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TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL DA RESILIENCE AT WORK SCALE PARA O PORTUGUÊS DO BRASIL

RESUMO

Objetivo:

realizar a tradução e adaptação transcultural da Resilience at Work Scale para o contexto brasileiro.

Método:

estudo metodológico, em que foram executadas as etapas da equivalência conceitual, de itens, semântica e operacional. A Resilience at Work Scale é uma escala Likert de sete pontos, composta por 25 itens em sua versão longa e 20 itens na versão curta. O teste-reteste foi aplicado a uma amostra de 45 docentes e trabalhadores da saúde. Para esta avaliação, utilizou-se o coeficiente Kappa ponderado com ponderação quadrática, e correlação intraclasse.

Resultados:

a adaptação dos 25 itens da Resilience at Work Scale pautou-se nas fases tradução, retrotradução, avaliação externa, comitê de especialistas, pré-testes e confiabilidade teste-reteste, verificando as equivalências entre o instrumento original e o adaptado. Dois itens, inicialmente, apresentaram clareza inferior a 90%. Eles foram reajustados e novo pré-teste indicou resultado satisfatório. O coeficiente de correlação intraclasse geral da Resilience at Work Scale foi de 0,83.

Conclusão:

a versão final da Resilience at Work Scale 25 - Brasil mostrou-se promissora e com adaptação adequada à cultura brasileira para mensuração da resiliência no trabalho. Trata-se de uma Tecnologia Emancipatória, pois possibilita concretizar conhecimentos que contribuem quanto ao pensar, ao refletir e ao agir diante de um processo de saúde/doença, seja individual ou coletivo.

DESCRITORES:
Resiliência psicológica; Saúde do trabalhador; Trabalho; Tradução; Inquéritos e Questionários; Estudos de Validação

ABSTRACT

Objective:

to translate and cross-culturally adapt the Resilience at Work Scale for the Brazilian context.

Method:

Methodological study comprising the stages of conceptual, item, semantic, and operational equivalences. Resilience at Work Scale is composed of 25 items (long version) and 20 items (short version), rated on a seven-point Likert scale. A test-retest was applied to a sample of 45 educators and health workers. Quadratic weighted Kappa and intraclass correlation were used.

Result:

The adaptation of the 25 items followed the phases of translation, back translation, external assessment, expert committee, pre-tests, test-retest reliability, and equivalence between the original and adapted versions. Two items initially showed less than 90% comprehensibility, but satisfactory results were obtained in a new pre-test after adjustments. The overall Intraclass correlation coefficient was 0.83.

Conclusion:

The final version of the Resilience at Work Scale 25-Brasil was properly adapted to the Brazilian culture to measure resilience at work. It is an Emancipatory Technology as it enables the implementation of knowledge that contributes to thinking, reflecting, and acting in the face of the individual or collective health-disease continuum.

DESCRIPTORS:
Resilience psychological; Occupational health; Work; Translation; Surveys and questionnaires; Validation study

RESUMEN

Objetivo:

realizar la traducción y adaptación transcultural de la Resilience at Work Scale para el contexto brasileño.

Método:

estudio metodológico, en el cual fueron realizadas las etapas de equivalencia conceptual, de ítems, de semántica y operacional. La Resilience at Work Scale es una escala Likert de siete puntos, compuesta por 25 ítems en su versión larga y 20 ítems en la versión corta. El test-retest fue aplicado a una muestra de 45 docentes y trabajadores de la salud. Para esta evaluación, se utilizó el coeficiente Kappa ponderado con ponderación cuadrática y correlación intraclase.

Resultados:

la adaptación de los 25 ítems de la RAW siguió las fases de traducción, retrotraducción, evaluación externa, comité de especialistas, pre-pruebas y confiabilidad test-retest, verificando las equivalencias entre el instrumento original y el adaptado. Inicialmente, dos ítems presentaron clareza inferior a 90%. Ellos fueron reajustados y un nuevo pretest indicó un resultado satisfactorio. El coeficiente de correlación intraclase general de la RAW fue de 0,83.

Conclusión:

la versión final de la Resilience at Work Scale 25-Brasil se mostró promisora y con adaptación adecuada a la cultura brasileña para medir la resiliencia en el trabajo. Se trata de una Tecnología Emancipadora, ya que posibilita concretizar conocimientos que contribuye en lo que se refiere a pensar, reflexionar y actuar delante de un proceso de salud/enfermedad, sea este individual o colectivo.

DESCRIPTORES:
Resilience psicológica; Salud laboral; Trabajo; Traducción; Encuestas y cuestionarios; Estudio de validación

INTRODUÇÃO

O mundo do trabalho contemporâneo é acelerado, digitalizado e interdependente. Carregado de exigências, da necessidade de solucionar situações complexas e de se manter necessário em um mercado em constante transformação. Também é possível descrevê-lo como volátil, incerto, complexo e ambíguo, em que os trabalhadores precisam estar preparados para enfrentar essas demandas11. Mc Ewen K. Resilience at work. A Framework for coaching and interventions. White Paper [Internet]. 2018 [cited 2020 Mar 20]. Available from: https://workingwithresilience.com.au/wp-content/uploads/2018/09/Whitepaper-Sept18.pdf
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. Para o enfrentamento, são requeridas algumas competências, como: autogerenciamento; utilização de recursos diferenciados para o enfrentamento de situações conflitivas ou difíceis; construção de soluções criativas; enfrentamento das tensões, pressões e rupturas que ocorrem nesse ambiente; e reavaliação cognitiva para aumento da resiliência22. Ronchi CC. Qualidade de vida e trabalho: fatores Psicossociais e da Organização. Curitiba, PR(BR): Juruá; 2015..

