gosto advinha principalmente das referências familiares e, em certa medida, das escolares e do meio em que o indivíduo estava inserido, desde o advento da internet essa relação tem se transformado. Por isso, as TIC são hoje indissociáveis de qualquer processo pedagógico e de aquisição de repertório, principalmente em um contexto pós-pandêmico onde escolas tiveram que se adaptar definitivamente aos modelos híbridos de educação, produtores de conteúdo digital representam fortes aliados das políticas educacionais ao oferecerem uma mediação2 2 Por mediações, nesse caso. estamos entendendo-as como “[...] as conexões que se estabelecem entre as ações sociais e as motivações (individuais/coletivas). São processos de interlocução ou de interação entre os membros de um grupo ou comunidade, que permitem o estabelecimento e a sustentação dos laços de sociabilidade, constituindo assim, numa perspectiva habermasiana, o mundo da vida (Almeida, 2014, p. 196). entre os conceitos relacionados à representação da diversidade na cultura pop e o público consumidor em seus canais.

Esses processos pedagógicos que tem as TIC como contraponto sintonizam-se à dinâmica contemporânea de construção coletiva do conhecimento e de organização da sociedade em redes. O relacionamento dos usuários com a informação muda de foco, e a miscigenação entre conteúdos institucionalizados e públicos soma-se às vozes dos especialistas e dos usuários comuns, aos sujeitos imersos em seu cotidiano. As práticas de colaboração, cooperação,e associação entre interlocutores da rede tem sido determinante para a circulação e legitimação de informações na rede.

Assim, o que se percebe é que, cada vez mais, a possibilidade de fruição e de crítica das obras culturais depende do acesso a uma série de informações relacionadas a elas. O que ocorre, diferentemente de épocas anteriores, é que as TIC configuram agora a possibilidade de criação de espaços menos hierárquicos de circulação dessas informações, podendo fazer de cada consumidor cultural um potencial crítico ou mediador da informação - para o bem ou para o mal, já que, como salientamos antes, estamos imersos em uma guerra cultural pela legitimidade de determinadas representações sociais.

Parte dessa mediação é produzida por pesquisadores de gênero e cultura pop que se dispõem a compartilhar conceitos relacionados à diversidade de maneira acessível, como é o caso de Christian Gonzatti em suas redes do canal Diversidade Nerd. Além de ter levantado questões acerca de como a crítica cultural se constitui, ou seja, apontando que ela é majoritariamente produzida por um mesmo tipo de pessoas integrantes de um extrato social posicionado por meio de uma série de marcadores, leia-se: homens brancos, cis e heterossexuais, Gonzatti oferece a seus seguidores dados extraídos de artigos acadêmicos para fundamentar suas falas e as transforma em vídeos curtos e postagens nas redes sociais (Fig. 1).

Em uma das postagens em sua conta no Instagram, Gonzatti propõe a seus seguidores que reflitam sobre os critérios de análise de obras que possuam representação de diversidade a partir do teste Vito Russo (Chris, 25 out. 2021CHRIS. Diversidade nerd. Brasil, 25 out. 2021. Instagram: @chrisgonzatti. ), que já havia sido proposto anteriormente pelo site produzido exclusivamente por mulheres Delirium Nerd (Minucelli, 2016MINUCELLI, Gabriela. [Cinema] Você conhece o “Teste Russo”? Delirium Nerd, [s.l.], 17 nov. 2016. Disponível em: https://deliriumnerd.com/2016/11/17/teste-vito-russo/ . Acesso em: 26 abr. 2024.
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). Esse teste sugere que para uma obra poder ser considerada positiva em relação à representação da diversidade de gênero e sexual ela deveria atender aos seguintes parâmetros: (1) Ter pelo menos um personagem claramente identificado como LGBT; (2) O personagem não pode ter como única característica sua identidade de gênero/orientação sexual; (3) O personagem deve ser essencial para a trama.

