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Desinteresse escolar: revisão de literatura (2007–2021) em teses, dissertações e artigos de periódicos da América Latina

Lack of school interest: literature review (2007–2021) in theses, dissertations and scientific journals from Latin America

Desinterés escolar: revisión de la literatura (2007–2021) en tesis, disertaciones y artículos de revistas de América Latina

RESUMO

O artigo tem o objetivo de apresentar a revisão de literatura sobre desinteresse escolar na América Latina no período 2007–2021, mapeando teses, dissertações e artigos de periódicos na língua portuguesa e espanhola nos portais Scientific Electronic Library Online (SciELO), Google Acadêmico, RedALyC e no catálogo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A busca resultou em 188 trabalhos que problematizam o desinteresse escolar, os quais foram classificados em nove categorias: resgate histórico do conceito; desinteresse por área do conhecimento; metodologias para o enfrentamento do desinteresse; sentidos da escola para os jovens; relação entre professor e aluno; representações docentes; implicações do desinteresse na atividade docente; desinteresse associado ao fracasso escolar; desinteresse ligado a aspectos sociais. Foi possível inferir que o desinteresse envolve múltiplas dimensões que demandam a proposição de currículos que levem em consideração a realidade e diversidade dos estudantes.

Palavras-chave:
Evasão Escolar; Interesses do Aluno; Currículos

ABSTRACT

The article aims to present a literature review on lack of interest in school in Latin America in the period 2007–2021, mapping theses, dissertations and scientific jornals in Portuguese and Spanish in the portals Scientific Electronic Library Online (SciELO), Google Scholar, RedALyC and in the Coordination for the Improvemente of Higher Education Personnel (Capes) catalog. The search resulted in 188 articles that problematize lack of interest in school, classified into nine categories: historical retrieval of the concept; lack of interest in the area of knowledge; methodologies for dealing with lack of interest; meanings of the school for young people; teacher-student relationship; teaching representations; implications of lack of interest for the teaching activity; lack of interest associated with school failure; lack of interest linked to social aspects. It was possible to infer that lack of interest involves multiple dimensions that demand the proposition of curricula that take into account the reality and diversity of students.

Keywords:
School Dropout; Student Interests; School Curriculum

RESUMEN

El artículo tiene como objetivo presentar una revisión de la literatura sobre el desinterés escolar en América Latina en el período 2007-2021, mapeando tesis, disertaciones y artículos de revistas en portugués y español en Scielo, Google Scholar, RedALyC y Capes Catalog. La búsqueda resultó en 188 trabajos que problematizan el desinterés escolar, los cuales fueron clasificados en nueve categorías: rescate histórico del concepto; falta de interés en el área del conocimiento; metodologías para hacer frente al desinterés; sentidos escolares para los jóvenes; relación maestro-alumno; representaciones de maestros; implicaciones de la falta de interés por la actividad docente; desinterés asociado al fracaso escolar; desinterés ligado a aspectos sociales. Fue posible inferir que el desinterés involucra múltiples dimensiones que exigen la proposición de currículos que tengan en cuenta la realidad y diversidad de los estudiantes.

Palabras clave:
Deserción Escolar; Intereses del Estudiante; Currículos

O desinteresse escolar atrai cada vez mais a atenção do campo educacional latino-americano nas últimas décadas. A ampliação da discussão dá-se a partir dos desafios gerados pela democratização da educação básica na maior parte dos países da região (Tenti Fanfani, 2010TENTI FANFANI, Emilio. Los que ponen el cuerpo. El profesor de secundaria en la Argentina actual. Educar em Revista, Curitiba, v. 26, n. especial 1, p. 37-76, 2010.). Tal política de democratização levou ao aumento do acesso à escola por parte da população mais pobre. Entretanto, deparando-se com uma estrutura hierárquica e aristocrática que recebe melhor aqueles que possuem o perfil por ela esperado, os alunos das classes populares são desfavorecidos no processo de escolarização, pois os professores preparam suas práticas para o "aluno ideal", oriundos de "famílias ideais" nos moldes da cultura dominante (Alves-Mazzotti, 2006ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith. O "aluno da escola pública": o que dizem as professoras. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 87, n. 217, p. 349-359, set./dez. 2006.). Soma-se a isso a dificuldade de implementação com sucesso das políticas de regularização de fluxo escolar e ciclos de aprendizagem que ampliaram a exclusão na escola (Paparelli, 2009PAPARELLI, Renata. Desgaste mental do professor da rede pública de ensino: trabalho sem sentido sob a política de regularização de fluxo escolar. 2009. 194 f. Tese (Doutorado em Psicologia Social) –Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.). Alunos que até os anos 1980 evadiam a escola após reprovações e/ou expulsões agora nela permanecem em situação de fracasso (e desinteresse) escolar.

Para o entendimento do desinteresse, deve-se conceituar o seu antônimo, o interesse. Parte-se do constructo de que o interesse é um conceito de junção entre a psicologia e a pedagogia, pois expressa um papel de intermediário (inter/esse = que está entre!) entre sujeito e objeto (Sass e Liba, 2011SASS, Odair; LIBA, Flavia Roberta Torezin. Interesse e a educação: conceito de junção entre a psicologia e a pedagogia. Imagens da Educação, Maringá, v. 1, n. 2, p. 35-45, maio 2011. https://doi.org/10.4025/imagenseduc.v1i2.13302
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). Nessa relação, há visões da predominância do objeto sobre o sujeito (Herbart, 2003HERBART, Johann. Pedagogia geral. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.); e, por outro lado, do movimento endógeno da relação, isto é, do sujeito para o objeto (Claparède, 2010; Piaget, 2014PIAGET, Jean. Relações entre a afetividade e a inteligência no desenvolvimento mental da criança. Rio de Janeiro: Wak, 2014.). No primeiro caso, bastaria uma correta apresentação do objeto, ou seja, um bom estímulo para gerar o interesse. Ao se conceber o interesse como algo externo, dá-se vazão a práticas que buscam interessar — mas também se poderia dizer ameaçar: interesse-se senão… — o sujeito pelos conteúdos da cultura geral de modo extrínseco, por meio de dispositivos de poder do sistema educacional, tais como notas, castigos, prêmios, vestibular, entre outros. É o aluno heteronomamente interessado e que na realidade possui um "interesse interessado", o qual aprende para receber recompensas ou evitar punições e alcançar metas de rendimento.

Em contraste, conceber o interesse como um dinamogenizador das ações (Claparède, 2010CLAPARÈDE, Édourd. Psicologia, biologia, educação. In: HAMELINE, Daniel; PETRAGLIA, Izabel; DIAS, Elaine Terezinha Dal Mas (org.). Édourd Claparècde. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. p. 37-110.), ou seja, como uma energia que surge para suprir dada necessidade, leva a questionamentos sobre os meios pelos quais se deve realizar a ponte entre os interesses espontâneos do aluno e os saberes acumulados pela humanidade. Nesse caso, o interesse liga-se à interação e à busca ativa de conhecimentos que preencham ou respondam a certas necessidades. O discente autonomamente interessado possui um interesse espontâneo que ativa sua conduta diante da curiosidade para aprender e de sua própria autonomia ao construir para si metas de aprendizagem. Cabe à escola, nessa perspectiva, dialogar com o dinamismo mental dos estudantes, criando um ambiente ativo que desperte necessidades e os faça sair em busca de objetos, convertendo-os em interesse evolutivos, que se tornam cada vez mais complexos com as trocas com o meio. Assim, quando se aborda o desinteresse escolar, está-se apontando nos alunos a falta de interesse espontâneo ou a ineficácia dos instrumentos heterônomos de controle? A falta de metas de rendimento ou a falta de metas de aprendizagem?

Como a escola reflete em seu espaço os problemas e tensões das esferas econômica, social, política, emocional e afetiva de forma intensa, a revisão de literatura sobre desinteresse escolar pode elucidar a gama de relações e problemas sociais que transpassam as discussões acadêmicas nos diferentes campos de pensamento. Partindo dessa perspectiva, o artigo apresenta a revisão da literatura sobre desinteresse escolar na América Latina no período 2007–2021, mapeando teses, dissertações e artigos de periódicos. Espera-se contribuir para p estado da arte do tema, identificando os fatores associados e a complexidade de entendimentos sobre o (des)interesse escolar.