A resiliência pessoal no trabalho é descrita como a capacidade de gerenciar desafios do cotidiano laboral. Seja gerenciando as incertezas a partir de uma carga de trabalho mais elevada em nível emocional, físico ou psicológico, seja adaptando-se e aprendendo com isso, de forma a preparar-se para futuros desafios pró-ativamente11. Mc Ewen K. Resilience at work. A Framework for coaching and interventions. White Paper [Internet]. 2018 [cited 2020 Mar 20]. Available from: https://workingwithresilience.com.au/wp-content/uploads/2018/09/Whitepaper-Sept18.pdf
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.

Alguns instrumentos foram desenvolvidos para mensurar a resiliência de maneira geral33. Wagnild GM, Young HM. Development and psychometric evaluation of resilience scale. J Nurs Meas [Internet]. 1993 [cited 2020 Mar 20];1(2):165-78. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/7850498/
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-55. Connor KM, Davidson JR. Development of a new resilience scale: the Connor-Davidson Resilience Scale (CD-RISC). Depress Anxiety [Internet]. 2003 [cited 2020 Mar 20];18(2):76-82. Available from: https://doi.org/10.1002/da.10113
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. No entanto, visando a uma avaliação da resiliência mais centrada no ambiente do trabalho, pesquisadores australianos desenvolveram o instrumento Resilience at work Scale (RAW)66. Winwood PC, Colon R, McEwen K. A practical measure of workplace resilience: developing the resilience at work scale. J Occup Environ Med [Internet]. 2013 [cited 2020 Mar 20];55(10):1205-12. Available from: https://doi.org/10.1097/JOM.0b013e3182a2a60a
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. Ela é de fácil aplicação, utilizada para avaliação da resiliência individual no trabalho. Também auxilia na identificação dos elementos de resiliência que podem ser considerados e modificados, a partir da apropriação de habilidades e treinamento66. Winwood PC, Colon R, McEwen K. A practical measure of workplace resilience: developing the resilience at work scale. J Occup Environ Med [Internet]. 2013 [cited 2020 Mar 20];55(10):1205-12. Available from: https://doi.org/10.1097/JOM.0b013e3182a2a60a
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.

A RAW Scale foi publicada recentemente, no idioma inglês. Além da Austrália, tem sido utilizada na Inglaterra, Estados Unidos da América e Sri Lanka77. Working with Resilience. Resilience at Work® Individual Scale [Internet]. [cited 2020 Mar 20]. Available from: https://workingwithresilience.com.au/measure-resilience/rw-scale/
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. Embora esta escala apresente adequada adaptação e uso em outras realidades, no contexto brasileiro ainda são incipientes os estudos com o referido instrumento. Para tanto, o uso de instrumentos teórico-metodológicos, neste caso, de resiliência no trabalho, possibilita identificar subsídios que favoreçam a saúde dos trabalhadores e o enfrentamento de estressores laborais.

Somado a isso, é válido ressaltar que a RAW se insere como Tecnologia Interpretativa de Situações de Clientes (TISC), pois apresenta potencial para identificar problemas inerentes à saúde dos indivíduos. Esta tipologia tecnológica compõe as chamadas Tecnologias Emancipatórias, por concretizarem conhecimentos que, ao serem articulados tecnicamente com propósitos determinados, favorecem o pensar, o refletir e o agir frente ao processo de saúde/doença, individual ou coletivo. Aplicado a este modelo teórico-conceitual, a RAW auxilia o exercício da consciência crítica, autogestão individual com vistas a experienciar a liberdade, autonomia, integridade e estética. Tais aspectos convergem para a busca da qualidade de vida, de modo que os envolvidos possam encontrar a sua autorrealização88. Nietsche EA. Tecnologia emancipatória: possibilidade ou impossibilidade para a práxis em enfermagem? Ijuí, RS(BR): Editora Unijuí; 2000..

Diante do exposto, este estudo tem como objetivo realizar a tradução e adaptação transcultural da Resilience at Work Scale (RAW) para o contexto brasileiro.