Figura 1 -
Comentário sobre a crítica do filme “Eternos”

Muito embora o teste tenha sido originalmente pensado para avaliar obras cinematográficas, ele pode ser aplicado a qualquer produção como já ocorre com o teste de Bechdel, nomeado em homenagem à quadrinista estadunidense e utilizado para avaliar a representação feminina nas narrativas. Nessa versão, os critérios são: (1) ter pelo menos duas personagens femininas que possuam nomes; (2) que conversem entre si; (3) sobre qualquer coisa que não seja um personagem masculino.

Esses parâmetros, ainda que possam ser aplicados por sites e canais que se dediquem à divulgação de produções mais diversas de cultura pop, não são suficientes para que tais canais tenham o mesmo alcance que canais que costumam se opor à essas produções. Os motivos, por mais variados que possam ser, também podem ser interpretados a partir de um viés político como apontado por Almeida e Canclini quando refletem sobre a acentuação da desigualdade social devido à falta de neutralidade das redes. Historicamente, políticas de cunho social têm sido associadas à esquerda no Brasil, enquanto políticas neoliberais costumam ser associadas à direita. Nos últimos anos essa identificação se ampliou, num processo de estigmatização das perspectivas sociais alinhado ao pensamento neoliberal:

No Brasil, o golpe acentuou tendências repressivas que nunca deixaram de estar presentes no nosso Estado, mas que, nos governos democráticos, eram enfrentadas por contratendências, que então se expressavam com mais firmeza. Ampliou-se a repressão a manifestações populares e a vigilância sobre movimentos sociais. E também a pressão sobre vozes dissidentes, na forma combinada de censura e de intimidação. No caldeirão de retrocessos, um tipo de criminalização da esquerda, que visa banir da esfera pública discursos anticapitalistas, caminha junto com o pânico moral que vê ameaçados valores basilares de nossa civilização “cristã e ocidental”, sobretudo pelos avanços na condição feminina, pela maior visibilidade da comunidade LGBT e pela aceitação de novos arranjos familiares (Miguel, 2018MIGUEL, Luis Felipe. O pensamento e a imaginação no banco dos réus: ameaças à liberdade de expressão em contexto de golpe e guerras culturais. Políticas Culturais em Revista. Salvador, v. 11, n. 1, p. 37-59, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.9771/pcr.v11i1.26804 . Acesso em: 26 abr. 2024.
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, p. 40).

Nesse sentido, os movimentos sociais que lutam por acesso a direitos básicos em todas as esferas políticas e culturais têm suas articulações digitais menos propagadas em relação às ações e polêmicas promovidas por agentes sociais ligados à uma política que, entre outras coisas, promove o apagamento sistêmico de grupos minoritários por meio da extinção de políticas públicas relacionadas a programas sociais (Playground, 26 out. 2021PLAYGROUND. Twitter descobriu que seu algoritmo impulsiona mais tweets de direita do que de esquerda e não sabe por quê. Brasil, 26 out. 2021. Instagram: @playground.br.), como o fim do pagamento de meia-entrada em eventos e espaços culturais (Coraccini, 2021CORACCINI, Raphael. Deputados aprovam o fim da meia-entrada em São Paulo. CNN BRASIL, São Paulo, 28 out. 2021.).

Destarte, se em grande medida nossos gostos são moldados por meio das disposições às quais estamos propensos devido à posição que ocupamos em determinado campo, e em decorrência do acúmulo de algum capital, seja ele econômico, social ou cultural, alterar esses disposições a fim de transformar nossa percepção acerca de determinadas obras dependeria então de um contexto que possibilitasse a articulação de conceitos, conhecimentos e informações que possam subverter alguns pensamentos consolidados sobre diversidade sexual e de gênero. Porém, se não são oferecidos os meios para que agentes sociais dispostos a articular os conhecimentos diversos possam agir, sejam eles professores ou influenciadores digitais, romper as barreiras que promovem desigualdades variadas se torna uma tarefa muito ingrata, como observado por uma das produtoras do site Delirium Nerd em um tuíte ao se referir a não ter sido convidada para a cabine de imprensa do filme Eternos: “A gente queria muito de ter assistido #Eternals na cabine para comentar aqui com vocês, mas infelizmente não rolou o convite. Estamos desde 2016 falando sobre representação feminina e cultura pop, sabe...” (Delirium Nerd, 29 out. 2021DELIRIUM NERD. Post: a gente queria muito de ter assistido #Eternals na cabine para comentar aqui com vocês [...]. Brasil, 29 out. 2021. X@delirium_nerd.).