O presente estudo tem como ponto de partida o artigo de revisão de literatura de Garcia, Halmenschlager e Brick (2021GARCIA, Ana Luiza Casasanta; HALMENSCHLAGER, Karine Raquiel; BRICK, Elizandro Maurício. Desinteresse escolar: um estudo sobre o tema a partir de teses e dissertações. Revista Contexto & Educação, Ijuí, v. 36, n. 114, p. 280-300, maio/ago. 2021. https://doi.org/10.21527/2179-1309.2021.114.280-300
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), que analisaram os resumos de 46 teses e dissertações brasileiras que trataram sobre desinteresse escolar no período 2007–2018. O trio de pesquisadores mostrou que as temáticas abordadas nos trabalhos incluíram o desinteresse pela educação, implicações do desinteresse na prática docente, desinteresse associado à indisciplina e evasão e também como fruto da construção histórico-social. Um dos principais achados da revisão sistemática destes autores é a tendência de que, a pesar de a escola ser valorizada e representar uma promessa para um futuro melhor, o desinteresse faz-se presente em disciplinas específicas e na aprendizagem escolar como um todo, marcando a trajetória acadêmica de muitos estudantes e afetando a saúde mental de professores. O artigo de revisão traz contribuições, porém limitou-se a uma base de dados (portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior — Capes) e à leitura apenas dos resumos das 46 dissertações e teses analisadas. Além disso, não foram abarcados nessa produção os trabalhos categorizados como "estudos que apresentam e discutem estratégias/metodologias/ações para o enfrentamento do desinteresse escolar".1 1 Em contato via e-mail, os autores relataram que não haveria continuidade na pesquisa de revisão ou nova publicação. Dessa forma, com a ampliação das bases de dados consultadas, a leitura mais aprofundada dos trabalhos e novas inferências analíticas, espera-se qualificar e aprofundar as discussões sobre o conceito de (des)interesse escolar e seus fatores associados e explicativos.

CAMINHOS METODOLÓGICOS DA REVISÃO DE LITERATURA

O levantamento da revisão de literatura seguiu uma natureza qualitativa utilizando o método da análise de conteúdo e seguindo as etapas de organização, codificação e categorização (Bardin, 1977BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.). A revisão teve como base de busca teses, dissertações e artigos de periódicos na língua portuguesa ou espanhola de países da América Latina nos portais Scientific Electronic Library Online (SciELO), Google Acadêmico, RedALyC e no Catálogo de Teses e Dissertações da Capes, com o recorte dos últimos 15 anos, compreendendo o período 2007–2021. A justificativa do recorte temporal é que foi na década de 2000 que ocorreu a obrigatoriedade do Ensino Médio (e seus equivalentes) na maior parte dos países da região, o que está relacionado com o aumento da discussão sobre o desinteresse no cotidiano escolar e literatura acadêmica do campo da educação.

A busca nos portais acima citados realizou-se no dia 10 de outubro de 2021 usando o termo "desinteresse" e "desinterés" e selecionando-se os trabalhos que traziam o termo em seu título, resumo ou palavras-chave, o que resultou em 2.332 produções acadêmicas. Na etapa de organização, procedeu-se ao primeiro refinamento, com a leitura dos títulos e a exclusão dos trabalhos que não possuíam relação com os processos de ensino e aprendizagem ou que não se articulavam com a educação básica. Posteriormente, um segundo refinamento foi realizado após a leitura dos resumos, com a exclusão dos trabalhos que, apesar de apresentarem relação com o contexto da educação no título, usavam a expressão desinteresse em outros contextos. Após essa pré-análise, selecionaram-se 188 trabalhos que problematizavam diretamente o desinteresse em contexto escolar. Procedeu-se ao fichamento desses trabalhos após a leitura da introdução, resultados e considerações finais. As informações foram tabuladas em uma planilha eletrônica com as seguintes colunas: título; autores; data e país de publicação; categorização inicial; tipo de publicação; link de acesso; resumo; portal consultado; e fichamento da pesquisa. A planilha com essas informações está disponível no perfil ResearchGate do pesquisador.2 2 Disponível no perfil ResearchGate do pesquisador (https://www.researchgate.net/profile/Edvanderson-Santos-2), no link: <https://bit.ly/3Cype1b>. Acesso em: 22 jul. 2024. A síntese das informações dos trabalhos selecionados consta na Tabela 1.

Tabela 1
Revisão de literatura sobre desinteresse escolar na América Latina (2007–2021).

Na etapa de codificação, os fichamentos dos trabalhos foram revisados e serviram como unidades de contexto, das quais foram extraídas as unidades de registro (UR), seguindo o critério temático (Bardin, 1977BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.). Dessa forma, trechos com contribuições significativas, resultados relevantes ou originais relacionados ao problema do desinteresse escolar foram selecionados como UR. Um arquivo foi criado em um software de edição de texto para analisar as 533 UR selecionadas durante essa codificação.3 3 Disponível no perfil ResearchGate do pesquisador em: <https://bit.ly/42LPvne>. Acesso em: 22 jul. 2024. Inicialmente, havia uma pré-classificação das temáticas baseada no conhecimento prévio da literatura (Garcia, Halmenschlager e Brick, 2021GARCIA, Ana Luiza Casasanta; HALMENSCHLAGER, Karine Raquiel; BRICK, Elizandro Maurício. Desinteresse escolar: um estudo sobre o tema a partir de teses e dissertações. Revista Contexto & Educação, Ijuí, v. 36, n. 114, p. 280-300, maio/ago. 2021. https://doi.org/10.21527/2179-1309.2021.114.280-300
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), que consistia em quatro categorias. No entanto, por meio da leitura repetida dos resumos, dos fichamentos e da interpretação hermenêutica do autor, optou-se por nove categorias, propostas visando potencializar a compreensão dos contextos nos quais o termo "desinteresse" é utilizado no campo acadêmico.

Por fim, na etapa de categorização, as produções acadêmicas foram classificadas em uma das nove categorias definidas (Quadro 1). Essa classificação foi possível com base na similaridade de conteúdo entre os trabalhos, considerando-se a frequência das UR e a evolução das categorias ao longo do processo, as quais são mais bem dimensionadas no arquivo citado na nota 3. Para trabalhos que possuíam UR em diferentes categorias, eles foram classificados na categoria que apresentava a maior frequência dessas UR. Além disso, na seção dos resultados das categorias 2, 3 e 8, apresenta-se a frequência de UR relacionadas às temáticas intrínsecas a essas categorias.

Quadro 1
Categorias temáticas da abordagem sobre desinteresse escolar.

A inferência das contribuições de cada categoria ao campo educacional será apresentada na sequência. Na redação das categorias, referenciaram-se os trabalhos citados diretamente no texto, mas em uma planilha disponibilizada no perfil ResearchGate do pesquisador é possível visualizar as referências completas das 188 produções que compõem a revisão de literatura.4 4 Disponível no perfil ResearchGate do pesquisador em: <https://bit.ly/3PnrJex>. Acesso em: 22 jul. 2024.

CATEGORIA 1: TRABALHOS DE REVISÃO/RESGATE HISTÓRICO DO CONCEITO DE (DES)INTERESSE

Os cinco estudos englobados nesta categoria preocupam-se em destacar a relevância de recuperar historicamente os debates sobre o conceito de interesse na perspectiva de autores clássicos ou revisando a produção acadêmica sobre o tema. Nesse contexto, Rezende e Teixeira (2019REZENDE, Alan Marcos Silva de; TEIXEIRA, Bianca Rafaela Mattos. Maria Montessori e a noção de interesse na Revista do Ensino (1920). Pesquisa em Foco, São Luís, v. 24, n. 1, p. 4-17, jan./jul. 2019. https://doi.org/10.18817/pef.v24i1.2024
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) abordam o interesse na pedagogia de Maria Montessori, demonstrando que, já no início do século XX, ela defendia princípios como o papel mediador do professor, a liberdade da criança e a necessidade de considerar os fatos aprendidos dentro da escola com o cotidiano fora dela. Outras produções buscam superar a dicotomia entre razão e emoção na conceituação de interesse, buscando: diálogos da psicologia genética e a psicanálise (Dias e Marchelli, 2008DIAS, Carmem Lúcia; MARCHELLI, Paulo Sérgio. A afetividade na escola sob a ótica da psicanálise e da epistemologia genética. Schème: Revista Eletrônica de Psicologia e Epistemologia Genéticas, Marília, SP, v. 1, n. 2, p. 80-94, jul./dez. 2008. https://doi.org/10.36311/1984-1655.2008.v1n2.p80-94
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); relações entre afetividade e inteligência no desenvolvimento na perspectiva de Piaget, Wallon, Vygotsky e Freud (Souza, 2011SOUZA, Maria Thereza Costa Coelho de. As relações entre afetividade e inteligência no desenvolvimento psicológico. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 27, n. 2, p. 249-254, abr./jun 2011. https://doi.org/10.1590/S0102-37722011000200005
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).