MÉTODO

Estudo metodológico, realizado entre outubro de 2017 e abril de 2018. O processo de adaptação transcultural utilizou a perspectiva universalista (equivalências conceitual e de itens, semântica e operacional)99. McEwen K. Building personal resilience as a geoscientist. Appl Earth Sci [Internet]. 2013 [cited 2020 Mar 20];121(4):155-162. Available from: https://doi.org/10.1179/1743275813Y.0000000026
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-1111. Reichenheim ME, Moraes CL. Operationalizing the cross-cultural adaptation of epidemological measurement instruments. Rev Saúde Pública [Internet]. 2007 [cited 2020 Mar 20];41(4):665-673. Available from: https://doi.org/10.1590/S0034-89102006005000035
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, compreendendo a análise inicial dos itens, tradução, retrotradução, avaliação externa, comitê de especialistas e pré-teste1111. Reichenheim ME, Moraes CL. Operationalizing the cross-cultural adaptation of epidemological measurement instruments. Rev Saúde Pública [Internet]. 2007 [cited 2020 Mar 20];41(4):665-673. Available from: https://doi.org/10.1590/S0034-89102006005000035
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-1314. Reichenheim ME, Moraes CL. Qualidade de instrumentos epidemiológicos. In: Almeida- Filho N, Barreto ML. Epidemiologia & Saúde: Fundamentos, Métodos e Aplicações. Rio de Janeiro (BR): Guanabara e Koogan; 2011. p. 150-64..

Inicialmente foi solicitado aos autores da versão original da RAW Scale, via correio eletrônico, a autorização para a realização da adaptação transcultural para a língua portuguesa no Brasil, a qual foi aceita, sem ônus, desde que o uso fosse para fins acadêmicos. A RAW é uma escala Likert de sete pontos (Discordo Totalmente = 0 a Concordo Totalmente = 6), composta por 25 itens em sua versão longa e 20 itens na versão curta. Nas duas versões, eles estão distribuídos em sete domínios (Quadro 1): Living authetically, Finding your calling, Maintainning perspective, Managing stress, Interacting Cooperatively, Staying Healthy e Building Networks11. Mc Ewen K. Resilience at work. A Framework for coaching and interventions. White Paper [Internet]. 2018 [cited 2020 Mar 20]. Available from: https://workingwithresilience.com.au/wp-content/uploads/2018/09/Whitepaper-Sept18.pdf
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,99. McEwen K. Building personal resilience as a geoscientist. Appl Earth Sci [Internet]. 2013 [cited 2020 Mar 20];121(4):155-162. Available from: https://doi.org/10.1179/1743275813Y.0000000026
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.

Quadro 1 -
Domínios da Resilience at Work Scale e seus respectivos conceitos. Brasil. 2018.

Todos os domínios se inter-relacionam e são de igual importância na resiliência global. Cada um deles pode ser melhorado por meio de autoconsciência da eficácia atual, seguida pelo emprego de estratégias específicas11. Mc Ewen K. Resilience at work. A Framework for coaching and interventions. White Paper [Internet]. 2018 [cited 2020 Mar 20]. Available from: https://workingwithresilience.com.au/wp-content/uploads/2018/09/Whitepaper-Sept18.pdf
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,99. McEwen K. Building personal resilience as a geoscientist. Appl Earth Sci [Internet]. 2013 [cited 2020 Mar 20];121(4):155-162. Available from: https://doi.org/10.1179/1743275813Y.0000000026
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. Os trabalhadores podem transitar em todos eles, e as limitações em uma área podem ser compensadas em outras11. Mc Ewen K. Resilience at work. A Framework for coaching and interventions. White Paper [Internet]. 2018 [cited 2020 Mar 20]. Available from: https://workingwithresilience.com.au/wp-content/uploads/2018/09/Whitepaper-Sept18.pdf
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,99. McEwen K. Building personal resilience as a geoscientist. Appl Earth Sci [Internet]. 2013 [cited 2020 Mar 20];121(4):155-162. Available from: https://doi.org/10.1179/1743275813Y.0000000026
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.

Na Figura 1, encontra-se o diagrama do processo de ATC da RAW Scale 25 - Brasil contemplando as equivalências conceitual, de item, semântica e operacional.

Figura 1 -
Síntese das etapas do processo da Adaptação transcultural da RAW Scale 25 - Brasil

Para a equivalência conceitual e de itens foi realizada revisão de literatura ampliada em bases nacionais e internacionais, a fim de contemplar conceitos e instrumentos de mensuração de resiliência no trabalho. Além disso, houve discussão com especialistas em saúde do trabalhador, bem como em psicometria. Assim, foi possível decidir pela ATC da RAW Scale.

Na equivalência semântica, a primeira fase foi a tradução (T) do instrumento do inglês para o português falado no Brasil. Para este fim, de forma independente, dois tradutores bilíngues, tendo como língua materna o português e proficiência em língua inglesa, realizaram as traduções. Os tradutores foram orientados a dar ênfase ao sentido dos termos (equivalência semântica) mais do que à sua literalidade. Além disso, atribuíram notas (entre 0 - nenhuma dificuldade, e 10 - dificuldade máxima) e descreveram o grau de dificuldade na tradução de cada pergunta. Foi realizada reunião de consenso entre os tradutores e as pesquisadoras com o objetivo de se obter uma versão síntese, a partir da análise conjunta das traduções independentes (T-1 e T-2). Essa versão síntese (T-12) foi encaminhada para a retrotradução.