Por isso, Canclini (2019CANCLINI, Néstor García. Ciudadanos reemplazados por algoritmos. Guadalajara: Universidad de Guadalajara/CALAS, 2019. ) propõe que esses atores sociais cujos discursos são contra-hegemônicos sejam capazes de “hackear” o sistema por meio de uma redistribuição do poder simbólico relacionado à posse de um conhecimento especializado. Nesse sentido, hackear um sistema significaria fazê-lo operar contra sua ordem inicial. Em um sistema hegemônico que privilegia algumas vozes em detrimento de outras, possibilitar que um determinado conteúdo seja compartilhado de forma mais igualitária e equânime seria uma maneira de hackeá-lo. No entanto, esse “hackeamento” só seria possível com uma política pública que atue na educação e na cultura de maneira que tais conteúdos sejam reconhecidos como válidos e atinjam o maior número de pessoas possível.

Parte das políticas que poderiam ser implementadas a fim de favorecer atores sociais ligados à produção de conteúdos que contemplem a diversidade passa pela compreensão de aspectos culturais relacionados à formação e fidelização do público. Quando Donnat (2011DONNAT, Olivier. Democratização da cultura: fim e continuação? Revista Observatório Itaú Cultural, São Paulo, n. 12, p. 19-34, 2011.) propõe a renúncia ao termo “democratização da cultura”, ele o faz a partir da observação do processo desenvolvido na França e que não teria alcançado os objetivos iniciais quanto ao acesso à cultura de maneira democrática. Isso porque tal processo desconsiderou que o desejo de cultura não é universal, ou seja, as pessoas não se interessaram de maneira igualitária por todos os eventos e produções oferecidas pelas políticas culturais públicas. Assim, estabelecer que fidelização, diversificação e ampliação dos públicos são ações distintas de democratização favoreceria a compreensão de que é equivocada a ideia de capacidade natural de atração das obras ou dos artistas, como se todas as pessoas estivessem prontas, dispostas a aderir a modelos que lhes são propostos (Donnat, 2011DONNAT, Olivier. Democratização da cultura: fim e continuação? Revista Observatório Itaú Cultural, São Paulo, n. 12, p. 19-34, 2011., p. 23). Portanto, viabilizar meios para que públicos diversos tenham acesso não só às produções que lhes sejam mais interessantes, considerando seu perfil, mas também a todo seu entorno, como à crítica especializada, debates com especialistas, mediação entre as obras e o público, possibilitaria uma formação mais ampla acerca dessas produções e promoveria aquisição e ressignificação de sentidos variados, uma vez que:

[...] os conteúdos da mídia e das indústrias culturais constituem hoje uma fonte essencial de informações, conhecimentos e modelos de referência que participam ativamente da representação da realidade: os livros, os filmes, mas também as canções de variedades, as séries de televisão, as emissões de telerrealidade, os blogs etc. alimentam o tempo inteiro uma espécie de supermercado mundializado dos bens simbólicos, onde os adolescentes buscam maneiras de ser e de parecer, mas também elementos de discurso que os ajudam a exprimir o que eles pensam, sentem ou sonham; numa palavra, a profusão de produtos culturais permitida pela diversificação da oferta e dos meios de difusão - dos canais abertos de televisão aos sites da internet mais “personalizados” - constitui uma fonte permanente de recursos identitários que os adolescentes usam de maneira privilegiada para indicar seu pertencimento a grupos de pares, reivindicando ao mesmo tempo seu estatuto de indivíduos singulares e vivendo como tais. Assim, a educação cultural cumpre um papel fundamental na formação da individualidade em uma sociedade da hiperescolha, pois possibilitaria conhecimento para que cada indivíduo dê sentido à sua experiência cultural a partir dos recursos que tem acesso (Donnat, 2011DONNAT, Olivier. Democratização da cultura: fim e continuação? Revista Observatório Itaú Cultural, São Paulo, n. 12, p. 19-34, 2011., p. 26).