Destaca-se a contribuição original de Sass e Liba (2011SASS, Odair; LIBA, Flavia Roberta Torezin. Interesse e a educação: conceito de junção entre a psicologia e a pedagogia. Imagens da Educação, Maringá, v. 1, n. 2, p. 35-45, maio 2011. https://doi.org/10.4025/imagenseduc.v1i2.13302
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), que discutem o entendimento de interesse nas obras de Herbart, Dewey, Claparède, Decroly e Thorndike e Gates. Sass e Liba 2011SASS, Odair; LIBA, Flavia Roberta Torezin. Interesse e a educação: conceito de junção entre a psicologia e a pedagogia. Imagens da Educação, Maringá, v. 1, n. 2, p. 35-45, maio 2011. https://doi.org/10.4025/imagenseduc.v1i2.13302
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) apresentam relações e diferenças no pensamento dos autores abordados, mas sintetizam que, se para todos o "interesse está na relação do sujeito com o objeto, a diferença, entre elas, está na maneira que é concebida essa relação" (p. 44). Assim, eles explicam que, para Herbart, o interesse é externo e se sobrepõe ao indivíduo, enquanto Dewey, Claparède e Decroly se alinham a uma concepção ativa do sujeito na manifestação do interesse. Por sua vez, Strohhecker (2019STROHHECKER, Franciele da Silva dos Anjos. Formação em interesse múltiplo: inspirações herbartianas para pensar o tempo escolar como "afetação duradoura". 2019. 96 f. Dissertação (Mestrado em Educação nas Ciências) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí), Ijuí, RS, 2019.) retoma a noção iluminista de Herbart de "interesses múltiplos" para combater o desinteresse escolar. A autora argumenta que os docentes devem apresentar os saberes de modo interessante, produzindo um sentimento de falta inquietante que afete os estudantes, suspendendo seus desejos imediatos, o que permitiria o aprofundamento em objetos do conhecimento ou a simpatia e a reflexão unificadora.

O ponto em comum dos trabalhos da categoria é sublinhar que o desinteresse é um problema que suscita urgência de ações, mas estas precisam ser ancoradas em bases teóricas coerentes para serem efetivas.

CATEGORIA 2: DESINTERESSE POR DETERMINADA ÁREA DO CONHECIMENTO

As 28 pesquisas que compõem a categoria analisam o desinteresse em áreas do conhecimento, mais especificamente: educação física (8); ciências (física, química e biologia) (8); filosofia (4); língua inglesa (3); matemática (3); leitura (1); e formação técnica (1). Se, por um lado, os trabalhos superam a visão do desinteresse como problema individual do aluno, associando-o à didática docente, ao uso de metodologias tradicionais, a aulas expositivas sem atividades experimentais ou que não possuem relação com a realidade dos estudantes, por outro lado se trata de abordagens em escala reduzida, que analisam o fenômeno como se ele ocorresse de modo mais acentuado apenas nessas áreas do conhecimento em virtude de um problema técnico ou de competência do docente ou da tradição da área. Outro ponto em comum dos estudos é atestar que os alunos admitem a importância e o respeito pelas áreas de conhecimento, mas problemas de aprendizagem e práticas didáticas os levam a "perder o interesse". Ademais, a conclusão dos estudos gira em torno da preposição do uso de metodologias ativas que visem a uma aprendizagem significativa. Um referencial muito citado é a Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel, que se fundamenta em Piaget e defende a valorização dos conhecimentos prévios do aluno para alcançar uma aprendizagem significativa.

Entre as áreas mais abordadas está a educação física. Tal fato associa-se à concepção de que essa área não possui a legitimidade de uma disciplina que compõe o currículo, sendo entendida como uma prática sem intencionalidade pedagógica, com práticas metodológicas ultrapassadas (Favin, 2019FAVIN, Giandney Paulo. O desencanto/desinteresse pelas aulas de educação física no ensino médio. 2019. 83 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Frederico Westphalen, 2019.), falta de diversificação dos conteúdos por estes se restringirem aos esportes tradicionais e aos limites da infraestrutura das escolas (Serrano Saavedra, 2019SERRANO SAAVEDRA, Francisco del Milagro. Factores de desinterés hacia la práctica de los diversos deportes en los estudiantes del Instituto de Educación Superior Tecnológico Sullana Año 2013. 2019. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidad San Pedro, Sullana, 2019.). Todavia, Cavalcanti (2020CAVALCANTI, Bruno Honório. A não adesão às aulas de Educação Física em uma Escola Pública do Rio Grande do Norte: quais são os motivos que influenciam essa situação? 2020. 87 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Educação Física) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2020.) pondera que o desinteresse é mais visível em educação física, pois ela ocorre em ambiente externo e exige movimentos corporais, em contraste com outras áreas em que os alunos ficam entre quatro paredes, sentados.

Quanto ao desinteresse pelos componentes da área de ciências, as pesquisas sugerem que os estudantes acham interessante a área e possuem disposição para aprender principalmente quando ela é vinculada ao cotidiano (Morales, Mazzitelli e Olivera, 2015MORALES, Laura Mariela; MAZZITELLI, Claudia Alejandra; OLIVERA, Adela del Carmen. La enseñanza y el aprendizaje de la Física y de la Química en el nivel secundario desde la opinión de estudiantes. Revista Electrónica de Investigación en Educación en Ciencias, Tandil, v. 10, n. 2, p. 11-19, dez. 2015. ISSN-e 1850-6666), mas essa disposição se dissipa quando a disciplina é conduzida de forma matematizada, descontextualizada e sem a realização de atividades experimentais (Krummenauer, 2016KRUMMENAUER, Wilson Leandro. O desinteresse pela física na região do Vale do Rio dos Sinos: suas causas e consequências na educação de jovens e adultos. 2016. 84 f. Tese (Doutorado em Educação em Ciências) – Instituto de Ciências Básicas da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016.). O desinteresse também atinge a filosofia quando os conteúdos são ensinados sem vínculo com a vida dos alunos ou por meio de metodologias passivas, baseadas num modelo enciclopédico de ensino (Silva, 2019SILVA, José Gledson Rodrigues da. Uma análise do processo de ensino de Filosofia: das dificuldades da relação entre teoria e prática. 2019. 294 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Filosofia) – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Caicó, 2019.). Por sua vez, o desinteresse parece estar mais atrelado a dificuldades de aprendizagem em língua inglesa (Souza, 2009SOUZA, Zico Ferreira de. Representações de alunos sobre ensinar-aprender inglês e seu (des)interesse em estudar essa língua. 2009. 130 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2009.) e em matemática (Rocha, 2014ROCHA, Creusa Coelho da Silva. Análise do baixo desempenho em Matemática dos alunos do 6º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Getúlio Vargas (Belo Horizonte – MG). 2014. 134 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão e Avaliação da Educação Pública) – Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2014.), culminando no ciclo: falta de hábitos de estudo → defasagens não tratadas → reprovações → desinteresse.

Achados importantes aparecem em pesquisas que sublinham a afetividade na relação com os componentes curriculares das áreas do conhecimento e como o interesse espontâneo cede espaço a um interesse interessado na passagem do Ensino Fundamental para o Ensino Médio. Prediger, Berwanger e Mörs (2009PREDIGER, Juliane; BERWANGER, Luana; MÖRS, Marlete Finke. Relação entre aluno e Matemática: reflexões sobre o desinteresse dos estudantes pela aprendizagem desta disciplina. Revista Destaques Acadêmicos, Lajeado, v. 1, n. 4, p. 23-32, 2009.) mencionam que alunos das séries iniciais gostam de matemática e percebem sua importância, mas vão perdendo o gosto e passam a se preocupar apenas em serem aprovados. Por sua vez, Cima et al. (2017CIMA, Rodrigo Cardoso; ROCHA FILHO, João Bernardes; FERRARO, José Luís; LAHM, Regis Alexandre. Redução do interesse pela Física na transição do ensino fundamental para o ensino médio: A perspectiva da supervisão escolar sobre o desempenho dos professores. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, Vigo, Espanha, v. 16, n. 2, p. 385-409, 2017.) notaram que o ensino de física no Ensino Fundamental é mais contextualizado, experimental e se dá em um ambiente afetuoso, enquanto no Ensino Médio é mais teórico, expositivo e voltado à preparação de vestibulares em um ambiente de afetos negativos, competição e ansiedade. Para os autores, essas mudanças são decisivas para o gradativo desinteresse pela física. São pesquisas que denotam que a relação entre professor e alunos é perpassada por sentimentos que podem afetar positiva ou negativamente o interesse do educando pelo aprendizado das disciplinas do currículo.

CATEGORIA 3: METODOLOGIAS PARA O ENFRENTAMENTO DO DESINTERESSE NAS ÁREAS DO CONHECIMENTO

Se na categoria 2 se abordam os fatores que levam ao desinteresse nas áreas do conhecimento, na presente categoria o desinteresse assume um papel de justificativa para a proposição de produtos educacionais, visando à sua superação. Dos 63 trabalhos analisados, 48 (76%) são oriundos de mestrados profissionais. São estudos realizados por docentes da educação básica que, por sua natureza profissional, têm um compromisso de aplicação e avaliação de metodologias. Com relação à área de conhecimento, predomina a área de linguagens (especialmente "leitura") e das ciências exatas: linguagens (20); física (13); matemática (9); biologia (8); ciências (3); química (2); educação física (2); história (2); geografia (1); filosofia (1); interdisciplinar (1); área técnica (1).