Na segunda fase, a retrotradução (RT), o instrumento foi vertido para o idioma de origem (inglês) por dois tradutores independentes, e sem o conhecimento da escala original. Como critérios para inclusão nesta etapa, os tradutores deveriam ter o inglês como língua materna, proficiência em língua portuguesa e, preferencialmente, serem da área da saúde. Assim, se chegou a duas versões em língua inglesa da versão T-12 do instrumento (RT-1 e RT-2).

Na terceira fase, a versão síntese da tradução (T-12) e as retrotraduções (RT-1 e RT-2) foram enviadas aos autores da RAW Scale. As sugestões dos autores foram acatadas e os itens foram ajustados, tendo-se a primeira versão da RAW na língua portuguesa.

Na quarta fase, foi elaborado um formulário, contendo a versão original da RAW e a versão em português, e enviado ao comitê de especialistas. A avaliação dos especialistas pautou-se pela análise da equivalência semântica, idiomática, cultural e conceitual da RAW Scale traduzida. A cada item, os especialistas podiam assinalar se a versão em português era equivalente, não equivalente ou se não era possível avaliar. Também podiam fazer comentários, caso fosse necessário. Os integrantes do comitê de especialistas foram convidados de forma intencional, com o intuito de integrar profissionais com experiência nas temáticas resiliência e saúde do trabalhador; bem como em estudos de adaptação transcultural. Foram convidados 11 especialistas, contemplando todas as regiões do país; porém, obteve-se retorno de quatro especialistas: três da Região Sul e um da Região Centro-Oeste. Todas as sugestões e opiniões foram anotadas, organizadas e avaliadas pelos pesquisadores.

Após estes procedimentos, considerou-se ter uma versão brasileira da RAW Scale, que poderia seguir para a fase de pré-teste. O pré-teste objetivou avaliar a compreensão dos itens. Para isso, foram convidados 30 profissionais (docentes de cursos técnicos, de graduação e profissionais da área da saúde). Cada participante atribuiu a cada item traduzido da RAW uma das três opções de resposta: Muito clara, Parcialmente Clara ou Sem clareza. Quando o item foi considerado parcialmente claro ou sem clareza, solicitou-se aos participantes que justificassem a falta de clareza, sugerindo uma nova escrita para o item, parafraseando-o. Todos os itens com menos de 90% de compreensão foram revisados e reajustados1212. Reichenheim, M, Bastos, JL. What, what for and how? Developing measurement instruments in epidemiology. Rev Saúde Pública [Internet]. 2021 [cited 2023 Aug 15];55:40. Available from: https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055002813
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-1314. Reichenheim ME, Moraes CL. Qualidade de instrumentos epidemiológicos. In: Almeida- Filho N, Barreto ML. Epidemiologia & Saúde: Fundamentos, Métodos e Aplicações. Rio de Janeiro (BR): Guanabara e Koogan; 2011. p. 150-64.. Assim, uma nova versão foi gerada e submetida a mais uma rodada de pré-teste. No segundo pré-teste, participaram 50 profissionais (docentes e profissionais da saúde). Após a finalização dos pré-testes e reajustes, a versão da RAW Scale 25 - Brasil foi encaminhada aos autores do instrumento original, obtendo-se a sua aprovação.

Para a equivalência operacional, foram avaliadas a pertinência do formato dos itens, a forma de aplicação e as opções de respostas durante a aplicação dos pré-testes, verificando-se com os participantes se o layout da escala estava adequado para o autopreenchimento. Assim, possibilitou também contemplar a validade aparente.

A avaliação da confiabilidade para teste-reteste (estabilidade temporal) da RAW Scale Brasil foi realizada com 45 participantes, utilizando-se de um intervalo de sete a 14 dias entre teste e reteste. Para a seleção dos participantes, utilizou-se uma amostra por conveniência. Em outras palavras, quando os participantes eram convidados para participar do teste, também era feito o convite para o reteste. Para aqueles que aceitavam, já era agendado o dia para a coleta do reteste. Para esta avaliação, utilizou-se o coeficiente Kappa ponderado (κw) com ponderação quadrática, e correlação intraclasse, por possibilitar interpretação equivalente entre ambos. Foram considerados os critérios para interpretação da concordância: a) quase perfeita: 0,80 a 1,00; b) substancial: 0,60 a 0,80; c) moderada: 0,40 a 0,60; d) regular: 0,20 a 0,40; d) discreta: 0 a 0,20; e) pobre: -1,00 a 01413. Landis JR, Koch GG. The measurement of observer agrément for categorical data. Biometrics. 1977;33(1):159-74.. Também foram estimados intervalos de 95% de confiança.

Este estudo está em acordo com a Resolução 466/2012, a qual estabelece padrões para pesquisas envolvendo seres humanos. Possui aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa, bem como autorização dos autores que desenvolveram a RAW Scale66. Winwood PC, Colon R, McEwen K. A practical measure of workplace resilience: developing the resilience at work scale. J Occup Environ Med [Internet]. 2013 [cited 2020 Mar 20];55(10):1205-12. Available from: https://doi.org/10.1097/JOM.0b013e3182a2a60a
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, assim como houve participação somente mediante ciência e assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

RESULTADOS

A RAW Scale foi adaptada transculturalmente para a língua portuguesa do Brasil, sendo nomeada de Escala de Resiliência no Trabalho (RAW Scale 25 - Brasil). As alterações na tradução/retrotradução dos itens foram realizadas tendo por base as sugestões dos especialistas, dos autores da RAW, de docentes e profissionais de saúde, objetivando melhorar a clareza e a compreensão junto à população-alvo.