Ainda de acordo com Donnat, um dos meios de oferecer ao público maior diversidade de atrações é por meio da especialização de funcionários responsáveis pelas ações de marketing de um determinado equipamento e ele questiona quantos são os estabelecimentos que possuem funcionários capacitados para tais ações. O autor ainda lembra que em relação à oferta e à demanda, os estabelecimentos deveriam ser capazes de criar uma abordagem de demanda que considerasse a intenção da ação cultural a ser desenvolvida, como por exemplo: o que se pretende com a ação? A ampliação de um público? Fidelização de um público atual? Diversificação de um novo público? Tais perguntas são importantes porque são elas que deveriam direcionar as ações de marketing a fim de atrair os indivíduos para determinado evento.

Um bom exemplo de como a demanda é criada no Brasil é a atuação do SESC - Serviço Social do Comércio - em diversas regiões do país. São os SESCs que promovem debates, bate-papos e outras atividades com atores sociais que produzem conteúdo digital acerca de filmes, jogos, literatura e aproximam o público de percepções e filtros que ampliam seus horizontes sobre os mais variados assuntos. Páginas e sites que promovem reflexões sobre questões de gênero na cultura pop como Garotas Geeks, Mina de HQ, Diversidade Nerd, Splash Pages, Preta Nerd Burning Hell, Delirium Nerd e tantos outros, se beneficiam das ações do SESC que além de divulgar suas atividades de forma digital e impressa, paga cachês que funcionam como incentivo para que esses canais possam seguir produzindo seus conteúdos. Em São Paulo, o CPF (Centro de Formação e Pesquisa) do SESC promove regularmente, cursos e debates sobre estas temáticas, envolvendo os produtores de conteúdo destas páginas e sites e figuras relevantes para essas discussões.

3 Comunicação, informação e diversidade de gênero nas narrativas

Almeida (2014ALMEIDA, Marco Antonio. Mediação e mediadores nos fluxos tecnoculturais contemporâneos. Informação & Informação, Londrina, v. 19, n. 2, p. 191-214, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.5433/1981-8920.2014v19n2p191 . Acesso em: 26 abr. 2024.
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) considera que a cultura tem adquirido maior centralidade no mundo contemporâneo e que cada vez mais ela tende a se organizar por meio de Unidades de Informação e Cultura (UICs), que seriam espaços desencadeadores e centralizadores de políticas culturais e da informação. Essa centralidade favoreceria a expressão de novas formas de políticas públicas, relações de mercado e reflexões acadêmicas.

Tais políticas foram observadas em cidades na Espanha e no Brasil que tinham como principal foco a oferta de cursos, profissionalização, mediação cultural, acesso à cultura por meio de diferentes suportes, desenvolvimento de projetos colaborativos, entre outras ações, todas promovidas por unidades culturais vinculadas ao Estado, tanto no Brasil como na Espanha. No entanto, apesar das distinções entre os dois países, as iniciativas também enfrentaram problemas quanto à captação de recursos (Almeida, 2014ALMEIDA, Marco Antonio. Mediação e mediadores nos fluxos tecnoculturais contemporâneos. Informação & Informação, Londrina, v. 19, n. 2, p. 191-214, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.5433/1981-8920.2014v19n2p191 . Acesso em: 26 abr. 2024.
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).

Durante a pandemia do covid-19, algumas ações governamentais em âmbitos federais, estaduais e municipais possibilitaram que produtores culturais não ficassem totalmente desamparados, como a Lei Aldir Blanc que viabilizou recursos para a realização de diversos editais que contemplaram todas as áreas de produção artística e cultural. Mesmo assim, como apontado anteriormente, tais políticas, ainda que possam favorecer produções diversas, não resolve o problema da produção de crítica cultural, que é um espaço de legitimação cultural do trabalho dos artistas e que devido à forma como as interações digitais se dão, acaba por definir quem pode falar sobre o quê e para quem, além de afetar significativamente o alcance das produções que são sujeitas a boicotes diante do tipo de crítica que é produzida.