Destacam-se as seguintes estratégias metodológicas para a superação do desinteresse dos estudantes: contextualizar os conteúdos com temas do cotidiano (14); trazer diferentes tecnologias para a sala de aula (19); aplicar experimentos (17); fazer uso do lúdico ou da gamificação (13); buscar um ensino prazeroso, principalmente para desenvolver o interesse pela leitura (6). Entre as metodologias mencionadas, os trabalhos citam o uso de "sequência didática" (13); "aprendizagem significativa" (12) ou fazem referência ao autor Ausubel, que fundamenta essa teoria (5); e "sala de aula invertida" (4). Essas informações ilustram que docentes que buscam formação estão preocupados com a falta de efetividade de métodos tradicionais, revelando uma atitude positiva com relação às metodologias que trazem o aluno para uma posição mais ativa no processo de ensino, com aulas dinâmicas, contextualizadas e significativas. São pesquisas que enfatizam a viabilidade de propostas metodológicas ativas.

Ressalta-se a pesquisa de Costa (2020COSTA, Ana Bonatto Castro. Diálogos da pedagogia escoteira com a aprendizagem significativa para o ensino de ciências. 2020. 106 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Formação Científica, Educacional e Tecnológica) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2020.), que adaptou a metodologia usada no movimento escoteiro para o ensino de astronomia na educação básica, preservando características de um ensino ativo, em contato com a natureza e com foco na formação integral para a cidadania. A adoção de um método investigativo de ensino por Baptista, Lawall e Clement (2020BAPTISTA, Carla Maria Fachini; LAWALL, Ivani Teresinha; CLEMENT, Luiz. Significados produzidos por estudantes do ensino médio sobre fenômeno das marés em aulas investigativas. Revista Electrónica de Investigación en Educación en Ciencias, Tandil, Argentina, v. 15, n. 1, p. 33-49, jul. 2020. https://doi.org/10.54343/reiec.v15i1.261
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) também é exemplar, pois o trio de autores desenvolveram uma sequência de ensino por investigação (SEI) para abordar a gravitação, utilizando, para isso, o fenômeno da maré, que é um problema presente no cotidiano de seus alunos. Na SEI os estudantes foram estimulados a levantar e testar hipóteses visando solucionar o problema proposto.

Todavia, a análise geral das conclusões das pesquisas da categoria parece denotar um entendimento de que o desinteresse dos alunos estaria diretamente relacionado com metodologias de ensino adotadas pelos docentes, como em um processo de causa e efeito, o que pode levar à excessiva responsabilização dos docentes pelo problema. Também é notável que há algumas concepções epistemológicas e psicológicas embasando a crença dos professores pesquisadores em suas conclusões. Isso fica evidente em dezenas de trabalhos, pelo uso do verbo "despertar" associado ao termo "interesse" ou do entendimento que se deve "chamar a atenção" dos alunos com um "método atraente". É como se o interesse fosse um botão a ser ativado pela correta apresentação dos objetos, como diria a pedagogia de Herbart (2003HERBART, Johann. Pedagogia geral. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.). Ou seja, parte-se de uma perspectiva behaviorista, na qual bastaria o estímulo "correto" para a "resposta" correta do aprendizado. São abordagens que fazem apelo à "educação atraente" que é criticada por Claparède (2010CLAPARÈDE, Édourd. Psicologia, biologia, educação. In: HAMELINE, Daniel; PETRAGLIA, Izabel; DIAS, Elaine Terezinha Dal Mas (org.). Édourd Claparècde. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. p. 37-110.), pois nem tudo que é atraente tem valor educativo.

Um resultado que demonstra que não basta "colorir" os objetos de "açúcar" (ou tecnologia!) para torná-los interessantes é o de Rissate (2019RISSATE, Guilherme Luiz. Percepção ambiental e contribuição de uma sequência didática acerca dos anfíbios do Cerrado. 2019. 96 f. Dissertação (Mestrado em Recursos Naturais do Cerrado) – Universidade Estadual de Goiás, Anápolis, 2019.), que elaborou uma sequência didática para o ensino de biologia (anfíbios) comparando-o com o ensino ofertado a uma turma de controle que teve aulas expositivas, e constatando que não houve diferenças nos acertos dos alunos que tiveram aulas expositivas em relação aos alunos participantes da sequência didática. Por isso, apesar da relevância dos estudos ao mostrarem o potencial de aplicação de diferentes metodologias, alguns deles estudos parecem promover a mensagem que o meio externo determina o aprendizado, esquecendo o papel ativo do sujeito.

CATEGORIA 4: DESINTERESSE PELOS ESTUDOS EM GERAL: SENTIDOS DA ESCOLA PARA OS JOVENS

Os 19 trabalhos dessa categoria problematizam o desinteresse como consequência dos desafios da instituição escolar perante os sentidos atribuídos pelas novas juventudes à escola. São produções que superam a explicação do desinteresse centrada apenas na relação didática aluno-professor, pois se atentam em ouvir os jovens para compreender as implicações do contexto sociocultural e espacial na sua relação com os estudos. É consenso nessas pesquisas que o alunado possui uma atitude positiva com relação à escolarização formal, considerando-a como promessa de um futuro melhor. Isso é partilhado pelas classes populares, que têm a esperança que a escola ajude a entrar no mercado de trabalho (Marques e Castanho, 2011MARQUES, Patrícia Batista; CASTANHO, Marisa Irene Siqueira. O que é a escola a partir do sentido construído por alunos. Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo, v. 15, n. 1, p. 23-33, jan./jun. 2011. https://doi.org/10.1590/S1413-85572011000100003
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), bem como por jovens de famílias com maior poder aquisitivo, que esperam que ela contribua para seu sucesso em vestibulares (Crochick, 2011CROCHICK, Nicole. Interesse de saber: um estudo com adolescente do ensino médio. 2011. 129 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.).

Embora valorizada no plano intersubjetivo, a escola demonstra dificuldades de cumprir a promessa, pois os jovens concebem a formação escolar como "inadequada e sem sentido e em tal conjuntura desenvolvem estratégias de adaptação e autopreservação" (Baciano, 2011BACIANO, Gislaine de Medeiros. Ensino médio: realidade e expectativas juvenis. 2011. 167 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Nove de Julho, São Paulo, 2011., p. 8). Um fator que contribuiria para essa relação desinteressada e de barganha com os estudos é o sistema de notas que classifica os alunos, favorecendo atitudes como a preocupação mais com a nota do que com o que podem aprender e a participação nas atividades com o princípio do menor esforço (Werlang, 2008WERLANG, Lilian Mobrizi Silva. Discurso e sujeito: a representação do ensino público nos textos dos alunos de ensino médio. 2008. 109 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade de Taubaté, Taubaté, 2008.). Essa desilusão intensifica-se durante o percurso formativo, especialmente no Ensino Médio, quando o estudante busca atingir metas de desempenho para a obtenção de benefícios e tem menor preocupação com as metas de aprendizagem (Flores Macías e Gomez Bastida, 2010FLORES MACÍAS, Rosa del Carmen; GOMEZ BASTIDA, Josefina. Un estudio sobre la motivación hacia la escuela secundaria en estudiantes mexicanos. REDIE, Ensenada, México, v. 12, n. 1, p. 1-18, maio 2010. E-ISSN: 1607-4041). Estando os jovens envoltos no meio digital, em que muitas vezes eles são protagonistas culturais, o desinteresse também pode comunicar um sinal da busca por outros contextos educativos por parte deles (De Vargas Gil, 2012DE VARGAS GIL, Carmem Zeli. Participação juvenil e escola: os jovens estão fora de cena? Ultima década, Santiago, v. 20, n. 37, p. 87-109, dez. 2012. https://doi.org/10.4067/S0718-22362012000200005
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).

As metodologias passivas, o currículo pouco dialógico e a baixa "conectividade" da escola com o ciberespaço também são questionados como fatores que geram desinteresse pelos estudos. É o que destaca a dissertação de Marin (2020MARIN, Eliane. Ciberidentidades nos anos finais do ensino fundamental público: relações nos processos de ensino e aprendizagem. 2020. 173 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual do Centro-Oeste, Guarapuava, 2020.), que demonstrou o peso do espaço/tempo virtual na construção das múltiplas identidades dos jovens na atualidade e como a escola se distancia de suas ações (reais e virtuais) cotidianas. Diante desse fato, a exposição do conhecimento de forma conteudista, compartimentada e disciplinar não é mais suficiente para esses jovens, diante de todas as possibilidades que eles vivenciam nas redes do ciberespaço. Outras pesquisas demonstram que os jovens valorizam mais a escola quando têm aulas que propiciem a participação ativa, com atividades práticas, lúdicas, com tecnologia e que sejam significativas à sua realidade (Silva, 2018SILVA, Maria Rute Depoi. As percepções e os significados de escola para os estudantes adolescentes: um estudo de caso no Instituto Federal Farroupilha. 2018. 160 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Humanidades e Linguagens) – Universidade Franciscana, Santa Maria, 2018.).