Na equivalência semântica, primeiramente foi realizada a tradução independente da RAW por duas tradutoras bilíngues, tendo como língua materna o português. Uma das tradutoras é brasileira, atualmente reside na Austrália, tem formação em Letras e doutorado em Linguística; a outra é brasileira, doutora em Enfermagem, com estágio doutoral no Canadá.

Os termos apontados como de maior dificuldade na tradução foram: “Afraid”; “strengths”, “feedback”, “believe”; “its well”, “overshadow”; “sense of purpose in life”, “reliable”. Em reunião de consenso da tradução, discutiram-se os aspectos referentes à semântica, no intuito de garantir o sentido da frase. Assim, também foi possível verificar que os itens que apresentaram maior dificuldade de se chegar a uma concordância entre pesquisadores e tradutores foram: 5, 9, 14, 15, 18, 19, 23.

A versão síntese foi encaminhada para a retrotradução por dois tradutores que tinham como língua materna o inglês, com domínio da língua portuguesa. Um dos retrotradutores possui formação em biologia aplicada no Reino Unido e atualmente trabalha no Brasil com traduções para revistas de enfermagem, o outro é docente, doutor e residente nos Estados Unidos da América. Após as retrotraduções, organizou-se material para a avaliação externa, contendo: versão original, versão síntese das traduções (T-12), retrotradução 1 (RT-1), retrotradução 2 (RT-2). Esse material foi encaminhado aos autores da RAW para avaliação.

Na avaliação externa, os autores da escala indicaram alteração no domínio “Maintaining perspective”. Ele foi traduzido como “Mantendo o foco”, no entanto, “focus” não possui o mesmo sentido de “perspective”, este termo estaria relacionado a “balance”. Desse modo, para atender à equivalência conceitual e semântica, a tradução deste domínio foi alterada para “Mantendo o equilíbrio”.

No item 1, foi apontado que “Hold fast” e “Work life” seriam mais bem traduzidos como “Manter” ou “Preservar” e “vida de trabalho” ou “vida laboral”, respectivamente. Para o item 5, foi apontado que “sense of purpose” está relacionado a “significado”.

No item 7, o autor apontou que o termo “perfectly” seria muito forte, intenso para a proposta do item. Nesse sentido, foi adaptado na tradução para “se ajusta apropriadamente”. Já, no item 9, foi indicada revisão, pois não atendia ao significado pretendido. Assim, foi corrigida a tradução do termo “overshadow” conforme o significado “adversamente”, “negativamente”. No item 12, foi sinalizado que o termo “focus” significa “concentrar-se” e não simplesmente “procurar”.

Após este processo, obteve-se a versão em português que foi submetida à avaliação do comitê de especialistas. Todos eles eram profissionais com experiência na temática resiliência ou saúde do trabalhador, em língua portuguesa e inglesa e com conhecimento na adaptação transcultural de instrumentos. Eles apontaram sugestões quanto aos aspectos de equivalência semântica, idiomática, cultural e conceitual. Foi sinalizada pelos especialistas a sugestão de avaliar alguns termos no pré-teste, de forma a observar a sensação que as palavras causariam nos participantes. Essas observações ocorreram nos itens 16 - “Eu tenho o cuidado de assegurar que meu trabalho não ‘tome conta’ da minha vida pessoal” e 17 - “Eu frequentemente solicito ‘feedback’, para que eu possa melhorar o meu desempenho no trabalho”. Optou-se por aguardar a percepção dos participantes também nos itens 4, 5, 14, 18, 19 e 22. Assim, obteve-se a versão 1 da RAW Scale 25 - Brasil, a qual foi para pré-teste.

No pré-teste, os itens 1 - “Eu tenho valores fundamentais, os quais mantenho na minha vida laboral” e 8 - “Geralmente gosto do que tenho em meu ambiente de trabalho” apresentaram compreensão inferior a 90% (86,6% e 83,3%, respectivamente). A partir dos apontamentos no pré-teste 1, foram realizados os ajustes, a fim de contemplar a melhor compreensão da população-alvo sobre o instrumento. Destaca-se que, mesmo que estes itens não tenham atingido os 90% preconizados, os apontamentos dos participantes do pré-teste 1 não poderiam ser contemplados. No item 1, foi questionado o que seriam “valores fundamentais”, e no item 8 solicitada a explicitação do que seria o “ambiente de trabalho”.

No pré-teste 2, os itens 1 e 8 ampliaram a compreensão (92%, 88% respectivamente). Ao final do pré-teste 2, as versões (pré-teste 1 e pré-teste 2) foram novamente encaminhadas ao autor da RAW Scale, o qual autorizou o uso. A versão original e a versão final da ATC estão apresentadas no Quadro 2.

Quadro 2 -
Versão original e versão final da RAW Scale 25 itens adaptada culturalmente para português do Brasil. Brasil, 2018.