Curiosamente, a repercussão causada pelas críticas ao filme Eternos (2021ETERNOS. Direção: Chloé Zhao. Produção: Kevin Feige. Intérpretes: Gemma Cahn et al. Los Angeles: Marvel, 2021. 1 DVD (156 min).) e à história em quadrinhos em que o filho do Superman se assume bissexual foi bem distinta entre as duas produções: enquanto a avaliação negativa do filme tem suscitado discussões sobre boicote, até porque, além da ida ao cinema não era exatamente muito segura em função da pandemia, os ingressos eram caros, a HQ do Superman teve suas vendas esgotadas e foi reimpressa. Para além dos fatores econômicos e contextuais, isso pode indicar duas coisas: que a discussão sobre diversidade de gênero tem maior alcance no meio dos quadrinhos e que há maior diversidade de críticos de quadrinhos conseguindo alcançar o público leitor.

Entre os sites e críticos que atuam na produção de conteúdo que visa informar seus leitores e seguidores acerca dessas produções de maneira mais atenta às questões de gênero, podemos citar os Jamesons (@sitejamesons no Twitter), voltado a analisar exclusivamente as produções da Marvel, Guilherme Smee e Christian Gonzatti, ambos homens gays e pesquisadores de histórias em quadrinhos que partem de suas produções acadêmicas para articular reflexões sobre personagens LGBTQIAP+ nas redes sociais:

Figura 2 -
Matéria do site da Rolling Stone/críticas negativas que o filme Eternos recebeu

Em busca pelo termo Eternos no site Jamesons, alguns retornos são exclusivamente sobre a repercussão do filme. O editor Marcos Heck, responsável pelas redes sociais do site atuou ativamente no Twitter e Facebook na época do lançamento da película no intuito de apontar a homofobia nos discursos de muitas pessoas que tentavam promover boicote contra o filme e lembrou que, apesar dessas tentativas, Eternos se saiu relativamente bem nas bilheterias com a segunda melhor estreia nos cinemas em 2021 (Redação Jamesons, 2021REDAÇÃO JAMESONS. Eternos tem a segunda maior bilheteria de estreia do ano. Jamesons, [s.l.], 7 nov. 2021.). A atuação do site Jamesons em redes como o Twitter é abertamente pró produções e personagens LGBTQIAP+, indo contra a tendência de canais com muito mais alcance que costumam trazer duras críticas a esses tipos de produção.

Mais recentemente, a revelação de o filho de Superman Jonathan Kent (Superman, 2021SUPERMAN: son of kal-el. New York, DC Comics, n. 5, nov. 2021.) assumiria o manto de um dos super-heróis mais famosos do planeta e que ele seria bissexual, causou comoção nas redes sociais com as mesmas “previsões” que outros quadrinhos que trazem representações de diversidade enfrentam, de que essa série iria “flopar”. De acordo com Gonzatti, Henn e Miorando (2024GONZATTI, Christian; HENN, Ronaldo; MIORANDO, Guilherme. Superman, sexuality, and bolsonarism:LGBTQIA+ superheroes and cultural wars in the brazilian digital semiosphere. In: Young, Sarah; McCreery, Freyja (org.). Superheroes and digital perspectives. Lanham: Roman & Littlefield, 2024.), a aparição de Jon Kent tinha como principal objetivo alavancar a popularidade dos quadrinhos do Superman, que há algum tempo vinham sofrendo com baixa audiência e críticas negativas. No entanto, o que chamou a atenção dos pesquisadores e gerou o artigo aqui citado foi a apropriação das imagens em que Jon Kent aparecia beijando seu namorado em contraponto a outras imagens do Superman que são normalmente associadas a uma ideia de virilidade por parte de atores da extrema-direita brasileira como Eduardo Bolsonaro. Ao partirem de análises semióticas, os autores observaram como termos caros aos conservadores, como família, heterossexualidade e valores cristãos eram associados ao Superman em imagens em que ele aparecia beijando a Mulher-Maravilha, por exemplo, ao mesmo tempo que rechaçavam qualquer aparição de Jon Kent ao associá-lo com imoralidade e corrupção de menores.