Um achado importante é o papel central da sociabilidade na relação do jovem com a escola e como isso pode ser usado para atenuar o desinteresse (Reis, 2012REIS, Rosemeire. Experiência escolar de jovens/alunos do ensino médio: os sentidos atribuídos à escola e aos estudos. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 38, n. 3, p. 637-652, jul./set. 2012. https://doi.org/10.1590/S1517-97022012000300007
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). Se a informação é difusa na sociedade digital, muitos jovens parecem ter uma vida social restrita em seu cotidiano e esperam ter acesso na escola a um espaço de sociabilidade para viverem suas juventudes. Nesse processo, esforçam-se para serem aceitos em grupos e sofrem emocionalmente com a exclusão. Aproveitando-se dessa tendência, algumas atividades que promovem o interesse dos alunos são aquelas que envolvem a sociabilidade e privilegiam o diálogo entre os saberes escolares e os saberes desses jovens (Frankiv e Domingues, 2016FRANKIV, Marianna Angonese; DOMINGUES, Soraya Corrêa. Desinteresse e proposições para escola atual: contribuições do pensamento complexo. Revista Tempos e Espaços em Educação, São Cristóvão, v. 9, n. 19, p. 113-128, 7 set. 2016. https://doi.org/10.20952/revtee.v9i19.5600
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), tais como apresentações, eventos interdisciplinares e atividades culturais que propiciem oportunidades de expressão, utilizando a vida social entre os alunos para realizar um trabalho de mediação com os saberes (Santos et al., 2021SANTOS, Edvanderson Ramalho dos; MOLLOSSI, Luí Fellippe da Silva Bellincantta; FREITAS, Daniel Assis; ANDRADE, Luiz Antônio da Rocha A. Tacada interdisciplinar: sinuca: simulado interdisciplinar das nações unida do IFC Campus Araquari. Revista Mais Educação, São Caetano do Sul, v.4, n. 2, p. 1212-1222, abr. 2021. ISSN 2595-9611).

Em suma, os trabalhos da categoria expõem que o desinteresse é um sintoma da rejeição operada por uma escola incapaz de administrar as novas formas de existência social. O desinteresse seria a resposta de uma escola projetada para um tempo histórico, mas ocupada por sujeitos reais constituídos de ciberidentidades. Os jovens iniciam sua trajetória na escola com expectativas e uma visão positiva da escola, mas sua experiência escolar não lhes possibilita a apropriação de saberes como imaginavam. No entanto, é nessa espacialidade que eles vivem intensamente sua juventude, podendo ir da felicidade (principalmente no convívio social com seus pares) ao tédio (atividades entediantes que não exigem participação ativa). O desafio está em integrar as tecnologias digitais na totalidade, pois, se não se pode reverter o seu avanço, é possível usá-las a favor de uma educação crítica, inclusiva e protagonista.

CATEGORIA 5: DESINTERESSE, PROCESSO DE APRENDIZAGEM E RELAÇÃO PROFESSOR/A E ESTUDANTE

Os 13 trabalhos da categoria destacam a centralidade dos elementos da relação pedagógica e afetiva entre professores e alunos no desencadeamento do (des)interesse escolar. Um dos argumentos centrais desses trabalhos é que a escola e seus profissionais priorizam o aspecto cognitivo em detrimento do afetivo na relação pedagógica, ignorando que contextos emocionalmente positivos ou negativos interferem na aprendizagem.

Outra ideia partilhada pelas pesquisas é que o modo com que se estabelece a relação educativa com o professor em uma posição superior e os alunos em uma posição passiva é determinante para o desinteresse. O argumento para superar esse quadro é que o docente deve exercer um papel de mediador de conhecimentos, abandonando a concepção bancária de educação para dialogar com as experiências, realidade e interesses dos alunos (Campos, 2020CAMPOS, Pedro Henrique Oliveira de. Diálogos sobre indisciplina e desinteresse escolar: o caso de uma escola pública em Mariana (MG). 2020. 167 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2020.). Esse argumento é reforçado pelo modo como a internet reconfigura o papel do professor, pois a escola deixou de ser a "guardiã" do conhecimento, visto que agora há uma pluralidade de saberes disponíveis de modo difuso na esfera social e virtual (Costa, 2014COSTA, Gabriela Gomes da Silva. O que toca essa geração touch? Uma reflexão hipertextual sobre as novas práticas de leitura e escrita na era digital. 2014. 259 f. Dissertação (Mestrado em Literatura, Cultura e Contemporaneidade) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.). Isso traz desafios ao sistema educativo, que levam à resistência da escola no uso de tecnologias e ao desinteresse dos alunos pela posição passiva em que eles são colocados. Em vez de reproduzir um discurso de tecnofobia, cabe à escola perceber o potencial educativo do ciberespaço, pois na informalidade das redes sociais há intensa troca de saberes e a construção de uma inteligência coletiva.

A atenção à afetividade também aparece como elemento crucial a ser considerado na abordagem do desinteresse escolar. Diversas pesquisas mostram que problemas no vínculo afetivo entre professor e aluno são determinantes para a falta do desejo de aprender, como exemplificam Morales e Alves (2016MORALES, Maria de Lourdes; ALVES, Fábio Lopes. O desinteresse dos alunos pela aprendizagem: uma intervenção pedagógica. In: GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ. Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do professor PDE. [S.l.]: Secretaria da Educação, 2016. p. 01-08.). Nesse estudo, um aluno considerado "difícil" e desinteressado experimentou uma mudança significativa ao receber um elogio, o que resultou em uma proximidade afetiva com o docente e um aumento notável no interesse pelo componente curricular. Outro exemplo relevante é a pesquisa de Silva (2016SILVA, Andrea Carla Castro e. A relação dos jovens com a cultura escolar e os sentidos da escola para estudantes de uma classe de correção de fluxo escolar. 2016. 174 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2016.), que revelou como alunos desinteressados e desrespeitosos no ensino regular puderam ressignificar positivamente o sentido da escola ao vivenciarem relações afetuosas, pautadas no respeito e na parceria, com seus novos professores em uma classe de correção de fluxo. Resultado semelhante ao de Reis (2012REIS, Rosemeire. Experiência escolar de jovens/alunos do ensino médio: os sentidos atribuídos à escola e aos estudos. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 38, n. 3, p. 637-652, jul./set. 2012. https://doi.org/10.1590/S1517-97022012000300007
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), que identificou que o prazer de estudar dos estudantes varia conforme a disciplina com que se identificam ou as características pessoais do docente. Por fim, os pais e/ou responsáveis também têm um peso na valorização da escolarização, na medida em que são figuras de autoridade que servem de modelo aos adolescentes, que buscam ter suas atividades valorizadas por eles (Crochick, 2011CROCHICK, Nicole. Interesse de saber: um estudo com adolescente do ensino médio. 2011. 129 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.).

Assim, as pesquisas atestam que práticas que rompem com hierarquias nas relações em sala de aula (Souza, 2020SOUZA, Amanda Fernandes de. Ensino Médio noturno e seus desafios: diálogos com as práticas cotidianas. 2020. 116 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, 2020.), reconhecendo os alunos como sujeitos de aprendizagem e valorizando a empatia, paciência e a confiança (Iglesias e Silva, 2021IGLESIAS, Andrea; SILVA, Verónica. Docentes y estudiantes en busca de respeto. Un análisis de los vínculos intergeneracionales en contextos de desigualdad de las escuelas secundarias argentinas. Revista de Educación, Mar del Plata, v. 12, n. 22, p. 149-169, 2021.), investindo em relações afetivas acolhedoras (Campos, 2020CAMPOS, Pedro Henrique Oliveira de. Diálogos sobre indisciplina e desinteresse escolar: o caso de uma escola pública em Mariana (MG). 2020. 167 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2020.) e que usem atividades lúdicas com a presença de um docente animado e atencioso, têm o potencial de criar um contexto educativo menos desinteressante.

Por sua vez, Uller e Rosso (2009ULLER, Waldir; ROSSO, Ademir José. A interação da afetividade com a cognição no ensino médio. Schème, Revista Eletrônica de Psicologia e Epistemologia Genéticas, Marília, v. 2, n. 3, p. 195-220, jan./jul. 2009. https://doi.org/10.36311/1984-1655.2009.v2n3.580
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) avaliam como a afetividade influencia na aprendizagem dos adolescentes. Citam o caso de uma aluna que recebeu um comentário racista de uma professora de matemática; e de uma aluna que recebeu avaliação negativa de uma atividade de literatura na frente de seus colegas. Nesses dois casos, o pertencimento a um grupo foi abalado e ocorreu desinteresse nas respectivas disciplinas de matemática e literatura, que perdurou por anos subsequentes. Os autores também abordam um exemplo de afetividade positiva: um aluno que se identifica com a criatividade e empenho de um docente e, assim, não poupa energias para seguir o seu exemplo. Dessa forma, Uller e Rosso (2009ULLER, Waldir; ROSSO, Ademir José. A interação da afetividade com a cognição no ensino médio. Schème, Revista Eletrônica de Psicologia e Epistemologia Genéticas, Marília, v. 2, n. 3, p. 195-220, jan./jul. 2009. https://doi.org/10.36311/1984-1655.2009.v2n3.580
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) confirmam a tese de Piaget (2014PIAGET, Jean. Relações entre a afetividade e a inteligência no desenvolvimento mental da criança. Rio de Janeiro: Wak, 2014.): a emoção afeta a relação do aluno com a cognição, evidenciando o papel significativo que os professores podem desempenhar no (des)interesse dos estudantes pelas áreas do conhecimento.