Para as estimativas de reprodutibilidade, a RAW Scale Brasil apresentou médias próximas para teste e reteste. No que se refere ao Kappa com ponderação quadrática (KW), variou de 0,31 a 0,79 (itens 1 e 6, respectivamente), e o coeficiente de correlação intraclasse (CCIC), de 0,31 a 0,80 (itens 1 e 6, respectivamente).

DISCUSSÃO

Neste estudo o objetivo foi realizar a tradução e adaptação cultural da RAW, a qual avalia a resiliência no trabalho. A versão brasileira da RAW mostrou boa aceitação entre os juízes das áreas da Saúde e Linguística Aplicada. O comitê de juízes possibilitou a identificação e correção de problemas na versão traduzida e favoreceu a garantia da equivalência semântica, idiomática, conceitual e cultural do instrumento adaptado, e também proporcionou aprimorar os dados obtidos na fase de pré-teste. A fase de pré-teste foi conduzida por meio de testes face a face, visando adequar culturalmente a escala.

Estudos publicados com o uso da RAW, até o momento, foram: estudo teórico77. Working with Resilience. Resilience at Work® Individual Scale [Internet]. [cited 2020 Mar 20]. Available from: https://workingwithresilience.com.au/measure-resilience/rw-scale/
https://workingwithresilience.com.au/mea...
, estudo de desenvolvimento da escala66. Winwood PC, Colon R, McEwen K. A practical measure of workplace resilience: developing the resilience at work scale. J Occup Environ Med [Internet]. 2013 [cited 2020 Mar 20];55(10):1205-12. Available from: https://doi.org/10.1097/JOM.0b013e3182a2a60a
https://doi.org/10.1097/JOM.0b013e3182a2...
, revisão de literatura1515. Robertson IT, Cooper CL, Sarkar M, Currans T. Resilience training in the workplace from 2003 to 2014: A systematic review. J Occup Org Psychol [Internet]. 2015 [cited 2023 Aug 15];88(3):533. Available from: https://doi.org/10.1111/joop.12120
https://doi.org/10.1111/joop.12120...
-1616. Helmreich I, Kunzler A, Chmitorz A, König J, Binder H, Wessa M et al. Psychological interventions for resilience enhancement in adults. Cochrane Db Syst Rev [Internet]. 2017 [cited 2023 Aug 15];2:CD012527. Available from: https://doi.org/10.1002/14651858.CD012527
https://doi.org/10.1002/14651858.CD01252...
, adaptação da escala para uso com estudantes1717. Turner M, Scott-Young C, Holdsworth S. Navigating the chasm from student to professional: The role of resilience. In: COBRA AUBEA. The Construction, Building and Real Estate Research Conference of the Royal Institution of Chartered Surveyors The Australasian Universities’ Building Educators Association Conference 2015; Sydney; 8-10 July 2025 [Internet]. Sydney; 2015 [ cited 2023 Aug 20]. Available from: https://workingwithresilience.com.au/wp-content/uploads/2016/05/Navigating-the-Chasm.pdf
https://workingwithresilience.com.au/wp-...
, estudo clínico controlado e randomizado para avaliar o impacto de um programa de resiliência1818. Rogerson S, Meir R, Crowley-McHattan Z, McEwen K, Pastoors R. A Randomized controlled pilot trial investigating the impact of a workplace resilience program during a time of significant organizational change. J Occup Environ Med [Internet]. 2016 [cited 2023 Aug 15];58(4):329-34. Available from: https://doi.org/10.1097/JOM.0000000000000677
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e avaliação psicométrica com trabalhadores indianos1919. Malik P, Garg P. Psychometric Testing of the resilience at work scale using Indian Sample. Vikalpa J Decision Makers [Internet]. 2018 [cited 2023 Aug 15];43(2):77-91. Available from: https://doi.org/10.1177/025609091877
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, estudo psicométrico da escala realizado com servidores públicos e de organizações não governamentais2020. Hamfrey Sanhokwe H, Takawira S. Appreciating resilience at work: Psychometric assessment, measurement, and practical implications. Cogent Psychology [Internet]. 2022 [cited 2023 Mar 20];9:1. Available from: https://doi.org/10.1080/23311908.2022.2052620
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. Em todos esses estudos, utilizou-se a versão original em inglês. Não obstante, no Brasil há estudo de avaliação psicométrica da versão brasileira desta escala com docentes e trabalhadores área da saúde2121. Greco PBT, Ongaro JD, Seidel EJ, Machado W de L, McEwen K, Magnago TSB de S. Psychometric evaluation of the Resilience at Work Scale (RAW Scale - Brazil). Rev Bras Enferm [Internet]. 2022 [cited 2023 Mar 20];75(3):e20210241. Available from: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2021-0241
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. Nesse sentido, ainda não há estudos que tenham realizado a ATC para outra cultura e idioma, o que limita, em parte, a discussão deste estudo. Para que seja possível comparar resultados internacionais de um mesmo instrumento, é essencial uma ATC válida, ou seja, capaz de demonstrar equivalência entre as versões original e adaptadas para outras culturas1111. Reichenheim ME, Moraes CL. Operationalizing the cross-cultural adaptation of epidemological measurement instruments. Rev Saúde Pública [Internet]. 2007 [cited 2020 Mar 20];41(4):665-673. Available from: https://doi.org/10.1590/S0034-89102006005000035
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. Há uma literatura crescente sobre condutas para ampliar a qualidade da ATC, assim como avaliar a equivalência dos instrumentos em diferentes linguagens. A ATC exige rigor metodológico tal como na construção de um instrumento novo, no intuito de manter a confiabilidade e validade2222. Giusti E, Bife-Lopes DM. Translation and cross-cultural adaptation of instruments to the Brazilian Portuguese language. Pró-Fono Rev Atual Cient [Internet]. 2008 [cited 2020 Mar 20];20(3):207-10. Available from: https://doi.org/10.1590/S0104-56872008000300012
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-2323. Lino CRM, Brüggemann OM, Souza ML, Barbosa SFF, Santos EKA. The cross-cultural adaptation of research instruments, conducted by nurses in Brazil: An integrative review. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2017 [cited 2020 Mar 20];26(4):e1730017. Available from: https://doi.org/10.1590/0104-07072017001730017
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.