De qualquer maneira, a crítica cultural, que hoje é produzida majoritariamente de forma digital e por pessoas sem formação jornalística, literária ou equivalente, poderia idealmente considerar novos parâmetros para a análise de narrativas que tragam representação de diversidade de gênero, como o que foi sugerido com os testes de Bechdel e Vito Russo. Tal consideração contribuiria para um enriquecimento do debate numa perspectiva mais “progressista” - muito embora estas produções críticas sejam realizadas por quaisquer pessoas com acesso à internet e que têm seu status de autoridade concedido pelo número de seguidores em suas redes sociais, por diversas vezes considerando questões de monetização que são potencializadas pelo surgimento e alimentação de posições polêmicas, frequentemente derivadas de posições conservadoras e, no limite, reacionárias.

Gonçalves e Medina (2018GONÇALVES, Gean; MEDINA, Cremilda. Signo da relação e os desafios das narrativas jornalísticas sobre as LGBT. Pesquisa em Jornalismo Brasileiro, Brasília, v. 14, n. 1, p. 54-75, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.25200/BJR.v14n1.2018.1066 . Acesso em: 26 abr. 2024.
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), propõem uma reflexão sobre a forma como pessoas LGBTQIAP+ são normalmente retratadas em textos jornalísticos e ao longo de seu artigo revelam estratégias de escuta atenta e de alteridade do discurso que possibilitam que pessoas de grupos minorizados sejam então apresentadas sem os estereótipos contumazes encontrados em reportagens de veículos de comunicação. Artigos como esse indicam não só uma tendência na produção acadêmica, que ao menos em relação às questões de gênero e cultura tem se tornado cada vez mais transdisciplinar, mas também uma maior articulação entre a academia e a sociedade na medida que essas produções têm justificado ações sociais concretas como a criação de manuais de redação e programas de treinamento mais sensíveis à diversidade de gênero e sexual3 3 Diversidade nas redações (Énois, [2022]). .

A constituição histórica desse processo, bem como seus desdobramentos mais recentes - subsumidos em conceitos como os de ideologia, imaginário, representação social, entre outros tem conduzido autoras e os autores a partirem de uma perspectiva interseccional, que compreende o entrelaçamento de recortes de classe, etnia e gênero de formas a construir uma perspectiva mais complexa acerca das relações de poder. Algumas das produções realizadas nessa perspectiva se situam no quadro de uma justiça social epistêmica, que procura o reconhecimento, a redistribuição e a participação de conhecimentos e epistemologias situados. Trata-se de um quadro reflexivo que deixa claro que as criações, enunciações e formas de compreensão do mundo cunhadas no âmbito da crítica cultural não são neutras. A interseccionalidade revela-se, portanto, uma ampla ferramenta analítica que permite refletir sobre a multidimensionalidade das pessoas e compreender seus lugares de enunciação e criação (Duque-Cardona; Restrepo-Fernández, 2022DUQUE-CARDONA, Natalia; RESTREPO-FERNÁNDEZ, Maria Camila. El conocimiento situado en la Bibliotecología y Ciencia de la Información (CI): desafíos en el Antropoceno. Liinc em Revista, Rio de Janeiro, v. 18, n. 1, p. 1-15, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.18617/liinc.v18i1.5909 . Acesso em: 26 abr. 2024.
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).

4 Considerações finais

As articulações entre os autores elencados neste artigo são resultado de inquietações e reflexões que ocupam as reflexões dos autores nos últimos anos. Entre essas reflexões, estão preocupações acerca de políticas culturais e da informação que garantam o acesso aos bens culturais pelo maior número possível de pessoas, assim como sua livre expressão cultural, entendendo que a cultura deveria ser um direito universal e que o contato com a arte e a cultura nos confere benefícios relacionados à cidadania e à interpretação do mundo. Caberia aqui uma última observação, que se relaciona com a distinção feita por Isar (2013ISAR, Yudhishtir Raj. Políticas de cultura: questões para a análise comparativa transnacional. In: LEITE, José Guilherme. As malhas da cultura 2. Cotia: Ateliê Editorial, 2013, p. 13-36.) acerca da diferenciação entre democratização da cultura e democracia cultural: a primeira propicia o acesso das pessoas a um conjunto predeterminado de bens e serviços culturais, enquanto a segunda possibilita-lhes o agenciamento, a vocalização e a representação nos termos de suas próprias expressões culturais.