CATEGORIA 6: PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES DOCENTES SOBRE ESTUDANTES DESINTERESSADOS

Os 11 trabalhos da categoria identificam práticas e representações sociais de professores sobre o desinteresse escolar. O ponto em comum dos achados dessas pesquisas é que os professores atuam com pouca diversidade metodológica e, em suas representações sociais, culpabilizam os estudantes e suas características geracionais e seu contexto familiar pelo desinteresse. Ocorre uma espécie de heliocentrismo docente, pois, como conclui Tenti Fanfani (2010TENTI FANFANI, Emilio. Los que ponen el cuerpo. El profesor de secundaria en la Argentina actual. Educar em Revista, Curitiba, v. 26, n. especial 1, p. 37-76, 2010., p. 55), os professores esperam que os estudantes se adaptem a sua didática, ou seja, os alunos "têm que estar à altura do conhecimento que oferece o professor".

No que tange à prática docente, os trabalhos expõem que os professores, apesar de concordarem que o uso de metodologias ativas facilita a aprendizagem dos estudantes, não dominam os referenciais. Atuam de maneira desordenada e fragmentada (Silva, J. P., 2020SILVA, Jefferson Pereira da. Elementos do ensino de ciências por investigação na prática de professores de ciências da natureza. 2020. 137 f. Dissertação (Mestrado em Ensino) – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso/IFMT, Cuiabá, 2020.), priorizando um ensino pautado na memorização e no uso do livro didático, o que leva ao desinteresse, reagindo com atitudes coercitivas que não surtem o efeito esperado para interessar os alunos e acabam desencadeando um clima de tensão em sala (Gutiérrez Álvarez, 2020GUTIÉRREZ ÁLVAREZ, Edith. Representaciones sociales sobre las y los adolescentes: voces del estudiantado aprendiz de maestro o maestra en el marco de su práctica docente en la escuela secundaria. Revista Educación, San José, v. 45, n. 1, p. 242-256, dez. 2020. https://doi.org/10.15517/revedu.v45i1.41831
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).

É hegemônica nas representações sociais de professores a culpabilização pessoal dos alunos e de suas famílias pelo desinteresse, ao mesmo tempo que eles negam sua parcela de responsabilidade pelo resultado do processo falhado de ensino e aprendizagem (Santos, 2013; Campos, 2020CAMPOS, Pedro Henrique Oliveira de. Diálogos sobre indisciplina e desinteresse escolar: o caso de uma escola pública em Mariana (MG). 2020. 167 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2020.). O interesse, nessas representações, não é resultado do processo relacional de ensino e aprendizagem, e sim um pré-requisito pedagógico. É um discurso caracterizado pela desesperança e vitimização docente, que conduz ao imobilismo e à desistência de pensar o problema, pois concebe a escola como reflexo de fatores sociologizantes. Santos (2013) comenta que o desinteresse é para os professores a negação e a indiferença ao seu trabalho despendido, gerando quebra de expectativa, inadequação de esforços e sentimento de impotência. Contudo, o autor notou indícios de uma representação minoritária, em que o desinteresse é pensado no contexto pedagógico e relacional, que gera uma atitude proativa de aperfeiçoamento de práticas e de diálogo com os estudantes para identificar seus problemas e interesses.

Achados significativos são sistematizados por Tenti Fanfani (2010TENTI FANFANI, Emilio. Los que ponen el cuerpo. El profesor de secundaria en la Argentina actual. Educar em Revista, Curitiba, v. 26, n. especial 1, p. 37-76, 2010.) ao realizar uma análise sobre os docentes da escola secundária argentina no contexto da crise do modelo tradicional da escola e do ensino médio. O pesquisador argentino lembra da mudança de função do sistema de ensino médio, que foi concebido no início do século XX para formar elites para as universidades. As avaliações distinguiam os exitosos dos fracassados, e a exclusão dos mais fracos e inaptos para a cultura escolar era fato comum. Prêmios e castigos eram distribuídos, buscando reforçar os valores de "talento", "esforço" e "mérito". No ensino democratizado, porém, o ensino não pode mais cumprir uma função seletiva em que os problemas de aprendizagem, desinteresse e indisciplina sejam abordados exclusivamente pela via da repetência escolar ou da exclusão. Apesar das mudanças nas condições sociais e no perfil dos alunos, o autor explica que as concepções docentes não acompanharam essas mudanças, permanecendo presas a um saudosismo da educação elitista de antigamente.

Além disso, o discurso reverberado por professores da escola como "ascensor social" perdeu eficácia. Perante um mercado de trabalho neoliberal restrito, o diploma já não é mais garantia de recompensa, o que leva ao desencanto e ao desestímulo ao esforço. Diante disso, os professores, em vez de questionarem a necessidade de mudanças na escola ou sociedade, projetam discursos pessimistas a respeito das novas gerações e da decadência de seus valores éticos e morais. Os docentes culminam em afirmações radicais como a de que "os alunos de hoje não se interessam por nada!" (Tenti Fanfani, 2010TENTI FANFANI, Emilio. Los que ponen el cuerpo. El profesor de secundaria en la Argentina actual. Educar em Revista, Curitiba, v. 26, n. especial 1, p. 37-76, 2010., p. 62). São representações sintomáticas do mal-estar docente, que servem de obstáculo para a construção de um vínculo educativo com as novas juventudes.

CATEGORIA 7: IMPLICAÇÕES DO DESINTERESSE DO ALUNO NA ATIVIDADE E SAÚDE DOCENTE

Os 14 trabalhos da categoria abordam as implicações do desinteresse escolar nas atividades dos educadores, apontando-o como um dos principais fatores que contribuem para o mal-estar docente na atualidade. A falta de disposição em aprender dos alunos paralisa as forças do professor e causa angústia, pois o desinteresse é compreendido como a negação dos esforços empreendidos, levando a sentimentos de desconforto, estresse, insatisfação e desânimo (Lima, 2011LIMA, Eloane Coimbra. Os sentimentos do professor gerados pelas suas vivências na prática docente: um estudo com docentes em uma escola pública no Piauí. 2011. 97 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade de Fortaleza, Fortaleza, 2011.). Diante disso, o professor perde a vontade de agir, o que leva à desmotivação para o seu aprimoramento profissional e gera atitudes de comodismo, conformismo e imobilismo (Carvalho, 2010CARVALHO, Eliana Márcia dos Santos. Reflexões sobre a resistência à prática docente de língua Inglesa no interior da Bahia. 2010. 163 f. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem) – Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010.). O desinteresse é apontado como o maior problema da profissão docente na atualidade e o principal obstáculo do professor em início de carreira, que o faz cogitar até a desistência do ofício (Voltero, 2018VOLTERO, Kelli Mileni. Os conflitos de uma professora de Língua Portuguesa em início de carreira pública reconfigurados em duas entrevistas. 2018. 195 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", São José do Rio Preto, SP, 2018.).

Tudo isso leva o professor a optar pela simplificação dos conteúdos ensinados (Bernardo, 2019BERNARDO, Aline Cajé. O inglês e seu ensino na escola pública: os sentidos atribuídos pelos professores. 2019. 331 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Sergipe, São Cristóvão, 2019.), o que repercute em insatisfação no trabalho. O desinteresse é sentido como uma violência simbólica dolorosa, pois o professor interpreta a ausência do outro na relação pedagógica como um ataque, um não reconhecimento do seu papel de educador, como se ele pudesse ser descartado e facilmente substituído por novas tecnologias ou outros recursos (Branco, 2014BRANCO, Maria de Fátima Ferrão Castelo. Violências escolares: falas de educadores. 2014. 79 f. Tese (Doutorado em Psicologia Clínica) – Universidade Católica de Pernambuco, Recife, 2014.). Disso emerge uma angústia paralisante, na qual o professor se sente derrotado na disputa por atenção com outros componentes curriculares, com as novas tecnologias e todas as distrações da sociedade do consumo (Silva, M. V. P., 2020SILVA, Jefferson Pereira da. Elementos do ensino de ciências por investigação na prática de professores de ciências da natureza. 2020. 137 f. Dissertação (Mestrado em Ensino) – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso/IFMT, Cuiabá, 2020.). Assim, a situação generalizada de desinteresse pode levar os docentes para quadros de sofrimento moral, psíquico e físico, reforçando a situação de proletarização da profissão e levando a uma crise profunda da identidade docente (Silva, 2013SILVA, Iêda Fátima. Sofrimento psíquico e mal-estar docente: uma interface com o trabalho, a saúde e a família. 2013. 182 f. Dissertação (Mestrado em Família na Sociedade Contemporânea) – Universidade Católica do Salvador, Salvador, 2013.).