Os itens que apresentaram maiores alterações para manter a equivalência conceitual, idiomática e semântica foram: 1, 5, 7, 9 e 12. Já os que apresentaram maior dificuldade para adaptação foram os itens 3 e 8. O item 3, pela dificuldade de compreender sobre a alteração de humor no trabalho; o item 8, por não especificar a que se refere o ambiente de trabalho, traz dúvidas aos respondentes. Esses itens apresentaram maior dificuldade de compreensão pelos respondentes, no que se refere à semântica. Estas alterações não seriam possíveis, pois alterariam a estrutura e o conteúdo dos itens.

No que tange à compreensão dos itens, autores sugerem que o ajustamento (compreensão/entendimento) seja no mínimo 90% dos participantes1212. Reichenheim, M, Bastos, JL. What, what for and how? Developing measurement instruments in epidemiology. Rev Saúde Pública [Internet]. 2021 [cited 2023 Aug 15];55:40. Available from: https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055002813
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-1314. Reichenheim ME, Moraes CL. Qualidade de instrumentos epidemiológicos. In: Almeida- Filho N, Barreto ML. Epidemiologia & Saúde: Fundamentos, Métodos e Aplicações. Rio de Janeiro (BR): Guanabara e Koogan; 2011. p. 150-64.. A versão final da RAW Scale 25 - Brasil apresentou clareza nos itens superior ou igual a 90%, exceto no item 8, devido às especificações já supracitadas.

No que se refere à confiabilidade teste-reteste, pode-se considerar o método intuitivo para a avaliação da consistência dos escores ao longo do tempo2424. Hutz CS, Bandeira DR, Trentini CM (ed.). Psicometria. Porto Alegre, RS(BR): Artmed; 2015.. Evidenciou-se, no que se refere aos itens, que o Kappa com ponderação quadrática (KW) variou de 0,31 a 0,79 e o coeficiente de correlação intraclasse (CCIC), de 0,31 a 0,80. Esses índices são classificados como de regular a substancial.

Dois fatores podem influenciar na estabilidade da informação: os participantes poderiam lembrar das respostas atribuídas no teste, o que poderia superestimar as estimativas; por outro lado, alterações reais nas condições do sujeito no período de intervalo poderiam subestimar os resultados2424. Hutz CS, Bandeira DR, Trentini CM (ed.). Psicometria. Porto Alegre, RS(BR): Artmed; 2015.. Neste estudo, utilizou-se um período de sete a 14 dias entre o teste e o retete, pois tem sido considerado adequado para tal, tendo em vista que seria um intervalo nem muito curto, nem muito longo2525. Streiner DL, Norman GR, Cairney J. Health Measurement Scales: A practical guide to their development and use. 5. ed. New York: Oxford University Press; 2015.. O número de opções de respostas pode ser um dificultador para o respondente. A RAW Scale Brasil manteve as mesmas opções de resposta da versão original, variando de discordo totalmente (0) até concordo totalmente (6). Isso pode ter contribuído para os resultados encontrados. Sabe-se que quanto mais opções se tem, mais dúvidas podem surgir no preenchimento.

Os achados referentes à consistência endossam a qualidade do instrumento, pois um instrumento que se mostra confiável em repetidos processos de mensuração corrobora sua potencialidade operacional para uso em estudos populacionais1212. Reichenheim, M, Bastos, JL. What, what for and how? Developing measurement instruments in epidemiology. Rev Saúde Pública [Internet]. 2021 [cited 2023 Aug 15];55:40. Available from: https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055002813
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. Ressalta-se que outros estudos que avaliaram as propriedades psicométricas da RAW não utilizaram a confiabilidade por teste-reteste66. Winwood PC, Colon R, McEwen K. A practical measure of workplace resilience: developing the resilience at work scale. J Occup Environ Med [Internet]. 2013 [cited 2020 Mar 20];55(10):1205-12. Available from: https://doi.org/10.1097/JOM.0b013e3182a2a60a
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,1919. Malik P, Garg P. Psychometric Testing of the resilience at work scale using Indian Sample. Vikalpa J Decision Makers [Internet]. 2018 [cited 2023 Aug 15];43(2):77-91. Available from: https://doi.org/10.1177/025609091877
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, impossibilitando comparações.