Interessados que estamos no desdobramento das controvérsias culturais em que estamos imersos, marcadas pela confluência aparentemente contraditória, mas de fato estabelecida por certas “afinidades eletivas”, entre as agendas conservadoras em sentido moral e as políticas neoliberais, vemos com preocupação o impacto das mídias sociais no sentido de moldar o ambiente de debate, instrumentalizando politicamente as preocupações dos conservadores por meio da produção de um “pânico moral”. Este cenário coloca desafios para a defesa da liberdade de expressão, tanto individual como coletiva, dos distintos sujeitos e de suas distintas identidades, com implicações para a livre circulação de informações. Em larga medida, a figura do crítico cultural que gostaríamos de ver emergir a partir do conjunto dessas reflexões guarda forte semelhança com o que o sociólogo uruguaio Carlos Remedi (2018REMEDI, Carlos. El cielo y el inferno está aquí: Las culturas populares y el desafío de la Gestión. Cuadernos del CLAEH. Montevideo, v. 37, n. 107, p. 111-129, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.29192/CLAEH.37.5 . Acesso em: 26 abr. 2024.
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) denomina de mediadores culturais, que atuam na esfera pública popular, realizando o trabalho transcultural de selecionar e combinar elementos (linguagens, formas, símbolos, visões de mundo) de diferentes mundos (alta e baixa cultura, cultura letrada e de mídia, o local e o global) e a tradução de tudo isso para os termos e formas da esfera pública popular, numa perspectiva democrática e socialmente comprometida.

A crítica cultural se configura como um espaço de legitimação das produções que analisa. Isso significa dizer que sem diversidade de críticos não é possível uma diversidade de análises, uma vez que os critérios de valoração e hierarquização das produções de cultura pop nem sempre são evidentes. A não profissionalização e a falta de acesso a políticas e ações que promovam maior diversidade na crítica cultural favorece a difusão de canais que refletem valores de um grupo dominante que busca se distinguir demais grupos por meio do reforço constante de suas ideias e essas ideias, como observado nos episódios do filme Eternos e na HQ do Superman, tendem a reproduzir discursos homofóbicos, racistas e misóginos.

Dessa forma, somente através de uma educação que privilegie maior acesso à diversidade cultural e ao pensamento crítico, além de ações afirmativas promovidas por instituições variadas, seria possível “hackear” todo sistema de produção cultural, ou, em outras palavras, seria possível subverter as disposições responsáveis pelo desenvolvimento do gosto pela arte durante seu processo de formação.

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  • 1
    Críticas ao filme Eternos no site Rotten Tomatoes: 61% das 111 pessoas que avaliaram até o dia 29/10/21 consideraram o filme ruim (Rotten Tomatoes, 2021ROTTEN TOMATOES. Eternals. New York, 5 nov. 2021. Disponível em: https://www.rottentomatoes.com/m/eternals . Acesso em: 26 abr. 2024.
    https://www.rottentomatoes.com/m/eternal...
    ).
  • 2
    Por mediações, nesse caso. estamos entendendo-as como “[...] as conexões que se estabelecem entre as ações sociais e as motivações (individuais/coletivas). São processos de interlocução ou de interação entre os membros de um grupo ou comunidade, que permitem o estabelecimento e a sustentação dos laços de sociabilidade, constituindo assim, numa perspectiva habermasiana, o mundo da vida (Almeida, 2014ALMEIDA, Marco Antonio. Mediação e mediadores nos fluxos tecnoculturais contemporâneos. Informação & Informação, Londrina, v. 19, n. 2, p. 191-214, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.5433/1981-8920.2014v19n2p191 . Acesso em: 26 abr. 2024.
    https://doi.org/10.5433/1981-8920.2014v1...
    , p. 196).
  • 3
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    https://enoisconteudo.com.br/programa-di...
    ).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Ago 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    24 Jan 2024
  • Aceito
    11 Abr 2024
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