As transformações sociais, culturais e econômicas da atualidade exigem transformações da escola e atribuem novas responsabilidades para o professor efetivar um trabalho de qualidade (Lima, 2011LIMA, Eloane Coimbra. Os sentimentos do professor gerados pelas suas vivências na prática docente: um estudo com docentes em uma escola pública no Piauí. 2011. 97 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade de Fortaleza, Fortaleza, 2011.), sendo ele chamado para responder a exigências que vão além da sua formação. Com isso, os professores perdem sua identidade profissional e renunciam ao papel de educar ao custo de desgaste mental e decepção. Com isso, percebe-se que há uma cadeia cismogenética (Bateson, 2008BATESON, Gregory. Naven: um exame dos problemas sugeridos por um retrato compósito da cultura de uma tribo da Nova Guiné, desenhado a partir de três perspectivas. São Paulo: EDUSP, 2008.): o desinteresse discente desmotiva o docente a inovar e se aprimorar em sala de aula; e a mesmice das aulas aumenta o desinteresse dos estudantes. Com sua imagem degradada e a autoestima baixa ocasionadas pelo desinteresse, a licença de saúde é o último recurso para aliviar o sofrimento psíquico (Silva, 2013SILVA, Iêda Fátima. Sofrimento psíquico e mal-estar docente: uma interface com o trabalho, a saúde e a família. 2013. 182 f. Dissertação (Mestrado em Família na Sociedade Contemporânea) – Universidade Católica do Salvador, Salvador, 2013.).

Por um lado, se a angústia pode levar a um sentimento de paralisia, por outro lado ela também pode despertar uma sensação de lacuna que impulsiona os docentes a buscar a ressignificação de suas práticas em sala de aula. Nesse contexto, trata-se de um ato de resiliência, em que, mesmo diante do desconforto, os educadores se mobilizam para aprimorar sua abordagem educativa.

CATEGORIA 8: DESINTERESSE ASSOCIADO À INDISCIPLINA, ABANDONO, EVASÃO E DESEMPENHO ESCOLAR

O desinteresse é abordado nas pesquisas desta categoria associado a elementos do fracasso escolar, tais como evasão (12), baixo desempenho escolar (6) ou indisciplina (4). Os 22 trabalhos categorizados demonstram com base em análises pluridisciplinares a interconexão destes fenômenos. Com a análise dos achados dessas pesquisas, torna-se evidente que a falta de sentido atribuída à escolarização (abordada na categoria 4) é o cerne do desinteresse nas atividades pedagógicas, que pode seguir dois caminhos: comportamentos indisciplinados que reconfiguram a sensação de exclusão na escola, ou a evasão e exclusão da escola em razão de pressões ou oportunidades externas.

Um dos fatores que associam o desinteresse à indisciplina é o fato que os alunos, ao serem expostos a atividades pedagógicas passivas, acabam concebendo que estudar se resume a copiar conteúdos em seus cadernos — prática que dificulta a aprendizagem e que abre oportunidade para comportamentos de indisciplina, ou seja, o desinteresse atua como combustível da indisciplina (Belém, 2008BELÉM, Rosemberg Cavalcanti. Representações sociais sobre indisciplina escolar no ensino médio. 2008. 112 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2008.). Na mesma linha, Ferreira (2019FERREIRA, Adriano Charles. As representações sociais dos alunos do 9° ano com indícios de minorias ativas em relação à indisciplina escolar. 2019. 248 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2019.) corrobora esse argumento demonstrando que durante as "aulas chatas" e "sem sentido" é que ocorre uma identificação da turma com os alunos indisciplinados, que passam a ocupar uma posição de "populares" e de "minoria ativa", incentivando conversas paralelas e brincadeiras. Por meio disso, ressignifica-se a exclusão da aprendizagem para uma prática social de vivências juvenis.

Além disso, o desinteresse é apontado como uma das principais causas da evasão escolar no Brasil (Oliveira, 2016OLIVEIRA, Laenia Chagas de. Evasão escolar: identificando causas e propondo intervenções. 2016. 89 f. Dissertação (Mestrado em Teologia) – Faculdades EST, São Leopoldo, 2016.) e países latino-americanos (García Fernández et al., 2016GARCÍA FERNÁNDEZ, José Manuel; INGLÉS, Cándido J.; LAGOS SAN MARTÍN, Nelly; GONZÁLVEZ, Carolina; VICENT, María; GÓMEZ NÚÑEZ, María Isabel. Diferencias de género y edad en rechazo escolar en una muestra de adolescentes chilenos. Estudios Pedagógicos, Valdivia, v. 42, n. 1, p. 127-137, 2016. https://doi.org/10.4067/S0718-07052016000100008
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). Como o aluno em desinteresse está excluído da aprendizagem, quanto mais alternativas externas à escola são vistas como promissoras, maior é a tendência do aluno a optar pelo abandono da escolarização. As pesquisas apontam a relevância de ferramentas preventivas da evasão escolar, como repensar o processo de avaliação e fortalecer recuperações paralelas.

Uma pesquisa com achados valiosos é a da pesquisadora Ratusniak (2019RATUSNIAK, Célia. Processos por abandono intelectual e os efeitos da judicialização da evasão escolar: gênero, raça, classe social e as biopolíticas que produzem o fracasso escolar e as expulsões compulsórias. 2019. 271 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2019.), que contesta a culpabilização individual dos estudantes, defendendo que eles não são evadidos da escola, mas sim expulsos. Analisando processos judiciais de evasão e partindo de uma perspectiva foucaultiana, ela considera que o desinteresse pela escola é resultado do fracasso desta em ensinar os alunos de diferentes gêneros, raças e classes sociais. O argumento é que esses estudantes vão sofrendo micropunições por não aprenderem ao longo da trajetória escolar (notas baixas, não combate ao bullying, racismo ou homofobia, reprovações) até que a permanência na escola se torne insuportável. Quem possui o capital cultural esperado pela escola permanece; quem não possui e não se adapta, sofre expulsão compulsória. Outro achado foi constatar que a justificativa dada pelos alunos negros do desinteresse como motivo da evasão sempre esteve associada a outros motivos, como problemas com colegas e ameaças, evidenciando a presença de bullying e racismo no processo de expulsão escolar. A pesquisadora convida a olhar o desinteresse discente como uma denúncia: a de uma escola que não funciona para aquele perfil de aluno. Assim, é essencial romper com o discurso neoliberal que coloca a culpa do fracasso escolar nos sujeitos, ocultando as práticas excludentes que levam à evasão.

Dessa forma, o desinteresse e a apatia dos estudantes podem ser sintomas de dificuldades de aprendizagem, funcionando como forma de negação dessas dificuldades (Rezende e Carvalho, 2012REZENDE, Andréia Botelho de; CARVALHO, Marília Pinto de. Meninos negros: múltiplas estratégias para lidar com o fracasso escolar. Sociologia da Educação: Revista Luso-Brasileira, Rio de Janeiro, v. 3, n. 5, p. 59-89, out. 2012.). Nessa linha, Brito (2016BRITO, Rosemeire dos Santos. Rapazes negros e pobres na educação de jovens e adultos: um estudo sobre a relação entre masculinidades e raça. Educação Unisinos, v. 20, n. 2, p. 224-233, maio/ago. 2016. https://doi.org/10.4013/edu.2016.202.7191
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) identificou que, como forma de resistir às formas de discriminação e ao estigma do fracasso escolar, estudantes negros muitas vezes adotavam comportamentos "antiescolares" por meio da construção de masculinidades que valorizavam o esporte, a esperteza e o desinteresse pelos estudos. Com isso, esses adolescentes consideravam a dedicação aos estudos um símbolo de afeminação e o tipo de inteligência valorizada era a esperteza, visão segundo a qual boas notas não devem ser obtidas com empenho, mas sim com "malandragem". Tais achados são semelhantes aos resultados da clássica investigação de Robilson e Tayler (1986ROBILSON, William Peter; TAYLER, Carol Ann. Auto-estima, desinteresse e insucesso escolar em alunos da Escola Secundária. Análise Psicológica, Lisboa, v. 5, n. 1, p. 105-113, 1986.) em escolas da Inglaterra sobre o redirecionamento da energia dos alunos em situação de fracasso escolar para atitudes de maturidade precoce. Em suma, os achados de pesquisa da categoria denotam a importância do estudo do tema, pois o desinteresse, a evasão e a indisciplina podem revelar uma série de questões sociais e culturais, não sendo apenas um problema individual e de simples vontade do estudante.

CATEGORIA 9: DESINTERESSE COMO CONSTRUÇÃO HISTÓRICA LIGADA A ASPECTOS SOCIAIS/PATOLÓGICOS

Os 14 trabalhos desta categoria partem de análises da escala macrossociológica, relacionando o desinteresse ao contexto social, histórico ou patológico dos alunos. São produções que demonstram como a realidade socioeconômica dos estudantes interfere de forma direta no desinteresse e valorização da escola. O desinteresse não é tratado apenas como problema técnico e individual do docente ou do psicológico do aluno, mas como resultado de implicações socioculturais, demandando a construção de políticas públicas educacionais e de um currículo em consonância com os desafios da sociedade contemporânea.