No processo de ATC, destaca-se a importância da avaliação externa (comitê de especialistas e autores da escala), contribuindo sobremaneira para aproximar o instrumento adaptado do real sentido pretendido pelos autores da versão original. Ressaltam-se também as dificuldades encontradas para obter retorno, via correio eletrônico, e compor o comitê de especialistas. Tendo em vista que a ATC é um processo complexo e contínuo, entende-se esta como uma primeira versão da RAW adaptada para o português do Brasil. Fazem-se importantes novos estudos, com diferentes categorias profissionais e regiões do país, a fim aparar arestas e ir lapidando esta versão para uso do Brasil; especialmente, no que tange aos itens mencionados anteriormente.

Tendo em vista que a resiliência é uma capacidade que pode ser desenvolvida ao longo do tempo com as relações estabelecidas entre pessoas e ambiente1515. Robertson IT, Cooper CL, Sarkar M, Currans T. Resilience training in the workplace from 2003 to 2014: A systematic review. J Occup Org Psychol [Internet]. 2015 [cited 2023 Aug 15];88(3):533. Available from: https://doi.org/10.1111/joop.12120
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, é importante o uso de instrumento que possibilite intervenções com o intuito de promover resiliência. Nesse sentido, cabe destacar aspecto importante da RAW Scale, referente ao uso na prática clínica com trabalhadores, favorecendo a organização de estratégias de promoção da resiliência.

Na perspectiva desta adaptação, a RAW Scale 25 - Brasil poderá servir tanto como possibilidade de mensuração para fins acadêmicos, como para a identificação de comportamentos que poderão ser desenvolvidos pelos trabalhadores e estimulados pela gestão dos serviços. Dessa forma, esta ferramenta traz a possibilidade de investir em componentes específicos da resiliência no ambiente laboral, por meio da promoção da resiliência no trabalho. Ainda, é potencial para contribuir na minimização dos efeitos nocivos do estresse, e para a saúde do trabalhador em geral.

Para além do até aqui explanado, cabe refletir e reforçar que a RAW Scale Brasil também se configura como importante ferramenta tecnológica emancipatória.77. Working with Resilience. Resilience at Work® Individual Scale [Internet]. [cited 2020 Mar 20]. Available from: https://workingwithresilience.com.au/measure-resilience/rw-scale/
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Seu uso possibilitará a identificação da resiliência no trabalho, ou seja, aspecto diretamente relacionado à saúde dos indivíduos. Ainda, uma vez identificada, haverá instrumentalização e potencialização de ações que favoreçam a saúde dos trabalhadores, proporcionando a eles subsídios para reflexão, pensamento crítico e ação diante de adversidades laborais.

Cabe mencionar que foram seguidas adequadas diretrizes de adaptação transcultural para instrumentos de mensuração, porém, como limitação deste estudo, tem-se o fato de ter sido validado com trabalhadores da saúde e docentes, o que limita comparações. Ainda, não se realizaram análises separadas por subgrupos de participantes.

CONCLUSÃO

A versão final da RAW Scale 25 - Brasil demonstrou ter potencial para assumir importante papel na avaliação da resiliência no trabalho de trabalhadores da saúde e de docentes no contexto brasileiro. Isso permitirá a comparação com estudos realizados em outros contextos socioculturais e de linguagem. Trata-se de uma Tecnologia Emancipatória, pois possibilita concretizar conhecimentos que contribuem quanto ao pensar, ao refletir e ao agir diante de um processo de saúde/doença, seja individual ou coletivo. Ainda, este instrumento pode ser utilizado de maneira autoaplicada ou por meio de entrevista.

Para uso da RAW Scale 25 - Brasil deve-se solicitar a autorização para os autores da versão original, pelo website: workingwithresilience.com.au, endereço eletrônico: contact@workingwithresilience.com.au, ou para a autora da adaptação transcultural, por meio do endereço eletrônico: pbtoscani@furg.br.

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NOTAS

  • ORIGEM DO ARTIGO

    Extraído da Tese - Adaptação transcultural para a língua portuguesa do Brasil da Resilience at Work Scale (RAW Scale), apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade Federal de Santa Maria, em 2018.
  • FINANCIAMENTO

    O presente trabalho foi realizado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
  • APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

    Aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), parecer n 2.121.699/2017, Certificado de Apresentação para Apreciação Ética 69318117.2.0000.5346.

Editado por

EDITORES

Editores Associados: Bruno Miguel Borges de Sousa Magalhães, Maria Lígia Bellaguarda. Editor-chefe: Elisiane Lorenzini.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jun 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    29 Ago 2023
  • Aceito
    01 Nov 2023
Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós Graduação em Enfermagem Campus Universitário Trindade, 88040-970 Florianópolis - Santa Catarina - Brasil, Tel.: (55 48) 3721-4915 / (55 48) 3721-9043 - Florianópolis - SC - Brazil
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