A tese sobre como o capitalismo engrena uma ordem de valores opostos à cultura da educação formal é o foco das pesquisas de Silva (2010SILVA, César Augusto Alves da. Indústria cultural, educação escolar e currículo: a contradição ocultada e o desinteresse dos alunos pela educação formal. 2010. 175 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010.) e Reis (2014REIS, Roseli Regis dos. Juventude e conhecimento escolar: um estudo sobre o (Des)interesse. 2014. 304 f. Tese (Doutorado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2014.). Esses autores problematizam o fato de que a formação socioeconômica capitalista não necessita de sujeitos escolarizados, mas sim de consumidores. Nesse caso, os sujeitos recebem uma semiformação da indústria cultural e acabam interessando-se por outros valores oriundos das relações de consumo e prazer hedonistas, manifestando desinteresse pelo conhecimento científico.

Por sua vez, Frankiv e Domingues (2016FRANKIV, Marianna Angonese; DOMINGUES, Soraya Corrêa. Desinteresse e proposições para escola atual: contribuições do pensamento complexo. Revista Tempos e Espaços em Educação, São Cristóvão, v. 9, n. 19, p. 113-128, 7 set. 2016. https://doi.org/10.20952/revtee.v9i19.5600
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) consideram que a escola, permeada pela condição pós-moderna, necessita de mudanças para diminuir o desinteresse escolar: a. no currículo escolar (propondo a transdisciplinaridade e o pensamento complexo para superar a fragmentação); b. no tempo e espaço escolar (que são preestabelecidos e engessados, não acompanhando a velocidade e liquidez de informações da sociedade atual); c. nos conteúdos escolares (que são reducionistas e desvinculados da realidade dos alunos); d. na relação entre aluno e professor (entendendo o ser humano como multifuncional e atentando-se à multiplicidade de afetos e emoções dos sujeitos). Trevisan (2019TREVISAN, Marlon Dantas. Relações entre o esvaziamento da função simbólica e o desinteresse discente pelas rotinas escolares. Educação em Foco, Belo Horizonte, v. 22, n. 36, p. 113-131, 2019.) também partilha da crítica de que o currículo "aristocrático, formal, distante do vivido" (p. 118) leva a uma degeneração simbólica dos conteúdos escolares que seria a responsável pelo desinteresse discente. Para esse autor, a escola impõe um arbitrário cultural elitista, valorizando o saber epistêmico intelectual, desvalorizando experiências culturais ligadas a atividades manuais e práticas do vivido, o que leva à marginalização cultural dos alunos das classes populares.

Outras produções apontam como as mazelas sociais do capitalismo são barreiras que explicam o desinteresse de alunos em situação de vulnerabilidade social. Os achados dessas pesquisas sugerem que o desinteresse pode estar associado a eventos estressores do âmbito familiar e social dos estudantes (Melo, 2018MELO, Talícia Calais Vaz de. Estudo sobre o desempenho escolar a partir dos aspectos evidenciados na relação família e escola. 2018. 106 f. Dissertação (Mestrado em Economia Doméstica) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2018.), como separação dos pais, necessidade de ingresso precoce no mercado de trabalho, analfabetismo e desemprego (ou emprego precário) dos familiares (Menez, 2018MENEZ, Ingrid Cristian da Silva Bezerra. Adolescentes de comunidades vulneráveis: a presença da efetiva inclusão educacional em suas vidas. 2018. 90 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2018.) e casos de gravidez e uso de substâncias psicoativas. Outras pesquisas desvelam graves ataques aos direitos das crianças e adolescentes que acabam impactando o interesse, como a exploração sexual juvenil em comunidades ribeirinhas da Amazônia (Vieira, 2011VIEIRA, Andréea Silva. Representações sociais de jovens-alunos de uma escola ribeirinha sobre exploração sexual juvenil nas balsas do Marajó e as implicações nas suas escolarizações. 2011. 169 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Pará, Belém, 2011.) e práticas de homofobia no contexto escolar, que acabam sendo mascaradas ao serem classificadas como desinteresse dos estudantes LGBT (Ramos, 2019RAMOS, Ramon Fernandes. Marcas da LGBTfobia na escola: análise de histórias orais de alunos/as LGBTT em uma escola da periferia de Fortaleza. 2019. 191 f. Dissertação (Mestrado em Humanidades) – Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Redenção, 2019.).

Por fim, englobaram-se nesta categoria pesquisas que relacionam o desinteresse a questões patológicas e/ou de saúde dos estudantes. Analisando questões individuais, essas produções demonstram que o desinteresse pode estar associado às manifestações da síndrome de burnout, consequência do desgaste mental e físico a que os alunos estão expostos (Rosales Ricardo e Rosales Paneque, 2014ROSALES RICARDO, Yury; ROSALES PANEQUE, Fredy Rafael. Hacia un estudio bidimensional del Síndrome de Burnout en estudiantes universitarios. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, n. 12, p. 4767-4775, dez. 2014. https://doi.org/10.1590/1413-812320141912.18562013
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); e a transtornos por conta dos efeitos do isolamento social da pandemia do COVID-19 (Pérez Santos e Quiñones Macías, 2020SANTOS, Edvanderson Ramalho dos. Representações sociais de professores do ensino básico sobre a indisciplina escolar. 317 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2013.). Logo, as causas do desinteresse superam os muros da escola, cabendo a toda sociedade a construção de estratégias de enfrentamento desses problemas para a defesa dos direitos humanos das crianças e adolescentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O levantamento da produção sobre desinteresse escolar em artigos de periódicos, dissertações e teses revelou que a discussão da temática vem aumentando nos últimos anos na América Latina, dada a relevância do tema e sua relação com o fracasso e a evasão escolar. A análise dos 188 trabalhos denota a pluralidade de abordagens sobre o desinteresse, que pode ser entendido como um problema psíquico (culpabilização aluno); problema técnico (culpabilização professor); questão institucional (gestão escolar, lógica excludente da escola); e problema político e/ou social (currículo, cultura escolar, relações de poder). É essencial entender o desinteresse como um fenômeno complexo, que requer ações integradas e estratégias abrangentes. Isso envolve formação de professores, currículo relevante e contextualizado, diálogo participativo e ambientes escolares inclusivos.

O panorama da produção acadêmica revela múltiplas causas e soluções para o desinteresse escolar, abrangendo desde relações na sala de aula até questões macro, como o currículo e o papel da sociedade. Entre os princípios pedagógicos recorrentes para lidar com o desinteresse, destacam-se: o professor como mediador do conhecimento, metodologias ativas, aulas práticas e contextualizadas, integração de tecnologias e a importância da sociabilidade e afetividade na escola. Especialmente a vida social e afetiva dos estudantes desempenha um papel crucial em sua relação com a educação, uma vez que experiências escolares afetivas anteriores podem facilitar ou bloquear a aprendizagem e o interesse/desinteresse pelos estudos.

Além disso, ao que indicam várias produções, o desinteresse pelo conhecimento ofertado pela escola amplia-se durante a trajetória acadêmica, pois apesar de os jovens reconhecerem a importância dos estudos para um futuro melhor eles sentem que recebem uma formação sem sentido, que coloca muitos no não lugar de aprendizagem, levando-os ao desinteresse. Como se espera que a escola prepare os jovens para a vida social em suas múltiplas dimensões, é preocupante o desencanto deles ao longo da escolarização.

A revisão de literatura permite-nos afirmar que o desinteresse é uma construção histórica influenciada por condições sociais, sendo um problema multicausal que envolve várias dimensões da sociedade, ultrapassando a questão da relação pedagógica entre professor e aluno. Nesse contexto, questiona-se o currículo defasado e engessado da escola diante da liquidez de um tempo e de uma nova geração com novas demandas, para as quais a escola não está preparada. Diante deste quadro, urge a necessidade de ressignificação dos tempos e espaços escolares, com a proposição de currículos que levem em consideração a realidade e diversidade dos estudantes.

Apesar da diversidade de abordagens explicativas sobre o desinteresse, constatou-se que poucas pesquisas esclarecem o referencial teórico que embasa o conceito do que seria o (des)interesse. Nota-se em muitos trabalhos analisados o entendimento implícito de que o interesse é algo preexistente, inato, que bastaria ser despertado ou "pescado", ignorando-se que ele é fruto de processos de interação, construção e atividade interna do sujeito (Piaget, 2014PIAGET, Jean. Relações entre a afetividade e a inteligência no desenvolvimento mental da criança. Rio de Janeiro: Wak, 2014.). Assim, revisar historicamente o conceito de interesse ou investigar como o desinteresse escolar é abordado em trabalhos acadêmicos é chave para potencializar ações com instrumentos conceituais claros para o enfrentamento do problema, visando à promoção de uma educação mais inclusiva, engajadora e significativa para todos os estudantes.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Set 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    11 Dez 2022
  • Revisado
    17 Jun 2023
  • Aceito
    20 Jun 2023
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